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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO ESPECIAL: 0021738-


04.2015.8.16.0000 Pet 2 - Recurso Especial Cível
AGRAVANTE: EVANIRA MARIN
AGRAVADO: HSBC BANK BRASIL SA BANCO MULTIPLO 

A ORA PARTE AGRAVANTE, já devidamente qualificada nos


autos em epígrafe, por seu advogado e procurador infra-firmado,
tempestivamente, não see conformando com os termos da r. decisão que não
admitiu o Recurso Especial interposto, com fulcro no artigo 544 do Código de
Processo Civil, na redação dada pela Lei 12.332/10, interpor o recurso de
AGRAVO REGIMENTAL, ao EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO PARANÁ.
 Consoante minuta de RAZÕES em anexo, requerendo, pois, seja,
este recebido e provido, nos termos da Lei 12.332/10, com remessa oportuna ao
EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA para apreciação, visando uma nova
decisão, como de direito.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Curitiba/PR, 27 de março de 2023.

EVANDRO LAGO
OAB/PR 66.926
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

CO L E N D A C Â M A R A

Pelo Agravante:

E. DESEMBARGADORES

Trata-se de Ação movida contra a ora parte Agravada, a fim de


cobrar as diferenças em razão da aplicação incorreta dos reajustes em aplicações
existentes em caderneta de poupança que a ora parte Agravante mantinha junto
à referida Casa bancaria.
A Instituição Financeira realizou o depósito e juntou impugnação.
O juiz entendeu por bem rejeitar a impugnação.
A parte Agravante por sua vez apresentou Agravo de
Instrumento, o qual foi recebido e parcialmente provido, a fim de excluir os juros
remuneratórios do cálculo.
Esta corte, em tutela provisória, proibiu o pagamento da quantia
penhorada correspondente aos juros remuneratórios
Desta forma, pedindo-se todas as vênias ao entendimento
contrário, não há que se falar em possível exclusão dos juros remuneratórios do
cálculo exequendo, conforme restará demonstrada nos termos abaixo
delineados, de modo que torna-se necessário o reestabelecimento do recurso.
Assim, socorre-se a ora parte Recorrente do presente, a fim de
modificar o entendimento ad quem, a fim de dar seguimento ao Recurso
Especial, remetendo-se ao Superior Tribunal de Justiça, por ser medida de inteira
Justiça e melhor Direito;

MÉRITO
No mérito, o presente agravo regimental reitera as questões
levantadas no cumprimento de sentença, manifestação à impugnação,
contrarrazões ao agravo de instrumento e Recurso Especial, as quais merecem
enfrentamento do órgão julgador, à maneira colegiada.

DAS RAZÕES DA REFORMA

DA POSSIBILIDADE DA INSERÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS –


OMISSÃO DA SENTENÇA

Detalhando-se o histórico processual relativo ao presente feito, cumpre


informar, de início, tratar-se de feito com vistas à execução da sentença coletiva
do chamado Plano Verão, instituído em 15 de janeiro de 1989, por meio da
Medida Provisória n. 32, convertida posteriormente na Lei n. 7.730, de
31.1.1989.
Portanto, este feito executório, em verdade, tem como origem a Ação Civil
Pública nº 583.00.1993.808239 (já colacionada aos autos) que tramitou na 19ª
Vara Cível da Comarca de São Paulo, na qual o INSTITUTO BRASILEIRO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR – IDEC demandou em face do BAMERINDUS DO
BRASIL S.A., sucedido pelo BANCO BRADESCO S.A, objetivando a condenação no
pagamento das diferenças das correções aplicadas às cadernetas de poupanças,
em virtude do Plano Verão.

JUROS REMUNERATÓRIOS. PEDIDO FORMULADO EM INICIAL DE ACP.


