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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO PRESIDENTE DA EGRÉGIA

TURMA RECURSAL DO ESTADO DE SERGIPE.

Processo: 202301119547

CARLOS TADEU DA SILVA ROSA JÚNIOR, solteiro,


brasileiro, policial militar, maior, capaz, portador do RG.
n° 31847307 SSP/SE, inscrito no CPF nº: 025.673.115-21,
residente e domiciliado no endereço: Rua Rosário, Nº 288,
Centro, São Cristovão/SE, CEP: 49100-000, vem, ante a
presença de Vossa Excelência, inconformado com a decisão
lavrada pelo Presidente da Egrégia Turma Recursal do Estado
de Sergipe, negando seguimento ao recurso extraordinário
interposto, protocolar

AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO

com fulcro no artigo 1.042 e seguintes do Código de Processo


Civil.

Roga o recorrente que, empós recebido e


processado o presente recurso, seja intimado o agravado para,
querendo, apresentar contrarrazões recursais, e, após, com ou
sem a manifestação do recorrido, que sejam os autos remetidos
ao Egrégio Supremo Tribunal Federal, objetivando final
provimento.

Termos em que, com a juntada das razões anexas,


aguarda deferimento.

Nestes Termos
Pede Deferimento

Aracaju/SE, 21 de fevereiro de 2024.

TAYNARA TAVARES GOIS

OAB/SE 14.995
EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL;
COLENDA TURMA;
EXCELENTÍSSIMO MINISTRO RELATOR;
AGRAVANTE: CARLOS TADEU DA SILVA ROSA
JÚNIOR
AGRAVADO:ESTADO E SERGIPE

RAZÕES DO AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO

I. BREVIÁRIO FÁTICO.

Cuidam os autos de processo que teve seu curso


regular no sistema dos Juizados Especiais do Tribunal de
Justiça do Estado de Sergipe, tendo sido prolatado acórdão
que, considerou inexistente ilegalidade a ser sanada ou
inconstitucionalidade a ser declarada do artigo 14, §9º da
Lei Estadual n.º 2.066/76 (Estatuto dos Policiais Militares
de Sergipe.
Diante da decisão acima, foi manejado Recurso
Extraordinário por este Agravante, o qual restou inadimitido
pelo Presidente da 2ª Turma Recursal do Tribunal de Justiça
de Sergipe, ao argumento de aplicação da Súmula
280 deste e. Supremo Tribunal Federal.

Tais fundamentos do decisum monocrático, concessa


vênia, não merecem guarida!

Eis o que impende relatar.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS – AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE


ANÁLISE DE LEI LOCAL
Excelências, o Recurso Extraordinário interposto
pelo Agravante foi inadminitido em razão da suposta
necessidade de análise de legislação local, conforme se
observa:

(…)

Analisando os fundamentos do
Acórdão recorrido, verifico inexistir
plausibilidade no direito invocado pela
parte recorrente. Explico.

É que, no caso concreto, a


controvérsia foi dirimida com fundamento em
lei infraconstitucional local, qual seja,
Lei Estadual nº 2.066/76, o que impede a
remessa do recurso ao Supremo Tribunal
Federal, conforme se avista dos julgados
abaixo:

“SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
INTERPOSIÇÃO EM 10.11.2015. ADMINISTRATIVO.
POLICIAL CIVIL. GRATIFICAÇÃO. LEI Nº
2.990/1998. ANTECIPAÇÃO DE ABONO. LEI Nº
3.586/2001. SÚMULA 280 DO STF. MATÉRIA
FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 279/STF. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Nos termos da
orientação sedimentada na súmula 280 do STF,
não cabe recurso extraordinário quando a
verificação da alegada ofensa à Constituição
Federal depende de análise prévia da
legislação infraconstitucional pertinente à
matéria em discussão. 2. A análise de
alegação que deva ser contrastada com
elementos probatórios trazidos aos autos
esbarra no óbice da Súmula 279 do STF. 3.
Agravo Regimental a que se nega provimento.”
(ARE 920350 AgR-segundo, Relator(a): Min.
EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em
05/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-101
DIVULG 15-05-2017 PUBLIC 16-05-2017) grifou-
se

“AGRAVO INTERNO NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO ESTADUAL. GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE
INDUSTRIAL. DECRETO ESTADUAL 16.282/94.
INTERPRETAÇÃO DE LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 280 DO STF. MANDADO DE SEGURANÇA.
IMPOSSIBILIDADE DE MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS NESTA SEDE RECURSAL. ARTIGO 85,
§ 11, DO CPC/2015. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.” (RE 937468 AgR, Relator(a):
Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
02/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-103
DIVULG 17-05-2017 PUBLIC 18-05-2017) grifou-
se

