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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL

FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

O PROCESSO HISTÓRICO DE CONTRUÇÃO DO SUS

ESPÍRITO SANTO
SUMÁRIO

1 SAÚDE PÚBLICA ....................................................................................... 3

1.1 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE .......................................................... 3

2 O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO SUS ........................ 5

3 O PERÍODO 23/30: O NASCIMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO


BRASIL.........................................................................................................................6

4 O PERÍODO 30/45: AS PROPOSTAS DE CONTENÇÃO DE GASTOS E O


SURGIMENTO DAS AÇÕES CENTRALIZADAS DE SAÚDE PÚBLICA .................... 8

5 O PERÍODO 45/66: A CRISE DO REGIME DE CAPITALIZAÇÃO E O


NASCIMENTO DO SANITARISMO DESENVOLVIMENTISTA................................. 11

6 O PERÍODO 1966/73: O ACIRRAMENTO DA CRISE E A PRIVATIZAÇÃO


DA ASSISTÊNCIA MÉDICA ...................................................................................... 16

7 O PERÍODO 74/79: CRISE, REFORMA E CONSOLIDAÇÃO DA REDE


PRIVADA EM SAÚDE ............................................................................................... 18

8 A DÉCADA DE 80: ECLOSÃO DA CRISE ESTRUTURAL E A


CONSOLIDAÇÃO DAS PROPOSTAS REFORMADORAS ...................................... 22

9 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE............................................................... 27

9.1 PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS E ORGANIZATIVOS......................... 27

10 PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS.............................................................. 31

10.1 UNIVERSALIZAÇÃO ...................................................................... 32

10.2 EQUIDADE ..................................................................................... 32

10.3 INTEGRALIDADE ........................................................................... 33

11 PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS............................................................ 33

11.1 REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO .................................... 33

11.2 DESCENTRALIZAÇÃO E COMANDO ÚNICO ............................... 34

11.3 PARTICIPAÇÃO POPULAR ........................................................... 35


1
12 O SUS É UM DIREITO DE TODOS: ..................................................... 37

13 DIREITO À SAÚDE ............................................................................... 39

13.1 SÃO SEUS DIREITOS: ................................................................... 41

14 FUNCIONAMENTO DO SUS ................................................................ 45

15 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA – PSF............................................. 45

16 SERVIÇOS DO SUS ............................................................................. 47

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 51

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1 SAÚDE PÚBLICA

1.1 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Fonte: salariominimo2016.org

O SUS não foi uma invenção de “ilustres” juristas ou dos “iluminados”


deputados constituintes de 1988. Também não nasceu apenas do consenso entre
grandes especialistas da área de saúde. O SUS é fruto de um amplo movimento
social, iniciado na década de 70, em defesa da saúde do povo brasileiro, que
consolidou a reforma sanitária brasileira.
Tal movimento social se constituiu nas universidades, nos
departamentos de Medicina Preventiva e Social, e em outras instituições onde se
criticava o modelo assistencial dominante; no movimento sindical, inicialmente na
categoria médica, onde surgiu o grupo da "Renovação Médica"; e no interior das
instituições de saúde, onde grupos de técnicos não comprometidos com sua política
oficial, propunham e experimentavam formas alternativas de organizar serviços.
Este movimento foi se ampliando para diversos segmentos sociais durante a
década de 80, que passaram também a criticar o modelo de atendimento centrado na
medicina curativa e hospitalar, bem como o “empresariamento” do setor saúde.

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Em 1986, realizou-se a VIII Conferência Nacional de Saúde, em Brasília,
que reuniu milhares de representantes de usuários, de trabalhadores da saúde e de
outros setores sociais e de instituições governamentais, e que delineou a proposta de
organização de um sistema único de saúde, com assistência universal e integral à
saúde. Mais que isto, surgiu a proposta de que a saúde passasse a ser um direito do
cidadão e dever do Estado.

Fonte: www.carosamigos.com.

Estávamos às vésperas da instalação do Congresso Constituinte que iria


elaborar a nova Constituição Brasileira...
A Constituição de 1988 incorporou a ideia de que o direito à saúde deve ser
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de
doenças e outros agravos, e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de
saúde para sua promoção, proteção e recuperação (artigo 196 CF/88). Nesse
sentido, estabeleceu o Sistema Único de Saúde, no Título VIII Da Ordem Social,
Capítulo II Da Seguridade Social, Seção II Da Saúde.
É um "Sistema", porque não se trata somente um serviço ou uma instituição,
mas uma rede de unidades, serviços e ações atuando coordenadamente e em
diferentes níveis de complexidade tecnológica, no sentido de elevar os níveis de
saúde da população.
É "Único", porque segue os mesmos princípios e diretrizes em todo o território
nacional, no sentido de responsabilidade das três esferas de governo:
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I – No âmbito da União, através do Ministério da Saúde;
II – No âmbito dos Estados e Distrito Federal, através da respectiva Secretaria
de Saúde ou órgão equivalente;
III – No âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão
equivalente.

2 O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO SUS

Fonte: jornalggn.com.

O processo de construção do SUS é resultante de um conjunto de embates


políticos e ideológicos, travados por diferentes atores sociais ao longo dos anos.
Decorrente de concepções diferenciadas, as políticas de saúde e as formas como se
organizaram os serviços não são fruto apenas do momento atual. Ao contrário, têm
uma longa trajetória de formulações e de lutas.
A busca de referências históricas do processo de formulação das
políticas de saúde, e da vinculação da saúde com o contexto político mais geral do
país, pode contribuir para um melhor entendimento do momento atual e do próprio
significado do SUS. Nesse sentido, o objetivo deste texto é apresentar, de forma
organizada, os elementos que compõe o SUS e alguns marcos históricos da política
de saúde do Brasil. É claro que após alguns anos de sua implementação legal pela
5
Constituição Federal de 1988, O SUS não é hoje uma novidade. No entanto, apesar
do tempo decorrido e da clareza das definições legais, O SUS significa transformação
e, por isso, processo político e prático de fazer das ideias a realidade concreta. A
afirmação legal de um conceito é um passo importante, mas não é, em si, uma
garantia de mudanças. Construção é a ideia que melhor sintetiza o SUS. Garantido o
alicerce, falta compor, parte a parte, a estrutura do edifício. Não existe um caminho
natural para isso. Os embates políticos, corporativos e a variada gama de interesses
de um setor que mobiliza muitos recursos estarão sempre presentes. Não é a
constatação da impossibilidade, pelo contrário, uma exortação ao trabalho político
consequente.

Fonte: direitosbrasil.com

Como se trata de um texto introdutório, procura-se abordar os conceitos


e a história da constituição do Sistema Único de Saúde, a partir da trajetória da política
de Saúde e Previdência no Brasil.

3 O PERÍODO 23/30: O NASCIMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

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O surgimento da Previdência Social no Brasil se insere num processo de
modificação da postura liberal do Estado frente à problemática trabalhista e social,
portanto, num contexto político e social mais amplo. Esta mudança se dá enquanto
decorrência da contradição entre a posição marcadamente liberal do Estado frente às
questões trabalhistas e sociais e um movimento operário-sindical que assumia
importância crescente e se posicionava contra tal postura. Esta também é a época de
nascimento da legislação trabalhista brasileira.
Em 1923, é promulgada a Lei Elói Chaves que, para alguns autores,
pode ser definida como marco do início da Previdência Social no Brasil. No período
compreendido entre 1923 e 1930 surgem as Caixas de Aposentadoria e Pensões
(CAP's). As CAP’s eram organizadas por empresas, de natureza civil e privada,
responsáveis pelos benefícios pecuniários e serviços de saúde para os empregados
de empresas específicas. As CAP's eram financiadas com recursos dos empregados
e empregadores e administradas por comissões formadas de representantes da
empresa e dos empregados. Cabia ao poder público apenas a resolução de possíveis
conflitos.

