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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES

REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO CÍVEL Nº 0011783-72.2018.8.06.0112


APELANTE: MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE
APELADA: KAMILA OLIVEIRA CARDOSO MORAIS
ORIGEM: MANDADO DE SEGURANÇA 1° VARA DA COMARCA DE JUAZEIRO DO NORTE

EMENTA: APELAÇÃO E REMESSA NECESSÁRIA. MANDADO DE SEGURANÇA.


CONTRATO TEMPORÁRIO. SERVIDORA GESTANTE AO TEMPO DA SUA EXONERAÇÃO.
ESTABILIDADE PROVISÓRIA APLICÁVEL. PRECEDENTES DO STF. ILEGALIDADE DA
RESCISÃO CONTRATUAL. INDENIZAÇÃO REFERENTE AO PERÍODO DE ESTABILIDADE
DEVIDO. SUPOSTA INADEQUAÇÃO DA VIA MANDAMENTAL AFASTADA. PRETENSÃO
DE PAGAMENTO QUE CONSISTE EM MERA CONSEQUÊNCIA DO RECONHECIMENTO DA
ILEGALIDADE DA EXONERAÇÃO. SENTENÇA DE CONCESSÃO DA SEGURANÇA QUE
MERECE SER MANTIDA. APELAÇÃO E REMESSA NECESSÁRIA CONHECIDAS E
DESPROVIDAS.

ACÓRDÃO

ACORDA a Turma Julgadora da Segunda Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado
do Ceará, por unanimidade, em conhecer da Remessa Necessária e da Apelação Cível, para desprovê-
las, nos termos do voto da Desembargadora Relatora.
Fortaleza, 08 de março de 2023

FRANCISCO GLADYSON PONTES


Presidente do Órgão Julgador, em exercício

TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES


Relatora
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES

RELATÓRIO

Trata-se de Remessa Necessária e Apelação Cível interposta pelo Município de Juazeiro


do Norte, tendo como apelada Kamila Oliveira Cardoso Morais, adversando a sentença proferida
pelo Juízo da 1ª Vara da Comarca de Juazeiro do Norte que deferiu o ordem pretendida pela
recorrida nos autos do Mandado de Segurança nº 0011783-72.2018.8.06.0112.

Adoto, no que pertine, o relatório constante no parecer da Procuradoria-Geral de Justiça, às


fls. 151-152, a seguir transcrito:

Cuidam os autos de Remessa Necessária e Apelação (fls.128/136) interposta pelo


Município de Juazeiro do Norte com o propósito de reforma de sentença (fls. 71/74)
proferida no Mandado de Segurança em epígrafe pelo Juízo da 1ª Vara Cível da
Comarca de Juazeiro do Norte, o qual, mediante julgamento de procedência da
pretensão autoral formalizada por Kamila Oliveira Cardoso Morais, condenou o ente
público Recorrente ao pagamento de indenização decorrente de estabilidade causada
pelo estado gravídico da Impetrante ao tempo da rescisão de contrato de prestação de
serviços formalizado entre as partes.

De acordo com a peça inicial dos autos, a Impetrante relatou que firmou contrato
temporário de prestação de serviços com o Município de Juazeiro do Norte, vindo a
ser exonerada no dia 28 de fevereiro de 2018, aduzindo, no entanto, que teve iniciada
sua gravidez no dia 21 de fevereiro de 2018, motivo pelo qual pleiteou na via
administrativa a concessão de indenização decorrente da estabilidade funcional
causada pelo seu estado gravídico, o qual se iniciou antes de sua exoneração, não lhe
sendo, contudo, deferido o pleito indenizatório, razão pela qual impetrou o Mandado
de Segurança em tela a fim de condenar o ente público ao pagamento das verbas
remuneratórias inerentes ao período da estabilidade funcional.
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Após regular trâmite processual, sobreveio sentença que julgou procedente o pleito
inaugural.

Irresignado com a sentença, o Município de Juazeiro do Norte interpôs a Apelação


em tela, na qual sustentou a tese de ausência de interesse processual em relação à
pretensão deduzida pela Impetrante, em virtude do Mandado de Segurança não se
afigurar via processual adequada para cobrança de verbas remuneratórias pretéritas,
requerendo, dessa forma, a reforma da sentença para que o feito seja extinto sem
resolução do mérito.

Sem contrarrazões, conforme atesta a certidão de decorrência de prazo de fls. 143.

Subiram os autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, sendo distribuídos a esta


relatoria, conforme termos de fls. 145-146.

Com vista, a Procuradoria-Geral de Justiça opinou pela confirmação da sentença de primeiro


grau (fls. 150-160).

É o relatório.

