Você está na página 1de 118

Superior Tribunal de Justiça

AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

RELATORA : MINISTRA ELIANA CALMON


AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU : MASM
ADVOGADOS : JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN E OUTRO(S)
LUÍS ALEXANDRE RASSI E OUTRO
RÉU : FACG
ADVOGADO : REBECA NOVAIS AGUIAR
RÉU : HSMN
ADVOGADOS : ALUÍSIO LUNDGREN CORRÊA RÉGIS
MARTINHO CUNHA MELO FILHO
RÉU : RVSM
ADVOGADOS : LUÍS ALEXANDRE RASSI
EDUARDO SÉRGIO CABRAL DE LIMA

EMENTA

PENAL E PROCESSO PENAL – PECULATO – CRIME DE


RESPONSABILIDADE – LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ.
1. Denúncia que indica o cometimento de peculato apropriação e peculato
desvio, afastando-se o cometimento do peculato apropriação pela não indicação na peça
oferecida pelo MPF do dolo específico.
2. Comete o crime de peculato, na modalidade desvio (art. 312, caput , segunda
parte do Código Penal), em continuidade delitiva (art. 71 Código Penal) o servidor público
que se utiliza ilegalmente de passagens e diárias pagas pelos cofres públicos.
3. Inexiste crime de responsabilidade se o acusado não mais exerce o cargo no
qual cometeu o ilícito indicado, mesmo que permaneça no exercício de outra função pública
(art. 42 Lei 1.079/50).
4. Comete o crime de ordenação de despesa não autorizada (art.359-D do
Código Penal), o funcionário público que gera despesas e ordena pagamentos sem a devida e
prévia autorização legal.
5. A multa por litigância de má-fé, prevista no art. 16 do Código de Processo
Civil, não se aplica ao processo penal para não inibir a atuação do defensor (ressalva do ponto
de vista da relatora).
6. Denúncia recebida em parte.

ACÓRDÃO

Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em


epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler


recebendo em parte a denúncia com relação a Marcos Antônio Souto Maior pela prática do
crime de peculato, na modalidade desvio, combinado com o artigo 71 do Código Penal; pela
prática do crime de ordenação de despesa não autorizada, combinado com o artigo 69 do
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Código Penal; recebendo, também, a denúncia contra Hilton Souto Maior Neto e Fabíola
Andrea Correia Guerra, pelo crime do art. 312, caput, segunda parte, do Código Penal,
combinado com o art. 71; rejeitando-a integralmente contra Raquel Vasconcelos Souto
Maior; rejeitando-a, em parte, com relação a Marcos Antônio Souto Maior, quanto ao crime
de peculato na modalidade desvio no que diz respeito às duas exposições de obras de arte
estrangeiras e quanto ao crime de responsabilidade, no que foi acompanhado pelos Srs.
Ministros Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior e pelos Srs. Ministros
Nancy Andrighi e Luiz Fux, que reformularam votos proferidos na sessão anterior, e o voto
do Sr. Ministro Gilson Dipp acompanhando integralmente a Sra. Ministra Relatora, a Corte
Especial, por maioria, rejeitou a preliminar de incompetência do Superior Tribunal de Justiça.
Vencidos os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Nancy Andrighi, Luiz Fux, Nilson Naves e
Fernando Gonçalves; rejeitou, por unanimidade, as preliminares referentes ao cerceamento de
defesa, à violação do Princípio do Promotor Natural, à questão referente ao julgamento do
Tribunal de Contas da Paraíba e à decisão da Procuradoria-Geral de Justiça da Paraíba;
julgou, por unanimidade, prejudicada a preliminar referente à nomeação de defensor dativo;
rejeitou a preliminar referente à inépcia na inicial, acolhendo em parte apenas quanto ao
pagamento de precatórios; rejeitou, por maioria, a denúncia contra Raquel Vasconcelos Souto
Maior, recebendo-a em parte contra Marcos Antônio Souto Maior: pela prática do crime de
peculato na modalidade desvio, tipificado no art. 312, caput, segunda parte, do Código Penal,
combinado com o art. 71; pela prática do crime de ordenação de despesas não autorizadas,
previsto no art. 359-D, do Código Penal, combinado com o art. 69; recebeu também em parte
a denúncia quanto a Hilton Souto Maior Neto e Fabíola Andréa Correia Guerra, pelo crime do
art. 312, caput, segunda parte, do Código Penal, combinado com o art. 71 e rejeitou,
parcialmente, a denúncia contra Marcos Antônio Souto Maior quanto ao crime de peculato na
modalidade desvio, no que diz respeito às duas exposições de obras de arte estrangeiras, e
quanto ao crime de responsabilidade, nos termos do voto do Sr. Ministro Ari Pargendler. E,
por unanimidade, determinou o afastamento do Desembargador Marcos Antônio Souto Maior
de seu cargo, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
No mérito, os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir
Passarinho Junior, Nancy Andrighi e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Ari Pargendler.
Vencidos parcialmente a Sra. Ministra Relatora e os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Francisco
Falcão, Laurita Vaz e Gilson Dipp que recebiam a denúncia com relação a Fabíola Andréa
Corrêia Guerra, Hilton Souto Maior Neto e Raquel Vasconcelos Souto Maior, com referência
ao art. 312 do Código Penal, e, também, com relação a Marcos Antônio Souto Maior, por
incurso nas previsões dos arts. 312, 359, d, do Código Penal e art. 10, II, c/c o art. 39, a,
parágrafo único, da Lei nº 1.079, de 1950, com redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000, e o
Sr. Ministro Nilson Naves que rejeitou a denúncia por inépcia formal com relação a Raquel
Vasconcelos Souto Maior e por ausência de justa causa em relação a todos os réus.
Quanto ao afastamento do cargo do réu Marcos Antônio Souto Maior, os Srs.
Ministros Paulo Gallotti, Francisco Falcão, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Luiz Fux, Nilson
Naves, Ari Pargendler, Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior e Gilson
Dipp votaram com a Sra. Ministra Relatora."

Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido e João


Otávio de Noronha.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Brasília-DF, 04 de março de 2009(Data do Julgamento)

MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA


Presidente

MINISTRA ELIANA CALMON


Relatora

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
ERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2004/0061238-6 APn 477 / PB


MATÉRIA CRIMINAL

PAUTA: 17/12/2008 JULGADO: 17/12/2008


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relatora
Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU : MASM
ADVOGADOS : JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN E OUTRO(S)
LUÍS ALEXANDRE RASSI E OUTRO
RÉU : FACG
ADVOGADO : DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO
RÉU : HSMN
ADVOGADO : MARTINHO CUNHA MELO FILHO
RÉU : RVSM
ADVOGADO : EDUARDO SÉRGIO CABRAL DE LIMA
ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Administração Pública ( art. 312 a 359 - H ) - Crime Praticado por
Funcionário Público contra a Administração em Geral - Prevaricação ( art. 319 )

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Corte Especial, por unanimidade, indeferiu o pedido de adiamento formulado pelo
advogado do réu, por não estar provada a moléstia alegada, e, por maioria, entendeu por adiar o
julgamento deste processo para a sessão que se realizará no dia 2/2/2009. Vencidos a Sra. Ministra
Relatora e os Srs. Ministros Francisco Falcão e Teori Albino Zavascki.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Castro Meira,
Arnaldo Esteves Lima, Nilson Naves, Ari Pargendler, Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir
Passarinho Junior e Hamilton Carvalhido deferiram o pedido de adiamento.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Gilson Dipp e Paulo Gallotti e,
ocasionalmente, a Sra. Ministra Laurita Vaz.
Os Srs. Ministros Gilson Dipp, Paulo Gallotti e Laurita Vaz foram substituídos,
respectivamente, pelos Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Castro Meira e Arnaldo Esteves
Lima.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça

Brasília, 17 de dezembro de 2008

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
ERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2004/0061238-6 APn 477 / PB


MATÉRIA CRIMINAL

PAUTA: 17/12/2008 JULGADO: 02/02/2009


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relatora
Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HAROLDO FERRAZ DA NOBREGA
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU : MASM
ADVOGADOS : JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN E OUTRO(S)
LUÍS ALEXANDRE RASSI E OUTRO
RÉU : FACG
ADVOGADOS : DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO
REBECA NOVAIS AGUIAR
RÉU : HSMN
ADVOGADO : MARTINHO CUNHA MELO FILHO
RÉU : RVSM
ADVOGADOS : LUÍS ALEXANDRE RASSI
EDUARDO SÉRGIO CABRAL DE LIMA
ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Administração Pública ( art. 312 a 359 - H ) - Crime Praticado por
Funcionário Público contra a Administração em Geral - Prevaricação ( art. 319 )

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação da Sra. Ministra Relatora para a sessão de 18 de fevereiro de 2009.
Intimados os advogados presentes.
Brasília, 02 de fevereiro de 2009

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


RÉU : MASM
ADVOGADOS : JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN E OUTRO(S)
LUÍS ALEXANDRE RASSI E OUTRO
RÉU : FACG
ADVOGADO : JOSÉ RICARDO PORTO
RÉU : HSMN
ADVOGADO : MARTINHO CUNHA MELO FILHO
RÉU : RVSM
ADVOGADO : EDUARDO SÉRGIO CABRAL DE LIMA

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON: - O Ministério Público


Federal, pela Subprocuradora-Geral da República, Drª Cláudia Sampaio Marques, oferece
denúncia contra:
1º) MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR;
2º) FABÍOLA ANDREA CORREIA GUERRA;
3º) HILTON SOUTO MAIOR NETO;
4º) RAQUEL VASCONCELOS SOUTO MAIOR; e
5º) JOSÉ DE CARVALHO COSTA FILHO.

A presente ação refere-se à descrição dos fatos e condutas tipificadas como


infração penal - mais especificamente crime de peculato - praticado pelo denunciado
MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR, Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado
da Paraíba, no período em que exerceu a Presidência daquela Corte no biênio 2001/2002.
Relata a denúncia que, nos anos de 2001 e 2002, quase toda sua família exercia
cargos comissionados no Tribunal, a saber:

1) FABÍOLA ANDREA CORREIA GUERRA (esposa) - exercia o cargo


comissionado de Coordenador da Infância e da Juventude;
2) HILTON SOUTO MAIOR NETO (filho) - exercia o cargo comissionado
de Assessor de Gabinete; e
3) RAQUEL VASCONCELOS SOUTO MAIOR (filha) - exercia o cargo
comissionado de Assessor Técnico Judiciário.

Segundo o MPF, os três servidores (também denunciados) foram ilicitamente


beneficiados pelo Desembargador SOUTO MAIOR com a concessão irregular de diárias
para viagens que não tinham a mínima relação com os cargos que ocupavam; os pagamentos
foram feitos por ordem escrita do (quinto) denunciado JOSÉ DE CARVALHO COSTA,
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
que exercia o cargo de Subsecretário Administrativo e que, juntamente com o Presidente, era
ordenador de despesa.

I - CONDUTA DA SEGUNDA DENUNCIADA: FABÍOLA ANDRÉA


CORREIA GUERRA

Afirma o Parquet que, nesse período, a segunda denunciada, FABÍOLA


ANDREA CORREIA GUERRA, acompanhou, na condição de esposa, o Desembargador
MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR em quase todas as viagens feitas por ele,
recebendo para tanto diárias e passagens pagas pelo Tribunal de Justiça da Paraíba (Apensos
16 e 21). Registrou o MPF que nenhuma dessas viagens tinha relação com as funções
exercidas pela segunda denunciada, sendo feitas exclusivamente com a finalidade de
acompanhar o marido.
No quadro abaixo estão relacionadas as viagens feitas por FABÍOLA
ANDRÉA CORREIA GUERRA, e os valores das diárias que lhe foram pagas:

Nº DE
ANO PERÍODO LOCAL DIÁRIAS VALOR
2001 05 a 09/04 Manaus 04 600,00
2001 18 a 20/04 Brasília 03 450,00
2001 29/05 a 01/06 Brasília 04 900,00
2001 04 a 08/07 Santa Catarina 05 1.125,00
2001 17 a 19/08 Campo Grande e Patos 03 450,00
2001 11/08 Campina Grande 01 150,00
2001 24 a 26/08 Porto de Galinhas 03 675,00
2001 27 a 29/09 Salvador 03 675,00
2001 04 a 05/10 Recife 01 225,00
2001 18 a 21/10 Piauí 04 900,00
2001 24 a 25/10 Natal 02 450,00
2001 26 a 29/10 Campo Grande e Sousa 04 600,00
2001 08 a 11/11 São Luís 04 900,00
2001 12 a 15/11 Costão do Santinho 04 900,00
2002 23 a 25/01 Brasília 03 675,00
2002 05 a 06/02 Campina Grande 02 300,00
2002 20 a 24/02 Campo Grande 05 1.125,00
2002 19/02 Brasília 01 225,00
Nº DE
ANO PERÍODO LOCAL DIÁRIAS VALOR

2002 04 a 05/04 Natal 02 450,00


2002 06 a 07/04 Brasília 02 450,00
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
2002 13 a 17/04 São Paulo 04 1.080,00
2002 22 a 23/04 Brasília 02 540,00
2002 16 a 18/05 Brasília 03 810,00
2002 30/05 a 02/06 Costão do Santinho 04 1.080,00
2002 14 a 15/06 Brasília 02 540,00
2002 16 a 18/07 Rio de Janeiro 02 540,00
2002 26 a 27/08 Recife 03 810,00
2002 02 a 05/08 Fortaleza 04 1.080,00
2002 29/08 a 05/09 Rio de Janeiro 08 2.160,00
2002 25 a 26/09 Maceió 02 540,00
2002 18 a 19/10 Recife 02 540,00
2002 21 a 23/11 Aracaju 03 810,00
2002 24/11 Aracaju 01 270,00
2002 05 a 07/12 Brasília e São Luís 03 810,00

Segundo a denúncia, a finalidade de acompanhar o marido figurou muitas


vezes no próprio processo administrativo como justificativa para o deslocamento e para o
pagamento das diárias e das passagens. Nesse sentido, confira-se:
a) Apenso 21 - fls. 27 " "a fim de acompanhar o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça, uma vez que o mesmo será
homenageado na cidade de Patos" (viagem realizada em 18 e 19/10/2002);
b) Apenso 21 " fls. 43, 47, 55, 77, 85, 89, 93, 133, 137, 165, 177, 231,
243, 251, 259, 266 e 274;
c) Apenso 22 " 4, 12, 21 (solenidade de casamento do filho do
Presidente do Tribunal de Justiça), 29, 36, 42 (posse de Zélia Gattai na Academia Brasileira
de Letras), 57, 81, 85, 106 (viagem feita na condição de presidente da Associação de Esposas
de Magistrados, entidade privada, custeada com recursos públicos), 112, 131, 137, 153, 164,
170, 177, 189, 19, 210 e 267; e
d) diversas justificativas constantes do Apenso 23.
Conclui o MPF que a denunciada consumou o crime tipificado no art. 312 do
Código Penal.

II - CONDUTA DO TERCEIRO DENUNCIADO: HILTON SOUTO


MAIOR NETO

Afirma o MPF que o terceiro denunciado, HILTON SOUTO MAIOR

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
NETO, também realizou diversas viagens que não tiveram relação com suas funções de
Assessor durante o período em que seu pai foi Presidente do Tribunal de Justiça. Foram elas:

Nº DE
ANO PERÍODO LOCAL DIÁRIAS VALOR

2001 03 a 07/04 São Paulo – FEICON 05 750,00


2001 06 a 11/05 Belo Horizonte 06 1.350,00
2001 29 a 31/05 Recife 03 675,00
2001 05 a 06/06 Natal 02 450,00
2002 02 a 04/04 São Paulo – FEICON 05 1.125,00
2002 30/05 a 10/06 Espanha 12 3.240,00
2002 25 a 27/09 Maceió 03 810,00

Sobre as referidas viagens, o MPF faz as seguintes observações:


a) a mais enigmática das viagens realizadas pelo terceiro denunciado foi a
viagem à Espanha, cuja justificativa constante do processo administrativo é a seguinte: "tendo
em vista a II EXPOART" (fls. 168 e 360 do Apenso 16);
b) em duas oportunidades o denunciado foi à São Paulo para participar da
FEICON - Feira Internacional da Indústria da Construção, sendo que a primeira delas foi
expressamente autorizada pelo primeiro denunciado, MARCOS ANTÔNIO SOUTO
MAIOR (fls. 356 do Apenso 16 e 206 do Apenso 21);
c) a viagem a Maceió teve como finalidade assistir às homenagens
prestadas ao pai;
d) as viagens a Recife e a Natal tiveram como justificativa "tratar de
assuntos de interesse desta Corte de Justiça" (fls. 215 do Apenso 21).
Segundo a denúncia, HILTON SOUTO MAIOR também beneficiou-se
ilicitamente com o pagamento, pelo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, de despesas
pessoais com alimentação, em restaurantes da cidade de João Pessoa. Vejamos:
1) 30/03/2001 " R$ 55,11 (cinqüenta e cinco reais e onze centavos) -
restaurante Cassino da Lagoa (nota fiscal de fls. 100 do Apenso 22); e
2) 25/09/2002 " R$ 297,99 (duzentos e noventa e sete reais e noventa e
nove centavos) - almoço.
Conclui o MPF que o denunciado consumou o crime tipificado no art. 312 do
Código Penal.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça

III - CONDUTA DA QUARTA DENUNCIADA: RAQUEL


VASCONCELOS SOUTO MAIOR

A quarta denunciada, RAQUEL SOUTO MAIOR, filha do primeiro


denunciado, também fez viagens custeadas pelos cofres públicos para acompanhar seu pai,
sem que houvesse justificativa de interesse público para o fato: no período de 09 a
14/10/2002, ela acompanhou seu pai em viagem a Recife para assessorá-lo no 58º Encontro
do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil.
Afirma o Parquet que, naquele período, o primeiro denunciado tinha um
"Assessor Especial" designado exclusivamente para a finalidade de assessorá-lo, o Dr.
Aluízio Bezerra; a viagem da quarta denunciada não teve qualquer relação com o cargo que
exercia no Tribunal (Assessor Técnico Judiciário).
Conclui o MPF que a denunciada consumou os crimes tipificados no art. 312
do Código Penal.

IV - CONDUTA DO QUINTO DENUNCIADO: JOSÉ DE CARVALHO


COSTA FILHO

Durante o período em que o Desembargador MARCO ANTÔNIO SOUTO


MAIOR exerceu a Presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba, no biênio de 2001/2002,
três servidores (seus familiares) foram ilicitamente beneficiados com a concessão irregular de
diárias para viagens sem a mínima relação com os cargos que ocupavam. Os pagamentos
foram feitos por ordem escrita do denunciado JOSÉ DE CARVALHO COSTA FILHO,
que exercia o cargo de Subsecretário Administrativo e era, juntamente com o denunciado
MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR, ordenador de despesas.
Conclui o MPF que o denunciado está incurso nas penas do art. 10, nº 2 c/c
art. 39-A, parágrafo único, da Lei 1.079/50 (com redação dada pela Lei 10.028/2000).

