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AULA 1

CONTROLE, AVALIAÇÃO
E AUDITORIA EM SAÚDE

Prof.ª Elaine Grácia de Quadros Nascimento


CONVERSA INICIAL

A história dos sistemas de saúde e a auditoria

É de extrema importância que se conheçam quais os caminhos que o


Sistema Único de Saúde (SUS) teve para chegar ao que temos hoje de tecnologia
e avanços no cuidado da saúde da população. Para isso, devemos conhecer a
história da saúde e os marcos e leis que instituíram a auditoria em saúde no SUS.
Nesta aula, veremos a história da auditoria em saúde, entendendo alguns marcos
da história do SUS e os seus impactos para o avanço das ações de auditoria no
Brasil.
Apresentaremos, aqui, os conceitos de sistemas de saúde e quais os
modelos de atenção à saúde que o Brasil já teve. Discutiremos, por fim, as ações
e serviços de saúde, bem como compreenderemos o que são as redes de atenção
à saúde, bem como suas linhas de cuidado para garantir uma qualidade das ações
e serviços e a integralidade do cuidado.

TEMA 1 – PRINCIPAIS MARCOS DA HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE SAÚDE E A


AUDITORIA

Há algumas bases legais e marcos do processo de construção do SUS,


dentre os quais citamos os seguintes:

• As Caixas de Aposentadorias e Pensões (Caps) concediam o benefício de


aposentadorias e pensões em pecúnia, bem como assistência médica a
todos os seus beneficiários. A arrecadação desses proventos provinha de
um acordo entre o empregador e o empregado.
• Na Era Vargas (de 1930 a 1945) ocorreram várias reformas sanitárias pelas
quais o governo interferiu no processo de captação dos proventos para as
aposentadorias, com a criação também do Instituto de Assistência e
Previdência (IAP), que incorporou alguns direitos aos trabalhadores, por
exemplo à assistência médica gratuita, e auxiliava-os em casos de doenças
de trabalho ou acidentes de trabalho.
• Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde, que, nesse momento, não era
muito ativo e efetivo nas suas ações e carecia de maior financiamento.

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• O golpe militar de 1964 interferiu diretamente no financiamento e nos
incentivos à saúde, pois o governo passou a controlar todos os serviços
públicos de saúde. Foram feitos cortes nas verbas do Ministério da Saúde
e menos se atuou nas ações de saúde, precarizando-se a saúde da
população.
• A fundação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
Social (Inamps) propiciou uma inédita estrutura das ações de controle e
avaliação da assistência à saúde, buscando o controle de gastos e, com
base nisso, foi criada a auditoria e suas ações.
• Na década de 1980, foram estabelecidas as guias de internação hospitalar
e a autorização de internamento, que posteriormente foram substituídas
pela autorização de internação hospitalar (AIH).
• Na 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, a população em
geral pôde participar ativamente das discussões e foi nesse encontro que
se estabeleceu a necessidade de se fazer uma reforma sanitária, visto que
a maioria da população não tinha acesso à saúde (Brasil, 2019).
• A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, foi a responsável
pela criação do SUS e estabeleceu que é de responsabilidade do Estado
garantir a saúde da população em sua integralidade (Brasil, 1988). A
Constituição define, no seu art. 197, que: “São de relevância pública as
ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos
da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita diretamente ou por meio de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito privado” (Brasil, 1988, grifo nosso).
• A Lei Orgânica da Saúde (Lei n. 8.080/1990) foi responsável pela
regulamentação do SUS e por definir as atribuições e competências de
cada esfera de governo no SUS, entre outras ações como estabelecer
como se daria o financiamento do SUS e a auditoria em saúde, responsável
por acompanhar e monitorar esse processo de financiamento. A lei prevê,
em seu art. 33, parágrafo 4º, que: “O Ministério da Saúde acompanhará
através de seu Sistema de Auditoria, a conformidade à programação
aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e Municípios.
Constatada a malversação, caberá ao Ministério da Saúde aplicar as
medidas previstas em lei” (Brasil, 1990).

