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EXMO. (A) SR.

(A) JUIZ (A) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA


COMARCA DE DUQUE DE CAXIAS

AUTOR - PAULO CESAR PATRÍCIO, brasileiro, casado, aposentado, portador


da carteira de identidade nº 00222482148 expedida pelo DETRAN-RJ e inscrito
no CPF/MF sob o nº 304.567.387-20, residente na rua José Clemente, 94, Casa
5, Parque Sr. Bonfim, Duque de Caxias, RJ, CEP 25025-070

ADVOGADO - ARILSON RHODES DE PAULA, brasileiro, casado, advogado,


inscrito na OAB/RJ sob o nº 118.954 e no CPF sob o nº 033.546.487-40,
residente na rua Gago Coutinho, 35/703, Laranjeiras, Rio de Janeiro, RJ, CEP
22221-070. E-mail – arilson@rhodesadv.com.br

RÉ: SUL AMÉRICA CIA. NACIONAL DE SEGUROS (TRADITIO COMPANHIA


DE SEGUROS), pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ nº
33.041.062/0060-50, com sede na rua Beatriz Larragoiti Lucas, 121, Cidade Nova,
Rio de Janeiro, RJ, CEP 20211-903.

CAUSAS DE PEDIR

O autor foi proprietário do veículo KOMBI placa BKT4869 para o qual contratou
seguro contra roubo e furto junto a ré SUL AMÉRICA CIA. NACIONAL DE
SEGUROS, atual TRADITIO COMPANHIA DE SEGUROS e no meado do ano
2000 ocorreu o sinistro para o qual tinha cobertura securitária e, por isso, acionou
a seguradora e solicitou o pagamento da indenização.
Depois de cumpridas todas as formalidades, em 16/11/2000, a indenização foi
paga e, em 17/11/2000, o autor entregou a documentação autorizando a
transferência da propriedade do veículo para a seguradora.
Ocorre que em novembro de 2021, ou seja, 21 anos após o sinistro e liquidação
do contrato de seguro, o autor recebeu da Prefeitura de São Paulo uma
notificação de autuação por infração de trânsito informando que o veículo que foi
seu e que deveria ter sido transferido para ré, em decorrência de sua
responsabilidade contratual enquanto seguradora do veículo sinistrado, ainda
estava em nome do segurado.
Com efeito, o veículo cuja transferência de propriedade a ré deveria ter feito há
mais de 20 anos ainda está em nome do autor trazendo para ele
responsabilidades que não mais lhe competem.
A negligência da ré em cumprir sua obrigação contratual só foi descoberta em
razão da notificação recebida da Prefeitura de São Paulo e poderia ter
consequências muito mais gravosas e certamente esse descuido da empresa é
causador de violação da integridade psíquica do autor, causando-lhe inegável
dano moral.
Não há necessidade esmiuçar conceitos doutrinários a respeito de contratos de
seguro e de responsabilidade civil contratual, por serem de amplo conhecimento
de Vossa Excelência, cumpre destacar, porém, mesmo também sendo de
domínio do Ilmo. Julgador, que a hipótese presente cuida de relação jurídica de
consumo, uma vez que presentes os elementos subjetivos dos artigos 2º e 3º do
Código de Defesa do Consumidor existindo, portanto, a responsabilidade civil
objetiva da empresa ré.
É intuitivo que quem contrata um seguro o faz não com a intenção de utilizá-lo, e
na maioria das vezes não utiliza, acarretando fabuloso lucro para as seguradoras,
mas caso venha a precisar, espera ser atendido a contento.
A obrigação da seguradora era simplesmente cumprir sua parte no contrato,
pagar a indenização pelo sinistro e assumir a responsabilidade pelo veículo,
mas, em vez disso, após exigir a documentação pertinente do consumidor
não transferiu o veículo para sua propriedade junto aos órgãos públicos
competentes e, consequentemente, não assumiu sua responsabilidade pelo
veículo, deixando para o autor o risco de ser responsabilizado por atos
decorrentes do mau uso por terceiros, conforme aconteceu.
A atitude negligente da seguradora causou no segurado toda sorte de transtornos
por ter que formular recurso administrativo junto à Prefeitura de Município de
outro Estado a fim de se isentar da responsabilidade que não é sua.
Fica nítido que a conduta da ré prima pela má-fé, sendo certo que a boa-fé
objetiva é um dever jurídico e não um simples apelo moral, isto é, impõe-se uma
conduta efetiva de contratante honesto e não a mera intenção. O que o Direito
quer é uma conduta de maneira a não causar lesão ao outro contratante,
decorrentes de relações contratuais transparentes, leais e acima de tudo éticas e
efetivas.
É certo que, diante dos fatos narrados, está ínsito o dano moral, vez que o
comportamento da ré se caracteriza por marcante falta de transparência e
inegável descumprimento de obrigação contratual.
Também é dispensável trazer à baila conceitos de dano moral por serem de
notório conhecimento de V. Exa., contudo vale lembrar que, modernamente, as
relações contratuais antes amparadas apenas pelo Código de Defesa do
Consumidor hoje encontram ratificação expressa no Código Civil, fundado nos
princípios da socialidade, eticidade e efetividade.
Segundo o Prof. Cavalieri Filho o dano moral está ínsito no fato e decorre da
gravidade do ilícito em si:
“Por se tratar de algo imaterial ou ideal a prova do dano moral não pode
ser feita através dos mesmos meios utilizados para a comprovação do
dano material. Seria uma demasia, algo até impossível, exigir que a
vítima comprove a dor, a tristeza ou a humilhação através de
depoimentos, documentos ou perícia; não teria ela como demonstrar o
descrédito, o repúdio ou desprestígio através dos meios probatórios
tradicionais, o que acabaria por ensejar o retorno à fase da
irreparabilidade do dano moral em razão de fatores
instrumentais”.1