Com efeito, para se chegar ao


exame da alegada ofensa à Constituição
Federal, faz-se necessário analisar norma
infraconstitucional local, o que inviabiliza
o extraordinário. No caso, a afronta à
Constituição Federal, se ocorrente, seria
apenas indireta.
Neste toar, sem dúvidas, há
óbice a remessa do apelo extremo por força
do que dispõe a Súmula 280 do Supremo
Tribunal Federal, segundo a qual “Por ofensa
a direito local não cabe recurso
extraordinário.”

Mediante o exposto, INADMITO o


Recurso Extraordinário, NEGANDO-LHE
SEGUIMENTO.

Intimem-se.

Ocorre que não se está questionando dispositivos


da Lei Estadual nº 2.066/76, mas sim a violação ao art. 93,
IX da CF (negativa de prestação jurisdicional), além dos
arts. 22, XXI; 42, §1º e 142, §3º, III, também da Carta
Magna, conforme se observa dos tópicos seguintes.

II.1 – DA VIOLAÇÃO AO ART. 93, IX DA CF – DA NEGATIVA DE


PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Com efeito, prevê o art. 93, IX da CF que:

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder


Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a
seus advogados, ou somente a estes, em casos
nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;
Observa-se que o fundamento para a
m a n u t e n ç ã o da sentença nos autos do recurso
inominado 202301119547 foi
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

INCONSTITUCIONALIDADE NÃO EVIDENCIADA. ARTIGO 22, XXI, DA


CF/88. OBSERVÂNCIA DO ARTIGO 8º, §2º, ALÍNEA “C” DO DECRETO-
LEI N.º 667/69. É o que se observa, inclusive, na ementa que
se transcreve:

EMENTA / VOTO: RECURSO INOMINADO


DO AUTOR. JUIZADO ESPECIAL DA
FAZENDA PÚBLICA. DIREITO
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE
SERGIPE. SOLDADO PM – ALUNO. TESE
DE
ILEGALIDADE/INCONSTITUCIONALIDADE
REFLEXA DA SUBDIVISÃO DA
GRADUAÇÃO DE SOLDADO EM QUATRO
CLASSES. ARTIGO 14, §9º DA LEI
ESTADUAL N.º 2.066/76.
INCONSTITUCIONALIDADE NÃO
EVIDENCIADA. ARTIGO 22, XXI, DA
CF/88. OBSERVÂNCIA DO ARTIGO 8º,
§2º, ALÍNEA “C” DO DECRETO-LEI
N.º 667/69. DIVISÃO DE MILITARES
EM CÍRCULOS DE CONVIVÊNCIA.
ORGANIZAÇÃO DO CORPO DE MILITARES
QUE NÃO PERMITE A EQUIPARAÇÃO DO
SOLDADO ALUNO COM O SOLDADO
GRADUADO. ISONOMIA RESPEITADA.
INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA LEI
ESTADUAL N.º 2.066/76. ATO
ILÍCITO INEXISTENTE. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

O argumento, trazido desde a defesa não foi


analisado.
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO
O ponto nodal da defesa do Agravante não
foi
examinado.

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal julgou a ADI nº 3.222-


RS na qual se questionava a constitucionalidade formal da Lei
gaúcha n. 11.991, de 27.10.2003,por suposta afronta ao art. 22,
inc. XXI, da Constituição dabRepública. A legislação estadual
teria desrespeitado a legislação geral nacional (Decreto-lei n.
667/1969) ao criar uma nova figura de policial militar
incompatível com o regulamento nacional, situação semelhante à
discutida

nestes autos.

AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEI GAÚCHA
N. 11.991/2003: CRIA O PROGRAMA
DE MILITARES ESTADUAIS
TEMPORÁRIOS DA BRIGADA MILITAR.
AFRONTA AOS ARTS. 5º, CAPUT, ART.
22, INC. XXI, 37, CAPUT E INC.
II, E ART. 144, CAPUT E §§5º E
7º, DACONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
NECESSIDADE TEMPORÁRIA E
EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO NÃO
CONFIGURADOS. DESCUMPRIMENTO DOS
INCISOS II E IXDO ART. 37 DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
EXIGÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO.
AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1.
Alterações promovidas pelas Leis
gaúchas ns. 12.558/2006,
12.787/2007 e 13.033/2008 à Lei
gaúcha n. 11.991/2003 não
importaram em perda parcial do
objeto da presente ação por se
manterem hígidas as razões
jurídicas que ensejaram o
ajuizamento da presente ação. 2.
O Programa de militares estaduais
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO
temporários da brigada militar,
criado pela lei impugnada, não
tem amparo na legislação nacional
que cuida da organização das
Polícias Militares e os Corpos de
Bombeiros Militares dos Estados,
dos Território e do Distrito
Federal (Decreto-lei n. 667/1969,
Decreto n. 88.777/1986 e Lei n.
10.029/2000). Ao cuidar de
matéria de competência p. 21 p.
24 privativa da União a Lei
gaúcha n.11.991/2003 afrontou o
art. 22, inc. XXI, da
Constituição da República. 3.
Falta de contingente policial a
agravar a violência e a
insegurança na sociedade gaúcha
não viabiliza a contratação
temporária prevista no art. 37,
inc. IX, da Constituição da
República porque a demanda não
tem contornos de temporariedade,
tampouco decorre de interesse
público é excepcional. As
demandas sociais ensejadoras da
Lei gaúcha n. 11.991/2003
exigiriam soluções abrangentes,
efetivas e duradouras:
imprescindibilidade de se cumprir
a regra constitucional do
concurso público. 4. Privilegiar
soluções provisórias para
problemas permanentes desatende o
comando constitucional e agrava
as dificuldades enfrentadas pela
sociedade gaúcha, que se tem
servido de prestações públicas
afeitas à segurança que não
atendem ao princípio da
eficiência (arts. 37, caput, e
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO
144, §§ 5º e 7º, da Constituição
da República), executadas por
policiais que não passaram pelo
crivo de processos seletivos
realizados segundo princípios de
mérito e impessoalidade (art. 37,
inc. II, da Constituição da
República). 5. As atividades a
serem desenvolvidas pelos
policiais temporários assemelham-
se àquelas exercidas pelos
policiais de carreira. A
discrepância entre os regimes
jurídicos aos quais as duas
categorias de policias estão
submetidas caracteriza afronta ao
caput do art. 5º da Constituição
da República. 6. A exigência de
concurso público para o
preenchimento de cargos e funções
nos quadros da Brigada Militar do
Estado do Rio Grande do Sul é
medida que viabilizará o acesso
democrático ao serviço público,
em cumprimento aos princípios da
legalidade, da igualdade, da
impessoalidade, da eficiência e,
também, da moralidade. 7. Ação
direta de inconstitucionalidade
julgada procedente. (STF. Ação
Direta de Inconstitucionalidade
nº 3.222-RS.

Rel. Min. Carmen Lúcia, Tribunal


Pleno, Data da

publicação04/09/2020).

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça "admite a


declaração
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO
incidental de inconstitucionalidade, de lei ou ato normativo do
Poder Público, desde que a controvérsia constitucional não
figure como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou
simples questão prejudicial, indispensável à resolução do
litígio principal." (Precedentes: RMS 27.911/CE, Rel. Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Turma, Dje 03/12/2008; REsp
1.106.159/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe
24/06/2010; AgRg nº 1.285.413 - SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 17/03/2011). p. 22 p. 25
Deste modo, consoante inteligência da jurisprudência emanada
pelo STJ, a inconstitucionalidade de determinada lei pode ser
suscitada em ação declaratória como incidenter tantum em sua
causa de pedir, mas não pode encerrar a própria pretensão
deduzida na inicial. Evidencia-se, in casu, o vício de
inconstitucionalidade formal do § 9º da LeiEstadual nº 2.066,
de 23 de dezembro de 1976, acrescido pelo art. 1º da
LeiComplementar Estadual nº 231 de 21 de novembro de 2013
quando cria uma quarta classe de soldado em descompasso com a
norma geral editada (Decreto-lei n. 667/1969) em cumprimento ao
que exigido pela Constituição da República (art. 22, XXI).
Proclamada a inconstitucionalidade incidenter tantum por este
D. Juízo, devea 4ª classe de soldado da PMSE ser considerada
extinta/declarada inexistente, devendo os autores serem
reenquadrados/aproveitados na classe inicial - Soldado3ª
Classe- desde a data da matrícula no Curso de Formação de
Soldado (ato de investidura no cargo), com efeitos financeiros
a partir de então. Obviamente, declarada a
inconstitucionalidade incidental dos dispositivos que criam a
quarta classe de soldado, por consequência lógica e natural,
deverá ser declarada também a inconstitucionalidade dos
dispositivosque fixam o subsídio do cargo extinto, afinal, NÃO
EXISTE SUBSÍDIO SEM CARGO! Há que se aplicar, in casu, a regra
de que o acessório segue o destino do principal (Accessorium
sequitur principale). Por consequência, deve ser declarada
ainda a inconstitucionalidade incidentalconsequente do
parágrafo único do art. 1º da Lei Complementar Estadual nº 278,
de 01 de dezembro de 2016, o qual revoga tacitamente o art. 6º
da Lei Complementar Estadual nº 231 de 21 de novembro de 2013 e
estabelece o subsídio do soldado aluno no valor de um salário
mínimo.
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO
Em situações como tais, este STF tem entendido
pela deficiência na fundamentação, negativa de prestação
jurisdicional e nulidade do acórdão.

