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AgRg no AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2027796 - RJ

(2021/0392022-5)

RELATOR : MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK


AGRAVANTE : RODRIGO DRABLE COSTA
ADVOGADOS : RAPHAEL FERREIRA DE MATTOS - RJ091172
TYAGO DINIZ VAZQUEZ - PE021495
FLÁVIO MIRZA MADURO - RJ104104
RODRIGO MONTEIRO MARTINS - RJ119843
CAIO HIROSHI PRESTRELO BABA - PE034318
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EMENTA

PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ART.
333, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL - CP. CORRUPÇÃO ATIVA. ART.
2º, § 3º E § 4º, II, DA LEI N. 12.850/13. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.
AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA. 1)
INTIMAÇÃO PARA SESSÃO DE JULGAMENTO DO AGRAVO
REGIMENTAL. DESCABIDA. 2) VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE. SÚMULA N. 568 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA – STJ. INOCORRÊNCIA. EVENTUAL VÍCIO SANÁVEL COM
JULGAMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL. 3) PLEITO DE
SUSTENTAÇÃO ORAL. AUSENTE PREVISÃO LEGAL OU
REGIMENTAL. 4) VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 41 E 315, § 2º, II, III, IV E
V, AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – CPP, E AO ART. 1º, §
1º E § 2º, DA LEI N. 12.850/13. VÍCIO DE FUNDAMENTAÇÃO NÃO
CONSTATADO. INÉPCIA DA DENÚNCIA NÃO CONSTATADA. 5)
VIOLAÇÃO AO ART. 395, III, DO CPP, BEM COMO AO ART. 1º, § 1º E §
2º, DA LEI N. 12.850/13. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ÓBICE DA
SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. 6)
VIOLAÇÃO AOS ARTS. 69 E 333, CAPUT, AMBOS DO CP. TRÊS ATOS.
CRIME FORMAL. 7) VIOLAÇÃO AOS ARTS. 158-A, 158-B, 158-C, 158-
D, 158-E, 315, § 2º, E 564, III, "D", TODOS DO CPP. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. 8) VIOLAÇÃO AO ART.
157 DO CPP, BEM COMO AO ART. 8º-A, § 4º, DA LEI N. 9.296/96.
PROVA LÍCITA. 8.1) VIGÊNCIA APÓS RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
8.2) VIGÊNCIA ANTERIOR AO JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO EM FACE DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. JUSTA CAUSA MANTIDA. 9) AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A apresentação em mesa do agravo regimental (recurso
interno em matéria penal) para julgamento independe de inclusão em
pauta, afastando-se a necessidade de intimação, consoante
jurisprudência pacífica nesta Corte.
2. A decisão monocrática proferida por Relator não afronta o
princípio da colegialidade e tampouco configura cerceamento de defesa,
ainda que não viabilizada a sustentação oral das teses apresentadas,
sendo certo que a possibilidade de interposição de agravo regimental
contra a respectiva decisão, como ocorre na espécie, permite que a
matéria seja apreciada pela Turma, o que afasta absolutamente o vício
suscitado pelo agravante (AgRg no HC 485.393/SC, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 28/3/2019).
3. Tratando-se de agravo em recurso especial protocolado
nesta Corte e de decisão agravada que dele conheceu para negar
provimento ao recurso especial, descabida a sustentação oral na sessão
de julgamento do agravo regimental, em razão da ausência de previsão
legal ou regimental.
4. O Tribunal de Justiça apresentou suficientes razões de
decidir para o recebimento da denúncia quanto ao crime de organização
criminosa, havendo por parte do agravante discordância em relação aos
fundamentos e ao resultado, o que não importa em vício do julgado.
4.1. Quanto ao art. 41 do CPP, em se tratando de organização
criminosa, crime cometido por pluralidade de agentes, não se exige a
descrição pormenorizada dos fatos, bastando que a denúncia implique os
acusados em fatos criminosos delimitados de modo a permitir a ampla
defesa e o contraditório, ficando as nuances para apuração no decorrer
da instrução criminal.
4.2. Nesse sentido, a denúncia inaugura a descrição do crime
de organização criminosa sem precisar exatamente o início dela, mas a
delimita ao início da legislatura, em razão da posse do recorrente na
condição de Prefeito.
5. Ante as razões postas no acórdão do Tribunal de Justiça
diante dos elementos já produzidos, o pleito de constatação de ausência
de justa causa esbarra no óbice da Súmula n. 7 desta Corte.
6. Embora para o mesmo fim, foram narrados três atos de
corrupção, o que justifica a denúncia por três condutas, pois o delito de
corrupção ativa prescinde de resultado naturalístico, sendo crime formal
que se consuma no momento do oferecimento da vantagem indevida.
7. O Tribunal de Justiça apresentou suficiente fundamentação
para rechaçar vício por quebra na cadeia de custódia, eis que não
demonstrado prejuízo na forma em que manipulado o material, razão pela
qual prescindível a abordagem de todos os aspectos levantados pela
Defesa.
8. O art. 10-A, § 1º, da Lei n. 9.296/96, inserido pela Lei n.
13.964/19, registra que a captação realizada por um dos interlocutores
para investigação ou instrução criminal sem exigível autorização judicial
não é crime. Por seu turno, o art. 8º-A, § 4º, da Lei n. 9.296/96, em uma
interpretação literal, permite "A captação ambiental feita por um dos
interlocutores sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou do
Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa, quando
demonstrada a integridade da gravação", ou seja, tem como uma das
condições o uso em matéria de defesa.
8.1. A Lei n. 13.964/19 também inseriu o art. 8º-A, § 4º, na Lei
n. 9.296/96, que após vetado pelo Presidente da República teve vigência
iniciada em 30/5/2021 (30 dias após a publicação da promulgação das
partes vetadas), em atenção ao disposto no art. 20 da Lei n. 13.964/19.
Quando do recebimento da denúncia, a referida restrição ao uso da
captação ambiental não estava em vigor no mundo jurídico, razão pela
qual mantém-se inalterado o conteúdo do acórdão que recebeu a
denúncia.
8.2. Por seu turno, quando do julgamento dos embargos de
declaração em face do acórdão que recebeu a denúncia já vigorava o art.
8º-A, § 4º, na Lei n. 9.296/96, e o Tribunal de Justiça não reconheceu
seus efeitos. De todo modo, não há prejuízo no tocante ao recebimento
da denúncia, ante a presença de justa causa com base também no
depoimento do vereador que fez a captação ambiental.
9. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Turma, por unanimidade, negar provimento ao agravo
regimental.
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca e Ribeiro
Dantas votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 06 de dezembro de 2022.

JOEL ILAN PACIORNIK


Relator
AgRg no AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2027796 - RJ
(2021/0392022-5)

RELATOR : MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK


AGRAVANTE : RODRIGO DRABLE COSTA
ADVOGADOS : RAPHAEL FERREIRA DE MATTOS - RJ091172
TYAGO DINIZ VAZQUEZ - PE021495
FLÁVIO MIRZA MADURO - RJ104104
RODRIGO MONTEIRO MARTINS - RJ119843
CAIO HIROSHI PRESTRELO BABA - PE034318
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EMENTA

PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ART.
333, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL - CP. CORRUPÇÃO ATIVA. ART.
2º, § 3º E § 4º, II, DA LEI N. 12.850/13. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.
AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA. 1)
INTIMAÇÃO PARA SESSÃO DE JULGAMENTO DO AGRAVO
REGIMENTAL. DESCABIDA. 2) VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE. SÚMULA N. 568 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA – STJ. INOCORRÊNCIA. EVENTUAL VÍCIO SANÁVEL COM
JULGAMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL. 3) PLEITO DE
SUSTENTAÇÃO ORAL. AUSENTE PREVISÃO LEGAL OU
REGIMENTAL. 4) VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 41 E 315, § 2º, II, III, IV E
V, AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – CPP, E AO ART. 1º, §
1º E § 2º, DA LEI N. 12.850/13. VÍCIO DE FUNDAMENTAÇÃO NÃO
CONSTATADO. INÉPCIA DA DENÚNCIA NÃO CONSTATADA. 5)
VIOLAÇÃO AO ART. 395, III, DO CPP, BEM COMO AO ART. 1º, § 1º E §
2º, DA LEI N. 12.850/13. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ÓBICE DA
SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. 6)
VIOLAÇÃO AOS ARTS. 69 E 333, CAPUT, AMBOS DO CP. TRÊS ATOS.
CRIME FORMAL. 7) VIOLAÇÃO AOS ARTS. 158-A, 158-B, 158-C, 158-
D, 158-E, 315, § 2º, E 564, III, "D", TODOS DO CPP. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. 8) VIOLAÇÃO AO ART.
157 DO CPP, BEM COMO AO ART. 8º-A, § 4º, DA LEI N. 9.296/96.
PROVA LÍCITA. 8.1) VIGÊNCIA APÓS RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
8.2) VIGÊNCIA ANTERIOR AO JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO EM FACE DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. JUSTA CAUSA MANTIDA. 9) AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A apresentação em mesa do agravo regimental (recurso
interno em matéria penal) para julgamento independe de inclusão em
pauta, afastando-se a necessidade de intimação, consoante
jurisprudência pacífica nesta Corte.
2. A decisão monocrática proferida por Relator não afronta o
princípio da colegialidade e tampouco configura cerceamento de defesa,
ainda que não viabilizada a sustentação oral das teses apresentadas,
sendo certo que a possibilidade de interposição de agravo regimental
contra a respectiva decisão, como ocorre na espécie, permite que a
matéria seja apreciada pela Turma, o que afasta absolutamente o vício
suscitado pelo agravante (AgRg no HC 485.393/SC, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 28/3/2019).
3. Tratando-se de agravo em recurso especial protocolado
nesta Corte e de decisão agravada que dele conheceu para negar
provimento ao recurso especial, descabida a sustentação oral na sessão
de julgamento do agravo regimental, em razão da ausência de previsão
legal ou regimental.
4. O Tribunal de Justiça apresentou suficientes razões de
decidir para o recebimento da denúncia quanto ao crime de organização
criminosa, havendo por parte do agravante discordância em relação aos
fundamentos e ao resultado, o que não importa em vício do julgado.
4.1. Quanto ao art. 41 do CPP, em se tratando de organização
criminosa, crime cometido por pluralidade de agentes, não se exige a
descrição pormenorizada dos fatos, bastando que a denúncia implique os
acusados em fatos criminosos delimitados de modo a permitir a ampla
defesa e o contraditório, ficando as nuances para apuração no decorrer
da instrução criminal.
4.2. Nesse sentido, a denúncia inaugura a descrição do crime
de organização criminosa sem precisar exatamente o início dela, mas a
delimita ao início da legislatura, em razão da posse do recorrente na
condição de Prefeito.
5. Ante as razões postas no acórdão do Tribunal de Justiça
diante dos elementos já produzidos, o pleito de constatação de ausência
de justa causa esbarra no óbice da Súmula n. 7 desta Corte.
6. Embora para o mesmo fim, foram narrados três atos de
corrupção, o que justifica a denúncia por três condutas, pois o delito de
corrupção ativa prescinde de resultado naturalístico, sendo crime formal
que se consuma no momento do oferecimento da vantagem indevida.
7. O Tribunal de Justiça apresentou suficiente fundamentação
para rechaçar vício por quebra na cadeia de custódia, eis que não
demonstrado prejuízo na forma em que manipulado o material, razão pela
qual prescindível a abordagem de todos os aspectos levantados pela
Defesa.
8. O art. 10-A, § 1º, da Lei n. 9.296/96, inserido pela Lei n.
13.964/19, registra que a captação realizada por um dos interlocutores
para investigação ou instrução criminal sem exigível autorização judicial
não é crime. Por seu turno, o art. 8º-A, § 4º, da Lei n. 9.296/96, em uma
interpretação literal, permite "A captação ambiental feita por um dos
interlocutores sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou do
Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa, quando
demonstrada a integridade da gravação", ou seja, tem como uma das
condições o uso em matéria de defesa.
8.1. A Lei n. 13.964/19 também inseriu o art. 8º-A, § 4º, na Lei
n. 9.296/96, que após vetado pelo Presidente da República teve vigência
iniciada em 30/5/2021 (30 dias após a publicação da promulgação das
partes vetadas), em atenção ao disposto no art. 20 da Lei n. 13.964/19.
Quando do recebimento da denúncia, a referida restrição ao uso da
captação ambiental não estava em vigor no mundo jurídico, razão pela
qual mantém-se inalterado o conteúdo do acórdão que recebeu a
denúncia.
8.2. Por seu turno, quando do julgamento dos embargos de
declaração em face do acórdão que recebeu a denúncia já vigorava o art.
8º-A, § 4º, na Lei n. 9.296/96, e o Tribunal de Justiça não reconheceu
seus efeitos. De todo modo, não há prejuízo no tocante ao recebimento
da denúncia, ante a presença de justa causa com base também no
depoimento do vereador que fez a captação ambiental.
9. Agravo regimental desprovido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto por RODRIGO DRABLE COSTA em


face de decisão de minha lavra de folhas 2250/2270 que, em juízo de reconsideração,
deu provimento ao agravo regimental para conhecer do seu agravo em recurso
especial e, com fundamento na Súmula n. 568 do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
– STJ, negar provimento ao recurso especial subjacente, ficando mantido acórdão do
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TJRJ.
Consta dos autos que o TJ, em ação penal originária, por maioria, recebeu
integralmente a denúncia em face do agravante e corréus. O agravante foi denunciado
pela prática dos delitos do art. 333, caput, do Código Penal – CP (corrupção ativa) e do
art. 2º, § 3º e § 4º, II, da Lei n. 12.850/13 (organização criminosa) (fl. 1130). O acórdão
ficou assim ementado:
"AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. CRIMES DE
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E CORRUPÇÃO ATIVA.
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
1) A inicial acusatória logrou descrever
satisfatoriamente os alegados crimes, constituindo as
condutas em tese praticada pelos denunciados fatos
típicos, ilícitos e culpáveis. Não existem elementos que
demonstrem, de plano, a ocorrência de alguma excludente
de ilicitude. A narrativa acusatória não traz qualquer
dificuldade que impeça a plena compreensão dos fatos
imputados para o exercício da ampla defesa, não se
sustentando a alegação de inépcia.
2) O Ministério Público ofereceu denúncia em face
do Prefeito, de dois vereadores do Município de Barra
Mansa, um deles presidente da Câmara Municipal, e de um
servidor municipal, pelos crimes dos artigos 2º, §§ 3º e 4º,
II, da Lei 12.850/2013 e 333, caput, do Código Penal (o
Prefeito); 2º, §4º, II, da Lei 12.850/2013 e 333, caput, do
Código Penal (os vereadores e o servidor público).
Segundo se extrai da inicial acusatória, o Prefeito, com o
intermédio dos vereadores, teria oferecido a um terceiro
vereador vantagem indevida para que este votasse pela
aprovação das contas da administração municipal
referentes ao exercício de 2018, as quais haviam recebido
parecer desfavorável do Tribunal de Costas do Estado.
Ainda de acordo com a denúncia, no desiderato de
confirmar o "acordo", o prefeito teria se encontrado
furtivamente com a vítima acompanhado, na ocasião, do
servidor municipal, que lhe prestara auxílio logístico e
moral.
2) O fumus comissi delicti encontra-se bem
delineado nos documentos que instruem a inicial
acusatória. Em análise perfunctória, a tentativa ilícita de
cooptação para o voto favorável aos interesses pessoais
do Prefeito ressai com bastante evidência dos elementos
de prova já angariados. Assim afirma-se porque, utilizando
aparelhos eletrônicos de gravação ambiental, o vereador
alvo da oferta indevida registrou três encontros pessoais
mantidos em sequência e de forma furtiva - dentro de
automóveis, em rota para locais recônditos da cidade e sob
a solicitação de desligamento dos aparelhos celulares -
com um dos vereadores e com o próprio prefeito municipal.
Conforme se observa das transcrições dos diálogos,
ambos - prefeito e vereador, identificados nas imagens -
ofereceram à suposta vítima dinheiro para a aprovação das
contas do ano de 2018, a qual seria colocada em pauta
mais tarde naquele mesmo dia em sessão ordinária na
Câmara Municipal de Barra Mansa. Os diálogos igualmente
indicam a participação do Presidente da Câmara Municipal,
porquanto nas conversas gravadas os interlocutores
demonstram ter conhecimento de que a suposta vítima já
havia sido meses antes procurada por aquele para pedir
voto favorável às contas do Prefeito, sugerindo uma
atuação como intermediário do alcaide. Esse assédio
preliminar é corroborado pelas declarações em sede
policial da suposta vítima, que relatou ter sido procurada
em sua casa meses antes pelo Presidente da Câmara
indagado se aceitaria "compor" com o Prefeito; como não
recebera resposta nessa ocasião, sempre que a
reencontrava, o Presidente da Câmara insistia no assunto.
Os fatos subsequentes aos encontros corroboram a
fidedignidade dos diálogos captados, pois, tal como
prognosticado nas conversas, quatorze dos dezenove
vereadores da Câmara Municipal de Barra Mansa − dentre
os quais os denunciados - contrariando parecer técnico do
Tribunal de Contas do Estado, efetivamente votaram pela
aprovação das contas do Prefeito. Bem por essas razões,
não impressiona o argumento de que o Presidente da
Câmara Municipal não teria sido gravado oferecendo
pessoalmente vantagem indevida. Sua suposta insistência
em persuadir o outro parlamentar e o voto favorável ao
Prefeito em desacordo com parecer técnico do Tribunal de
Contas permite a inferência de agira como longa manus do
Prefeito.
3) Não se vislumbra qualquer ofensa à cadeia de
custódia. A despeito da extração de cópias para a
verificação do conteúdo pelos investigadores e pelo
Parquet e elaboração de relatórios de transcrição, todo o
material utilizado nas gravações foi devidamente
apreendido pela autoridade policial e encaminhado lacrado
ao ICCE para análise pericial. Até o momento nenhum
elemento veio aos autos a demonstrar que houve
adulteração nas gravações, alteração na ordem
cronológica dos diálogos ou mesmo interferência de quem
quer que seja, a ponto de invalidá-los. Esse material
(ainda) não consubstancia prova, assim entendida aquela
submetida ao contraditório; apenas subsidia a acusação na
formação da justa causa, compondo o suporte probatório
mínimo de materialidade e autoria delitivas necessário à
propositura da ação penal, daí a reservar-se a confirmação
ou invalidação de sua autenticidade ou de seu conteúdo à
fase instrutória do processo.
4) O cenário revelado pelas gravações ambientais –
sublinhe-se, feitas por um dos interlocutores, possuindo
validade probatória (RE 583937 QO-RG) – incluindo o
registro da admissão de um dos vereadores de que em
outras ocasiões já recebera dinheiro para votar de acordo
com os interesses do Prefeito – aliado às declarações da
suposta vítima, permite divisar a perspectiva de que se
constituíra entre a administração do Prefeito e alguns dos
edis da Câmara Municipal de Barra Mansa um esquema de
"compra de votos" de parlamentares, o que sugeriria, por
via de consequência, a existência de uma organização
criminosa voltada para tal prática incrustrada no seio dos
Poderes Executivo e Legislativo do município.
5) Diante da gravidade dos ilícitos imputados,
compreende-se por que os denunciados procuram limitar
os fatos no âmbito de interesses puramente político-
eleitorais de seus opositores e se adiantam a especular
acerca da incompletude ou inautenticidade do material
gravado em áudio e vídeo – o qual já foi encaminhado à
perícia –incorrendo, vale repetir, em discussão reservada à
fase instrutória do processo. Decerto, seria pueril supor que
a iniciativa das gravações ambientais e da notícia-crime
partissem de aliado político. O ponto é que a fluidez dos
diálogos e as imagens, captadas de maneira clara,
possuem verossimilhança; não sugerem qualquer
adulteração capaz de modificar o contexto das conversas
ou de gerar equivocidade quanto ao assunto tratado que,
ao envolver dinheiro em troca de voto no parlamento, vai
muito além de uma mera tentativa de dissuasão política,
consubstanciando indícios de crime. Recebimento da
denúncia." (fls. 1127/1129)