V - CONDUTA DO PRIMEIRO DENUNCIADO: MARCOS ANTÔNIO


SOUTO MAIOR

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça

PRIMEIRO FATO

Durante o período em que exerceu a Presidência do Tribunal de Justiça, o


primeiro denunciado concedeu grande volume de diárias a sua esposa e a seus filhos,
inclusive ao exterior, sem indicar os motivos das viagens e qual o interesse público que seria
atendido pelos mencionados servidores.
Todas as viagens feitas ilicitamente pelos denunciados foram autorizadas por
JOSÉ DE CARVALHO COSTA FILHO, na condição de ordenador de despesas.
Além disso, no ano de 2001, não havia previsão orçamentária para o
pagamento das diárias à família do primeiro denunciado, razão pela qual foram transportados
recursos, sem autorização legal, de verbas orçamentárias destinadas especificamente para
pagamento de pessoal.
Por essas condutas, conclui o MPF, o denunciado está incurso nas penas do
art. 10, nº 2 c/c art. 39-A, parágrafo único, da Lei 1.079/50 (com redação dada pela Lei
10.028/2000).

SEGUNDO FATO

O segundo fato imputado ao primeiro denunciado pelo MPF foi a promoção de


duas EXPOART - exposições de quadros trazidos do Louvre, França, nos anos de 2001 e
2002. Destaca, o Parquet :
1) os eventos, patrocinados com recursos públicos, não tinham previsão
orçamentária; foi gasto nas duas exposições valor superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais), sendo que, desse montante, R$ 221.311,59 (duzentos e vinte e um mil, trezentos e onze
reais e cinqüenta e nove centavos) foram pagos sem empenhamento da despesa (fls. 194 e ss.
do Apenso 14 e Apenso 18), mediante pagamento direto ao fornecedor do produto e serviço
através de cheques, muitos deles subscritos pelo próprio denunciado; tais recursos se
originaram da conta nº 7930-8 do Banco do Brasil;
2) em agosto/2001, foi realizada a primeira EXPOART, com exposição de

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
20 (vinte) telas de artistas de renome internacional; foram gastos com prévia emissão de Nota
de Empenho a quantia de R$ 86.770,67 (oitenta e seis mil, setecentos e setenta reais e
sessenta e sete centavos) - relatório de fls. 03 do Apenso 15; todos os produtos e serviços
foram contratados sem prévia licitação; do Apenso 16 pode-se colher as seguintes despesas, a
título ilustrativo:
- fotografia " R$ 900,00;
- confecção de quadros de madeira e compensado " R$ 5.700,00;
- locação de sistema de iluminação " R$ 3.000,00;
- transporte aéreo dos quadros expostos " R$ 5.605,92;
- aquisição de bandeiras do Brasil e da França " R$ 1.771,20;
- conjunto musical para o coquetel de abertura " R$ 900,00;
- serviço de sonorização " R$ 2.000,00
- confecção de cartazes e folders " R$ 5.801,00;
- confecção da revista da EXPOART 2001 " R$ 7.852,32;
- aquisição de mastros para bandeiras " R$ 7.953,00; e
- diárias, passagens, restaurantes, treinamento de monitores, dentre
outros serviços.
3) de 09 a 30/08/2002, foi realizada a segunda EXPOART. Para viabilizar
o evento, o Tribunal de Justiça, por ordem do denunciado, gastou R$ 108.459,76 (cento e oito
mil, quatrocentos e cinqüenta e nove reais e setenta e seis centavos) com emissão de Nota de
Empenho, relativamente a serviços contratados sem prévia licitação; do Apenso 14 pode-se
colher as seguintes despesas, a título ilustrativo:
- despesas de transporte, seguro, embalagem, guarda e conservação dos
valiosos quadros " R$ 36.489,23 (fls. 116);
- despesas de diárias pagas a servidores do Tribunal que foram à
Espanha (inclusive o filho do denunciado);
- pagamento de almoços, inclusive a jornalistas "a fim de informar a
programação da Expoarte/2002" (fls. 250) " R$ 950,00;
- despesas de hospedagem, de ornamentação do Tribunal para abertura
da exposição " R$ 3.800,00;
- painéis " R$ 2.200,00;
- catálogos (fls. 287) " R$ 7.920,00;

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
- locação de equipamentos e serviços de iluminação e sonorização do
Tribunal (fls. 295) " R$ 7.950,00;
- buffet para abertura da II EXPOARTE (fls. 300) " R$ 7.500,00;
- pagamento de pessoal contratado especialmente para "elaboração de
catálogos, coordenação de monitores e organização de montagem da II
EXPOARTE" (fls. 305) " R$ 4.000,00;
- pagamento a Flávio César Capitulino, que se intitulava Curador
Internacional da Exposição, por seus serviços nas duas EXPOARTE
(excluídos os valores pagos mediante Nota de Empenho), sem prévio
empenhamento da despesa" R$ 180.000,00;
4) muitos dos cheques emitidos pelo Tribunal de Justiça para pagamentos
dos serviços e produtos foram assinados pelo denunciado ou tiveram sua autorização expressa
no processo administrativo correspondente (naqueles casos em que houve a instauração de
procedimento).
Por essas condutas, conclui o MPF, consumou o denunciado os crimes
tipificados no art. 312 (na modalidade desvio) e 359-D, ambos do Código Penal, além do
crime descrito no 10, nº 2 c/c art. 39-A, parágrafo único, da Lei 1.079/50 (com redação
dada pela Lei 10.028/2000).

TERCEIRO FATO

Afirma o MPF que o denunciado transferiu ilicitamente recursos públicos para


a AEMP - Associação das Esposas dos Magistrados da Paraíba, pessoa jurídica de direito
privado, cujos objetivos, segundo o art. 1º do Estatuto, são os seguintes (fls. 834/835):

I - congregar as esposas dos magistrados paraibanos, visando a um maior


entrelaçamento da família judiciária;
II - promover reuniões de confraternização, desenvolvendo atividades
culturais e sócio-recreativas;
III - realizar palestras, cursos, simpósios e congressos, de interesse das
sócias;
IV - manter atividades assistenciais e filantrópicas, nos meios carentes
ligados ou não ao Poder Judiciário;
V - prestar assistência moral às sócias;
VI - colaborar com a Associação dos Magistrados da Paraíba e com o
Tribunal de Justiça do Estado, quando solicitada, ou nas atividades de mútuo interesse".

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça

Invocando o teor do art. 26 da LC 101/2000, que trata da destinação de


recursos públicos para o setor privado, afirma o Parquet que inexiste qualquer tipo de
autorização legal para a transferência de recursos à citada Associação e, apesar disso, o
denunciado, no período em que exerceu a Presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba,
transferiu à AEMP a quantia de R$ 19.000,00 (dezenove mil reais) " em 19/09/2001,
cheque n. 850008, no valor de R$ 9.000,00 (nove mil reais); e, em 23/09/2002, cheque n.
850086, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Destaca que nos anos de 2001 e 2002 a AEMP tinha como presidente a esposa
do denunciado, FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA.
Por essa conduta, conclui o MPF que o denunciado consumou o crime
tipificado no art. 359-D do Código Penal.

QUARTO FATO

Alega o MPF que se apurou, através do presente inquérito, que o denunciado,


na condição de Presidente do TJ/PB, determinou verbalmente o pagamento do precatório
devido ao Juiz de Direito SILVIO JOSÉ DA SILVA, sem que fosse observada a ordem
cronológica de apresentação dos precatórios.
Explica que é competência do Presidente, nos termos do art. 31, XX, "a", e 336
do Regimento Interno daquela Corte, expedir ordens de pagamento e determinar o pagamento
dos precatórios, observando rigorosamente a ordem cronológica da entrada dos precatórios.
Informa que o mencionado precatório originou-se de uma ação ordinária c/c
antecipação de tutela jurisdicional, movida pelo Juiz de Direito SILVIO JOSÉ DA SILVA
contra o Estado da Paraíba, pleiteando o recebimento de valores que lhe eram devidos a título
de remuneração; a ação foi julgada procedente e transitou em julgado em 14/02/2000; feitos
os cálculos e iniciada a execução, o Estado da Paraíba ofereceu embargos, que foram julgados
improcedentes pelo Juízo da 2ª Vara da Fazenda Pública.
Aduz que, em 20/06/2001, o denunciado, no exercício da Presidência,
encaminhou ao Secretário de Planejamento o Precatório n. 2001.004235-8, expedido em
favor de SILVIO JOSÉ DA SILVA, para inclusão no orçamento do valor de R$ 130.546,05
(cento e trinta mil, quinhentos e quarenta e seis reais e cinco centavos) - fls. 84 dos autos da
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
referida ação ordinária. Nas folhas seguintes dos autos, sem que existisse decisão autorizando
o pagamento, consta cópia dos cheques de ns. 850646 e 850647 do Banco do Brasil: o
primeiro, no valor de R$ 118.678,23 (cento e dezoito mil, seiscentos e setenta e oito reais e
vinte e três centavos) - beneficiário SILVIO JOSÉ DA SILVA; e o segundo, no valor de R$
11.867,82 (onze mil, oitocentos e sessenta e sete reais e oitenta e dois centavos) - beneficiário
o advogado Jocélio Jairo Vieira, ambos os cheques emitidos em 31/01/2003 e subscritos pelo
denunciado e o então Coordenador de Finanças do Tribunal, Claudecy Tavares (Apensos 17 e
19).
Afirma que o pagamento do precatório aconteceu no último dia de exercício,
pelo denunciado, do cargo de Presidente do TJ/PB, tendo assumido a Presidência da Corte no
dia seguinte, 1º/02/2003, o Desembargador Plínio Leite Fontes.
Assegura que SILVIO JOSÉ DA SILVA era um dos últimos da lista dos
precatórios, não constando dos autos nenhuma petição do referido beneficiário no sentido de
que fosse pago o valor de que era credor.

REQUERIMENTOS

Em conseqüência, requer o Ministério Público Federal:


1) a instauração de ação penal com observância do procedimento instituído
pela Lei 8.038/90 (arts. 1º a 12, inclusive) até seu julgamento final, com a condenação dos
denunciados na pena dos crimes acima discriminados;
2) a produção de prova pericial assim especificada:
a) exame grafotécnico para comprovar que a assinatura constante dos
cheques emitidos em benefício de Silvio José da Silva e José (sic)
Jairo Vieira, nos autos do Precatório n. 2001.004235-8, partiu do
punho do denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR;
b) exame dos documentos bancários constantes dos autos, relativos às
duas Expoart e ao pagamento de diárias à esposa e filhos do
denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR, em
confronto com o orçamento do Tribunal de Justiça da Paraíba, para
verificar se existiu autorização orçamentária para as referidas
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
despesas e se os recursos respectivos foram retirados do "programa
de trabalho" correto do orçamento do Tribunal;
3) a produção de prova documental e a oitiva das seguintes testemunhas:
CLAYDECY TAVARES SOARES e ALUÍZIO BEZERRA FILHO, identificados às fls.
1.658.
Notificados nos termos do art. 220 do RISTJ, foram oferecidas defesas
preliminares nos seguintes termos:

FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA


(fls. 1.704/1.783)

I - VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL


1) houve violação ao princípio do promotor natural porque movimentado o
presente feito desde o início por autoridade sem atribuição legal, em patente abuso de poder,
tendo em vista que:
a) originariamente os fatos apurados na APn 477/PB estavam
vinculados à Subprocuradora-Geral da República, Drª Zélia Oliveira Gomes; em respeito ao
devido processo legal e ao princípio do promotor natural, o feito não poderia ter sido
avocado, sem distribuição, pela Drª Cláudia Sampaio Marques ;
b) ademais, a Drª Cláudia Sampaio Marques não está mais atuando
junto ao Superior Tribunal de Justiça, tendo sido designada para exercer sua função perante o
Supremo Tribunal Federal;
c) a Resolução 33/1997, que trata da distribuição dos processos, não foi
obedecida.
2) Por isso, a denunciada reputa nulo ab initio o feito, considerando que
toda a instrumentalização probatória foi realizada por quem sabia não possuir atribuição.

II - FALTA DE JUSTA CAUSA


1) a denunciada iniciou suas atividades no serviço público estadual em
25/10/1993 quando assumiu o Cargo de Assessor Especial para Assuntos Jurídicos, da
Secretaria de Articulação Municipal do Poder Executivo do Estado da Paraíba; na época, era
casada com o Dr. Antônio Augusto Fraga de Andrade;
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
2) no âmbito do Poder Judiciário, a denunciada foi nomeada para o cargo de
Oficial Judiciário I, do Quadro de Pessoal da Secretaria do Tribunal de Justiça da Paraíba por
ato do então Presidente Desembargador Antônio Elias de Queiroga;
3) após seis anos de serviços prestados, foi remanejada para o cargo de
Coordenadora da Infância e Juventude;
4) por ato governamental coletivo, foi designada para integrar o Conselho
Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, com mandato de dois anos;
5) após o término do biênio 2001/2002, em que o Desembargador Marcos
Antônio Souto Maior exerceu a Presidência daquela Corte, a denunciada permaneceu no
cargo e, em 08/02/2006, na gestão presidida pelo Desembargador João Antônio de Moura,
deixou o cargo por determinação do Conselho Nacional de Justiça;
6) é advogada e habilitada a funcionar como intérprete compromissada da
língua francesa;
7) a denunciada possui qualificação mais que suficiente para a ocupação de
cargos de terceiro escalão na estrutura dos Poderes Executivo e Judiciário e, de modo
específico, até para prestar assessoria a qualquer Chefe de Poder;
8) somente com o advento do CNJ é que fora editada a Resolução 07/2005,
obliterando a magistratura brasileira de prover cargos comissionados por parentes de seus
integrantes; até então o art. 37, II, da CF assegurava a livre nomeação;
9) houve excesso na formatação da peça denunciativa, ensejando
referências humilhantes à pessoa da denunciada, maculando-lhe a honra e a moral;
10) os fatos imputados à denunciada - a) exercer cargo em comissão e em
razão deste receber diárias e passagens aéreas; e b) administrar a AEMP, entidade
filantrópica, e receber valores durante a administração - não constituem crime;
11) as diárias e as viagens foram solicitadas à autoridade competente, através
de procedimento adequado e deferidas pelo Ordenador de Despesa, Dr. JOSÉ DE
CARVALHO COSTA;
12) as diárias foram recebidas no mais puro exercício do direito de petição,
nos termos do art. 5º, XXXVI, "a", da CF; a faculdade legal e constitucional da denunciada,
como funcionária pública estadual, de solicitar autorização para viagens, aí incluindo-se
diárias e passagens, jamais poderia ser considerada fato típico penal; a denúncia, portanto,
deverá ser rejeitada, nos termos do art. 43 do CP.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça

III - ESTRITA LEGALIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS E A


INEXISTÊNCIA DE CONDUTA TÍPICA
1) a Subprocuradora deve esclarecer a referência feita à pessoa de Fabíola
Andréa VASCONCELOS Guerra, que não vem a ser a denunciada;
2) a denunciada preenche todos os requisitos legais para a concessão de
diárias indenizatórias de viagens, a saber: a) ser funcionária pública; b) existência de
requisição formal à autoridade competente; c) atestado da realização do deslocamento.
3) foram observados os princípios da legalidade (devido processo requisitório,
dirigido à autoridade imediatamente superior) e da economicidade (observância da tabela de
valores das diárias);
4) a denúncia não pode prosperar porque, ao questionar as viagens, mesmo
reconhecendo serem de cunho oficial, apenas discriminou a capacidade cultural e profissional
da denunciada em prestar assistência ou assessoria ao Presidente do Tribunal, do qual faz
parte integrante; depreende-se da denúncia que a Coordenadora da Infância e da Juventude
jamais poderia acompanhar o Presidente do Tribunal pelo simples fato de serem conviventes
sob o mesmo teto;
5) irrisório qualquer comentário às viagens do Digno Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, acompanhado de sua esposa, Drª Marisa, sob o aspecto criminal, até porque
esta Corte já se pronunciou a respeito na APn 56/BA, quando analisou custeio de despesas de
Governador de Estado e sua comitiva em viagem fora da sede;
6) o objetivo das viagens foi profunda e detidamente examinado pelo Tribunal
de Contas do Estado da Paraíba e pela Procuradoria Geral de Justiça, atendendo a denúncia de
Gilberto Rolim de Moura; concluiu-se pela regularidade e arquivou-se a denúncia.

IV - A DECISÃO DA CORTE DE CONTAS


1) o Plenário do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, analisando os
fatos aqui noticiados, concluiu:
a) quanto ao pagamento de diárias, não houve contestação da Auditoria
à efetiva e correta utilização das diárias com viagens e deslocamentos dos que dela fizeram
uso;
b) se as diárias foram pagas, evidentemente que foram empenhadas ao

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
se fazer o empenho da mencionada Folha de Pagamento - FOPAG;
2) as dotações orçamentárias são genéricas e discriminam rubricas, nunca
pessoas ou famílias;
3) no biênio 2001/2002, estendendo-se até o exercício financeiro de 2004,
todas as folhas de pessoal "foram pagas pela Secretaria da Administração do Governo do
Estado da Paraíba. Somente com a implantação do repasse do duodécimo aos Poderes, a
partir de janeiro de 2005, o pagamento das folhas passou a ser realizado pela COFICO;
4) o TCE/PB reconheceu que, como alguns interessados recolheram,
antecipadamente, aos cofres públicos o valor de diárias ou horas-extras contestadas pela
Auditoria e consideradas regulares pelo Tribunal, diante do que restou decidido por aquela
Corte, teriam direito de requerer a devolução dessas quantias; eis a comprovação da absoluta
boa-fé da denunciada.

V - DECISÃO DA PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA


1) a Procuradoria Geral de Justiça da Paraíba determinou a instauração do
procedimento apuratório visando os mesmos fatos levados a conhecimento por diversos
órgãos da Administração Pública; ao final, determinou-se arquivamento porque, em relação
às diárias pagas no biênio 2001/2002, "o então Presidente do Tribunal de Justiça mostrou a
Corte de Contas que tais diárias foram pagas quando houve deslocamento de funcionários
para prestação de serviços em outra cidade que não a da lotação funcional originária";
2) restou assentado que a auditoria não contestou a prestação de serviços;
3) não há crime ou qualquer irregularidade.

VI - PODER DISCRICIONÁRIO ESTATAL


1) o exame de pedido de concessão de diárias para deslocamento de
funcionários públicos é atribuição do respectivo Ordenador de Despesa, no exercício de seu
poder discricionário;
2) não é possível falar em inexistência de motivação dos atos
administrativos, que culminaram com a concessão de diárias para viagens oficiais; não é
possível confundir motivo com motivação;
3) é um verdadeiro absurdo um funcionário público ser acusado de peculato
- roubo no serviço público - quando, na verdade, apenas e tão-somente, foi indicado pelo
superior a realizar viagem oficial e, exercendo direito de petição, requereu indenização
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
através de diárias, tudo com prévio procedimento administrativo analisado e deferido por
autoridade competente.

VII - BOA-FÉ
1) a boa-fé da denunciada foi plena e incontestemente materializada; não
praticou ela qualquer ato administrativo em seu próprio proveito; confiou na decisão de seu
superior hierárquico, o Secretário Administrativo do Tribunal, autoridade a quem estavam
subordinados seus pleitos de viagens, com o Estado democrático de direito garantindo a
proteção da boa-fé ou confiança na administração do Estado, quanto à sua lealdade e
conformidade com as leis;
2) devem prevalecer os princípios da legalidade e da segurança jurídica.

