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Supremo Tribunal Federal

MEDIDA CAUTELAR EM MANDADO DE SEGURANÇA 32.948 DISTRITO


FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


IMPTE.(S) : MARCO ANTÔNIO SILVA FREIRE
ADV.(A/S) : CARLOS BASTIDE HORBACH E OUTRO(A/S)
IMPDO.(A/S) : CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA - CNJ
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

DECISÃO

MANDADO DE SEGURANÇA.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.
PROCEDIMENTO DE CONTROLE
ADMINISTRATIVO. DESCONSTITUIÇÃO
DE ATO DEFERINDO LICENÇA PARA
ACOMPANHAMENTO DE CÔNJUGE E
AUTORIZAÇÃO DO EXERCÍCIO
PROVISÓRIO EM TRIBUNAL REGIONAL
ELEITORAL. ART. 84, § 2º, DA LEI N.
8.112/1990. ALEGADA CONTRARIEDADE
AO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA
FAMÍLIA E DA PRESERVAÇÃO DA
UNIDADE FAMILIAR. MEDIDA LIMINAR
DEFERIDA. PROVIDÊNCIAS
PROCESSUAIS.

Relatório

1. Mandado de segurança, com requerimento de medida liminar,


impetrado por Marco Antônio Silva Freire, em 9.5.2014, contra decisão da
Conselheira Relatora do Pedido de Controle Administrativo n. 0005424-
96.2013.2.00.0000 no Conselho Nacional de Justiça, que anulou decisão
proferida pelo Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas no Processo n.
11.702/2012 e determinou o retorno do Impetrante ao seu órgão de
origem.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 5885803.
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MS 32948 MC / DF

O caso

2. O Impetrante, analista judiciário, relata ter sido autorizado pelo


Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas para exercer provisoriamente suas
funções no Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, acompanhando seu
cônjuge, que teria passado a exercer cargo público em Aracaju/SE
(Processo n. 11.702/2012).

Noticia que servidores do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas


teriam formalizado pedido de providências ao Conselho Nacional de
Justiça questionando a legalidade desse ato, ao fundamento de que o
cônjuge do servidor não seria detentor de cargo público, mas de contrato
administrativo de trabalho por prazo determinado, pelo que não se
enquadraria na previsão contida no § 2º do art. 84 da Lei n. 8.112/1990.

Em 25.3.2014, a Conselheira Relatora do Pedido de Providências n.


0005424-96.2013.2.00.0000, monocraticamente, julgou procedente o
procedimento de controle administrativo e cassou a decisão do Tribunal
Regional Eleitoral de Alagoas, que havia concedido a licença e autorizado
o exercício provisório do Impetrante em Tribunal diverso.

É contra essa decisão que se impetra o presente mandado de


segurança.

3. O Impetrante sustenta, em essência, que o ato apontado como


coator contrariaria seu direito líquido e certo a continuar exercendo suas
funções no Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, onde desempenha a
chefia do Cartório Eleitoral da 36ª Zona Eleitoral de Sergipe.

Afirma que o Conselho Nacional de Justiça não disporia de


competência para “apreciar a discussão posta no procedimento de controle
administrativo que lhe fora submetido. E isso se dava por duas razões distintas:
a) seja pela impossibilidade do Conselho analisar questões individualizadas, que

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não repercutem na organização do Poder Judiciário como um todo; b) seja pela


impossibilidade que tem tal órgão de apreciar questões judicializadas” (fl. 3).

Destaca que a situação jurídica em questão evidenciaria a presença


de interesses subjetivos e individualizados das partes envolvidas,
incapazes de atrair a atuação do Conselho Nacional de Justiça. Transcreve
precedentes alegadamente favoráveis a essa tese.

Anota ter o ato impugnado vulnerado o devido processo legal e


“invadido esfera de discussão já judicializada[, pois] (…) a matéria controversa
é objeto de várias demandas judiciais, sendo especificamente interessante
registrar a tramitação (…) do Mandando de Segurança 28.620, Rel. Min. Dias
Toffoli” (fls. 7-9).

Assevera que a interpretação restritiva conferida ao art. 84, caput, e §


2º da Lei n. 8.112/1990 pela autoridade apontada como coatora
desatenderia o princípio constitucional da proteção à família e da
preservação da unidade familiar.

Menciona precedentes jurisprudenciais em que se teria interpretado


ampliativamente o termo servidor previsto no preceito legal para
assegurar a preservação do núcleo familiar.