II.2 - DA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 22, XXI; 42, §1º E 142, §3º DA CF

Entendeu o acórdão recorrido que o decreto-lei


667/69 constitui norma geral nos termos do art. 22, XXI, da
CF, razão pela qual seu dispositivo insculpido na alínea “c”
do art. 8º do Decreto-Lei nº 667/1969 seria óbice a
subdivisão em quatro da graduação de soldado.

A discussão aqui, no entanto, é se este dispositivo


teria sido recepcionado, como norma geral, nos termos do art.
22, XXI, da CF, violado por ter sido chamado a regular

Dia 19 realizei o protocolo da REQUERIMENTO DE AGREGAÇÃO de 4 pms ,


ALÉM DA COPIA DE CONCESSÃO DE LIMINAR

DECLARAÇÃO DE INICIO DO CURSO PELA ACADEPOL


situação estranha a seu âmbito de incidência, ou se o
dispositivo não teria sido recepcionado nos termos do art.
42, §1º e 142, §3º da mesma CF, violados porque ignorados na
atribuição aos Estados da competência para regular a forma de
ingresso em suas corporações militares e o regime jurídico
delas.

É essa a discussão dos autos.

O processo discute a violação, pela decisão,


dos dispositivos atinentes a distribuição de competência.

A previsão da alínea “c” do art. 8º do Decreto


nº 667/1969, quando confrontada com a disposição
constitucional específica direcionada para os militares dos
Estado (§ 1º do art. 42 c/c inc. X, do art. 142 da CFRB/1988)
perde completamente sua validade por ausência de recepção
(dessa específica norma e não do Decreto-Lei como um todo)
uma vez que, mutatis mutandis, referidas normas
constitucionais atribuem ao ente federativo a competência
específica para dispor sobre normas de ingresso nas
Corporações Militares Estaduais (Forças Auxiliares).

É o que se observa na leitura dos


dispositivos:

Art. 42 Os membros das Polícias Militares e


Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e
disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios, além do
que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art.
142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual
específica dispor sobre as matérias do art.
142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos
oficiais conferidas pelos respectivos
governadores.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas


pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base
na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria,
à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem.

.............................................
.......................

§ 3º Os membros das Forças Armadas são


denominados militares, aplicando-se-lhes,
além das que vierem a ser fixadas em lei, as
seguintes disposições:

.............................................
.....................
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças
Armadas, os limites de idade, a estabilidade
e outras condições de transferência do
militar para a inatividade, os direitos, os
deveres, a remuneração, as prerrogativas e
outras situações especiais dos militares,
consideradas as peculiaridades de suas
atividades, inclusive aquelas cumpridas por
força de compromissos internacionais e de
guerra.

Pela dicção do art.42, § 1º e da parte inicial


do inciso X, do § 3º, do art.142, repita-se, cabe à lei do
Estado dispor sobre regras de ingresso, limites de idade,
estabilidade e outros direitos dos militares estaduais, sendo
evidentemente a previsão da fase de curso (Soldado-Aluno)
norma específica do Estado de Sergipe de ingresso na carreira
dos Praças (Soldado a Subtenente).

