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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS


GABINETE DA DESEMBARGADORA ONILZA ABREU GERTH

Segunda Câmara Cível

Embargos de Declaração Cível - MANAUS/AM


PROCESSO N.º 0003087-10.2022.8.04.0000
EMBARGANTE: Fundo Previdenciário do Estado do Amazonas - Amazonprev
EMBARGADA: Maria Elaine Salzer
RELATORA: ONILZA ABREU GERTH

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.


OMISSÃO. JUROS DE MORA. ÍNDICE DE
REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE
POUPANÇA. AUSÊNCIA DE VÍCIO A SER
SANADO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
REJEITADOS.
1. O juízo de primeiro grau fixou como índice dos juros
de mora os aplicáveis à caderneta de poupança. No julgado
recorrido, manteve-se a referida determinação, de forma
expressa, mediante a aplicação do REsp Repetitivo nº.
1.492.221 e do RE com Repercussão Geral nº. 870.947
2. A variação do percentual em efetivo dos juros de mora
de acordo com a meta da taxa Selic encontra-se prevista na
Portaria nº. 1.855/2016-TJAM, exatamente na aplicação,
sobre os débitos da Fazenda Pública, dos juros da
poupança, como determinado no julgado.
3. Assim, o acórdão embargado não padece de omissão
ou obscuridade sobre a matéria do índice de juros de mora
da condenação, tendo aplicado o direito corretamente à
lide.
4. 3. Embargos de declaração rejeitados.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, DECIDE a


colenda Segunda Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas
por unanimidade de votos, em rejeitar os presentes embargos, nos termos do voto da
Relatora, que integra esta Decisão para todos os fins de direito.
Sala das Sessões, em Manaus (AM.), de julho de 2022.

Presidente

Onilza Abreu Gerth


Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de embargos de declaração opostos por Fundo


Previdenciário do Estado do Amazonas - Amazonprev, em face do acórdão proferido
nos autos n.° 0618864-85.2019.8.04.0001, por meio do qual deu-se parcial provimento
ao apelo, tão-somente para alterar o termo inicial dos juros de mora para 17/06/2013.
Em síntese, o embargante alega que há omissão no julgado
embargado, pois "omitiu-se quanto à fixação dos juros em 0,5% ao mês, aplicável ao
caso em testilha". Afirma que "a taxa de juros da poupança será de 0,5%, só enquanto a
SELIC for maior que 8,5% ao ano" e que "desde outubro de 2017, a SELIC encontra-se
abaixo de 8,5%, ensejando a aplicação da regra subsidiária de juros da poupança
equivalentes a 70% da meta SELIC, em lugar de 0,5%". Defende, ao final, que "no
período de 26 de novembro de 2011 (data fixada judicialmente para incidência de juros)
a 08 de dezembro de 2021 (data em que a Taxa SELIC superou 8,5%), há que se operar
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a aplicação de juros de mora decrescentes, desde cada vencimento" e que "no período de
09 de dezembro de 2021 em diante, há que se utilizar a taxa de juros no patamar de
0,5%".
Assim, requer o acolhimento dos presentes embargos com efeitos
infringentes.
A embargada não apresentou contrarrazões (certidão à fl. 10).
É o relatório. Decido.

VOTO

Presentes os requisitos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade,


conheço do recurso de embargos de declaração.

Tratando-se de Embargos Declaratórios, estatui o Código de Processo


Civil que serão cabíveis quando houver, na sentença ou no acórdão, os vícios insertos
no art. 1.022, quais sejam: obscuridade, contradição, omissão ou erro material.

Pela análise dos aclaratórios opostos, compreendo que a decisão


recorrida não incorreu em qualquer vício que autorize o acolhimento dos aclaratórios.

O juízo de primeiro grau fixou como índice dos juros de mora aqueles
aplicáveis à caderneta de poupança. No julgado recorrido, manteve-se a referida
determinação, de forma expressa, mediante a aplicação de Resp Repetitivo e RE com
repercussão geral. Confira-se:

No tocante ao índice dos juros de mora, a sentença encontra-se


correta, não merecendo ser alterada.
Afinal, uma vez que se está a tratar de débito não tributário da
Fazenda Pública, a determinação de incidência dos juros aplicáveis
à caderneta de poupança encontra amparo no REsp Repetitivo nº.
1.492.221 do STJ (Tema 905) e no RE com Repercussão Geral nº.
870.947, ambos de observância obrigatória juízes e Tribunais (art.
927, III, do CPC). Confira-se:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE


ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS
INCIDENTE SOBRE CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA
FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97 COM
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A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.960/09.


IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO
ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE
POUPANÇA COMO CRITÉRIO DE CORREÇÃO
MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL
DE PROPRIEDADE (CRFB, ART. 5º, XXII).
INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS.
INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO
RENDIMENTO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO
ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS MORATÓRIOS DE
CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA,
QUANDO ORIUNDAS DE RELAÇÕES JURÍDICO-
TRIBUTÁRIAS. DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E
VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE DEVEDOR PÚBLICO E
DEVEDOR PRIVADO (CRFB, ART. 5º, CAPUT).
RECURSO EXTRAORDINÁRIO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. O princípio constitucional da isonomia (CRFB,
art. 5º, caput), no seu núcleo essencial, revela que o art. 1º-F da
Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na
parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir
sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, os quais
devem observar os mesmos juros de mora pelos quais a
Fazenda Pública remunera seu crédito; nas hipóteses de
relação jurídica diversa da tributária, a fixação dos juros
moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta
de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta
extensão, o disposto legal supramencionado. [...].
(STF - RE 870947, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 20/09/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-262 DIVULG
17-11-2017 PUBLIC 20-11-2017).

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUBMISSÃO


À REGRA PREVISTA NO ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO 02/STJ. DISCUSSÃO SOBRE A
APLICAÇÃO DO ART. 1º-F DA LEI 9.494/97 (COM
REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/2009) ÀS
CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA.
CASO CONCRETO QUE É RELATIVO A CONDENAÇÃO
JUDICIAL DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA.
- TESES JURÍDICAS FIXADAS.
1. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com
redação dada pela Lei 11.960/2009), para fins de correção
monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas
à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza.
1.1 Impossibilidade de fixação apriorística da taxa de correção
monetária.
No presente julgamento, o estabelecimento de índices que
devem ser aplicados a título de correção monetária não implica
pré-fixação (ou fixação apriorística) de taxa de atualização
monetária. Do contrário, a decisão baseia-se em índices que,
atualmente, refletem a correção monetária ocorrida no período
correspondente. Nesse contexto, em relação às situações
futuras, a aplicação dos índices em comento, sobretudo o INPC
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e o IPCA-E, é legítima enquanto tais índices sejam capazes de


captar o fenômeno inflacionário.
1.2 Não cabimento de modulação dos efeitos da decisão.
A modulação dos efeitos da decisão que declarou
inconstitucional a atualização monetária dos débitos da
Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da
caderneta de poupança, no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, objetivou reconhecer a validade dos precatórios
expedidos ou pagos até 25 de março de 2015, impedindo, desse
modo, a rediscussão do débito baseada na aplicação de índices
diversos. Assim, mostra-se descabida a modulação em relação
aos casos em que não ocorreu expedição ou pagamento de
precatório.
2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação
dada pela Lei 11.960/2009), na parte em que estabelece a
incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública
com base no índice oficial de remuneração da caderneta de
poupança, aplica-se às condenações impostas à Fazenda
Pública, excepcionadas as condenações oriundas de relação
jurídico-tributária.
[...].
(STJ - REsp 1492221/PR, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
22/02/2018, DJe 20/03/2018).

Por sua vez, a variação do percentual em efetivo dos juros de mora de


acordo com a meta da taxa Selic encontra-se prevista na Portaria nº. 1.855/2016-TJAM,
exatamente na aplicação, sobre os débitos da Fazenda Pública, dos juros da poupança,
como determinado no acórdão embargado:
CAPÍTULO III - DOS JUROS

[...].

SEÇÃO II - DA INCIDÊNCIA SOBRE OS DÉBITOS DA


FAZENDA PÚBLICA

Art. 18. Quando aplicáveis os juros moratórios legais das Leis Civis,
serão consideradas as seguintes taxas:

I - até 10/01/2003, 6% ao ano; Conforme art. 1.062 do Código Civil


de 1916
II - a partir de 11/01/2003, taxa SELIC acumulada; Conforme art. 406
do Código Civil de 2002, e inteligência do Superior Tribunal de
Justiça no EREsp 727.842/SP
III - a partir de 29/06/2009, os juros aplicados à caderneta de
poupança:

Juros da poupança a partir de junho de 2009, conforme art. 1º - F da


Lei n.º 9.494/1997 (Matéria sob apreciação no STF - RE 870.947-SE)

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a) 0,5% ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano for superior


a 8,5%; ou
b) 70% da meta da taxa Selic ao ano, mensalizada, vigente na data
de início do período de rendimento, enquanto a meta da taxa Selic
ao ano for igual ou inferior a 8,5%;

Ante o exposto, vislumbra-se que o acórdão embargado não padece de


omissão ou obscuridade sobre a matéria do índice de juros de mora da condenação,
tendo aplicado o direito corretamente à lide, acompanhando os precedentes vinculantes
das Cortes Superiores.

Ante o exposto, conheço e rejeito os presentes embargos.

É como voto.

Onilza Abreu Gerth


Relatora

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