VIII - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO ERÁRIO


Como o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba e a Procuradoria de Justiça
do Estado apuraram os fatos e determinaram o arquivamento das denúncias, restou afastada a
possibilidade de prejuízo ao Erário, não havendo obrigação de devolver o que se dissera
irregular.

IX - AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO


1) para a configuração do delito de que trata o art. 312 do CP é necessário o
prejuízo ao erário e o dolo específico, que nada mais é do que o desejo deliberado e
consciente do servidor público de apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel público de que tem posse em razão do cargo;
2) na conduta descrita na denúncia não restou caracterizado nem o tipo
penal ou muito menos o dolo específico; nesses casos, o STJ tem considerado inepta a
denúncia (RHC 19.997/SP);
3) inexiste tipicidade na conduta descrita na denúncia.

X - REQUERIMENTOS:
Ao final, requer a denunciada:
1) seja deferida a juntada dos documentos anexos e aberto vista ao MPF,
possibilitando a reavaliação da situação fática e a desistência da denúncia, com arquivamento

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
do feito;
2) se o MPF não se manifestar pelo arquivamento da ação penal, sejam
acolhidas as seguintes preliminares:
a) violação do princípio do promotor natural (vício de origem);
b) ausência de legitimidade do MPF para apurar fato já julgado
anteriormente por órgãos encarregados de fiscalizar a atuação
financeira - Tribunal de Contas;
c) matéria já julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (sic) e analisada
com arquivamento pela Procuradoria Geral de Justiça da Paraíba;
d) afronta aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,
ausência total de justa causa para denunciar (denúncia irrelevante
penal);
3) no mérito, seja reconhecida a atipicidade da conduta, a inexistência de
crime e, por conseguinte, não seja recebida a denúncia e arquivado o procedimento;
4) superados os requerimentos anteriores, sejam deferidos todos os meios
de prova em Direito permitidos, dignos da ampla defesa e do contraditório, nos termos
constitucionais.

HILTON SOUTO MAIOR NETO


(fls. 1.863/1.878)

O denunciado adota, em sua defesa preliminar, as mesmas razões alinhadas por


FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA, acrescentando apenas que:
1) ao contrário do que afirmou o MPF, o denunciado foi nomeado Assessor
de Gabinete em 04/08/1994 pelo então Presidente Desembargador Joaquim Sérgio Madruga,
permanecendo no cargo até 07/03/2003, quando pediu exoneração, o que ocorreu antes do
advento da Resolução 07/2005 - CNJ, que proibiu a magistratura brasileira de prover em seus
cargos comissionados parentes de seus integrantes; assim, não havia, à época, qualquer
impedimento para que o denunciado continuasse ocupando o cargo comissionado de Assessor
de Gabinete, pois o art. 37, II, da CF assegurava a livre nomeação;
2) a versão da denúncia distancia-se muito da verdade real, eis que o
denunciado fora regular e legalmente nomeado para o cargo em comissão;
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
3) o denunciado, em toda sua passagem pelo Tribunal de Justiça, sempre
primou por zelar o Erário Público, sem responder a qualquer processo disciplinar,
dedicando-se exclusivamente aos serviços que lhe eram cometidos por competência ou
delegação;
4) a gestão do biênio 2001/2002 primou pela celeridade processual,
adotando diversas providências que passam a ser relacionadas pelo denunciado; por isso,
quase todos os servidores, comissionados ou do quadro permanente (aí incluídos todos os
familiares de magistrados), regular e legalmente investidos em cargos comissionados,
receberam diárias e viajaram, tudo no âmbito legal da função discricionária de Poder
Constitucional Estadual;
5) a viagem à Espanha foi de iniciativa e idealização do Dr. Saulo Medeiros
Barreto, à época exercendo o cargo comissionado de Coordenador do Cerimonial do Tribunal,
com formação acadêmia em Engenharia e necessitando de assessoramento no campo do
Direito para avaliação das garantias legais e assegurar responsabilidade com a magna mostra
de artes plásticas internacionais; assim, não apenas o denunciado, mas também os
Coordenadores do Cerimonial e o de Imprensa se deslocaram para a Espanha, com processo
específico instituído para assegurar a legalidade, a formalidade e a transparência da iniciativa;
6) deve-se destacar a finalidade ampla das duas Exposições Internacionais
de Artes Plásticas, realizadas no biênio 2001/2002: evento cultural destinado aos cidadãos
paraibanos e dos Estados vizinhos, com a finalidade de proporcionar o conhecimento de
peças de consagrado significado histórico;
7) após discorrer sobre a importância cultural do evento, o denunciado
afirma que sua viagem teve o condão de contribuir e garantir, nos aspectos formais e legais, a
operacionalização do sucesso da mostra internacional;
8) o denunciado considera estranho que uma viagem realizada por três
funcionários, somente um destes, por ser filho do Presidente do Tribunal, foi rotulada de
"irregular" pela peça denunciativa;
9) as viagens à FEICON foram efetivadas em pleno exercício de suas
atribuições e visando à adoção de novas técnicas e procedimentos aplicados nas construções
de Fóruns, Casas de Juízes, etc., sob a ótica da regularidade formal; o Dr. Hilton José Bezerra
Cavalcanti, à época Coordenador de Engenharia do Tribunal, com formação acadêmica em
Engenharia, através do Ofício 146/2001, requisitou o denunciado para que o acompanhasse e

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
o assessorasse para opinar no âmbito do Direito;
10) nas viagens a Recife e a Natal o denunciado deslocou-se para tratar de
interesses do TJ/PB; não se trata de mera justificativa, mas da verdade dos fatos;
11) todas as viagens foram devidamente autorizadas; seja no caso do
denunciado seja no de qualquer outro funcionário, nenhum dos processos de concessão de
diárias tramitou de forma reservada, confidencial ou secreta; tudo ocorreu na mais absoluta
transparência e publicidade;
12) quanto às despesas relativas à alimentação, afirma o denunciado que:
a) o recibo de R$ 297,99 (duzentos e noventa e sete reais e noventa e
nove centavos), acostado à fl. 64 do Apenso 22, registra e atesta o
evento, tratando-se de reunião de trabalho entre o Presidente do
Tribunal de Justiça da Paraíba e o Presidente do Tribunal de Justiça
de Alagoas;
b) perfeitamente possível e prático que a despesa de uma refeição de
serviço com dois Presidentes de Tribunais de Justiça Estaduais fosse
paga por um dos Assessores do Tribunal para depois lhe ser
ressarcida a despesa, formalizada com a respectiva nota fiscal;
c) o evento reuniu várias pessoas, por isso, o valor foi perfeitamente
compatível com sua realização; e
d) o gasto de R$ 55,11 (cinqüenta e cinco reais e onze centavos)
deveu-se ao custeio de refeição a duas pessoas, ambas funcionárias,
que tinham necessidade de concluir trabalho com prazo certo,
inviabilizando que tivessem o regulamentar descanso para o almoço;
como o Tribunal não dispunha de refeitório nem restaurante
próprios, foi utilizada uma das casas de pasto da cidade, com valor
até abaixo dos praticados à época.

Ao final, requer o denunciado:


1) seja deferida a juntada dos documentos anexos e aberta vista ao MPF,
possibilitando a reavaliação da situação fática e a desistência da denúncia, com arquivamento
do feito;
2) se o MPF não se manifestar pelo arquivamento da ação penal, seja

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
reconhecida a atipicidade da conduta, a inexistência de crime e, por conseguinte, não seja
recebida a denúncia e arquivado o procedimento; e
3) superados os requerimentos anteriores, sejam deferidos todos os meios
de prova em Direito permitidos, dignos da ampla defesa e do contraditório, nos termos
constitucionais.

MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR


(fls. 1.882/1.939)

Adotou o denunciado a mesma linha das defesas apresentadas


antecedentemente, merecendo destaque:
1) a violação ao princípio do promotor natural;
2) inépcia da petição inicial;
3) falta de justa causa para a ação penal:
a) os fatos narrados carecem de tipicidade;
b) o TCE concluiu pela regularidade dos atos do defendente ao tempo
do exercício da Presidência do Tribunal de Justiça do Estado,
afastando qualquer imputação de responsabilidade com relação aos
pagamentos por ele ordenados; reconheceu que os recursos
financeiros utilizados para o custeio da EXPOART eram de origem
privada e a legalidade de todos os atos na concessão de diárias;
c) é conferido aos Presidentes dos Tribunais de Justiça poder
discricionário na concessão de diárias;
d) a Procuradoria de Justiça do Estado também determinou o
arquivamento das denúncias veiculadas por Gilberto Rolim de
Moura;
4) o Juiz aposentado (compulsoriamente) Gilberto Rolim de Mora, que
apresentou as denúncias, foi recusado duas vezes no certame realizado pelo TJ/PB para
escolha de ocupante da Vaga de Desembargador pelo critério de antiguidade; tal recusa
deu-se em razão de notícias da prática de atos e condutas incompatíveis com o exercício da
magistratura, sendo que, em dois deles, foi aplicada a pena de aposentadoria compulsória e

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
disponibilidade; o denunciado, destemidamente, determinou rigorosa apuração dos fatos
denunciados contra o referido juiz e, no uso de suas prerrogativas, presidiu várias sessões
plenárias, quer na abertura dos processos administrativos, quer no julgamento de muitas
destas; por isso, o denunciado foi alvo da fúria, do ódio e da vingança do juiz;
5) o Tribunal de Justiça da Paraíba, na Gestão 2001/2002, implementou
política de combate à morosidade processual, havendo necessidade inadiável de
remanejamento e deslocamento constante de magistrados e serviços em todo território
paraibano; daí o aumento do número de diárias, horas extras e viagens; tais despesas não
foram pagas pelo denunciado, pois a folha de pagamento de pessoal era empenhada perante a
Secretaria da Administração do Poder Executivo, o que somente foi alterado posteriormente,
com o advento do pagamento do duodécimo orçamentário e constitucional;
6) as viagens e diárias também não eram pagas, nem autorizadas pelo
defendente; o próprio MPF confirma que a autorização era de JOSÉ CARVALHO COSTA
FILHO, na condição de ordenador de despesas;
7) ao tempo em que exerceu a Presidência do Tribunal não havia restrições
acerca da designação de parentes para cargos comissionados no âmbito do Poder Judiciário
Estadual;
8) não foram concedidas diárias e viagens apenas a seus familiares, mas a
todos os servidores em geral e a familiares de magistrados, ocupantes de cargo ou funções
comissionadas, tudo com observância dos requisitos legais e no âmbito do poder
discricionário;
9) não existiu nenhum crime na atuação administrativa, muito menos o
crime de responsabilidade de que trata o art. 10, n. 2, da Lei 1.079/50; não houve excesso nos
gastos, pois estes se contiveram dentro dos limites orçamentários; não houve transporte ou
desvio de verba, uma vez que as diárias e as passagens foram pagas nas rubricas corretas
(3.3.90.14.00 - Diárias Civil e 3.3.90.33.00 - Passagens e Despesas com Locomoção); as
diárias e as passagens estavam previstas no orçamento, tanto que foram empenhadas -
Portaria Interministerial 163/01 - e devidamente pagas pelo Poder Executivo;
10) o pagamento de diárias foi precedido de procedimento administrativo,
autorizado por pessoa juridicamente competente, e dentro da tabela respectiva de cada
servidor;
11) a imputação de crime de responsabilidade carece de condição de

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
procedibilidade, pois a Lei 1.079/50, em seus arts. 15 e 42, vincula a admissibilidade da
acusação à permanência do acusado no cargo, quando do oferecimento da denúncia; como o
denunciado já não ocupava o cargo de direção de Presidente do Tribunal quando do
oferecimento da denúncia, patente a falta de interesse no que se refere ao crime ora cogitado;
a denúncia, portanto, não deve prosperar;
12) não se configurou a AUTORIA e a MATERIALIDADE porque não
demonstrado o desvio ou o excesso no gasto; não se demonstrou a participação do acusado no
fato tido por delituoso;
13) dentro das inovações trazidas pela gestão do denunciado, uma delas foi
promover a cultura, na esteira de precedente inaugurado pelo Ministro Costa Leite com a
criação do Espaço Cultural do Superior Tribunal de Justiça;
14) o Tribunal de Contas reconheceu que os recursos utilizados na realização
da EXPOART originaram-se de doação de particulares; a Procuradoria de Justiça do Estado
da Paraíba também apreciou a matéria e entendeu plenamente legais os atos atacados;
15) os cheques das EXPOARTs 2001 e 2002 não partiram das mãos do
denunciado, o que afasta a autoria;
16) o evento teve uma pequena contrapartida estatal que, em nenhum
momento, desviou a rubrica indicada em orçamento, não existindo extrapolação dos limites
legais;
17) todos os materiais permanentes adquiridos durante o evento continuam
fazendo parte do patrimônio do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba; todos os serviços de
terceiros ou mesmo a prestação de serviços foram pagos dentro da determinação da Lei de
Interpretação Orçamentária;
18) alguns serviços e aquisições de materiais foram feitos para utilização
complementar, com empenho, observando-se as regras financeiro-orçamentárias ditadas pelas
Portarias 163 e 448 do Ministério da Fazenda; às fls. 1.909/1.912, o denunciado procura
demonstrar a assertiva em relação a cada um dos serviços e aquisições mencionados na
denúncia (fls. 1.650/1.652); conclui que nenhuma despesa do biênio 2001/2002 foi
empenhada em rubrica diversa da prevista na lei financeiro-orçamentária;
19) carece de legitimidade e legalidade o exame de dinheiro particular pela
Subprocuradoria-Geral da República, bem como a apreciação por esta Corte;
20) ausência de conduta dos arts. 312 e 359-D do CP porque:

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
a) para a configuração do delito de peculato na modalidade desvio é
indispensável o dolo específico e o desvio de verba pública de uma
destinação para outra e o prejuízo da Administração;
b) a jurisprudência tem decidido que, se o desvio redunda em benefício
da própria Administração, não existe infração; a denúncia não
declinou para onde teriam sido desviadas as verbas objeto de
peculato e nem poderia porque o beneficiado foi o próprio TJ/PB;
além disso, não se tratou de verba pública, mas particular;
c) não houve aplicação de verbas em desvio de finalidade;
d) em relação às verbas da conta corrente n. 7930-8 do Banco do
Brasil, não há que se cogitar a aplicação do art. 359-D do CP porque
trata-se de verbas privadas, não gerenciadas pelo denunciado, uma
vez que as assinaturas dos cheques não são de seu punho;
e) da mesma forma que o tipo do art. 312 do CP (peculato-desvio), no
caso do art. 359-D do mesmo diploma legal, a doutrina é pacífica no
sentido de que, para sua configuração, é necessário o dolo específico
e o prejuízo para o erário;
f) após a realização das duas mostras internacionais de artes plásticas,
a conta (gráfica) foi encerrada;
21) no que diz respeito à transferência de verbas à AEMP, afirma que os
cheques ns. 85008 e 850086 não foram assinados pelo denunciado; tais verbas são de
natureza privada;
22) quanto à quebra de ordem do precatório, afirma o denunciado que o fato
narrado na denúncia não é verdadeiro; o servidor Claudecy Tavares compareceu perante
cartório na presença de duas testemunhas e declarou inexistir qualquer ato que venha a
atribuir ao Desembargador Marcos Antônio Souto Maior a autorização, formal ou verbal, do
aludido pagamento;
23) o Governo, antes mesmo do pagamento referenciado, já havia quebrado a
ordem dos precatórios; a quebra de ordem, muito embora não seja o caso (pois não foi o
denunciado quem quebrou a ordem dos precatórios) não constitui crime; a denúncia não
aponta o dispositivo que pune pela suposta quebra da ordem cronológica de precatórios;
24) o Subprocurador-Geral da República, Dr. Eduardo Antônio Dantas

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Nobre, em parecer n. 2.594/07-DF, no Inquérito 478-PB, no qual se apuravam os mesmos
fatos descritos na presente ação penal, concluiu de forma diversa, no sentido de não se tratar
de comportamento dotado de relevância penal; o referido inquérito foi arquivado por
determinação do Ministro Teori Zavascki; e
25) inexiste discrição típica da infração político-administrativa trazida no art.
100, § 5º, da CF, alterado pela EC 30/2000, não se podendo aplicar por analogia a Lei
1.079/50.
Ao final, requer o denunciado:
1) sejam acolhidas as preliminares de violação do princípio do promotor
natural (vício de origem), ausência absoluta de tipicidade da conduta apontada na denúncia
por quebra de ordem de precatórios (art. 5º, XXXIX, da CF), inexistência de condição de
procedibilidade para apurar Crime de Responsabilidade (art. 15 e 42 da Lei 1.079/50),
ilegitimidade do MPF para oferecer denúncia por Crime de Responsabilidade e inépcia da
denúncia; e
2) no mérito, a rejeição da denúncia, julgando-se improcedente a ação
penal.

RAQUEL VASCONCELOS SOUTO MAIOR


(fls. 2.322/2.340)

A denunciada adota, em sua defesa preliminar, as mesmas razões alinhadas por


FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA, acrescentando apenas que:
1) iniciou suas atividades no Serviço Público Estadual em 19/04/1999
prestando serviços no gabinete de Desembargador;
2) em 07/02/2000, a requerimento do Subsecretário Judiciário, Dr. Robson
de Lima Cananéia, passou a prestar serviços na Coordenadoria Judiciária;
3) em 31/01/2001, assumiu cargo em comissão para exercer as funções de
Assessor Técnico Judiciário do Quadro de Pessoal da Secretaria do Tribunal de Justiça da
Paraíba;
4) após o término do biênio 2001/2002, em que o Desembargador Marcos
Antônio Souto Maior exerceu a Presidência daquela Corte, a denunciada permaneceu no
cargo e, em 08/02/2006, na gestão presidida pelo Desembargador João Antônio de Moura,
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 2 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
deixou o cargo por determinação do Conselho Nacional de Justiça;
5) não se valeu do fato de ser filha do Desembargador MARCOS
ANTÔNIO SOUTO MAIOR, como sugere a denúncia, mas de sua capacidade cultural e
profissional para exercer as funções;
6) o fato que lhe é imputado - exercer cargo em comissão e em razão deste
receber diárias - não constitui crime; e
7) a suposta imoralidade de um ato administrativo - escolha da denunciada
para acompanhar o Presidente em viagem oficial - não constitui fato típico penal.
Ao final, requer a denunciada:
1) seja deferida a juntada dos documentos anexos e aberta vista ao MPF,
possibilitando a reavaliação da situação fática e a desistência da denúncia, com arquivamento
do feito;
2) se o MPF não se manifestar pelo arquivamento da ação penal, sejam
acolhidas as seguintes preliminares:
a) violação do princípio do promotor natural (vício de origem);
b) matéria já julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral e analisada com
arquivamento pela Procuradoria Geral de Justiça da Paraíba;
3) no mérito, seja reconhecida a atipicidade da conduta, a inexistência de
crime e, por conseguinte, não seja recebida a denúncia e arquivado o procedimento;
4) superados os requerimentos anteriores, sejam deferidos todos os meios
de prova em Direito permitidos, dignos da ampla defesa e do contraditório, nos termos
constitucionais.
Na tentativa de intimação do denunciado JOSÉ DE CARVALHO COSTA
FILHO para apresentação de resposta, noticiou o MPF o seu falecimento em 14/03/2007. Por
isso, à vista da certidão de óbito de fls. 2.428 e 2.444, declarei extinta a punibilidade do
denunciado em decisão datada de 09/12/2007.
Intimado, o MPF fez as seguintes considerações acerca das defesas
preliminares apresentadas pelos denunciados:
1) não procede a alegação de ofensa ao princípio do promotor natural porque
esta Corte já decidiu, na APn 329/PB que:

Os Subprocuradores-Gerais da República, nas ações penais originárias,


fluentes neste Superior Tribunal de Justiça, atuam por delegação do Procurador-Geral da
República, incabendo falar em ausência de livre distribuição do procedimento prévio perante a
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Procuradoria-Geral da República e violação da Resolução nº 33/97, do Conselho Superior do
Ministério Público Federal. Precedentes do STF.

