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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GS
Nº 70005253612
2002/CÍVEL

AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO. BEM


IMÓVEL. PROPRIEDADE. REGISTRO IMOBILIÁRIO.
ARTIGO 530 DO CCB.
NO BRASIL, INCIDE O SISTEMA BINÁRIO, SEGUNDO
O QUAL, PARA QUE PRODUZA EFICÁCIA À COMPRA
E VENDA DE BEM IMÓVEL, SE EXIGE O PACTO DE
TRANSFERÊNCIA DO IMÓVEL E SUA TRANSCRIÇÃO
NO ÁLBUM IMOBILIÁRIO. INEXISTÊNCIA DE
VIOLAÇÃO DO ARTIGO 145, II, DO CCB. CONTEXTO
PROBATÓRIO QUE NÃO AUTORIZA O
ACOLHIMENTO DO PEDIDO INAUGURAL.
APELO IMPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL -


REGIME DE EXCEÇÃO
Nº 70005253612 COMARCA DE PORTO ALEGRE

AIDES JOSE MACHADO FILHO APELANTE

GOMERCINDO CAETANO SANHUDO APELADO


E OUTROS

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Magistrados integrantes da Décima Nona Câmara
Cível - Regime de Exceção do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade,
em improver o apelo.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os
eminentes Senhores DES. MÁRIO JOSÉ GOMES PEREIRA E DR. HELENO
TREGNAGO SARAIVA.
Porto Alegre, 16 de novembro de 2004.

DES. GUINTHER SPODE,


Relator.

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RELATÓRIO
DES. GUINTHER SPODE (RELATOR)
AIDES JOSÉ MACHADO FILHO recorreu da sentença que julgou
improcedente a ação anulatória de ato jurídico c/c perdas e danos que promove
contra GOMERCINDO CAETANO SANHUDO E MARIA DE LOURDES SILVA
SANHUDO.
Trata-se de demanda em que o autor/apelante postula pela
declaração de nulidade da compra e venda realizada entre Gomercindo, Maria
e o autor, eis que foi realizada venda a non domino, mais perdas e danos,
salientando que pagaram o preço da totalidade do bem, mas apenas possuem
a posse de metade do imóvel ocupado por terceiro, Sr. Vitor, compadre dos
requeridos, por estar amparado com “Termo de Cessão e Transferência de
Direitos Contratuais” , datado de 22/08/1985, jamais levado a registro, e
desconhecidos do apelante à época da transação.
Em suas razões refere que na escritura pública lavrada os
requeridos/apelados declararam expressamente e obrigaram-se a venda “ para
sempre boa, firme e valiosa, transmitindo-lhe desde já todo o imóvel, posse, direitos e
ações que tinham e exerciam no imóvel vendido, para que os compradores gozassem
e desfrutassem como seu que fica sendo por força desta escritura, responsabilizando-
se, ainda, pelos riscos da evicção de direito”. Desta forma, afirma terem levado a
registro o instrumento, em 16/04/1993, sob a Matrícula nº 60.038, que foi
lavrada em 16/06/1993, aguardando o decurso de lapso de tempo para que o
compadre dos vendedores Sr. Vitor, que ocupava a metade do imóvel,
providenciasse sua desocupação, conforme combinado. Asseveram ter sido
lesados em seu direito. Discorre quanto a legitimidade passiva de Oníria
Manuela Sanhudo Marcondes e Pedro Marcondes. Requer o provimento do
apelo que foi preparado (fl. 182 e verso).
O recurso foi respondido.

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Sobreveio manifestação do apelante postulando seja concedido a


Gratuidade da Justiça.
Os autos foram distribuídos ao Des. Luís Augusto Coelho Braga,
e, face ao regime de exceção vieram a mim redistribuídos.
É o relatório.

VOTOS
DES. GUINTHER SPODE (RELATOR)
Antes de ingressar no mérito recursal, vai indeferida a postulação
contida no petitório de fls. 202/204. No caso o benefício da gratuidade da
justiça. O fundamento para tanto se situa no fato de que os alegados
problemas de saúde apontados pelo recorrente são de longa data. Ademais, o
pedido desta peça ora em foco foi efetivado inclusive após ter o ora apelante
efetivado o preparo recursal.

Logo, nada autoriza, pelos menos nesta instância recursal, o


acolhimento do favor legal requerido.