Embargos de declaração opostos pela Defesa do agravante foram rejeitados,


conforme acórdão de folhas 1380/1391.
Em sede de recurso especial (fls. 1479/1523), em primeiro tópico, a Defesa
apontou violação aos artigos 41 e 315, § 2º, II, III, IV e V, ambos do Código de
Processo Penal – CPP, pois o TJ manteve denúncia que imputa ao agravante o delito
de organização criminosa a partir de 2017, mas atribui conduta delitiva apenas em
2020. Quanto ao crime de organização criminosa, destacou que não houve descrição
suficiente de condutas que se enquadram no referido tipo penal, notadamente a
respeito do vínculo associativo, da participação do quarto componente, da ocorrência
dos crimes de corrupção, consoante voto vencido. Entendeu que não houve, assim,
narrativa suficiente de fatos típicos. Acresceu que o TJ, ao manter o recebimento da
denúncia em sede de embargos de declaração incidiu em nulidade absoluta, por falta
de fundamentação, ilegalidade que pode ser conhecida de ofício.
Em segundo tópico, a Defesa apontou violação ao artigo 395, III, do CPP, bem
como ao artigo 1º, § 1º e § 2º, da lei n. 12.850/13, eis que a denúncia foi recebida pelo
TJ sem exteriorização da presença das elementares do tipo penal de organização
criminosa. Invocou novamente o voto vencido. Asseverou que as lacunas não
preenchidas de imediato ensejam a ausência de justa causa.
Em terceiro tópico, a Defesa apontou violação aos artigos 69 e 333, caput,
ambos do CP, porque o TJ recebeu a denúncia por três atos de corrupção, mas tais
atos teriam único objetivo/resultado, cooptar vereador a votar pela aprovação das
contas da administração municipal referentes ao exercício de 2018. Sustentou que os
três atos são mero desdobramento das tratativas de uma única ofensa ao bem jurídico
tutelado.
Em quarto tópico, a Defesa apontou violação aos artigos 158-A, 158-B, 158-C,
158-D, 158-E, 315, § 2º, e 564, III, "d", todos do CPP, porquanto o TJ rechaçou a
preliminar de violação à cadeia de custódia. Ressaltou que o material que embasa a
denúncia é gravação feita pelo vereador, consoante auto de apreensão, e que houve
extração de cópias por investigadores antes de encaminhamento à perícia oficial,
consoante admite o próprio órgão acusatório. Compreendeu que deveria ter havido
imediata análise pericial, com o devido acondicionamento e metodologia para pericial
para realização de transcrições por perito oficial. Afirmou que as transcrições foram
feitas por policial civil e assistente da acusação, bem como que não foram identificadas
as pessoas que tiveram acesso aos objetos armazenados. Nesse contexto, concluiu
por vícios insanáveis a tornar a referida prova imprestável, sendo devido o
desentranhamento.
Em quinto tópico, a Defesa apontou violação ao art. 157 do CPP, bem como ao
art. 8º-A, § 4º, da Lei n. 9.296/96, pois o TJ arrimou o recebimento da denúncia em
captação ambiental realizada por um dos interlocutores, conteúdo que não pode ser
utilizado para efeito incriminatório.
Requereu o provimento.
Contrarrazões do MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO -
MP (fls. 155/1571).
O recurso especial foi inadmitido, sobrevindo o agravo em recurso especial que
culminou com a decisão agravada que, em resumo, no tocante ao recurso especial,
rechaçou a inépcia da denúncia, a falta de fundamentação no acórdão do TJ, e a
ausência de justa causa, bem como o afastamento da imputação em concurso material
e a existência de prejuízo no tocante à suposta quebra de cadeia de custódia, em
atenção ao óbice da Súmula n. 7 do STJ (fls. 2250/2270).
No presente agravo regimental de folhas 2273/2308, a Defesa pugna pela
nulidade da decisão agravada, eis que invocada a Súmula n. 568 do STJ. Reproduz,
então, as razões do recurso especial, destacando que não houve prestação
jurisdicional no tocante ao apontamento de violação aos artigos 157 do CPP e 8º-A, § 4
º, da lei n. 9.296/96.
Requer a reconsideração ou o provimento do agravo regimental, com intimação
de inclusão em pauta e possibilidade de sustentação oral, para provimento do recurso
especial.
É o relatório.

VOTO

De plano, é hipótese de conhecimento do agravo regimental, eis que tempestivo


e apresentado com a devida impugnação da decisão agravada, respeitados os limites
da matéria controvertida.
De início, a apresentação em mesa do agravo regimental para julgamento
independe de inclusão em pauta, afastando-se a necessidade de intimação, consoante
jurisprudência pacífica nesta Corte. Precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.
SEGREGAÇÃO CAUTELAR DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
QUANTIDADE DE DROGAS. FUNDADO RECEIO DE
REITERAÇÃO DELITIVA. INEXISTÊNCIA DE NOVOS
ARGUMENTOS APTOS A DESCONSTITUIR A DECISÃO
IMPUGNADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - Nos termos da reiterada jurisprudência deste eg.
Superior Tribunal de Justiça "[...] não existe previsão de
intimação para sessão de julgamento de agravo
regimental, uma vez que o recurso interno penal independe
de inclusão em pauta (art. 258 do Regimento Interno do
STJ)" (AgRg no EDcl no RHC n. 121.837/PR. Quinta
Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de
27.05.2020).
[...]
Agravo regimental desprovido
(AgRg no HC 599.292/SP, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 12/11/2020).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO


REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL APRESENTADO EM MESA. INTIMAÇÃO
DA DATA DE JULGAMENTO. DESNECESSIDADE.
PRETENSÃO DE REDISCUSSÃO DO JULGADO.
INADEQUAÇÃO. EMBARGOS REJEITADOS.
[...]
3. Nos termos do art. 258 do Regimento Interno do
Superior Tribunal de Justiça - RISTJ, que disciplina o
manejo do agravo regimental em matéria penal, o feito será
apresentado em mesa, dispensando, pois, a prévia
inclusão em pauta e, consequentemente, a necessidade de
intimação da data do julgamento (EDcl no AgRg no REsp
1688309/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 04/09/2019).
[...]
5. Embargos de declaração rejeitados
(EDcl no AgRg nos EDcl no AREsp 1634077/SP,
Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,
DJe 28/9/2020).

Ainda, no tocante ao pleito de sustentação oral, forçosa constatação de que


ausente previsão legal ou regimental, pois o recurso protocolado nesta Corte foi agravo
em recurso especial. Precedente:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE SUSTENTAÇÃO
ORAL. NÃO CABIMENTO. ART. 159, IV, DO RISTJ.
CRIMES DE FALSIDADE IDEOLÓGICA E CONTRA O
AMBIENTE. TESE DE CONSUNÇÃO. DISSENSO
JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. CONDUTAS
AUTÔNOMAS. IMPOSSIBILIDADE DE REVOLVIMENTO
FÁTICO PROBATÓRIO. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ.
DOSIMETRIA DA PENA. DISCRICIONARIEDADE DO
JULGADOR. PENA-BASE MAJORADA DE FORMA
PROPORCIONAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. É assente que o Regimento Interno desta Corte
prevê, expressamente, em seu art. 258, que trata do
Agravo Regimental em Matéria Penal, que o feito será
apresentado em mesa, dispensando, assim, prévia
inclusão em pauta. A disposição está em harmonia com a
previsão de que o agravo não prevê a possibilidade de
sustentação oral.
2. O cotejo entre o art. 994 do CPC e o § 2º-B do
art. 7º da Lei n. 8.906/1994, inserido pela Lei n.
14.365/2022 evidencia que a novel lei não previu a
possibilidade de sustentação oral em recursos interpostos
contra decisão monocrática que julga o mérito ou não
conhece de agravo de instrumento, de embargos de
declaração e de agravo em especial ou extraordinário, uma
vez que esses recursos não estão descritos no
mencionado § 2º-B do art. 7º da Lei n. 8.906/1994. (EDcl
nos EDcl no AgInt no AREsp n. 1.829.808/SP, relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
23/6/2022, DJe de 28/6/2022.)
[...]
8. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp n. 2.037.267/RO, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe de
19/9/2022).

