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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

982
Quinta Câmara Cível

Embargos de Declaração em Apelação Cível nº 0122302-77.2010.8.19.0001

Embargante: REINALDO SANTOS OLIVEIRA


Embargado: ESPÓLIO DE NILZA PINHEIRO DE ATHAYDE LIEH
rep/p/s/inventariante BRUNA OLIVEIRA LIEH
Relatora: Desembargadora DENISE NICOLL SIMÕES

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO


CÍVEL. DIREITO CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
DEMANDA POSSESSÓRIA ALEGADA EM EXCEÇÃO
DE DOMÍNIO. INOCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES
PREVISTAS NO ART. 1.022 DO CPC. INTENÇÃO DE
PREQUESTIONAMENTO DA MATÉRIA. In casu,
sustenta a parte embargante vícios no julgado acerca de
análise da posse e da propriedade do bem. Matérias que
foram objeto de ampla análise e debate por este
Colegiado. Evidente intenção de rediscussão do julgado
pela via imprópria. EMBARGOS REJEITADOS.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes Embargos de Declaração


nos autos da Apelação Cível nº 0122302-77.2010.8.19.0001 ACORDAM, por
UNANIMIDADE de votos, os Desembargadores que compõem esta E. 5ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em
REJEITAR O RECURSO, nos termos do voto que segue.

RELATÓRIO

Embargos de Declaração opostos por REINALDO SANTOS


OLIVEIRA (index 000941) alegando vícios no acórdão que negou provimento
ao seu recurso de apelação (index 000920).

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Assinado em 24/07/2020 19:18:15


DENISE NICOLL SIMOES:17538 Local: GAB. DES(A) DENISE NICOLL SIMOES
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Sustenta vícios no julgado argumentando que a Embargada não


demonstrou que ter exercido posse sobre o imóvel assim como prova da
propriedade do bem, na medida em que a mesma era tão somente cessionária.

Informa, ainda, intenção de prequestionamento.

VOTO

Em juízo de admissibilidade, reconheço a presença dos requisitos


extrínsecos e intrínsecos, imprescindíveis à interposição destes embargos de
declaração.

Por certo os embargos de declaração servem para suprir omissão


ou aclarar obscuridade que interfira na solução da lide, assim como sanar
qualquer contradição entre premissa e conclusão, acaso identificada, tendo
sido acrescido no Novo Código de Processo Civil a possibilidade de correção
de erro material.

Não assiste razão ao Recorrente.

As questões acerca da posse e cessão de direitos do bem foram


exaustivamente analisadas por este Colegiado, que concluiu contrariamente à
pretensão do Recorrente. Não restaram demonstrados quaisquer vícios no
julgado, que apreciou detidamente a matéria, ressaltando-se, ainda, a
desnecessidade de prova de propriedade na medida em que a presente
demanda versa sobre posse. Confira-se:

“(...) Narra a parte autora, em síntese, que adquiriu o


imóvel descrito na inicial em 1965. Sustenta que, após o
óbito de seu filho, o apartamento ficou na posse de sua
nora.

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Afirma que foi residir no exterior e quando retornou, em


2006, verificou que o imóvel tinha sido invadido pelo Réu,
que se recusa a desocupá-lo.

No caso dos autos, sustenta a parte autora ser devida a


procedência da demanda na medida em que é a legítima
proprietária e possuidora do imóvel situado na Rua
Senador Vergueiro, 98, cobertura 03. Em sua defesa,
alega o Réu que a parte autora jamais exerceu a posse,
não sendo possível reintegrar a Demandante de algo que
nunca teve.

Compulsando os documentos acostados, denota-se que


a parte autora é cessionária de direitos do bem em
análise a partir de 1965 (index 00007. fls. 11).

Note-se que no momento em que se tornou


cessionária, a parte autora adquiriu a posse legítima
do apartamento, podendo utiliza-lo diretamente ou
não.

In casu, verifica-se que a Demandante concedeu ao seu


filho permissão para uso do imóvel de forma gratuita,
transmitindo a ele (e a sua cônjuge – irmã do Réu) a
posse direta do bem. Ao proceder dessa forma,
permaneceu a Autora na posse indireta do apartamento.

Nesse contexto, há que se esclarecer que a posse


direta não anula a indireta, sendo que ambas são
legitimadas para o ajuizamento de eventual demanda
possessória, inclusive um em face do outro. Enquanto
a posse direta é a de quem recebe o bem para usar,
detendo materialmente a coisa; a posse indireta é a de
quem cede o uso do bem.