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• O Decreto n. 1.651/1995 regulamentou o Sistema Nacional de Auditoria, no
âmbito do SUS.
• A Lei Complementar n. 141/2012, nos seus art. 36 e 42, estabeleceu que:

Art. 36. O gestor do SUS em cada ente da Federação elaborará Relatório


detalhado referente ao quadrimestre anterior, o qual conterá, no mínimo,
as seguintes informações:
[...]
II – Auditorias realizadas ou em fase de execução no período e suas
recomendações e determinações;
[...].
Art. 42.
Os órgãos do Sistema de Auditoria, controle e avaliação do SUS [...]
deverão verificar, pelo sistema de amostragem, o cumprimento do
disposto nesta Lei Complementar, além de verificar a veracidade das
informações constantes do Relatório de Gestão […]. (Brasil, 2012a)

• A Portaria do Ministério da Saúde n. 841/2012 abrange as ações e serviços


que o SUS oferece ao usuário para lhe garantir a integralidade do cuidado.
Nela, constam os seguintes componentes, conforme art. 3º:

I. ações e serviços da atenção básica (primária);


II. ações e serviços da urgência e emergência;
III. ações e serviços da atenção psicossocial;
IV. ações e serviços da atenção ambulatorial especializada e hospitalar;
V. ações e serviços da vigilância em saúde. (Brasil, 2012b)

TEMA 2 – OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO

A base de todo o planejamento de uma gestão em saúde está em conhecer


a realidade de saúde e o perfil da população envolvida. Existem três documentos
que fazem parte da organização do planejamento em saúde:

1. Plano de ação: documento que norteia o orçamento de um governo, no


qual se definem as ações de saúde pelos próximos quatro anos.
2. Relatório de gestão: o relatório de gestão é um instrumento de gestão com
elaboração anual, que permite ao gestor apresentar os resultados
alcançados com a execução da programação anual de saúde (PAS) e que
orienta para eventuais redirecionamentos que se fizerem necessários no
plano de saúde.
3. Programação anual de saúde (PAS): é o instrumento que operacionaliza
as intenções expressas no plano de saúde e que tem por objetivo anualizar
as metas do plano de saúde e prever a alocação dos recursos
orçamentários a serem executados.

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Em 2006, foi criado o Pacto pela Saúde, em suas três dimensões: Pacto
pela Vida, Pacto de Gestão e Pacto em Defesa do SUS (Brasil, 2006). Conforme
a Portaria do Ministério da Saúde n. 399/2006 (Brasil, 2006), o Pacto pela Vida
tem seis prioridades:

1. saúde do idoso;
2. controle dos cânceres de colo de útero e de mama;
3. redução da mortalidade infantil e materna;
4. fortalecimento da capacidade de respostas às doenças emergentes e
endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e
influenza;
5. promoção da saúde;
6. fortalecimento da atenção básica.

A mesma portaria lista as ações do Pacto em Defesa do SUS:

Articulação e apoio à mobilização social pela promoção e


desenvolvimento da cidadania, tendo a questão da saúde como um
direito;
Estabelecimento de diálogo com a sociedade [...];
Ampliação e fortalecimento das relações com os movimentos sociais [...];
Elaboração e publicação da Carta dos Direitos dos Usuários do SUS;
[...]
Aprovação do orçamento do SUS [...]. (Brasil, 2006)

E, por último, quando cita o Pacto de Gestão, a portaria estabelece


diretrizes para a gestão do sistema nos aspectos de descentralização,
regionalização, financiamento, planejamento, programação pactuada e integrada,
regulação social e gestão do trabalho e da educação em saúde (Brasil, 2006).
O Decreto n. 7.508/2011 regulamentou a Lei n. 8.080/1990 (Brasil, 1990,
2011). Nele foram determinados alguns pontos importantes para a organização, o
planejamento e a realização de ações de saúde e definidos os seguintes conceitos
(Brasil, 2011): mapa de saúde, porta de entrada do SUS, região de saúde e
contrato organizativo da ação pública (Coap), conforme apresentados a seguir:

