RECURSO ESPECIAL Nº 1.685.402 - PE (2017/0152913-2)
RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : GUILHERME DOS SANTOS MARTINS ADVOGADO : ROSSANA CLAUDYA SILVERIO E OUTRO(S) - PE000928B
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator):
Trata-se de Recurso Especial interposto, com fundamento no art. 105, III, "a", da Constituição da República, contra acórdão assim ementado:
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS. A
EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA DE IMÓVEL DO EXECUTADO. BEM DE FAMÍLIA. DEMONSTRAÇÃO. IMPENHORABILIDADE. LEI 8.009/90. APLICAÇÃO. 1. Demonstrado no curso da ação pertencer o imóvel penhorado ao embargante, ora apelado, constituindo-se em moradia deste e de sua família, impõe-se a manutenção da -sentença que determinou a desconstituição da penhora, em face da expressa previsão da Lei n° 8.009/90. 2. Nos ternos da reiterada Jurisprudência do eg. STJ, não é necessária a prova de que o imóvel onde reside o devedor seja o único de sua propriedade, para o reconhecimento da impenhorabilidade do bem de família, com base na Lei 8.009/90. 3. Precedentes do eg. STJ: REsp 1014698/MT, Rei. Ministro Raul Araújo, DJe 17/10/2016; AgRg nos EDcl no AREsp 794.318/RS, Rei. Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe 07/03/2016. 4. Apelação desprovida.
Não foram opostos Embargos de Declaração.
Aponta a parte recorrente, além de divergência jurisprudencial, violação dos arts. 1º da Lei 8.009/1990 e 373 do Código de Processo Civil/2015. Sustenta que "a impenhorabilidade dos bens particulares é exceção, portanto, deve ser interpretada restritivamente, sendo do executado o ônus da sua prova". Sem contrarrazões. É o relatório.
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VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os
autos ingressaram neste Gabinete em 2.8.2017. A irresignação não merece prosperar. No enfrentamento da matéria, o Tribunal de origem lançou os seguintes fundamentos (fls. 343-345, e-STJ - grifei):
No caso, a prova de que o embargante reside no imóvel
penhorado com sua família restou suficientemente demonstrada nos autos, como evidenciam os fundamentos da r. sentença a quo, os quais ora reproduzo, adotando-os integralmente: (...) A apelante não traz aos autos elementos que infirmem a prova documental sopesada pelo douto Juiz sentenciante, limitando-se a repisar a mesma argumentação, já devidamente apreciada na sentença. Ressalte-se que para ser alcançado pela cláusula de impenhorabilidade advinda do instituto do bem de família, basta servir o imóvel como residência da entidade familiar, não sendo pertinente exigir que o devedor demonstre que não possui outros imóveis. Anoto, a propósito, os seguintes precedentes do eg. STJ: (...) Assim, comprovado que o imóvel penhorado destina-se à moradia do executado e de sua família, não tendo a Fazenda Nacional, em nenhum momento ao longo da tramitação dos autos infirmado tal circunstância, incide a impenhorabilidade absoluta, a que alude a Lei 8.009/90.
Dessa feita, à margem do alegado pela recorrente, rever o entendimento
da Corte de origem quanto à comprovação de que o imóvel penhorado destina-se à moradia do executado e de sua família somente seria possível por meio do reexame do acervo fático-probatório existente nos autos, o que não se permite em Recurso Especial, ante o óbice da Súmula 7/STJ. Por outro lado, o STJ entende que, para que seja reconhecida a impenhorabilidade do bem de família, não é necessária a prova de que o imóvel em que reside a família do devedor é o único de sua propriedade. A propósito:
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E CIVIL.
EXECUÇÃO. PENHORA. BEM DE FAMÍLIA (LEI 8.009/90, ARTS. 1º E 5º). CARACTERIZAÇÃO. IMÓVEL RESIDENCIAL DO DEVEDOR. ÔNUS DA PROVA. RECURSO PROVIDO. 1. Tendo a devedora provado suficientemente (ab initio) que a constrição judicial atinge imóvel da entidade familiar, mostra-se equivocado exigir-se desta todo o ônus da prova, cabendo agora ao credor descaracterizar o bem de família na hipótese de querer fazer prevalecer sua indicação do bem à penhora. 2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, não é necessária a prova de que o imóvel onde reside o devedor seja o único de sua propriedade, para o reconhecimento da impenhorabilidade do bem de família, com base na Lei 8.009/90. Precedentes. 3. Recurso especial provido. (REsp 1014698/MT, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, DJe 17.10.2016)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
EMBARGOS DO DEVEDOR. EXECUÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO. PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. RESIDÊNCIA DO EXECUTADO. DESNECESSIDADE DE SE PROVAR QUE O IMÓVEL PENHORADO É O ÚNICO DE PROPRIEDADE DO DEVEDOR. PRECEDENTES. 1. Recurso especial interposto contra acórdão segundo o qual: a) de acordo com a exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é possível a penhora sobre bem de família, visto tratar-se de execução de indenização por ato ilícito; b) comprovada a existência de propriedade sobre mais de um imóvel, tem-se por desconfigurada a hipótese de bem familiar. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de que: - “As exceções aos benefícios da Lei 8.009/1990 são as previstas nos seus arts. 3º e 4º, nestes não constando a circunstância de a penhora ter sido efetuada para garantia de dívida originária de ação de indenização por ato ilícito, em razão de violação a normas de trânsito que gerou acidente de veículos” (REsp nº 64342/PR, 4ª Turma, Rel. Min. César Asfor Rocha). - “A circunstância de o débito originar-se da prática de ilícito civil, absoluto ou relativo, não afasta a impenhorabilidade prevista no artigo 1º da Lei 8.009/90” (REsp nº 90145/PR, 3ª Turma, Rel. Min. Eduardo Ribeiro). 3. Para que seja reconhecida a impenhorabilidade do bem de família (Lei nº 8.009/90), não é necessária a prova de que o imóvel em que reside a família do devedor é o único. Isso não significa, todavia, que os outros imóveis que porventura o devedor possua não possam ser penhorados no processo de execução. 4. “É possível considerar impenhorável o imóvel que não é o único de propriedade da família, mas que serve de efetiva residência” (REsp nº 650831/RS, 3ª Turma, Relª Minª Nancy Andrighi). “O imóvel onde reside a Documento: 75367383 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça família do devedor não é passível de arresto, ainda que existam outros bens imóveis, cuja destinação não ficou afirmada nas instâncias ordinárias, para permitir a aplicação do art. 5º, par. único da Lei 8.009/9.” (REsp nº 121727/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar). 5. Precedentes das egrégias 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Turmas desta Corte Superior. 6. Recurso especial provido. (REsp 790.608/SP, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJ 27.3.2006, p. 225, REPDJ 11.5.2006, p. 167)
PROCESSUAL CIVIL. BEM DE FAMÍLIA.
IMPENHORABILIDADE. IMÓVEL QUE SERVE DE RESIDÊNCIA À FAMÍLIA. 1. É impenhorável, consoante a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o único imóvel de propriedade do devedor, ainda que esteja alugado, bem como o imóvel utilizado como residência da família, ainda que não seja o único bem de propriedade do devedor. 2. In casu, os recorridos lograram provar que o imóvel em questão serve de residência à família, consoante infere-se da sentença de primeiro grau, gerando a aplicação inafastável do disposto na Lei 8.009/90, revestindo-se de impenhorabilidade. 3. Recurso Especial desprovido. (REsp 574.050/RS, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 31.5.2004, p. 214)
Diante do exposto, não conheço do Recurso Especial.
É como voto.
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