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AO DOUTO JUÍZO FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE LAVRAS/MG.

SEBASTIÃO SILVA, portador do CPF: 117.980.331-00,

brasileiro, residente à Rua Antônio Pereira, número 222, bairro Jardim Floresta, no

município de Lavras (MG), CEP 37200-000, comparece respeitosamente à presença

de Vossa Excelência, por suas advogadas infra-assinadas, na ação que é manejada

pelo IBAMA para propor a presente:

DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA, nos moldes da Lei

8.009/90 e do art. 832 do Código de Processo Civil;

Pelos fatos e fundamentos de direito expostos:

I – SÍNTESE DO PROCESSO

Na data do dia 14 de fevereiro de 2011, o Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), ajuizou

uma Execução Fiscal contra Sebastião Silva, decorrente de dívida ativa que

embasava a execução no valor de R$ 9.406,20 (nove mil quatrocentos e seis e vinte

centavos), dívida essa decorrente do fato de Sebastião Silva manter espécies da


fauna silvestre brasileira em cativeiro. Sobreleva-se ressaltar que, até a presente

data, a multa encontra-se no valor de R$ 13.946,72 (treze mil, novecentos e

quarenta e seis e setenta e dois centavos).

Tecidas essas considerações necessárias, urge salientar

que houve inúmeras tentativas de citação do executado, entretanto, não foi possível

lograr êxito em nenhuma.

Em que pesem as razões expendidas, cumpre esclarecer

que na data do dia 18/06/2016, foi ajuizada uma ação de execução de penhora em

dinheiro, na conta do executado, através do BACENJUD e o bloqueio de sua conta.

Frisa-se que a execução de penhora em dinheiro deu-se no valor de R$ 840,61

(oitocentos e quarenta reais e sessenta e um centavos), sendo esse valor de sua

aposentadoria.

Após ter ciência do fato, o executado procurou a Justiça

Federal, onde lhe foi informado sobre o bloqueio e lhe foi orientado que procurasse

o seu advogado dativo (que foi inserido no processo), para dar prosseguimento ao

feito.

Em virtude dessas considerações, na data do dia 04 de

dezembro de 2021, houve o pedido de constrição de imóvel, em face do não

pagamento da dívida ativa adquirida pelo executado.

Posto isso, na data do dia 01 de fevereiro de 2022, foi

expedido o mandado de penhora do imóvel do executado. Consequentemente, na

data do dia 21 de fevereiro de 2022, expediu-se o auto de penhora e avaliação do

bem, sendo avaliado no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais).


Ocorre que se trata de penhora abusiva, que deve ser

revista, conforme passará a demonstrar.

Eis a síntese.

II – DOS FUNDAMENTOS PARA A DESCONSTITUIÇÃO

DA PENHORA

Diferentemente do que foi demonstrado nos autos do

processo, o imóvel indicado não pode ser penhorado, uma vez que se trata do único

bem de família do executado, conforme provas em anexo.

Nessa senda, tem a proteção da impenhorabilidade do

bem de família, conforme clara disposição da Lei. 8099/90 e do art. 832 do CPC ao

dispor:

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o


qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de
qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso
profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.

Art. 832. Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera
impenhoráveis ou inalienáveis.

A proteção ao bem de família, embasado no direito social

à moradia (artigo 6º da CF/88), constitui materialização da teoria do patrimônio

mínimo da pessoa humana, com o objetivo de assegurar um “mínimo existencial”,

como condição à dignidade da pessoa humana.


Assim, considerando que não existem, conforme certidões

em anexos, outros imóveis capazes de viabilizar a residência, tem-se o necessário e

imediato reconhecimento da impenhorabilidade.

Vejamos, nesse passo, alguns julgados acerca da

quaestio iuris:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO DE


TÍTULO EXTRAJUDICIAL - PENHORA - BEM IMÓVEL – ARGUIÇÃO DE
IMPENHORABILIDADE - PETIÇÃO SIMPLES - PROCESSAMENTO E
JULGAMENTO NA AÇÃO DE EXECUÇÃO – DECISÃO REFORMADA.

- A impenhorabilidade de bem de família é matéria de ordem pública e


pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição, mediante
simples petição no processo executivo, não se sujeitando à preclusão.

TJMG, Processo: Agravo de Instrumento- Cv 1.0091.12.001417-


9/0015662927- 30.2020.8.13.0000 (1). Relator(a): Des.(a) Juliana Campos
Horta. Julgamento: 11/02/2021. Publicação: 18/02/2021.

Assim, tratando-se de bem de família, a proteção em face

de qualquer constrição é medida que se impõe. Nesse sentido:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE EXECUÇÃO -


IMPUGNAÇÃO À PENHORA - PENHORA DE ÚNICO BEM DE FAMÍLIA -
IMPENHORABILIDADE PREVISTA NO ART. 1º E 5º DA LEI 8.009/90 -
ART. 832 CPC/15. - Nos termos do art. 832 do novo CPC, "Não estão
sujeitos à execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou
inalienáveis.".

(TJ-MG - AI: 10000210686200001 MG, Relator: Evandro Lopes da Costa


Teixeira, Data de Julgamento: 17/06/2021, Câmaras Cíveis / 17ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 21/06/2021).

Ademais, insta consignar que a dívida em comento teve

como finalidade executar o executado em face da não observância dos preceitos


legais sobre o direito ambiental, ou seja, não se trata de dívida do próprio imóvel

não podendo excepcionar a regra da impenhorabilidade do bem de família.

Portanto, a penhora de bem de família configura uma

ILEGALIDADE, passível de condenação pelo Judiciário. Assim, requer de imediato

que a restrição que incidiu sobre a propriedade seja retirada.

DOS PEDIDOS:

Diante ao exposto requer de vossa excelência o que

segue:

I. A DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA DO IMÓVEL, POR

SE TRATAR DE BEM DE FAMÍLIA, NOS MOLDES DA LEI 8099/90 E DO ART. 832

DO CPC.

Termos em que, pede deferimento

Lavras (MG), 22 de março de 2022.

Iasmim Cristina Rodrigues Brilhante


OAB/MG: XX.XX

Maria Eduardda de Figueiredo Siqueira Campos


OAB/MG: XX.XX

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