VOTO

Conheço da Remessa Necessária e da Apelação Cível, pois, preenchidos os requisitos legais


de admissibilidade.

Como relatado, trata-se de julgamento de procedência da pretensão autoral, que condenou o


ente público Recorrente ao pagamento de indenização decorrente de estabilidade causada pelo estado
gravídico da Impetrante ao tempo da rescisão de contrato de prestação de serviços formalizado entre as
partes.

Da análise dos documentos acostados, verifica-se que, a autora comprovou seu vínculo com o
município (fls.16-17), comprovou a condição de gestante ainda durante o período da relação contratual
firmada com a municipalidade, atestando quadro gestacional de 10 semanas e 2 dias (fls. 25),
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demonstrando que a gravidez é anterior à sua exoneração, ocorrida em 28/02/2018, consoante Parecer
da PGM (fls. 11-14).

Inicialmente, a tese recursal formalizada pelo Apelante, consiste na ausência de interesse


processual ocasionada pela inadequação da via mandamental como substituta de ações de cobrança,
baseando-se nas súmulas 269 e 271 do STF, como se vê:

Súmula 269/STF: “O mandado de segurança não é substituto de ação de cobrança”.

Súmula 271/STF: “Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em


relação ao período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via
judicial própria.

No entanto, com bem assentou a Procuradoria-Geral de Justiça, às fls. 153, o pagamento da


remuneração, no caso em tela, consiste apenas em uma consequência do direito líquido e certo violado
pelo Município, acarretando ofensa ao princípio da estabilidade gestacional.

Adoto, por oportuno, a jurisprudência, acostada no parecer ministerial, e desta corte de Justiça
nesse sentido:
MANDADO DE SEGURANÇA DIREITO ADMINISTRATIVO PERCEPÇÃO DE
VANTAGENS SERVIDORA EFETIVA DESIGNAÇÃO PARA EXERCÍCIO
TEMPORÁRIO DE CARGO EM COMISSÃO DURANTE O PERÍODO DE LICENÇA-
MATERNIDADE DA TITULAR DO CARGO POSTERIOR REVOGAÇÃO AD
NUTUM PRETENDIDA MANTENÇA DA REMUNERAÇÃO DO CARGO
COMISSIONADO 1. PRELIMINAR DE EXTINÇÃO DO WRIT SEM
JULGAMENTO DE MÉRITO INADEQUAÇÃO DA VIA UTILIZAÇÃO DA
VIA MANDAMENTAL COMO SUCEDÂNEO DE AÇÃO DE COBRANÇA
VIOLAÇÃO AO ENUNCIADO DA SÚMULA 269/STF REJEIÇÃO
PAGAMENTO DA REMUNERAÇÃO MERA CONSEQUÊNCIA DO
RECONHECIMENTO DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO PERSEGUIDO 2.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA ESTABILIDADE GESTACIONAL INOCORRÊNCIA
AUSÊNCIA DE QUEBRA DO VÍNCULO LABORAL COM O ÓRGÃO VIOLAÇÃO
DAS DISPOSIÇÕES DOS ARTS. 15, § 1º, c/c 21, II, DO ESTATUTO DOS
SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS SEGURANÇA DENEGADA. 1. Inaplicável à
hipótese a vedação erigida pelas Súmulas 269 e 271/STF, na hipótese em que o writ
tem por escopo impedir ato ilegal, e o pagamento da indenização decorrente da
estabilidade gestacional, acaso concedido, representaria mera consequência do ato
indevido. Preliminar rejeitada. (...) (TJ-MT - AGR: 10020370520208110000 MT, Relator:
JUVENAL PEREIRA DA SILVA, Data de Julgamento: 20/08/2020, Órgão Especial, Data
de Publicação: 29/08/2020) (grifei)

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE


SEGURANÇA. CONCEDIDA. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.
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SERVIDORA GESTANTE. DIREITO À ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ART. 10,


