Você está na página 1de 11

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

13ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0022196-33.2016.8.16.0017/4

Apelação Cível n° 0022196-33.2016.8.16.0017 Ap 4


5ª Vara Cível de Maringá
Apelante(s): MARIA DAIANA BUENO DE CAMARGO
Apelado(s): FA MARINGÁ LTDA
Relator: Desembargadora Rosana Andriguetto de Carvalho

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. INSTRUMENTO


PARTICULAR DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA.

APELO DA EMBARGANTE. CERCEAMENTO DE DEFESA E


NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. ANÁLISE DOS AUTOS
QUE DISPENSA A REALIZAÇÃO DE NOVAS PROVAS.
INSTRUMENTO PARTICULAR DE DÍVIDA E CÁLCULO JUNTADOS
SUFICIENTES. AUSÊNCIA DE MÍNIMA DEMONSTRAÇÃO PELA
EMBARGANTE DE NECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE OUTROS
DOCUMENTOS E PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS.
POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO ANTECIPADO. AUSÊNCIA DE
RUBRICA EM TODAS AS PÁGINAS E DEMAIS AFIRMAÇÕES QUE
NÃO AFASTAM A VALIDADE DO TÍTULO. FORMATO ADOTADO QUE
NÃO ALTERA O TEOR PACTUADO. MERAS FORMALIDADES QUE
NÃO SÃO REQUISITOS ESSENCIAIS PARA A VALIDADE DO
NEGÓCIO JURÍDICO. TÍTULO QUE ATENDE AO COMANDO DO ART.
784, III DO CPC. DOCUMENTO PARTICULAR ASSINADO PELO
DEVEDOR, PELOS COOBRIGADOS E POR DUAS TESTEMUNHAS.
LEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA POR ACÓRDÃO
ANTERIOR. MANUTENÇÃO. PARTE QUE FIGUROU COMO
AVALISTA. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL. INCIDÊNCIA DO
ART. 206, §5° I, DO CPC. DOCUMENTO PARTICULAR ASSINADO
POR TESTEMUNHAS. TÍTULO EXECUTIVO DIVERSO DE TÍTULO DE
CRÉDITO. EXCESSO DE EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO. HONORÁRIOS EXTRAJUDICIAIS.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. NÃO CONFIGURAÇÃO DE
BIS IN IDEM. NATUREZA JURÍDICA DIVERSA. SENTENÇA MANTIDA.
HONORÁRIOS RECURSAIS FIXADOS.

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL DA EMBARGANTE CONHECIDO E


NÃO PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0022196-33.2016.8.16.0017,


da 5ª Vara Cível de Maringá, em que é apelante MARIA DAIANA BUENO DE CAMARGO e
apelada FA MARINGÁ LTDA.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação cível interposto por MARIA DAIANA BUENO DE CAMARGO
da sentença proferida pela Juízo da 5ª Vara Cível de Maringá que, nos autos de embargos à
execução nº 0022196-33.2016.8.16.0017 opostos contra FA MARINGÁ LTDA, julgou
improcedente o pedido inicial. Diante da sucumbência, condenou a embargante ao pagamento
das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa,
ressalvado o benefício da gratuidade de justiça concedido (mov. 59.1).

Inconformada, a embargante apela.

Em suas razões, alega, preliminarmente, a ocorrência de cerceamento de defesa, diante da


ausência de saneamento e instrução probatória, tendo em vista que o acórdão que anulou a
primeira sentença havia consignado não ser caso de julgamento imediato do feito, conforme
dispõe o art. 1.013 do CPC, pois a causa não se encontrava madura, determinando o retorno
dos autos para dilação probatória. Assevera ser evidente a nulidade da sentença, pois
necessária a decisão saneadora anteriormente, para distribuição do encargo probatório e
determinação das provas pelas partes.