a. O mapa de saúde prevê que devemos conhecer qual o universo de serviços


e de necessidades presentes na comunidade ou área de abrangência
atendida. O Decreto n. 7.508/2011 o compreende como a descrição
geográfica da distribuição de recursos humanos e de ações e serviços de
saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, considerando-se a
capacidade instalada existente, os investimentos e o desempenho aferido
com base nos indicadores de saúde do sistema.
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b. A região de saúde traduz-se como um espaço geográfico contínuo
constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado com
base nas identidades culturais, econômicas e sociais e nas redes de
comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a
finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de
ações e serviços de saúde.
c. Porta de entrada: por esse conceito se definiu por onde o paciente deve
entrar no fluxo da atenção primária à saúde e se determinou que, num
primeiro momento, a porta de entrada para todas as ações de saúde seria
a unidade básica de saúde.
d. Coap: seria um acordo de colaboração firmada entre os entes federativos,
no âmbito de uma região de saúde, com o objetivo de organizar e integrar
as ações e os serviços de saúde na região, para garantir a integralidade da
assistência à saúde da população.

TEMA 3 – OS SISTEMAS DE SAÚDE NOS SERVIÇOS PÚBLICOS E PRIVADOS

A Constituição de 1988 afirma que a saúde é um direito de todos e um


dever do Estado (Brasil, 1988). Foi para atender a essa necessidade de
prestação de serviços de saúde pelo Estado que se criou o SUS, um sistema
público de saúde que deve dar a garantia da integralidade do cuidado aos
usuários e de acesso a todos, de forma igual.
Um sistema de saúde é uma organização de ações e serviços em que
devemos ter oferta de profissionais, serviços, exames, leitos e outras ações, de
forma a dar cobertura a todos os usuários, preservando o seu direito à saúde
integral. As ações de um sistema de saúde devem ser articuladas e funcionar de
forma integrada, respeitando, além do acesso, a manutenção da qualidade e da
resolutividade das ações de saúde.
O sistema de saúde, no Brasil, apresenta, a princípio, duas modalidades:
sistema de saúde público e sistema de saúde privado. O único sistema de saúde
público no Brasil é o SUS. Ele foi criado de acordo com a necessidade de se
respeitar a legislação vigente, em que constam os princípios e as diretrizes do
SUS. O SUS é regido por vários instrumentos legais, entre eles:

• Constituição Federal: garante o direito à saúde para toda a população


(Brasil, 1988);

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• Lei Orgânica da Saúde: regulamenta o SUS e define as suas ações e o
modo de financiamento (Brasil, 1990);
• Pacto pela Saúde: tem por finalidade diminuir toda a fragmentação das
ações de saúde, garantindo a integralidade do cuidado (Brasil, 2006).
• outras normas operacionais editadas na forma de decretos, portarias e/ou
resoluções do Ministério da Saúde.

Um sistema de saúde privado é o que chamamos de sistema de saúde


suplementar, que seria um sistema de saúde em que a população paga um valor
mensal para ter acesso às suas ações de saúde, seja para uma consulta, seja
para um exame ou um internamento, por exemplo. Um sistema de saúde privado
contempla a formação de uma rede prestadora de serviços em atendimento de
um mercado, baseando-se pois na oferta e procura e na necessidade de saúde
da população que procura esse sistema. Reforçamos que esse sistema de saúde
deve seguir as normas regulamentadoras da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) com a finalidade de se garantir que haja uma assistência de
qualidade, resolutividade e com integralidade.
Independentemente do tipo de sistema de saúde, o foco deve ser o mesmo:
garantir-se a integralidade do cuidado. E, para que isso aconteça, o gestor deve
conhecer, primeiramente, as necessidades de saúde, com um diagnóstico por
meio de indicadores de saúde e, com base nisso, se garantir a qualidade e a
resolutividade. Um sistema de saúde deve passar por várias ações de avaliação
da sua qualidade e da sua resolutividade, e é nesse momento que a auditoria tem
o seu papel importante em todas as ações, desde a promoção da saúde, a
prevenção da doença, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação, com o foco de
detectar alguma inconformidade nos processos.
Todo sistema de saúde deve ser organizado levando-se em consideração
os modelos de atenção à saúde, as redes de atenção à saúde e as linhas de
cuidado. Esses itens são de extrema prioridade, pois permitem que um sistema
de saúde seja avaliado, entre outros, conforme os seguintes fatores, que podem
interferir na sua qualidade, no seu financiamento etc.:

• avaliação de uma crescente especialização da assistência sem


manifestação de uma necessidade real da população;
• cuidado dos custos e da necessidade de uma tecnologia;
• monitoramento de compras indiscriminadas;

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• verificação de qual modelo de saúde, para não se investir apenas num
modelo hospitalocêntrico;
• verificação da profissionalização das pessoas, para se garantir uma
assistência de qualidade.