Defende a legalidade da decisão proferida pelo Tribunal Regional


Eleitoral de Alagoas e assinala que, “mesmo que o provimento seja originário,
o princípio da preservação da unidade familiar impõe a concessão do benefício
para acompanhamento de cônjuge, desde que não ocorra prejuízo para a
Administração” (fl. 17).

Ressalta que “o princípio constitucional da preservação da unidade


familiar deve[ria] ser elevado a sua máxima efetividade, de modo a garantir uma
interpretação com ele consentânea das normas legais sobre acompanhamento de
cônjuge” (fl. 22).

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Acrescenta que a continuidade do exercício provisório do


Impetrante em Aracaju/SE se faria necessária pelo recente nascimento de
sua filha, em 17.3.2014, e para evitar solução de continuidade das
medidas preparatórias do pleito eleitoral de 2014, que estariam sob seus
cuidados.

Realça a relevância da argumentação expendida e afirma estar na


iminência de ser compelido a retornar ao Tribunal Regional Alagoano,
“deixando para trás sua esposa em estado puerperal e sua filha em condição
delicada de saúde” (fl. 23).

Requer medida liminar para “suspen[der] dos efeitos da decisão


proferida nos autos do Processo de Controle Administrativo n. 0005424-
96.2013.2.00.0000 e, por consequência, seja mantido o impetrante em sua lotação
provisória até o julgamento final do presente mandamus” (fl. 23).

No mérito, pede a concessão da ordem de segurança para anular a


decisão impugnada.

4. Em 12.5.2014, Cid Cavalcanti de Albuquerque e Ivan Portela de


Macedo, “requerer[am] habilitação para figurar (…) como Terceiro Interessado,
[por serem] (…) autores do Procedimento de Controle Administrativo n.
0005424-96.2013.2.00.0000 junto ao CNJ” (doc. 17). O mesmo requerimento
foi formulado por Anderson Almeida de Lucena e José Moraes Brandão
(doc. 19).

5. Na mesma data, o Impetrante requereu a juntada de documentos


comprobatórios de sua atuação na Chefia do Cartório Eleitoral da 36ª
Zona Eleitoral de Sergipe e destacou que seu retorno ao órgão de origem
causaria prejuízos ao andamento dos trabalhos preparatórios para o
pleito de 2014. Na sequência, realçou a inadmissibilidade da intervenção
de terceiros em sede mandamental (doc. 18).

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Examinados os elementos havidos nos autos, DECIDO.

6. Inicialmente, indefiro os pedidos de ingresso na lide, na


qualidade de terceiros interessados, formulados por Cid Cavalcanti de
Albuquerque, Ivan Portela de Macedo, Anderson Almeida de Lucena e
José Moraes Brandão, que, a despeito de terem participado do
procedimento administrativo em questão, sequer cuidaram de esclarecer
em que consistiria seu interesse jurídico legítimo em pretender a
desconstituição do ato administrativo pelo qual foi concedida licença ao
Impetrante.

A assentada jurisprudência deste Supremo Tribunal não admite o


ingresso de terceiros interessados em mandados de segurança,
especialmente na condição de assistente simples ad adjuvandum de uma
das partes processuais, como se dá espécie vertente. Nesse sentido, são
precedentes: MS 26.552-AgR-AgR/DF, Relator o Ministro Celso de Mello,
Plenário, DJe 15.10.2009; RMS 31.553/DF, Relator o Ministro Ricardo
Lewandowski, decisão monocrática, DJe 13.3.2014; MS 29.178, Relator o
Ministro Ayres Britto, decisão monocrática, DJe 15.3.2011; MS 27.752,
Relatora a Ministra Ellen Gracie, decisão monocrática, DJe 18.6.2010; e MS
30.659, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, decisão monocrática, DJe
19.10.2011.

7. O objeto do presente mandado de segurança é a decisão proferida


pela Conselheira Relatora do Pedido de Controle Administrativo n.
0005424-96.2013.2.00.0000 no Conselho Nacional de Justiça, que anulou o
ato pelo qual o Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas havia licenciado o
Impetrante e autorizado seu exercício provisório em outro órgão público
federal, determinando o seu imediato retorno ao órgão de origem.

