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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000135130

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento


nº 3000299-23.2023.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é
agravante ESTADO DE SÃO PAULO, são agravados NAPOLEAO DE
OLIVEIRA BARBOSA, ANTONIO FLAVIO DE SOUZA LEIVA, ANTONIO
JOSE VICENTE FERREIRA, NERI GONCALVES PEREIRA, JORGE DE
ALMEIDA SILVA, JAIR COSTA MOREIRA, CARLOS ALBERTO
GUBBIOTTI, EDSON VISOCKAS DA SILVEIRA, ANTONIO LUIZ CARRER,
JOSE PADILHA, JOEL MUNIZ DA SILVA e JURANDIR ROSSI AMORIM.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara de


Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o
voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores CLAUDIO


AUGUSTO PEDRASSI (Presidente sem voto), VERA ANGRISANI E
RENATO DELBIANCO.

São Paulo, 27 de fevereiro de 2023.

CARLOS VON ADAMEK


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 3000299-23.2023.8.26.0000

COMARCA: SÃO PAULO 2ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA

AGRAVANTE: ESTADO DE SÃO PAULO

AGRAVADOS: NAPOLEÃO DE OLIVEIRA BARBOSA e OUTROS

VOTO Nº 11.773

PROCESSUAL CIVIL AGRAVO DE INSTRUMENTO


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA BLOQUEIO DE VERBAS PELO SISBAJUD
Determinação de bloqueio de verbas do agravante pelo
SISBAJUD que já fora objeto de decisão não recorrida
tempestivamente Matéria que se encontra abarcada pela
preclusão Precedentes deste E. Tribunal Executado,
ademais, que havia demonstrado concordância com o
procedimento de bloqueio anteriormente à decisão ora
agravada Recurso desprovido.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a


r. decisão interlocutória de fl. 514 do cumprimento de sentença contra a Fazenda
Pública nº 060949-16.1987.8.26.0053, que determinou “o bloqueio de numerário
existente em contas bancárias em nome da parte executada (CNPJs de fls. 506), pelo
sistema SISBAJUD, no valor de R$ 155.541,77” (fl. 514 dos autos de origem).

Insurge-se o agravante contra essa decisão,


alegando, em síntese, que: a) vislumbra-se “impossibilidade jurídica de fazer
diretamente o depósito nos autos, sendo indevido o bloqueio efetivado, uma vez que, com o
advento da Emenda Constitucional n. 62/2009 o pagamento dos precatórios passou a ser
ato de competência exclusiva do Poder Judiciário, cabendo à Fazenda realizar o depósito
mensal da quantia necessária em conta especial administrada pelo Tribunal“ (fl. 4); b) a
manutenção do bloqueio implicará em benefício indevido aos agravados, por
ofensa ao princípio da isonomia, bem como ao disposto no art. 100, §§ 5º e 6º, da
Constituição Federal (fls. 1/10).

Indeferido o efeito suspensivo ao recurso (fls. 12/14),


os agravados ofereceram contraminuta às fls. 23/26, pugnando, em síntese, pelo

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seu desprovimento.

É o relatório.

Recurso tempestivo (fl. 515 dos autos principais), sem


recolhimento do preparo, por se tratar de recurso interposto pela Fazenda Estadual
(CPC, art. 1.007, §1º).

O recurso não comporta provimento.

O agravante insurge-se contra a determinação de


bloqueio de seus valores por meio do SISBAJUD.

Ocorre que aludida possibilidade já havia sido objeto


de decisão de fl. 428 dos autos de origem, prolatada em 26.04.2019:

“Vistos.

Diante do trânsito em julgado do v. Acórdão de fls. 353/360,


promova a Fazenda estadual o depósito complementar, no
prazo de quinze dias, sob pena de bloqueio por meio do
sistema Bacen-Jud” (fl. 428 dos autos de origem).