2) a Subprocuradora signatária da denúncia foi designada pelo


Procurador-Geral da República para atuar no feito;
3) a Resolução 33 do Conselho Superior do Ministério Público Federal não
tem a eficácia pretendida pelos denunciados; trata-se de norma de eficácia interna do órgão,
editada para disciplinar a distribuição eqüitativa de processos aos Subprocuradores-Gerais,
não alcançando, por razões óbvias, os processos de atribuição do Procurador-Geral da
República;
4) não procede o argumento de ausência de justa causa para a ação penal, pois
o MPF, em nenhum momento, afirmou que os recursos não foram aplicados nas finalidades
para as quais foram destinados;
5) ao contrário, é indiscutível que os denunciados viajaram ilicitamente
patrocinados com dinheiro público, mediante o recebimento de diárias indevidas; que o
denunciado MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR destinou verbas do Tribunal para
financiamento das duas EXPOARTs sem que existisse previsão orçamentária para a despesa e
sem que o pagamento fosse precedido de empenho; houve a transferência de recursos
públicos para a AEMP e o referido denunciado determinou, verbalmente, o pagamento dos
precatórios com a preterição da ordem de apresentação dos pedidos;
6) o fato de o Tribunal de Contas ter julgado regulares as contas do
denunciado MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR não tem o efeito de inibir a presente
ação penal e muito menos retirar-lhe a justa causa; a análise da Corte de Contas é feita sob o
aspecto formal e, sob essa ótica, não há irregularidade a ser declarada; a denúncia não
questionou a efetiva aplicação dos recursos nas finalidades para os quais foram destinados,
mas a própria destinação dos recursos e o proveito ilícito obtido pelos denunciados com os
recursos públicos ilicitamente desviados;
7) o Tribunal de Contas afirmou tão-somente a legalidade formal, não
substancial da despesa;
8) o MPF não questiona as nomeações dos familiares do denunciado
MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR para o exercício de cargos no Tribunal; apesar de
imorais e ferirem a ética constitucionalmente exigida do administrador público, tais fatos, por
si sós, não consubstanciam ilícito penal; o que se questiona é o fato de o denunciado ter
beneficiado seus familiares com viagens graciosas, patrocinadas integralmente pelos cofres
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
públicos, pois as viagens não tinham relação com os cargos ocupados e não visavam ao
atendimento de um interesse público, o que tipifica, indiscutivelmente, o crime de peculato;
9) a discricionariedade de que dispõe o Presidente do Tribunal para
administrar a Corte não o autoriza a dispor da coisa pública como se fosse sua, em benefício
próprio e de seus familiares; o Presidente não poderia valer-se de seu poder para atingir
finalidades espúrias, como proporcionar passeios a seus familiares;
10) não tem relevância para a presente ação penal o fato de a Procuradoria
Geral de Justiça da Paraíba ter respaldado a conduta ilícita do denunciado MARCO
ANTÔNIO SOUTO MAIOR, pois trata-se de autoridade com prerrogativa de função e a
competência para dizer da ilicitude de seus atos, sob o aspecto penal, é exclusivamente do
Superior Tribunal de Justiça;
11) a prova colhida no inquérito que antecedeu a presente ação penal
demonstra que os recursos que custearam as duas EXPOARTs eram públicos, oriundos do
orçamento do Tribunal, ilicitamente desviados para pagamento de despesas não autorizadas e
sem o prévio empenhamento e não recurso privado, como afirma o denunciado MARCO
ANTÔNIO SOUTO MAIOR;
12) o denunciado MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR já responde a ação
penal neste Tribunal pelo fato, objeto da presente denúncia, de ter determinado o pagamento
de precatório mediante a preterição da ordem cronológica de apresentação dos pedidos; nestes
autos, o servidor que subscreveu os cheques prestou depoimento e afirmou que assim agiu por
ordem do Desembargador MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR, o que assume foros de
verdade na medida em que se tem como certo que incumbia ao denunciado, com
exclusividade, determinar o pagamento dos precatórios; e
13) não procede a preliminar de inépcia da inicial porque a denúncia,
respaldada pela prova colhida no curso da investigação atribuiu aos denunciados fatos
definidos em lei como crimes, descrevendo os fatos delituosos com todas as suas
circunstâncias.
Ao final, requereu o MPF o recebimento da denúncia para fins de
prosseguimento da ação penal.
Em 02/09/2008, o Dr. José Ricardo Porto protocolou via fax da petição
209855/2008 (original protocolado em 09/09/2008 - petição 217907/2008), comunicando a
renúncia ao mandato que lhe foi outorgado pela denunciada FABÍOLA ANDRÉA

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
CORREA GUERRA, ao tempo em que informou (e comprovou) que a outorgante havia sido
devidamente notificada para constituir novo patrono.
Considerando que até 05/12/2008 a denunciada FABÍOLA não havia
nomeado outro advogado, determinei a nomeação de Defensor Público da União para
comparecer à sessão de julgamento designada para 17/12/2008 (art. 261 do CPP c/c art. 44 do
CPC) - fls. 2.489.
O denunciado MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR comunicou, através da
petição 314212/2008, que havia requerido sua aposentadoria do cargo de Desembargador, o
que foi deferido pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Por isso,
requereu a remessa dos autos a um dos Juízes Criminais da Comarca de João Pessoa - Estado
da Paraíba, em razão da suposta perda superveniente de competência do STJ.
Ouvido, o MPF, invocando o art. 1º, § 5º, da Resolução 30 - CNJ, requereu a
esta Corte a declaração de ineficácia da aposentadoria do denunciado MARCO ANTÔNIO
SOUTO MAIOR, por responder a Processo Administrativo Disciplinar (n. 5 - Relator
Conselheiro Técio Lins e Silva).
A Defensoria Pública, assistindo a denunciada FABÍOLA ANDRÉA
CORREA GUERRA, peticionou às fls. 2.544/2.545 (petição n. 315996/2008) e pleiteou a
observância das regras estabelecidas na LC 80/94, em especial a intimação pessoal, prazo em
dobro e desnecessidade de procuração, ao tempo em que requereu a retirada do feito de pauta,
cujo julgamento estava previsto para o dia 17/12/2008, a fim de conceder-lhe vista dos autos
em Secretaria pelo prazo legal.
O advogado do denunciado HILTON SOUTO MAIOR NETO, às fls.
2.549/2.550 e 2.553/2.554) comunicou estar acometido de enfermidade que o impossibilitaria
de comparecer à sessão do dia 17/12/2008 e, por isso, pediu adiamento do julgamento. Além
disso, afirmou que o denunciado MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR havia se
aposentado e, em conseqüência, requereu a remessa dos autos à instância competente.
A Corte Especial, em 17/12/2008:
a) indeferiu o pedido de adiamento formulado pelo advogado do réu
HILTON SOUTO MAIOR NETO porque não comprovada a moléstia alegada; e
b) por maioria (vencida a Relatora e os Ministros Francisco Falcão e Teori
Albino Zavascki), adiou o julgamento para a sessão de 02/02/2009.
A denunciada FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA impetrou nesta

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Corte, contra ato desta Relatora, o MS 14.057/PB. O Vice-Presidente Ministro Ari
Pargendler, em decisão datada de 22/12/2008, julgou prejudicado em parte o mandamus
porque o julgamento não foi realizado em 17/12/2008, mas deferiu a liminar para autorizar a
vista dos autos da presente ação penal, fora do cartório, no período de 05 a 16 de janeiro de
2009.
Em 23/01/2009, a denunciada FABÍOLA requereu a juntada da procuração
outorgada à Drª Rebeca Novaes Aguiar, bem assim a carga dos autos para cumprimento da
liminar deferida nos autos do MS 14.057/PB.
Em 30/01/2009, a denunciada FABÍOLA peticionou em nome próprio (fls.
2.592/2.593), insurgindo-se contra a designação de Defensor Dativo, sob o argumento de não
ter sido intimada para nomear novo patrono. Afirmou que o defensor nomeado agiu com
menosprezo e irresponsabilidade, não se interessando em conhecer o processo em comento e,
por isso, concluiu que seria uma defesa de "faz de conta". Assim, requereu fosse o feito
chamado à ordem e concedida vista à advogada constituída (Drª Rebeca Novaes Aguiar).
Em 02/02/2009, despachei designando nova sessão para apreciação da
denúncia (18/02/2009).
Em 06/02/2009, determinei a intimação do Defensor Público,
desconstituindo-o.
Através da Petição 16429/2009, protocolada em 06/02/2009, a denunciada
FABÍOLA requereu a reconsideração da decisão que determinou a realização do julgamento
na sessão de 18/02/2009 (ou a conversão do pedido em agravo regimental). Para tanto,
argumentou que o pedido de vista dos autos fora do cartório formulado em 23/01/2009
(petição 7446/2009) não foi apreciado. Invocando os princípios do contraditório e da ampla
defesa, requereu a reconsideração da decisão que determinou o julgamento do processo em
18/02/2009 e, caso contrário, o recebimento da petição como agravo regimental, a ser julgado
antes da Sessão Plenária então designada, a fim de evitar prejuízo ao direito de defesa da
Recorrente.
Em 11/02/2009, o MPF peticionou, juntando certidão emitida pelo Conselho
Nacional de Justiça - CNJ, segundo a qual aquele órgão, em 16/12/2008, desconstituiu o ato
de aposentadoria do denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR.
É o relatório.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

RELATORA : MINISTRA ELIANA CALMON


AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU : MASM
ADVOGADOS : JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN E OUTRO(S)
LUÍS ALEXANDRE RASSI E OUTRO
RÉU : FACG
ADVOGADO : JOSÉ RICARDO PORTO
RÉU : HSMN
ADVOGADO : MARTINHO CUNHA MELO FILHO
RÉU : RVSM
ADVOGADO : EDUARDO SÉRGIO CABRAL DE LIMA

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON (RELATORA): -

PRELIMINARES

1. INCOMPETÊNCIA DO STJ
Não têm razão os denunciados quanto à alegada perda superveniente de
competência desta Corte. E isto porque, como comprovado pelo MPF às fls. 2.603/2.604, o
Conselho Nacional de Justiça desconstituiu o ato de aposentadoria concedida pelo TJ/PB ao
denunciado MARCO ANTÔNIO SOUTO MAIOR.
Assim, fica prejudicada a análise do pedido do MPF formulado às fls.
2.536/2.541, no sentido de declarar esta Corte a ineficácia da aposentação, nos termos da
Resolução do CNJ, porque já cassado o ato do Tribunal de Justiça da Paraíba, que aposentou
o desembargador denunciado.
Por oportuno, esclareço que o ato do Conselho Nacional de Justiça, tornando
sem efeito a aposentadoria do magistrado processado, não pode ser examinado no âmbito do
Superior Tribunal de Justiça, por ser da competência do Supremo Tribunal Federal, a teor do
art. 102, I, "r", da Constituição Federal.
Por fim, entendo pertinente lembrar que, a tese da perda do foro especial de
autoridades que deixam as funções dos seus cargos, quando vitalícios, por força de
aposentadoria, está sendo reexaminada presentemente pelo pleno do Supremo Tribunal
Federal, nos autos do RE 549.560, de relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski. O
julgamento na Primeira Turma foi afetado ao plenário da Corte.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Nesse recurso pretende o recorrente, desembargador aposentado do Tribunal de
Justiça do Estado do Ceará, a reforma da decisão da Corte Especial do STJ, que declinou da
sua competência, ao fundamento de que, em decorrência da aposentadoria do réu, deu-se a
perda do foro especial, seguindo no particular a jurisprudência da Corte Maior.
A tese posta para apreciação no Supremo situa-se na extensão da incidência do
art. 95, I, da CF, o qual assegura a vitaliciedade aos magistrados. Na visão do recorrente, só
perde o foro especial a autoridade que, titular de cargo vitalício, vem a perde-lo por sentença
judicial transitada em julgado. Em outras palavras, a prerrogativa de foro dos titulares de
cargos vitalícios permanece enquanto permanecer a titularidade, a qual não se desfaz com a
aposentadoria.
A decisão da Corte Especial, que está sendo examinada pelo STF, foi proferida
na APN 441, de relatoria do Ministro Fernando Gonçalves, tendo o colegiado chancelado a
posição do relator, à unanimidade, estando assim ementado o julgado:

AÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. DESEMBARGADOR.


APOSENTADORIA. FORO PRIVILEGIADO. VITALICIEDADE.
1. O magistrado aposentado, afastado que se encontra, para sempre, da
função judicante não está amparado pelas "garantias especiais de permanência e definitividade
no cargo".
2. Em decorrência, não tem direito a foro privilegiado pelo encerramento
definitivo do exercício da função, inclusive em decorrência do julgamento pelo Supremo
Tribunal Federal (Informativo 401) declarando contrários à Constituição Federal os §§ 1º e 2º
do art. 84 do Código de Processo Penal, inseridos pelo art. 1º da Lei 10.628 de 2002.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg na APn 441/CE, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL,
julgado em 19/06/2006, DJ 01/08/2006 p. 322)

No plenário, conforme notas constantes dos Informativos 485 e 495, o relator,


Ministro Ricardo Lewandowiski, quando do julgamento em plenário, manteve a tese da perda
de foro, seguindo a jurisprudência do Tribunal, no que foi acompanhado pelo Ministro Marco
Aurélio. Entretanto, abriu a divergência o Ministro Carlos Alberto Menezes Direito para dar
provimento ao recurso e assegurar ao aposentado plena prerrogativa das garantias inerentes à
magistratura, ao fundamento de que atos e fatos praticados e ocorridos quando do exercício
de funções inerentes a cargos vitalícios, devem ser examinados processualmente dentro dos
critérios constitucionais que privilegiam a autoridade, em função do cargo.
Assim, se a ação penal reporta-se a atos praticados no exercício da função
judicante, mesmo aposentado deve o magistrado responder perante o foro especial. Segundo o

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, se o ato objeto da ação foi praticado no exercício
da função e se o cargo é vitalício, a ação deve ser processada à vista da proteção
constitucional que cerca o cargo, até pelo princípio da responsabilidade do sistema
constitucional, assegurado no art. 95, I da CF.
É bem verdade que o julgamento do Supremo encontra-se suspenso pelo
pedido de vista do Ministro Eros Grau, mas o precedente coloca em evidência a incerteza da
mudança de foro para os aposentados de cargos vitalícios e que, por isso mesmo, continuam
sendo titulares do cargo.
Por todas essas razões, rejeito a preliminar de incompetência do STJ,
indeferindo o pedido de remessa dos autos a um dos Juízos Criminais da Comarca de João
Pessoa - PB.

2. CERCEAMENTO DE DEFESA
Afasto a alegação de ofensa aos princípios da ampla defesa e do contraditório
invocados pela denunciada FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA na Petição n.
16429/2009 e, por isso, indefiro o pedido de adiamento constante da mesma petição.
Às fls. 2.587, foi juntada aos autos certidão lavrada pela Coordenadoria da
Corte Especial no MS 14.057/PB, com os seguintes termos:

Certifico que em cumprimento à decisão de fl. 62 foi expedido Mandado de


Intimação a Dra. Rebeca Novais Aguiar a fim de dar-lhe ciência desta decisão, o que restou
prejudicado tendo em vista a devolução do mandado sem cumprimento onde consta certidão da
oficiala de justiça informando estar o endereço incompleto ou errado. Certifico, também, que a
própria oficiala de justiça nos informou pelo telefone no dia 29/12/2008 que o endereço não
estava correto, por esta razão, fizemos investidas na tentativa de localização da advogada,
obtendo, por fim, a informação na OAB/DF de que nos dados cadastrais da mesma só constava
o telefone residencial e que não poderia ser fornecido a esta Coordenadoria, e que por este
motivo foi solicitado que eles mesmos fizessem contato com ela a fim de que ela pudesse ligar
para esta Coordenadoria. Após novo contato com a funcionária da OAB/DF, obtivemos a
notícia que a advogada estaria de férias e que só retornaria após o dia 06/01/2009, mas que
havia deixado o recado. Certifico, ainda, que às 17:00 horas do dia 29/12/2008 a própria
advogada Sra. Rebeca Novais Aguiar ligou para esta Coordenadoria e nos informou que só
retornaria de férias a Brasília no dia 16/01/2009.
Brasília - DF, 30 de dezembro de 2008.

À vista dessas informações, fica nítido o propósito protelatório da defesa,


quando não a tentativa de gerar eventual nulidade, a ser argüida posteriormente.
Tais conclusões decorrem do fato de que é pouco razoável aceitar que um
advogado fornecesse, de forma equivocada ou incompleta, o seu próprio endereço. E ainda
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
que se admita o equívoco, o fato de a representante da denunciada FABÍOLA, não obstante
tivesse sido cientificada, em 29/12/2008, do despacho do Min. Ari Pargendler que concedeu
vista dos autos fora do cartório no período de 05 a 16/01/2009, nenhuma providência tomou
nesse sentido, não sendo demais lembrar que a lei não garante a suspensão ou interrupção dos
prazos processuais em virtude de férias dos advogados.
Assim, a denunciada perdeu a oportunidade que lhe foi concedida de retirar os
autos do cartório e, por isso, nenhuma razão tem em alegar agora que seu pedido de vista,
formulado em 23/01/2009 (petição 7446/2009), não foi apreciado e, conseqüentemente, que
houve cerceamento de defesa, a justificar o adiamento da sessão de julgamento designada
para 18/02/2009.
Nessas circunstâncias, nos termos do art. 14, II c/c art. 17, IV, e 18, caput ,
todos do CPC (aplicáveis à hipótese por analogia), condeno a Drª Rebeca Novaes Aguiar,
subscritora da petição de fls. 2.597/2.598, ao pagamento de multa por litigância de má-fé, que
ora fixo em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Determino, outrossim, a remessa à OAB/DF de cópia do presente voto, bem
assim das fls. 2.582/2.598, para as providências que entender cabíveis.
Prejudicada, pois, a análise do agravo regimental de fls. 2.597/2.598.

3. NOMEAÇÃO DE DEFENSOR PÚBLICO


Tendo sido destituído o Defensor Público nomeado, fica prejudicada a análise
das questões suscitadas pela denunciada FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA às fls.
2.592/2.593.

4. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL


Segundo os denunciados, há vício de origem, sendo nulo ab initio o feito
porque toda a instrumentalização probatória foi realizada por autoridade sem atribuição legal.
Afirmam que:
a) originariamente os fatos apurados na APn 477/PB estavam vinculados à
Subprocuradora-Geral da República Drª Zélia Oliveira Gomes; em respeito ao devido
processo legal e ao princípio do promotor natural, o feito não poderia ter sido avocado, sem
distribuição, pela Drª Cláudia Marques Sampaio;
b) ademais, a Drª Cláudia Marques Sampaio não está mais atuando junto ao

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Superior Tribunal de Justiça, tendo sido designada para exercer sua função perante o Supremo
Tribunal Federal;
c) a Resolução 33/1997, que trata da distribuição dos processos, não foi
obedecida.
Concluem que houve violação ao princípio do promotor natural.
O MPF refuta tal argumento, alegando que a Subprocuradora signatária da
denúncia foi designada pelo Procurador-Geral da República para atuar no feito e a Resolução
33 do Conselho Superior do Ministério Público Federal não tem a eficácia pretendida pelos
denunciados; trata-se de norma de eficácia interna do órgão, editada para disciplinar a
distribuição eqüitativa de processos aos Subprocuradores-Gerais, não alcançando, por razões
óbvias, os processos de atribuição do Procurador-Geral da República.
Tem razão o MPF.
Como bem destacou o Parquet , a Corte Especial do STJ já analisou a questão
em ação penal movida contra o próprio Desembargador MARCOS ANTÔNIO SOUTO
MAIOR e afastou a alegação de ofensa ao princípio do promotor natural, como se depreende
da ementa a seguir transcrita:

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. DIREITO PENAL E DIREITO


PROCESSUAL PENAL. NOTÍCIA ANÔNIMA. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO
PROMOTOR NATURAL E DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS AÇÕES. ILEGITIMIDADE
DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. NULIDADES. INOCORRÊNCIA. CRIME DE
RESPONSABILIDADE. ATIPICIDADE. PREVARICAÇÃO. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. ATIPICIDADE. USURPAÇÃO DE
FUNÇÃO PÚBLICA. FUNCIONÁRIO PÚBLICO. SUJEITO ATIVO. CABIMENTO.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI COMPLEMENTAR Nº
43/2002. JUSTA CAUSA À AÇÃO PENAL. DENÚNCIA PARCIALMENTE RECEBIDA.
AFASTAMENTO DO CARGO.
(...)
4. Os Subprocuradores-Gerais da República, na ações penais originárias
fluentes neste Superior Tribunal de Justiça, atuam por delegação do Procurador-Geral da
República, incabendo falar em ausência de livre distribuição do procedimento prévio perante a
Procuradoria-Geral da República e violação da Resolução nº 33/97, do Conselho Superior do
Ministério Público Federal. Precedentes do STF.
(...)
17. Denúncia parcialmente recebida. Afastamento do cargo.
(APn 329/PB, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, CORTE ESPECIAL, julgado em
20/09/2006, DJ 23/04/2007 p. 226)

O julgamento, nesse ponto, pautou-se em precedentes da Suprema Corte, a


saber:

1. MINISTÉRIO PÚBLICO. Federal. Procurador-Geral da República.


Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 3 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Atuação perante o Superior Tribunal de Justiça. Ação penal originária contra magistrado.
Propositura. Delegação a Subprocurador-Geral da República. Admissibilidade. Caso que não é
de afastamento de membro competente do Ministério Público. Inexistência de ofensa ao
princípio do promotor natural. Precedente. Preliminar repelida. Inteligência do art. 48 da LC nº
75/93. Pode o Procurador-Geral da República delegar a competência de que trata o art. 48, II,
da Lei Complementar nº 75, de 1993, a Subprocurador-Geral pré-designado para atuar perante
o Superior Tribunal de Justiça. (...)
(HC 84.488-0/ES, Rel. Ministro CEZAR PELUSO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
07/02/2006, DJ 05/05/2006 p. 17).

AÇÃO PENAL DA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA: MINISTÉRIO PÚBLICO: LEGITIMIDADE 'AD PROCESSUM'
PARA SUBSCREVER A DENÚNCIA DO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA:
POSSIBILIDADE DE DELEGAÇÃO A SUBPROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. LC
75/93 (LOMPU), ARTS. 48, INCISO II, PARÁGRAFO ÚNICO: VALIDADE.
1. Válida e vigente a disposição legal que atribui ao Procurador-Geral a
propositura das ações penais da competência originária do Superior Tribunal de Justiça, não há
como cogitar, em relação a elas, de distribuição, cujo pressuposto é a pluralidade de órgãos
com idêntica competência material: nelas o Procurador-Geral é, por definição legal, o
'promotor natural' da causa.
2. Provindo de lei complementar a reserva da atribuição questionada ao
Procurador-Geral, só à lei complementar mesmo caberia autorizar, disciplinar e limitar a
delegação dela: fê-lo o parágrafo único do art. 48 da LOMPU, que, de um lado, facultou ao
Procurador-Geral delegar a atribuição que lhe conferira, e, de outro, só a permitiu a
Suprocurador-Geral da República.
3. A delegação, quando autorizada por lei, é forma indireta de exercício de
atribuição do delegante, conferida igualmente por lei: desse modo, só à lei, que a confere, seria
dado restringi-la: de todo ociosa, por conseguinte, a inexistência, a respeito de resolução do
Conselho Superior do Ministério Público Federal.
(HC 84.630-1/RJ, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 15/12/2005, DJ 25/08/2006, p. 53).

Veja-se, ainda: HC 84.668-0/ES, Rel. Ministro CEZAR PELUSO, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 07/02/2006, DJ 29/06/2007 p. 58.
Como bem reconhecido pela Suprema Corte, nos termos do art. 48, II, da LC
75/93, o promotor natural, em se tratando de ação penal de que trata o art. 105, I, "a", da CF, é
o Procurador-Geral da República que, com amparo no parágrafo único do mesmo dispositivo
legal, está autorizado a delegar sua competência a Subprocurador-Geral da República.
Aliás, a própria Resolução 33/1997 do Conselho Superior do Ministério
Público Federal, no art. 1º, ao tratar da distribuição eqüitativa dos feitos oriundos do Superior
Tribunal de Justiça, excepciona as hipóteses de que trata o art. 48, I e II, da LC 75/93.
Por essas razões, não houve violação ao princípio do promotor natural.

5. PETIÇÃO INICIAL
Em primeiro lugar, entendo que não têm razão os denunciados FABÍOLA
ANDRÉA CORREIA GUERRA, HILTON SOUTO MAIOR NETO e RAQUEL
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
VASCONCELOS SOUTO MAIOR quando afirmam que a denúncia os teria
desqualificado, fazendo referências humilhantes, maculando-lhes a honra e a moral.
O MPF, sequer nas entrelinhas, questionou a capacidade profissional e cultural
dos denunciados. Tampouco contestou sua nomeação para prover cargos comissionados no
Tribunal de Justiça da Paraíba, passando ao largo da discussão em torno do nepotismo.
Em verdade, a denúncia preocupou-se em demonstrar que as viagens realizadas
por esses denunciados não guardavam qualquer relação com as funções relativas aos cargos
ocupados.
Essa Corte tem rejeitado sistematicamente a preliminar de inépcia da denúncia
nas circunstâncias identificadas nos precedentes a seguir transcritos:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL E


PROCESSUAL PENAL. ESTELIONATO CIRCUNSTANCIADO, FALSIDADE
IDEOLÓGICA E USO DE DOCUMENTO FALSO. DENÚNCIA. ALEGAÇÃO DE
INÉPCIA. INEXISTÊNCIA. FALTA JUSTA CAUSA NÃO EVIDENCIADA.
TRANCAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. EXCESSO DE ACUSAÇÃO. CRIME-MEIO
ABSORVIDO PELO CRIME-FIM.
(...)
2. Não é inepta a denúncia que descreve, de forma clara e objetiva, os fatos
supostamente criminosos, com todas as suas circunstâncias, bem como o possível envolvimento
do Recorrente, de forma suficiente para a deflagração da ação penal, bem como para o pleno
exercício de sua defesa.
(...)
6. Recurso parcialmente provido tão-somente para excluir da denúncia a
capitulação dos crimes dos arts. 299 e 304 do Código Penal.
(RHC 23.582/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 02/10/2008,
DJe 28/10/2008)

HABEAS CORPUS – CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA –


EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE – IMPOSSIBILIDADE – TRANCAMENTO – INÉPCIA
DA DENÚNCIA – INOCORRÊNCIA – WRIT DENEGADO.
1- O trancamento de uma ação penal exige que a ausência de comprovação
da existência do crime, dos indícios de autoria, de justa causa, bem como a atipicidade da
conduta ou a existência de uma causa extintiva da punibilidade esteja evidente, independente
de aprofundamento na prova dos autos, situação incompatível com a estreita via do habeas
corpus.
2- É impossível a alegação de constrangimento ilegal, por inépcia da
denúncia, quando esta contém os requisitos necessários e possibilita ampla defesa à paciente.
3- Writ denegado.
(HC 72.239/SP, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2008, DJe 13/10/2008)

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. CAUSAR


POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA COM DANOS À SAÚDE DA POPULAÇÃO E POLUIÇÃO
POR LANÇAMENTO DE RESÍDUOS GASOSOS (ART. 54, § 2o., II, IN FINE C/C ART.
15, II, a, E ART. 54, § 2o., V C/C ART. 15, II, a, AMBOS DA LEI 9.605/98).
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA NÃO EVIDENCIADA.
DESCRIÇÃO DOS FATOS DE FORMA A VIABILIZAR O PLENO EXERCÍCIO DO
DIREITO DE DEFESA. INDIVIDUALIZAÇÃO PORMENORIZADA DAS CONDUTAS
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
QUE PODE SER FEITA NO CURSO DA AÇÃO PENAL. PRECEDENTES DO STJ.
CRIMES PERMANENTES. ORDEM DENEGADA.
1. O trancamento da Ação Penal por inépcia da denúncia só pode ser
acolhido quando sua deficiência impedir a compreensão da acusação e, conseqüentemente, a
defesa dos réus, o que não se verifica na hipótese dos autos, pois a inicial contém a exposição
clara dos fatos tidos como delituosos (causar poluição atmosférica, com danos à saúde da
população e poluição por lançamento de resíduos gasosos), a qualificação dos acusados e a
classificação dos crimes, de maneira a permitir a articulação defensiva.
2. Admite-se a denúncia genérica, em casos de crimes com vários agentes e
condutas ou que, por sua própria natureza, devem ser praticados em concurso, quando não se
puder, de pronto, pormenorizar as ações de cada um dos envolvidos, sob pena de inviabilizar a
acusação, desde que os fatos sejam delineados de forma clara, para permitir o amplo exercício
do direito de defesa. Precedentes do STJ.
(...)
6. Ordem denegada.
(HC 89.386/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA,
julgado em 18/09/2008, DJe 20/10/2008)

Na hipótese dos autos, verifico que a petição inicial cuidou de qualificar os


acusados, descrever minuciosamente os fatos tidos por delituosos, individualizar a conduta de
cada um dos denunciados e enquadrá-las nos respectivos tipos penais, de maneira a
possibilitar a ampla defesa, exceto no que diz respeito ao fato descrito às fls. 1.654/1.657 -
pagamento de precatório sem observância da ordem cronológica de apresentação dos
precatórios. E isto porque descurou-se o Ministério Público Federal de indicar a devida
capitulação penal.
Por essas razões, acolho, em parte, a preliminar de inépcia da denúncia apenas
em relação ao mencionado fato.
Por fim, é possível constatar que as referências à pessoa de FABÍOLA
ANDRÉA VASCONCELOS GUERRA (fls. 1.643 e 1.644), ocorreram em evidente
equívoco, o que não tem o condão de macular a inicial porque restou suficientemente claro
que os fatos delituosos estão sendo imputados a FABÍOLA ANDRÉA CORREIA
GUERRA, esposa do Desembargador MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR. Ademais, o
evidenciado erro material em nada prejudicou a defesa da denunciada.

6. JULGAMENTO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA PARAÍBA E


DECISÃO DA PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
No processo TC 03140/03, instaurado perante o Tribunal de Contas da Paraíba,
para apurar denúncias de atos de improbidade na gestão do Presidente do Tribunal de Justiça
da Paraíba no biênio 2001/2002, constatou a Auditoria que (Apenso 2 - fls. 13/27):

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
b) Irregularidades no pagamento de diárias e horas extras para
familiares e asseclas (sic).

Denúncia procedente. Consta às fls. 38 do presente processo, relação


nominal dos favorecidos com diárias e horas extraordinárias, conforme prescreve Acórdão
referente ao Processo RJ 2003.005035-1 (fls. 30 a 39), cujo objetivo é apurar denúncias de
malversação de recursos públicos repassados ao Tribunal de Justiça no biênio 2001-2002. Eis
os beneficiários em questão: Marcos Antônio Souto Maior, Aluízio Bezerra Filho, Claudecy
Soares Tavares, Hilton Souto Maior Neto, Yanco Cordeiro, Fabíola Andréa Correia Guerra e
Raquel Vasconcelos Souto Maior.
Em consonância com os dados fornecidos pelos setores Financeiro e de
Recursos Humanos do Tribunal de Justiça, constam os seguintes pagamentos para os
beneficiados citados: (ver doc. fls. 175/545 e 1566/15939)

• Marcos Antônio Souto Maior


Diárias:
2001: R$ 36.979,50
2002: R$ 47.448,00
Total: R$ 84.427,50
(...)

• Hilton Souto Maior Neto


Diárias:
2001: R$ 10.025,00
2002: R$ 35.505,00
Total: R$ 45.530,00
(...)

• Fabíola Andréa Correia Guerra


Diárias:
2001: R$ 16.800,00
2002: R$ 36.700,00
Total: R$ 53.500,00
(...)

• Raquel Vasconcelos Souto Maior


Diárias:
2001: R$ 0,00
2002: R$ 9.870,00
Total: R$ 9.870,00

(...)

Os referidos pagamentos aos beneficiados supracitados atingiram o montante


de R$ 335.424,58 (trezentos e trinta e cinco mil, quatrocentos e vente e quatro reais e cinqüenta
e oito centavos), referentes a diárias e horas extraordinárias pagas no biênio 2001/2002.
Além do valor pago à título de diárias e horas extraordinárias, ressalta-se que
parte das diárias concedidas, especificamente R$ 125.230,00 (ver. fls. 543), bem como horas
extraordinárias, no montante de R$ 70.142,08 (fls. 542), não foram empenhadas em rubrica
orçamentária própria e específica, e sim concedidas no próprio contra-cheque dos
servidores em questão (ver fls. 1536/1539), procedimento reprovável pela boa
interpretação dos artigos 58 e 60 da Lei 4.320/64 e artigos 70 e 72 da Lei Estadual
3.654/71. Tal fato caracterizou, classicamente, complementação salarial para os
servidores acima descritos.
Outro ponto merecedor de destaque na análise do tópico ora tratado, refere-se
ao fato de que várias das diárias concedidas a alguns dos servidores retromencionados, em
consonância com o histórico do empenho extraído do sistema contábil do Estado (SIAF),
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
foram concedidas sem haver identificação do evento motivador da diária, conforme
exemplifica-se abaixo:
(...)
Convém esclarecer que apenas no exercício financeiro de 2002, o Tribunal de
Justiça pagou R$ 10.097.420,22 (dez milhões, noventa e sete mil, quatrocentos e vinte reais e
vinte dois centavos) em diárias e horas extraordinárias para os seus servidores.
Comparativamente para fins de análise, considerando até o mês de agosto de 2003, o TJ pagou
R$ 1.743.786,40 (um milhão setecentos e quarenta e três mil, setecentos e oitenta e seis reais e
quarenta centavos) em diárias e horas extras, demonstrando vultosa diferença entre os
exercícios de 2002 e 2003, conforme informações do setor de Recursos Humanos do próprio
Tribunal (ver. doc. fls. 1535). O exorbitante valor pago em 2002, fere, no mínimo, os
princípios da moralidade e economicidade dos gastos públicos, consagrados nos artigos
37 e 70 da Constituição Federal, respectivamente.
(...)

e) Gastos efetivados e destino da arrecadação das EXPOARTE


2001/2002.

Denúncia Procedente em parte: Com relação aos dispêndios realizados e


destino dado à arrecadação das EXPOARTE 2001/2002, destaca-se o que se segue:
Conforme levantamento efetuado junto à Coordenadoria Financeira do
Tribunal de Justiça, setor que absorve o fluxo financeiro da Justiça Comum (TJ) e Fundo
Especial do Poder Judiciário (FEPJ), considerando os processos encontrados com identificação
referente às referidas exposições, foram realizadas despesas orçamentárias nas EXPOARTE
2001/2002 no valor de R$ 186.420,71, conforme discriminado abaixo:

EXPOARTE 2001: R$ 66.008,05


EXPOARTE 2002: R$ 120.412,66
TOTAL: R$ 186.420,71

Os documentos comprobatórios dos referidos gastos orçamentários


encontram-se acostados às fls. 797/840 e 950/996 do presente processo, todos com devido
empenho legal e respectivas notas de pagamento.
No tocante aos dispêndios efetuados com os recursos diretamente
arrecadados da EXPOARTE nos exercícios financeiros de 2001 e 2002, esta auditoria, em
análise de extratos bancários apensos às fls. 777 a 793, conta nº 7.930-8, agência 1618-7 do
Banco do Brasil S/A, constatou os seguintes fatos:
• Pagamentos realizados sem o devido empenho no valor de R$ 221.311,67
(duzentos e vinte e um mil, trezentos e onze reais e sessenta e sete
centavos), conforme cheques acostados às fls. 841 a 877 do presente
processo, contrariando frontalmente o artigo 58 da Lei 4.320/64 e artigo 72
da Lei Estadual 3.654/71. Segue abaixo discriminação pormenorizada dos
referidos desembolsos:
(...)
• Pagamentos realizados em favor do Sr. Flávio César Capitulino, no valor de
R$ 180.111,67 (ver quadro acima), sem o devido processo de
empenhamento, além de R$ 53.757,50 formalizados legalmente pelo
Sistema Integrado de Administração Financeira - SIAF (ver fls. 875). O
referido beneficiado foi o responsável pelo seguro, embalagem e
desembaraço aduaneiro das peças da EXPOARTE.

• Os pagamentos realizados em favor da AEMP, Associação das Esposas dos


Magistrados da Paraíba, no valor total de R$ 19.000,00 no biênio
2001/2002 (fls. 841/844), evidenciados no quadro acima, além de serem
efetuados sem empenho prévio, estão em desacordo com os ditames da Lei
de Responsabilidade Fiscal, especificamente no artigo 26, onde prescreve
que a destinação de recursos públicos para o setor privado deverá ser
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
autorizada por lei específica, atender as condições da lei de diretrizes
orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em créditos adicionais. Tais
pagamentos estão registrados nos livros contábeis da AEMP sob a
denominação de "doação" (ver doc. fls. 1706).

Assim sendo, não houve irregularidades nos gastos devidamente empenhados


nas EXPOARTE 2001/2002, no entanto, a utilização dos recursos diretamente arrecadados
nestas duas exposições, oriundos basicamente de patrocínios de empresas privadas e públicas,
cuja expressão final materializou-se em forma de despesa pública, realizou-se sem o devido
empenho legal, perfazendo o total de R$ 221.311,67 (duzentos e vinte e um mil, trezentos e
onze reais e sessenta e sete centavos), além do descumprimento do artigo 26 da LRF, no que
tange aos pagamentos realizados em favor da AEMP, a título de doações.

f) Pagamento de passagens aéreas e pagamento de precatórios de forma


irregular (ver fls. 37/38).

