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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Recurso: 0010960-68.2022.8.16.0019 RecIno
Classe Processual: Recurso Inominado Cível
Assunto Principal: Prestação de Serviços
Recorrente(s): MARILDA APARECIDA MARCONDES AMARAL
Recorrido(s): ASSESSORIA EXTRAJUDICIAL SOLUÇÃO FINANCEIRA EIRELI

EMENTA: RECURSO INOMINADO. PRELIMINARES DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA


DIALETICIDADE E IMPUGNAÇÃO DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA REJEITADAS. MÉRITO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS PARA RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. “SOLUÇÃO FINANCEIRA”.
ORIENTAÇÃO PARA INADIMPLEMENTO DAS PRESTAÇÕES DO FINANCIAMENTO.
AUSÊNCIA DE PROVA DE EFETIVA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. CONDUTA ABUSIVA.
VEÍCULO APREENDIDO. DANOS MATERIAIS E MORAIS CONFIGURADOS. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO.

Preliminarmente, em relação a violação do princípio da dialeticidade, não assiste razão à


recorrida, vez que os fundamentos utilizados são suficientes para rebater a conclusão exposta na sentença.

A impugnação ao benefício da assistência judiciária gratuita não merece acolhimento, visto


que não há a menor comprovação da capacidade financeira da reclamante.

Preenchidos, portanto, os pressupostos de admissibilidade do recurso, deve ser ele


conhecido.

A parte reclamante se insurge contra a sentença que julgou improcedente seus pedidos
iniciais por entender que não há nos autos prova mínima do alegado. Busca a reforma da decisão para que
a recorrida seja condenada à devolução de R$ 2.000,00 pagos a título de honorários, além da condenação
em danos morais.

Pois bem.

A reclamante contratou a empresa da recorrida em 20/10/2020 (cf. contrato – mov.1.5) para


efetivar a renegociação extrajudicial de um contrato de financiamento de veículo automotor firmado junto à
BV Financeira S.A.

Em que pese os serviços prestados pela reclamada sejam de atividade de meio e não de fim,
a publicidade se trata da redução do valor do financiamento a partir de negociações extrajudiciais. Contudo,
não houve demonstrações de estudo do contrato, com análise de cobranças supostamente indevidas. É de
se ressaltar que nenhum comprovante da atuação da reclamada foi juntado aos autos.

Assim, é notório que a reclamada não se desincumbiu de seu ônus probatório (art. 373, II do
CPC).

Nesse sentido:

RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA RENEGOCIAÇÃO DE


DÍVIDA. O “SOLUCIONADOR”. ORIENTAÇÃO PARA INADIMPLEMENTO DAS PRESTAÇÕES DO
FINANCIAMENTO. AUSÊNCIA DE PROVA DE EFETIVA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. ACORDO
PACTUADO COM O BANCO POR INTERMÉDIO DE OUTRO PROFISSIONAL. CONDUTA ABUSIVA.
DANOS MATERIAIS E MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE NÃO COMPORTA
MINORAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais - 0002235-03.2020.8.16.0200 - Curitiba - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS
JUÍZAADOS ESPECIAIS MANUELA TALLÃO BENKE - J. 03.11.2022)

No mais, apesar da conclusão da sentença, o demonstrativo de mov. 35.2 é capaz de


corroborar com a alegação da autora de que foi induzida pela reclamada a deixar de pagar as parcelas, pois
o inadimplemento se deu contemporaneamente à data do contrato de mov. 1.5, enquanto os pagamentos
das parcelas anteriores ocorreram em dia e de forma antecipada, inclusive.

Tal constatação também exclui a tese – embora alegada pelo próprio autor - de que já havia
um processo de busca e apreensão ajuizado em face da reclamante por força do contrato firmado junto à BV
Financeira.

Logo, observa-se que a estratégia praticada pela reclamada é de alto risco, pois põe em
ameaça o patrimônio do consumidor, afinal, o inadimplemento enseja a busca e apreensão do bem, cujo
cumprimento é notoriamente rápido, o que ocorreu, conforme narrativa autoral incontroversa.

Por conseguinte, em virtude do serviço contratado e não prestado, sendo evidente a falha na
prestação de serviços, a resilição do contrato é devidamente motivada, bem como a restituição dos valores
pagos.

Por fim, também restou comprovado que a atuação da empresa foi preponderante para os
danos morais suportados pela reclamante, os quais afetaram sua esfera personalíssima em razão da busca
e apreensão sofrida em seu trabalho.

A respeito:

RECURSO INOMINADO. RESIDUAL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE CONSULTORIA


FINANCEIRA. O SOLUCIONADOR ASSESSORIA. CONSUMIDORA QUE ESTAVA ADIMPLENTE COM O
CONTRATO DE FINANCIAMENTO. ORIENTAÇÃO DA RÉ PARA QUE CESSASSE O PAGAMENTO A FIM
DE VIABILIZAR NEGOCIAÇÃO COM A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. BUSCA E APREENSÃO AJUIZADA
PELO BANCO. PERDA DO BEM. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA GRAVEMENTE VIOLADO. DANO
MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS).
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 1ª Turma
Recursal - 0052790-63.2021.8.16.0014 - Londrina - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS
JUÍZAADOS ESPECIAIS MARIA FERNANDA SCHEIDEMANTEL NOGARA FERREIRA DA COSTA - J.
06.02.2023).

Na fixação do quantum indenizatório, deve-se sempre ter o cuidado de não proporcionar, por
um lado, um valor que para o autor se torne inexpressivo e, por outro, que seja causa de enriquecimento
injusto, nunca se olvidando que a indenização do dano imaterial tem efeito sancionatório ao causador do
dano e compensatório a vítima.

Deste modo, em observância aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, e em


conformidade com os valores por esta Turma Recursal fixados em casos semelhantes, condeno a parte
requerida ao pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de danos morais.

Ante o exposto, o voto é pelo provimento do recurso, a fim de condenar a recorrida à


devolução do valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) pagos a título de honorários contratuais, além da
condenação por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)

Sobre os danos materiais, devem incidir juros de mora de 1% ao mês a partir da citação e
correção monetária pelo IPCA-E desde o desembolso. Já os danos morais devem ser corrigidos
monetariamente pelo IPCA-E a partir deste julgamento e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir
da citação, nos termos do Enunciado n° 1 “a” da Turma Recursal Plena.
Condena-se a parte recorrente ao pagamento das custas (Lei Estadual n° 18.413/2014) e dos
honorários advocatícios à parte contrária, estes de 10% do valor de condenação ou, não havendo valor
monetário, do valor corrigido da causa (LJE, 55).

A exigibilidade das verbas de sucumbência sujeita-se ao implemento da condição prevista no


art. 98, § 3°, do Código de Processo Civil, ante a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita
(mov. 49.1).

Ante o exposto, esta 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade
dos votos, em relação ao recurso de MARILDA APARECIDA MARCONDES AMARAL, julgar pelo(a) Com
Resolução do Mérito - Provimento nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Maria Roseli Guiessmann, com voto, e dele
participaram os Juízes Manuela Tallão Benke (relator) e Camila Henning Salmoria.

24 de agosto de 2023

Manuela Tallão Benke

Juíza Relatora

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