Logo, a Lei Complementar nº 231/2013 ao dispor


que o ingresso do candidato ao cargo de Soldado (início da
carreira de Praças) dar-se-á na forma de matrícula no cargo
na condição de SOLDADO-ALUNO, durante a fase de formação
básica (CFSD), necessária e imprescindível para alcançar,
sucessivamente a 3ª, 2ª e finalmente a 1ª Classe da graduação
inicial está em harmonia com a previsão constitucional atual,
sendo correto afirmar que a restrição específica imposta pela
alínea “c”, do art. 8º do Decreto-Lei nº 667/1969 NÃO FOI
RECEPCIONADA, vez que se choca com a autonomia federativa
consagrada nas normas constitucionais acima sublinhadas.

De outro lado, o art. 22, XXI, da CF atribui a


União a competência para normas gerais relativas aos
militares estaduais.

Aqui impende ressaltar que este STF já se


manifestou no sentido de que a interpretação a ser conferida
ao dispositivo deve ser restritiva. A advertência é feita
pelo Min Alenxandre de Moraes, citando o Min Maurício
COrreia:

“Com efeito, nos termos do artigo 22, XXI, da


Constituição Federal, compete privativamente à
União legislar sobre normas gerais de
organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação, mobilização,
inatividades e pensões das polícias militares
e dos corpos de bombeiros militares.

Por outro lado, o legislador constituinte


delegou aos Estados a competência legislativa
para tratar das especificidades atinentes aos
temas previstos no artigo 142, § 3º, X, da
Constituição em relação aos militares que lhes
preste serviço. É o que se depreende da
leitura do art. 42, § 1º, abaixo destacado:

“Art. 42 Os membros das Polícias Militares e


Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e
disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 18, de
1998)
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios, além do
que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art.
142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual
específica dispor sobre as matérias do art.
142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos
oficiais conferidas pelos respectivos
governadores.”

O artigo 142, § 3º, X, por sua vez, dispõe que


“a lei disporá sobre o ingresso nas Forças
Armadas, os limites de idade, a estabilidade e
outras condições de transferência do militar
para a inatividade, os direitos, os deveres, a
remuneração, as prerrogativas e outras
situações especiais dos militares,
consideradas as peculiaridades de suas
atividades, inclusive aquelas cumpridas por
força de compromissos internacionais e de
guerra”.

De fato, a concepção de normas de caráter


geral relaciona-se ao estabelecimento de
diretrizes e de princípios fundamentais
regentes de determinada matéria, sem ser
possível ao legislador federal lançar mão de
disciplina relativa a peculiaridades ou
especificidades locais, descendo indevidamente
a minúcias normativas mais condizentes com a
atividadeo legislador estadual ou municipal. A
compreensão da terminologia “diretrizes e
princípios fundamentais” não pode ser ampliada
a ponto de tolher a capacidade de produção
normativa conferida pela Constituição aos
demais entes federativos, sob pena de se
vulnerar o pacto federativo.

Nesse sentido, é necessário considerar, tal


como oportunamente destacado pelo Ministro
SEPÚLVEDA PERTENCE, que “problema sério, na
questão da competência concorrente, é a
demarcação do âmbito normativo das chamadas
´normas gerais´. E, nesse ponto, como
assinalou o Ministro NELSON JOBIM, essa
competência federal do art. 22, inciso XXI,
para legislar sobre ´normas gerais de
organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação e mobilização das
polícias militares e corpos de bombeiros
militares´, há que ser interpretada
restritivamente, dentro de princípios básicos
da organização federativa: ela só se justifica
em termos da imbricação dos prismas gerais da
estruturação das polícias militares com o seu
papel de ´forças auxiliares e reserva do
Exército´ (Const., art. 144, § 6º)” ( ADI
1.540, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal
Pleno, DJ de 16/11/2001).”

A advertência foi feita no voto da ACO 3396,


cuja ementa transcreve-se:

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. CONSTITUCIONAL.


FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. LEI 13.954/2019.
ALÍQUOTA DE CONTRIBUIÇÃO PARA INATIVIDADE E
PENSÃO. POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES
ESTADUAIS. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA
ESTABELECER NORMAS GERAIS. ART. 22, XXI, DA
CF/88. EXTRAVASAMENTO DO CAMPO ALUSIVO A
NORMAS GERAIS. INCOMPATIBILIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
1. Ação Cível Originária ajuizada por Estado-
membro com o objetivo não afastar sanção
decorrente de aplicação, aos militares, de
alíquota de contribuição para o regime de
inatividade e pensão prevista na legislação
estadual, em detrimento de lei federal que
prevê a aplicação da mesma alíquota
estabelecida para as Forças Armadas. 2. É
possível a utilização da Ação Cível
Originária a fim de obter pronunciamento que
declare, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato
normativo, particularmente quando esta
declaração constituir-lhe a sua causa de
pedir e não o próprio pedido. 3. As regras de
distribuição de competências legislativas são
alicerces do federalismo e consagram a
fórmula de divisão de centros de poder em um
Estado de Direito. Princípio da predominância
do interesse. 4. A Constituição Federal de
1988, presumindo de forma absoluta para
algumas matérias a presença do princípio da
predominância do interesse, estabeleceu, a
priori, diversas competências para cada um
dos entes federativos – União, Estados-
Membros, Distrito Federal e Municípios – e, a
partir dessas opções, pode ora acentuar maior
centralização de poder, principalmente na
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

