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RELATÓRIO
Trata-se de recurso de apelação cível interposto por MARIA DAIANA BUENO DE CAMARGO
da sentença proferida pela Juízo da 5ª Vara Cível de Maringá que, nos autos de embargos à
execução nº 0022196-33.2016.8.16.0017 opostos contra FA MARINGÁ LTDA, julgou
improcedente o pedido inicial. Diante da sucumbência, condenou a embargante ao pagamento
das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa,
ressalvado o benefício da gratuidade de justiça concedido (mov. 59.1).
Defende a ocorrência de prescrição, vez que ao ser considerada válida a modalidade de aval
no contrato exequendo, ao invés da fiança, com aplicação das normas de títulos de crédito,
deve também ser aplicado o prazo prescricional dessa espécie, que é de três anos.
É o relatório, em síntese.
FUNDAMENTAÇÃO e VOTO
Trata-se embargos à execução opostos por MARIA DAIANA BUENO DE CAMARGO contra
FA MARINGÁ LTDA em que defenderam a existência de nulidade e abusividades no
instrumento particular de confissão de dívida, objeto da execução, firmado em 23/04/2012, no
valor de R$ 208.544,49 (duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e
nove centavos) a ser pago em 48 parcelas.
Do cerceamento de defesa
Pois bem.
Por meio da sentença de mov. 26.1, o magistrado havia reconhecido a ilegitimidade passiva da
embargante, sob o fundamento de que não teria figurado como avalista no título exequendo,
mas mera anuente.
A embargada interpôs recurso de apelação cível, o qual foi julgado procedente pelo ilustre Juiz
de Direito Substituto em 2° Grau Humberto Gonçalves Brito, em minha substituição, para o fim
de considerar a ora apelante, Sra. Maria Daiana Bueno de Camargo, parte legítima para figurar
no polo passivo da demanda executiva, pois figurou como avalista, cassando a sentença e
determinando o retorno dos autos à origem para processamento dos embargos à execução.
Ao final do acórdão, restou consignado que: “Ressalvo, por oportuno, que a causa não está
apta para imediato julgamento, nos termos do art. 1.103, §3°, do CPC/15, diante dos pedidos
de dilação probatória que devem ser observados em primeira instância”.
Ocorre que, muito embora o julgado anterior, proferido por outro Relator, tenha consignado ao
final a necessidade de dilação probatória, da detida e aprofundada análise do caso, fatos e
provas constantes nos autos, denota-se, em verdade, não haver justificativa e tampouco
demonstração efetiva sobre a necessidade de produção de outras provas. Assim como da
imprescindibilidade de uma decisão saneadora.
Segundo porque, verifico dos autos da execução que o título exequendo possui os requisitos
que lhe garantem liquidez, certeza e exigibilidade. Trata-se de instrumento particular de
confissão de dívida (mov. 1.3 – autos de execução), celebrado em 22/04/2012 entre a
embargada FA MARINGÁ LTDA e a empresa JUCHEM COMERCIO DE MOVEIS E
ELETRODOMÉSTICOS, figurando a apelante na qualidade de avalista, de R$ 208.544,49
(duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e nove centavos) a ser
pago em 48 parcelas. Consta assinatura de todos e, ao final, de duas testemunhas e
devidamente registrado em cartório.
Ainda que a apelante sustente a falta de rubrica em todas as folhas, esse fato, por si só, não
prejudica o contrato na sua integralidade, haja vista que inexiste essa obrigação legal, mesmo
porque sequer trouxe qualquer indício de prova de que tenha havido falsidade do contrato ou
de qualquer outro vício nesse sentido. O que pretende a apelante é de alguma forma afastar a
eficácia e validade do título, sendo que a falta de data logo abaixo do seu nome e falta de
rubrica em todas as páginas não é capaz de invalidar o documento.
A propósito:
PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. CÉDULA
DE CRÉDITO BANCÁRIO – CONTA GARANTIDA RENOVAÇÃO
AUTOMÁTICA. EMBARGOS. 1. PRELIMINAR DE CONTRARRAZÕES.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. NÃO ACOLHIMENTO. 2.
AUSÊNCIA DE ASSINATURA DO CREDOR/EMBARGADO.
IRRELEVÂNCIA. REQUISITOS ESSENCIAIS PRESENTES. EXEGESE
DO ART. 29 DA LEI 10.931/2004. 3. RUBRICA
Dessa forma, o título reveste-se de certeza, exigibilidade e liquidez, nos termos do art. 784, III
do CPC.
Terceiro porque, no tópico sobre excesso de execução, pontua a apelante ser devida a
apresentação de notas fiscais e duplicatas anteriores, pois o contrato exequendo é de
confissão de dívida e na sua composição já havia sido inserido juros e correção monetária aos
títulos ainda não vencidos. No entanto, da análise do contrato exequendo, possível vislumbrar
que não há qualquer irregularidade e, por outro lado, não há qualquer indício de prova por parte
da embargante de abusividade.
Afinal, a liquidez emerge do fato de o título fornecer todos os elementos necessários para que
se possa aferir o valor do débito, mediante a utilização de simples cálculos aritméticos,
realizados com base nos parâmetros fornecidos pelo contrato.
A certeza emerge da própria cártula e a exigibilidade, por sua vez, refere-se ao vencimento à
vista da obrigação, nos termos do artigo 397 do Código Civil, eis que a obrigação não está
adstrita a termo ou condição.