Fonte: slideplayer.com

No modelo previdenciário dos anos 20 a assistência médica era vista


como atribuição fundamental do sistema, o que levava, inclusive, à organização de
serviços próprios de saúde. Caracteriza ainda este período, o elevado padrão de

7
despesa. Estas duas características serão profundamente modificadas no período
posterior.
Em relação às ações de saúde coletiva, promovidas por parte do Estado,
este período é marcado pelo surgimento do chamado "sanitarismo campanhista",
nascido da Reforma Carlos Chagas em 20/23. Este sanitarismo se pautava por uma
visão de combate às doenças de massa com forte concentração de decisões e com
estilo repressivo de "intervenção sobre os corpos individual e social". Alguns anos
antes, havia sido criado o departamento Nacional de Saúde Pública, responsável por
estas ações. O combate à febre amarela e gripe espanhola se deu dentro de tal
modelo.

Marco legal e Previdência Assistência à Saúde


político saúde coletiva
. Nascimento . CAP's - Assistência .
da legislação organizadas por médica como Sanitarismo
trabalhista empresa de natureza atribuição das CAP's campanhista
. Lei Elói civil e privada, através de serviços .
Chaves (1923) financiadas por próprios Departamento
empregados e Nacional de
empregadores Saúde
.
Reforma
Carlos
Chagas

4 O PERÍODO 30/45: AS PROPOSTAS DE CONTENÇÃO DE GASTOS E O


SURGIMENTO DAS AÇÕES CENTRALIZADAS DE SAÚDE PÚBLICA

Com a revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas, assumiu o poder uma
coalizão que trouxe, de forma destacada, a preocupação com o novo operariado
8
urbano. Este período foi marcado pela criação de órgãos e instrumentos que
legitimaram a ação sindical em moldes corporativos.
Do ponto de vista político, este período pode ser caracterizado por uma
profunda crise, marcado por greves de trabalhadores e manifestações populares,
principalmente entre os anos 30/35. A busca de aliados por parte do governo, que
tentava ampliar sua base de apoio, incluindo entre elas as classes trabalhadoras
urbanas, colocava em evidência o tema previdência social. Foi criado o Ministério do
Trabalho, aprofundou-se a legislação trabalhista, ao mesmo tempo em que havia
restrições e manipulações na esfera sindical.

Fonte: /www.youtube.com

Em relação à Previdência Social houve profundas modificações no que


se refere à organização e concepção. Do ponto de vista de concepção, a Previdência
era claramente definida enquanto seguro, privilegiando os benefícios e reduzindo a
prestação de serviços de saúde. Embora com algumas oscilações entre os institutos,
a legislação adotada entre 30 e 45 tentará diferenciar as atribuições de benefícios e
serviços de saúde. Estes passaram a serem entendidos como concessão, e não mais
atribuição específica, uma função provisória e secundária. Tal definição fez com
houvesse um profundo corte nas despesas com assistência médico-hospitalar.

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Do ponto de vista organizativo, este é um momento marcado pela
criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP's), entidades organizadas não
mais por empresas, mas por categorias profissionais. Diferentemente das CAP's, a
administração dos IAP's era bastante dependente do governo federal. O conselho de
administração, formado com participação de representantes de empregados e
empregadores, tinha uma função de assessoria e fiscalização e era dirigido por um
presidente, indicado diretamente pelo Presidente da República. Houve uma ampliação
da Previdência com a incorporação de novas categorias não cobertas pelas CAP's
anteriormente.
Caracterizaram esta época a participação do Estado no financiamento
(embora meramente formal) e na administração dos institutos, e um esforço ativo no
sentido de diminuir despesas, mais com a acumulação de reservas financeiras do que
com a ampla prestação de serviços. Isto fez com que os superávits dos institutos
constituíssem um respeitável patrimônio e um instrumento de acumulação nas mãos
do Estado. A Previdência passou a se configurar enquanto "sócia" do Estado nos
investimentos de interesse do governo.
Em relação às ações de saúde coletiva, esta foi a época do auge do
sanitarismo campanhista. Em 1937 foi criado o primeiro órgão de saúde de dimensão
nacional, o Serviço Nacional de Febre Amarela, em 39, o Serviço de Malária do
Nordeste, e em 40, o Serviço de Malária da Baixada Fluminense.
No período de 38/45 o Departamento Nacional de Saúde foi
reestruturado e dinamizado, articulando e centralizando as atividades sanitárias de
todo o país. Em 1942 foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), com
atuação voltada para as áreas não cobertas pelos serviços tradicionais.

Marco legal e Previdência Assistência à Saúde


político saúde coletiva
. Criação do . IAP's- . Corte nas . Auge do
Ministério do organizados por despesas médicas, sanitarismo
Trabalho categorias passando os serviços campanhista,
. CLT profissionais, com de saúde à categoria Serviço Nacional
de Febre

10
dependência do de concessão do Amarela, Serviço
governo federal sistema de Malária do
Nordeste e
SESP

5 O PERÍODO 45/66: A CRISE DO REGIME DE CAPITALIZAÇÃO E O


NASCIMENTO DO SANITARISMO DESENVOLVIMENTISTA

Fonte: image.slidesharecdn.com/

Este momento pode ser subdividido em duas fases do ponto de vista da


conjuntura política, para fins didáticos. A primeira, marcada pelo fim do Estado novo
e pela redemocratização do País. Foi o período do desenvolvimentismo, que levou a
um acelerado processo de urbanização e industrialização. Foi marcante no governo
Juscelino a visão de que a solução para os problemas sociais estava mais no
desenvolvimento do que nas questões sociais. O esgotamento do modelo populista
de relação entre o Estado e os trabalhadores foi-se acentuando, em associação com
o capital estrangeiro e a possibilidade de incorporar as demandas dos trabalhadores.
Uma segunda fase foi inaugurada com o golpe de 64, que estabeleceu
uma ruptura com os governos democráticos anteriores. O regime instalado teve como
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características o autoritarismo, com o fechamento dos canais de participação aos
trabalhadores, e um discurso de racionalidade técnica e administrativa, que repercutiu
nas ações de previdência e saúde.
As ações de previdência foram, então, caracterizadas pelo crescimento
dos gastos, elevação de despesas, diminuição de saldos, esgotamento de reservas e
déficits orçamentários. Isto levou a um processo de repartição simples, e não mais
capitalização como no período anterior. As explicações para tais mudanças podem
ser colocadas como resultantes de uma tendência natural (maior número de pessoas
recebendo benefícios, uma vez que esta foi a época de recebimento de benefícios
dos segurados incorporados no início do sistema); como também de mudanças de
posições da Previdência Social (desmontagem das medidas de contenção de gastos
dos anos 30/45; crescimento dos gastos com assistência médica, que sobe de 2,3%
em 1945 para 14,9% em 1966; crescimento dos gastos com benefícios, em função do
aumento dos beneficiários, de mudanças nos critérios de concessão de benefícios e
no valor médio destes).

Fonte: vertrabalhareestudarnoexterior.com

A legislação pós-45 foi marcada pela progressiva desmontagem das


medidas de cunho contencionista do período anterior. Na Constituição de 46 a
assistência sanitária foi incorporada à Previdência Social e em 53 foi promulgado o
"Regulamento Geral dos Institutos de Aposentadoria e Pensão", que formalizou a
responsabilidade dos mesmos com a assistência médica. A Lei Orgânica da

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Previdência Social (LOPS), promulgada em 1960, uniformizou os direitos dos
segurados de diferentes institutos, o que agravou as dificuldades financeiras
crescentes da previdência no período. Esta Lei pode ser considerada como um marco
da derrota do modelo contencionista anterior, estendendo para o conjunto dos
segurados um plano extremamente amplo de benefícios e serviços. Além da
assistência médica e dos benefícios pecuniários, a legislação se referia a habitação,
empréstimos e alimentação.
A uniformização dos benefícios alcançados com a LOPS, assim como a
extensão da Previdência Social aos trabalhadores rurais, através do Estatuto do
Trabalhador Rural, aprovado no governo João Goulart, não foram acompanhadas de
novas bases financeiras concretas para sua efetivação. Para fazer frente aos novos
gastos, a contribuição dos segurados foi progressivamente elevada. Em relação à
contribuição do Estado, a LOPS rompeu com o conceito de contribuição tripartite.
Cabia à União, a partir de então, apenas os gastos com administração e pessoal.