II, ¿B¿ DO ADCT. INDENIZAÇÃO SUBSTITUTA. POSSIBILIDADE. REEXAME E
RECURSO CONHECIDOS E DESPROVIDOS. 1. Trata-se de recurso de Reexame
Necessário e Apelação em Mandado de Segurança interposta contra sentença que
reconheceu estabilidade provisória da servidora durante a gravidez. 2. ¿À míngua de
regulamentação expressa e específica destinada às servidoras com vínculo precário, a
jurisprudência dominante privilegia o direito à licença e à estabilidade da gestante, garantias
fundamentais que resguardam a dignidade da mulher e, igualmente, a vida do nascituro¿.
Precedentes do STF e do TJCE. 3. Mesmo sem a prestação do serviço ou na
impossibilidade de usufruir a estabilidade, a jurisprudência, como forma de
resguardar o direito social da proteção à maternidade, consolidou o entendimento de
que a servidora faz jus a uma indenização substitutiva no montante equivalente ao
somatório dos valores devidos no período constitucional da estabilidade provisória.
Precedentes do STF e desta Corte. 4. A atribuição de manifestação inexistente nas
alegações constitui mero erro material, se não intervém na conclusão do julgado relativo ao
pedido da demanda. Reexame e Recurso conhecidos e desprovidos. ACÓRDÃO: Vistos,
relatados e discutidos os presentes autos de Apelação Cível nº 0050182-58.2021.8.06.0180,
em que figuram as partes indicadas, (Apelação / Remessa Necessária -
0050182-58.2021.8.06.0180, Rel. Desembargador JOSÉ TARCÍLIO SOUZA DA SILVA,
1ª Câmara Direito Público, data do julgamento: 06/02/2023, data da publicação:
06/02/2023). [grifei]
Por se tratar de direitos que reclamam a tutela estatal, a Constituição Federal confere proteção
especial a essas condições sui generis, a saber, a maternidade e ao trabalho das gestantes, confira-se:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:

(...) XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de
cento e vinte dias;
Art. 10. ADCT. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da
Constituição:

(...) II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:

(...) b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o
parto. [grifei]

Registre-se que o § 3º do artigo 39, da CF/88, estende tal garantia às servidoras públicas:

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de


política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados
pelos respectivos Poderes. [...]

§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII,
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VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei
estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
[grifei]

O questionamento acerca da compatibilidade entre a estabilidade provisória da gestante e o


contrato temporário de trabalho foi levado à análise do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu o
direito à estabilidade para as gestantes contratadas temporariamente, inclusive no âmbito público.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.


SERVIDORA PÚBLICA GESTANTE. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. DIREITO
À ESTABILIDADE PROVISÓRIA - ART. 10, INC. II, ALÍNEA B, DO ATO DAS
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS - ADCT. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (STF, RE 669959 AgR,
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 18/09/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-195 DIVULG 03-10-2012 PUBLIC 04-10-2012). [grifei]

Em idêntico sentido, segue jurisprudência deste Tribunal:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME


NECESSÁRIO. AÇÃO ORDINÁRIA. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL.
INOCORRÊNCIA. PRELIMINAR DE DENUNCIAÇÃO DA LIDE. DESCABIMENTO.
PRELIMINARES REJEITADAS. MÉRITO. SERVIDORA GESTANTE SOB VÍNCULO
DE CONTRATO TEMPORÁRIO. ESTABILIDADE PROVISÓRIA DA GESTANTE.
ART. 10, II, 'B', DO ADCT. NULIDADE DO CONTRATO TEMPORÁRIO.
OBRIGAÇÃO DE ADIMPLEMENTO DA REMUNERAÇÃO QUANTO AO
PERÍODO DA ESTABILIDADE PROVISÓRIA. MÉRITO DA SENTENÇA MANTIDO
EM PARTE. FIXAÇÃO DO TERMO A QUO QUANTO AOS ÍNDICES DE JUROS DE
MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. REMESSA OFICIAL PARCIALMENTE
PROVIDA. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. 1. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA
INICIAL. (...) 3. MÉRITO 3.1. Cinge-se a controvérsia à aplicabilidade da estabilidade
provisória da gestante ao contrato temporário de trabalho firmado com ente público, bem
como o pagamento das remunerações referentes a esse período. 3.2. A Carta Magna de
1988 elenca, em seu art. 6º, como direitos sociais, o trabalho e a proteção à
maternidade. Garantiu, ainda, à trabalhadora gestante o direito à licença
maternidade, "sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte
dias" (art. 7º, XVIII, CF/88), sendo este direito estendido aos servidores públicos, nos
termos do art. 39, §3º. No intuito de garantir e efetivar, simultaneamente, a proteção à
maternidade e o direito ao trabalho, o art. 10, inciso II, alínea 'b', do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) prevê a estabilidade provisória da
gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. 3.3. O
Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito à estabilidade para as gestantes
contratadas temporariamente, inclusive no âmbito público, mormente quando são
celebrados sucessivos contratos temporários de trabalho com o mesmo ente, como se
deu no caso em exame. Sentença mantida no mérito. 3.4. Contudo, quanto às
gratificações natalinas e verbas fundiárias concedidas pelo magistrado de origem, cabe
decote da condenação nesses pontos, tendo em vista que não houve pedido da parte autora
para o pagamento de tais verbas. Assim, nos termos do artigo 492 do CPC/2015, é vedado
ao julgador proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em
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quantidade superior ou em objeto diverso do que foi demandado. 3.5. Realmente, não
poderia o magistrado ter condenado o ora recorrente ao pagamento de gratificações
natalinas e FGTS, sob pena de ferir o princípio da congruência ou adstrição normatizado
pelo artigo 492 do CPC/2015, como de fato ocorreu. Trata-se, portanto, de hipótese de
sentença ultra petita, não havendo que falar, no entanto, em nulidade, mas apenas se faz
necessário decotar a parte que ultrapassou o pedido. 3.6. Em sede de reexame necessário,
impende estabelecer o termo a quo dos índices de juros e correção monetária aplicáveis no
cômputo da condenação. Assim, afigura-se certo, que os juros incidirão a partir da citação e
a correção monetária, a partir de cada pagamento a menor. 4. Reexame obrigatório
conhecido e parcialmente provido. Preliminares rejeitadas. (TJCE, Remessa Necessária
Cível - 0012605-92.2013.8.06.0029, Rel. Desembargador LUIZ EVALDO GONÇALVES
LEITE, 2ª Câmara Direito Público, data do julgamento: 26/01/2022, data da publicação:
26/01/2022). [grifei]