A respeito da preliminar de inaplicabilidade da Súmula n. 568 do STJ para o


caso concreto, conforme se verá ao longo do voto, as razões contidas na decisão
monocrática encontram respaldo dominante nesta Corte. De todo modo, o julgamento
do agravo regimental leva para a Turma o julgamento do feito, sanando-se eventual
vício, ainda que inexista previsão de sustentação oral no julgamento do agravo
regimental na hipótese do agravo em recurso especial. Precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO
MONOCRÁTICA PROFERIDA NOS TERMOS LEGAIS.
ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7 DO STJ. AGRAVO
DESPROVIDO.
[...]
3. No mesmo sentido, "o Supremo Tribunal Federal
reconhece a validade do julgamento monocrático (em
casos de aplicação de jurisprudência dominante) e a
constitucionalidade da vedação de sustentação oral no
julgamento de agravo regimental" (HC n. 138413 AgR,
Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 7/3/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-050
DIVULG 15-03-2017 PUBLIC 16-03-2017).
[...]
5. Agravo regimental improvido
(AgRg no REsp 1804556/RO, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 24/5/2019).

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


DECISÃO MONOCRÁTICA. CRIMES DE CORRUPÇÃO
PASSIVA E ATIVA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
OCORRÊNCIA. ART.932, III, CPC. ART. 34, XVIII, "A", E
XX, DO RISTJ. DOSIMETRIA. CIRCUNSTÂNCIAS
JUDICIAIS. ANÁLISE CONJUNTA PARA AMBOS OS
DELITOS. CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PRECEDENTES.
MANUTENÇÃO DO REGIME PRISIONAL FECHADO.
POSSIBILIDADE. PENA IGUAL A 8 ANOS. PRESENÇA
DE CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL DESFAVORÁVEL (ART.
33, § 2º, B, § 3º, CÓDIGO PENAL). SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. DESCABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE
NOVOS ARGUMENTOS APTOS A DESCONSTITUIR A
DECISÃO IMPUGNADA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
[...]
II - A decisão monocrática proferida por Relator não
afronta o princípio da colegialidade e tampouco configura
cerceamento de defesa, ainda que não viabilizada a
sustentação oral das teses apresentadas, sendo certo que
a possibilidade de interposição de agravo regimental contra
a respectiva decisão, como ocorre na espécie, permite que
a matéria seja apreciada pela Turma, o que afasta
absolutamente o vício suscitado pelo agravante.
[...]
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 485.393/SC, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 28/3/2019).

Quanto ao mérito, o desprovimento do recurso especial deve ser mantido.


No tocante ao primeiro e segundo tópicos, violação aos arts. 41, 315, § 2º, II, III,
IV e V, e 395, III, todos do CPP, e aos artigos 1º, § 1º e § 2º, da lei n. 12.850/13, quanto
ao delito de organização criminosa, o TJ rechaçou a inépcia da denúncia e a ausência
de justa causa, nos seguintes termos do julgamento dos embargos de declaração
(grifos nossos):
"Em síntese, em suas razões, o Embargante
aduz o seguinte: a) o acórdão não fundamentou a
efetiva presença das elementares do tipo penal de
organização criminosa, que ostenta natureza
complexa; b) a denúncia descreve um único ato de
corrupção pontual, o que não é suficiente para a
caracterização de uma ORCRIM; c) a defesa do
Embargante sustentou que a inserção do denunciado
Jorge Ricardo da Silva se deu exclusivamente no
intuito de atingir número de pessoas hábil a amoldar-
se ao tipo do art. 2º, da Lei 12.850/2013, porém, o
acórdão enfrentou a questão de forma aligeirada e
obscura, baseando-se em um único ato, qual seja, o
fato de Jorge haver conduzido o Embargante ao
encontro com o vereador Gilmar Lélis; d) consoante
estabelece a Lei nº 9.296/96, com as alterações da Lei nº
13.964/19, a captação ambiental por um dos interlocutores
sem a anuência dos demais, antes aceita pela
jurisprudência – e admitida no acórdão – agora é prática
proibida por força de lei e não pode ser utilizada como
elemento de prova; e) há incoerência no acórdão ao
registrar a prática de crime único de corrupção ativa (como
também assentado pela corrente vencida) e, ao mesmo
tempo, a conclusão pelo recebimento integral da denúncia,
que atribui ao Embargante três atos de corrupção; f) no
corpo do julgado, nada se aduz sobre essas três condutas
que seriam caracterizadoras do delito do art. 333 do
Código Penal, o que implica em presumir que, na
realidade, o recebimento da inicial acusatória deu-se pela
prática de crime único; g) o acórdão descurou de enfrentar
os argumentos defensivos quanto à inobservância da
cadeia de custódia, muitos dos quais aptos a infirmar a
conclusão da douta Relatora (art. 315, § 2º, IV, do CPP).
Sem razão, entretanto.
Inexiste qualquer omissão, contradição, obscuridade
ou mesmo ambiguidade no julgado, revelando-se o recurso
mera tentativa de rediscutir os fundamentos do acórdão, o
que, entretanto, se mostra defeso na presente via
impugnativa.
Inicialmente vale ressaltar que o entendimento
majoritário do Colegiado quanto ao crime de
organização criminosa considerou despiciendo que o
Parquet delineasse de maneira pormenorizada na
denúncia a estrutura preordenada da organização,
asseverando reservar-se essa à fase instrutória do
processo.
Não por outro motivo, aliás, foram autorizadas as
medidas cautelares de busca e apreensão e de quebra
de sigilo de dados e de comunicações em face dos
denunciados, porquanto somente a partir da colheita e
análise desses elementos torna-se viável a
confirmação quanto à existência de um grupo
estruturado, com estabilidade e permanência, nos termos
do disposto no art. 1º, §1º, da Lei 12.850/2013.
A conta dessas considerações é que o acórdão
impugnado, ao concluir pela admissibilidade da tese
acusatória em relação ao delito em comento, não pontuou,
analiticamente, a presença dos elementos do referido tipo
penal.
Conforme assentado no julgado, as próprias
circunstâncias das abordagens ao vereador Gilmar
Lélis para votar favoravelmente às contas do prefeito,
demonstradas por elementos de prova já presentes
nos autos, sugerem a existência de uma ORCRIM no
seio dos Poderes Executivo e Legislativo municipais,
porquanto ressai desses elementos a perspectiva de que
vereadores de Barra Mansa já teriam sido corrompidos,
sistematicamente, pelo Embargante e, em seu nome, pelos
outros vereadores denunciados, tanto para aquela quanto
para votações pretéritas na Câmara Municipal, num
esquema de "compra de votos".
Confira-se, a propósito, trecho do acórdão sobre o
ponto:
Na espécie, suficiente, para o momento, a
justa causa, corporificada nas mencionadas
gravações bem como em declarações
reduzidas a termo do noticiante Gilmar Lélis.
Segundo seu relato, a organização
supostamente subsistiria desde o início do
mandato do prefeito. Os ilícitos praticados
pelos denunciados não estariam limitados a
uma prática isolada de corrupção - esta que foi
objeto da mencionada gravação; ao contrário,
há indícios de que os denunciados formariam
uma organização criminosa voltada para a
atender aos interesses do edil, ante a notícias
de que vereadores já haviam sido
anteriormente corrompidos para votações da
Câmara Municipal.

A Corte considerou consubstanciarem esses


elementos de prova os indícios mínimos exigidos para
o recebimento da denúncia pelo delito do art. 2º da Lei
12.850/03, em obséquio à incidência, nessa fase, do
princípio in dubio pro societate.
[...]
Também, pelas mesmas razões, se mostra
despropositada a afirmação do Embargante de que o
Parquet teria forcejado a inclusão do quarto
denunciado, Jorge Ricardo da Silva, para a configuração
do delito de organização criminosa, porquanto, como
asseverado na decisão relativa à busca e apreensão e à
quebra de sigilo, verbis: "mostra-se necessário o
deferimento dos pleitos formulados pelo Parquet de busca
e apreensão e de quebra de sigilo de dados, notadamente
para permitir a colheita de provas acerca do vínculo
pretérito estável entre os membros do grupo e a eventual
revelação de outros participantes." (fls. 1383/1387)

Extrai-se do trecho acima que o TJ considerou despicienda a narrativa na


denúncia de forma pormenorizada do crime de organização criminosa, eis que os
detalhes somente serão conhecidos com o resultado das medidas cautelares de busca
e apreensão e de quebra de sigilo de dados e comunicações. Ainda, fez constar que as
abordagens ao vereador GILMAR LELIS já demonstradas indicam a existência da
organização criminosa num esquema de "compra de votos", preenchendo o requisito
da justa causa, desde o início do mandato. Quanto à inclusão de quarto denunciado
para configuração da organização criminosa, o TJ destacou não ser forçada, sendo
certo que o ponto será demonstrado ou não com as medidas cautelares já
mencionadas.
De plano, consoante se observa do trecho acima, não há que se falar em
nulidade no julgamento do por falta de fundamentação, eis que o TJ apresentou
suficientes razões de decidir para o recebimento da denúncia quanto ao crime de
organização criminosa. Em verdade, há por parte do agravante discordância em
relação aos fundamentos e ao resultado, o que não importa em vício do julgado.
Precedentes (grifos nossos):

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO


ATIVA E FALSAIDADE IDEOLÓGICA. ARTS. 333,
PARÁGRAFO ÚNICO, E 299 DO CP. NULIDADE DO
ACÓRDÃO. FALTA DE RESPOSTA AOS ARGUMENTOS
DEDUZIDOS. ART. 315, § 2º, IV, DO CPP. HIPÓTESE
NÃO CONFIGURADA. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL POR INÉPCIA DA INICIAL. AUSÊNCIA DE
DESCRIÇÃO DOS FATOS. IMPUTAÇÃO OBJETIVA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL VERIFICADO.
1. Nos termos do art. 315, § 2º, IV, do Código de
Processo Penal, cumpre ao Poder Judiciário enfrentar
os argumentos deduzidos no processo e capazes de
infirmar os atos impugnados, sob pena de nulidade da
decisão judicial. Precedente. O Tribunal local
respondeu às provocações da defesa. Destacou que,
em seu entendimento, a inicial descreve de modo
escorreito e claro os fatos imputados e que tais fatos
constituem, em tese, crime, razão pela qual a inicial
deveria prosseguir.
[...]
4. Recurso em habeas corpus provido para
conceder a ordem e trancar a Ação Penal n. 0010033-
35.2019.8.26.0050 em relação a Maurício Caviglia, quanto
às acusações de corrupção ativa e falsidade ideológica.
Ordem estendida, de ofício, para trancar a Ação Penal n.
0010033-35.2019.8.26.0050 em relação a João Lúcio dos
Reis Filho, Luiz Hiromitsu Miazato, Marcos Guedes Pereira,
Fernando Magalhães Almeida Prado Couto e Kleber Alves
da Silveira, quanto às acusações de corrupção ativa e
falsidade ideológica.
(RHC n. 137.106/SP, relator Ministro Sebastião Reis
Júnior, Sexta Turma, DJe de 15/3/2022).

