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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJBB
Nº 70022144208
2007/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA.


RENOVAÇÃO DA NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO
APÓS DECORRIDO O PRAZO DECADENCIAL DO
ART. 281, PARÁGRAFO ÚNICO, INC. II, DO CTB.
IMPOSSIBILIDADE. ARQUIVAMENTO DO AUTO DE
INFRAÇÃO E INSUBSISTÊNCIA DE SEU
REGISTRO. HONORÁRIOS. REDUÇÃO.
DESCABIMENTO.
Recurso da EPTC:
A renovação da notificação da autuação deve ocorrer
no prazo do artigo 281, parágrafo único, inciso II, do
CTB, que sobre ser de decadência, é de ser
contado do cometimento da infração.
Recurso da Autora:
Descabe a redução da verba honorária quando
parcimoniosamente fixada, em atenção à espécie, à
sucumbência e ao figurino legal (art. 20, § 4º, do
CPC).
Apelos desprovidos. Unânime.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA PRIMEIRA CÂMARA


CÍVEL
Nº 70022144208 COMARCA DE PORTO ALEGRE

EMPRESA PUBLICA DE APELANTE/APELADO


TRANSPORTE E CIRCULACAO S A
EPTC

GISLAYNE PIRES GAUTO APELANTE/APELADO

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima
Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em
negar provimento aos recursos, nos termos dos votos a seguir transcritos.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes


Senhores DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE E REVISOR)
E DES. MARCO AURÉLIO HEINZ.

Porto Alegre, 05 de dezembro de 2007.

DES. GENARO JOSÉ BARONI BORGES,


Relator.

R E L AT Ó R I O
DES. GENARO JOSÉ BARONI BORGES (RELATOR)
Trata-se de apelações interpostas pela EMPRESA PÚBLICA
DE TRANSPORTES E CIRCULAÇÃO – EPTC e por GISLAYNE PIRES
GAUTO, tendo em vista sentença proferida nos autos da ação anulatória de
ato administrativo c/c repetição de indébito ajuizada pela segunda apelante
contra a primeira.
O d. magistrado julgou procedente a ação para declarar nulo o
procedimento administrativo adotado pelo réu em relação aos autos de
infração indicados na inicial, obstada, por haver se operado a decadência, a
sua renovação, assim como para albergar a repetição do indébito postulado,
atualizando-se monetariamente o valor a ser restituído pelo IGP-M desde a
data de seu desembolso e acrescendo-se juros de mora de 12% ao ano a
contar da citação. Por fim, condenou o demandado ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios fixados em R$ 400,00.
Em suas razões, a EPTC assevera a inocorrência da
decadência que justifique a anulação dos AITs. Afirma que após trinta dias
do trânsito em julgado pode haver nova notificação. Colaciona
jurisprudência. Refere que a não oportunização de defesa não reflete na

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autuação, que se mantém incólume. Defende que o procedimento adotado


está em conformidade com a lei. Cita como fundamento o art. 281 do CTB.
Aduz a presunção de legitimidade do ato administrativo. Postula o
provimento do apelo.
Por sua vez, a Autora/Apelante postula a majoração da verba
honorária.
Os recursos foram contra-arrazoados (fls. 136/148 e 132/135).
O Ministério Público opinou pelo provimento do apelo da EPTC
e desprovimento do Apelo da Autora.
É o relatório.

VOTOS
DES. GENARO JOSÉ BARONI BORGES (RELATOR)

Recurso da EPTC:

Nos termos do parágrafo 1º, inciso II do art. 281 do Código de


Trânsito Brasileiro, se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a
notificação da autuação, o auto de infração deverá ser arquivado e seu
registro julgado insubsistente.

Este é o caso dos autos.

Com efeito, é da data em que expedidos os autos de


infração de trãnsito que começa a fluir o prazo decadencial de 30 dias
previsto no dispositivo retro mencionado, que não se interrompe. Como não
houve a notificação do sujeito passivo no trintídio legal, relativamente às
autuações, perdeu o Estado o direito de punir as infrações. Assim, devem os
autos de infração ser arquivados e seus registros tidos por insubsistentes.

Este o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, nos


acórdãos cujas ementas transcrevo:

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RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. MULTA DE


TRÂNSITO. NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO. PRAZO
DECADENCIAL. IMPOSSIBILIDADE DE RENOVAÇÃO.
1. Não expedida a notificação de autuação no tempo oportuno
(art. 281, parágrafo único, II), o prazo não pode ser
restabelecido pois já atingido pela decadência. Precedentes
desta Corte.
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg no AgRg no REsp 531265/RS, Ministro Castro Meira, j.
07/02/2006).