Fonte: //www.cdhmp.com.

Nessa mesma época, o Brasil passou a ser influenciado pelas ideias de


seguridade social que foram amplamente discutidas no cenário internacional ao final
da II Guerra Mundial, em contraposição ao conceito de seguro da época anterior. Ao
mesmo tempo, viveu-se um intenso processo de construção e compra de hospitais,
ambulatórios e equipamentos, por parte dos institutos, e de celebração de convênios
para prestação de assistência médico-hospitalar aos segurados.

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Com o golpe de 1964 e o discurso de racionalidade, eficácia e
saneamento financeiro, ocorreu a fusão dos IAP's, com a criação do Instituto Nacional
de Previdência Social (INPS). Este fato, ocorrido em 1966, marcou também a perda
de representatividade dos trabalhadores na gestão do sistema. A unificação
enfrentava resistências dos grupos privilegiados pelo antigo sistema corporativo. O
governo, no entanto, alegava que a centralização de recursos poderia ser a alternativa
para viabilizar o cumprimento do direito de assistência à saúde.
Com relação à assistência médica, houve um crescimento dos serviços
médicos próprios da previdência e dos gastos com assistência médica em geral, mas
persistia uma demanda elevada, agravada pelo fato deste direito ter sido estendido a
todos os segurados. Os serviços próprios continuavam a conviver com o setor privado
conveniado e contratado, também em expansão.
O sanitarismo desenvolvimentista, característico do período, teve sua
contribuição mais voltada para as discussões conceituais relacionadas à saúde. Os
sanitaristas da época estabeleceram relação entre saúde e economia e definiram a
saúde de um povo como o corolário do seu desenvolvimento econômico.

Fonte lideplayer.com.

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Podem ser apontados dois marcos desta época: o primeiro a criação da
Comissão de Planejamento e Controle das Atividades Médico-Sanitárias, com função
de elaborar o plano plurianual, integrando as atividades de saúde ao Plano Nacional
de Desenvolvimento; o segundo marco foi a realização da III Conferência Nacional de
Saúde, que além de discutir as propostas elaboradas pela comissão anteriormente
citada, sistematizou as propostas de descentralização e municipalização da saúde.
Em relação à organização de serviços, o fato mais marcante foi a criação
em 1956, do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERU), que tinha a
finalidade de organizar e executar os serviços de investigação e combate às principais
patologias evitáveis existentes no período, dentre elas a malária, leishmaniose,
doença de Chagas, peste, brucelose, febre amarela, esquistossomose, e outras
endemias existentes no país.

Marco legal e Previdência Assistência à Saúde


político saúde coletiva
. Constituição . Crescimento . Crescimento .
de 1946 dos gastos e dos serviços próprios Sanitarismo
. LOPS (1960) esgotamento de da Previdência desenvolviment
. Estatuto do reservas . Aumento dos ista
trabalhador rural . Incorporação gastos com a .
. Golpe de da assistência assistência médica Departamento
1964 sanitária à . Convivência Nacional de
. INPS (1966) Previdência com os serviços Endemias
. privados, em Rurais
Uniformização dos expansão (DNERU)
direitos dos
segurados

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6 O Período 1966/73: o acirramento da crise e a privatização da assistência médica

Foi um período marcado pelo crescente papel do Estado como regulador


da sociedade, e pelo alijamento dos trabalhadores do processo político, ao lado de
uma política de arrocho salarial decorrente do modelo de acumulação adotado.
A criação do INPS, citada anteriormente, inseriu-se na perspectiva
modernizadora da máquina estatal, aumentando o poder de regulação do Estado
sobre a sociedade e representando uma tentativa de desmobilização das forças
políticas estimuladas em períodos populistas anteriores. O rompimento com a política
populista não significou alteração em relação à política assistencialista anterior, ao
contrário, o Estado ampliou a cobertura da previdência aos trabalhadores domésticos
e trabalhadores rurais, além de absorver as pressões por uma efetiva cobertura
daqueles trabalhadores já beneficiados pela Lei LOPS. Excetuando os trabalhadores
do mercado informal de trabalho, todos os demais eram cobertos pela Previdência
Social. Em relação à assistência médica, observa-se um movimento ainda mais
expressivo de ampliação e cobertura.

Fonte: socialprevidencia.net/inp

Os gastos com assistência médica, que continuaram a crescer neste


período, chegaram a representar mais de 30% dos gastos totais do INPS em 76. A
Ênfase era dada à atenção individual, assistencialista e especializada, em detrimento
das medidas de saúde pública, de caráter preventivo e de interesse coletivo. Exemplo
de descaso com as ações coletivas e de prevenção foi a diminuição do orçamento do

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Ministério da Saúde, que chegou a representar menos que 1,0% dos recursos da
União.
Ocorreu uma progressiva eliminação da gestão tripartite das instituições
previdenciárias, até sua extinção em 70. Ao mesmo tempo, a "contribuição do estado"
se restringiu aos custos com a estrutura administrativa. A criação do INPS propiciou a
implementação de uma política de saúde que levou ao desenvolvimento do complexo
médico-industrial, em especial nas áreas de medicamentos e equipamentos médicos.
Ao mesmo tempo, e em nome da racionalidade administrativa, o INPS deu prioridade
à contratação de serviços de terceiros, em detrimento dos serviços próprios, decisão
que acompanhou a postura do governo federal como um todo. De 69 a 75 a
porcentagem de serviços comprados de terceiros representou cerca de 90% da
despesa do INPS.
A modalidade de compra de serviços adotada possibilitou o
superfaturamento por parte dos serviços contratados, com prejuízo do atendimento
médico prestado e colocando em risco o sistema financeiro da instituição. Para
aumentar o faturamento, estes serviços utilizavam os expedientes de multiplicação e
desdobramento de atos médicos, preferência por internações mais caras, ênfase em
serviços cirúrgicos, além da baixa qualidade do pessoal técnico e dos equipamentos
utilizados.
A expansão do complexo previdenciário criou uma nova modalidade de
atendimento, a medicina de grupo, estruturada a partir de convênios entre o INPS e
empresas, ficando estas com a responsabilidade pela atenção médica de seus
empregados. O convênio empresa foi a forma de articulação entre o Estado e o
empresariado que viabilizou o nascimento e o desenvolvimento do subsistema que
viria a se tornar hegemônico na década de 80, o da atenção médica supletiva.
Apesar das atribuições definidas pelo Decreto Lei 200/67 para o
Ministério da Saúde, com subordinação da assistência médica previdenciária à política
nacional de saúde, a prática mostrava um Ministério esvaziado em suas
competências. Foram incorporados a ele a Fundação SESP e a Fundação das
Pioneiras Sociais, dando início à autarquização do ministério, que acompanhava
processo similar da administração federal.
Por parte da saúde coletiva, as ações estavam dispersas num conjunto
de Ministérios como o da Agricultura, dos Transportes, do Trabalho, do Interior, da

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Educação, dentre outros, e internamente ao Ministério da Saúde, em um conjunto de
órgãos da administração direta e indireta.

Marco legal e Previdência Assistência à Saúde


político saúde coletiva
. AI-5 . . Aumento dos .Dispers
.Emenda Modernização gastos com saúde no a em vários
Constitucional nº 1 autoritária âmbito da ministérios e
. Ampliação de previdência em órgãos da
cobertura . Extensão de administração
previdenciária cobertura direta e indireta
. Ampliação do . Modelo de
complexo compra de serviços
previdenciário . Convênios
com medicina de
grupo
.
Autarquização do MS

7 O PERÍODO 74/79: CRISE, REFORMA E CONSOLIDAÇÃO DA REDE


PRIVADA EM SAÚDE

As alterações na conjuntura política, dos pontos de vista interno e externo,


forçaram o Estado a fortalecer a opção pela Seguridade Social, como forma de buscar
legitimidade, o que levou à intensificação do modelo, através do aumento crescente
de cobertura e ampliação de benefícios.