8. O ato apontado como coator foi lavrado nos termos seguintes:

“Procedimento de Controle Administrativo, apresentado por


Anderson Almeida de Lucena e outros, em face do Tribunal Regional

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Eleitoral do Estado de Alagoas, no qual pretendem seja deferida a


suspensão de todos os atos e efeitos referente à decisão exarada nos
autos do Processo Administrativo nº 11.702 de 06/06/2012.
Apontam, em apertada síntese, que a Corte requerida deferiu
licença remunerada ao servidor Marco Antônio Silva Freire, para
acompanhar sua esposa, - Juliana de Melo Ribeiro Freire - que não é
investida em cargo público, apenas contratada para trabalho
temporário. (...)
Propugnam sejam suspensos os efeitos da decisão conferida nos
autos do processo TER-AL 11.702/2012, bem como seja determinado
que servidor Marco Antônio Silva Freire retorne imediatamente a
respectiva lotação de origem (44ª Zona Eleitoral de Girau do
Ponciano/AL).
Em sua manifestação, o Tribunal Regional Eleitoral do Estado
de Alagoas aduz que a situação da esposa do servidor Marco Antônio
Silva Freire, que presta trabalho temporário, foi analisada nos autos do
Processo Administrativo nº 16.640, que tramitou do âmbito do
Tribunal, no ano de 2011, e no qual, com base em precedentes do
Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal,
entendeu-se que a expressão servidor público, constante do § 2º do
artigo 84 da Lei 8.112, de 1990, deve ser interpretada em sentido
amplo, também alcançando aqueles que exercem suas atividades nas
entidades da Administração Indireta.
Transcreve parecer exarado pela Coordenadoria de Pessoal do
Tribunal que repisou tal entendimento ao expor que o ‘afastamento do
cônjuge que melhor se coaduna com o preceito constitucional de
proteção da família é o que não restringe o significado de
‘deslocamento’ aos casos de provimento secundário’. (…)
É o breve relatório. Passo a decidir.
Afasto as preliminares arguidas porquanto a questão trazida à
apreciação não se encontra judicializada e tão pouco envolve matéria
de cunho individual.
A judicialização não restou suficientemente demonstrada tendo
em vista que a parte interessada não especificou o processo judicial
cujo objeto possa conflitar com os efeitos da decisão a ser exarada por
esta subscritora, capaz de implicar decisões conflitantes.

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De igual maneira, não se verifica que a questão envolva


interesse meramente individual, desprovida de repercussão geral,
tendo em vista que a remoção interessa a toda a categoria de servidores
vinculados ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Alagoas.
Cabe, então, passar-se ao exame do mérito, posto tratar-se de
questão relevante para os servidores do Judiciário eleitoral (...)
Com efeito, a decisão objurgada resolveu questão atinente à
lotação provisória de servidores e deve observar as disposições contidas
no artigo 84, §2º, da Lei 8112/90, que preconiza que a lotação
provisória de um servidor em outro órgão exige que o cônjuge
deslocado também seja servidor público civil ou militar. (...)
A partir de uma redação literal do dispositivo se extrai que a
lotação provisória deve se dar quando o cônjuge também é servidor
público civil ou militar. Assim, o exercício provisório ventilado apenas
se aplica quando observado o seu pressuposto fático: “no deslocamento
de servidor cujo cônjuge ou companheiro também seja servidor
público, civil ou militar”. Nesse sentido, confira-se manifestação deste
Conselho sobre o assunto:
CONSULTA. LICENÇA. AFASTAMENTO DE CÔNJUGE.
ART. 84, CAPUT, DA LEI Nº 8.112, DE 1990. DIREITO
SUBJETIVO. APROVEITAMENTO PROVISÓRIO. ART. 84, § 2º.
REQUISITO. CÔNJUGE SERVIDOR. 1. A licença por motivo de
afastamento do cônjuge, contemplada no caput do artigo 84 da Lei nº
8.112, de 1990, não se confunde com a licença com o exercício
provisório do servidor em função compatível com as do cargo que
ocupa em seu órgão de origem, albergada no § 2º do artigo retro
citado. 2. A concessão da licença, por si só, sem prazo ou remuneração,
nos termos do § 1º do artigo 84 da mesma Lei, é direito subjetivo do
servidor público e não está condicionada ao fato de ser o seu cônjuge,
também, servidor público, não importando, portanto, se o
deslocamento deste decorre de posse em razão de aprovação em
concurso público, nomeação para cargo em comissão ou mesmo por
outras razões a exemplo de transferências em empresas privadas ou
outras situações como educação, saúde ou circunstâncias familiares,
entendimento que se conforta com precedente do Superior Tribunal de
Justiça (REsp 871762/RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, 5ª Turma.