Denúncia Procedente. No que se refere ao pagamento de passagens aéreas e


precatórios, passa-se a expor:

PASSAGENS AÉREAS:

Houve pagamento de despesas com passagens aéreas, empenhadas pelo


Tribunal de Justiça nos exercícios de 2001 e 2002, perfazendo o total de R$ 156.594,37 e R$
226.119,81, respectivamente, em favor das seguintes empresas:
(...)
Os referidos dispêndios atingiram, considerando o biênio analisado, o
montante de R$ 382.714,18 (trezentos e oitenta e dois mil, setecentos e quatorze reais e dezoito
centavos), perfazendo uma média mensal de R$ 15.946,42 com gastos de passagens aéreas.
Ressalte-se que foram realizadas despesas no biênio 2001/2002 com compra
de passagens aéreas em favor de algumas das pessoas elencadas na irregularidade "b" do
presente relatório, citadas às fls. 38 do processo hora tratado, quais sejam:

• Marcos Antônio Souto Maior


Valor pago no biênio: R$ 52.557,95
Desse total, R$ 50.064,95 referem-se a viagens dentro do território nacional
e R$ 2.493,00 em viagem de João Pessoa/Lisboa/João Pessoa.

(...)

• Fabíola Andréa Correia Guerra


Valor pago no biênio: R$ 18.780,70 (dentro do país)

• Hilton Souto Maior Neto


Valor pago no biênio: R$ 5.186,70 (dentro do país)

(...)

Em síntese, foram efetivadas despesas com passagens aéreas no biênio


2001/2001, em favor das pessoas supraditas, no valor de R$ 103.308,10 (cento e três mil,
trezentos e oito reais e dez centavos), ao passo que o gasto total do Tribunal de Justiça com tais
despesas, dentro do biênio sob estudo, atingiu o valor de R$ 382,714,18. Ou seja,
aproximadamente 27% dos gastos com passagens aéreas ao exterior, agredindo, pelo menos, o
princípio da economicidade dos agastos públicos (art. 70 da Carta Magna).
Destaca-se, ainda, os pagamentos de passagens aéreas em favor do Sr. Saulo
Medeiros Barreto, nos montantes de R$ 3.246,87 (fls. 1393/1395) com destino a Paris, França;
R$ 2.493,00 (fls. 1476/1478) com destino a Lisboa, Portugal; bem como viagem a Lisboa e
Barcelona, acampanhado de mais dois servidores do TJ, em junho de 2002, totalizando R$
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
5.700,00 (ver doc. de fls. 1526/1528).
Os documentos inerentes a todas as despesas com passagens aéreas,
incluindo notas de empenho e respectivos comprovantes de despesa, estão acostados às fls.
41/54, 55/56 e 1043/1534 do presente processo.

PRECATÓRIOS:
Foram pagos precatórios, dentro do biênio sob análise, em favor dos
Senhores Aluízio Bezerra Filho e Silvio José da Silva, no montante de R$ 147.804,52 (cento e
quarenta e sete mil, oitocentos e quatro reais e cinqüenta e dois centavos) e R$ 130.546,05
(cento e trinta mil, quinhentos e quarenta e seis reais e cinco centavos), respectivamente, tidos
como irregulares pelo Denunciante.
(...)
Com relação ao precatório do Sr. Silvio José da Silva, Processo TJ
2001.004235-8, salienta-se que foi efetivamente pago através de cheques nº 850646 e 850647
do Banco do Brasil, datados de 31 de janeiro de 2003, em favor do beneficiado pelo precatório
e seu advogado, Sr. Jocélio Jairo Vieira (ver fls. 630 a 633). O referido precatório encontra-se
acostado às fls. 546 a 640 do presente processo.
Convém salientar que os precatórios pagos em favor dos Senhores Aluízio
Bezerra Filho e Silvio José da Silva foram materializados sem o prévio empenho, contrariando
o artigo 58 da Lei 4.320/694 e artigo 72 da Lei 3.54/71.
Salienta-se, ainda, que não foram respeitados os ditames do artigo 100 da
Constituição Federal, que veda a quebra de cronologia no pagamento de precatórios, fato que
ocorreu com os beneficiários acima citados, conforme evidencia planilha de controle de
pagamentos de precatórios acostada às fls. 909/911 do presente processo. Assim sendo, esta
auditoria, à luz dos processos de precatórios acostados aos autos, considerando documento
emitido pelo próprio TJ que comprova quebra de cronologia nos precatórios, entende serem
irregulares os pagamentos realizados aos beneficiados citados na Denúncia em questão.
Corroborando com tal pensamento, destaca-se o voto do Eminente
Desembargador Plínio Leite Fontes (Agravo Regimental 2003.001390-1), datado de
30/04/2003, o qual entende ser inválido o ato que determinou o seqüestro em favor do Sr.
Aluízio Bezerra Filho, pedindo pela devolução da importância recebida indevidamente (ver
doc. fls. 1542/1548).
(...)

5. Conclusão:

Diante do exposto, esta Auditoria conclui:

5.1) Pela Procedência das Denúncias:

• Irregularidade no pagamento de diárias e horas extras para familiares e


asseclas (sic), contrariando os ditames da Lei 4.320/64, Lei 3.654/71, Lei
Complementar 39/85 e Constituição Federal (item 4 "b");

• Pagamento de passagens aéreas e de precatórios irregulares, em desacordo


com as determinações da Carta Magna Constitucional, Lei 4.320/64 e Lei
3.654/71 (item 4 "f");

(...)

5.2) Pela Procedência em Parte das Denúncias:

• Gastos efetivados e destino da arrecadação das EXPOARTE 2001/2002


(item 4 "e"): procedente no que pertine aos gastos realizados com a
arrecadação dos patrocínios da EXPOARTE, contrariando o que preceitua a
Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei 4.320/64 e Lei 3.654/71, e
improcedente com relação aos dispêndios devidamente empenhados pelo
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Sistema de Administração Financeira do Estado - SIAF.
(ressalva dos grifos)

Noticiam os autos que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, julgando o


referido processo (TC 03140/03), em sessão plenária realizada em 09/11/2005, decidiu
(apenso 31, fls. 18/41):

"a) REJEITAR a proposta de decisão apresentada pelo Auditor-relator, para


o fim de considerar não comprovada a denúncia objeto do presente processo, determinando,
em conseqüência, o arquivamento dos autos, comunicando-se, antes, esta decisão ao
denunciante; b) DETERMINAR à Auditoria que no prazo de 10 (dez) dias contados da
publicação deste Acórdão adote as providências no sentido de obter do Tribunal de Justiça os
processos de licitação cuja remessa a esta Corte não foi feito, conforme está dito em seu
relatório."

Segundo o TCE/PB, não se configuraram irregulares os procedimentos


apontados pela Auditoria no tocante à dispensa de licitação irregular, pagamento indevido de
diárias, despesas irregulares com promoção artística, pagamento incorreto de horas extras.
Para assim concluir, no que interessa ao presente feito, considerou aquela Corte de Contas
(fls. 1.767/1.768):
1) quanto ao pagamento de diárias, não houve, nos autos, contestação da
Auditoria à efetiva e correta utilização das diárias, com viagens e deslocamentos dos que dela
fizeram uso; o órgão de instrução ataca o fato de que tal despesa não foi empenhada na
rubrica própria, pois aquelas vantagens foram pagas junto à folha de pagamento; se assim
foram pagas, evidentemente foram empenhadas ao se fazer o empenho da mencionada
FOPAG;
2) em relação às despesas com a realização da EXPOART, feitas
extraorçamentariamente, está claro nos autos que os gastos foram custeados com recursos
doados por particulares, visando especificamente à realização daquele evento, iniciativa do
denunciado, como forma de estimular as artes e, conseqüentemente, favorecer a educação
artística da população paraibana; ficou evidente que as doações não foram feitas ao poder
público, mas especificamente à EXPOART, visando à sua realização e publicidade; os
recursos não eram públicos e sim particulares, doados com a destinação específica já
mencionada; todas as despesas, segundo a própria Auditoria, foram comprovadas nos autos,
apesar da natureza privada das fontes de onde provieram os recursos.
Observe-se que o TCE/PB não analisou os fatos sob a ótica constante da

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
denúncia, não sendo correto afirmar que a Corte de Contas analisou profunda e detidamente o
objetivo das viagens, como fazem crer as defesas preliminares.
Ainda que assim fosse, a rejeição da denúncia pelo TCE/PB e a aprovação das
contas do Tribunal de Justiça do Estado na gestão do Desembargador Marcos Antônio Souto
Maior, por si sós, não têm o condão de ilidir a justa causa da ação penal proposta pelo
Ministério Público Federal, pois são independentes as instâncias penal e administrativa.
Nesse sentido é pacífica a jurisprudência, tanto do Supremo Tribunal Federal, quanto do
Superior Tribunal de Justiça. Vejamos:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUNAL DE CONTAS DA


UNIÃO. COMPETÊNCIA. ART. 71, II, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL E ART. 5º, II E
VIII, DA LEI N. 8.443/92. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. VIOLAÇÃO AOS ARTS.
148 A 182 DA LEI N. 8.112/90. INOCORRÊNCIA. PROCEDIMENTO DISCIPLINADO NA
LEI N. 8.443/92. AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PREJUDICIALIDADE DA
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE. INDEPENDÊNCIA ENTRE AS
INSTÂNCIAS CIVIL, PENAL E ADMINISTRATIVA. QUESTÃO FÁTICA. DILAÇÃO
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SEGURANÇA DENEGADA.
1. A competência do Tribunal de Contas da União para julgar contas abrange
todos quantos derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao
erário, devendo ser aplicadas aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou
irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, lei que estabelecerá, entre outras
cominações, multa proporcional ao dano causado aos cofres públicos [art. 71, II, da CB/88 e
art. 5º, II e VIII, da Lei n. 8.443/92].
2. A tomada de contas especial não consubstancia procedimento
administrativo disciplinar. Tem por escopo a defesa da coisa pública, buscando o
ressarcimento do dano causado ao erário. Precedente [MS n. 24.961, Relator o Ministro
CARLOS VELLOSO, DJ 04.03.2005].
3. Não se impõe a observância, pelo TCU, do disposto nos artigos 148 a 182
da Lei n. 8.112/90, já que o procedimento da tomada de contas especial está disciplinado na
Lei n. 8.443/92.
4. O ajuizamento de ação civil pública não retira a competência do Tribunal
de Contas da União para instaurar a tomada de contas especial e condenar o responsável a
ressarcir ao erário os valores indevidamente percebidos. Independência entre as instâncias
civil, administrativa e penal.
5. A comprovação da efetiva prestação de serviços de assessoria jurídica
durante o período em que a impetrante ocupou cargo em comissão no Tribunal Regional do
Trabalho da 1ª Região exige dilação probatória incompatível com o rito mandamental.
Precedente [MS n. 23.625, Relator o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, DJ de 27.03.2003].
6. Segurança denegada, cassando-se a medida liminar anteriormente
concedida, ressalvado à impetrante o uso das vias ordinárias.
(MS 25.880/DF, Rel. Ministro EROS GRAU, PLENO, julgado em 07/02/2007, DJ 16/03/2007,
P. 22)

EMENTA: I. Denúncia: cabimento, com base em elementos de informação


colhidos em auditoria do Tribunal de Contas, sem que a estes - como também sucede com os
colhidos em inquérito policial - caiba opor, para esse fim, a inobservância da garantia ao
contraditório. II. Aprovação de contas e responsabilidade penal: a aprovação pela Câmara
Municipal de contas de Prefeito não elide a responsabilidade deste por atos de gestão. III.
Recurso especial: art. 105, III, c: a ementa do acórdão paradigma pode servir de demonstração
da divergência, quando nela se expresse inequivocamente a dissonância acerca da questão
federal objeto do recurso.
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
(Inq 1.070/TO, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, PLENO, julgado em 24/11/2004, DJ
01/07/2005, P. 6)

EMENTA: - "Habeas corpus". Recurso ordinário. - Improcedência das


alegações de inépcia da denuncia e da falta de justa causa. - Não e o "habeas corpus" o meio
processual idôneo ao exame aprofundado de prova. - A aprovação de contas pelo Tribunal de
Contas da União não impede que o Ministério Público apresente denúncia, se entender que há,
em tese, crime em ato que integra a prestação de contas aquele órgão de natureza
administrativa. Recurso ordinário a que se nega provimento.
(RHC 71.670/PE, Rel. Ministro MOREIRA ALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
11/10/1994, DJ 20/10/1995, P. 35.263)

1- CÓDIGO PENAL, ART. 312. PECULATO COMETIDO POR


PREFEITO. NÃO HÁ LEI QUE AUTORIZE O ENTENDIMENTO DE QUE A
APROVAÇÃO DAS CONTAS DESSE AGENTE POLÍTICO EXCLUI O CRIME POR ELE
COMETIDO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO. PORTANTO, A AÇÃO PENAL, NO CASO,
NÃO ESTÁ CONDICIONADA À REFERIDA APROVAÇÃO. 2- PRECEDENTES DO STF.
3- RECURSO DE HABEAS CORPUS A QUE É NEGADO PROVIMENTO.
(RHC 55.452/PR, Rel. Ministro ANTÔNIO NEDER, PRIMEIRA TURMA, julgado em
09/08/1977, DJ 26/08/1977)

HABEAS CORPUS. DENÚNCIA RECEBIDA CONTRA PREFEITO, POR


SUPOSTA DISPENSA IRREGULAR DE LICITAÇÃO. ART. 89, CAPUT DA LEI 8.666/93.
INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVA E PENAL. PRECEDENTES
DO STJ. SITUAÇÃO PECULIAR DO CASO EM EXAME: APROVAÇÃO DAS CONTAS
DO MUNICÍPIO PELO TCE/RS, COM ANÁLISE ESPECÍFICA DA OPERAÇÃO
REALIZADA DE COMPRA DE COMBUSTÍVEIS, AFASTANDO EVENTUAL
IRREGULARIDADE NO PROCEDIMENTO. ORDEM CONCEDIDA PARA
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
1. Conforme entendimento há muito firmado nesta Corte Superior, o fato de
o Tribunal de Contas eventualmente aprovar as contas a ele submetidas, não obsta, em
princípio, diante da alegada independência entre as instâncias administrativa e penal, a
persecução criminal promovida pelo Ministério Público, bem como a correspondente
responsabilização dos agentes envolvidos em delitos de malversação de dinheiros públicos.
Precedentes do STJ.
2. Todavia, no caso em exame, quando da aprovação das contas da gestão
do Prefeito Municipal pelo TCE/RS, houve específica análise da operação de compra de
combustíveis, que constitui o núcleo da acusação, com decisão, ao final, favorável ao paciente,
afastando eventual irregularidade.
3. Conforme a decisão emitida pela Corte de Contas Estadual, não há o que
censurar na compra dos combustíveis, quando há um único posto de abastecimento na cidade;
não poderia a Administração concordar que os veículos do Município se deslocassem a longas
distâncias para efetuar o abastecimento., com visíveis prejuízos ao Erário.
4. Opina o MPF pela denegação da ordem.
5. Ordem concedida, para determinar o trancamento da ação penal.
(HC 88.370/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA,
julgado em 07/10/2008, DJe 28/10/2008)

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. "HABEAS CORPUS".


PECULATO. PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL. GARANTIA CONSTITUCIONAL
INEXISTENTE (ART. 127, PARAGRAFO 1., A CONTRARIO SENSU). MATÉRIA
FÁTICA INSUSCEPTÍVEL DE SER EXAMINADA NA VIA ESTREITA DO "HABEAS
CORPUS". AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. RECURSO ORDINÁRIO
CONHECIDO E IMPROVIDO.
I - A Constituição, diferentemente do que faz com os juízes, tudo em prol dos
jurisdicionados, não garante o "princípio do promotor natural". Ao contrário, consagra no
parágrafo 1º do art. 127 os princípios da "unidade" e da "indivisibilidade" do Ministério
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 4 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Público, dando maior mobilidade à instituição, permitindo avocação e substituição do órgão
acusador, tudo, evidentemente, nos termos da Lei Orgânica. No caso concreto, ademais, o
promotor natural se deu por impedido. Daí a designação de outro, o denunciante.
II - Pelo simples fato de haver o Tribunal de Contas do Estado aprovado
contas, não impede o Ministério Público de fazer denúncia. A matéria levantada pelo
recorrente, ademais, é fática. Assim, temerário seria o trancamento da ação penal. Não se pode
falar, então, em constrangimento ilegal.
III - Recurso ordinário conhecido e improvido.
(RHC 3.061/MT, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em
08/02/1993, DJ 28/02/1994 p. 2916)

No mesmo sentido decidi quando integrava o TRF da 1ª Região:

PENAL - PECULATO - PAGAMENTO ANTES DA DENÚNCIA -


CONTAS APROVADAS PELO TCU E PELA ADMINISTRAÇÃO - CARACTERIZAÇÃO.
1. O pagamento do que foi indevidamente apropriado pelo funcionário
público, mesmo antecedendo a denúncia, no peculato próprio não tem a força de extinguir a
punibilidade.
2. Com o peculato visa-se proteger menos o erário e mais a moral e a
política administrativa, o que justifica a permanência do crime, mesmo que as contas
tenham sido julgadas corretas, sob o aspecto contábil, pelo TCU.
3. Recebimento de passagens e diárias por servidor que, nos finais de
semana, saia de Brasília para o Rio de Janeiro, local de sua residência, não encontra
justificativa legal que afaste a tipicidade.
4. Recurso improvido. Sentença condenatória confirmada.
(ACR 1997.01.00.028477-7/DF, Rel. Juíza Eliana Calmon, Quarta Turma, DJ p. 476 de
19/03/1999)

Portanto, a aprovação das contas e a rejeição das denúncias pelo Tribunal de


Contas do Estado não inibem o MPF de oferecer denúncia e não impedem a instauração da
respectiva ação penal.
Aplica-se o mesmo entendimento no que diz respeito à decisão da
Procuradoria Geral de Justiça que, analisando procedimento administrativo instaurado no
âmbito da Comissão de Combate à Improbidade Administrativa e Irresponsabilidade Fiscal,
determinou o arquivamento dos autos, por não vislumbrar irregularidades no pagamento de
diárias, passagens aéreas e precatórios e em relação aos gastos realizados por ocasião das
duas EXPOARTs.

MÉRITO

I - CONCESSÃO DE DIÁRIAS E PASSAGENS AÉREAS:

De fato, exercer cargo em comissão e em razão deste receber diárias e


Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
passagens aéreas, bem como administrar entidade filantrópica e receber valores durante sua
administração, em tese, não constituem crime. Entretanto, a imputação que é feita à
denunciada FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA não diz respeito exatamente a
esses fatos.
Segundo o MPF, a denunciada realizou viagens às custas de recursos públicos,
mas nenhuma das viagens apontadas na denúncia guardava relação com as funções por ela
exercidas, ficando nítido que a finalidade era a de acompanhar seu esposo, o Desembargador
MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR, tendo ocorrido o mesmo em relação a HILTON
SOUTO MAIOR NETO e a RAQUEL VASCONCELOS SOUTO MAIOR.
No âmbito do Tribunal de Justiça da Paraíba, a requisição de passagens e
transporte é da competência do Presidente da Corte, como estabelecido no art. 31 do
Regimento Interno, verbis :

Art. 31. Ao Presidente do Tribunal, além de exercer a superintendência de


todos os serviços e das atribuições definidas em lei, compete:
(...).
XXXIII - requisitar:
(...)
b) passagem e transporte para si ou para outros membros e pessoal do
Judiciário, quando em objeto de serviço;

No que se refere à concessão de diárias e passagens, o Regulamento


Administrativo daquele Tribunal, em seu art. 51, dispõe:

Art. 51 - O servidor que, a serviço, se afastar da sede de trabalho, em caráter


eventual ou transitório, para outro ponto do território do Estado ou nacional, fará jus a
passagens e diárias, para cobrir as despesas de pousada, alimentação e locomoção urbana.