Sustenta que, no tocante a ilegitimidade passiva, a sentença não poderia se remeter ao


acórdão que a reconheceu, pois quando cassou a sentença, reconheceu que o feito precisava
de instrução probatória. Pontua que não há sua rubrica em todas as folhas, sendo que sua
única assinatura está na última folha do contrato e logo abaixo do seu nome consta apenas as
testemunhas, sem qualquer oposição de data ou texto do contrato, sendo proposital essa
forma, para posterior modificação. Assevera que houve alteração do termo, pois assinou na
qualidade de anuente de seu esposo, substituindo a outorga uxória e não na função de avalista.

Defende a ocorrência de prescrição, vez que ao ser considerada válida a modalidade de aval
no contrato exequendo, ao invés da fiança, com aplicação das normas de títulos de crédito,
deve também ser aplicado o prazo prescricional dessa espécie, que é de três anos.

Discorre sobre a existência de excesso de execução, na medida em que a exequente inseriu


juros e correção monetária sobre as duplicatas que ainda não estavam vencidas na
composição dos valores constantes na confissão de dívida. Afirma que se atualizadas de
acordo com juros de mora de 1% ao mês e correção monetária pelo IGPM, atinge a importância
de R$ 182.285,01 (cento e oitenta e dois mil, duzentos e oitenta e cinco reais e um centavo), e
não o valor de R$ 208.544,49 (duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e
quarenta e nove centavos), previsto no instrumento de confissão de dívida, conforme
demonstra a planilha I do evento 1.10. Requer seja reformada a sentença, para declarar que os
juros incidentes devem ser de 1% ao mês e correção monetária, mediante a apresentação dos
documentos (notas fiscais e títulos de créditos) para compor o valor original em fase de
liquidação de sentença.

Aduz ser arbitrária a inserção no contrato de confissão de dívida de cláusula a título de


honorários advocatícios extrajudiciais, que somente é possível em razão de condenação
judicial, devendo ser excluída a quantia do cálculo (mov. 65.1).

Contrarrazões da embargada no mov. 68.1

É o relatório, em síntese.

FUNDAMENTAÇÃO e VOTO

Trata-se embargos à execução opostos por MARIA DAIANA BUENO DE CAMARGO contra
FA MARINGÁ LTDA em que defenderam a existência de nulidade e abusividades no
instrumento particular de confissão de dívida, objeto da execução, firmado em 23/04/2012, no
valor de R$ 208.544,49 (duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e
nove centavos) a ser pago em 48 parcelas.

A embargada apresentou impugnação aos embargos (mov. 19).

O magistrado prolatou sentença reconhecendo ilegitimidade passiva da embargante (mov.


26.1), que foi cassada por meio do acórdão 1.701.255-4, de relatoria do Juiz de Direito
Substituto em 2° Grau Humberto Gonçalves Brito, em minha substituição.

Os autos retornaram à origem, oportunidade em que foi proferida a sentença pela


improcedência do pedido inicial, da qual a embargante interpôs o presente recurso.

Em análise aos pressupostos de admissibilidade, voto pelo conhecimento do recurso.

Do cerceamento de defesa

Argumenta a embargante que houve cerceamento de defesa, diante da inexistência de decisão


saneadora e instrução probatória, vez que consignado pelo acórdão que anulou a primeira
sentença que a causa não estava madura para julgamento, pois necessária a dilação
probatória.

Pois bem.

Por meio da sentença de mov. 26.1, o magistrado havia reconhecido a ilegitimidade passiva da
embargante, sob o fundamento de que não teria figurado como avalista no título exequendo,
mas mera anuente.

A embargada interpôs recurso de apelação cível, o qual foi julgado procedente pelo ilustre Juiz
de Direito Substituto em 2° Grau Humberto Gonçalves Brito, em minha substituição, para o fim
de considerar a ora apelante, Sra. Maria Daiana Bueno de Camargo, parte legítima para figurar
no polo passivo da demanda executiva, pois figurou como avalista, cassando a sentença e
determinando o retorno dos autos à origem para processamento dos embargos à execução.

Ao final do acórdão, restou consignado que: “Ressalvo, por oportuno, que a causa não está
apta para imediato julgamento, nos termos do art. 1.103, §3°, do CPC/15, diante dos pedidos
de dilação probatória que devem ser observados em primeira instância”.