Os sistemas de atenção à saúde constituem respostas sociais,


deliberadamente organizadas, para responder às necessidades, demandas e
preferências das sociedades. Nesse sentido, eles devem ser articulados pelas
necessidades de saúde da população, que se expressam, em boa parte, em
situações demográficas e epidemiológicas singulares (Mendes, 2011).

TEMA 4 – OS MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE

Quando citamos os modelos de atenção à saúde, entendemos que se trata


de um conceito amplo, que engloba desde o que queremos, passando por como
vamos nos organizar, como planejaremos as ações e chegando a quem serão os
envolvidos, entre tantas outras ações. Todos esses movimentos têm de ir ao
encontro das necessidades de saúde da população relacionada. Nada dará certo,
nenhuma estratégia, se não conhecermos as reais necessidades de saúde da
população. Devemos sempre realizar um diagnóstico de saúde da população e aí
sim conseguiremos entender de qual o modelo de atenção à saúde precisamos
ou queremos.
Então, pensando numa conceituação dos modelos de atenção à saúde
temos que modelos assistenciais, modelos de atenção ou modos de intervenção
em saúde são entendidos por Paim como diferentes combinações tecnológicas
com diferentes finalidades, como resolver problemas e atender a necessidades de
saúde, em determinada realidade e população adstrita (indivíduos, grupos ou
comunidades), organizar serviços de saúde ou intervir em situações, em função
do perfil epidemiológico e da investigação dos danos e riscos à saúde.
Os modelos de atenção à saúde que tivemos no Brasil foram:

a. Sanitarismo campanhista (1900-1920): voltado para as ações da saúde


pública com foco nas campanhas de vacinação, baseou-se nas ações de
saúde realizadas por Oswaldo Cruz, importante pesquisador, que teve um
papel de extrema importância na epidemiologia, no Brasil, com relação
principalmente ao combate às seguintes doenças: varíola, febre amarela e
peste bubônica. As estratégias desenvolvidas por Oswaldo Cruz foram

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essenciais para o controle dessas doenças, ainda que se tratassem de
estratégias autoritárias e impositivas, que provocaram reações como a da
revolta da população diante da obrigatoriedade da vacinação contra a
varíola.
b. Centros de saúde ou rede local permanente (1920-1980): em torno da
defesa desse modelo, houve um movimento grande dos sanitaristas, que
compreendiam a importância das ações de saúde num nível ambulatorial,
com as quais tínhamos o enfrentamento da influência da multicausalidade,
focando ações coletivas de promoção e prevenção do adoecimento e
estimulando uma melhoria na saúde da população. Segundo Merhy (1992),
o modelo contava com o trabalho de médicos sanitaristas, enfermeiras,
visitadores e fiscais sanitários em uma rede única de ambulatórios gerais,
regionalizados e descentralizados administrativamente, baseados nos
centros de saúde e postos de higiene. Para o Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (Cnes) do Departamento de Informática do
SUS (Datasus), o conceito que encontramos para diferenciar centro de
saúde/unidade de saúde e posto de saúde é o seguinte:
• posto de saúde: unidade destinada à prestação de assistência a uma
determinada população, de forma programada ou não, por profissional de
nível médio, com a presença intermitente ou não do profissional médico;
• centro de saúde/unidade básica de saúde: unidade para realização de
atendimentos de atenção básica e integral a uma população, de forma
programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer
assistência odontológica e de outros profissionais de nível superior; essa
assistência deve ser permanente e prestada por médico generalista ou
especialista, podendo ou não se oferecer serviço de apoio à diagnose e
terapia (Sadt) e pronto atendimento 24 horas.
c. Ambulatórios especializados (1920-1980): nesse modelo, segundo Merhy
(1992), as ações buscavam responder aos problemas de saúde da
população urbana pobre. Ele preconizava ações médico-curativas e
campanhas, em ambulatórios e hospitais especializados, organizadas em
torno de certos problemas específicos de saúde, como tuberculose e
hanseníase.
d. Medicina preventiva ou assistência médico-previdenciária (1920-1990):
esse modelo se preocupava com os trabalhadores formalmente vinculados