O título contém detalhado quais as faturas das vendas mercantis, valores e vencimentos no
total de R$ 175.959,10 (cento e setenta e cinco mil, novecentos e cinquenta e nove reais e dez
centavos) e, a partir daí, o valor confessado como devido, as parcelas, vencimentos e
incidência de encargos, descontados ao já pagos, sendo ao final o valor de R$ 208.544,49
(duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e nove centavos). Há
clareza na descrição das cláusulas, bem como sobre a origem da dívida – faturas de vendas
mercantis – os valores que cada uma possuía e qual o total confessado.
Da ilegitimidade passiva
Sustenta a apelante que a sentença não poderia utilizar o acórdão que cassou a primeira
sentença como fundamento para reconhecer a legitimidade passiva, pois reconhecida a
necessidade de retorno dos autos para produção de provas
Sem razão.
Conforme narrado acima, o acórdão consignou ser devida a dilação probatória – o que foi
devidamente afastado conforme fundamentação acima – contudo, somente o fez, após
especificamente analisar a questão sobre a legitimidade passiva que, aliás, era o tema principal
discutido naquele momento.
O fato de ter entendido que o feito deveria retornar para processamento na vara de origem
estava se referindo às demais alegações trazidas pela parte, que ainda não haviam sido objeto
de análise pela sentença. Por outro lado, a tese sobre ilegitimidade era o cerne do recurso, vez
que havia sido reconhecida pela sentença, então reformada.
Outro não poderia ser o entendimento do magistrado, senão acolher o fundamento adotado
para considerar a embargante parte legítima na execução, vez que figura expressamente na
qualidade de avalista. Confira-se:
Da prescrição
Aduz a apelante que deve ser aplicado o prazo prescricional trienal ao presente caso, tendo em
vista que, ao considerar válida a modalidade aval no contrato exequendo, deve também ser
aplicada a prescrição direcionada aos títulos de crédito.
A sentença afastou a prescrição, aplicando o prazo quinquenal disposto no art. 206, §5°, I do
CPC, considerando que é o contrato de confissão de dívida que está sendo executada e se
tratar de título executivo. Sobre a questão do aval, consignou: “Pode-se argumentar que o aval
é prestado nas relações de título de crédito, sendo que nas relações contratuais o termo correto
seria fiança. Todavia, não se pode perder de vista que o termo aval é utilizado amplamente
pela sociedade como a figura de garantia, não caracterizando por si só o documento como
título de crédito.”
(...)
§ 5 o Em cinco anos:
Não se trata de execução de título de crédito, mas um título executivo extrajudicial com
previsão legal no art. 784, III do CPC, qual seja, documento “particular assinado pelo devedor e
por 2 (duas) testemunhas”.
Assim, não há qualquer respaldo legal ou fundamentação lógica para fazer incidir o prazo
prescricional dos títulos de crédito, ainda que tenha sido utilizado o termo aval no instrumento
particular de confissão de dívida, vez que há previsão própria para a modalidade exequenda.
Do excesso de execução
Alega a apelante haver excesso de execução, na medida em que a exequente inseriu juros e
correção monetária sobre as duplicatas que ainda não estavam vencidas na composição dos
valores constantes na confissão de dívida. Afirma que se atualizadas de acordo com juros de
mora de 1% ao mês e correção monetária pelo IGPM, atinge a importância de R$ 182.285,01
(cento e oitenta e dois mil, duzentos e oitenta e cinco reais e um centavo), e não o valor de R$
208.544,49 (duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e nove
centavos), previsto no instrumento de confissão de dívida, conforme demonstra a planilha I do
evento 1.10. Requer seja reformada a sentença, para declarar que os juros incidentes devem
ser de 1% ao mês e correção monetária, mediante a apresentação dos documentos (notas
fiscais e títulos de créditos) para compor o valor original em fase de liquidação de sentença.
Ademais, do cálculo apresentado com os embargos à execução, tem-se não ser válido para
contrapor a planilha que acompanha a execução, pois não há atualização dos valores a partir
do vencimento, em abril/2012, mas sim em maio/2014. Outro fato importante, é que a execução
aponta como saldo devedor, após o vencimento antecipado, o valor de e R$ 174.771,47(cento
e setenta e quatro mil, setecentos e setenta e um reais e quarenta e sete reais), quando a
própria embargante apontou que deveria ser considerado o valor de R$ 189.500,10 (cento e
oitenta e nove mil, quinhentos reais e dez centavos).
Assim, seja do cálculo que junta com os embargos, seja das alegações da inicial, não houve
efetiva demonstração de excesso de execução, ônus da embargante.
Por fim, defende a apelante ser ilegal a cláusula que estipula incidência de honorários
extrajudiciais.
Sem razão.
Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa,
mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
O Superior Tribunal de Justiça tem entendido pela legalidade da cláusula que prevê a cobrança
de honorários extrajudiciais em caso de mora. Confira-se:
Portanto, não reputo abusiva a cláusula contratual que estabelece a possibilidade de cobrança
de honorários advocatícios extrajudiciais em caso de mora ou inadimplemento do contratante e
tampouco configura bis in idem, pois possui natureza jurídica distinta dos honorários de
sucumbência.
Por fim, aplico o disposto no artigo 85, § 11º do CPC/15, para majorar o valor fixado a título de
honorários advocatícios em favor dos patronos da apelada, estabelecendo como montante final
11% sobre o valor atualizado da causa, ressalvada a gratuidade de justiça concedida a
embargante em primeiro grau.
07 de maio de 2021