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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

DEBORA FERREIRA DE SOUZA PAULA, já qualificada nos autos de Agravo


de Instrumento nº 1.0479.06.111742-6/005, em trâmite perante a Décima Sexta
Câmera Cível desse Egrégio Tribunal, vem, à presença de Vossa Excelência, por
intermédio de seu procurador signatário, inconformada, data vênia, com o r. acórdão
proferido por essa Câmara desse Egrégio Tribunal, tempestivamente, interpor
RECURSO ESPECIAL, com fundamento no artigo 105, inciso III, letra “a” e “c”, da
Constituição Federal de 1988 e artigo 1.029 e seguintes do Código de Processo Civil,
requerendo a Vossa Excelência se digne recebê-lo e, depois do cumprimento das
formalidades processuais, remetê-lo ao Superior Tribunal de Justiça, com as razões
em anexo provando o pré-questionamento e com a comprovação do recolhimento do
preparo.

Nestes termos, pede deferimento.

Minas Gerais/MG, 19 de abril de 2019.

ADVOGADO
OAB/PR

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EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECORRENTE: DEBORA FERREIRA DE SOUZA PAULA


RECORRIDO: COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE ADMISSÃO DA REGIÃO
DE ALPINOPOLIS LTDA – SICOOB CREDIALP

AUTOS DE ORIGEM: Agravo de Instrumento n° 1.0479.06.111742-6/005, oriundo


dos autos de cumprimento de sentença nos autos de Ação Monitória
Constituída em Titulo Executivo nº 1117426-90.2006.8.13.0479, em trâmite
perante a 1º Vara Cível da Comarca de Passos-MG.

EMÉRITOS JULGADORES

RAZÕES DE RECURSO

Ação Monitória Constituída em Título Executivo, em fase de cumprimento de


sentença, ajuizada por Cooperativa de Credito de Livre Admissão da Região de
Alpinópolis LTDA em face de Debora Ferreira de Souza Paula.
Interposto Agravo de Instrumento pela ora recorrente, o Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais deixou de reconhecer a impenhorabilidade do
imóvel por não ser bem de família, conforme acórdão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA -


PENHORA - BEM DE FAMÍLIA - NÃO COMPROVADO - MANUTENÇÃO DA
DECISÃO. - Não restando demonstrado inequivocamente que o imóvel do
executado constitui bem de família, não resta demonstrada a
impenhorabilidade da Lei n° 8.009190, o que autoriza a manutenção da praça
do imóvel. (TJ/MG, Agravo de Instrumento nº 1.0479.06.111742-6/005,
Décima Sexta Câmera Cível do Estado de Minas Gerais, Relator: Pedro
Aleixo, Julgado em: 20/03/2019).

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No entanto, o imóvel em discussão deve ser considerado bem de família, pois
embora a recorrente não seja a atual moradora, esta emprestou a residência para os
seus sogros, sendo inevitável que se estenda a proteção do bem de família ao
referido imóvel, como também bem é o único bem de propriedade da recorrente.
Inconformada com a r. decisão, a recorrente vem perante este Egrégio
Superior Tribunal de Justiça interpor Recurso Especial, a fim de que seja reconhecida
a divergência de interpretação de lei federal, aplicando-se a impenhorabilidade do
imóvel residencial.

I.) DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE E LEGITIMIDADE –


tempestividade, preparo, cabimento e pré-questionamento

Quanto à tempestividade, o v. acórdão foi publicado em data de


29/03/2019, através do Diário da Justiça da União, tendo o prazo iniciado a partir
do dia 01/04/2019 (inclusive), sendo, portanto, tempestivo o presente recurso,
conforme art. 1.003, § 5º CPC.
Quanto o preparo, está em anexo o comprovante do pagamento das
custas de interposição do presente recurso.
Quanto ao pré-questionamento/cabimento SÚMULA 86/STJ, o presente
recurso especial é interposto com fundamento no art. 105, inciso III, letra “a” e “c”, da
Carta Magna, eis que a decisão atacada está em marcante contrariedade com a
interpretação que os demais tribunais deram à lei federal n° 8.009/90, conforme já
exposto na inicial, impugnação à contestação e contrarrazões ao recurso de
apelação, cujas matérias foram objeto de decisão no Acórdão prolatado pela 16º
Câmera Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