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO


REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. 1. OFENSA AO
ART. 619 DO CPP. NÃO VERIFICAÇÃO. ARGUMENTOS
DA DEFESA ANALISADOS. FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE. 2. AFRONTA AO ART. 41 DO CPP.
SUPERVENIÊNCIA DA SENTENÇA. ALEGAÇÃO QUE
FICA ENFRAQUECIDA. DENÚNCIA SUFICIENTEMENTE
CLARA E CONCATENADA. AMPLA DEFESA
ASSEGURADA. 3. CRIME SOCIETÁRIO. RECORRENTE
RESPONSÁVEL PELA ADMINISTRAÇÃO. SÓCIO
PROPRIETÁRIO. LIAME DEVIDAMENTE
DEMONSTRADO. 4. VIOLAÇÃO DO ART. 1º, II, DA LEI
8.137/1990. ATIPICIDADE DA CONDUTA. NÃO
VERIFICAÇÃO. SUPRESSÃO DE 13 MILHÕES. FRAUDE
À FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA. INSERÇÃO DE
ELEMENTOS INEXATOS. 5. OFENSA AOS ARTS. 1º, 13
E 18 DO CP. NÃO OCORRÊNCIA. DOLO E NEXO
CAUSAL DEVIDAMENTE DELINEADOS. CONCLUSÃO
DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. IMPOSSIBILIDADE DE
DESCONSTITUIÇÃO. SÚMULA 7/STJ. 6. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. NÃO OBSERVÂNCIA DO CPC E DO
RISTJ. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO. 7.
AFRONTA AOS ARTS. 150, § 4º, E 173, I, DO CTN.
MATÉRIA AFETA AO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME NA
ESFERA CRIMINAL. 8. VIOLAÇÃO DO ART. 1º, II, DA LEI
N. 8.137/1990, C/C OS ARTS. 19 E 20 DA LC 87/1986,
C/C O ART. 142 DO CTN. MATÉRIA ESTRANHA AO
JUÍZO CRIMINAL. INQUÉRITO E AÇÃO PENAL QUE
APENAS TÊM INÍCIO APÓS A CONSTITUIÇÃO
DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. SÚMULA
VINCULANTE N. 24/STF. 9. AGRAVO REGIMENTAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Para que haja violação ao art. 619 do CPP, é
necessário demonstrar que o acórdão embargado
efetivamente padece de um dos vícios ali listados -
ambiguidade, obscuridade, contradição e omissão -, e
que o Tribunal de origem, embora instado a se
manifestar, manteve o vício. Diferentemente do que
alega o agravante, a Corte a quo examinou em detalhe
e de forma exaustiva todos os argumentos trazidos
pela defesa. Resolvida a questão com fundamentação
satisfatória, caso a parte não se conforme com as
razões declinadas ou considere a existência de algum
equívoco ou erro de julgamento, não são os embargos,
que possuem função processual limitada, a via própria
para impugnar o julgado ou rediscutir a causa.
[...]
9. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp n. 1.673.492/SP, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe de
12/12/2019).

Por seu turno, não se vislumbra violação ao art. 41 do CPP, eis que, em se
tratando de organização criminosa, crime cometido por pluralidade de agentes, não se
exige a descrição pormenorizada dos fatos, bastando que a denúncia implique os
acusados em fatos criminosos delimitados de modo a permitir o exercício da ampla
defesa e do contraditório, ficando as nuances para apuração no decorrer da instrução
criminal. Precedentes (grifos nossos):

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. "LAVAGEM" DE
DINHEIRO. TRANCAMENTO. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. VÍCIO NÃO
OBSERVADO. NULIDADE. FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE CONFIRMA O
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE. ANÁLISE RESTRITA ÀS HIPÓTESES DE
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. A aptidão da denúncia é aferida a partir do
conteúdo da descrição dos fatos delituosos, que deve
apontar todas as circunstâncias que envolvem a
prática da infração penal, individualizando e
tipificando, na medida do possível, a conduta de cada
um dos imputados.
2. Neste caso, embora a denúncia não forneça
uma descrição minuciosa dos fatos criminosos, a
descrição das condutas e de suas circunstâncias
atende ao requisito do art. 41 do Código de Processo
Penal, delimitando os aspectos indispensáveis à
individualização da conduta, permitindo, com isso, o
exercício das garantias constitucionais do
contraditório e da ampla defesa.
3. O magistrado, ao examinar a resposta à
acusação, está limitado à constatação da presença das
hipóteses de absolvição sumária, não podendo ampliar
demasiadamente o espectro de análise, sob pena de
invadir a seara relativa ao próprio mérito da demanda, que
depende de prévia instrução processual para que o
julgador possa formar seu convencimento.
4. Recurso ordinário em habeas corpus não provido.
(RHC n. 139.637/RR, relator Ministro Reynaldo
Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe de 1º/3/2021).

RECURSO EM HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO.


ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. CRIME COMETIDO A
BORDO DE AERONAVE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INEXISTÊNCIA.
DESCRIÇÃO SUFICIENTE DOS FATOS. POSSÍVEL
EXERCÍCIO DO PLENO DIREITO DE DEFESA. FALTA
DE JUSTA CAUSA. COMPROVAÇÃO IRREFUTÁVEL E
DE PLANO. AUSÊNCIA. PRISÃO PREVENTIVA.
?OPERAÇÃO ANTRACNOSE?. ART. 312 DO CPP.
PERICULUM LIBERTATIS. MOTIVAÇÃO IDÔNEA.
TEMPO DEMASIADO PARA A CONCLUSÃO
PROCESSUAL. COMPLEXIDADE DO FEITO. MODUS
OPERANDI. NECESSIDADE DE ACAUTELAMENTO DA
ORDEM PÚBLICA. RECURSO NÃO PROVIDO, COM
RECOMENDAÇÃO.
1. Os recorrentes e um terceiro denunciado, em
comunhão de desígnios com outras oito pessoas, tentaram
subtrair dez milhões de reais, do interior de um avião, com
utilização de armamento de grosso calibre (fuzis e
metralhadoras) e uso restrito (inclusive metralhadora
calibre .50, apta ao abatimento de aeronaves). Na
empreitada delituosa, os réus, fortemente armados,
efetuaram disparos contra os tripulantes do veículo aéreo,
a equipe policial e os ocupantes de dois carros forte, e
provocaram lesão corporal de natureza grave ao piloto.
2. A norma constitucional dispõe que compete aos
juízes federais processar e julgar crimes cometidos a bordo
de aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar
(art. 109, IX). Na hipótese, pretendeu-se subtrair patrimônio
localizado no interior de avião, local em que o piloto foi
gravemente lesionado. O veículo aéreo se encontrava em
operação de taxiamento (rolagem), no solo do aeródromo,
quando foi alvejado. O resultado lesivo das condutas
empreendidas pelos réus - afetação tanto à incolumidade
física de membro da tripulação quanto, ainda que tentada,
ao patrimônio da transportadora de valores - ocorreu a
bordo da aeronave, circunstância que atrai a competência
da Justiça Federal para processar e julgar a demanda.
3. Ademais, os policiais federais que atenderam à
ocorrência foram alvo de disparos de armas de fogo. O
risco à integridade física e às vidas dos agentes públicos
federais é fator que impõe a adoção do enunciado n. 147
da Súmula desta Corte Superior, segundo o qual
?Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
praticados contra funcionário público federal, quando
relacionados com o exercício da função?.
4. Por ser a denúncia a petição inicial do
processo criminal, com caráter meramente descritivo,
deve limitar-se a descrever o fato criminoso com todas
as suas circunstâncias, pois a autoria delitiva e a
pormenorização da empreitada delituosa só serão
elucidadas ao final da instrução processual.
5. Na espécie, o órgão ministerial descreveu, na
exordial, o modo de funcionamento da organização
criminosa e explicitou, ainda que de forma sucinta, os
fatos ilícitos praticados por cada denunciado, a
permitir o exercício amplo da defesa e do contraditório.
6. Banida a inépcia da denúncia, a negativa de
prosseguimento da demanda criminal apenas se
sustentaria, caso restasse provada, de modo manifesto e
de plano, a ausência de justa causa, a atipicidade da
conduta ou causa extintiva da punibilidade. Contudo, não
há falar, por ora, em escassez notória de justa causa para
a propositura da ação penal, porquanto houve a indicação
de elementos mínimos de autoria e materialidade, bem
como a descrição fática bastante, capazes de subsidiar o
processo deflagrado.
[...]
15. Recurso não provido, com recomendação de
prioridade no trâmite da demanda e breve prolação de
sentença.
(RHC n. 113.405/PE, relator Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe de 14/8/2020).