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Julgado em 16/11/2010. DJe 13/12/2010), ademais de não discrepar


daquele que restou assentado em julgado desta Casa ( PCA nº
20091000004285-5, Rel. Conselheiro José Adônis).3. Consulta
respondida nos termos acima explicitados.(CNJ - CONS - Consulta -
0001454-59.2011.2.00.0000 - Rel. WALTER NUNES DA SILVA
JÚNIOR - 124ª Sessão - j. 12/04/2011 ). (...)
No caso vertente, o requerente é servidor efetivo dos quadros da
justiça eleitoral do Estado de Alagoas e sua esposa foi aprovada para o
cargo de médica endoscopista da Rede Hospitalar do Estado de
Sergipe.
Nos termos do §2º do artigo 84 da Lei 8112/90, uma vantagem é
a licença por motivo de afastamento do cônjuge, contemplada no caput
do referido dispositivo, outra, é a licença com o exercício provisório do
servidor em função compatível com as do cargo que ocupa em seu
órgão de origem, albergada no § 2º do mesmo artigo. Para esta última
hipótese, na esteira de precedentes do Conselho Nacional de Justiça e
do Superior Tribunal de Justiça, exige-se que o cônjuge afastado
também seja servidor público civil ou militar, não sendo cabível falar-
se em aproveitamento provisório nos casos em que o cônjuge esteja
ingressando no serviço público, ou seja, nas hipóteses de provimento
originário.
A razão para a exigência em tela é simples, nos casos de
provimento originário do cônjuge em cargo público, o exercício
provisório do servidor tenderia, sempre, a ter caráter permanente,
violando a intenção do legislador ordinário e por violar o disposto no
artigo 36, parágrafo único, inciso III, alínea a, do mesmo normativo,
que trata da remoção para acompanhamento de cônjuge, confira-se:
Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de
ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede.
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se
por modalidades de remoção:
(...)
III - a pedido, para outra localidade, independentemente do
interesse da Administração:
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor
público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos

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Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no


interesse da Administração;
Nessa toada, em que pese o art. 226 da Constituição Federal,
determinar que o Estado tem interesse na preservação da família, base
sobre a qual se assenta a sociedade, aludido princípio não pode ser
aplicado indiscriminadamente, de forma a restringir interesses e
direitos de outros servidores que eventualmente tenham preferência
em concurso de remoção, merecendo cada caso concreto uma análise
acurada de suas particularidades. Se o servidor almeja deslocar-se nos
quadros da administração em caráter permanente, deve fazê-lo por
meio de remoção, se revestindo a licença por motivo de afastamento de
cônjuge com exercício provisório, in casu, de remoção por via
transversa, cujos requisitos legais são mais flexíveis.
Considerando que, no caso relatado nos autos, o deslocamento
do servidor Marco Antônio Silva Freire se deu em virtude do
provimento originário de sua esposa no Hospital de Sergipe, hipótese
não contemplada pelas determinações da Lei 8112/90, inexiste
subsunção do fato à norma, devendo o ato exarado pelo Tribunal ser
desconstituído.
Ante o exposto, dada à constatação de ilegalidade, determino a
anulação da decisão conferida nos autos do processo TER-AL
11.702/2012 e o retorno imediato do bem servidor Marco Antônio
Silva Freire à respectiva lotação de origem” (doc. 14, grifos nossos).

9. Para deferir a medida liminar em mandado de segurança, o art. 7º,


inc. III, da Lei n. 12.016/2009 e o art. 203, § 1º, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal exigem a conjugação de relevante fundamento e a
circunstância de que do ato impugnado possa resultar a ineficácia da
medida se essa vier a ser deferida somente ao final, requisitos presentes
na espécie vertente.

A decisão impugnada reputou ilegal ato do Tribunal Regional


Eleitoral de Alagoas concessiva ao Impetrante de licença para
acompanhamento do cônjuge, com exercício provisório em outro órgão
público federal. Para tanto, assinalou-se que a esposa do Impetrante não

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se qualificaria como servidora pública e que a situação fática retratada


evidenciaria deslocamento para fins de aplicação do § 2º do art. 84 da Lei
n. 8.112/1990, não aplicável aos casos de provimento originário.

10. Diversamente do que sugere a decisão impugnada, nesse exame


superficial e precário, próprio deste momento processual, não parece que
a situação jurídica em foco possa desnaturar a característica de
provisoriedade da licença em questão, transformando-a em remoção.

