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AO DOUTO JUIZO DE DIREITO DA (...

) VARA CÍVEL DA COMARCA DE


LAVRAS/MG.

LILIAN MARA NAZARÉ NASCIMENTO DUTRA, portadora do

CPF: 002.795.836-13, brasileira, casada, autônoma, residente e domiciliada à rua

Emannuel Nascimento Costa, nº 82, bairro Vila Paraíso, município de Lavras (MG),

CEP 37200-000, por suas advogadas infra-assinadas, comparece respeitosamente à

presença de Vossa Excelência, para propor a presente:

AÇÃO DE DIVÓRCIO, nos termos dos artigos 674 e

seguintes do Código de Processo Civil,

Em face de MAGNO PEREIRA DUTRA, regularmente inscrito

no CPF: 538.975.526-04, residente na (endereço completo...) .

Pelos fatos e fundamentos de direito expostos:

I – DOS FATOS
Lilian e Magno celebraram, na data do dia 02/07/2020, a

sua união civil, com o regime de comunhão parcial de bens.

Acontece que não mais subsiste os motivos que levaram

as partes a contrair matrimônio, não havendo mais possibilidade de permanecerem

juntas, uma vez que a relação conjugal se tornou insustentável.

O casal encontra-se separado de fato há

aproximadamente (...), o que culminou no desinteresse da Requerente em continuar

com a união marital, motivo pelo qual ajuíza a presente ação.

Da referida união não houve nenhum alcance de bens

móveis ou imóveis que possam ser objeto de partilha na presente demanda, ou seja,

a referida ação é tão somente para a dissolução do vínculo conjugal, não havendo

nenhuma outra questão a ser discutida.

Posta assim a questão, Excelência, Lilian procurou os

causídicos, com o intuito de ajuizar uma ação de divórcio.

Eis os fatos.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.I – DA JUSTIÇA GRATUITA – art. 5º inciso LXXIV da

CF/88 e art. 98 e seguintes do CPC.

A Requerente pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita

assegurada pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e o art. 98 e seguintes do

Código de Processo Civil, a saber:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
Em conformidade com o supramencionado artigo, importa

salientar que a Requerente não possui condições de arcar com os custos do

processo, posto que desde o ano de 1.998 não possui nenhum registro de trabalho

em sua carteira, subsistindo, desde então, como autônoma, possuindo renda em

torno de um salário-mínimo, o que é insuficiente para arcar com as custas e despesas

judiciais sem prejuízo de seu próprio sustento.

Sendo assim, na oportunidade, junta declaração de

hipossuficiência econômica para fins judiciais e pleiteia os benefícios da assistência

judiciária.

É preciso insistir também no fato de que o art. 98 e

seguintes do CPC aduz que:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios têm direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Como se observa, a requerente encaixa-se em todas os

preceitos da referida norma, sendo, assim como inicialmente demonstrado, pessoa

natural, brasileira e com insuficiência de recursos para pagar todas as custas do

processo, bem como os honorários advocatícios, podendo, então, usufruir do

benefício da gratuidade da justiça.

Pelo exposto, requer o deferimento dos benefícios da

justiça gratuita, sob pena de restar prejudicado o acesso da parte ao Poder Judiciário,

ferindo as disposições constitucionais contidas no art. 5º, LXXIV, da CF/88.

II.II – DA DECRETAÇÃO DO DIVÓRCIO


Nos moldes do art. 226, § 6º, da CF/88 “o casamento civil

pode ser dissolvido pelo divórcio”, não existindo necessidade de exposição dos

motivos que levaram ao rompimento da vida conjugal.

Frisa-se mencionar a Emenda Constitucional nº 66/2010,

que apresentou uma inovação ao ordenamento jurídico pátrio e alterou as regras até

então existentes, excluindo a separação judicial prévia ou a necessidade de

separação de fato por período mínimo de 2 (dois) anos, sendo suficiente somente à

vontade única e exclusiva de dissolver o casamento, por intermédio do divórcio. A

alteração em comento permite aos cônjuges o requerimento do divórcio a qualquer

tempo do término da sociedade conjugal, não exigindo, ainda, a alegação de culpa

por parte de um dos cônjuges.

Em concordância com o disposto acima, o doutrinador

Rodrigo da Cunha Pereira preleciona que:

[.....] o novo texto Constitucional suprimiu a previa separação como


requisito para o divórcio, bem como eliminou qualquer prazo para se propor o
divórcio seja na esfera judicial seja administrativo(Lei n.11.441/07).tendo
suprimido tais prazos o requisito da prévia separação para o divórcio, a
Constituição joga por terra aquilo que a melhor doutrina e a mais consistência
jurisprudência vinham afirmando há muitos anos , a discussão da culpa pelo
do fim casamento, aliás um grande sinal de atraso no ordenamento jurídico
brasileiro (CUNHA, 2013, p.50).

Portanto, em face de todo o exposto, resta claro, assim

como alegado pela Requerente, que a sua relação com o Requerido tornou-se

intragável. Por consequência e observado o disposto na EC nº 66/10, basta apenas

que a Requerente demonstre a sua simples vontade em dissolver o vínculo conjugal

para que seja decretado o divórcio através de sentença.


II.III DA INEXISTÊNCIA DE BENS A SEREM

PARTILHADOS ANTES DA CONSTÂNCIA DO CASAMENTO E DA

PROPRIEDADE EXCLUSIVA DO BEM MÓVEL

No que tange ao caráter de posse exclusiva do bem móvel

e a inexistência de bens a serem partilhados, imperioso se torna destacar que no

ano de 2006, antes da constância do casamento, a Requerente adquiriu um Carro

da marca Celta.

