EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA xxx
VARA DO TRABALHO DE xxx- TRT xxx REGIÃO.
Processo xxxxxxxx xxxxxx, brasileiro, casado, motorista, regularmente inscrito na cédula de identidade, RG sob o nº xxx e no CPF nº xxxxx, residente e domiciliado na Rua xxxxxxxxx, CEP:xxxx, por meio de sua advogada constituída, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 884, CLT e conforme decisã o xxx, promover os presentes: EMBARGOS À EXECUÇÃO em face de xxxxxxxx, brasileira, solteira, residente e domiciliado na Rua xxxxxx, CEP:1xxx, pelos fatos e motivos a seguir expostos: I) DOS FATOS O Embargante foi surpreendido por penhora efetuada em imó vel de sua moradia quando precisou de uma matrícula do imó vel onde, sem ser cientificado anteriormente, constatou a restriçã o. Ocorre que, tendo operado a desconsideraçã o da personalidade jurídica da empresa devedora, foi encontrado ú nico imó vel de propriedade do Embargante, cuja penhora se realizou sem sua intimaçã o e sem ciência do cô njuge (já que casados em comunhã o parcial de bens conforme certidã o anexa), nã o havendo no processo sequer comprovante de registro de postagem da notificaçã o, cujo despacho consta no xxxxx (fls. 21). A constriçã o realizada trata de imó vel considerado bem de família, portanto impenhorá vel. Em exceçã o de pré-executividade apresentada anteriormente, xxxx (fls. 38), foi alegada a impenhorabilidade, bem como apresentado comprovante de residência do embargante consistente em conta de á gua do imó vel. Conforme r. decisã o (xxxx – fls. 53) o imó vel nã o se caracteriza como bem de família, pois “qualquer imó vel pode ter ligaçã o de á gua, mesmo que ninguém nele resida”. Concluiu ainda, a r. decisã o, que o imó vel nã o estaria ocupado devido o pouquíssimo consumo de á gua. Para reforçar a alegaçã o de bem de família e ú nico imó vel, constam anexos comprovantes de contas de demais serviços (internet, energia elétrica) em nome do cô njuge, certidã o de casamento e certidã o de Cartó rio comprovando ser o ú nico bem pertencente ao embargante. Ademais, o pró prio auto de avaliaçã o (xxxx – fls. 29) traz como quesito positivo a ocupaçã o do imó vel. Trata-se de domicílio e residência do embargante e sua família há cerca de 20 anos. II) DA JUSTIÇA GRATUITA Por primeiro cumpre informar que o Embargante é pessoa pobre na acepçã o jurídica do termo, nã o tendo condiçõ es financeiras de suportar as despesas processuais sem prejuízo de seu pró prio sustento. Trata-se de pessoa pobre, motivo pelo qual, com fulcro nos arts. 5º, LXXIV, CF, combinado com a Lei nº 1.060/50, art. 1º Lei nº 7.115/83, art. 98 e seguintes CPC, requer o deferimento do pedido de benefícios decorrentes da Justiça Gratuita. III) DA TEMPESTIVIDADE E ENQUADRAMENTO LEGAL Diante da falta de citaçã o do Embargante para defesa, pagamento ou tentativa de acordo na execuçã o e, posteriormente, frente a improcedência da exceçã o de pré- executividade e dada a possibilidade de exercer seu direito ao contraditó rio e ampla defesa, através dos recursos pró prios conforme r. decisã o xxxxx1 – fls. 52, comprova-se assim o cabimento dos Embargos. Nã o obstante, somente por cautela, o presente recurso encontra enquadramento legal no art. 884, CLT e jurisprudência abaixo: EXCEÇà O DE PRÉ -EXECUTIVIDADE IMPROCEDÊ NCIA. IRRECORRIBILIDADE IMEDIATA. POSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇà O DA DECISà O MEDIANTE EMBARGOS À EXECUÇà O. Segundo a jurisprudência deste TRT e os princípios da ampla defesa e do devido processo legal, embora a decisã o interlocutó ria pela qual a exceçã o de pré-executividade nã o é conhecida ou é julgada improcedente seja irrecorrível de imediato, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, e da Sú mula 214, do TST, com garantia da execuçã o ela pode ser impugnada mediante embargos à execuçã o e, posteriormente, por agravo de petiçã o. (TRT – 3 – APPS: XXXXX32014030001 MG XXXXX-93.2014.5.03.0001, Relator: