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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

QUALIFICAÇÃO DA PARTE, por sua advogada que ao final subscreve, vem


respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 14 do Có digo
de Defesa do Consumidor, propor a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face EMPRESA X, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº xxxxxxx,
com sede à xxxxxxxxx, endereço eletrô nico xxxxxxxxxx,pelos motivos de fato e de direito
expostos a seguir .

DOS FATOS
No dia xxxx deste ano, a Autora efetuou a compra de um tênis tensor, através do endereço
eletrô nico da ré, a fim de presentear seu filho, pagando pelo produto o valor de R$ xxxxxxx,
haja vista a urgência no envio, solicitou a entrega expressa, pagando o valor de R$ xxxxxxx,
totalizando R$xxxxxxx, gerando o pedido de nº. xxxxxx. (nota fiscal e comprovante de
pagamento anexo)
A transaçã o foi realizada com pagamento através de boleto bancá rio e o prazo para entrega
estava previsto para o dia 05 dias, a contar da confirmaçã o do pagamento.
A Autora ansiosa para presentear seu filho, tendo em vista ser seu aniversá rio no dia 10 de
agosto, passou a acompanhar o rastreamento de entrega dos correios, bem como o status
da compra realizada no endereço eletrô nico da ré, quando constatou junto aos Correios que
a mercadoria nã o havia sido entregue por ter sido postado com o endereço errado. (Doc.J)
Desta forma, a Autora entrou em contato com a loja, por meio do canal de comunicaçã o do
wpp, esclareceu o ocorrido, porém os funcioná rios continuaram a afirmar que nã o constava
no cadastro da loja a devoluçã o da mercadoria, bem como que o produto ainda seria
entregue.
Posteriormente, em decorrência das informaçõ es equivocadas da ré, a Autora solicitou o
cancelamento da compra, esclarecendo nesta ocasiã o que o endereço que consta em seu
cadastro esta correto, portanto os prepostos da ré, na ocasiã o de postar a mercadoria no
correio, acabaram por cometer algum equívoco, fazendo com que o produto nã o chegasse
ao destino.
E ainda, que pagou a taxa de entrega rá pida, equivalente a 30% do valor da mercadoria,
pois tinha urgência que o produto chegasse antes da data do aniversá rio do seu filho.
A ré, apó s a solicitaçã o de cancelamento, pediu que a Autora consignasse seus dados
bancá rios, que seriam enviados ao setor financeiro da empresa e que o depó sito seria
realizado em até 7 dias.
Ultrapassado o prazo sem que houvesse o depó sito da quantia, novamente a Autora entrou
em contato com a ré, onde lhe foi solicitado o prazo de 12 dias.
Por fim, informaram-na que somente estornariam o valor gasto, apó s o recebimento da
mercadoria pelo correio.
Protocolos de reclamaçã o:
A falha na prestaçã o dos serviços causou constrangimento e frustraçã o à autora, por culpa
da pró pria vendedora, que deixou de preencher os dados corretos para que o produto fosse
entregue no endereço indicado, fazendo com que a mercadoria nã o fosse entrega no tempo
e forma pretendida.
Certo que o simples inadimplemento contratual, por caracterizar mero aborrecimento, em
princípio, nã o configura dano moral, salvo se da infraçã o advém circunstâ ncia que atenta
contra a dignidade da parte, como no caso em tela, onde os prepostos vêm ao longo do
período prestando informaçõ es equivocadas à Autora acerca do estorno da quantia,
fazendo com que a mesma perca seu tempo ú til, ao ficar ligando reiteradamente para a
empresa ré, a fim de saber qual a data precisa em que será efetuada a devoluçã o, uma vez
que este seria seu ú nico dinheiro disponível para presentear seu filho.
Faz-se mister salientar que a boa -fé objetiva é postulado bá sico no qual se norteia todo o
ordenamento jurídico, especificamente o ramo do Direito dos Contratos, dispondo o art.
422 do C.C. que as partes sã o obrigadas a guardar, em todas as fases da contrataçã o
(inclusive a preliminar e a pó s contratual), os princípios da probidade e da boa -fé.
Nã o parece crível aceitar que a Autora aguarde o estorno requerido por demasiado período
de tempo, ficando a consumidora sem a contraprestaçã o do serviço contratado, tampouco
sem seu dinheiro de volta em decorrência da falha na prestaçã o dos serviços.
Os fatos ocorridos inevitavelmente geraram imensa frustraçã o, dor e constrangimento, nã o
havendo que se falar em mero inadimplemento contratual, pois violada, também, a boa fé
na realizaçã o do ajuste
Desta forma, a autora sem conseguir obter êxito na soluçã o do problema, se viu obrigada a
contratar advogado, a fim de resolver a questã o na esfera judicial, através da propositura
da presente açã o.

DO DIREITO
DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Inicialmente, ressalta-se que a natureza da relaçã o jurídica estabelecida entre as partes é


indiscutivelmente consumerista, considerando-se que consumidor vem a ser aquele que
utiliza serviço como destinatá rio final (artigo 2º da Lei nº 8.078/1990) [1], fornecedor é a
pessoa física ou jurídica que desenvolvem atividade de prestaçã o de serviços (artigo 3º da
Lei nº 8.078/1990) [2].

DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA RÉ

À luz da teoria do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer alguma
atividade no campo do fornecimento de bens e serviços tem o dever de responder pelos
fatos e vícios resultantes do empreendimento, independentemente de culpa, pois a
responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a realizar a atividade de
produzir, distribuir e comercializar produtos ou executar determinados serviços, de modo
que deve a empresa demandada arcar com os ô nus decorrentes de prejuízos causados pela
execuçã o equivocada do serviço ou fornecimento de produtos.
O artigo 14 do CDC consagra a responsabilidade civil objetiva dos prestadores de serviço,
com base na teoria do risco do empreendimento. Destarte, dispensado está o consumidor
de demonstrar a culpa do fornecedor, bastando que se comprove o dano sofrido e o nexo de
causalidade para que reste caracterizado o dever deste de responder pelo defeito do
serviço prestado à quele. [3]
Versando a presente hipó tese sobre direito do consumidor, via de regra, o
prestador/fornecedor de serviços e produtos já tem o ô nus original de demonstrar a
regularidade de seu atuar e, portanto, a ausência de nexo causal entre este e os danos
alegados pelo consumidor. Trata-se da inversã o ope legis do ô nus da prova, diante da
responsabilidade objetiva do prestador/fornecedor de pelos fatos e vícios dos produtos e
serviços.
Prevê o artigo 49 do CDC que o consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a
contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a
contrataçã o de fornecimento de produtos ocorrer fora do estabelecimento comercial e no
caso de exercitar o direito de arrependimento, os valores eventualmente pagos, a qualquer
título, durante o prazo de reflexã o, serã o devolvidos, de imediato, monetariamente
atualizados.
Eventuais prejuízos enfrentados pelo fornecedor neste tipo de contrataçã o sã o inerentes à
modalidade de venda agressiva fora do estabelecimento comercial (internet, telefone,
domicílio). Aceitar o contrá rio é criar limitaçã o ao direito de arrependimento legalmente
nã o previsto, além de desestimular tal tipo de comércio tã o comum nos dias atuais.
O descumprimento contratual apto a gerar dano moral é o ofensivo ao tributo da
personalidade, em face de sua gravidade, como o ligado à questã o de saú de ou de pessoas
da família, lazer, comodidade, bem-estar, educaçã o, projetos intelectuais, perda de tempo
ú til para resolver uma questã o na esfera administrativa por um período extenso sem obter
êxito porquanto este é o que atinge o ofendido como pessoa, como no caso dos autos.

DO DANO MORAL

Como cediço, a violaçã o de um dever jurídico, seja ele de fazer, nã o fazer, de abstençã o e de
cautela, entre outros, configura ato ilícito. E sendo ato ilícito, faz nascer a responsabilidade
de reparar o dano pelo ofensor. É o que dispõ e o art. 927 do CC, segundo o qual "aquele
que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará -lo".
A teoria da perda do tempo livre ou perda do tempo ú til se baseia no abuso da perda
involuntá ria do tempo do consumidor, causado pelas empresas fornecedoras em situaçõ es
intolerá veis, em que há desídia e desrespeito aos consumidores, que muitas vezes se vêem
compelidos a sair de sua rotina e perder o seu tempo livre para solucionar problemas
causados por atos ilícitos ou condutas abusivas dos fornecedores.
Como exposto a Autora perdeu seu tempo livre para resolver a questã o na esfera
administrativa, sem obter êxito na resoluçã o do problema, se sentido desprezada diante
das sú plicas para a entrega do produto ou o estorno da quantia, o que de fato acarretou
dano moral.

VII-DO PEDIDO
Diante do exposto, requer à V.Exa:
1-A citaçã o do requerido, no endereço inicialmente indicado, para que, querendo,
apresente a defesa que julgar necessá ria, dentro do prazo e forma legal, sob pena de
sujeitar-se aos efeitos da revelia.
2-A inversã o do ô nus da prova nos termos do Art. 6º, VIII, do CDC, que constitui direito
bá sico do consumidor a facilitaçã o de sua defesa em juízo.
3-Requer a TOTAL PROCEDÊ NCIA DOS PEDIDOS em todos os seus termos, condenar a
parte ré a efetuar o estorno do valor de R$124.99, devidamente atualizados.
4-Condenar a parte ré ao pagamento a título de indenizaçã o por dano moral o valor de R$
5.000,00 (Cinco mil reais), pelos motivos expostos.
5- Requer que todas as publicaçõ es, notificaçõ es e intimaçõ es atinentes ao processo sejam
expedidas em nome da Dra. xxxxxxxx, com escritó rio nesta cidade sito xxxxxxx
Dá -se à causa o valor de R$ 5xxxxx
Nestes termos,
Pede deferimento e juntada.
DATAR
ASSINAR

[1] Art. 2º CDC- Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatá rio final.
[2] Art. 3ºº CDC C- Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pú blica ou privada, nacional
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produçã o, montagem, criaçã o, construçã o, transformaçã o, importaçã o, exportaçã o,
distribuiçã o ou comercializaçã o de produtos ou prestaçã o de serviços.
[3] Art . 14 CDC-. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparaçã o dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestaçã o dos serviços, bem como por informaçõ es insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruiçã o e riscos.

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