APLICAÇÃO DE PENALIDADE SEM ANTERIOR


NOTIFICAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE DEFESA
PRÉVIA. AUTUAÇÃO IN FACIE EQUIVALENTE À
NOTIFICAÇÃO DO COMETIMENTO DA INFRAÇÃO.
ANULAÇÃO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO A
PARTIR DA OCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DE DEFESA
E DO AUTO DE INFRAÇÃO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE
PUNIR. PRECEDENTES.
1. Embargos de divergência ofertados contra acórdão segundo
o qual “não expedida a notificação de autuação no trintídio
legal, impõe-se o arquivamento do auto de infração”.
2. O Código de Trânsito Brasileiro prevê mais de uma
notificação ao infrator: uma quando da lavratura do auto de
infração, ocasião em que é disponibilizado prazo para
oferecimento de defesa prévia e outra quando da aplicação da
penalidade pela autoridade de trânsito.
3. A jurisprudência desta Corte Superior é pacífica e iterativa
no sentido de que é ilegal, como condição para o
licenciamento, a exigência do pagamento de multa imposta
sem prévia notificação do infrator para defender-se em
processo administrativo. É garantido o direito de renovar
licenciamento de veículo em débito de multas se não houve a
prévia e regular notificação do infrator para exercitar seu direito
de defesa.
4. A autuação in facie do infrator torna inexigível posterior
notificação, sendo esta equivalente àquela (art. 280, VI, do
CTB). A notificação da autuação in facie deve anteceder o
lapso de 30 (trinta) dias para que seja enviado o auto de
infração para pagamento, em virtude de que este é o prazo
mínimo exigido pela legislação para o oferecimento da
necessária defesa prévia.
5. O comando constante do art. 281, parágrafo único, II, do
CTB, é no sentido de que, uma vez não havendo notificação do
infrator para defesa dentro do lapso de trinta dias, opera-se a
decadência do direito de punir do Estado.
6. Precedentes desta Corte Superior.
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7. Embargos de divergência conhecidos e não-providos.


(EREsp 803487/RS; Rel. Min. José Delgado, j. 11/10/2006.)

ADMINISTRATIVO. MULTA DE TRÂNSITO. NOTIFICAÇÃO DA


AUTUAÇÃO. AMPLA DEFESA. PRAZO DECADENCIAL.
1. Entendimento pacificado de que, a fim de garantir ampla
defesa aos condutores de veículos repreendidos pela prática
de alguma infração, haverá duas notificações: "a primeira
quando da lavratura do auto de infração se a autuação ocorrer
em flagrante, ou, por meio do correio, quando a autuação se
der à distância ou por equipamentos eletrônicos. A segunda,
notificação deverá ocorrer após julgado o auto de infração com
a imposição da penalidade de trânsito, após a notificação da
ocorrência desta" (REsp nº 613.728, Rel. Min. Franciulli Netto).
2. Não expedida a notificação de autuação no tempo oportuno
(art. 281, parágrafo único, II), o prazo não pode ser
restabelecido pois já atingido pela decadência.
3. Recurso especial provido.
(REsp 675161/RS, Rel. Min. Castro Meira, j. 22.03.2005)

Este também o posicionamento desta Câmara, em julgado cuja


ementa transcrevo:
APELAÇÃO CÍVEL. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO.
AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO PARA
APRESENTAÇÃO DE DEFESA PRÉVIA. ANULAÇÃO
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.
INOBSERVÂNCIA DO ART. 281, PARÁGRAFO
ÚNICO, II, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO.
DECADÊNCIA DO DIREITO DE PUNIR.
POSSIBILIDADE DE REPETIÇÃO.
I - Não havendo notificação do infrator para defesa
dentro do lapso de trinta dias previsto no art. 281,
parágrafo único, II, do CNT, opera-se a decadência do
direito de punir do Estado.
Precedentes do STJ.
II – Anulada a multa, é possível a repetição do
indébito.
Apelação desprovida, por maioria.
(Apelação Cível nº 70021075817, Rel. Des Marco
Aurélio Heinz)

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Recurso da Autora:
No que respeita aos honorários, estes foram
parcimoniosamente fixados, pois em atenção à espécie, à sucumbência e ao
figurino legal (art. 20, § 4º, do CPC), razão pela qual vão mantidos tal como
fixados pelo d. juízo a quo.
Ante ao exposto, nego provimento aos apelos.

cpl

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE E REVISOR) - De


acordo.
DES. MARCO AURÉLIO HEINZ - De acordo.

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH - Presidente - Apelação Cível nº


70022144208, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AOS
APELOS. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: LUIZ ANTONIO ALVES CAPRA

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