Nesse sentido, é que a denúncia inaugura a descrição do crime de organização


criminosa sem precisar exatamente o início dela, mas a delimita ao início da legislatura,
em razão da posse do recorrente na condição de Prefeito:

"1-DO CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA


Em período inicial ainda não precisado, porém
certamente vigente após o ano de 2017 até o mês de maio
de 2020, na cidade de Barra Mansa, os denunciados
RODRIGO DARBLE COSTA, Prefeito Municipal de Barra
Mansa, ZELIO RESENDE BARBOSA, Vereador à Câmara
Municipal de Barra Mansa, PAULO AFONSO SALLES
MOREIRA, vulgo PAULO CHUCHU, Presidente da Câmara
Municipal de Barra, e JORGE RICARDO, vulgo
CORONEL, (...)" (fl. 3)

Por sua vez, também não verificada a falta de justa causa pelo TJ, diante dos
elementos já produzidos, notadamente naqueles relacionados ao vereador GILMAR
LELIS. Destarte, conclusão diversa esbarra no óbice da Súmula n. 7 do STJ.
Precedentes (grifos nossos):

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO


REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PLEITO DE REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA. APONTADA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
AFRONTA AO ART. 395, INCISO III, DO CPP. ALEGADA
INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DE
MATERIALIDADE E AUTORIA. INVERSÃO DO JULGADO.
SÚMULA N. 7/STJ.
I - No presente caso, depreende-se que as
instâncias ordinárias, após preambular a análise do
delineamento fático e probatório, até então coligido aos
autos, concluíram pela existência de elementos suficientes
a fundamentar a justa causa necessária ao recebimento da
denúncia, na forma do art. 396, caput, do CPP.
II - A desconstituição do julgado, por suposta
contrariedade ao art. 395, inciso III, do CPP, no intuito
defensivo de rejeição da peça vestibular, sob a
alegação de inexistir, nos autos justa causa para o
exercício da ação em desfavor do recorrente, não
encontra guarida na via eleita, visto que seria
necessário a esta Corte o revolvimento do contexto
fático-probatório, providência incabível, conforme
inteligência do enunciado n.º 7 da Súmula do STJ.
Agravo Regimental desprovido.
(AgRg no AREsp n. 1.826.798/MS, relator Ministro
Felix Fischer, Quinta Turma, DJe de 23/3/2021).

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO


REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.
EVASÃO DE DIVISAS. ART. 22, PARÁGRAFO ÚNICO,
PARTE FINAL, DA LEI N. 7.492/86. 1) INDEVIDA
APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 568 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ. NÃO VERIFICAÇÃO.
JULGAMENTO DE AGRAVO REGIMENTAL QUE SANA
EVENTUAL VÍCIO. 2) VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 1º DO
CÓDIGO PENAL - CP E 22, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI
N. 7.492/86. INOCORRÊNCIA. DENÚNCIA QUE IMPUTA
FATO TÍPICO. 3) VIOLAÇÃO AO ART. 395, III, DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CPP. AUSËNCIA DE
JUSTA CAUSA QUE NÃO SE CONFUNDE COM
HIPÓTESE DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA (ART. 397 DO
CPP). 3.1) ÓBICE DO REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO, CONFORME SÚMULA N. 7/STJ. 4)
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Cumpre destacar que não há que se falar em
ofensa ao princípio da colegialidade em razão do
julgamento monocrático do recurso especial. Isso porque,
nos termos da Súmula n. 568, desta Corte, "o relator,
monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça,
poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver
entendimento dominante acerca do tema".
1.1. "A decisão monocrática proferida por Relator
não afronta o princípio da colegialidade e tampouco
configura cerceamento de defesa, ainda que não
viabilizada a sustentação oral das teses apresentadas,
sendo certo que a possibilidade de interposição de agravo
regimental contra a respectiva decisão, como ocorre na
espécie, permite que a matéria seja apreciada pela Turma,
o que afasta absolutamente o vício suscitado pelo
agravante" (AgRg no HC 485.393/SC, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 28/3/2019).
2. No caso em tela, a denúncia imputa
expressamente aos recorrentes a manutenção de depósito
não declarado no exterior em desacordo com normativo do
BACEN, fato típico, conforme art. 22, parágrafo único, parte
final, da Lei n. 7.492/86.
3. A falta de justa causa (art. 395, III, do CPP) é
hipótese de rejeição da denúncia, mas não de
absolvição sumária. A absolvição sumária possui
hipóteses restritas (art. 397 do CPP), notadamente
porque encerra juízo de mérito a respeito do
cometimento do delito denunciado.
3.1. O Tribunal de origem constatou que há
indícios de autoria e materialidade de cometimento do
delito do art. 22, parágrafo único, da Lei n. 7.492/86,
com base na documentação acostada aos autos. O
afastamento de tal conclusão demandaria o reexame
fático-probatório, providência vedada pelo enunciado
n. 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça - STJ.
4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp n. 1.427.631/SP, relator Ministro
Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe de 23/9/2019).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. IMPUTAÇÃO DOS CRIMES DE
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E DE FALSIDADE
IDEOLÓGICA EM CONTINUIDADE DELITIVA. PLEITO DE
REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. APONTADA INÉPCIA E
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. AFRONTA AO ART. 395,
INCISOS I E III, AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. NÃO OCORRÊNCIA. PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS ESTATUÍDOS NO ART. 41 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. APTIDÃO FORMAL DA PEÇA PARA
O INÍCIO DA PERSECUÇÃO CRIMINAL NA FASE
PROCESSUAL. CONSTATAÇÃO. CRIMES DE AUTORIA
COLETIVA. NECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO
PORMENORIZADA DA CONDUTA DENUNCIADA.
TEMPERAMENTOS. ACEITAÇÃO. ALEGADA
INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. INVERSÃO
DO JULGADO. SÚMULA N.º 7/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Quando constatados, pelas instâncias ordinárias,
a existência de indícios mínimos de autoria e da
materialidade delitiva, não se afigura possível o prematuro
trancamento da ação penal, sobretudo na hipótese em que
a prefacial acusatória demonstra, de forma clara e objetiva,
os imputados fatos criminosos, com a devida classificação
delitiva e todas as suas circunstâncias, bem como o
possível envolvimento do acusado na consecução da
empreitada criminosa, de forma suficiente à deflagração da
ação penal e apta a possibilitar o pleno exercício do
contraditório e da ampla defesa. Nesse contexto, resta
afastada a invocada ofensa aos arts. 41 e 395, incisos I e
III, ambos do CPP.
2. Na espécie, conforme consignado no aresto
recorrido, a denúncia não se apresenta manifestamente
inepta, eis que descreve fato típico com todas as suas
circunstâncias e possui respaldo mínimo probatório,
suficiente para ensejar o recebimento da denúncia e
prosseguimento da ação penal.
3. Segundo entendimento firmado por este
Tribunal Superior, nos crimes de autoria coletiva,
reputa-se prescindível a descrição minuciosa e
individualizada da ação de cada acusado, bastando a
narrativa das condutas delituosas e da suposta autoria,
com elementos suficientes ao avanço da persecução
criminal e hábeis a garantir a ampla defesa e o
contraditório, como verificado na hipótese.
4. As instâncias ordinárias, após preambular
análise do delineamento fático e probatório, até então
coligido aos autos, concluíram pela existência de
elementos suficientes a fundamentar a justa causa
necessária ao recebimento da denúncia, na forma do
art. 396, caput, do CPP. Logo, a desconstituição do
julgado, no intuito defensivo de rejeição da incoativa,
sob a alegação de inexistir, nos autos, qualquer indício
de que tenha o imputado atuado com os demais
corréus na prática delitiva apontada, não encontra
guarida na via eleita, visto que seria necessário a esta
Corte o revolvimento do contexto fático-probatório,
providência incabível, conforme inteligência do
enunciado n.º 7 da Súmula do STJ.
5. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp n. 1.333.052/PR, relatora Ministra
Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe de 1º/4/2019).

Sobre o terceiro tópico, violação aos artigos 69 e 333, caput, ambos do CP, o TJ
fez constar o seguinte no julgamento dos embargos de declaração (grifos nossos):