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aos principais ramos de atividades econômicas, garantindo-lhes
assistência e a seus dependentes. Focava-se o atendimento médico-
centrado, curativo-reparador em ambulatórios especializados.
e. Medicina comunitária (a partir da década de 1960): levava em consideração
a teoria da história natural da doença, ainda focando na pobreza e nos
menos favorecidos e marginalizados pela sociedade, garantindo o acesso
a toda a população.
f. Modelo liberal-privativista (ao longo do século XX): nesse modelo, se
incentivou a criação de atendimento privado, com formação de grupos ou
cooperativas médicas, com convivência também com atendimentos
filantrópicos. Sua assistência pode ser exclusivamente privatizada ou não,
e trata-se de um modelo de medicina especializada, ambulatorial e
hospitalar vigente até hoje.

TEMA 5 – AS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE E AS LINHAS DE CUIDADO

A organização da atenção à saúde seria regida por uma rede de atenção à


saúde e suas linhas de cuidado. Quando pensamos na rede de atenção, temos o
seguinte conceito: “A Rede de Atenção à Saúde é definida como arranjos
organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades
tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e
de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado” (Brasil, 2010). Nesse
contexto, teríamos um conjunto de unidades/serviços com focos e ações
diferentes, funcionando de uma forma articulada a fim de garantir a integralidade
do cuidado da saúde da população. As redes de atenção à saúde devem contar
minimamente com as seguintes ações e serviços: atenção primária, urgência e
emergência, vigilância em saúde, atenção psicossocial, atenção especializada
ambulatorial, atenção especializada hospitalar.
A Portaria do Ministério da Saúde n. 4.279/2010 estabelece diretrizes para
a organização das redes de atenção à saúde no âmbito do SUS, lembrando a
importância das ações de regionalização, hierarquização, garantia do acesso e
integralidade do cuidado (Brasil, 2010). Para garantir que essas ações sejam
efetivas, eficientes e eficazes, os profissionais de saúde e os gestores devem
conseguir compreender as necessidades de saúde da população e conhecer o
diagnóstico situacional da área envolvida, para, somente com base nisso,

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organizar estratégias de ação que garantam a integralidade do cuidado com
resolutividade e qualidade.
O SUS, na forma da Lei n. 8.080/1990, é constituído pelo “[...] conjunto de
ações e serviços públicos de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, de Administração direta e indireta e das
fundações mantidas pelo Poder Público [...]” (Brasil, 1990). Estão abrangidas por
essa definição:

1. atividades dirigidas às pessoas, individual ou coletivamente, voltadas para


à promoção da saúde e prevenção, diagnóstico, tratamento,
acompanhamento, reabilitação e cuidados paliativos relacionados a
agravos e doenças;
2. serviços prestados no âmbito ambulatorial, hospitalar e nas unidades de
apoio diagnóstico e terapêutico geridos pelo governo, bem como em outros
espaços, incluindo o domiciliar ou em outros equipamentos sociais (ex.:
escolas);
3. ações de distintas complexidades e custos, que variam desde aplicação de
vacinas e consultas médicas nas clínicas básicas até cirurgias mais
complexas como as cardiovasculares e os transplantes;
4. intervenções ambientais no seu sentido amplo, incluindo as condições
sanitárias nos ambientes da vida e de trabalho e na produção e circulação
de bens e serviços, no controle de vetores e hospedeiros;
5. instituições públicas voltadas para controle da qualidade, pesquisa e
produção de insumos, medicamentos, sangue e hemoderivados e
equipamentos para a saúde.