Feitas essas colocações, passo à análise dos argumentos invocados nas defesas
preliminares:

- DIREITO DE PETIÇÃO E PODER DISCRICIONÁRIO NA


CONCESSÃO DE DIÁRIAS:

Segundo os denunciados, foram preenchidos os requisitos legais para a


concessão de diárias indenizatórias de viagens: a) ser funcionário(a) público(a); b) haver
requisição formal à autoridade competente; c) ter sido atestada a realização do deslocamento;
d) observância dos princípios da legalidade (devido processo requisitório, dirigido à
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
autoridade imediatamente superior) e da economicidade (observância da tabela de valores das
diárias).
Alegam, ainda, que as passagens foram utilizadas e as diárias recebidas no
mais puro exercício do direito de petição (art. 5º, XXXVI, "a", da CF) e que a concessão é
atribuição do Ordenador de Despesa no exercício do poder discricionário.
O direito de petição a que alude o art. 5º, XXXVI, "a", da CF não guarda
qualquer pertinência com a questão ora discutida, pois:
a) segundo o Prof. Manoel Gonçalves Ferreira Filho, "o direito de petição é
aquele pelo qual qualquer um faz valer junto à autoridade competente a defesa de seus
direitos ou do interesse coletivo" (in Comentários à Constituição Brasileira, Saraiva, 6ª ed.,
São Paulo, 1986, p. 621);
b) para Temístocles Brandão Cavalcanti, "o direito de petição é amplo,
devendo a autoridade pública encaminhar esse pedido em forma a que sejam apuradas as
irregularidades apontadas. Para tanto, reconhece também, a todos os cidadãos, o direito de
ser parte legítima, em qualquer processo administrativo ou judicial, destinado a apurar os
abusos de autoridade e a promover a sua responsabilidade" (in A Constituição Federal
comentada, 2ª ed., Rio, 1952, Ed. Konfino, v. III, p. 269, apud Comentários à Constituição de
1988, José Cretella Júnior, Ed. Forense Universitária, 1988, v. I, p. 426).
Assim, no exercício do direito de petição, qualquer pessoa pode solicitar
esclarecimentos, oferecer denúncias de irregularidades, questionar ilegalidade ou abuso de
poder, por exemplo.
Dentro desse enfoque, a concessão de diárias e passagens a servidores públicos
não decorre do direito constitucional de petição, mas do próprio exercício de sua função.
Por outro lado, o poder discricionário do superior hierárquico restringe-se à
conveniência e oportunidade de determinar ou não que o servidor preste serviços ou realize
treinamento fora da sua sede de trabalho, cabendo-lhe ainda a escolha de qual servidor deverá
realizar tal viagem, observando sempre o atendimento do interesse público.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do MS 23.981/DF, cuja decisão
foi juntada aos autos pelo denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR às fls.
2.099/2.107, reconheceu, naquele caso, que as diárias foram concedidas para fins
determinados, motivadas e deferidas por autoridades competentes; que as viagens foram
efetuadas e delas se prestou contas. E concluiu a Relatora, Min. Ellen Gracie:

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Os Presidentes de Tribunais, por exercerem relevante função na estrutura
administrativa do Poder Judiciário, dentro da margem de discricionariedade que lhes é
conferida, têm o poder de decisão sobre a conveniência e oportunidade na escolha de
servidores para desempenharem funções extraordinárias relacionadas com o interesse da
administração.

Se, por um lado, reconheceu a Suprema Corte a discricionariedade quanto à


escolha do servidor que irá realizar a viagem relacionada com o interesse da administração,
por outro, houve expressa ressalva em relação às hipóteses em que as diárias são concedidas
para participação em eventos que não têm qualquer vinculação com a atividade do servidor.
Assim manifestou-se o então Presidente, Ministro Nelson Jobim:

Acompanho a Ministra Ellen Gracie no que diz respeito a toda estruturação


jurídica. Porquanto não gosto das razões pelas quais o Tribunal libera certas diárias, com
facilidade, para assistir a solenidades de posse, que não têm, efetivamente, uma
vinculação com a atividade.
(...)

O Tribunal de Constas da União, por sua vez, no processo TC-007.956/1995-9,


pelo relato do Ministro Aroldo Cedraz, assim se pronunciou:

8. Também não prospera o argumento do responsável a respeito da


deliberação adotada pelo STF ao apreciar o MS nº 23.891, no sentido de que a concessão de
diárias insere-se no poder discricionário conferido ao administrador público, que o exerce
segundo critérios de conveniência e oportunidade. Como é cediço, a finalidade e a motivação
constituem elementos essenciais à validade do ato administrativo.
9. Na mesma linha, assinalo que a discricionariedade não pode ser
confundida com arbitrariedade. Discricionariedade refere-se à liberdade conferida ao
administrador para decidir livremente entre caminhos igualmente legais, legítimos e que
tenham por fim o atingimento do interesse público. Nas palavras de Marçal Justen Filho, "É
evidente que discricionariedade não se confunde com arbitrariedade. A discricionariedade
consiste numa autonomia de escolha exercitada sob a égide da Lei e nos limites do Direito. Isso
significa que a discricionariedade não pode traduzir um exercício prepotente de competências.
Não autoriza a faculdade de escolher ao bel-prazer, por liberalidade ou para satisfação de
interesses secundários ou reprováveis" (in Comentários à Lei de Licitações e Contratos
Administrativos, 9º ed., Dialética, p. 284).
10. A condenação decorreu de desvio de finalidade na utilização de recursos
da Conab, da ausência de comprovação da ocorrência dos motivos de fato alegados para
justificar o gasto com passagens e diárias e da insuficiência da motivação dos atos
administrativos.
(D.O.U de 30/03/2007)

- CRITÉRIOS NA CONCESSÃO DE DIÁRIAS E PASSAGENS NO


ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Em setembro/2004, o Procurador-Geral do Ministério Público junto ao TCU,
Dr. Lucas Rocha Furtado, ofereceu representação ao Presidente da Corte de Contas da União
(Processo n. 014.871/2004-0), solicitando a apuração de fatos semelhantes aos discutidos na
presente ação penal (eventuais irregularidades perpetradas pela Juíza-Presidente do TRT da
11ª Região, especificamente no ano de 2003, consistentes em "gastos excessivos com diárias
e viagens por parte da própria Juíza, sempre acompanhada de um grande grupo de
assessores"). Com propriedade, argumentou o ilustre representante do MP na peça vestibular:

(...)
Senhor Presidente, ainda que se admita afastada a violação ao princípio da
legalidade estrita, resta inconteste, no caso em tela, a inobservância dos princípios da
moralidade, da razoabilidade, da eficiência e da economicidade, que devem igualmente
nortear a gestão dos administradores públicos.
O legislador, é cediço, não consegue prever e alcançar, especificamente,
todos os casos concretos, podendo o agente público deparar-se com situações – não previstas
objetivamente em lei – que venham a exigir solução interpretativa-integrativa, fundada no
ordenamento jurídico considerado em sua totalidade. Na verdade, exige-se do administrador
público a sensibilidade de aplicar a lei com a inquietação de buscar no ordenamento jurídico a
interpretação sistêmica das normas, porquanto a restringir-se em dispositivo isolado, como se
fosse o Direito ciência dos números, aumentada estará, significativamente, a possibilidade do
desacerto.
Tem-se, assim, como pretensão básica a consecução do objetivo exegético
delineado por Carlos Maximiliano, no sentido de que o Direito deve ser interpretado
inteligentemente, “não de modo que a ordem legal envolva um absurdo, prescreva
inconveniências, vá ter a conclusões inconsistentes ou impossíveis.” (Hermenêutica e
Aplicação do Direito , p. 166)
Em alguns casos, a pura e simples aplicação do positivismo legalista poderá
significar menoscabo ao interesse público. Donde se conclui que os deveres do administrador
público não são somente os expressos em lei, mas também os exigidos pelo interesse da
coletividade e, via de conseqüência, os impostos pela moral administrativa.
Vale lembrar, por oportuno, que a moralidade constitui pressuposto de
validade de todo ato da Administração Pública, não podendo o agente público, ao atuar,
desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim sendo, não terá que decidir somente entre o
legal e o ilegal, mas também deve conhecer as fronteiras do justo e do injusto, do conveniente e
do inconveniente, do oportuno e do inoportuno. Nesse diapasão, está a Lei n.º 9.784/99, que
regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, ao fazer alusão,
em seu art. 2º, caput , à moralidade como sendo um dos princípios a que se obriga o
administrador público.
No abalizado magistério de Maria Sylvia Zanella di Pietro (Direito
Administrativo , 14ª ed. São Paulo, Editora Atlas, 2002, p. 79), “...sempre que em matéria
administrativa se verificar que o comportamento da Administração ou do administrado que
com ela se relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os
bons costumes, as regras da boa administração, os princípios de justiça e de eqüidade, a idéia
comum de honestidade, estará havendo ofensa ao princípio da moralidade administrativa.”
Ao discorrer, ainda, acerca da competência do Poder Judiciário para
examinar a moralidade dos atos administrativos, a referida administrativista deixa assente que
“Não cabe ao magistrado substituir os valores morais do administrador público pelos seus
próprios valores, desde que uns e outros sejam admissíveis como válidos dentro da sociedade;
o que ele pode e deve invalidar são os atos que, pelos padrões do homem comum, atentam
manifestamente contra a moralidade. Não é possível estabelecer regras objetivas para
orientar a atitude do juiz. Normalmente, os atos imorais são acompanhados de grande
clamor público, até hoje sem sensibilizar a Administração. ” (Ob. cit., p. 211)
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Quanto aos efeitos do ato eivado de imoralidade, a professora Maria Sylvia
assim se manifesta: “Embora não se identifique com a legalidade (porque a lei pode ser
imoral e a moral pode ultrapassar o âmbito da lei), a imoralidade administrativa produz
efeitos jurídicos, porque acarreta a invalidade do ato, que pode ser decretada pela própria
Administração ou pelo Poder Judiciário.” (Ob. cit., p. 79)
Em artigo publicado na seção Direito e Justiça do Correio Braziliense de
16.12.2002, intitulado “A Ética nas Funções de Estado”, o Ministro Marco Aurélio, presidente
do STF, perfilha a tese de que deve ser exigido daqueles que personificam o Estado postura
compatível com o múnus público, o cumprimento e o respeito às leis, mas à luz da ética como
norte fundamental das relações interpessoais. Por considerar oportuno ao caso ora em apreço,
urge transcrever excerto do referido trabalho, verbis :
“Mais do que justificada, portanto, desponta a necessidade de se fortalecer,
aprimorar e divulgar amplamente os padrões éticos que devem reger a prestação do serviço
público, com o objetivo tanto de coibir infrações como de difundir uma mentalidade que, de
tão absorvida, torne-se arraigada, um modo de proceder tão usual como a mais rotineira
tarefa. O ideal seria a introjeção completa desses princípios éticos como uma forma
inequívoca de proporcionar benefício comum à nação, tanto quanto todos aceitam ser
indispensável a obediência às leis de trânsito como única possibilidade de ter-se veículos e
pedestres pelas ruas. Não se trata de uma utopia. É questão de prioridade e determinação,
para a qual inescusável vem a ser o empenho férreo, diligente, diuturno do Estado no
intuito de estabelecer e difundir normas e procedimentos simples, claros e de fácil
compreensão com vistas a firmar um padrão ético de conduta efetiva que vá ao encontro
das expectativas da sociedade, atualmente eivada de crescente desconfiança em relação aos
agentes públicos .” (grifamos)
Alguns doutrinadores consagrados apelam também para o princípio da
razoabilidade para daí inferir que a valoração subjetiva da decisão a ser tomada no caso
concreto tem que ser feita dentro do razoável, ou seja, em consonância com aquilo que, para o
senso comum, seria aceitável perante a lei, intimamente associada, portanto, a um padrão ético.
Reforça-se, aqui, a tese de que a lei não deve ser aplicada cegamente, cabendo ao intérprete
aperfeiçoá-la ao senso comum.
Conforme nos ensina Lúcia Valle Figueiredo, “não se pode conceber a
função administrativa, o regime jurídico administrativo, sem se inserir o princípio da
razoabilidade. É por meio da razoabilidade das decisões tomadas que se poderão contrastar
atos administrativos e verificar se estão dentro da moldura comportada pelo Direito.” (Curso
de Direito Administrativo , p. 42)
Há determinados atos, como os que estão a motivar a presente
Representação, que são manifestamente contrários ao interesse público. Não há sequer falar em
discricionariedade, posto que não cabe ao administrador que não a conduta que seja conforme
o interesse público tutelado pela lei. A liberdade concedida ao agente público muitas vezes se
reduz diante do caso concreto, de maneira que em algumas situações os fatos permitem apenas
uma solução compatível com o interesse público e a finalidade legal.
Nesse sentido, não serão apenas inconvenientes e inoportunas, mas também
ilegítimas e, portanto, jurisdicionalmente invalidáveis, as decisões administrativas
desarrazoadas, bizarras, praticadas com desconsideração às situações e circunstâncias que
seriam atendidas por quem tivesse atributos normais de prudência, sensatez e disposição de
acatamento aos fins perseguidos pela lei.
No caso em comento, é evidente que a os gastos excessivos com diárias e
passagens, autorizados pela Juíza-Presidente do TRT da 1ª Região, ofendem noções de
moralidade e de razoabilidade, mormente quando se constata o exíguo tempo por ela
efetivamente destinado mensalmente às suas atribuições na Presidência daquele órgão,
consoante ressalta a ANAMATRA na documentação encaminhada ao Gabinete deste
Procurador-Geral.
Compulsando, ainda, o rol dos princípios violados no âmbito daquele TRT,
destacamos agora o da eficiência, introduzido pela Emenda Constitucional n.º 19/98 no elenco
dos princípios balizadores da Administração Pública direta e indireta, modificando-se, assim, o
teor do caput do art. 37 da nossa atual Carta Política. Cabe frisar que a Lei n.º 9.784/99
também faz alusão à eficiência no seu art. 2º, caput .
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Hely Lopes Meirelles, por seu turno, faz referência à eficiência como um dos
deveres da Administração Pública, conceituando tal princípio como “o que se impõe a todo
agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É
o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser
desempenhada com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e
satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.” (Direito
Administrativo Brasileiro , 20ª ed., São Paulo, Malheiros, 1995, p. 90).
Eficiência, aliás, diz respeito tanto à otimização dos recursos e meios
disponíveis quanto à qualidade do agir final. Na concepção de Juarez Freitas (O Controle dos
Atos Administrativos e os Princípios Fundamentais , 2ª ed., São Paulo, Malheiros, 1999, pp.
85-86), o administrador público está obrigado a agir tendo como parâmetro o melhor resultado
para a Administração. Cuida-se, assim, da eficiência como qualidade da ação administrativa
que obtém resultados satisfatórios ou excelentes, constituindo a obtenção de resultados inúteis
ou insatisfatórios uma das formas de contravenção mais comuns ao princípio.
Intrínseco à noção de eficiência, impõe-se como um dos vetores essenciais da
boa e regular gestão de recursos públicos o respeito ao princípio da economicidade, não
obstante o princípio em tela não se encontrar formalmente entre aqueles constitucionalmente
previstos para a Administração Pública (art. 37, caput ).
Ricardo Lobo Torres, em artigo intitulado “O Tribunal de Contas e o
controle da legalidade, economicidade e legitimidade” (Rio de Janeiro, Revista do TCE/RJ,
n.º 22, jul/1991, pp. 37-44), afirma que “o conceito de economicidade, originário da
linguagem dos economistas, corresponde, no discurso jurídico, ao de justiça” . Traduzida “na
eficiência na gestão financeira e na execução orçamentária, consubstanciada na minimização
de custos e gastos públicos e na maximização da receita e da arrecadação” (grifo nosso), a
economicidade representa “sobretudo, a justa adequação e equilíbrio entre as duas vertentes
das finanças públicas.”
Senhor Presidente, não é possível conceber a idéia da "minimização de
custos e gastos públicos" quando se está diante de vultosas despesas com diárias e
passagens perpetradas em um órgão público, envolvendo número exorbitante de
assessores "convidados" pela Juíza-Presidente do TRT da 11ª Região em suas viagens.

(...)

III
O fato é grave, Senhor Presidente, e está a exigir a pronta atuação desta Corte
de Contas, a quem compete, na condição de órgão orientador da gestão de finanças públicas,
coibir a prática de atos lesivos ao erário.
Pelo exposto, este representante do Ministério Público junto ao TCU requer a
Vossa Excelência a imediata apuração dos fatos ora delineados, com ênfase na verificação da
legalidade dos gastos perpetrados pela Juíza-Presidente do TRT da 11ª Região, e, se for o caso,
a adoção das providências necessárias à imediata interrupção dos pagamentos que estejam
sendo feitos indevidamente, bem como ao ressarcimento dos valores recebidos de má fé, sem
prejuízo das medidas corretivas adicionais que se fizerem necessárias.

A propósito, nesse caso, o Tribunal de Contas da União acolheu a


representação no que diz respeito "aos gastos excessivos com passagens aéreas por parte da
Presidente do TRT da 11ª Região, bem como de seus assessores, no exercício de 2004, tais
como, viagens para inaugurações, homenagens, congressos, entregas de comendas e medalhas
sem pertinência com o interesse público ou sem motivação suficiente, em desacordo com os
princípios constitucionais da moralidade, da eficiência e da economicidade, previstos nos
artigos 37 e 70 da Constituição Federal e com os princípios administrativos da razoabilidade e
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
da adequação do ato administrativo ao interesse público" e, em conseqüência, foi imposta
multa e determinado o ressarcimento ao Erário.
Observe-se que as normas que tratam da concessão de diárias e pagamento de
passagens acima transcritas possuem conteúdo bastante genérico, não descendo a detalhes, a
ponto de prever todas as possíveis situações. Por isso, como bem destacou o representante do
MP junto ao TCU, a hipótese em análise exige solução interpretativo-integrativa, a partir de
uma interpretação sistêmica das normas.
Estabelecidas essas premissas, a conclusão é a de que os atos administrativos
de concessão de diárias e passagens no âmbito da Administração Pública devem ser
motivados, vinculados à finalidade a que destinam e devem atender exclusivamente ao
interesse público.
Nessa perspectiva, deve haver estrita relação entre o cargo ocupado pelo
servidor e o treinamento externo do qual irá participar ou serviço que ele irá prestar,
procedendo o ordenador de despesa a uma análise criteriosa na concessão de diárias e
passagens.
Com referência ao precedente desta Corte, trazido à colação pela defesa,
ressalte-se que na decisão proferida por essa Corte na APn 56-0/BA, o MPF ofereceu
denúncia contra o Governador de Estado da Bahia, Nilo Augusto Moraes Coelho, em razão de
ter o Estado da Bahia custeado despesas dele e de sua comitiva em viagem fora da sede -
Hotel Transamérica - Comandatuba - BA - para comemorar os festejos de Ano Novo.
Naquele julgado, em que a denúncia foi rejeitada, diferentemente da hipótese em exame,
tratava-se de aplicação de verba orçamentária específica, denominada "verba de representação
de Gabinete".
Portanto, não tem aplicação à espécie, o precedente invocado.