Em face daquela decisão, inclusive, foi interposto o


Agravo de Instrumento nº 3002285-51.2019.8.26.0000, ocasião em que o
recorrente apresentou as mesmas teses ora alegadas:

“Trata-se de execução na qual houve determinação de


pagamento do precatório complementar. Ocorre que o
magistrado de 1º grau determinou que não se expedisse
novo requisitório, mas por via do pagamento direto.

(...)

A executada reconhece o direito de que seja pago o crédito


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do coexequente, entretanto, por tratar-se de


complementação de Precatório ela não pode,
diretamente, realizar esse depósito. Após o advento da
EC n. 62/2009, que passou a vigorar posteriormente ao
pagamento do precatório, houve substancial modificação
do regime constitucional para processamento dos
requisitórios judiciais. Com a promulgação da referida
emenda constitucional, o pagamento dos precatórios passa
a ser ato de competência exclusiva do Poder Judiciário,
cabendo à Fazenda Pública realizar o depósito mensal da
quantia necessária em conta especial, administrada pelo
Tribunal de Justiça.

(...)

Assim, embora o pagamento seja efetivamente devido, o


seu processamento não pode desconsiderar o regime de
precatórios constitucionalmente estabelecido. O depósito
não deve ser efetuado em afronta à Constituição. Requer-
se, isso sim, que em respeito ao art. 100, § 5º e 6º, da CF,
seja oficiada a DEPRE/TJSP para que promova a
complementação as custas dos valores mensalmente
depositados pela devedora na conta especial destinada a tal
fim, com vinculação à receita corrente líquida nos termos do
art. 97, § 1º, do ADCT” (fls. 3/6 dos autos nº
3002285-51.2019.8.26.0000).

O recurso, contudo, não foi conhecido, por manifesta


intempestividade:

“PROCESSUAL CIVIL AGRAVO DE INSTRUMENTO


PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO INTEMPESTIVIDADE
Recurso interposto após o decurso do prazo legal (artigo
1.003, § 5º, CPC/2015) Pedido de reconsideração que não
tem o condão de interromper ou suspender a fluência do

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prazo recursal Recurso não conhecido.” (TJSP; Agravo


de Instrumento nº 3002285-51.2019.8.26.0000; Relator
Des. CARLOS VON ADAMEK; 2ª Câmara de Direito
Público; j. 31.07.2019).

Deste modo, a matéria objeto de inconformismo do


executado encontra-se abarcada pela preclusão, nos termos do art. 507 do CPC1.

Nesse sentido, o entendimento deste E. Tribunal:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação de usucapião.


Cumprimento de sentença. Insurgência contra decisão que
rejeitou impugnação e manteve a penhora de imóvel
realizada naqueles autos, para pagamento de honorários de
sucumbência. Alegações de desobediência à ordem de
gradação do art. 835 do CPC, o excesso de penhora,
indisponibilidade e impenhorabilidade dos bens da
agravante, respeito à ordem de preferência dos credores,
em razão de execução fiscal em face da agravante,
requerendo por tal motivo a necessária intimação do
Ministério Público. Requerimento de gratuidade judiciária.
Descabimento. Diversas tentativas de recebimento do
crédito infrutíferas, não havendo ofensa ao art. 835 do CPC.
Preclusão quanto à indisponilidade/impenhorabilidade,
resolvidas em decisão não agravada. Intimação do
Ministério Público desnecessária. Hipossuficiência não
comprovada. Litigância de má-fé. Argumentos externados
pelo recorrente que implicam em simples exercício da ampla
defesa. Eventuais excessos e alegada má-fé não
detectados. Decisão mantida. Adoção do art. 252 do RITJ.
RECURSO DESPROVIDO.” (TJSP; Agravo de
Instrumento nº 2142949-81.2021.8.26.0000; Relator
Des. JAIR DE SOUZA; 10ª Câmara de Direito Privado; j.

1 “Art. 507. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito
se operou a preclusão.”