Ocorre que, muito embora o julgado anterior, proferido por outro Relator, tenha consignado ao
final a necessidade de dilação probatória, da detida e aprofundada análise do caso, fatos e
provas constantes nos autos, denota-se, em verdade, não haver justificativa e tampouco
demonstração efetiva sobre a necessidade de produção de outras provas. Assim como da
imprescindibilidade de uma decisão saneadora.

Primeiro porque, conforme se extrai do recurso, a embargante não apresentou detalhadamente


quais as provas e por quais motivos deseja a produção, em cotejo com aquelas já juntadas pelo
exequente. Afirmam de maneira abstrata que o acórdão anterior determinou a dilação
probatória e, sua não obediência, gera cerceamento de defesa, conforme se vislumbra no
tópico 3 do apelo, “DA NEGATIVA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – AUSÊNCIA DE
SANEAMENTO E INSTRUÇÃO PROBATÓRIA - CERCEAMENTO DE DEFESA”.

Segundo porque, verifico dos autos da execução que o título exequendo possui os requisitos
que lhe garantem liquidez, certeza e exigibilidade. Trata-se de instrumento particular de
confissão de dívida (mov. 1.3 – autos de execução), celebrado em 22/04/2012 entre a
embargada FA MARINGÁ LTDA e a empresa JUCHEM COMERCIO DE MOVEIS E
ELETRODOMÉSTICOS, figurando a apelante na qualidade de avalista, de R$ 208.544,49
(duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e nove centavos) a ser
pago em 48 parcelas. Consta assinatura de todos e, ao final, de duas testemunhas e
devidamente registrado em cartório.

Ainda que a apelante sustente a falta de rubrica em todas as folhas, esse fato, por si só, não
prejudica o contrato na sua integralidade, haja vista que inexiste essa obrigação legal, mesmo
porque sequer trouxe qualquer indício de prova de que tenha havido falsidade do contrato ou
de qualquer outro vício nesse sentido. O que pretende a apelante é de alguma forma afastar a
eficácia e validade do título, sendo que a falta de data logo abaixo do seu nome e falta de
rubrica em todas as páginas não é capaz de invalidar o documento.

A propósito:
PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. CÉDULA
DE CRÉDITO BANCÁRIO – CONTA GARANTIDA RENOVAÇÃO
AUTOMÁTICA. EMBARGOS. 1. PRELIMINAR DE CONTRARRAZÕES.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. NÃO ACOLHIMENTO. 2.
AUSÊNCIA DE ASSINATURA DO CREDOR/EMBARGADO.
IRRELEVÂNCIA. REQUISITOS ESSENCIAIS PRESENTES. EXEGESE
DO ART. 29 DA LEI 10.931/2004. 3. RUBRICA

EM TODAS AS FOLHAS DO INSTRUMENTO CONTRATUAL.


DESNECESSIDADE. INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO LEGAL 4(...) A
falta de rubrica em todas as folhas, por si só, não prejudica o
contrato na sua integralidade, haja vista que inexiste obrigação legal
de assinatura em todas as páginas.4. A teor do que dispõe o art. 702,
§2º, do Código de Processo Civil, “quando o réu alegar que o autor
pleiteia quantia superior à devida, cumprir-lhe-á declarar de imediato o
valor que entende correto, apresentado demonstrativo discriminado e
atualizado da dívida.” (...) (TJPR - 15ª C. Cível -
0003771-85.2018.8.16.0049 - Astorga - Rel.: Juiz Fabio Andre Santos
Muniz - J. 19.02.2020)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À


EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. 1. CERCEAMENTO DE
DEFESA AFASTADO. AUSÊNCIA DE ESSENCIALIDADE NA
PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS, ALÉM DA PROVA DOCUMENTAL
JÁ CONSTANTE NOS AUTOS. NULIDADE AFASTADA. LEGITIMIDADE
PASSIVA DA EMBARGANTE. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO
ASSINADO PELA EMBARGANTE NA CONDIÇÃO DE AVALISTA.
AUSÊNCIA DE RUBRICA EM TODAS AS FOLHAS QUE NÃO AFASTA
A VALIDADE DO CONTRATO. ADEMAIS, INSTRUMENTO DE
RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA QUE NÃO CONFIGUROU HIPÓTESE DE
NOVAÇÃO DE DÍVIDA, ALÉM DE TAMBÉM CONTER A ASSINATURA
DA EMBARGANTE. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. REDISCUSSÃO DO MÉRITO QUE NÃO SE
ENQUADRA EM NENHUMA DAS HIPÓTESES DO ART. 1.022, DO CPC
A AUTORIZAR A MODIFICAÇÃO DO JULGADO POR MEIO DE
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (...) (TJPR - 16ª C. Cível -
0026552-71.2016.8.16.0017 - Maringá - Rel.: Desembargador Lauro
Laertes de Oliveira - J. 04.07.2018).

Dessa forma, o título reveste-se de certeza, exigibilidade e liquidez, nos termos do art. 784, III
do CPC.

Terceiro porque, no tópico sobre excesso de execução, pontua a apelante ser devida a
apresentação de notas fiscais e duplicatas anteriores, pois o contrato exequendo é de
confissão de dívida e na sua composição já havia sido inserido juros e correção monetária aos
títulos ainda não vencidos. No entanto, da análise do contrato exequendo, possível vislumbrar
que não há qualquer irregularidade e, por outro lado, não há qualquer indício de prova por parte
da embargante de abusividade.

Como todo título executivo, o instrumento particular de confissão de dívida contém a


representação de uma obrigação, isto é, do quantum debeatur, perfeitamente determinado ou
determinável, daí sua liquidez.

Afinal, a liquidez emerge do fato de o título fornecer todos os elementos necessários para que
se possa aferir o valor do débito, mediante a utilização de simples cálculos aritméticos,
realizados com base nos parâmetros fornecidos pelo contrato.

A certeza emerge da própria cártula e a exigibilidade, por sua vez, refere-se ao vencimento à
vista da obrigação, nos termos do artigo 397 do Código Civil, eis que a obrigação não está
adstrita a termo ou condição.

O título contém detalhado quais as faturas das vendas mercantis, valores e vencimentos no
total de R$ 175.959,10 (cento e setenta e cinco mil, novecentos e cinquenta e nove reais e dez
centavos) e, a partir daí, o valor confessado como devido, as parcelas, vencimentos e
incidência de encargos, descontados ao já pagos, sendo ao final o valor de R$ 208.544,49
(duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e nove centavos). Há
clareza na descrição das cláusulas, bem como sobre a origem da dívida – faturas de vendas
mercantis – os valores que cada uma possuía e qual o total confessado.

Portanto, não se há falar em cerceamento de defesa e necessidade de dilação probatória, vez


que prescindível, pois a cédula de crédito bancário reúne todos os pressupostos indispensáveis
para embasar a ação executiva (art. 783 do CPC/15) e os valores confessados estão descritos,
sem qualquer contraprova de irregularidade.

Da ilegitimidade passiva

Sustenta a apelante que a sentença não poderia utilizar o acórdão que cassou a primeira
sentença como fundamento para reconhecer a legitimidade passiva, pois reconhecida a
necessidade de retorno dos autos para produção de provas

Sem razão.

Conforme narrado acima, o acórdão consignou ser devida a dilação probatória – o que foi
devidamente afastado conforme fundamentação acima – contudo, somente o fez, após
especificamente analisar a questão sobre a legitimidade passiva que, aliás, era o tema principal
discutido naquele momento.

O fato de ter entendido que o feito deveria retornar para processamento na vara de origem
estava se referindo às demais alegações trazidas pela parte, que ainda não haviam sido objeto
de análise pela sentença. Por outro lado, a tese sobre ilegitimidade era o cerne do recurso, vez
que havia sido reconhecida pela sentença, então reformada.
Outro não poderia ser o entendimento do magistrado, senão acolher o fundamento adotado
para considerar a embargante parte legítima na execução, vez que figura expressamente na
qualidade de avalista. Confira-se:

Portanto, escorreita a sentença, devendo prevalecer o fundamento utilizado.