No caso dos autos, há verdadeira presença de comodato


do bem, na medida em que a Autora emprestou o imóvel
para que ente próximo exercesse a moradia no local com
sua família. Com o seu falecimento, o comodato
continuou com sua cônjuge, irmã do Réu, sendo a posse

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sempre decorrente de comodato e não legado com alega


o Demandado.

No comodato a posse é transmitida a título provisório, de


modo que o comodatário adquire a posse precária, sendo
obrigado a devolvê-la tão logo o comodante reclame a
coisa de volta. Com a notificação extrajudicial ou a
manifesta intenção declarada de reaver o bem, extingue-
se o comodato, transformando-se em injusta a posse
anteriormente justa, em virtude da recusa de devolução
do imóvel quando assim solicitado.

Porquanto não se tenha certeza acerca da natureza da


posse no início pelo Réu – que argumenta que
permaneceu no bem após sua irmã partir para a
Espanha, com sua anuência, fato é que há muito tempo a
posse do Demandado se tornou injusta e clandestina, na
medida em que a parte autora vem tentando reaver a
posse direta de seu bem, sem, contudo lograr êxito.

É incontroverso o esbulho, na medida em que o próprio


Réu afirma que até a presente data se recusa a
desocupar bem que não é seu. Viável e adequada,
portanto, a presente reintegração de posse.

Não é razoável entender que o Réu possua qualquer


proteção ou direito de permanecer o local, sendo
imperiosa a sua saída imediata.”

O julgado apreciou o mérito da demanda com base na melhor


interpretação da lei pela jurisprudência do TJRJ, não cabendo reeditar, pela via
inadequada dos declaratórios, o referido debate nessa instância. Confira-se o
recente julgado pelo 1ª Seção do Eg. STJ sobre o tema:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. HIPÓTESE DE NÃO


CABIMENTO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
Mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem
embargos de declaração contra decisão que não se
pronuncie tão somente sobre argumento incapaz de
infirmar a conclusão adotada. Os embargos de

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declaração, conforme dispõe o art. 1.022 do CPC/2015,


destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou
eliminar contradição existente no julgado. O julgador não
está obrigado a responder a todas as questões
suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado
motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição
trazida pelo inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC/2015 ["§
1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
(...) IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador"] veio confirmar a jurisprudência já
sedimentada pelo STJ, sendo dever do julgador apenas
enfrentar as questões capazes de infirmar a conclusão
adotada na decisão. (EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min.
Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª
Região), PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 8/6/2016, DJe
15/6/2016 (grifos nossos).

Consoante entendimento assentado no Superior Tribunal de


Justiça, os embargos declaratórios devem ser encarados como instrumento de
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional. Exatamente por isso deve ser
evitado o manejo do instrumento apenas para manifestar irresignação com o
julgado, não sendo apropriado arguir mácula inexistente, como no caso.

Ademais, mesmo os embargos manifestados com fim de


prequestionamento se sujeitam à presença dos requisitos do art. 1.022 do
CPC, de modo que não é apenas o propósito de prequestionamento que
permite à parte o uso dos embargos, mas a existência de omissão,
contradição, obscuridade ou erro material.

Os Tribunais Superiores consideram o prequestionamento


presente quando enfrentada pelo julgador a questão jurídica suscitada, não
exigindo menção expressa dos dispositivos constitucionais e legais que o
recorrente reputa violados. Com efeito, adota neste compasso o direito
brasileiro a teoria da substanciação, tendo as teses jurídicas sido
criteriosamente expostas nos autos, não havendo que se falar em omissão por
ausência de menção a dispositivo legal.

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Ressalte-se que o art. 1.025 do CPC consagrou o denominado


prequestionamento ficto, que é a admissão do prequestionamento ainda que os
embargos de declaração sejam rejeitados, caso o Tribunal Superior entenda
cabível os aclaratórios.

Os embargos declaratórios encontram-se no limite tênue que


separa o direito de defesa da má-fé, motivo pelo qual não aplico, no momento,
a multa prevista no parágrafo único do art. 1.026 do CPC/15.

Em tais condições, VOTO no sentido de CONHECER e


REJEITAR OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

Rio de Janeiro, 23 de julho de 2020

Desembargadora DENISE NICOLL SIMÕES


Relatora

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