É certo ainda que, além do aspecto compensatório do mal perpetrado, a


indenização por danos morais ostenta o aspecto pedagógico, segundo o qual a
indenização deve servir para que o causador do mal cuide para evitar que novos
eventos da mesma natureza ocorram a outras pessoas na mesma situação, por
isso, fixar indenização em valores irrisórios torna inócuo o aspecto pedagógico da
indenização.
Por fim, conforme bem apontado pelo Ilmo. Des. Marcos Alcino de Azevedo
Torres no Julgamento do processo 0011654-11.2012.8.19.0211:
Não pode ser considerado como um mero aborrecimento a situação
fática ocorrida no curso ou em razão da prestação de serviço de
consumo, a qual o fornecedor não soluciona a reclamação, levando o
consumidor a contratar advogado ou servir-se da assistência judiciária
do Estado para demandar pela solução judicial de algo que
administrativamente facilmente seria solucionado quando pelo crivo Juiz
ou Tribunal se reconhece a falha do fornecedor. Tal conduta estimula o
crescimento desnecessário do número de demandas, onerando a
sociedade e o Tribunal. Ao contrário, o mero aborrecimento é aquele
resultante de situação em que o fornecedor soluciona o problema em
tempo razoável e sem maiores consequências para o consumidor. O
dano moral advém da postura abusiva e desrespeitosa da empresa,
impondo o arbitramento de valor indenizatório justo e adequado ao
caso, arcando a ré ainda com os ônus da sucumbência. (Vigésima
Sétima Câmara Cível - Apelação Cível nº 0011654-11.2012.8.19.0211 -
Relator Des. Marcos Alcino de Azevedo Torres).

Nesse contexto, resta evidenciada a conduta, o nexo de causalidade e o dano,


elementos que geram o dever de indenizar.

PEDIDOS

Sergio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil – Ed. Malheiros – 2ª Ed./3ª Tiragem.
1
Pelo exposto e por encontrar plena justificativa à luz da moral, da equidade e da
mais elementar noção de Justiça, requer:
a) A citação da ré para comparecimento em audiência e, querendo,
contestar nos termos da presente, sob pena de confissão e revelia;
b) A condenação da ré a efetivar a transferência do veículo objeto
desta ação para quem de direito junto aos órgãos públicos competentes,
retirando a responsabilidade do autor sobre o referido veiculo, no prazo de
30 dias sob pena de multa a ser arbitrada pelo juízo.
c) A condenação da ré a assumir a responsabilidade pela autuação por
infração de trânsito junto ao Município de São Paulo objeto desta ação,
retirando a responsabilidade do autor sobre o referido veículo, no prazo de
30 dias sob pena de multa a ser arbitrada pelo juízo.
d) A condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais
correspondente a R$ 10.000,00 para cada um dos autores.

DAS PROVAS E DO VALOR DA CAUSA

Protesta por todos os meios de prova admitidos, notadamente a inversão do ônus


probatório, com fulcro no art. 6, VIII, da Lei 8.078/90.
Atribui à presente causa o valor de R$ 10.000,00.

Termos em que espera deferimento.


Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2022.

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ARILSON RHODES DE PAULA
OAB/RJ 118.954
(assinado eletronicamente)

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