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO DE APELAÇÃO. CONTRATO


TEMPORÁRIO. GESTAÇÃO. DIREITO À ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ART. 10, II,
'B', DO ADCT. PRECEDENTES DESTE TJ/CE, STF E STJ. RECURSO DE APELAÇÃO
CONHECIDO E DESPROVIDO. I. Cinge-se a demanda em analisar recurso de apelação
interposto pelo Município de Cruz em face da sentença proferida pelo Juízo da Vara Única
da Comarca de Cruz que julgou parcialmente procedente o pleito autoral para condenar o
apelante ao pagamento das remunerações devidas à autora referentes ao período de
dezembro de 2015 a junho de 2016 com os respectivos adicionais de férias e décimo
terceiro salários proporcionais, relacionados aos anos de 2015 e 2016, caso não tenham sido
pagos. II. Analisando os autos, verifica-se que a autora, recorrida, comprovou seu vínculo
com o ente municipal, através do contrato temporário firmado com a municipalidade, para
desempenhar a função de Peb I (professora) junto à Secretaria Municipal de Educação, com
prazo de validade de 04 de agosto de 2015 a 18 de dezembro de 2015. Constata-se também
a certidão de nascimento da filha da autora acostada aos autos. III. A Constituição Federal
tem a maternidade como um direito social a merecer destaque, com relação ao trabalho das
gestantes, assegura-lhe proteção contra dispensas arbitrárias, permitindo a permanência da
mulher no exercício de suas funções, estipulando um lapso temporal. IV. É entendimento
sedimentado na jurisprudência que a servidora designada precariamente para o
exercício de função pública faz jus, quando gestante, à estabilidade provisória de que
trata o art. 10, II, 'b', do ADCT, que veda, até adequada regulamentação, a dispensa
arbitrária ou sem justa causa de empregada gestante, desde a confirmação da gravidez
até cinco meses após o parto. Em harmonia com a orientação jurisprudencial do
Supremo Tribunal Federal, esta Corte vem decidindo que a servidora designada
precariamente para o exercício de função pública faz jus, quando gestante, à
estabilidade provisória de que trata o art. 10, II, 'b', do ADCT, que veda, até adequada
regulamentação, a dispensa arbitrária ou sem justa causa de empregada gestante,
desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. V. Assim, deveria ter o
Município comprovado algum fato impeditivo, modificativo ou extintivo, contudo, o
recorrente sustentou apenas que "a apelada não logrou êxito de provar que a administração
municipal tinha conhecimento de seu estado gravídico quando do término de seu contrato
temporário". Nesse diapasão, vejo que o ente municipal não se desvencilhou do seu ônus
probatório, como anteriormente salientado. VI. Recurso de apelação conhecido e
desprovido.Sentença mantida. (Apelação Cível - 0003987-81.2017.8.06.0074, Rel.
Desembargador INÁCIO DE ALENCAR CORTEZ NETO, 3ª Câmara Direito Público, data
do julgamento: 05/04/2021, data da publicação: 05/04/2021) [grifei].
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Dessa maneira, o afastamento indevido da servidora ocasionou a impossibilidade de fruição


da estabilidade gravídica, configurando-se em ofensa ao direito constitucionalmente reconhecido, que
não pode ser revertido no tempo, fazendo nascer para a servidora o direito à percepção de uma
prestação monetária equivalente ao período em que deveria ter permanecido em exercício no serviço
público.

Ponderados os argumentos acima, deve ser ratificada a ordem concedida, com vista a
assegurar o direito liquido e certo da gestante, constitucionalmente reconhecido.

Ante o exposto, conheço da Remessa Necessária e do Recurso de Apelação, para


desprovê-los.

É o voto.
Des.ª TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES
Relatora

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