Improvejo o apelo manejado pelo recorrente, porquanto


compartilho do mesmo entendimento do eminente Julgador singular.

Nesse passo, verifica-se que a pretensão posta na inicial vem


alicerçada no inciso II do artigo 145 do Código Civil revogado, o qual dispõe
que é nulo o ato jurídico, quando for ele ilícito.

Em que pese a argumentação do eminente Procurador do


apelante, não constato, frente a prova produzida nos autos, a violação do artigo
ora em voga.

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Primeiro, porque, no Brasil, incide o sistema binário, segundo o


qual, para que produza eficácia a compra e venda, se exige o pacto de
transferência do imóvel e sua transcrição no álbum imobiliário.

Daí asseverar o mestre J. M. de CARVALHO SANTOS que “o


que transfere o domínio é a transcrição”. (Código Civil Brasileiro interpretado ,
v. VII, 11ª ed., p. 346). E a propósito do tema conclui CAIO MÁRIO DA SILVA
PEREIRA: “pelo nosso direito, o contrato não opera a transferência do
domínio. Gera tão-somente um direito de crédito, impropriamente denominado
direito pessoal. Somente o registro cria o direito real. É o registro do
instrumento no cartório da sede do imóvel que opera a aquisição da
propriedade (CC, arts. 530 e 531)” (Instituições de Direito Civil, v. IV, 6 ª ed., ed.
Forense, p. 92)

Ora, no caso objeto da lide, como corretamente asseverado pelo


eminente Julgador singular, a propriedade foi transferida por quem eram os
proprietários do imóvel. No caso, Gomercindo e Maria, como bem resulta da
certidão imobiliária de fl. 28, in fine. Ademais, o autor alcançou a propriedade
do imóvel, tanto que, como se vê desta certidão, é no nome deles que está
registrado o bem, nos termos do artigo 530 da Lei Material.

Logo, não há a ilegalidade apontada.

Assim, segundo meu entendimento, as razões de apelo investem


sem êxito contra os fundamentos da sentença, que, pela prova que aportou ao
ventre dos autos, deve ser confirmada por seus próprios fundamentos. Aliás,
não se pode olvidar, com espeque no artigo 333, I, do CPC, que é ônus do
autor a prova dos fatos constitutivos de seu direito, do qual, “data venia”, não
se desincumbiu.

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Por isso, pertinente é transcrever o seguinte excerto da


respeitável sentença recorrida, além do suso declinado, como razões de
decidir, verbis:

“Ainda, a alegação do autor no sentido de que comprou a


totalidade do terreno, ficando privado da posse e domínio da metade do imóvel
e que os vendedores prometeram a retirada de Vitor do terreno, não condiz
com as provas produzidas nos autos”.

“Do contrato, não se verifica nenhuma disposição quanto à


promessa de que os vendedores tratariam da desocupação em relação a Vitor”.

“Além disso, do depoimento de fls. 140/141, vê-se que Aides era


locatário do bem em objeto em período anterior à compra e venda”.

“Pelos depoimentos das testemunhas verifica-se que Aides tinha


conhecimento da controvérsia existente entre Gomercindo, Maria e Vitor,
ressaltando que Vitor e Aides eram vizinhos”.

“O próprio autor confessa, conforme se vê na inicial, que sabia


que Vitor era co-possuidor do imóvel”.

“Portanto, denota-se que Vitor e o autor são co-possuidores do


imóvel. Mas eventual controvérsia entre ambos deve ser objeto de outro
processo”.

“Ficou evidenciado que Aides comprou o imóvel sabendo que


Vitor era co-possuidor”.

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Diante desse contexto probatório, a linha argumentativa


sustentada pelo recorrente não tem o condão de alterar o resultado da
sentença, motivo pelo qual mantenho o entendimento monocrático hostilizado.

Isso posto, nego provimento ao apelo.

É como voto.

GOS

DES. MÁRIO JOSÉ GOMES PEREIRA (REVISOR) - De acordo.


DR. HELENO TREGNAGO SARAIVA - De acordo.

DES. GUINTHER SPODE - Presidente - Apelação Cível nº 70005253612,


Comarca de Porto Alegre: "À UNANIMIDADE, FOI IMPROVIDO O APELO ."

Julgador(a) de 1º Grau: FLAVIO MENDES RABELLO

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