II.) DA INFRINGÊNCIA À LEI FEDERAL N° 8.009/90 – REFORMA DO ACÓRDÃO


RECORRIDO

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O Acórdão recorrido merece ser reformado, uma vez que contraria a
interpretação de dispositivo de lei federal, na medida em que julgou procedente a
penhora do imóvel residencial de propriedade da recorrente.
Vale ressaltar que, a recorrente emprestou seu imóvel aos seus sogros, sendo
que a mesma reside em outro imóvel mediante pagamento de aluguel. Além disso, o
único imóvel que a recorrente detém propriedade, é justamente o imóvel objeto da
presente discussão, logo, deve ser reconhecida sua impenhorabilidade uma vez que
se enquadra como bem de família.
O art. 5º da Lei 8.009/90 estabelece:
“Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei,
considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade
familiar para moradia permanente”.
Desta maneira, deve ser reconhecida a impenhorabilidade do imóvel
residencial, por se tratar de bem de família assegurado por lei federal.

III.) DA EXISTÊNCIA DE DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL – DA EXISTÊNCIA DE


PRECEDENTES DIVERGENTES AO ACÓRDÃO RECORRIDO

Incontáveis são os julgados dos Tribunais de Justiça, que dão à matéria de


lei federal debatida no presente recurso especial, interpretação contrária da constante
no Acórdão recorrido, revelando, de forma cabal, a existência de dissídio
jurisprudencial.

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. IMPENHORABILIDADE.


IMÓVEL COMERCIAL UTILIZADO PARA O PAGAMENTO DA LOCAÇÃO
DE SUA RESIDÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO COMO BEM DE FAMÍLIA. 1.
O STJ pacificou a orientação de que não descaracteriza
automaticamente o instituto do bem de família, previsto na Lei
8.009/1990, a constatação de que o grupo familiar não reside no único
imóvel de sua propriedade. Precedentes: AgRg no Resp 404.742/RS, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, Dje 19/12/2008 e AgRg no
REsp 1.018.814/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe
28/11/2008. 2. A Segunda Turma também possui entendimento de que o
aluguel do único imóvel do casal não o desconfigura como bem de família.
Precedente: REsp 855.543/DF, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma,
DJ 03/10/2006. 3. Em outra oportunidade, manifestei o meu entendimento da
impossibilidade de penhora de dinheiro aplicado em poupança, por se
verificar sua vinculação ao financiamento para aquisição de imóvel
residencial. 4. Adaptado o julgamento à questão presente, verifico que o
Tribunal de origem concluiu estar o imóvel comercial diretamente vinculado
ao pagamento da locação do imóvel residencial, tornando-o impenhorável. 5.
4
Recurso Especial não provido. (REsp 1.616.475/PE, Rel. Min. Herman
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 15/09/216, DJe 11/10/2016).

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - EMBARGOS


À EXECUÇÃO - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO
AO RECLAMO. IRRESIGNAÇÃO DA EMBARGADA. 1. Nos termos do
entendimento adotado por esta Corte, a impenhorabilidade do bem de
família, prevista no art. 1º da Lei 8.009/90, estende-se ao único imóvel do
devedor, ainda que este se encontre locado a terceiros, por gerar frutos
que possibilitam à família constituir moradia em outro bem alugado ou
mesmo para garantir a sua subsistência. Incidência das Súmulas 7 e
83/STJ. 2. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 1.607.647/MG, Rel.
Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 20/04/2020, DJe 27/04/2020)

Desta forma, também pelo dissídio jurisprudencial, deve


ser reformado o acórdão recorrido.

IV.) DOS PEDIDOS

Pelo exposto, requerem, a esse Egrégio Tribunal, o


CONHECIMENTO e o PROVIMENTO do presente Recurso Especial, reformando-se
o v. acórdão ora recorrido, diante da infringência a Lei Federal n° 8.009/90 e do
dissídio jurisprudencial demonstrado, restabelecendo e tornando definitivos os efeitos
da impenhorabilidade do imóvel residencial, por ser de Direito e salutar Justiça.

Termos em que, pede deferimento.

Minas Gerais-MG, 19 de abril de 2019.

ADVOGADO
OAB/PR

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