própria União ( CF, art. 22), ora permitir


uma maior descentralização nos Estados-
Membros e nos Municípios ( CF, arts. 24 e 30,
inciso I). 5. Cabe à lei estadual, nos termos
do art. 42, § 1º, da Constituição Federal,
regulamentar as disposições do art. 142, §
3º, inciso X, dentre as quais as relativas ao
regime de aposentadoria dos militares
estaduais e a questões pertinentes ao regime
jurídico. 6. A Lei Federal 13.954/2019, ao
definir a alíquota de contribuição
previdenciária a ser aplicada aos militares
estaduais, extrapolou a competência para a
edição de normas gerais, prevista no art. 22,
XI, da Constituição, sobre “inatividades e
pensões das polícias militares e dos corpos
de bombeiros militares”. 7. Ação Cível
Originária julgada procedente para determinar
à União que se abstenha de aplicar ao Estado
de Mato Grosso qualquer das providências
previstas no art. 7º da Lei 9.717/1998 ou de
negar-lhe a expedição do Certificado de
Regularidade Previdenciária caso continue a
aplicar aos policiais e bombeiros militares
estaduais e seus pensionistas a alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e
pensão prevista em lei estadual, em
detrimento do que prevê o art. 24-C do
Decreto-Lei 667/1969, com a redação da Lei
13.954/2019. Honorários sucumbenciais
arbitrados em R$ 4.000,00 (quatro mil reais),
nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC de
2015, devidos ao Estado-Autor.

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(STF - ACO: 3396 DF 0092343-
28.2020.1.00.0000, Relator: ALEXANDRE DE
MORAES, Data de Julgamento: 05/10/2020,
Tribunal Pleno, Data de Publicação:
19/10/2020)

Assim, por qualquer ângulo que se observe


foram violados os dispositivos dos arts 22, XXI; 42, §1º E
142, §3º DA CF, na exata medida em que o acórdão afirmou que
a norma federal deve prevalecer no caso concreto quando a
competência legislativa é estadual.

III – DOS PEDIDOS

Ante tudo o que fora exposto e considerando a


argumentação adrede mencionada, tendo em vista o equivocado,
d.m.v., posicionamento oriundo do Presidente da Turma
Recursal do Estado de Sergipe, aliado ao conteúdo dos autos,
requer o insurgente:
A) A admissão e processamento do presente
Agravo em Recurso Extraordinário, nos
termos do contido no art. 1.042 do Novo
Código de Processo Civil pátrio, com as
alterações inseridas pela Lei nº.
13.256/16, eis que preenchidos, com
louvor, todos os requisitos de
admissibilidade;

B) A intimação da parte ex adversa para,


querendo, no prazo de lei, apresentar as
contrarrazões recursais;

C) O encaminhamento do presente
recurso, acompanhado ou não das
contrarrazões, com o restante do conteúdo
dos autos, ao Egrégio Supremo Tribunal
Federal;

D) Suplica-se pelo conhecimento do


presente Agravo em Recurso
Extraordinário, julgando-se procedente a
presente insurgência, para receber,
conhecer e dar provimento in totum ao
Recurso Extraordinário outrora interposto
pelo agravante, e ora reiterado, em todos
os seus termos, para, assim, modificar o
acórdão vergastado, eis que a matéria é
de repercussão geral e notadamente porque
está prequestionada;

E) Ao fim e ao cabo, postula a parte


agravante pela devida intimação de
qualquer ato processual subsequente.

Ex positis, crédulo nos fundamentos jurídicos que


afloram deste arrazoado, roga o recorrente pelo deferimento
dos pedidos, por ser medida de justiça.

Nestes Termos

Pede Deferimento

Aracaju/SE, 21 de fevereiro de 2024.

TAYNARA TAVARES GOIS

OAB/SE 14.995

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