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Fonte: lideplayer.com

No ano de 1974, foram criados o Ministério da Previdência e Assistência


Social (MPAS) e o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS). A criação do
Ministério significou o fortalecimento das ações de previdência no interior do aparelho
estatal. A criação do FAS proporcionou a remodelação e a ampliação dos hospitais
da rede privada, através de empréstimos com juros subsidiados. A existência de
recursos para investimento e a criação de um mercado cativo de atenção médica para
os prestadores privados levou a um crescimento próximo de 500% no número de leitos
hospitalares privados no período 69/84, de tal forma que subiram de 74.543 em 1969
para 348.255 em 1984.
O II Plano Nacional de Desenvolvimento, elaborado no mesmo período,
consagrou a separação de ações de saúde coletiva e atenção médica, e reservou os
primeiros ao setor estatal e os segundos, via previdência social, ao setor privado. O
plano institucionalizou o modelo médico assistencial privativista e definiu
competências para as instituições públicas e privadas. Ocorreu uma autonomização
da política de assistência médica previdenciária, em função da revogação de parte
do Decreto Lei 200, que estabelecia a necessidade de sua obediência à política
nacional de saúde.
A falta de controle sobre os serviços contratados criou condições para
que a corrupção atingisse, em 1974, níveis que ameaçavam o equilíbrio financeiro da

19
previdência. Foram definidos, então, mecanismos de enfrentamento da crise, com o
objetivo de controlar as distorções do modo vigente, criando condições que
possibilitassem a continuidade da expansão, sem alterar substancialmente o mesmo.
Foram definidos mecanismos de controle ao setor contratado, através da criação da
Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV), da
ampliação dos convênios (convênios com sindicatos, universidades, prefeituras,
governos estaduais, dentre outros) e da normatização e criação de novos mecanismos
institucionais de relação público-privado e entre esferas de governo. Dentre estes,
merece destaque o Plano de Pronta Ação (PPA) e o Sistema Nacional de Previdência
Social (SINPAS). O PPA tinha como objetivo desburocratizar o atendimento dos casos
de emergência, o que levou à universalização do atendimento das mesmas. Foram
estabelecidas formas de relacionamento através de contratos, com pagamento de
serviços prestados e convênios, com repasse de subsídios fixos. O PPA teve
importância em virtude do início da universalização do atendimento com recursos
previdenciários e por remunerar instituições estatais.
A criação do SINPAS tinha como objetivo disciplinar a concessão e
manutenção de benefícios e prestação de serviços, o custeio de atividades e
programas, a gestão administrativa, financeira e patrimonial da previdência. Foram
criados o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e
o Instituto de Arrecadação da Previdência Social – (IAPAS), além de integrar os
órgãos já existentes. A criação do SINPAS pode ser compreendida no processo de
crescente tendência à universalização e à adoção do modelo de Seguridade Social.

Fonte: n-brasil-dossiedacorr

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Neste período foram definidas as bases que permitiram a hegemonia na
década de 70, do modelo assistencial privativista. De acordo com Mendes, este
modelo se assenta no seguinte tripé:
(a) o Estado como financiador do sistema, através da Previdência Social;
(b) o setor privado nacional como maior prestador de serviços de assistência
médica;
(c) o setor privado internacional como mais significativo produtor de insumos,
em especial equipamentos médicos e medicamentos.
Em relação às ações de saúde coletiva, percebeu-se uma coincidência
entre as propostas internacionais de cuidados primários em saúde, decorrentes da
Conferência de Alma-Ata, da qual o Brasil é um dos signatários, e a necessidade
interna de desenvolver e expandir cobertura para contingentes populacionais
excluídos pelo modelo previdenciário.
Tendo como referência as experiências em vigor, as recomendações
internacionais e a necessidade de expandir cobertura, em 1976 iniciou-se o Programa
de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS). Concebido na
Secretaria de Planejamento da Presidência da República, o PIASS se configurou
como o primeiro programa de medicina simplificada do nível federal e permitia a
entrada de técnicos provenientes do "movimento sanitário" no interior do aparelho de
Estado. O programa concentrou suas ações nas Secretarias Estaduais de Saúde, que
adotaram modelos desconcentrados. Em 1979 foi estendido a todo território nacional,
o que resultou numa grande expansão da rede ambulatorial pública.
Esta época pode ser definida como o início do movimento contra
hegemônico que, nos anos 80, viria a se conformar como o projeto da Reforma
Sanitária Brasileira. Em todo o País surgiram movimentos de trabalhadores de saúde.
Foram criados o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES) e a Associação
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), que participaram do
processo de sistematização das propostas de mudança do modelo de saúde em vigor.
Aconteceram também os primeiros encontros de secretários municipais de saúde,
alimentando um incipiente, mas crescente, movimento municipalista em saúde.

21
Marco legal e Previdência Assistência à Saúde
político saúde coletiva
- II PND - SINPAS - Remodelação e - Cuidados
- MPAS - Disciplina ampliação dos primários
- FAS concessão de hospitais da rede em saúde
benefícios, privada (Alma-Ata)
prestação de - Criação do - PIASS
serviços e INAMPS - CEBES
administração da - Separação das - ABRASC
previdência ações de saúde O
pública e
assistência

8 A DÉCADA DE 80: ECLOSÃO DA CRISE ESTRUTURAL E A CONSOLIDAÇÃO


DAS PROPOSTAS REFORMADORAS

O Brasil vivia um quadro político e econômico marcado por dificuldades


no panorama nacional e internacional, caracterizado por um processo inflacionário e
por uma crise fiscal sem controle, ao lado do crescimento dos movimentos
oposicionistas e de divisões internas nas forças que apoiavam o regime. A derrota do
governo nas eleições de 1982, agregada ao crescimento do processo recessivo,
quebrou as coesão interna do regime, determinando um redesenho de seus pactos.
Teve início neste momento os movimentos em direção ao processo de
redemocratização do País. Os anos 80/83 foram um período de eclosão de três crises:
(a) a crise ideológica;
(b) a crise financeira;
(c) a crise político-institucional.

22
Fonte: c-de.blogspot.com

A crise ideológica se caracterizou pela necessidade de reestruturação e


ampliação dos serviços de saúde. Inspirados pelas experiências anteriormente
relatadas e pela repercussão interna da Conferência de Alma-Ata, onde os países
participantes reconheceram a atenção primária e a participação comunitária como
estratégias para a conquista da meta de "Saúde para todos no ano 2.000", foi
formulado o PREV-SAÚDE. Este projeto incorporou os pressupostos de
hierarquização, participação comunitária, integração de serviços, regionalização e
extensão de cobertura. A discussão do projeto fez eclodir uma divisão profunda entre
a equipe responsável pelo mesmo e alguns setores interessados na questão saúde,
principalmente a Federação Brasileira de Hospitais. Isto fez com que surgissem
versões diferentes do PREV-SAÚDE, e que o mesmo tenha sido caracterizado como
"natimorto", não chegando a ser implementado.

23
Fonte: mapio.net/pic/p

A crise financeira foi decorrente do déficit crescente desde 1980. Em


contradição com um sistema em franca expansão, a base de financiamento
continuava sem qualquer alteração. Havia um desacordo entre a crescente absorção
de faixas cada vez mais extensas da população cobertas pela proteção social, e a
manutenção de um regime financeiro calcado na relação contratual.
Ao lado da restrição das fontes de financiamento, com ausência do
Estado no financiamento da previdência, e da expansão de cobertura, o modelo de
privilegiamento dos produtores privados de serviços de saúde implantado era
corruptor, incontrolável e sofisticado, o que o tornava extremamente oneroso. Isto
levou a propostas de contenção de despesas, especialmente da assistência médica.
A crise político-institucional foi marcada pela criação do Conselho
Consultivo da Administração de Saúde Previdenciária (CONASP), em 1981, com o
objetivo de "operar sobre a organização e o aperfeiçoamento da assistência médica,
sugerir critérios de alocação de recursos previdenciários para este fim, recomendar
políticas de financiamento e de assistência à saúde, analisar e avaliar a operação e o
controle da Secretaria de Assistência Médica da Previdência Social".
O CONASP era composto por representantes de diferentes ministérios,
por representantes da sociedade civil, e de parte dos prestadores de serviços de
saúde contratados/conveniados. As propostas, de inspiração nacionalizadora,
visando cortar custos, tinham no documento " Reorganização da Assistência Médica

24
no Âmbito da Previdência Social", formulado em 1982, sua maior expressão. O
documento recuperou propostas anteriormente colocadas pelo PREV-SAÚDE, no
sentido da hierarquização, regionalização, descentralização, integração de serviços,
dentre outros. Propunha mudanças na sistemática de pagamentos, introduziu novos
mecanismos de auditoria técnica e tinha a proposta da plena utilização da capacidade
instalada dos serviços públicos de saúde, incluindo os estaduais e municipais.

