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PROC. Nº TST-ROAR-1.032/2002-000-03-00.

A C O R D Ã O
SBDI-2
EMP/Vln

AÇÃO RESCISÓRIA. DECISÃO RESCINDENDA.


CÓPIA SEM AUTENTICAÇÃO.
A juntada de decisão rescindenda por
meio de fotocópia não autenticada viola
a norma contida no artigo 830 da
Consolidação das Leis do Trabalho. É
ônus da parte zelar pela correta
instrução do processo com todos os
documentos e prova por meio dos quais
pretende demonstrar o seu direito. Cabe
ao Relator do recurso ordinário
determinar a extinção do processo sem
julgamento do mérito, por ausência de
pressuposto de constituição e
desenvolvimento válido do feito.
Incidência da Orientação
Jurisprudencial nº 84 da SBDI-2 do
Tribunal Superior do Trabalho.
Processo extinto sem julgamento de
mérito.

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Recurso


Ordinário em Ação Rescisória nº TST-ROAR-1.032/2002-000-03-00.6, em
que são Recorrentes ÉRIK PRATES REINICKE E OUTROS e Recorridos JOSÉ
MARIA CARREIRA MACHADO E OUTROS, SIGMA ENGENHARIA LTDA, NEDINE ALMEIDA
DE ARÁUJO E OUTROS.

JOSÉ MARIA CARREIRA MACHADO, MARIA HELENA DE CARVALHO


VASCONCELOS, FLÁVIA CARVALHO CARREIRA, LEONARDO CARVALHO CARREIRA E
RENATO CARVALHO CARREIRA ajuizaram a presente ação rescisória, na
forma preconizada no artigo 485, inciso V, do CPC, alegando existir
violação de dispositivo legal na decisão rescindenda, pretendendo
desconstituir os Acórdãos nº AP/4.783/99 (fls. 34-35) e AP/4.707/99
(fls. 14-16), ambos proferidos pelo Tribunal Regional da 3ª Região.
O Tribunal Regional da 3ª Região, por meio do
venerando acórdão de fls. 151-164, conheceu da ação, e, no mérito,
julgou procedente o pedido nela formulado.
Irresignados, Nedine Almeida de Araújo e Outros
interpuseram recurso ordinário (fls. 177-179), pretendendo a reforma
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do julgado. Não houve recolhimento de custas processuais, pois


dispensadas (fl. 170).
Não foram apresentadas contra-razões pelos
Recorridos.
O recurso foi admitido pelo Tribunal Regional do
Trabalho da 3ª Região, por meio do despacho de fl. 176.
A douta Procuradoria-Geral do Trabalho opinou pelo
conhecimento e provimento do apelo (fls. 182-184).
É o relatório.

V O T O

I - CONHECIMENTO

Conheço do recurso, porque foram preenchidos os


pressupostos de admissibilidade.

II – MÉRITO

VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO DE LEI

José Maria Carreira Machado e Outros ajuizaram ação


rescisória, com espeque no artigo 485, inciso V, do CPC, na qual
argüíram violação de dispositivo de lei, pretendendo desconstituir o
Acórdão nº AP/4.783/99 (fls. 34-35) e AP/4.707/99 (fls. 14-16), ambos
proferidos pelo Tribunal Regional da 3ª Região.
Alegam os Autores ter sido mantida penhora de parte
de imóvel, embora considerado como bem de família pelas decisões
apontadas como rescindendas. Entendem ter sido, portanto, violado o
artigo 1º da Lei nº 8.009/90.
Na petição inicial desta ação, alegam os Autores que,
na Reclamatória Trabalhista originária da Decisão Rescindenda nº
3.149/92, ajuizada perante a 16ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte,
foi penhorado imóvel declarado pelo Autor como bem de família. Naquela
ação foram interpostos embargos de terceiro pela esposa do sócio da
Reclamada, cujo imóvel sofreu constrição judicial ao ser penhorado
para garantia da dívida trabalhista. Nessa ação discutiram-se esses