Vitor Salino de Moura Eca, Data de Julgamento: 04/08/2021, Decima Turma, Data de Publicaçã o: 06/08/2021.) Assim, há previsã o legal para o debate da matéria do presente recurso. IV) DA AUSÊNCIA DE CITAÇÃO O Embargante nã o foi citado nos autos do processo em flagrante contrariedade ao disposto no art. 880, CLT. Por outro giro, é certo que, no processo do trabalho, vigora a Teoria Menor da Desconsideraçã o da Personalidade Jurídica, possibilitando a decretaçã o da desconsideraçã o diante da insuficiência patrimonial do Executado, contudo, tal Teoria nã o afasta o direito ao contraditó rioa e ampla defesa da pessoa que irá compor o polo passivo da açã o judicial, quanto menos trata-se de exceçã o à regra estabelecida no já citado art. 880, CLT. Notoriamente, o embargante teve seu direito constitucionalmente estabelecido na clá usula pétrea, art. 5º, LV, CF, de contraditó rio e ampla defesa suprimido diante da ausência de sua citaçã o para compor o polo passivo açã o judicial. Nesse sentido já decidiu o TST: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇà O. CERCEAMENTO DE DEFESA. DESCONSIDERAÇà O DA PERSONALIDADE JURÍDICA. AUSÊNCIA DE PRÉVIA CITAÇÃO DOS SÓCIOS. PROVIMENTO. Diante da aparente violação do artigo 5º, LV, da Constituição Federal, merece ser provido o agravo de instrumento. Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA. EXECUÇà O. CERCEAMENTO DE DEFESA. DESCONSIDERAÇà O DA PERSONALIDADE JURÍDICA. AUSÊ NCIA DE PRÉ VIA CITAÇà O DOS SÓ CIOS. PROVIMENTO . Ocorrendo a desconsideração da personalidade jurídica do empregador, pessoa jurídica, no curso do processo, é indispensável que os sócios, que vão responder diretamente pela dívida, sejam citados para pagar o débito, nos moldes do artigo 880 da CLT. Destaca-se que a atuaçã o anterior da só cia no processo ocorreu apenas como representante da pessoa jurídica. A falta da citação da sócia antes da constrição dos seus bens via BACENJUD, portanto, viola o artigo 5º, LV, da CF. Recurso de revista conhecido e provido. (TST - RR: XXXXX20125020085, Relator: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 13/09/2017, 6ª Turma, Data de Publicaçã o: DEJT 15/09/2017) (grifos nossos). Há harmonia nas decisõ es judiciais referentes a necessidade de citaçã o dos só cios para considerar a constriçã o patrimonial regular. Situaçã o adversa dos autos do processo, que, primeiro promoveu a constriçã o patrimonial, descoberta por acaso pelo Embargante em consulta à matrícula do imó vel apó s penhora já inscrita sem sua notificaçã o ou de seu cô njuge. Ademais, conforme processo físico nº xxx, fls. 110, em certidã o negativa, concluiu- se que o endereço cadastrado no processo nã o pertence à residência do Embargante, restando negativa a diligência. Em mandado de penhora, já nos autos de Execuçã o nº xxxxx (id xxx– fls. 24), o encaminhamento fora realizado ao endereço já certificado como errado pelo oficial de justiça anterior. Ressalta-se, ainda, que, embora o mandado tenha sido expedido, nã o há comprovaçã o da realizaçã o ou tentativa por oficial de justiça da ciência ao proprietá rio ou cô njuge da penhora efetuada, conforme determinado em despacho idxxxx– fls. 21. Nesse sentido a jurisprudência: AGRAVO DE PETIÇà O. NULIDADE PROCESSUAL SUSCITADA EM CONTRAMINUTA. INTIMAÇà O DA PENHORA. AUSÊ NCIA. Verificada a ocorrência de vício processual capaz de invalidar o processo de execuçã o, declara-se a nulidade dos atos praticados a partir da penhora para que seja sanado o vício (falta de intimaçã o da penhora) e renovados o prazo para a prá tica de todos os atos posteriores. Exame do agravo de petiçã o prejudicado. (TRT-13-AP: XXXXX20195130002; XXXXX- 91.2019.5.13.0002, Data de Julgamento: 19/08/2021, Primeira Turma, Data de Publicaçã o: 26/08/2021) V) DO BEM DE FAMÍLIA Nã o obstante a argumentaçã o processual acima que fundamenta o pedido de nulidade da penhora, tendo em vista a ausência de citaçã o do