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II. Tal exigência de discriminação tem propósito funcional – por um lado permitir ao juiz
verificar se o meio de prova é, em concreto, admissível, por incidir sobre factualidade em
que a parte tenha tido intervenção directa ou de que tenha conhecimento directo e, num
segundo plano, possibilitar ao juiz conduzir o interrogatório de forma eficiente e
consequente, escrutinando o decurso das declarações, conformando-as e
circunscrevendo-as à matéria relativamente à qual a parte entendeu justificar-se ser
ouvida em declarações (exercendo o ‘direito potestativo processual’ de requerer a
prestação de declarações de parte), ainda que sem beliscar o direito da parte conduzir
com autonomia o conteúdo das suas declarações.
IV. Indicando expressamente a parte o objecto do meio de prova pretendido (ainda que o
mesmo se reconduza à quase totalidade da alegação da petição inicial), não pode tal
prova ser rejeitada com o fundamento de que a parte se eximiu, nessa indicação, a
expurgar da pretensão a matéria conclusiva, de direito ou irrelevante – em tais
circunstâncias cumprirá ao tribunal admitir o meio de prova e retirar do objecto indicado
pela parte a matéria que tenha por irrelevante, conclusiva e de direito bem como a que se
não conforme à previsão do nº 1 do art. 466º do CPC.
Decisão Texto Integral:
Acordam no Tribunal da Relação de Guimarães (1)
RELATÓRIO
Apelante: V. M. (autor)
Apelada: Seguradoras …, S.A. (ré)
parte.
9. Não foi isso, contudo, que aconteceu, já que o Autor, por um lado,
respondeu ao douto despacho de 28/03/2019 e, por outro, indicou, de
forma discriminada, a matéria sobre a qual o seu depoimento iria incidir
– reduzindo essa matéria, face à inicialmente indicada (na p.i.) e,
ademais, expurgando a mesma da única conclusão contida nos arts. 1.º
a 76.º do seu articulado (a contida no art. 37.º da p.i.).
10. A decisão recorrida, na parte em que pressupôs um incumprimento
desse ónus por parte do Autor, partiu de um pressuposto falso e erróneo
e que, por essa razão, não é sustentável.
11. A decisão recorrida, ao indeferir o pedido de prestação de
declarações de parte, violou, além de outras, as disposições do art.
466.º, n.º 1 do Cód. Proc. Civil, pelo que deve ser revogada e substituída
por Douto Acórdão que defira o pedido de prestação de declarações de
parte formulado pelo Autor.
16. Catarina Gomes Pedra, ‘A Prova por Declaração das Partes no Novo
Código de Processo Civil. Em Busca da Verdade Material no Processo’,
2014, pp. 136/137, entende que a indicação discriminada dos factos
sobre os quais hão-de recair as declarações não faz sentido, pois que
tal exigência no âmbito do depoimento de parte radica na
funcionalização deste meio de prova à confissão, o que não ocorre nas
declarações de parte.
17. Abrantes Geraldes, Paulo Pimenta e Pires de Sousa, Código de
Processo Civil Anotado, Vol. I, Parte Geral do Processo de Declaração,
2018, p. 531.
18. Abrantes Geraldes, Paulo Pimenta e Pires de Sousa, Código de
Processo Civil Anotado, Vol. I, Parte Geral do Processo de Declaração,
2018, p. 531.
19. Rui Pinto, Código de Processo Civil Anotado, Volume I, Almedina,
2018, p. 676 e acórdãos desta Relação de Guimarães de 3/04/2014
(Helena Melo) e de 12/03/2015 (Isabel Rocha), ambos no sítio
www.dgsi.pt..
20. P. ex., o acórdão da Relação do Porto de 6/02/2020 (Paulo Duarte
Teixeira) , no sítio www.dgsi.pt..
21. P. ex., o acórdão desta Relação de Guimarães de 17/12/2019 (Maria
Leonor Barroso), no sítio www.dgsi.pt..
22. Abrantes Geraldes, Paulo Pimenta e Luís Filipe Pires de Sousa,
Código de Processo Civil Anotado, Vol. I, 2018, p. 722.
23. Abrantes Geraldes, Paulo Pimenta e Luís Filipe Pires de Sousa, obra
citada, p. 721
24. Abrantes Geraldes, Recursos no Novo Código de Processo Civil, 5ª
edição, Almedina, p. 600.
25. Objecto que ‘não pode deixar de ser um facto jurídico, com todas as
características descritivas, qualitativas, quantitativas ou valorativas
desse facto’ - Teixeira de Sousa, apud Abrantes Geraldes, Paulo
Pimenta e Luís Filipe Pires de Sousa, Código (…), p. 26 e 722.
26. Neste sentido se argumentou no acórdão da Relação do Porto de
21/11/2019 (João Venade), no sítio www.dgsi.pt.
www.dgsi.pt/jtrg.nsf/86c25a698e4e7cb7802579ec004d3832/6013486cd3824ed68025855e002e804f?OpenDocument 9/9