Impende salientar, ainda, que a Requerente e o Requerido

se casaram no regime de comunhão parcial de bens e desde o casamento não

lograram nenhum bem móvel ou imóvel em comum.

Como se depreende, o requerido pretende a partilha do

bem móvel, no caso o carro, na presente ação.

Todavia, é insubsistente o argumento do requerido,

consoante dispõe o preceptivo legal insculpido no artigo 1658 do Código Civil:

Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que


sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos
artigos seguintes.

Assim, salta aos olhos, de forma clara e inquestionável,

que o bem móvel adquirido antes do casamento pela Requerente é de posse única e

exclusiva dela, sendo, ainda, classificado como um bem particular e não um bem

comum.

Nesse sentido, necessário se faz mencionar o

entendimento do ilustre doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, que preconiza, in

verbis:
O regime da comunhão parcial é o que prevalece se os consortes não
fizerem pacto antenupcial, ou, se o fizerem, for nulo ou ineficaz (CC, art.
1.640, caput). Por essa razão, é chamado também de regime legal ou
supletivo, como já mencionado. Caracteriza-se por estabelecer a separação
quanto ao passado (bens que cada cônjuge possuía antes do casamento) e
comunhão quanto ao futuro (bens adquiridos na constância do casamento),
gerando três massas de bens: os do marido, os da mulher e os comuns
(GONÇALVES, Carlos Roberto. ob. cit. p. 404, 2012).

Não se pode deixar de registrar que há corrente


jurisprudencial neste sentido, in verbis:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA - DIVÓRCIO -


PARTILHA DE BENS - IMÓVEL - COMPROVAÇÃO DE PROPRIEDADE -
ALEGADA DESIGUALDADE - NÃO COMPROVAÇÃO - DIVISÃO
EQUÂNIME - RAZOABILIDADE - ALIMENTOS - BINÔMIO
NECESSIDADE/POSSIBILIDADE - ALTERAÇÃO DEVIDA - RECURSO
PROVIDO PARCIALMENTE.

- Comprovada a dissolução de sociedade de fato, no regime de comunhão


parcial de bens, haverão de ser partilhados os aquestos, isto é, os bens
adquiridos durante a existência daquela sociedade.

- Deve ser mantida a sentença em que observadas cuidadosamente todas


as provas produzidas nos autos da ação de divórcio seguida de partilha dos
bens do casal de forma equânime e equilibrada, e os que a sua propriedade
tenha sido devidamente comprovada.

- O valor dos alimentos deve guardar fidelidade não somente com as


necessidades do credor, mas com a prova idônea da capacidade econômica
do devedor.

- Os alimentos não se prestam à satisfação do cupidez do alimentante e


muito menos ao regalo do alimentado.

(v.v.p)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO CIVIL: FAMÍLIA - ALIMENTOS -


PENSÂO: REDUÇÃO - BASE DE CÁLCULO - RENDIMENTOS LÍQUIDOS:
VARIÁVEIS E INCERTOS - SALÁRIO-MÍNIMO. Conquanto se prestigie a
utilização da renda líquida do alimentante como base de cálculo para
fixação da obrigação alimentar, verificada a sua flutuação e complexidade
de apuração, é de se optar pela utilização do valor do salário-mínimo como
base de cálculo exclusiva dos alimentos. (TJMG - Apelação Cível
1.0000.20.516419-7/002, Relator(a): Des.(a) Belizário de Lacerda, 7ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 15/12/2021, publicação da súmula em
16/12/2021).

À luz das informações contidas, cai a lanço notar que,

conforme se extrai do regime de comunhão parcial de bens e respaldado no

entendimento jurisprudencial, o bem móvel adquirido antes do casamento não


integra a ação, posto que, no caso em examine, a Requerente adquiriu o automóvel

antes de se casar, ou seja, o seu bem caracterizava-se como um bem móvel

particular. Não há, destarte, nenhum nexo lógico em colocar um automóvel de posse

unicamente da Requerente como partilha em uma ação de divórcio.

DOS PEDIDOS:

Diante ao exposto requer de vossa excelência o que segue:

I. A concessão da realização de audiência de conciliação ou mediação, em

cumprimento ao que dispõe o art. 319, VII, do CPC.

II. O benefício da gratuidade processual, nos termos dos artigos 5º, inciso LXXIV

da Constituição Federal de 1988 e o art. 98 e seguintes do Código de Processo

Civil;

III. O julgamento pela procedência do pedido principal, para que seja decretado o

divórcio do casal, observando os termos da presente exordial;

IV. Considerando-se que não existem bens a serem partilhados, requer-se que o

bem móvel da Requerente adquirido antes da superveniência do casamento

não seja objeto de interesse na ação.

V. A condenação do Requerido ao pagamento das custas processuais, bem como

dos honorários advocatícios a título sucumbencial;

VI. Protesta provar o alegado por todos os meios permitidos em direito e cabíveis a

espécie, em especial documental, pela oitiva de testemunhas e pelo

depoimento do requerido, sob pena de confissão;


VII. Requer-se que todas as notificações/intimações alusivas ao feito sejam dadas

às advogadas infra-assinadas, cujo dados contam na procuração;

VIII. Expedir, após o trânsito em julgado, os competentes mandados de averbação e

de inscrição da sentença ao cartório de registro civil competente, para que

proceda às alterações necessárias junto ao assento do casamento das partes,

com isenção de custas.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.212,20 (um mil, duzentos e

doze e vinte centavos).

Termos em que, pede deferimento

Lavras (MG), 23 de fevereiro de 2022.

Iasmim Cristina Rodrigues Brilhante


OAB/MG: XX.XX

Maria Eduardda de Figueiredo Siqueira Campos


OAB/MG: XX.XX

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