Da prescrição

Aduz a apelante que deve ser aplicado o prazo prescricional trienal ao presente caso, tendo em
vista que, ao considerar válida a modalidade aval no contrato exequendo, deve também ser
aplicada a prescrição direcionada aos títulos de crédito.

A sentença afastou a prescrição, aplicando o prazo quinquenal disposto no art. 206, §5°, I do
CPC, considerando que é o contrato de confissão de dívida que está sendo executada e se
tratar de título executivo. Sobre a questão do aval, consignou: “Pode-se argumentar que o aval
é prestado nas relações de título de crédito, sendo que nas relações contratuais o termo correto
seria fiança. Todavia, não se pode perder de vista que o termo aval é utilizado amplamente
pela sociedade como a figura de garantia, não caracterizando por si só o documento como
título de crédito.”

Não merece reparo.

Consoante entendimento exarado na sentença, o título executado é um instrumento particular


de confissão de dívida, submetendo-se a regra prescricional do art. 206, § 5°, I do CC:

Art. 206. Prescreve:

(...)

§ 5 o Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento


público ou particular;

Não se trata de execução de título de crédito, mas um título executivo extrajudicial com
previsão legal no art. 784, III do CPC, qual seja, documento “particular assinado pelo devedor e
por 2 (duas) testemunhas”.

Assim, não há qualquer respaldo legal ou fundamentação lógica para fazer incidir o prazo
prescricional dos títulos de crédito, ainda que tenha sido utilizado o termo aval no instrumento
particular de confissão de dívida, vez que há previsão própria para a modalidade exequenda.

Do excesso de execução

Alega a apelante haver excesso de execução, na medida em que a exequente inseriu juros e
correção monetária sobre as duplicatas que ainda não estavam vencidas na composição dos
valores constantes na confissão de dívida. Afirma que se atualizadas de acordo com juros de
mora de 1% ao mês e correção monetária pelo IGPM, atinge a importância de R$ 182.285,01
(cento e oitenta e dois mil, duzentos e oitenta e cinco reais e um centavo), e não o valor de R$
208.544,49 (duzentos e oito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quarenta e nove
centavos), previsto no instrumento de confissão de dívida, conforme demonstra a planilha I do
evento 1.10. Requer seja reformada a sentença, para declarar que os juros incidentes devem
ser de 1% ao mês e correção monetária, mediante a apresentação dos documentos (notas
fiscais e títulos de créditos) para compor o valor original em fase de liquidação de sentença.

Novamente, sem razão.

Conforme se verifica do título exequendo, a confissão da dívida foi pactuada adiantando-se as


parcelas vincendas da dívida originária, sendo que consta cláusula expressa sobre o
vencimento antecipado da dívida para o caso de não pagamento, sendo plenamente viável a
incidência de encargos a partir de então.

Ademais, do cálculo apresentado com os embargos à execução, tem-se não ser válido para
contrapor a planilha que acompanha a execução, pois não há atualização dos valores a partir
do vencimento, em abril/2012, mas sim em maio/2014. Outro fato importante, é que a execução
aponta como saldo devedor, após o vencimento antecipado, o valor de e R$ 174.771,47(cento
e setenta e quatro mil, setecentos e setenta e um reais e quarenta e sete reais), quando a
própria embargante apontou que deveria ser considerado o valor de R$ 189.500,10 (cento e
oitenta e nove mil, quinhentos reais e dez centavos).

Assim, seja do cálculo que junta com os embargos, seja das alegações da inicial, não houve
efetiva demonstração de excesso de execução, ônus da embargante.

Dessa forma, nego provimento ao recurso nesse tocante.

Dos honorários contratuais

Por fim, defende a apelante ser ilegal a cláusula que estipula incidência de honorários
extrajudiciais.

Sem razão.

Os artigos 389, 395 e 404 do Código Civil estabelecem as consequências patrimoniais


decorrentes do inadimplemento da obrigação:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e


danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa,
mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro,


serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de
advogado, sem prejuízo da pena convencional.