Fonte: //www.prevsaude.scania.com

Ao lado das propostas nacionalizadoras do CONASP, cresciam os


movimentos reformadores da saúde, e o movimento oposicionista no País. Em 1982
foram eleitos vários prefeitos comprometidos com as propostas de descentralização,
o que levou a bem sucedidas experiências municipais de atenção à saúde.
A proposta do CONASP foi consubstanciada nas Ações Integradas de
Saúde (AIS), que podem ser divididas em dois momentos: um anterior e outro
posterior à Nova República. Mais do que um programa dentro do INAMPS e das
Secretarias de Saúde, as AIS's passaram da estratégia setorial para a reforma da
política de saúde.

Em 1984, eram destinados às AIS's 4% do orçamento do INAMPS passando


para 12% em 1986. Ao lado do aumento de recursos destinados ao setor público,
merecem destaque a universalização no uso de recursos previdenciários e a
incorporação de novos atores na disputa pelos mesmos. Em 88 as AIS's abrangiam
todos os estados e 2.500 dos pouco mais de 4.000 municípios então existentes.

25
No governo da Nova República, a proposta das AIS's foi fortalecida e
este fortalecimento passou pela valorização das instâncias de gestão colegiada, com
participação de usuários dos serviços de saúde.

Fonte: slideplayer.com

Em 1986, foi realizada em Brasília a VIII Conferência Nacional de Saúde


(CNS), com ampla participação de trabalhadores, governos, usuários e parte dos
prestadores de serviços de saúde. Precedida de conferências municipais e estaduais,
a VIII CNS significou um marco na formulação das propostas de mudança no setor de
saúde, consolidadas na Reforma Sanitária Brasileira. Seu documento final sistematiza
o processo de construção de um modelo reformador para a saúde, que é definida
como: " resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio
ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e
acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de
organização social da produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de
vida". Este documento serviu de base para as negociações na Assembleia Nacional
Constituinte, que se reuniria logo após.
Paralelo ao processo de elaboração da Constituição Federal, uma outra
iniciativa de reformulação do sistema foi implementada, o Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS). Idealizado enquanto estratégia de transição em
direção ao SUS, propunha a transferência dos serviços do INAMPS para estados e

26
municípios. O SUDS pode ser percebido como uma estadualização de serviços. O seu
principal ganho foi a incorporação dos governadores de estado no processo de disputa
por serviços previdenciários. Contudo, a estadualização, em alguns casos, levou à
retração de recursos estaduais para a saúde e à apropriação de recursos federais
para outras ações, além de possibilitar a negociação clientelista com os municípios.
Enquanto resultante dos embates e das diferentes propostas em relação
ao setor de saúde presentes na Assembleia Nacional Constituinte, a Constituição
Federal de 1988 aprovou a criação do SUS, reconhecendo a saúde como um direito
a ser assegurado pelo Estado e pautado pelos princípios de universalidade, equidade,
integralidade e organizado de maneira descentralizada, hierarquizada e com
participação da população.

Marco legal e Previdência Assistência à Saúde


político saúde coletiva
- Redemocratizaçã - PREV-SAÚDE - Crescimento da - Criação do
o - CONASP medicina SUS
- Nova República - Seguridade Social supletiva - Formaliza
- Constituição de - Universalização ção do
1988 - AIS conceito
- Lei Orgânica da - VIII CNS amplo de
Saúde - SUDS saúde
- SUS

9 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

9.1 PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS E ORGANIZATIVOS

27
Fonte: /image.slidesharecdn.com

A primeira e maior novidade do SUS é seu conceito de saúde. Este "conceito


ampliado de saúde", resultado de embates teóricos e políticos, como foi visto
anteriormente, trouxe com ele um diagnóstico das dificuldades que o setor saúde
enfrentou historicamente, e a certeza de que a reversão deste quadro extrapolava
limites restritivos da noção vigente. Encarar saúde apenas como ausência de
doenças, nos legou um quadro repleto não só das próprias doenças, como de
desigualdades, insatisfação dos usuários, exclusão, baixa qualidade e falta de
comprometimento profissional.
Para enfrentar esta situação era necessário transformar a concepção de
saúde, de serviços de saúde, e até mesmo de sociedade. Uma coisa era se deparar
com a necessidade de abrir unidades, contratar profissionais, comprar medicamentos.
Outra tarefa era conceber a atenção à saúde como um projeto que iguala saúde com
condições de vida. O direito à saúde, nesta visão, se confunde com o direito à vida.
Este conceito ampliado, ao definir os elementos condicionantes da saúde, incorpora:
. Meio físico (condições geográficas, água, alimentação, habitação, etc.)
. Meio socioeconômico (emprego, renda, educação, alimentação,
educação, hábitos, etc.)
. A garantia de acesso aos serviços de saúde responsáveis pela
promoção, proteção e recuperação da saúde.

28
Ou seja, para se ter saúde é preciso possuir um conjunto de fatores,
como alimentação, moradia, emprego, lazer, educação, etc. A saúde se expressa
como um retrato das condições de vida. Por outro lado, a ausência de saúde não se
relaciona apenas com a inexistência ou a baixa qualidade dos serviços de saúde, mas
com todo este conjunto de determinantes.

Fonte: ://www.abrasco.org.br

A saúde precisa, desta forma, incorporar novas dimensões e se torna


responsável por conquistas que, até então, se colocavam externas a ela. O sistema
de saúde deve se relacionar com todas as forças políticas que caminhem na mesma
direção, como a defesa do meio ambiente, o movimento contra a fome, as
manifestações pela cidadania, contra a violência no trânsito, pela reforma agrária, etc.
O SUS, ao abraçar este conceito, pressupõe ainda a democratização interna da
gestão dos serviços e dos sistemas de saúde, como um elemento a mais no
movimento de construção da cidadania.
Antes de entrar na doutrina e nos princípios organizativos do SUS, é
importante frisar dois aspectos. Em primeiro lugar o SUS faz parte das ações definidas
na Constituição como sendo de "relevância pública", ou seja, é atribuído ao poder
público a regulamentação, a fiscalização e o controle das ações e serviços de saúde,
independente da execução direta dos mesmos.
29
Fonte: ://blog.abramge.com.br

De acordo com Flávio Andrade Goulart, "as competências decorrentes da


relevância pública envolvem, certamente, o exercício de um poder regulador, de
arbitragem e de intervenção executiva por parte das esferas do poder público e, por
consequência, de suas agências de prestação de serviços". Este poder público pode
ser traduzido como autoridade e responsabilidade sanitárias. Em segundo lugar, a
saúde faz parte de um sistema mais amplo, o Sistema da Seguridade Social. De
acordo com o artigo 194 da Constituição, "a Seguridade Social compreende um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade
destinada a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social".
Ao lado do conceito ampliado de saúde, o SUS traz dois outros conceitos
importantes, o de sistema e a ideia de unicidade. A noção de sistema significa que
não estamos falando de um novo serviço ou órgão público, mas de um conjunto de
várias instituições, dos três níveis de governo e do setor privado contratado e
conveniado, que interagem para um fim comum. Na lógica do sistema público, os
serviços contratados e conveniados são seguidores dos mesmos princípios e das
mesmas normas do serviço público. Os elementos integrantes do sistema referem-se
ao mesmo tempo às atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde.

30
Este sistema é único, ou seja, deve ter a mesma doutrina e a mesma
forma de organização em todo o país. Mas, é preciso compreender bem esta ideia de
unicidade. Num país com tamanha diversidade cultural, econômica e social como o
Brasil, pensar em organizar um sistema sem levar em conta estas diferenças seria
uma temeridade.

