Você está na página 1de 4

20/06/2023 06:40 Documento:20002726965

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
5ª Câmara Cível
Avenida Borges de Medeiros, 1565 – Porto Alegre/RS – CEP 90110-906

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5101233-76.2022.8.21.7000/RS


TIPO DE AÇÃO: Indenização por dano moral
RELATOR: DESEMBARGADOR JORGE ANDRE PEREIRA GAILHARD
AGRAVANTE: LEONIR FRANCISCO DE ALMEIDA (EXECUTADO)
AGRAVADO: VALDECI MOTA DOS SANTOS (EXEQUENTE)

RELATÓRIO

Leonir Francisco de Almeida  interpôs o presente  agravo de


instrumento  contra a decisão que, nos autos do Cumprimento de Sentença
movido por Valdeci Mota dos Santos, foi proferida nos seguintes termos:

Mantenho a penhora realizada junto ao imóvel, tendo em vista que a


parte executada não demonstrou que o bem é impenhorável, como alega.

Outrossim, indefiro o pedido do credor no evento 16, letra 'b', tendo em


vista que a certidão poderá ser obtida pela parte de forma
administrativa.

Intimem-se.

D.L.

Opostos embargos de declaração pelo agravante, foram


desacolhidos.

Sustenta a petição recursal que as certidões cartorárias evidenciam


que o executado não possui outro imóvel. Ainda, aduz que houve omissão na
análise de que o executado aluga o único bem que possui e utiliza para pagar o
aluguel de outro imóvel. Prequestiona a matéria em debate.

Requer a concessão de efeito suspensivo e o provimento do


agravo.

Distribuídos os autos, foi deferido parcialmente o efeito


suspensivo (Evento 04).

Intimado, o agravado apresentou as contrarrazões (Evento 10).

É o relatório 

https://portaldadefensoria.defpub.local/api/processos/documentos?id=11664384187300402263956994477&processo-numero=51012337620228… 1/4
20/06/2023 06:40 Documento:20002726965

VOTO

O recurso é tempestivo. Defiro o benefício da justiça gratuita


exclusivamente para a tramitação deste recurso, uma vez que o pedido da
referida benesse ainda não foi analisado pelo juízo de origem. 

Cuida-se de agravo de instrumento oposto contra a decisão que


não acolheu a alegação de impenhorabilidade de imóvel do agravante, mantendo
a constrição sobre o bem.

E, com a devida vênia, entendo que não vinga a pretensão recursal.

No caso concreto,  após ter peticionado nos autos informando a


impenhorabilidade do bem, nos termos da Lei nº 8.009/90,  em nenhum
momento restou comprovado que o imóvel penhorado é efetivamente a sua
residência, ou o único bem que possui, o que poderia afastar a penhora
realizada, nos termos do art. 1° da mencionada legislação. 

Neste particular, diga-se que os documentos juntados no Evento 12


dos autos originários, tão somente são aptos a demonstrar a inexistência de
propriedade de imóvel na localidade de Tramandaí/RS, mas incapaz de
comprovar que o agravante não possui outros bens. Além disso, cabe referir que
o agravante juntou nos autos apenas o recibo da entrega da Declaração do
Imposto de Renda (Evento 3 - PROCJUDIC 4 - Página 10, não sendo possível
verificar quais os bens existentes em seu nome.  

Por tais motivos, deve ser mantida a penhora efetuada nos autos. 

Inclusive, este é o entendimento desta Corte:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. IMPENHORABILIDADE. BEM DE FAMÍLIA. ÔNUS
DA PROVA. Nos termos dos artigos 1º e 5º da Lei 8.009/90, para que
haja o enquadramento do  bem  como impenhorável, é imperiosa a
demonstração inequívoca de que o imóvel sobre o qual recai
a penhora seja único e de uso exclusivo da família, ou seja, com fins de
moradia, o que inocorreu no caso concreto. Compete à parte executada
a prova da alegada impenhorabilidade do imóvel, nos termos do art.
373, inciso I, da CPC. Precedentes. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 50264718920228217000,
Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Maria Ines Claraz de Souza Linck, Julgado em: 22-07-2022);

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.
IMPENHORABILIDADE DO IMÓVEL. NÃO RECONHECIDA. Os
agravantes não se desincumbiram do ônus de comprovar que o
imóvel penhorado é o único bem de propriedade das atuais moradoras,
impossibilitando a proteção legal conferida ao  bem  de  família.
RECURSO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento, Nº
50996367220228217000, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Jucelana Lurdes Pereira dos Santos, Julgado
em: 14-07-2022);
https://portaldadefensoria.defpub.local/api/processos/documentos?id=11664384187300402263956994477&processo-numero=51012337620228… 2/4
20/06/2023 06:40 Documento:20002726965

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS.  BEM  DE  FAMÍLIA  NÃO
COMPROVADO.  PENHORA  SOBRE DIREITOS E AÇÕES.
POSSIBILIDADE I. INCUMBE À PARTE QUE INVOCA A PROTEÇÃO
LEGAL, O ÔNUS PROBATÓRIO ACERCA DA
IMPENHORABILIDADE DO  BEM  DE  FAMÍLIA. NO CASO DOS
AUTOS, TODAVIA, A PARTE EMBARGANTE NÃO SE DESINCUMBIU
DO ÔNUS QUE LHE CABIA (ARTIGO 373, I, CPC).
II.  PENHORA  SOBRE DIREITOS E AÇÕES DE  BEM  ALIENADO
FIDUCIARIAMENTE. POSSIBILIDADE. NEGARAM PROVIMENTO
AO RECURSO. UNÂNIME.(Agravo de Instrumento, Nº
52338520420218217000, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Ergio Roque Menine, Julgado em: 23-06-2022).