Embargante, melhor sorte nã o assiste o Embargado no mérito, porque o imó vel penhorado é o ú nico bem imó vel do Embargante, sendo nele sua residência. Repete-se, houve constataçã o por parte do Senhor Oficial de Justiça no dia 02/08/2021 sobre a ocupaçã o do imó vel penhorado (idxxx – fls. 29), sendo este ocupado pelo Embargante e sua família. Nesta oportunidade, o Embargante junta as contas de consumo, comprovando que reside no imó vel que foi penhorado nos autos do processo. Além disso, encontra-se anexa, para que nã o reste dú vida, certidã o comprovando ser o imó vel penhorado a ú nica propriedade do Embargante. Sobre esse tema já decidiu o TRT-15: BEM DE FAMÍLIA. MATÉ RIA COGNISCÍVEL DE OFÍCIO. CARACTERIZAÇà O. DEVEDOR QUE Nà O RESIDE NO IMÓ VEL. IRRELEV NCIA. DESNECESSIDADE DE PROVA DA EFETIVAÇà O DA AFETAÇà O DO BEM À SUBSISTÊ NCIA DA PESSOA OU DA ENTIDADE FAMILIAR. O fato de o devedor nã o residir no imó vel nã o desnatura a proteçã o do bem de família. Tampouco exige-se prova da efetiva afetaçã o do bem à subsistência da pessoa ou da entidade familiar - como a cobrança de aluguel - por se tratar de garantia do patrimô nio mínimo para a vida digna, a ser utilizada quando necessá rio. Basta que o bem constrito seja o único imóvel de propriedade da entidade familiar. ÔNUS DA PROVA DA CONDIÇÃO DE BEM DE FAMÍLIA. Compete ao credor demonstrar a existência de outros bens passíveis de serem executados a fim de promover a adequada constrição judicial. A imposição de que a executada prove que o bem é o único imóvel próprio da entidade familiar caracterizaria exigência de prova negativa, desprovida de razoabilidade, em violação ao direito de defesa. CONFLITO APARENTE DE NORMAS CONSTITUCIONAIS. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. VALOR SOCIAL DO TRABALHO. JUSTIÇA SOCIAL. DIREITO À MORADIA. PROTEÇà O À ENTIDADE FAMILIAR. DIREITO DE PROPRIEDADE. A satisfaçã o do crédito trabalhista, de natureza alimentar, é essencial para a garantia a dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho e da justiça social (art. 1º, incisos III e IV, da CR/88). O instituto do bem de família (Lei 8009/90), por sua vez, tem sua ratio no direito de propriedade (artigo 5º, inciso XXII, da CR/88) e na proteçã o à moradia (art. 6º, caput, da CR/88), à entidade familiar (art. 226 da CR/88) e à dignidade da pessoa humana, por meio da preservaçã o do patrimô nio mínimo do devedor. Nesse contexto, há necessidade de adequaçã o e de ponderaçã o entre os princípios, a fim de garantir a compatibilidade sistêmica, mediante os postulados da proporcionalidade, da unidade da Constituiçã o e da concordâ ncia prá tica. No caso dos autos, a solução mais adequada e menos comprometedora da dignidade da pessoa humana é a que remete à desconstituição da penhora do imóvel, já que a satisfação do crédito exequendo pode ser atingida por outros meios, que não violem o direito social à moradia e a proteção da entidade familiar. Recurso da executada provido para reconhecer a insubsistência da penhora do imó vel. (TRT-15 - AP: XXXXX20135150105 XXXXX-46.2013.5.15.0105, Relator: JOAO BATISTA MARTINS CESAR, 11ª Câ mara, Data de Publicaçã o: 13/04/2021) (grifo nosso). Sendo o imó vel o ú nico bem do Embargante, e nele residindo em torno de 20 (vinte) anos ininterruptos, configura bem de família nos termos do art. 1º, Lei 8.009/90: O imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar não responderá por dívida de natureza fiscal, civil, previdenciária, trabalhista, ou de outra natureza (...) (grifos nossos). O direito a moradia, também, é protegido pela Constituiçã o da Republica, no art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (grifos nossos) Sobre este tema, já decidiu o TST no Recurso de Revista XXXXX19965020010: (...) A penhora que recai sobre único imóvel de propriedade da executada e que serve de moradia para a entidade familiar ofende o direito à moradia garantido no art. 6ºº, Constituição