Fonte: pt.slideshare.net/Regomes1/s

O que é definido como único na Constituição é um conjunto de elementos


doutrinários e de organização de sistema de saúde, os princípios da universalização,
da equidade, da integralidade, da descentralização e da participação popular. Estes
elementos se relacionam com as peculiaridades e determinações locais, através de
formas previstas de aproximação da gerência aos cidadãos, seja com a
descentralização político-administrativa, seja através do controle social do sistema.
O SUS pode então ser entendido a partir da seguinte imagem: um núcleo
comum (único), que concentra os princípios doutrinários, e uma forma de organização
e operacionalização, os princípios organizativos.

10 PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS

31
Fonte: soumaissus.blogspot.com

10.1 Universalização

Historicamente quem tinha direito à saúde no Brasil eram apenas os


trabalhadores segurados do INPS e depois do INAMPS. Com o SUS isto é diferente,
pois a saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas e cabe ao Estado
assegurar este direito. Neste sentido, o acesso às ações e serviços deve ser garantido
a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação, ou outras
características sociais ou pessoais. O SUS foi implantado com a responsabilidade de
tornar realidade este princípio.

10.2 Equidade

O objetivo da equidade é diminuir desigualdades. Mas isto não significa


que a equidade seja sinônimo de igualdade. Apesar de todos terem direito aos
serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades diferentes.
Equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência
32
é maior. Para isso, a rede de serviços deve estar atenta às necessidades reais da
população a ser atendida. A equidade é sinônimo de justiça social.

10.3 Integralidade

O princípio da integralidade significa considerar a pessoa como um todo,


atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração de
ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a
reabilitação. Ao mesmo tempo, o princípio da integralidade pressupõe a articulação
da saúde com outras políticas públicas, como forma de assegurar uma atuação
intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade
de vida dos indivíduos.

11 PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS

Para organizar o SUS, a partir dos princípios doutrinários apresentados


e levando-se em consideração a ideia de seguridade social e relevância pública,
existem algumas diretrizes que orientam o processo. Na verdade, tratam-se de formas
de concretizar o SUS na prática.

11.1 Regionalização e Hierarquização

A regionalização e a hierarquização de serviços significa que os serviços


devem ser organizados em níveis crescentes de complexidade, circunscritos a uma
determinada área geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos, e com
definição e conhecimento da clientela a ser atendida. Como se trata aqui de
"princípios", de indicativos, este conhecimento é muito mais uma perspectiva de
atuação do que uma delimitação rígida de regiões, clientelas e serviços.
A regionalização é, na maioria das vezes, um processo de articulação
entre os serviços já existentes, buscando o comando unificado dos mesmos. A
hierarquização deve, além de proceder a divisão de níveis de atenção, garantir formas
de acesso a serviços que componham toda a complexidade requerida para o caso, no
limite dos recursos disponíveis numa dada região. Deve Aída incorporar-se à rotina

33
de acompanhamento dos serviços, com fluxos de encaminhamento (referência) e de
retorno de informações ao nível básico do serviço (contra referência). Estes caminhos
somam à integralidade da atenção com o controle e a racionalidade dos gastos no
sistema.

https://www.youtube.com

11.2 Descentralização e Comando único

Descentralizar é redistribuir poder entre os níveis de governo. Na saúde,


a descentralização tem como objetivo prestar serviços com maior qualidade e garantir
o controle e a fiscalização pelos cidadãos. Quanto mais perto tiver a decisão, maior a
chance de acerto. No SUS a responsabilidade pela saúde deve ser descentralizada
até o município. Isto significa dotar o município de condições gerenciais, técnicas,
administrativas e financeiras para exercer esta função.
A decisão deve ser de quem executa, que deve ser o que está mais
perto do problema. A descentralização, ou municipalização, é uma forma de aproximar
o cidadão das decisões do setor e significa a responsabilização do município pela
saúde de seus cidadãos. É também uma forma de intervir na qualidade dos serviços
prestados.

34
Para fazer valer o princípio da descentralização, existe a concepção
constitucional do mando único. Cada esfera de governo é autônoma e soberana nas
suas decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da
sociedade. Assim, a autoridade sanitária do SUS é exercida na União pelo ministro da
saúde, nos estados pelos secretários estaduais de saúde e nos municípios pelos
secretários ou chefes de departamentos de saúde. Eles são também conhecidos
como “gestores” do sistema de saúde.

Fonte: slideplayer.com.

11.3 Participação Popular

O SUS foi fruto de um amplo debate democrático. Mas a participação da


sociedade não se esgotou nas discussões que deram origem ao SUS. Esta
democratização também deve estar presente no dia-a-dia do sistema. Para isto,
devem ser criados Conselhos e as Conferências de Saúde, que tem como função
formular estratégias, controlar e avaliar a execução da política de saúde.
Os Conselhos de Saúde, que devem existir nos três níveis de governo,
são órgãos deliberativos, de caráter permanente, compostos com a representatividade

35
de toda a sociedade. Sua composição deve ser paritária, com metade de seus
membros representando os usuários e a outra metade, o conjunto composto por
governo, trabalhadores da saúde e prestadores privados. Os conselhos devem ser
criados por lei do respectivo âmbito de governo, onde serão definidas a composição
do colegiado e outras normas de seu funcionamento,
As Conferências de Saúde são fóruns com representação de vários
segmentos sociais que se reúnem para propor diretrizes, avaliar a situação da saúde
e ajudar na definição da política de saúde. Devem ser realizadas em todos os níveis
de governo.

Fonte: www.enfermagemnovidade.com.

Um último aspecto que merece destaque é o da complementaridade do


setor privado. Este princípio se traduz nas condições sob as quais o setor privado
deve ser contratado, caso o setor público se mostre incapaz de atender a demanda
programada. Em primeiro lugar, entre os serviços privados devem ter prioridade os
não lucrativos ou filantrópicos. Para a celebração dos contratos deverão ser seguidas
as regras do direito público. Em suma, trata-se de fazer valer, na contratação destes
serviços, a lógica do público e as diretrizes do SUS. Todo serviço privado contratado
passa a seguir as determinações do sistema público, em termos de regras de
funcionamento, organização e articulação com o restante da rede. Para a contratação
de serviços, os gestores deverão proceder a licitação, de acordo com a Lei Federal nº
8666/93.

36
A criação do SUS, feita pela Constituição Federal, foi posteriormente
regulamentada através das Leis 8080/90, conhecida como Lei Orgânica, e 81421/90.
Estas leis definem as atribuições dos diferentes níveis de governo com a saúde;
estabelecem responsabilidades nas áreas de vigilância sanitária, epidemiológica e
saúde do trabalhador; regulamentam o financiamento e os espaços de participação
popular; formalizam o entendimento da saúde como área de “relevância pública” e a
relação do poder público com as entidades privadas com base nas normas do direito
público. Dentre outros vários princípios fundamentais do SUS.

Fonte: fs.unb.br/portfolio

Outros instrumentos têm sido utilizados para possibilitar a operacionalização


do Sistema, dentre eles as Normas Operacionais Básicas do Sistema Único de Saúde,
publicadas pelo Ministério da Saúde, sob forma de portaria.

12 O SUS É UM DIREITO DE TODOS:

37
É universal porque deve atender a todos, sem distinções, de acordo com suas
necessidades; e sem cobrar nada, sem levar em conta o poder aquisitivo ou se a
pessoa contribui ou não com a Previdência Social.
É integral, pois a saúde da pessoa não pode ser dividida e, sim, deve ser
tratada como um todo. Isso quer dizer que as ações de saúde devem estar voltadas,
ao mesmo tempo, para a pessoa e para a comunidade, para a prevenção e para o
tratamento, sempre respeitando a dignidade humana.