A remoção perfaz-se pelo deslocamento do servidor no mesmo


quadro (art. 36, da Lei n. 8.112/1990) e o Impetrante exerce suas
atividades, provisoriamente, em Tribunal diverso, que dispõe de quadro
de servidores distinto.

Acrescente-se, ainda, que os precedentes jurisprudenciais transcritos


na inicial desta ação evidenciam a relevância do fundamento segundo o
qual, em atenção ao comando constitucional de proteção à família, tem-se
elastecido o entendimento sobre a definição de servidor público, para
abarcar os que estão investidos em cargos públicos e também os que estão
vinculados por contratos de emprego, bastando, para tanto, a existência
de relação jurídica formal e direta entre a Administração e o cônjuge que
se deslocou.

Seria possível, então, nesse exame provisório e preliminar da causa,


reconhecer que o vínculo jurídico-administrativo da esposa do
Impetrante à Fundação Hospitalar de Saúde - FHS, órgão da
Administração Pública indireta de Sergipe, na qual exerce a função de
médica endoscopista, atenderia o requisito legal estampado no art. 84 do
estatuto do servidor público federal, a legitimar o deslocamento
provisório de seu cônjuge e o deferimento da licença cuja legalidade foi
questionada.

11. Ao examinar caso semelhante ao presente, no qual o Conselho

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Nacional de Justiça, igualmente provocado por servidores do Tribunal


Regional Eleitoral de Alagoas, desconstituiu ato administrativo pelo qual
havia sido deferido o afastamento de servidor daquele Tribunal para
acompanhamento de seu cônjuge, o Ministro Celso de Mello destacou:

“DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de


medida liminar, impetrado com o objetivo de questionar a validade
jurídica de deliberação emanada do E. Conselho Nacional de Justiça,
proferida nos autos do PCA nº 0007030-96.2012.2.00.0000, que
restou consubstanciada em acórdão assim ementado:
‘PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO.
DESCONSTITUIÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA.
REMOÇÃO PARA ACOMPANHAR CÔNJUGE. CESSÃO DE
SERVIDOR. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA
ADMINISTRAÇÃO. REQUISITO DO ART. 36, III, ‘A’, DA LEI
Nº 8.112/90. DESCUMPRIMENTO.
1. Dispõe a Lei 8.112/80, em seu artigo 36, inciso III, alínea ‘a’
que a remoção a pedido do servidor para acompanhamento de cônjuge
ou companheiro, independentemente da existência de vaga, exige
obrigatoriamente o cumprimento de requisito específico, qual seja, que
o cônjuge seja servidor público, removido no interesse da
Administração, não se admitindo qualquer outra forma de alteração de
domicílio.
2. Da leitura dos autos, extrai-se que o pedido de remoção foi
motivado pelo retorno ao órgão de origem, o Tribunal Regional do
Trabalho da 19ª Região (AL), do cônjuge do interessado que fora
cedida ao Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP).
3. Cessão e Remoção não se confundem. Conforme se depreende
do Decreto nº 4050 de 2001, a cessão de servidor não gera alteração na
lotação no órgão de origem (art. 1º, II, Decreto nº 4.050/2001). Por
esse motivo, a cessão é sempre temporária, como o foi no presente caso,
e não pode dar ensejo à remoção para acompanhar cônjuge.
4. Procedimento de Controle julgado procedente.” (grifei) (...)
Sendo esse o contexto, passo a examinar a postulação cautelar
ora deduzida nesta sede mandamental.
Tenho para mim que se mostram presentes, na espécie, os

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requisitos – que são cumulativos – concernentes à plausibilidade