JULGAMENTO PROCEDENTE

Pedindo vênias ao entendimento diverso, cumpre aqui ressaltar a devida


incidência dos juros remuneratórios na hipótese dos autos. É que,
diferentemente do que aponta a parte Embargante, a própria manutenção da
coisa julgada, em verdade, aponta para aplicação dos juros aqui mencionados.
A ação Civil Pública n.º 583.00.1993.808239-4, objeto da ação de
cumprimento/liquidação de sentença constante dos autos há expressa
condenação do Banco Bamerindus (HSBC) ao pagamento de juros, senão
vejamos:

(...)

Por uma simples leitura no retro citado, aufere-se que o magistrado


prolator da sentença constante na ACP nº. 583.00.1993.808239-4,
expressamente, reconhece que os poupadores de par, isto é, juntamente com os
juros remuneratórios (contratuais de 0,5% a.m. capitalizados) e a correção
monetária (reajuste na mesma proporção da desvalorização da moeda) deverão
ter suas cadernetas de poupança atualizadas.
Ademais, na parte dispositiva da sentença constante na ACP nº.
583.00.1993.808239-4, o ilustre julgador expressamente determina a incidência
de juros, in verbis:

Assim sendo, em virtude da expressa condenação do Banco ao pagamento


de "juros", sem qualquer ressalva como acima aufere-se, data máxima vênia,
salta aos olhos, que o Banco Bamerindus (HSBC) fora condenado ao pagamento
de juros remuneratórios (contratuais de 0,5% a.m. capitalizados), em
homenagem ao cerne dos contratos de depósito em cadernetas de poupança,
que visam remunerar os poupadores (juros remuneratórios/contratuais 0,5%
a.m capitalizados) e proteger o dinheiro da inflação (correção monetária).
Vejamos entendimento jurisprudencial acerca do tema:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO INDIVIDUAL
BASEADA NA DECISÃO OBTIDA PELO IDEC EM AÇÃO
COLETIVA QUE CONDENOU O BANCO BAMERINDUS A
FAZER COMPLEMENTAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA
EM FAVOR DOS POUPADORES.DISCUSSÃO SOBRE
ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA E INCIDÊNCIA DE
JUROS REMUNERATÓRIOS. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. 1. Tendo sido julgado o Recurso Repetitivo
1.391.198/RS, no qual se discutia a eficácia pessoal e
territorial dos títulos constituídos em ações coletivas,
descabe suspender o curso da execução individual
promovida com esteio na sentença obtida pelo IDEC em
benefício dos poupadores do Banco Bamerindus, ainda que a
decisão do STJ não tenha transitado em julgado. 2. A
decisão proferida na ação coletiva só condenou o
Bamerindus a complementar a correção monetária creditada
erroneamente sobre os saldos das contas poupanças
existentes em janeiro de 1989. O crédito resultante dessa
diferença está sujeito a correção monetária, em cujo cálculo
devem ser adotados os índices que melhor reflitam a
inflação. 3. Constando do título a condenação do
vencido a pagar "juros", sem qualquer ressalva, há de
ser tida por compreendido nele a imposição ao
pagamento de juros remuneratórios, eis que da
essência dos contratos de depósito em cadernetas de
poupança. 4. Recurso conhecido e não provido. (TJ-PR -
AI: 12742824 PR 1274282-4 (Acórdão), Relator: Luiz
Henrique Miranda, Data de Julgamento: 05/11/2014, 13ª
Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 1459 20/11/2014)
(destaquei)
Verifica-se, portanto, que a matéria relativa aos juros remuneratórios
esteve presente no âmbito da ação de conhecimento que ora se busca dar
efetividade através da presente execução. Ademais, seja também ressaltado que
o pleito relativo à aplicação dos juros remuneratórios preenche todos os
requisitos relativos à sistemática legal dos pedidos em nosso ordenamento
pátrio.
Desta forma, em primeiro lugar, Excelência, temos que o pedido formulado
nos moldes acima é juridicamente possível. Temos também que o próprio pleito
de aplicação dos juros remuneratórios se relaciona à causa de pedir e é por ela
delimitado, sendo, assim, congruente e coerente com o que fora debatido ao