Fonte: www.lappis.org.br/

Garante equidade, pois deve oferecer os recursos de saúde de acordo com as


necessidades de cada um; dar mais para quem mais precisa.
É descentralizado, pois quem está próximo dos cidadãos tem mais chances de
acertar na solução dos problemas de saúde. Assim, todas as ações e serviços que
atendem a população de um município devem ser municipais; as que servem e
alcançam vários municípios devem ser estaduais e aquelas que são dirigidas a todo
o território nacional devem ser federais. O SUS tem um gestor único em cada esfera
de governo. A Secretaria Municipal de Saúde, por exemplo, tem que ser responsável
por todos os serviços localizados na cidade.
É regionalizado e hierarquizado: as questões menos complexas devem ser
atendidas nas unidades básicas de saúde, passando pelas unidades especializadas,
pelo hospital geral até chegar ao hospital especializado.

38
13 DIREITO À SAÚDE

O Direito à saúde é parte de um conjunto de direitos chamados de direitos


sociais, que têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. No Brasil
este direito apenas foi reconhecido na Constituição Federal de 1988, antes disso o
Estado apenas oferecia atendimento à saúde para trabalhadores com carteira
assinada e suas famílias, as outras pessoas tinham acesso a estes serviços como um
favor e não como um direito. Durante a Constituinte de 1988 as responsabilidades do
Estado são repensadas e promover a saúde de todos passa a ser seu dever:

Fonte: //dc.clicrbs.com.br/
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e
recuperação”.
Constituição Federal de 1988, artigo 196.
Este artigo não deve ser lido apenas como uma promessa ou uma declaração
de intenções, este é um direito fundamental do cidadão que tem aplicação imediata,
isto é, pode e deve ser cobrado. A saúde é um direito de todos por que sem ela não
há condições de uma vida digna, e é um dever do Estado por que é financiada pelos
impostos que são pagos pela população. Desta forma, para que o direito à saúde seja
uma realidade, é preciso que o Estado crie condições de atendimento em postos de
39
saúde, hospitais, programas de prevenção, medicamentos, etc., e além disto é preciso
que este atendimento seja universal (atingindo a todos os que precisam) e integral
(garantindo tudo o que a pessoa precise).

Fonte: /cebes.org.br/

A criação do SUS (Sistema Único de Saúde) está diretamente relacionada a


tomada de responsabilidade por parte do Estado. A ideia do SUS é maior do que
simplesmente disponibilizar postos de saúde e hospitais para que as pessoas possam
acessar quando precisem, a proposta é que seja possível atuar antes disso, através
dos agentes de saúde que visitam frequentemente as famílias para se antecipar os
problemas e conhecer a realidade de cada família, encaminhando as pessoas para os
equipamentos públicos de saúde quando necessário. Desta forma, organizado com o
objetivo de proteger, o SUS deve promover e recuperar a saúde de todos os
brasileiros, independente de onde moram, se trabalham e quais os seus sintomas.
Infelizmente este sistema ainda não está completamente organizado e ainda existem
muitas falhas, no entanto, seus direitos estão garantidos e devem ser cobrados para
que sejam cumpridos.

40
13.1 São seus direitos:

Fonte: www.conferenciamunicipal2015.saude.salvador.ba.gov.br

Ter acesso ao conjunto de ações e serviços necessários para a promoção, a


proteção e a recuperação da sua saúde.
Ter acesso gratuito aos medicamentos necessários para tratar e restabelecer
sua saúde.
Ter acesso ao atendimento ambulatorial em tempo razoável para não prejudicar
sua saúde. Ter à disposição mecanismos ágeis que facilitem a marcação de consultas
ambulatoriais e exames, seja por telefone, meios eletrônicos ou pessoalmente.
Ter acesso a centrais de vagas ou a outro mecanismo que facilite a internação
hospitalar, sempre que houver indicação, evitando que, no caso de doença ou
gravidez, você tenha que percorrer os estabelecimentos de saúde à procura de um
leito.
Ter direito, em caso de risco de vida ou lesão grave, a transporte e atendimento
adequado em qualquer estabelecimento de saúde capaz de receber o caso,
independente de seus recursos financeiros. Se necessária, a transferência somente
poderá ocorrer quando seu quadro de saúde tiver estabilizado e houver segurança
para você.
Ser atendido, com atenção e respeito, de forma personalizada e com
continuidade, em local e ambiente digno, limpo, seguro e adequado para o
atendimento.
41
Ser identificado e tratado pelo nome ou sobrenome e não por números, códigos
ou de modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso.
Ser acompanhado por pessoa indicada por você, se assim desejar, nas
consultas, internações, exames pré-natais, durante trabalho de parto e no parto. No
caso das crianças, elas devem ter no prontuário a relação de pessoas que poderão
acompanhá-las integralmente durante o período de internação.
Identificar as pessoas responsáveis direta e indiretamente por sua assistência,
por meio de crachás visíveis, legíveis e que contenham o nome completo, a profissão
e o cargo do profissional, assim como o nome da instituição.
Ter autonomia e liberdade para tomar as decisões relacionadas à sua saúde e
à sua vida; consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e com adequada informação
prévia, procedimentos diagnósticos, terapêuticos ou outros atos médicos a serem
realizados.
Se você não estiver em condição de expressar sua vontade, apenas as
intervenções de urgência, necessárias para a preservação da vida ou prevenção de
lesões irreparáveis, poderão ser realizadas sem que seja consultada sua família ou
pessoa próxima de confiança. Se, antes, você tiver manifestado por escrito sua
vontade de aceitar ou recusar tratamento médico, essa decisão deverá ser respeitada.
Ter liberdade de escolha do serviço ou profissional que prestará o atendimento
em cada nível do sistema de saúde, respeitada a capacidade de atendimento de cada
estabelecimento ou profissional.
Ter, se desejar, uma segunda opinião ou parecer de outro profissional ou
serviço sobre seu estado de saúde ou sobre procedimentos recomendados, em
qualquer fase do tratamento, podendo, inclusive, trocar de médico, hospital ou
instituição de saúde.
Participar das reuniões dos conselhos de saúde; das plenárias das
conferências de saúde; dos conselhos gestores das unidades e serviços de saúde e
outras instâncias de controle social que discutem ou deliberam sobre diretrizes e
políticas de saúde gerais e específicas.

42
Fonte: www.brumadoverdade.com.br/

Ter acesso a informações claras e completas sobre os serviços de saúde


existentes no seu município. Os dados devem incluir endereços, telefones, horários
de funcionamento, mecanismos de marcação de consultas, exames, cirurgias,
profissionais, especialidades médicas, equipamentos e ações disponíveis, bem como
as limitações de cada serviço.
Ter garantida a proteção de sua vida privada, o sigilo e a confidencialidade de
todas as informações sobre seu estado de saúde, inclusive diagnóstico, prognóstico
e tratamento, assim como todos os dados pessoais que o identifiquem, seja no
armazenamento, registro e transmissão de informações, inclusive sangue, tecidos e
outras substâncias que possam fornecer dados identificáveis. O sigilo deve ser
mantido até mesmo depois da morte. Excepcionalmente, poderá ser quebrado após
sua expressa autorização, por decisão judicial, ou diante de risco à saúde dos seus
descendentes ou de terceiros.
Ser informado claramente sobre os critérios de escolha e seleção ou
programação de pacientes, quando houver limitação de capacidade de atendimento
do serviço de saúde. A prioridade deve ser baseada em critérios médicos e de estado
de saúde, sendo vetado o privilégio, nas unidades do SUS, a usuários particulares ou
conveniados de planos e seguros saúde.

43
Fonte: //www.redehumanizasus

Receber informações claras, objetivas, completas e compreensíveis sobre seu


estado de saúde, hipóteses diagnósticas, exames solicitados e realizados,
tratamentos ou procedimentos propostos, inclusive seus benefícios e riscos, urgência,
duração e alternativas de solução. Devem ser detalhados os possíveis efeitos
colaterais de medicamentos, exames e tratamentos a que será submetido. Suas
dúvidas devem ser prontamente esclarecidas.
Ter anotado no prontuário, em qualquer circunstância, todas as informações
relevantes sobre sua saúde, de forma legível, clara e precisa, incluindo medicações
com horários e dosagens utilizadas, risco de alergias e outros efeitos colaterais,
registro de quantidade e procedência do sangue recebido, exames e procedimentos
efetuados. Cópia do prontuário e quaisquer outras informações sobre o tratamento
devem estar disponíveis, caso você solicite.
Receber as receitas com o nome genérico dos medicamentos prescritos,
datilografadas, digitadas ou escritas em letra legível, sem a utilização de códigos ou
abreviaturas, com o nome, assinatura do profissional e número de registro no órgão
de controle e regulamentação da profissão.
Conhecer a procedência do sangue e dos hemoderivados e poder verificar,
antes de recebê-los, o atestado de origem, sorologias efetuadas e prazo de validade.
Ser prévia e expressamente informado quando o tratamento proposto for
experimental ou fizer parte de pesquisa, o que deve seguir rigorosamente as normas
de experimentos com seres humanos no país e ser aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) do hospital ou instituição.