"Noutro giro, a inicial acusatória narra, de


maneira bastante clara, ao menos três episódios em
que teriam sido oferecidas vantagens ao vereador
Gilmar Lélis para que votasse favoravelmente à
aprovação das contas do Embargante na Casa
Legislativa: em duas ou três oportunidades, um
vereador teria tentado corromper Gilmar Lélis, em
nome do prefeito, agindo como longa manus, e na
última, o próprio prefeito – o Embargante – teria
oferecido pessoalmente a vantagem indevida.
Por isso, chega a ser surpreendente a afirmativa do
Embargante de que o acórdão, cuja fundamentação faz
menção a todos esses episódios, considerara a existência
de um único crime de corrupção ativa.
Mais uma vez, extrai-se do julgado:
Segundo se extrai da inicial acusatória, o
Prefeito do Município de Barra Mansa, Rodrigo
Drable Costa, com o intermédio dos vereadores
Zélio Resende Barbosa e Paulo Afonso Sales
Moreira, teria oferecido ao vereador Gilmar Lelis
do Carmo vantagem indevida para que este
votasse pela aprovação das contas da
administração municipal referentes ao exercício
de 2018, as quais haviam recebido parecer
desfavorável do Tribunal de Costas do Estado.
(...)
Com efeito, extrai-se das peças de
informação que, utilizando aparelhos
eletrônicos de gravação ambiental
escondidos (um simulacro de caneta preso
às vestimenta e um simulacro de chaveiro de
automóvel), o vereador Gilmar registrou na
data de 12/05/2020 três encontros pessoais
mantidos em sequência e de forma furtiva −
dentro de automóveis, em rota para
locais recônditos da cidade e sob a
solicitação de desligamento do aparelhos
celulares − com o vereador Zélio (os dois
primeiros) e com o próprio prefeito Rodrigo
(o terceiro e último encontro).
Conforme se observa das transcrições dos diálogos feitas pela
Polícia Civil e pela Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia
do Ministério Público Estadual, ambos − o prefeito e o vereador
Zélio, identificados nas imagens − ofereceram ao vereador
Gilmar dinheiro para a aprovação das contas do ano de 2018, a
qual seria colocada em pauta mais tarde naquele mesmo dia
em sessão ordinária na Câmara Municipal de Barra Mansa (fls.
100/130 e fls. 265/304).
Nos dois primeiros encontros, sugerindo falar em nome do
prefeito, o vereador Zélio tenta persuadir Gilmar,
pertencente à grupo de oposição política, oferecendo-lhe a
quantia inicial de R$30mil, além de uma suposta "ajuda de
campanha͟" de mais R$40mil para a votação; menciona que,
no total, quatorze vereadores já haviam sido cooptados e
adita já haver recebido em ocasiões anteriores valores em
espécie em contrapartida de apoio político ao prefeito na
Câmara Municipal.
No terceiro encontro, à guisa de confirmação da proposta, o
prefeito Rodrigo reverbera as palavras do vereador Zélio e
menciona contar com o voto favorável do vereador Gilmar
na sessão que se realizaria mais tarde.
(...)
Os diálogos igualmente indicam a participação de ao menos um
outro vereador na tentativa de aliciamento: Paulo Afonso Sales
Moreira, vulgo "Chuchu", Terceiro Denunciado, Presidente da
Câmara Municipal de Barra Mansa.
Nas conversas gravadas, tanto o vereador Zélio quanto o
prefeito Rodrigo demonstram ter conhecimento de que Gilmar já
havia sido meses antes procurado pelo vereador Paulo para
pedir voto favorável às contas do ano de 2018, sugerindo uma
atuação como intermediário do alcaide.
(...)
Com efeito, esse assédio preliminar é corroborado pelas
declarações do vereador Gilmar em sede policial. De acordo
com a narrativa, ele recebera via aplicativo WhatsApp um
telefonema do Presidente da Câmara solicitando um encontro
pessoal; o encontro deu-se no dia seguinte em sua residência,
tendo o vereador Paulo então indagado se aceitaria "compor"
com o prefeito votando pela aprovação das contas de sua
administração; como não recebera uma resposta nessa
ocasião, sempre que o reencontrava, o vereador Paulo insistia
no assunto (fls. 43/47)." (fls. 1387/1388)

Extrai-se do trecho acima que foram narrados três atos de corrupção, embora
para o mesmo fim. Aqui, justificada a denúncia pelos três atos, pois a corrupção ativa
prescinde de resultado naturalístico, sendo crime formal que se consuma no momento
do oferecimento. Precedentes (grifos nossos):
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO ATIVA. CRIME
FORMAL. EVENTUAIS IRREGULARIDADES NO
INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA DE CONTAMINAÇÃO
DA AÇÃO PENAL. INFORMAÇÃO SOBRE O DIREITO DE
PERMANECER EM SILÊNCIO. NULIDADE RELATIVA.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Supostas irregularidades ocorridas na fase de
inquérito policial não têm o condão de contaminar a ação
penal.
2. Eventual irregularidade na informação acerca do
direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade
relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do
prejuízo, o que não ocorreu no presente caso.
3. O delito de corrupção ativa, por se tratar de
crime formal, prescinde da efetiva obtenção da
indevida vantagem para sua consumação.
4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 703.604/PE, relator Ministro João
Otávio de Noronha, Quinta Turma, DJe de 13/5/2022).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. CORRUPÇÃO ATIVA.
ATIPICIDADE DA CONDUTA. INCIDÊNCIA DO ÓBICE
PREVISTO NA SÚMULA 7/STJ. CRIME FORMAL.
EFETIVA OBTENÇÃO DA VANTAGEM. MERO
EXAURIMENTO. INCIDÊNCIA DO ÓBICE PREVISTO NO
ENUNCIADO N. 83/STJ.
1. Na espécie, a Corte local entendeu pela
tipicidade das condutas mediante a análise dos elementos
probatórios colhidos nos autos, sob o crivo do contraditório.
Desse modo, a mudança da conclusão alcançada no
acórdão impugnado demandaria o reexame dos fatos e das
provas, o que é vedado nesta instância extraordinária, uma
vez que o Tribunal a quo é soberano na análise do acervo
fático-probatório dos autos (Súmula n. 7/STJ).
2. Nos termos da orientação desse Corte, o
"delito de corrupção ativa, enquanto crime formal,
prescinde, para sua consumação, da efetiva obtenção
da indevida vantagem, sendo esta mero exaurimento
da conduta criminosa" (RHC n. 47.432/SP, relator
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
16/12/2014, DJe 2/2/2015). Incidência do disposto no
enunciado n. 83/STJ. Precedentes.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp n. 458.340/SP, relator Ministro
Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, DJe de
18/3/2022).

Sobre o quarto tópico, violação aos artigos 158-A, 158-B, 158-C, 158-D, 158-E,
315, § 2º, e 564, III, "d", todos do CPP, o TJ registrou o seguinte no julgamento dos
embargos de declaração (grifos nossos):

"Igualmente descabida a alegação de que o acórdão


descurara de enfrentar os argumentos defensivos quanto à
inobservância da cadeia de custódia, consoante disposto
nos artigos 158-A a 158-F do CPP. A despeito de alegar
que muitos dos argumentos da defesa infirmariam a
conclusão sobre a validade da colheita e preservação dos
elementos de prova, o Embargante sequer indica quais
seriam tais argumentos, de molde a rechaçar o que ficou
expressamente consignado no acórdão, verbis:
A propósito, não se vislumbra qualquer
ofensa à cadeia de custódia. A despeito da
extração de cópias para a verificação do
conteúdo pelos investigadores e pelo
Parquet e elaboração de relatórios de
transcrição, todo o material utilizado nas
gravações foi devidamente apreendido pela
autoridade policial e encaminhado lacrado
ao ICCE para análise pericial (fls. 57/58,
61/68, 331/336).
Até o momento nenhum elemento veio aos autos a
demonstrar que houve adulteração nas gravações,
alteração na ordem cronológica dos diálogos ou mesmo
interferência de quem quer que seja, a ponto de invalidá-
los." (fls. 1388/1389)

Nesse tópico, tem-se que o TJ apresentou fundamentação suficiente para


rechaçar vício por quebra na cadeia de custódia, eis que não demonstrado prejuízo na
forma em que manipulado o material. Assim, prescindível a abordagem de todos os
aspectos levantados pela Defesa. Precedentes (grifos nossos):

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE
DROGAS. NULIDADE. ALEGAÇÃO DE QUEBRA DA
CADEIA DE CUSTÓDIA DA PROVA. NECESSIDADE DE
EXAME APROFUNDADO DAS PROVAS. PREJUÍZO NÃO
DEMONSTRADO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. A disciplina que rege as nulidades no processo
penal leva em consideração, em primeiro lugar, a estrita
observância das garantias constitucionais, sem tolerar
arbitrariedades ou excessos que desequilibrem a dialética
processual em prejuízo do acusado. Por isso, o
reconhecimento de nulidades é necessário toda vez que se
constatar a supressão ou a mitigação de garantia
processual que possa trazer agravos ao exercício do
contraditório e da ampla defesa.
2. Neste caso, o Tribunal a quo ponderou que a
análise da questão ventilada pela defesa depende de
apreciação de elementos de prova, providência inviável
nos estreitos limites cognitivos do habeas corpus, cujo
escopo não se presta ao estudo aprofundado de fatos e
provas, limitando-se a situações em que se constata
flagrante ilegalidade, cognoscível de plano, sem
necessidade de dilação probatória.
3. A defesa não conseguiu demonstrar de que
maneira teria ocorrido a quebra de cadeia de custódia
da prova e a consequente mácula que demandaria a
exclusão dos dados obtidos dos autos do processo
criminal. Assim, não é possível reconhecer o vício
pois, a teor do art. 563 do Código de Processo Penal,
mesmo os vícios capazes de ensejar nulidade absoluta
não dispensam a demonstração de efetivo prejuízo, em
atenção ao princípio do pas de nullité sans grief.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no RHC n. 153.823/RS, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe de
4/10/2021).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM


HABEAS CORPUS. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM
SISTEMA DE INFORMAÇÕES. TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. QUEBRA DE CADEIA DE CUSTÓDIA.
NÃO CONFIGURAÇÃO. REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. IMPOSSIBLIDADE NA ESTREITA VIA DO
WRIT.
1. As instâncias anteriores entenderam que não há
falar em imprestabilidade do Parecer Técnico
110/2015/5CCR/MPF, sob o entendimento de que se
investiga o delito previsto no art. 313-A do CP (inserção de
dados falsos em sistema de informações), o qual é crime
formal, bastando que, ao menos uma vez, se pratique a
conduta de inserir e/ou facilitar a inserção de dados falsos
ou alterar e/ou excluir indevidamente dados corretos nos
sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública, com o fim de obter vantagem
indevida para si ou para outrem ou para causar dano.
2. Não se encontrando nos autos elementos que
demonstrem cabalmente a adulteração dos
documentos, ou o prejuízo causado pela sua
incompletude, de modo a invalidar a prova e tornar
inviável o exercício da ampla defesa e do contraditório,
também inviável se afigura o reconhecimento da
alegada quebra da cadeia de custódia, embora essa
compreensão não implique de logo o aval do STJ à
validade e à eficácia probante do ao referido parecer,
que deve ser avaliado com mais percuciência na
sentença.
3. A mais disso, qualquer incursão mais
aprofundada nessa seara acarreta (ria) aprofundado
mergulho no acervo fático-probatório, incabível na estreita
via do mandamus, mais apropriada e necessária no
desenrolar da instrução da ação penal, oportunidade na
qual a defesa poderá arguir todos os pontos que entender
oportunos para afastar a imputação.
4. Agravo improvido.
(AgRg no RHC n. 145.671/RJ, relator Ministro
Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª
Região), Sexta Turma, DJe de 31/8/2021).

