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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000170751

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2230603-43.2020.8.26.0000, da Comarca de Santo André, em que são agravantes F. M.
DE C. e A. D. F. (ESPÓLIO), é agravado O J..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 8ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento
ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores THEODURETO


CAMARGO (Presidente sem voto), CLARA MARIA ARAÚJO XAVIER E SALLES
ROSSI.

São Paulo, 9 de março de 2021.

ALEXANDRE COELHO
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Agravo de Instrumento nº 2230603-43.2020.8.26.0000


Agravante: F. M. C.
Agravado: N/C
VOTO nº 17340/lmi

AGRAVO DE INSTRUMENTO HERANÇA JACENTE


DECISÃO QUE CONVERTE O FEITO PARA AÇÃO
DE RECONHECIMENTO DE HERANÇA VACANTE E
NOMEIA A MUNICIPALIDADE COMO
INVENTARIANTE E ADMINISTRADORA DO BEM
INCONFORMISMO DO ANTIGO INVENTARIANTE
REJEIÇÃO Ausência de irregularidades no
procedimento Decisão que não declara a herança
vacante, mas apenas converte o feito de ação de
reconhecimento de herança jacente para herança vacante
após a arrecadação dos bens Curadoria da herança
jacente Livre escolha do juiz Artigo 739 do CPC -
Razoável se mostra que a Municipalidade assuma o encargo
de administrar os bens como provável beneficiária da
herança jacente Artigo 1.822 do CC Decisão mantida
NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão


que converteu a ação de reconhecimento de herança jacente para herança vacante e nomeou o
Município de Santo André para administrar o bem arrecadado, nomeando-o como inventariante
a partir de então.

O agravante requer a reforma da r. decisão para que ele seja


mantido como inventariante até a declaração da vacância. Sustenta que: i) a publicação de
editais e a continuidade do curador até a declaração da vacância por sentença se faz necessária
a fim de resguardar os interesses de eventuais herdeiros; ii) o administrador, até o presente
momento, tem defendido o espólio, inclusive em ações judiciais, com sucesso, pagando todos
os tributos e itens necessários à defesa do acervo; iii) há ainda pendência de julgamento de
habilitação de herdeiro, no agravo nº 2205575-73.2020.8.26.000, bem como não foram
observadas as etapas previstas nos artigos 739, 741 e 743, do Código de Processo Civil, como o
esgotamento de diligência, publicação de editais e a vacância não foi declarada por sentença.

Foi indeferido o pedido de efeito suspensivo, decisão contra a qual


Agravo de Instrumento nº 2230603-43.2020.8.26.0000 -Voto nº 17340/lmi 2
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não se interpôs recurso.

Não houve a apresentação de contraminuta, em razão da ausência


de parte contrária.

Sem oposição ao julgamento virtual.

É o breve relatório.

Pelo que se vê dos autos originários, o agravante ajuizou a ação de


reconhecimento de herança jacente, em razão do falecimento de A. D, que não teria deixado
testamento, nem cônjuge sobrevivente e parente conhecido para sucedê-lo. Aduz o autor que
era amigo do de cujus, além de administrar a locação do imóvel deixado.

Após a arrecadação dos bens sem a habilitação de sucessores, a r.


decisão agravada deferiu o pedido para a cumulação dos inventários dos bens deixados pelos
pais dos autores da herança, assim como para a converter o feito para ação de herança vacante.
Nomeou, ainda, o Município de Santo André para administrar o bem arrolado, nomeando-o
como inventariante a partir de então.

Em que pese o inconformismo, o recurso não comporta


provimento.

Inicialmente, necessário consignar que o agravo de instrumento nº


2205575-73.2020.8.26.000 tirado contra a r. decisão que indeferiu o pedido de habilitação
como herdeiro do primo da genitora do autor da herança, foi desprovido por esta C. 8ª Câmara
de Direito Privado em 11/11/2020.