44
Não ser discriminado nem sofrer restrição ou negação de atendimento, nas
ações e serviços de saúde, em função da idade, raça, gênero, orientação sexual,
características genéticas, condições sociais ou econômicas, convicções culturais,
políticas ou religiosas, do estado de saúde ou da condição de portador de patologia,
deficiência ou lesão preexistente.
Ter um mecanismo eficaz de apresentar sugestões, reclamações e denúncias
sobre prestação de serviços de saúde inadequados e cobranças ilegais, por meio de
instrumentos apropriados, seja no sistema público, conveniado ou privado.
Recorrer aos órgãos de classe e conselhos de fiscalização profissional visando
a denúncia e posterior instauração de processo ético-disciplinar diante de possível
erro, omissão ou negligência de médicos e demais profissionais de saúde durante
qualquer etapa do atendimento ou tratamento.

14 FUNCIONAMENTO DO SUS

O SUS é organizado para se antecipar aos problemas de saúde ou tentar


solucioná-los o quanto antes e o mais perto possível da população. Desta forma, o
antigo modelo no qual o paciente com problemas de saúde deveria se dirigir ao
hospital está, aos poucos, sendo substituído por um modelo no qual os agentes de
saúde entram em contato com a população e encaminham as pessoas para consultas
na Unidade Básica de Saúde mais próxima.

15 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA – PSF

45
Fonte: /amorordemeprogresso.blogspot.com.br

O Programa Saúde da Família é a base na qual o SUS opera, nele as regiões


da cidade são divididas em áreas que abarquem cerca de 4500 pessoas, todos os
moradores são cadastrados e seus históricos de saúde levantados. Para cada área é
designada uma equipe responsável, ela será formada por:
1 médico (a) generalista (clínico-geral),
1 enfermeiro (a),
1 auxiliar de enfermagem, entre 4 e 6 agentes comunitários de saúde, outros
profissionais - como dentistas, assistentes sociais e psicólogos - poderão ser
incorporados às equipes ou formar equipes de apoio, de acordo com as necessidades
e possibilidades locais.
Nesta estrutura uma figura chave para organizar e intermediar o acesso da
população aos serviços de saúde é o Agente Comunitário de Saúde. No primeiro
momento ele é o responsável pelo cadastramento da população, levantando
informações sobre quem são e onde estão os possíveis pacientes da região onde
atua, sempre ficando atento para casos que demandam maior atenção como
gestantes, idosos, doentes crônicos, etc. Depois de feito o cadastramento o agente
continua visitando aquelas famílias periodicamente, e quando identifica alguma
doença avisa aos demais profissionais da equipe e agenda consultas, que são
realizadas na Unidade Básica de Saúde. Em casos especiais como idosos em
situação de abandono ou pacientes com dificuldade de locomoção o restante da

46
equipe (auxiliar de enfermagem, enfermeiro e médico) pode se deslocar até a casa do
paciente.

Fonte: menpsusce.blogspot.com.br

Nas Unidades Básicas de Saúde é feito o atendimento da maior parte dos


problemas identificados pelos agentes, e a equipe busca solucionar os casos mais
simples ali mesmo ou encaminha-los para os ambulatórios de especialidades. Casos
de doenças graves que necessitam de equipamentos e especialistas são
encaminhados para os Hospitais.

16 SERVIÇOS DO SUS

Na rede credenciada é possível ter acesso aos medicamentos para as doenças


mais comuns entre os cidadãos. O Programa possui uma rede própria de Farmácias
Populares e a parceria com farmácias e drogarias da rede privada, chamada de Aqui
tem Farmácia Popular.

Melhor em Casa - Assistência Domiciliar

Pessoas com necessidade de reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos


sem agravamento ou em situação pós-cirúrgica, por exemplo, terão assistência

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multiprofissional gratuita em seus lares, com cuidados mais próximos da família. O
atendimento será feito por equipes multidisciplinares, formadas prioritariamente por
médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e fisioterapeuta. Outros profissionais
(fonoaudiólogo, nutricionista, odontólogo, psicólogo e farmacêutico) poderão compor
as equipes de apoio. Cada equipe poderá atender, em média, 60 pacientes,
simultaneamente.

Aqui tem Farmácia Popular

Fonte: bn.globoradio.globo.com/

Na rede credenciada é possível ter acesso aos medicamentos para as doenças


mais comuns entre os cidadãos. O Programa possui uma rede própria de Farmácias
Populares e a parceria com farmácias e drogarias da rede privada, chamada de Aqui
tem Farmácia Popular.

Centro de Testagem e Acolhimento (CTA) - DST/AIDS

Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) são serviços de saúde que


realizam ações de diagnóstico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Nesses serviços, é possível realizar testes para HIV, sífilis e hepatites B e C
gratuitamente. Todos os testes são realizados de acordo com a norma definida pelo
Ministério da Saúde e com produtos registrados na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e por ela controlados.

SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

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O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) realiza o atendimento
de urgência e emergência em qualquer lugar: residências, locais de trabalho e vias
públicas. O socorro começa com a chamada gratuita, feita para o telefone 192. A
ligação é atendida por técnicos que identificam a emergência e transferem o
telefonema para um médico, que faz o diagnóstico da situação e inicia o atendimento
no mesmo instante, orientando o paciente, ou a pessoa que fez a chamada, sobre as
primeiras ações.

Fonte:www.blogdasaude.com.br/

Unidades Básicas de Saúde (UBS)

As UBS, popularmente conhecidas como postos de saúde, são espaços onde


os pacientes de todas as idades podem receber os atendimentos médicos e
odontológicos essenciais. Entre as ações desenvolvidas nessas unidades está o
atendimento pré-natal, o acompanhamento de hipertensos e diabéticos e a redução
da incidência de tuberculose e hanseníase. As UBS funcionam normalmente durante
o dia.

Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h)

As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ficam abertas 24 horas e servem


como um intermediário entre os postos de saúde e os hospitais. Estão equipadas para
socorrer pessoas com problemas de pressão arterial, febre alta, fraturas, cortes e
infartos, evitando que estes pacientes sejam sempre encaminhados aos prontos-
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socorros dos hospitais. As UPAS contam com equipamentos de raio-X,
eletrocardiografia, laboratório de exames e leitos de observação uma estrutura que as
permite resolver, em média 97%, dos casos.

Vacinação

Fonte: corujices.com/

O Calendário de vacinação brasileiro possui 13 vacinas recomendadas à


população, desde o nascimento até a terceira idade. AS vacinas são distribuídas
gratuitamente nos postos da rede pública. Confira o calendário Nacional de Vacinação
e procure um posto de saúde com a caderneta.

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BIBLIOGRAFIA

BARROS, M. E. D.; PIOLA, S. F. & VIANNA, S. M. Política de Saúde no Brasil:


diagnóstico e perspectivas. Brasília: Instituto de Pesquisa econômica aplicada
(Ipea), 1996. (Texto para Discussão nº 401.)

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Pesquisa econômica aplicada (Epea). Plano Decenal de Desenvolvimento
econômico e Social. Previdência Social Diagnóstico Preliminar, abr., 1966.

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Proteção e Recuperação da Saúde. Rio de Janeiro, 1968.

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18/08/1976. Brasília, 1976.

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Descentralização no Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde (Secretaria de
Assistência à Saúde/Secretaria de Políticas de Saúde), s.d.

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Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1997.

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Janeiro: Freitas Bastos, 1967.

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