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Nº 70080746027 (Nº CNJ: 0046511-85.2019.8.21.7000)


2019/CÍVEL
APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. SUCESSÃO. AÇÃO DELCARATÓRIA
DE NULIDADE DE DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS.
REDUÇÃO. CABIMENTO.
1. Como se sabe, o juiz é o destinatário da prova e ele compete
decidir acerca da viabilidade a produção da prova para o
deslinde do feito. Desnecessária a produção de prova
testemunhal, em razão da natureza da demanda.
2 A liberdade de testar somente é total quando inexistirem
herdeiros necessários (ascendentes, descentes e cônjuges),
pois, havendo herdeiros dessa classe, a liberdade restringe-se
à metade dos bens, nos termos do art. 1.846 do Código Civil. O
fato de o testador ter extrapolado os limites da legítima não
enseja a nulidade do testamento, impondo-se somente a
redução das disposições testamentárias. Aplicação do art.
1.967 do Código Civil.
RECURSO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70080746027 (Nº CNJ: 0046511-85.2019.8.21.7000) CAÇAPAVA DO SUL

E.M.C.R.
.
D.C.R.
.
J.D.R.J.
.
A.R.N.
.
J.A.C.R.
.
D.A.C.R.
.
D.I.R.E.E..
D.M.R.C. APELANTES;
..
E.M.A.D.R.E..
G.R.L. APELADOS;
..
S.J.D.R.E..
J.V.C.R. INTERESSADOS.
.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara Cível do Tribunal


de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao recurso.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DES.


SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (PRESIDENTE) E DES.ª SANDRA
BRISOLARA MEDEIROS.

Porto Alegre, 27 de março de 2019.


DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO,
Relatora.

RELATÓRIO

DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO (RELATORA)

EDEVIRGES MARIA C. DA R. E OUTROS apelam da sentença ( ls. 202-4 e 216)


que julgou procedente a ação ajuizada por GILBERTO D. R. L. reconhecido o avanço na parte
legítima da herança, determinando a redução, pro rata das disposições testamentárias do
testamento deixado por MARIA ANÁLIA D. D. R., estabelecidas em favor dos recorrentes,
reduzindo, assim os excessos desses, os quais passam, cada um, a fazer jus ao valor equivalente
a R$ 112.765,00, e não a R$ 188.500,00, a cada um.

Argúem, em preliminar, a nulidade da sentença, pois não observado o devido


processo legal nem o contraditório, pois indeferida a produção de prova testemunhal.

Quanto ao mérito, alegam que a legítima foi observada, pois o laudo pericial
não levou em consideração as melhorias realizadas no imóvel dos recorrentes e a localização
das terras, pois uma fração das terras está situada a poucos metros do centro da cidade de
Caçapava do Sul e a outra, a vários quilômetros da área urbana.

Pedem, por isso, o provimento do recurso ( ls. 219-26).

Como certi cado na l. 229 não foram apresentadas contrarrazões.

O Ministério Público manifesta-se pelo desprovimento do apelo ( ls. 231-235).


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Vieram os autos conclusos, restando atendidas às disposições dos arts. 1.010,
§3º e 1.011, ambos do CPC/2015, pela adoção do procedimento informatizado do sistema
themis2g.
É o relatório.

VOTOS

DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO (RELATORA)

Afasto, a princípio, a preliminar de cerceamento de defesa, cabível aqui o


julgamento antecipado da lide, na forma do art. 355 do CPC.

Após a apresentação do laudo pericial ( ls. 135-42), o qual foi impugnado pelos
recorrentes ( l. 145), sobrevindo resposta do perito ( l. 148).

Apresentada nova impugnação ( ls. 152-3), o Ministério Público ponderou que


“as impugnações dos requeridos não apresentaram dados técnicos capazes de prevalecer sobre
o laudo de avaliação, tratando-se de análise subjetivo, carente de dados cientí cos” ( l. 158),
restando o laudo pericial homologado ( l. 159).

Irresignados os recorrentes interpuseram agravo de instrumento, postulando


a realização nova perícia ( ls. 164-8), o qual foi desprovido ( ls. 175-80).

Após, postularam a produção de prova oral ( ls. 192-3), sobrevindo a prolação


da sentença.

Ora, a prova documental acostada ao feito, sobretudo, a pericial, mostra-se


totalmente despicienda a produção de prova testemunhal. Ademais, como se sabe, o juiz é o
destinatário da prova e ele compete decidir acerca da viabilidade a produção da prova.

Assim:

APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.


PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO CONFIGURADO. CONTRATO DE
PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CLÁUSULA RESOLUTÓRIA EXPRESSA. AUSÊNCIA DE
EFEITO AUTOMÁTICO. OBSTADA A REINTEGRAÇÃO DE POSSE. Preliminar de Nulidade da
sentença por ocorrência de cerceamento de defesa. No caso, diante da prova
documental acostada ao feito, mostra-se totalmente despicienda a produção de prova
testemunhal. Jurisprudência. Mérito. Em se tratando de posse derivada de promessa de
compra e venda de imóvel, a cláusula resolutória expressa não possui efeito automático,
havendo a necessidade de ação de resolução contratual para resolver obrigação de natureza
obrigacional, possibilitando o retorno das partes ao estado jurídico anterior. Obstada a
reintegração de posse. Jurisprudência do Tribunal e do STJ a respeito. Sentença mantida.

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APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70074496357, Vigésima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Julgado em
14/11/2018) – grifei.

No mais, como se vê, dos autos, na ação de arrolamento dos bens deixados pela
falecida MARIA ANÁLIA, seu patrimônio é composto dos seguintes bens ( ls. 08-17): um imóvel
rural de 87.120m² (matrícula nº 22.534), u imóvel rural de 130.680m² (matrícula nº 22.531) e um
imóvel rural de 377.431m² (matrícula nº 8.462) ( l. 08-17).

Durante a tramitação do feito, sobreveio informação de que a extinta havia


elaborado testamento público, motivo pelo qual foi ajuizada a presente ação de registro de
testamento, com as seguintes disposições:

“(...) a fração de terras rurais com área super cial de trezentos e sessenta e sete mil,
quatrocentos e trinta e um metros quadrados (377.431,00m²), (...) e matriculada no Registro
de Imóveis desta Comarca sob o número oito mil, quatrocentos e sessenta e três (8.463),
deverá pertencer, em partes iguais, a JOÃOZINHO D. DA R. (...) e EDEVIRGES MARIA C. DA
R. (...)” ( ls. 40-1).

Portanto, o monte mor a ser partilhado totaliza o valor de R$ 451.060,00 ( l. 30),


e havendo herdeiros necessários, houve afronta à legítima desses, uma vez que o testamento
contemplou fração de terras no valor de R$ 377.000,00.

A liberdade de testar somente é total quando inexistirem herdeiros


necessários (ascendentes, descentes e cônjuges), pois, havendo herdeiros dessa classe, a
liberdade restringe-se à metade dos bens, nos termos do § 1º do art. 1.857 do atual Código Civil,
segundo o qual, “toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de
parte deles, para depois de sua morte § 1º. A legítima dos herdeiros necessários não poderá se incluída
no testamento”.

No entanto, a inobservância do referido preceito legal não enseja a anulação do


testamento, como alegado pela apelante, mas apenas a redução das disposições testamentárias,
nos termos do art. 1.967 do Código Civil, “as disposições que excederem a parte disponível
reduzir-se-ão aos limites dela, de conformidade com o disposto nos parágrafos seguintes.”

Conforme Arnaldo Rizzardo, “não se anula o testamento, segundo visto. Reduz-se


a liberalidade aos limites permitidos, na clara explicação de Orozimbo Nonato, ainda vigorante: ‘o

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excesso não anula o ato: salva a legítima dos herdeiros, distribui-se o resto em proporção, pelos
legatários, se o contrário (sobre a proporcionalidade), não dispuser o testador.”1
Cito decisão desta Corte:

“APELAÇÃO CÍVEL. INVENTÁRIO. TESTAMENTO PARTICULAR. REDUÇÃO DE DISPOSIÇÕES


TESTAMENTÁRIAS. Se o testamento particular preencheu todos os requisitos previstos nos
artigos 1876 e seguintes do Código de Processo Civil, não há que se cogitar em invalidade
quando não comprovada a incapacidade do testador, ou a presença de um dos vícios da
vontade. A liberdade de testar somente é total quando inexistirem herdeiros necessários
(ascendentes, descentes e cônjuges), pois, havendo herdeiros dessa classe, a liberdade
restringe-se a metade dos bens, nos termos do artigo 1846, do Código Civil. O fato de o
testador ter extrapolado os limites da legítima não enseja a nulidade do testamento,
impondo-se tão-somente a redução das disposições testamentárias. Aplicação do artigo
1967, do Código Civil. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO” (Apelação Cível Nº
70026646075, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Claudir Fidelis
Faccenda, Julgado em 19/03/09).

A decisão recorrida reconheceu que houve excesso na parte disponível da


herança, no montante de R$ 112.765,00, determinando, acertadamente, que esse valor seja
revertido à legítima, nos termos dos arts. 1.699 e seguintes do Código Civil.

Do exposto, nego provimento ao recurso.

DES.ª SANDRA BRISOLARA MEDEIROS - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES - Presidente - Apelação Cível nº


70080746027, Comarca de Caçapava do Sul: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.
UNÂNIME"

Julgador(a) de 1º Grau: JULIO CESAR DE ALMEIDA

1
Rizzardo, Arnaldo. Direito Das Sucessões, Rio de Janeiro : Forense, 2006, pág. 476.
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