Federall. Recurso de revista conhecido por violação do art. 6ºº,Constituição Federall e provido. (...) Mais adiante, o acó rdã o acima citado afirma: (...) A conclusão adotada pelo e.TRT, de manter a penhora sobre o único imóvel da executada e que é a residência da entidade familiar, implica aparente ofensa ao artigo6ºº daCarta Magnaa - que estabelece a garantia do direito à moradia. (...) Neste sentido é a jurisprudência do TRT, 2ª Regiã o: PROCESSO TRT/SP N XXXXX-06.2013.5.02.0301AGRAVO DE PETIÇÃO EM EMBARGOS DE TERCEIRO DA 1ª VT DE GUARUJÁ AGRAVANTE: FÁ TIMA APARECIDA FIDELIS DA SILVA AGRAVADO: SUELI LUDOVICO CHERBINO BEM DE FAMÍLIA. CONFLITO DE DIREITOS. MORADIA X CRÉ DITO TRABALHISTA. O princípio da proporcionalidade, considerado o "princípio dos princípios", recomenda ponderaçã o na apreciaçã o de conflito de valores constitucionalmente protegidos, como no presente caso, moradia x crédito trabalhista, ponderando-se sobre o interesse jurídico mais relevante no caso concreto. Deve prevalecer, no caso ora posto, a moradia da família, notadamente porque o legislador pretendeu proteger a residência da entidade familiar, inclusive contra as consequências advindas dos negó cios mal empreendidos pelo chefe de família. (grifos nossos) O TRT da 1ª Regiã o, também, decidiu neste mesmo sentido: PODER JUDICIÁRIO FEDERALJUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Alvaro Luiz Carvalho Moreira Avenida Presidente Antonio Carlos 251 7o. andar - Gabinete 40 Castelo RIO DE JANEIRO XXXXX-010 RJ PROCESSO: XXXXX-20.2016.5.01.0018 - ETAcórdão 4a Turma CRÉDITO TRABALHISTA. PENHORA DE IMÓVEL. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE . A lei nº 8.009/90, que trata da impenhorabilidade dos bens de família, blinda o imó vel residencial pró prio do casal, no qual eles residem. Resta incontroverso nos autos que a agravante reside no imóvel objeto de constrição judicial, não havendo nenhum outro imóvel em seu nome. (grifos nossos) Com isso, conclui-se que: por ser bem de família, a penhora ao imó vel deve ser cancelada, pois recaiu sobre bem impenhorá vel. VI) DO PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO Por se tratar de penhora no imó vel em que o Embargante reside com sua família, ou seja, bem de família nos termos do art. art. 1º, Lei 8.009/90, requer o efeito suspensivo previsto no art. 919, § 1º, CPC, tendo em vista que há a presença dos pressupostos para a concessã o da tutela provisó ria, que sã o: a) A probabilidade do direito: que se comprova por meio das provas documentais deste processo. b) O perigo de dano ou risco ao resultado ú til do processo: que seria a alienaçã o do imó vel onde o Embargante reside com consequente despejo e ofensa ao direito fundamental de moradia. VII) PEDIDOS De todo o exposto, requer, o efeito suspensivo do processo e o deferimento da justiça gratuita, bem como: a) A citaçã o da Embargada para que, querendo, defenda-se dos presentes Embargos; b) Que seja declarada a nulidade da penhora do imó vel matriculado sob o nº xxx, do Cartó rio de Registro de Imó veis de xxxx, diante da ausência de citaçã o do Embargante para compor o polo passivo da açã o judicial; c) E, caso nã o seja declarada a nulidade da penhora nos termos do pedido do item b, acima, que seja reconhecida a impenhorabilidade do imó vel do Embargante por tratar-se de bem de família, declarando o cancelamento da penhora do imó vel matriculado sob o nº xxxx, do Cartó rio de Registro de Imó veis de xxx; Por fim, requer que ao final, a presente açã o seja julgada totalmente procedente com a condenaçã o da Embargada nas custas processuais e sucumbência. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, provas documentais. Nos termos do art. 914, § 1º, CPC, esta advogada declara autênticas as có pias juntadas para instruírem os presentes Embargos. Dá -se a causa o valor de R$ 7.801,26. Termos em que, Pede deferimento. xxxxx, 25 de outubro de 2021. NOME DO ADVOGADO * OAB* (*)