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fatos, tendo sido julgados parcialmente procedente para declarar a


insubsistência da penhora sobre o imóvel, por estar comprovado nos
autos a condição de ser bem de família pois destinado à moradia
residencial da entidade familiar. Contudo, a esposa do sócio da
Reclamada, não possuía legitimidade para discutir o direito de
proprietária de todo o bem, assim, o Juízo limitou a penhora a 50%
(cinqüenta por cento) do bem imóvel, sendo este limite impenhorável,
porquanto refere-se à meação do cônjuge Agravado, mantendo-se a
penhora sobre o restante do imóvel (fls. 14-16).
Ocorre que na Reclamatória Trabalhista também trava-
se outra discussão: o Reclamado, na qualidade de sócio da empresa
Reclamada discutia a validade da penhora de seu imóvel, alegando ser
impenhorável pois considerado bem de família, nos termos da Lei nº
8.009/90. A decisão proferida no julgamento do agravo de petição
interposto pelos Reclamantes, AP/4.783/99, concluiu por desqualificar
o bem como sendo de família, embora fosse a residência da entidade
familiar do Agravado, porquanto havia gravames hipotecários no
referente ao imóvel penhorado, a garantir empréstimos contraídos pela
Reclamada junto ao Banco Mercantil de Investimentos S.A., ainda que
posteriormente cancelados. Concluiu esta decisão que, sendo o “bem de
família” na acepção da Lei nº 8.009/90, “não poderia ser sustentáculo
da atividade empresarial” (fl. 35), tendo sido por vontade do seu
proprietário, dado como forma de cobertura de natureza civil, assim,
não haveria razões para restringir a penhora aos processos de natureza
trabalhista. Nesta decisão, ainda, ficou consignada a limitação da
penhora do bem a 50% de seu valor, para fazer cumprir decisão anterior
proferida na ação de embargos de terceiros movida pela esposa do sócio
da Reclamada, sendo as decisões apontadas como rescindendas tanto a
proferida no julgamento do agravo de petição interposto na
reclamatória trabalhista como aquela em que se julgou o agravo de
petição interposto nos embargos de terceiros.
O Tribunal Regional do Trabalho, por meio do acórdão
recorrido (fls. 151-159) extinguiu o processo sem julgamento do mérito
em relação ao Acórdão AP/4.707/99, por ausência de prequestionamento
do artigo apontado como violado e carência de ação por falta de
interesse processual. Quanto ao Acórdão nº AP/4.783/99, julgou
parcialmente procedente o pedido para desconstituir a decisão

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rescindenda e julgar insubsistência a penhora de imóvel por considerá-


lo bem de família nos termos da Lei nº 8.009/90, que teria sido
violada. Esta decisão foi assim fundamentada:

“Extingo o processo, sem julgamento do mérito, com relação ao pedido


de rescisão do acórdão TRT/AP/1707/99, tendo em vista a carência da ação.
De fato, postularam os autores a desconstituição do acórdão, argumentando a
ocorrência de violação literal ao disposto no artigo 1º da Lei nº 8.009/90, eis
que não teria o mesmo reconhecido a condição de bem de família do imóvel
penhorado nos autos da execução trabalhista movida pelos ora réus.
(...)
Ora, se não houve pronunciamento judicial a respeito da aplicabilidade
ou não, quanto à meação do 1º autor, do disposto na Lei nº 8.009/90, mostra-se
incabível o ajuizamento de ação rescisória por violação literal de preceito legal,
sendo patente, aqui, a impossibilidade jurídica do pedido.
Já na outra parte do acórdão, onde se declarou a insubsistência da
penhora incidente sobre a meação da 2ª autora, a decisão foi favorável aos
autores da presente ação rescisória, restando expressamente declarada a
existência de bem de família. Assim sendo, não possuem os mesmos interesse
jurídico na rescisão do julgado que lhes foi favorável, devendo ser declarado
extinto o processo, sem julgamento do mérito, com relação ao pleito de
desconstituição do acórdão TRT/AP/4707/99, nos termos do artigo 267, VI, do
CPC.
(...)
Ora, a gravação do imóvel com hipoteca por um dos seus proprietários,
ainda que para garantia de débitos da empresa da qual era sócio-gerente, não é
uma das hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90 como excludente do benefício
de impenhorabilidade legal. Com efeito, dispõe a lei que o imóvel residencial
próprio da entidade familiar não pode ser penhorado, e não que não pode ser
vendido, doado, dado em garantia etc.
(...)
Houve, pois violação literal ao artigo 1º mencionado, devendo ser
desconstituído o acórdão e, em novo julgamento da lide, declarada a
insubsistência da penhora retratada à fls. 36 dos autos da presente ação
rescisória. (fls. 155-158).