longo da Ação Coletiva.
Como sabido, Excelência, os pedidos veiculados peça inicial da ACP foram
julgados procedentes, sendo que os demais provimentos jurisdicionais somente
alteraram os indicies da diferença a ser aplicada, não havendo a exclusão dos
juros remuneratórios nos moldes em que foram pleiteados, de modo que
a própria declaração de PROCEDENCIA abarca também o pedido de
correção de diferenças da poupança com a devida inclusão dos juros
remuneratórios.
De outra banda, é sabido que os juros remuneratórios integram a
obrigação principal do contrato de depósito (poupança), daí porque incidem mês
a mês sobre a diferença entre os índices de atualização devidos e aplicados,
contados a partir de quando deveriam ter incidido, até o momento de seu efetivo
pagamento.
Nesse sentido, já se decidiu pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça que:
"CADERNETA DE POUPANÇA. Correção monetária.
Juros remuneratórios e moratórios. - Os poupadores
têm o direito de receber juros remuneratórios pela
diferença de correção que não lhes foi paga, desde o
vencimento, e juros moratórios, desde a citação. -
Aplicação da lei vigente ao tempo da celebração. -
Recurso dos autores conhecido e provido em parte.
Recurso do Banco não conhecido." (STJ, Quarta Turma,
REsp 466732/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j.
24/06/2006). (destaquei)
Urge trazer a baila, o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça de
Goiás, consolidado no AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE
INSTRUMENTO Nº 233529-78.2015.8.09.0000 (201592335292), em
28/07/2015, interposto pelo Banco HSBC BANK BRASIL S/A, tendo como
relator Dr. EUDÉLCIO MACHADO FAGUNDES - Juiz Substituto em Segundo
Grau - Relator em Substituição, in verbis:
(...)
No que tange aos juros remuneratórios, é pacífico o
entendimento de que sua incidência ocorre no intervalo de
tempo compreendido entre a mora e o efetivo pagamento, à
base de zero vírgula cinco por cento (0,5%) ao mês, eis que
expressamente prevista sua incidência na sentença
condenatória. (destaquei)
(...)
Destarte, provado esta que na execução individual de sentença que tem
objeto a sentença proferida na ação civil pública nº. 583.00.1993.808239-4 –
Banco Bamerindus (HSBC) deverá incidir juros remuneratórios, haja vista, a sua
expressa incidência na sentença condenatória.
Não é demais repisar que os juros remuneratórios não são acessórios do
principal, mas parte integrante da remuneração da caderneta de poupança.
Assim, por serem juros contratuais, nas ações em que se pleiteiam diferenças de
índices aplicados nas cadernetas de poupança à inclusão dos juros
remuneratórios só é possível se forem também objeto do pedido. E assim fora
feito, conforme se demonstrou acima.
Logo, em se tratando de débito judicial, a incorporam-se sobre a
atualização da moeda todos os expurgos inflacionários, no caso, subsequentes ao
reconhecido no Plano Verão, pois esses independem de novo comando judicial
consoante demonstrado. Assim, são devidas essas correções sobre o montante
devido.
Portanto, e mais uma vez pedindo vênias ao entendimento diverso, deve-
se se afastar o entendimento de que “em momento algum restou decidido sobre
a incidência ou não de juros remuneratórios”, pois, como visto o próprio pleito
relativo aos juros em comento foram consignados na ação coletiva.
.
Como se vê, está mais do que comprovada a divergência
jurisprudencial sobre o tema com fundamento na jurisprudência do próprio
Superior Tribunal de Justiça.
Diante de todo o exposto, requer o agravante seja reconsiderada
a r. decisão monocrática de fls., ou provido o presente Agravo Regimental e,
consequentemente, conhecido e provido o Recurso Especial interposto, para os
fins postulado.
Nestes termos,
Pede deferimento.

Curitiba/PR, 27 de março de 2023.

EVANDRO LAGO
OAB/PR 66.926

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