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30.09.2021) (g.n.);

“AGRAVO DE INSTRUMENTO CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA PROMOVIDO EM LITISCONSÓRCIO
ORIUNDO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
Decisão agravada que não fixa honorários advocatícios em
favor dos exequentes Irresignação dos agravantes
Inadmissibilidade A questão suscitada pelos agravantes
neste recurso, já havia sido apreciada e afastada pelo C.
Juízo a quo, em decisões anteriores Contra tais decisões
não foram interpostos recursos em momento oportuno
Preclusão temporal verificada Art. 507 do CPC que veda à
parte a discussão no processo de questões já decididas, a
cujo respeito se operou a preclusão. Recurso
desprovido.” (TJSP; Agravo de Instrumento nº
2052256-51.2021.8.26.0000; Relator Des. OSCILD DE
LIMA JÚNIOR; 11ª Câmara de Direito Público; j.
24.05.2021) (g.n.).

De notar, aliás, que anteriormente à mais recente


decisão do r. Juízo a quo, o executado já havia indicado outra conta bancária para
possibilitar o bloqueio de verbas, visto que a primeira tentativa fora frustrada,
demonstrando, assim, concordância com o procedimento:

“A Fazenda do Estado de São Paulo, representada pela


Procuradora do Estado que esta subscreve, vem, junto a
este Juízo, nos autos em epígrafe, manifestar-se acerca da
decisão de fls.499-500.

Esclarece-se, nesta oportunidade, que a conta do Banco do


Brasil vinculada ao CNPJ nº 46.379.400/0001-50 trata-se da
Conta Única do Tesouro do Estado, portanto é conta ativa
que, inclusive, recebe diversas ordens de bloqueio com

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sucesso, emanadas de outros processos judiciais.


Alternativamente indica-se a conta do Banco do Brasil
vinculada ao CNPJ nº 46.377.222/0003-90 (Tesouro do
Estado).

A execução da ordem judicial de bloqueio é procedimento


executado pelo órgão do Poder Judiciário na qual se
originou, sem qualquer interferência da Fazenda Pública, ou
de seus representantes legais. Nesse sentido, esta
Procuradoria Geral do Estado desconhece as razões pelas
quais a tentativa de bloqueio restou infrutífera.” (fl. 506 dos
autos de origem).

De rigor, portanto, a manutenção do r. decisum.

Deixo de fixar honorários advocatícios em sede


recursal haja vista que, consoante o entendimento deste Egrégio Tribunal, há
“descabimento dos honorários advocatícios recursais (§ 11 do art. 85 do NCPC) quando não
se está diante de recurso interposto contra decisão de primeiro grau que tenha fixado
honorários advocatícios” (Agravo de Instrumento nº 2093310-70.2016.8.26.0000, Rel.
Des. RICARDO CHIMENTI, 18ª Câmara de Direito Público, j. em 02.06.2016). Nesse
sentido também o E. STF: ARE 948578 AgR/RS, ARE 951589 AgR/PR e ARE 952384
AgR/MS, 1ª Turma, rel. Min. MARCO AURÉLIO, j. em 21.6.2016, Informativo 831.

Por derradeiro, considero prequestionada toda matéria


infraconstitucional e constitucional invocada, observando o pacífico entendimento
do Colendo STJ de que “é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais,
bastando que a questão posta tenha sido decidida”. Além disso, esclareço também que
eventuais recursos de “embargos declaratórios, mesmo para fins de prequestionamento,
só são admissíveis se a decisão embargada estiver eivada de algum dos vícios que
ensejariam a oposição dessa espécie recursal” (STJ, EDcl no RMS nº 18.205/SP, rel. Min.
FELIX FISCHER, 5ª Turma, j. 18.04.2006).

Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

CARLOS VON ADAMEK


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Relator

Agravo de Instrumento nº 3000299-23.2023.8.26.0000 -Voto nº 11773 8

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