Os honorários de que tratam os dispositivos legais mencionados não se confundem com os


honorários de sucumbência, constituindo uma espécie de reparação de dano decorrente do
inadimplemento do devedor,

O Superior Tribunal de Justiça tem entendido pela legalidade da cláusula que prevê a cobrança
de honorários extrajudiciais em caso de mora. Confira-se:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL


CIVIL (CPC/1973). EMBARGOS À EXECUÇÃO. DESPESAS E
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EXTRAJUDICIAIS. PACTUAÇÃO.
LEGALIDADE. PRECEDENTES ESPECÍFICOS DESTA CORTE. 1.
Segundo a orientação jurisprudencial das Turmas que compõem a
Segunda Seção desta Corte, é válida a cláusula contratual que prevê o
pagamento das despesas decorrentes da cobrança extrajudicial da
obrigação, suportadas pelo credor. 2. A previsão contratual de
honorários advocatícios em caso de inadimplemento da obrigação
decorre diretamente do art. 389 do CC, não guardando qualquer
relação com os honorários de sucumbência. 3. Conclusões do acórdão
recorrido no mesmo sentido da orientação desta Corte. 4. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO. (AgInt no REsp 1377564/AL, Rel. Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
27/06/2017, DJe 02/08/2017) – grifei.

RECURSOS ESPECIAIS. CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR.


AÇÃO CIVIL PÚBLICA. I - RECURSO DO BANCO PROMOVIDO:
CONTRATO BANCÁRIO. LEASING. INCIDÊNCIA DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS EM CASO DE COBRANÇA EXTRAJUDICIAL. ÔNUS
DECORRENTE DA MORA. RESPONSABILIDADE DO DEVEDOR.
LEGALIDADE (CC/2002, ARTS. 389, 395 E 404). CONTRATO DE
ADESÃO (CDC, ART. 51, XII). EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA
CONTRATUAL EXPRESSA. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. RECURSO
PROVIDO. II - RECURSO DO PROMOVENTE: HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECURSO
PREJUDICADO. 1. Inexiste abuso na exigência, pelo credor, de
honorários advocatícios extrajudiciais a serem suportados pelo
devedor em mora em caso de cobrança extrajudicial, pois, além de
não causar prejuízo indevido para o devedor em atraso, tem previsão
expressa nas normas dos arts. 389, 395 e 404 do Código Civil de
2002 (antes, respectivamente, nos arts. 1.056, 956 e 1.061 do
CC/1916). 2. Nas relações de consumo, havendo expressa previsão
contratual, ainda que em contrato de adesão, não se tem por abusiva a
cobrança de honorários advocatícios extrajudiciais em caso de mora ou
inadimplemento do consumidor. Igual direito é assegurado ao consumidor,
em decorrência de imposição legal, nos termos do art. 51, XII, do CDC,
independentemente de previsão contratual. 3. Recurso especial da
instituição financeira provido, prejudicado o recurso do Ministério Público.
(REsp 1002445/DF, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Rel. p/ Acórdão Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe
14/12/2015) – grifei.

Portanto, não reputo abusiva a cláusula contratual que estabelece a possibilidade de cobrança
de honorários advocatícios extrajudiciais em caso de mora ou inadimplemento do contratante e
tampouco configura bis in idem, pois possui natureza jurídica distinta dos honorários de
sucumbência.

Diante de todo o exposto, nego provimento ao recurso da embargante.

Por fim, aplico o disposto no artigo 85, § 11º do CPC/15, para majorar o valor fixado a título de
honorários advocatícios em favor dos patronos da apelada, estabelecendo como montante final
11% sobre o valor atualizado da causa, ressalvada a gratuidade de justiça concedida a
embargante em primeiro grau.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 13ª Câmara


Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de MARIA DAIANA
BUENO DE CAMARGO.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargadora Josély Dittrich


Ribas, com voto, e dele participaram Desembargadora Rosana Andriguetto De Carvalho
(relator) e Desembargador Fernando Ferreira De Moraes.

07 de maio de 2021

Desembargadora Rosana Andriguetto de Carvalho

Você também pode gostar