jurídica e ao “periculum in mora”, viabilizadores da outorga do
provimento cautelar requerido pelo ora impetrante.
Com efeito, a pretensão cautelar ora em exame, analisada em
sede de sumária cognição, parece encontrar fundamento na cláusula
que consagra o dever constitucional, expressamente atribuído ao
Poder Público, de proteção à família e de preservação da unidade
familiar (CF, art. 226, “caput”).
Esse entendimento, que faz prevalecer a eficácia jurídica de tão
relevante princípio constitucional, tem sido observado por esta
Suprema Corte, em julgamentos nos quais se tem acentuado, com
particular ênfase, a indeclinável obrigação estatal de preservar a
unidade e de proteger a integridade da entidade familiar (...)
Essa compreensão que o Supremo Tribunal Federal revelou nos
precedentes que venho de mencionar reflete-se, por igual, na
jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça (...)
Na realidade, torna-se essencial dar consequência, no plano de
sua eficácia jurídica, ao princípio constitucional que consagra a
obrigação do Poder Público de velar pela proteção à família e de
preservar a sua unidade (CF, art. 226, “caput”).(...)
Cabe assinalar, de outro lado, que a peça documental subscrita
pelo Senhor Desembargador Vice-Presidente e Corregedor do E.
Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região parece revelar que o ato
que tornou sem efeito a cessão funcional do cônjuge do ora impetrante,
determinando o retorno dela ao Tribunal cedente, teria sido motivado
por razões de exclusivo interesse público, o que densificaria, ainda
mais, a pretensão de ordem cautelar sob julgamento.
Sendo assim, em juízo de estrita delibação e sem prejuízo de
ulterior reexame da pretensão mandamental deduzida na presente sede
processual, defiro o pedido de medida liminar, em ordem a
suspender, cautelarmente, ’os efeitos da decisão (…) proferida nos
autos do Procedimento de Controle Administrativo nº 0007030-
96.2012.2.00.0000, permitindo, assim, ao impetrante, que continue a
exercer suas atividades na sede do TRE/AL, na cidade de Maceió/AL,
até o julgamento definitivo desta ação’” (DJe 30.4.2014).

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12. Não fosse apenas a relevância dos fundamentos expendidos pelo


Impetrante a justificar o deferimento da medida liminar, a espécie revela
comprometimento da eficácia da medida, se deferida apenas ao final.

Os documentos juntados aos autos noticiam o nascimento, em


17.3.2014, da filha do Impetrante (doc. 11) e indicam que o recém-nascido
foi imediatamente internado para recebimento de transfusão de sangue
motivada por “anemia neonatal precoce” (doc. 12). Esse fato precedeu, em
apenas 7 dias, a decisão que determinou o retorno do Impetrante ao
órgão de origem, do que se infere a situação de desassossego introduzida
no seio familiar em momento tão crítico, a causar perplexidade.

Acrescente-se, ainda, que o quadro de saúde da filha e da esposa do


Impetrante foi retratado em relatório médico, emitido em 26.3.2014, nos
termos seguintes:

“Apesar da realização dos exames na maternidade não dicou


determinada a causa da anemia neonatal precoce.
Assim será necessário um acompanhamento rigoroso como
hematologista pediátrico e pediatria geral, além da realização de
exames mais específicos nos próximos dois meses. É uma paciente de
risco, pois pode evoluir com nova anemia que pode causar alterações
graves no quadro da criança.
Deste modo, pelo risco atual da criança associado ao período
puerpério materno, faz necessária a presença constante do pai, visto
que a evolução do quadro da criança é indeterminada” (doc. 12).

Desnecessário, diante desse apanhado dos fatos, tecer maiores


considerações sobre a necessidade de se assegurar, ainda que
provisoriamente, a manutenção da situação jurídica do Impetrante,
suspendendo os efeitos do ato impugnado, de modo a permitir que ele
permaneça ao lado de sua família até o julgamento do mérito desta
impetração.

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Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 5885803.
Supremo Tribunal Federal

MS 32948 MC / DF

Tanto se faz não apenas para dar concretude a proteção estatal à


família e para preservar sua unidade, mas, especialmente, para fazer
cumprir o dever de proteção à criança (art. 227 da Constituição da
República).

13. Pelo exposto, sem prejuízo de reapreciação da matéria no


julgamento do mérito, defiro a medida liminar requerida para
suspender os efeitos da decisão proferida no Processo de Controle
Administrativo n. 0005424-96.2013.2.00.0000 até o julgamento do mérito
do presente mandado de segurança (art. 7º, inc. III, da Lei n. 12.016/2009).

Enfatizo que o deferimento desta medida liminar não constitui


antecipação do julgamento do mérito da ação, não constitui direito nem
consolida situação jurídica. Cumpre-se por ela apenas o resguardo de
situação a ser solucionada no julgamento de mérito, para que não se
frustrem os objetivos da ação.

14. Notifique-se a autoridade Impetrada para, querendo, prestar


informações no prazo de dez dias (art. 7º, inc. I, da Lei n. 12.016/2009 c/c
art. 203 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

15. Intime-se a Advocacia-Geral da União, nos termos do art. 7º, inc.


II, da Lei n. 12.016/2009.

16. Na sequência, vista ao Procurador-Geral da República (art. 12


da Lei n. 12.016/2009 e art. 52, inc. IX, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal).

Publique-se.
Brasília, 12 de maio de 2014.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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