As redes de atenção à saúde se apresentam em uma concepção


poliárquica, a qual se organiza horizontalmente, saindo daquela concepção
exclusivamente hierárquica. As redes são divididas, de acordo com os níveis
hierárquicos de atenção à saúde, em:

a. Rede de atenção primária: contempla as ações e serviços da atenção


básica ou primária de saúde, desenvolvidos nas unidades de saúde, como:
realização de curativo, pré-natal, inalação, injeção, atendimento básico
odontológico, consultas de clínica médica básica (clínica geral, pediatria e
ginecologia).

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b. Rede de atenção secundária: onde são realizados serviços ambulatoriais e
os hospitalares de baixa complexidade, consultas em diversas
especialidades médicas e exames considerados de média complexidade.
c. Rede de atenção terciária: onde são prestados os serviços ambulatoriais e
hospitalares que demandam uma maior complexidade e que normalmente
necessitam de seguimentos, assim como de equipamentos de alta
tecnologia, por exemplo a hemodiálise, a tomografia computadorizada e a
quimioterapia.

Para que uma rede de atenção à saúde funcione adequadamente, ela


precisa ter claros alguns elementos, como o diagnóstico da situação da população
adstrita, que pontos de atenção o sistema tem ou precisa ter, de que forma
ocorrerá a organização das ações do sistema de saúde, e é aí que entram as
diversas redes de atenção à saúde e suas linhas de cuidado. Citemos aqui
algumas das redes de atenção à saúde existentes: rede cegonha, rede de
urgência e emergência, rede de saúde mental, rede de cuidados à pessoa com
deficiência, entre outras.
Para complementar as ações de uma rede de atenção, necessitamos de
linhas de cuidado bem definidas e conhecidas. Essas linhas de cuidado
determinam muitas vezes o fluxo que se fará para fornecimento de determinado
acesso ou o fluxo entre os diversos pontos de atenção, garantindo assim a
integralidade do cuidado. Quando falamos nas linhas de cuidado, devemos
entender que elas seriam o trajeto que o usuário faz, na rede de atenção em que
se encontra, cuja definição tem por intuito o de garantir as necessidades de saúde
da população.
Temos, na Figura 1, uma demonstração gráfica de uma rede de atenção à
saúde hierárquica e de uma poliárquica, em que a primeira fragmenta as ações.

Figura 1 – Redes de atenção à saúde hierárquica e poliárquica

Fonte: Mendes, 2011.

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Mendes (2011) cita também que, num modelo de rede de atenção
poliárquica e organizada, temos atuação tanto diante de condições agudas quanto
de crônicas. Afirma também que uma rede de atenção à saúde atua nas ações
promocionais, preventivas, curativas, cuidadoras, reabilitadoras ou paliativas,
sobre determinantes sociais da saúde intermediários e proximais e sobre as
condições de saúde estabelecidas. Como objetivos de uma rede de atenção à
saúde, temos a melhoria da saúde de uma população, com apresentação de
resultados clínicos e econômicos devidamente medidos (Mendes, 2011).

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REFERÊNCIAS

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da União, 5 out. 1988. Disponível em:
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_____. Decreto n. 1.651, de 28 de setembro de 1995. Diário Oficial da União,


Brasília, 29 set. 1995. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1995/d1651.htm>. Acesso em: 23
nov. 2020.

_____. Decreto n. 7.508, de 28 de junho de 2011. Diário Oficial da União,


Brasília, 29 jun. 2011. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7508.htm>.
Acesso em: 23 nov. 2020.

_____. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Brasília,


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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 23 nov. 2020.

_____. Lei Complementar n. 141, de 13 de janeiro de 2012. Diário Oficial da


União, Brasília, 16 jan. 2012a. Disponível em:
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2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. 8ª Conferência


Nacional de Saúde: quando o SUS ganhou forma. Brasília, 22 maio 2019.
Disponível em: <https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/592-8-
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BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 399, de 22 de


fevereiro de 2006. Diário Oficial da União, Brasília, 23 fev. 2006. Disponível em:
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_____. Portaria n. 841, de 2 de maio de 2012. Diário Oficial da União, Brasília,


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_____. Portaria n. 4.279, de 30 de dezembro de 2010. Diário Oficial da União,


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MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: Opas, 2011.

MERHY, E. E. A saúde pública como política. São Paulo: Hucitec, 1992.

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