Finalmente, sobre o quinto tópico, violação ao art. 157 do CPP, bem como ao
art. 8º-A, § 4º, da Lei n. 9.296/96, o TJ consignou o seguinte no julgamento dos
embargos de declaração (grifos nossos):
"Por derradeiro, a inferência do Embargante de
que a captação ambiental por um dos interlocutores
sem a anuência dos demais passou a ser proibida com
o advento da Lei nº 13.964/19, superando a
jurisprudência até então existente sobre o tema, é
puramente especulativa.
A Lei 13.964/19 ("Pacote Anticrime"), que inseriu
novos dispositivos na Lei nº 9.296/96, em momento
algum tratou da hipótese – gravação ambiental feita
por um dos interlocutores sem conhecimento do outro
– salvo para afirmar que não constitui crime, o que
permite a conclusão de que tal meio de prova
permanece lícito.
A exegese continua sendo a mesma que se formou
na jurisprudência antes do advento da Lei 13.964/19: o que
não se encontra acobertada pelo sigilo, a demandar
reserva de jurisdição, é a interceptação da comunicação,
ou seja, a captação por terceiro, que se intromete
furtivamente e toma conhecimento do teor de comunicação
alheia.
No ponto, vale reproduzir dos novos
dispositivos introduzidos na Lei nº 9.296/96:
Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá
ser autorizada pelo juiz, a requerimento da autoridade
policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de
sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando:
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e
igualmente eficazes; e
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e
participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas.
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o
local e a forma de instalação do dispositivo de captação
ambiental. (Incluído pela Lei13.964/2019)
§ 2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá
ser realizada, quando necessária, por meio de operação policial
disfarçada ou no período noturno, exceto na casa, nos termos
do inciso XI do caput do art. 5º da Constituição Federal.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15
(quinze) dias, renovável por decisão judicial por iguais períodos,
se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando
presente atividade criminal permanente, habitual ou continuada.
(Incluído pela Lei 13.964/2019)
§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores
sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou do
Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de
defesa, quando demonstrada a integridade da gravação.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as
regras previstas na legislação específica para a interceptação
telefônica e telemática.

Art. 10-A (...)


§ 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos
interlocutores.

Nesse mesmo sentido, já se manifestou o E.


Superior Tribunal de Justiça, conforme noticiado no
Informativo nº 680, de 23 de outubro de 220, daquele E.
Sodalício, verbis:
As inovações do Pacote Anticrime na Lei nº 9.296/96 não
alteraram o entendimento de que é LÍCITA (válida) a prova
consistente em gravação ambiental realizada por um dos
interlocutores sem conhecimento do outro. (STJ. 6ª Turma.
HC 512.290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
18/08/2020, DJe 25/08/2020)
[...]
No mesmo sentido é o precedente do Supremo Tribunal
Federal, exarado na QO-RG RE 583.937/RJ, de que, desde que
não haja causa legal de sigilo, "é lícita a prova consistente em
gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem
conhecimento do outro" (Tema 237).
Na oportunidade, o Colegiado concluiu que a disponibilização
de conteúdo de conversa por partícipe, emissor ou receptor,
significaria apenas dispor daquilo que também é seu, sem que
se possa falar em interceptação, sigilo de comunicação ou de
intromissão furtiva em situação comunicativa. Não se delimitou
que a gravação de conversa por um dos participantes do
diálogo seria lícita somente se utilizada em defesa própria,
nunca como meio de prova da acusação.
[...]
Diante do exposto, rejeitam-se os presentes
embargos." (fls. 1389/1391)

Extrai-se do trecho acima que o TJ asseverou que o Pacote Anticrime apenas


registrou que a captação ambiental feita por um dos interlocutores sem a anuência dos
demais não é ilícita.
De fato, o art. 10-A, § 1º, da Lei n. 9.296/96, inserido pela Lei n. 13.964/19,
registra que a captação realizada por um dos interlocutores para investigação ou
instrução criminal sem exigível autorização judicial não é crime.
Contudo, a Lei n. 13.964/19 também inseriu o art. 8º-A, § 4º, na Lei n. 9.296/96,
que após vetado pelo Presidente da República teve vigência iniciada em 30/5/2021 (30
dias após a publicação da promulgação das partes vetadas), em atenção ao disposto
no art. 20 da Lei n. 13.964/19, consoante precedente do STF (grifo nosso):

MANDADO DE SEGURANÇA. HONORARIOS DE


ADVOGADO. INICIO DA VIGENCIA DE PARTE DE LEI
CUJO VETO FOI REJEITADO. SEGUNDO DECISÕES
RECENTES DE AMBAS AS TURMAS DO STF (RE
81.481, DE 8.8.75; RE 83.015, DE 14.11.75; E RE 84.317,
DE 06.4.76), CONTINUA EM VIGOR A SÚMULA 512.
QUANDO HÁ VETO PARCIAL, E A PARTE VETADA
VEM A SER, POR CAUSA DA REJEIÇÃO DELE,
PROMULGADA E PUBLICADA, ELA SE INTEGRA NA
LEI QUE DECORREU DO PROJETO. EM VIRTUDE
DESSA INTEGRAÇÃO, A ENTRADA EM VIGOR DA
PARTE VETADA SEGUE O MESMO CRITÉRIO
ESTABELECIDO PARA A VIGENCIA DA LEI A QUE ELA
FOI INTEGRADA, CONSIDERADO, POREM, O DIA DE
PUBLICAÇÃO DA PARTE VETADA QUE PASSOU A
INTEGRAR A LEI, E, NÃO, O DESTA. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO, EM
PARTE.
(RE 85950, Relator(a): MOREIRA ALVES, Segunda
Turma, julgado em 26/11/1976, DJ 31-12-1976 PP-11240
EMENT VOL-01047-05 PP-01241 RTJ VOL-00081-02 PP-
00640)

E, o art. 8º-A, § 4º, da Lei n. 9.296/96, em uma interpretação literal, permite "
A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da
autoridade policial ou do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa,
quando demonstrada a integridade da gravação", ou seja, tem como uma das
condições o uso em matéria de defesa.
Sendo assim, embora quando do recebimento da denúncia a referida restrição
ao uso da captação ambiental não estivesse em vigor no mundo jurídico, certo é que no
julgamento dos embargos de declaração já estava, de modo que poderia ensejar
conclusão diversa, o que não ocorreu, como visto. Destarte, não é caso de alterar o
conteúdo do acórdão que recebeu a denúncia.
Quanto ao acórdão que julgou os embargos de declaração, embora o TJ tenha
asseverado que a Lei n. 9.296/96 não tratou da hipótese de "captação
ambiental gravação ambiental feita por um dos interlocutores sem conhecimento do
outro - salvo para afirmar que não constitui crime", não há prejuízo no tocante ao
recebimento da denúncia, ante a presença de justa causa com base também no
depoimento do vereador que fez a captação ambiental. Cita-se trecho do acórdão que
recebeu a denúncia (grifos nossos):

"Na espécie, suficiente, para o momento, a justa


causa, corporificada nas mencionadas gravações bem
como em declarações reduzidas a termo do noticiante
Gilmar Lélis. Segundo seu relato, a organização
supostamente subsistiria desde o início do mandato do
prefeito. Os ilícitos praticados pelos denunciados não
estariam limitados a uma prática isolada de corrupção -
esta que foi objeto da mencionada gravação; ao contrário,
há indícios de que os denunciados formariam uma
organização criminosa voltada para a atender aos
interesses do edil, ante a notícias de que vereadores já
haviam sido anteriormente corrompidos para votações da
Câmara Municipal." (fl. 1152)

Ante o exposto, voto pelo desprovimento do agravo regimental.


Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no AgRg no
Número Registro: 2021/0392022-5 AREsp 2.027.796 /
RJ
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00396713020208190000 202124701147 PROCEDIMENTO INVESTIGATORIO


EM MESA JULGADO: 06/12/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : RODRIGO DRABLE COSTA
ADVOGADOS : RAPHAEL FERREIRA DE MATTOS - RJ091172
TYAGO DINIZ VAZQUEZ - PE021495
FLÁVIO MIRZA MADURO - RJ104104
RODRIGO MONTEIRO MARTINS - RJ119843
CAIO HIROSHI PRESTRELO BABA - PE034318
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CORRÉU : JORGE RICARDO DA SILVA
CORRÉU : ZELIO RESENDE BARBOSA
CORRÉU : PAULO AFONSO SALES MOREIRA DA SILVA
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes previstos na Lei da Organização Criminosa - Promoção,
constituição, financiamento ou integração de Organização Criminosa

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : RODRIGO DRABLE COSTA
ADVOGADOS : RAPHAEL FERREIRA DE MATTOS - RJ091172
TYAGO DINIZ VAZQUEZ - PE021495
FLÁVIO MIRZA MADURO - RJ104104
RODRIGO MONTEIRO MARTINS - RJ119843
CAIO HIROSHI PRESTRELO BABA - PE034318
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca e Ribeiro Dantas
votaram com o Sr. Ministro Relator.

C54216444900;551605344@ 2021/0392022-5 - AREsp 2027796 Petição : 2022/0055197-6 (AgRg)

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