Por sua vez, a r. decisão não declarou a herança vacante, mas


apenas converteu a ação de reconhecimento de herança jacente para ação de
reconhecimento vacante, de modo que não há que se falar em descumprimento das
formalidades previstas no artigo 743 do CPC.

E, ao que se constata dos autos originários, posteriormente, foi


determinada a publicação de edital para que eventuais sucessores do falecido venham a se
habilitar no prazo de seis meses a contar da primeira publicação, conforme preceitua o artigo
741 do CPC.

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Deste modo, não há que se falar em inobservância dos


procedimentos previstos em referidos dispositivos normativos.

Quanto à parte da decisão que nomeou a Municipalidade


administradora do imóvel arrecadado e a nomeou inventariante a partir de então, cabe
transcrever o previsto no artigo 739 do CPC: “A herança jacente ficará sob a guarda, a
conservação e a administração de um curador até a respectiva entrega ao sucessor legalmente
habilitado ou até a declaração de vacância”.

Por sua vez, é cediço que o curador é escolhido livremente pelo


juiz e, no caso concreto, acertada se mostrou a escolha da Municipalidade por ser ela futura
beneficiária da herança jacente. Com efeito, a Municipalidade é a virtual destinatária do bem
arrecadado (artigo 1.822 do CC1), de modo que razoável se mostra que ela assuma o encargo de
administrar os bens da herança jacente, como provável beneficiária da herança.

Nesse sentido, assim já decidiu este E. Tribunal de Justiça:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARRECADAÇÃO DE HERANÇA


JACENTE. Decisão que nomeou como curador à herança um dos
procuradores do Município, a ser indicado pelo Procurador Chefe.
Insurgência. Não acolhimento. Municipalidade como futura
beneficiária da herança jacente. A nomeação do procurador não
acarretará qualquer prejuízo ao Município de Barueri. RECURSO
NÃO PROVIDO.” (TJSP, Agravo de Instrumento nº
2041184-04.2020.8.26.0000, relatora a Desembargadora
ROSANGELA TELES, j. 14/04/2020)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. HERANÇA JACENTE. CURADOR


INDICADO POR MUNICIPALIDADE INTERESSADA.
SUBSTITUIÇÃO POR CURADOR DATIVO. INVIABILIDADE.
PEDIDO DE VENDA DOS BENS DA HERANÇA. HIPÓTESE DE
NÃO CONHECIMENTO. RECURSO IMPROVIDO, NA PARTE
CONHECIDA. 1. Decisão que, em ação de herança jacente de Daysy
de Oliveira Fonseca, não deferiu a pretensão da ora agravante de
substituição do servidor público anteriormente por ela indicado como
curador por um curador dativo, e determinou o cumprimento da
arrecadação e do arrolamento dos bens da herança, antes de proferir
decisão sobre o pedido de venda destes bens. 2. Pleito de venda dos
bens da herança ainda não apreciado pelo Juízo de origem. Hipótese
de não conhecimento, sob pena de supressão de instância. 3. Pedido

1
CC, art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se
habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio
do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao
domínio da União quando situados em território federal.
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de substituição do curador indicado por um curador dativo. Nada


trouxe aos autos a Municipalidade agravante no sentido de
demonstrar, por um lado, a alegada ausência de recursos e, por
outro, as condições da herança para suportar a remuneração de
curador dativo a ser nomeado em substituição. Encargo relacionado
ao próprio interesse do Município. Decisão mantida. 4. Recurso
improvido, na parte conhecida.” (TJSP, 9ª Câmara de Direito
Privado, Agravo de Instrumento nº 2051987-56.2014.8.26.0000,
relator o Desembargador ALEXANDRE LAZZARINI, j.
17/03/2015).

Deste modo, nenhum reparo comporta a r. decisão.

Eventuais embargos declaratórios contra o acórdão serão julgados


virtualmente, a bem da eficiência, salvo se a parte embargante manifestar expressa oposição na
própria petição de interposição.

Ante o exposto, pelo presente voto, NEGA-SE PROVIMENTO


ao recurso.

ALEXANDRE COELHO
Relator
(assinatura eletrônica)

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