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Tribunal de Justiça
07ª Câmara de Direito Privado
Agravo de Instrumento n.º 0012893-18.2023.8.19.0000
Agravante: ANA MARIA BERNACCHI ALVES COSTA
Agravados: JOSÉ ARLEY LIMA COSTA
Relator: Desembargador CHERUBIN SCHWARTZ

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CITAÇÃO POR WHATSAPP.


REVELIA DECRETADA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DE
CITAÇÃO E REQUERIMENTO DE AFASTAMENTO DOS
EFEITOS DA REVELIA DEDUZIDOS PELA AGRAVANTE
NOS AUTOS ORIGINÁRIOS NÃO APRECIADOS PELO
JUÍZO A QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. VIOLAÇÃO
AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. 1. Citação realizada
por whatsapp. 3. Revelia decretada em decisão proferida
antes do ingresso da ré nos autos. 2. Contestação
alegando nulidade da citação e requerendo afastamento
dos efeitos da revelia. 4. Juízo que não se pronunciou
sobre a nulidade da citação e afastamento da revelia. 5.
Efeitos da revelia que podem ser afastados quando do
julgamento da demanda nos termos 345, IV do CPC. 6.
Não cabe a esta Câmara se pronunciar sobre o referido
tema sem a manifestação do juízo a quo sobre este ponto,
sob pena de influir no julgamento de mérito, incorrer em
supressão de instância e na consequente violação ao
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição. Recurso não
conhecido nos termos do voto do Desembargador
Relator.

ACORDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo
de Instrumento n.º 0012893-18.2023.8.19.0000 em que é Agravante ANA

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CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JUNIOR:13776 Assinado em 12/05/2023 17:51:48


Local: GAB. DES CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JUNIOR
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MARIA BERNACCHI ALVES COSTA e Agravado JOSÉ ARLEY LIMA


COSTA.
ACORDAM os Desembargadores que compõem a
Colenda Sétima Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em não conhecer do
recurso nos termos do voto do Desembargador Relator.
Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por ANA
MARIA BERNACCHI ALVES COSTA em face da decisão do Juízo da 2ª
Vara de Família da Comarca da Capital que decretou a revelia nos
seguintes termos:
“Decreto a revelia da parte ré, por falta de apresentação de defesa
no prazo legal, sem, entretanto, a aplicação dos efeitos legais, por
se tratar de direito indisponível, consoante Art. 345, II do CPC.
Cabendo ressaltar que a revelia importa em mera presunção em
favor do autor, mas não induz a procedência do pedido, não
estando o autor desobrigado da comprovação dos fatos e na
impossibilidade do réu de negá-los, ou até produzir provas,
conforme disposto no parágrafo único do Art. 346 do CPC.
Para o prosseguimento do feito, com fundamento nos Art. 6º e 10º,
do CPC, faculto às partes, no prazo comum de 15 dias, que
esclareçam, de maneira clara, objetiva e sucinta, as questões de
fato e de direito que entendam pertinentes ao julgamento da lide.
Quanto às questões de fato, deverão indicar aquelas que
considerem incontroversas ou já comprovadas através de prova
constante dos autos, relacionando os documentos que tenham

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dado suporte a cada alegação.


Com relação às demais questões de fato, ainda controvertidas, as
partes deverão especificar as provas que pretendam produzir,
justificando, objetiva e fundamentadamente, sua relevância e
pertinência.
Ficam as partes advertidas de que o protesto genérico por
produção de provas será interpretado como anuência ao
julgamento antecipado, indeferindo-se, ainda, os requerimentos
de diligências inúteis ou meramente protelatórias.
No que diz respeito às questões de direito, para que não se alegue
prejuízo, as partes deverão, desde logo, se manifestar sobre a
matéria de conhecimento, de ofício, pelo Juízo, desde que
pertinente ao processo.
Faculto, ainda, às partes, a apresentação, para homologação, a
delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se
referem os incisos II e IV, do art. 357, do CPC, no prazo de
15 dias, para vinculação das partes e do Juízo.”

Sustenta o agravante, em suma, que citação através


de aplicativo de mensagem whatsapp é controversa e discutível, tendo em
vista que Ana Maria é idosa, contando com 74 (setenta e quatro) anos de
idade e não possui as mesmas habilidades e aptidões tecnológicas que
pessoas mais jovens e acostumadas com tais dispositivos eletrônicos
possuem; que em momento algum confirmou o recebimento da
mensagem enviada pelo OJA, um dos requisitos dispostos no artigo 246,

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§1º-A, do CPC; que após o envio do mandado de citação, Ana Maria


permaneceu silente; que, inclusive, o próprio OJA, às fls. 245, afirma que
a Agravante não respondeu a mensagem enviada por ele; que não pode
o Oficial de Justiça presumir o recebimento apenas porque a Agravante,
após o envio do mandado de citação, encontrava-se “online” no aplicativo;
que não é cabível que, como ocorrido no caso em tela, a citação da
Requerida seja confirmada por mera presunção do Oficial de Justiça,
ainda mais quando o caso se trata de cessar com a subsistência de uma
pessoa idosa; que a Agravante jamais tomou conhecimento da referida
ação por meio do Oficial de Justiça, através do aplicativo WhatsApp, no
dia 03.11.2022; que a ciência se deu quase dois meses depois, de forma
que os advogados – não especializados em Direito das Famílias - que
apenas se propuseram a auxiliavam em distintas questões só puderam se
habilitar nos autos em 20 de dezembro de 2022, conforme fls. 250.
Requer a atribuição do efeito suspensivo e o
provimento do recurso para que seja reformada a decisão.
Decisão indeferindo o pedido de efeito suspensivo às
fls. 18/21.
Informação prestadas pelo juízo a quo às fls. 25/27.
Contrarrazões conforme fls. 28/71.
É o Relatório.
O agravo não merece ser conhecido. Explica-se.

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Conforme observa-se dos autos originário, a citação


se deu por aplicativo de mensagem whatsapp conforme certidão positiva
do OJA conforme fls. 245 juntada nos autos originários em 08/11/2022.
Após, a ré ingressou nos autos juntando procuração em 20/12/2022
conforme fls. 250/253.
Em seguida, o réu apresentou contestação às fls.
264/300 alegando a nulidade da citação por whatsapp e requerendo o
afastamento dos efeitos da revelia, tema que ainda não apreciada pelo
juízo a quo.
Nesse sentido, conforme a sistemática da norma
processual vigente, o efeito da revelia é a presunção de veracidade das
alegações de fatos formulados pelo autor que podem ser afastados se
forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante
dos autos nos termos do art. 3441 e 345, IV do CPC.
Assim, não tendo o juízo a quo se pronunciado sobre
o referido tema, não cabe a esta órgão colegiado se pronunciar sobre os
efeitos da revelia; caso contrário, estaria esta Câmara influindo no mérito
da ação e suprimindo a instância ordinária, o que é vedado em nosso

1 Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas

pelo autor.
Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos
autos.

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ordenamento jurídico em razão de violar o Princípio do Duplo Grau de


Jurisdição.
Diante do exposto, voto no sentido de não conhecer
do recurso.

Rio de Janeiro, a data da assinatura eletrônica.

Desembargador CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JÚNIOR


Relator

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