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Os Recorrentes, por meio do recurso ordinário


interposto (fls. 173-175), requerem a reforma da decisão recorrida,
sustentando ter existido condescendência e emotividade do Tribunal “a
quo” ao analisar a situação sub judice. Aduzem inexistir violação
direta à Lei nº 8.009/90, porquanto não se pode aceitar violação de
forma oblíqua como pretenderam os Autores. Concluem ser possível a
penhora de bem imóvel pois teria sido hipotecado duas vezes para
garantia de financiamento celebrado pela Executada.
Contudo, conforme se infere, os acórdãos rescindendos
nºs AP/4.707/99 (fls. 14-16) e AP/4.783/99 (fls. 34-35) encontram-se
em cópia não autenticada, desrespeitando o comando legal contido nos
artigos 830 da CLT e 384 do CPC o que acarreta, em conseqüência, a
declaração de sua inexistência nos autos e a imprestabilidade para
todos os efeitos. Cabe ao Julgador, constatando o vício, suscitar de
ofício a preliminar de irregularidade processual, devendo portanto ser
decretada a extinção do feito, sem exame de mérito, por falta de
pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo,
independentemente de impugnação por parte do Réu. Trata-se de vício
insanável em fase recursal, porquanto já ultrapassada a instrução
probatória.
Nesse sentido, já se posicionou a egrégia SBDI-2
desta Corte Superior, por meio da Orientação Jurisprudencial nº 84,
que ora se transcreve, verbis:

“AÇÃO RESCISÓRIA. PETIÇÃO INICIAL.


AUSÊNCIA DA DECISÃO RESCINDENDA E/OU DA
CERTIDÃO DE SEU TRÂNSITO EM JULGADO DAS
PEÇAS ESSENCIAIS PARA A CONSTITUIÇÃO VÁLIDA E
REGULAR DO FEITO. ARGÜIÇÃO DE OFÍCIO.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO
MÉRITO.
A decisão rescindenda e/ou a certidão do seu trânsito em
julgado, devidamente autenticadas, à exceção de cópias
reprográficas apresentadas por pessoa jurídica de direito público, a
teor do art. 24 da Lei nº 10.522/02, são peças essenciais para o
julgamento da ação rescisória. Em fase recursal, verificada a
ausência de qualquer delas, cumpre ao Relator do recurso ordinário
argüir, de ofício, a extinção do processo, sem julgamento do
mérito, por falta de pressuposto de constituição e desenvolvimento
válido do feito.”

É ônus do Autor a correta instrução do processo com


todos os documentos e provas por meio dos quais pretende demonstrar
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seus direitos. A petição inicial deve ser instruída com os documentos


indispensáveis à propositura da ação e destinados a provar as
alegações formuladas pelas partes, como determinado nos artigos 238 e
396 do CPC.
Diante do exposto, julgo extinto o processo, sem
julgamento do mérito, com base no artigo 267, inciso IV, do CPC.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Subseção II Especializada em


Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, por
unanimidade, acolher a preliminar de irregularidade processual,
suscitada de ofício e extinguir o processo, sem julgamento do mérito,
com base no artigo 267, inciso IV, do CPC.
Brasília, 5 de abril de 2005.

EMMANOEL PEREIRA
Ministro Relator

Ciente:

Representante do Ministério Público do Trabalho

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