De outro lado, não há falar em omissão por parte do juízo de


origem. 

Ocorre que, a alegação de que o imóvel em questão está sendo


locado foi efetuada apenas em sede de embargos de declaração. E, como é
sabido, os embargos de declaração são utilizados quando existente obscuridade,
contradição, omissão ou para sanar erro material, a teor do art. 1.022, do CPC.

Nestas circunstâncias, em havendo inovação dos fundamentos da


impugnação à penhora em sede de embargos de declaração, não há falar em
omissão pelo juízo a quo. 

Aliás, este é o entendimento do egrégio STJ:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO


INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
COBRANÇA. INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE.
CONTRATO. DESCUMPRIMENTO NÃO EVIDENCIADO. REVISÃO.
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL. REEXAME DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS.
INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 5 E 7 DO
STJ. DECISÃO MANTIDA.

arguida somente em sede de embargos de
 1. Incabível o exame de tese
declaração, não tratada no acórdão recorrido nem exposta nas razões
de apelação, por configurar indevida inovação recursal.
 2. O recurso especial não comporta exame de questões
que impliquem
revolvimento do contexto fático-probatório dos autos e interpretação de
cláusula contratual (Súmulas n. 5 e 7 do STJ).

 3. No caso concreto, o Tribunal de origem analisou a prova dos autos e


o contrato celebrado para concluir pela ausência de quebra de cláusula
contratual e de falha na prestação dos serviços. Alterar tal conclusão é
inviável em recurso especial.

provimento.
 4. Agravo interno a que se nega
(AgInt no AgInt no AREsp n. 2.019.144/SP,
relator Ministro Antonio
Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 13/6/2022, DJe de
21/6/2022.);

PROCESSUAL CIVIL.  EMBARGOS  DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO


INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE VÍCIOS NO
ACÓRDÃO EMBARGADO.
REDISCUSSÃO.

PRETENSÃO DE REEXAME. NÃO


CABIMENTO. INOVAÇÃO RECURSAL EM SEDE DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. INVIABILIDADE.  EMBARGOS  DE DECLARAÇÃO
https://portaldadefensoria.defpub.local/api/processos/documentos?id=11664384187300402263956994477&processo-numero=51012337620228… 3/4
20/06/2023 06:40 Documento:20002726965

REJEITADOS.
1. Os  embargos  de declaração têm a finalidade simples e única de
completar, aclarar ou corrigir uma decisão omissa, obscura,
contraditória ou que incorra em erro material, afirmação que se
depreende dos in cisos do próprio art. 1.022 do CPC/2015. Portanto, só
é admissível essa espécie  recursal  quando destinada a atacar,
especificamente, um desses vícios do ato decisório, e não para que se
adeque a decisão ao entendimento dos embargantes, nem para o
acolhimento de pretensões que refletem mero inconformismo, e menos
ainda para rediscussão de matéria já resolvida.
2. A tese ora invocada pelo embargante quanto
à omissão da incidência
da Súmula 85/STJ, bem como em relação à prescrição bienal, não foi em
nenhum momento arguida pelo ESTADO DE MINAS GERAIS nas
instâncias ordinárias, e nem sequer apresentada em suas contrarrazões
ao recurso especial, juntadas às folhas 578-595 (e-STJ). Trata-se,
portanto, de  inovação recursal,  procedimento vedado
em sede de embargos de declaração.
3. Não havendo omissão, obscuridade,
contradição ou erro material,
merecem ser rejeitados os  embargos  declaratórios interpostos com o
propósito infringente.

4 . Embargos de declaração rejeitados.

Em consequência, não vinga a irresignação recursal.

Por fim, os artigos de lei suscitados pelas partes consideram-se


incluídos no acórdão para fins de prequestionamento, sendo desnecessária a
referência expressa a todos os dispositivos aventados.

Ante o exposto, voto por negar  provimento ao agravo de


instrumento. 

Documento assinado eletronicamente por JORGE ANDRE PEREIRA GAILHARD, Desembargador


Relator, em 28/9/2022, às 15:35:53, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do
documento pode ser conferida no site https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?
acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código verificador 20002726965v10 e o código
CRC d8d1d60c.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): JORGE ANDRE PEREIRA
GAILHARD
Data e Hora: 28/9/2022, às 15:35:53

 
5101233-76.2022.8.21.7000 20002726965
.V10

https://portaldadefensoria.defpub.local/api/processos/documentos?id=11664384187300402263956994477&processo-numero=51012337620228… 4/4

Você também pode gostar