- HIPÓTESE DOS AUTOS:

Da detida análise dos documentos que integram o Inquérito 433/PB (que deu
origem à presente ação penal), verifica-se que diversas foram as viagens custeadas pelo TJ/PB
aos denunciados. Apresento, a seguir, com base nesses documentos, relação contendo as datas
em que as diárias foram concedidas, os locais para onde cada um dos denunciados se
deslocou e os eventos dos quais participaram:

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça

FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA

ITEM DIÁRIAS LOCAL EVENTO

04/04/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia


1 04/04/01 Alhandra Guerra para o Centro Terapêutico do Adolescente “Des.
Raphael Carneiro Arnaud” – CETA – Apenso 21, fls.
203/204.
05 a 09/04/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra (esposa do Presidente do TJ/PB, Coordenadora da
Infância e da Juventude e Presidente da AEMP) para o 51º
2 05 a 09/04/01 Manaus Encontro de Presidentes de Tribunais de Justiça – Apenso
16, fls. 08/09; Apenso 22, fls. 189/194; Apenso 23, fls.
14/19.
Passagens aéreas: o retorno ocorreu no dia 08/04/2001 –
Apenso 25, fls. 102.
18 a 20/04/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra e do Presidente do TJ/PB para participarem de
3 18 a 20/04/01 Brasília reuniões no Ministério da Justiça e Superior Tribunal de
Justiça – Apenso 16, fls. 11/12; Apenso 23, fls. 115/119;
Apenso 25, fls. 161/172.
4 04/05/01 Recife 04/05/01 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia Guerra
– SEM JUSTIFICATIVA – Apenso 21, fls. 199/201.
30/05 a 01/06/2001 – VI Conferência Nacional de Direitos
Humanos – Câmara dos Deputados – Objetivo: discutir o
combate à impunidade e à valorização da cidadania como
5 29/05 a 01/06/01 Brasília condições para a realização dos direitos humanos no Brasil
hoje – Apenso 09, fl. 2.004
– Posse do Ministro Marco Aurélio na Presidência do
Supremo Tribunal Federal – Apenso 15, fls. 235/236 e
Apenso 16, fls. 14/15; Apenso 22, fls. 57/61.
6 05/06/01 Boqueirão 05/06/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra a serviço – Apenso 21, fls. 195/197
7 29/06/01 Alhandra 29/06/2001 – SEM JUSTIFICATIVA – Apenso 21, fls.
191/193.
04 a 08/07/2001 – Reunião promovida pelo Instituto dos
Magistrados do Brasil para discutir o projeto de
8 04 a 08/07/01 Santa Catarina Modernização do Poder Judiciário – Apenso 09, fl. 2.002
(29 a 30/06/2001); Apenso 15, fls. 237/238; Apenso 16,
fls. 17/18; Apenso 22, fls. 153/162.
04/08/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
9 04/08/01 Campina Grande Guerra – SEM JUSTIFICATIVA – Apenso 23, fls.
148/150.
11/08/2001 – XXII Semana do Advogado – Apenso 15,
10 11/08/01 Campina Grande fls. 241/242, Apenso 16, fls. 23/24; Apenso 22, fls.
170/175.
11 17 a 19/08/01 Campo Grande/Patos Solenidades oficiais – Apenso 15, fls. 239/240, Apenso 16,
fls. 20/21; Apenso 22, fls. 164/168.
24 e 25/08/2001 – II Seminário Jurídico da ABRADEE –
Hotel Summerville Beach Resort – Objetivo: debater temas
12 24 a 26/08/01 Porto de Galinhas relacionados à legislação do setor elétrico brasileiro –
Apenso 09, fl. 1.985; Apenso 15, fls. 245/246; Apenso 16,
fls. 26/27; Apenso 22, fls. 177/181.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
13 28/08/01 Campina Grande 28/08/01 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia Guerra
a serviço – Apenso 21, fls. 187/189.
19/09/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
14 19/09/01 Alhandra Guerra para o Centro Terapêutico do Adolescente “Des.
Raphael Carneiro Arnaud” – CETA – Apenso 21, fls.
183/185.
27 a 29/09/2001 – Recebimento do Prêmio Catavento de
Prata, oferecido pela Gazeta de Turismo – Salvador, tendo
em vista a realização da EXPOARTE/2001 (Drª Fabíola
Andréa Correia Guerra) – Apenso 15, fls. 79/80; Apenso
15 27 a 29/09/01 Salvador 16, fls. 29/30; Apenso 21, fls. 176/181.
27 a 29/09/2001 – Homenagem prestada pelo Trade
Turístico em virtude da realização da EXPOARTE/2001
em Salvador (Dr. Marcos Antônio Souto Maior) – Apenso
15, fls. 81/82.
04 a 05/10/2001 – Palestra proferida pelo Desembargador
16 04 a 05/10/01 Recife Marcos Antônio Souto Maior na Universidade Federal de
Pernambuco – Apenso 15, fls. 253/254; Apenso 16, fls.
32/33; Apenso 22, fls. 183/187.
08 a 09/10/01 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
17 08 a 09/10/01 Rio Tinto Guerra para participar das comemorações da I Semana da
Criança – Apenso 21, fls. 173/175.
18 a 21/10/2001 – Entrega da Medalha do Mérito
18 18 a 21/10/01 Piauí Renascença do Piauí ao Desembargador Marcos Antônio
Souto Maior – Apenso 15, fls. 255/256; Apenso 16, fls.
35/36; Apenso 21, fls. 164/171.
24 a 25/10/2001 – XVII Congresso Brasileiro de
19 24 a 25/10/01 Natal Magistrados – Apenso 15, fls. 257/258; Apenso 16, fls.
38/42; Apenso 22, fls. 137/139.
26 a 29/10/2001 – Entrega dos Certificados do IPJ na
Comarca de Campina Grande e visita ao Fórum da
20 26 a 29/10/01 Campina Grande Comarca de Sousa em virtude do Projeto Justiça no Final
/Sousa de Semana – Apenso 15, fls. 259/260; Apenso 16, fls.
44/45; Apenso 22, fls. 137/151.
08 a 11/11/2001 – 53º Encontro do Colégio Permanente de
21 08 a 11/11/01 São Luís Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil – Apenso 15,
fls. 261/262; Apenso 16, fls. 46/47; Apenso 22, fls.
112/116 e 267/271.
12 a 15/11/01 – Participação do Desembargador Marcos
22 12 a 15/11/01 Costão do Santinho Antônio Souto Maior no evento “Modernização do Poder
Judiciário” – Apenso 15, fls. 263/264; Apenso 16, fls.
49/50; Apenso 22, fls. 131/135.
16/11/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
23 16/11/01 Recife Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga Feitosa a serviço do
TJ/PB – Apenso 21, fls. 157/159.
17/11/01 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia Guerra
24 17/11/01 Guarabira para participar da Inauguração do Telejudiciário – Apenso
21, fls. 161/163.
25 10/12/01 Campina Grande 10/12/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra a serviço do TJ/PB – Apenso 21, fls. 153/155.
26 21/12/01 Campina Grande 21/12/2001 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra a serviço do TJ/PB – Apenso 21, fls. 149/151.
27 02/01/02 Recife 02/01/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra a serviço do TJ/PB – Apenso 21, fls. 141/143.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 5 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
03/01/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
28 03/01/02 Alhandra Guerra para o Centro Terapêutico do Adolescente “Des.
Raphael Carneiro Arnaud” – CETA – Apenso 21, fls.
145/147.
08/01/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
29 08/01/02 Campina Grande Guerra acompanhando o Presidente do TJ/PB – Apenso 21,
fls. 137/139.
14 a 16/01/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
30 14 a 16/01/02 Sertão Guerra em companhia do Presidente do TJ/PB – Apenso
21, fls. 133/135.
31 18/01/02 Boqueirão 18/01/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra a serviço – Apenso 21, fls. 129/131
23 a 25/01/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
32 23 a 25/01/02 Brasília Guerra para tratar de assuntos concernentes à Presidência
do TJ/PB – Apenso 16, fls. 60/61; Apenso 22, fls. 85/87.
05/06/2002 – Viagem da Dra Fabíola Andréa Correia
Guerra (Presidente da AEMP) para a inauguração do
33 05 a 06/02/02 Campina Grande Setor Odontológico do Fórum da Comarca de Campina
Grande pelo Desembargador Marcos Antônio Souto Maior
– Apenso 15, fls. 285/286; Apenso 16, fls. 62/63; Apenso
22, fls. 196/202.
18/02/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
34 18/02/02 Conde Guerra a serviço da Justiça Itinerante – Apenso 21, fls.
125/127.
19/02/2002 – Entrega do Diploma e do Colar do Mérito
Acadêmico ao Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias
35 19 a 20/02/02 Brasília Mello, Presidente do Supremo Tribunal Federal – Apenso
15, fls. 289/290; Apenso 16, fls. 66/67; Apenso 22, fls.
36/40.
20 a 24/02/2002 – 54º Encontro do Colégio dos
36 20 a 24/02/02 Campo Grande Presidentes – Apenso 15, fls. 287/288; Apenso 16, fls.
64/65; Apenso 22, fls. 29/34.
04/03/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
37 04/03/02 Cuitegi Guerra por ocasião da instalação da Justiça Itinerante –
Apenso 21, fls. 121/123.
06/03/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
38 06/03/02 Alhandra Guerra para o Centro Terapêutico do Adolescente “Des.
Raphael Carneiro Arnaud” – CETA – Apenso 21, fls.
117/119.
11/03/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
39 11/03/02 Juripiranga Guerra a serviço da Justiça Itinerante – Apenso 21, fls.
113/115.
14 a 18/03/2002 – Viagem de Fabíola Andréa Correia
Guerra, na condição de Assessora do Presidente, para
40 14 a 18/03/02 Salvador participar do Encontro dos Presidentes Nordestinos de
Tribunais de Justiça – Apenso 16, fls. 68/69; Apenso 22,
fls. 118/124.
25/03/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
41 25/03/02 Baia da Traição Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga para participarem da
instalação da Justiça Itinerante – Apenso 21, fls. 109/111.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
03 a 05/04/2002 – Viagem do Presidente do TJ/PB à
inauguração do Fórum Desembargador Miguel Seabra
Fagundes – Apenso 15, fls. 293/294; Apenso 22, fls.
126/129.
42 04 e 05/04/02 Natal 04 e 05/04/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra (Presidente da AEMP) acompanhando o
Presidente do TJ/PB à inauguração do Fórum
Desembargador Miguel Seabra Fagundes – Apenso 22, fls.
106/110.
03 a 05/04/2002 – Viagem do Presidente do TJ/PB para a
posse dos Ministros Édson Carvalho Vidigal e Nilson Vital
Naves nos cargos de Presidente e Vice-Presidente do STJ –
Apenso 09, fl. 2.000; Apenso 15, fls. 293/294; Apenso 22,
fls. 126/129.
43 06 a 07/04/02 Brasília 06 a 07/04/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra (Presidente da AEMP) para a posse dos Ministros
Édson Carvalho Vidigal e Nilson Vital Naves nos cargos
de Presidente e Vice-Presidente do STJ – Apenso 16, fls.
72/73; Apenso 23, fls. 151/155 (03 e 04/04/2002).
A posse ocorreu no dia 03/04/2002.
09/04/2002 - Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
44 09/04/02 Caaporã Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga a serviço – Apenso 21,
fls. 105/107.
14 a 17/04/2002 – Viagem do Presidente do TJ/PB para
visita ao Tribunal de Justiça de São Paulo – Apenso 15, fls.
45 14 a 17/04/02 São Paulo 297/298; Apenso 21, fls. 274/281.
13 a 16/04/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra para visita ao Tribunal de Justiça de São Paulo –
Apenso 16, fls. 76/77.
17 a 21/04/2002 – Participação de Fabíola Andréa Correia
Guerra e da Assessora Maria Aline Bezerra Cavalcanti
46 17 a 21/04/02 Salvador Madruga em Encontro da Infância e da Juventude - Apenso
16, fls. 74/75; Apenso 23, fls. 157/162.
23 a 24/04/2002 – Viagem do Presidente do TJ/PB na
posse do Desembargador Natanael Caetano Fernandes na
Presidência do TJDFT – Apenso 15, fls. 295/296.
47 22 a 23/04/02 Brasília 22 a 23/04/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra para acompanhar o Presidente do TJ/PB na posse
do Desembargador Natanael Caetano Fernandes na
Presidência do TJDFT – Apenso 16, fls. 78/79; Apenso 22,
fls. 81/83.
24/04/2002 - Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
48 24/04/02 Recife Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga a serviço do TJ/PB –
Apenso 21, fls. 97/99.
27/04/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
49 27/04/02 Alagoa Grande Aline Bezerra Cavalcanti Madruga para acompanharem o
Presidente do TJ/PB em homenagem para recebimento da
Comenda do Ministro Osvaldo Trigueiro de Albuquerque
Melo – Apenso 21, fls. 93/95.
50 29/04/02 Puxinanã 29/04/2002 - Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga a serviço da Justiça
Itinerante – Apenso 21, fls. 101/103.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
01/05/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
51 01/05/02 Campina Grande Aline Bezerra Cavalcanti Madruga para acompanharem o
Sr. Governador em exercício, Dr. Marcos Antônio Souto
Maior – Apenso 21, fls. 89/91.
04/05/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
52 04/05/02 Pedras de Fogo Aline Bezerra Cavalcanti Madruga para acompanharem o
Sr. Governador em exercício, Dr. Marcos Antônio Souto
Maior – Apenso 21, fls. 85/87.
10/05/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra e Drª Maria Aline Bezerra Cavalcanti Madruga para
53 10/05/02 Guarabira acompanhar o Presidente do TJ/PB à solenidade de entrega
do Título de Cidadão Guarabirense – Apenso 21, fls.
77/79.
13/05/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
54 13/05/02 Galante Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga para participarem da
instalação da Justiça Itinerante – Apenso 21, fls. 81/83.
16 a 18/05/2002 – Sanção do Projeto Criação TV Justiça
55 16 a 18/05/02 Brasília pelo Ministro Marco Aurélio no exercício da Presidência
da República – Apenso 15, fls. 301/302; Apenso 16, fls.
80/81; Apenso 22, fls. 12/19.
20 a 22/05/2005 – Viagem do Presidente do TJ/PB, da Drª
Fabíola Andréa Correia Guerra (Assessora Especial da
56 20 a 22/05/02 Rio de Janeiro Presidência), do Dr. Aluízio Bezerra Filho e do Dr. Saulo
Barreto (Chefe de Cerimonial) à posse da Srª Zélia Gattai
Amado na Academia Brasileira de Letras – Apenso 15, fls.
303/304; Apenso 16, fls. 82/83; Apenso 22, fls. 42/55.
21/05/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
57 21/05/02 Alhandra Aline Bezerra Cavalcanti Madruga e com Rosana César
Falcão Vieira para o Centro Terapêutico do Adolescente
“Des. Raphael Carneiro Arnaud” – CETA – Apenso 21, fls.
73/75.
27/05/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
58 27/05/02 Fagundes Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga para participarem da
instalação da Justiça Itinerante – Apenso 21, fls. 69.
30/05 a 02/06/2002 – Viagem do Presidente do TJ/PB e da
Drª Fabíola Andréa Correia Guerra para acompanhar os
juízes que alcançaram alto nível de produtividade
59 30/05 a 02/06/02 Costão do Santinho dentro do Projeto IPJ, instituído pelo TJ/PB
Diárias: Apenso 15, fls. 315/316; Apenso 16, fls. 84/85;
Apenso 22, fls. 04/10.
Passagens: Nota de Empenho – Apenso 13, fls. 116
07/06/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
60 07/06/02 Alagoa Grande/PB Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga a serviço do TJ/PB –
Apenso 21, fls. 65.
10/06/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
61 10/06/02 Boa Vista/PB Guerra juntamente com a Assessora Técnica Drª Maria
Aline Bezerra Cavalcanti Madruga a serviço da Justiça
Itinerante – Apenso 21, fls. 61/63.
14 a 15/06/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
62 14 a 15/06/02 Brasília Guerra para acompanhar o Presidente do TJ/PB ao
Superior Tribunal de Justiça – Apenso 15, fls. 313/314;
Apenso 16, fls. 86/87; Apenso 21, fls. 55/59.
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
19 a 23/06/2002 – Participação de Fabíola Andréa Correia
63 19 a 23/06/02 Recife Guerra em Encontro da Infância e da Juventude - Apenso
16, fls. 88/89.
02 a 07/07/2002 – acompanhar o Presidente do TJ/PB
64 02 a 07/07/02 São Paulo Desembargador Marcos Antônio Souto Maior – Apenso
21, fls. 47/49.
16 a 18/07/2002 – Viagem do Presidente do TJ/PB a
serviço para efetivação da EXPOARTE/2002 – Apenso 15,
65 16 a 18/07/02 Rio de Janeiro fls. 317/318;
16 a 18/07/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra para efetivação da EXPOARTE/2002 – Apenso 16,
fls. 90/91.
19 a 20/07/2002 – acompanhar o Presidente do TJ/PB
66 19 a 20/07/02 Campina Grande Desembargador Marcos Antônio Souto Maior – Apenso
21, fls. 43/45.
26 a 28/07/2002 – Solenidade de representação no
67 26 a 28/07/02 Recife casamento do filho do Des. Presidente do TJ/SP.
Apenso 15, fls. 319/320; Apenso 16, fls. 92/93; Apenso 22,
fls. 21/27.
02 a 05/08/2002 – Visita da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra e da Drª Lúcia de Souza Rodrigues (Assessora da
68 02 a 05/08/02 Fortaleza Des. Drª Fátima Bezzerra), “a convite do Des. Presidente
daquela cidade”, para solenidades dos II Jogos Interativos
do Judiciário Cearense – Apenso 15, fls. 321/322; Apenso
16, fls. 94/95; Apenso 22, fls. 89/95.
29/08 a 05/09/2002 – Rio de Janeiro: 57º Encontro de
Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil; Pouso
69 29/08 a 05/09/02 Rio de Janeiro/Pouso Alegre/MG: palestra na abertura do Curso de Direito
Alegre “Novo Código Civil” – Apenso 15, fls. 323/324; Apenso
16, fls. 96/97; Apenso 21, fls. 220/228.
25/09/2002 – Entrega ao Desembargador Marcos Antônio
70 25 a 26/09/02 Maceió Souto Maior da Medalha do Mérito “Marechal Floriano” –
Apenso 09, fl. 1.993 e Apenso 15, fls. 329/330; Apenso 16,
fls. 98/99, Apenso 21, fls. 243/249.
27 a 29/09/2002 – Participação no Programa Global de
71 27 a 29/09/02 Sousa Atendimento à Criança e ao Adolescente “CREDENDO
VIDES” – Apenso 21, fls. 31/33.
08 a 14/10/2002 – 58º Encontro do Colégio Permanente de
Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil – Apenso 22,
72 08 a 14/10/02 Belém fls. 210/214.
(A filha RAQUEL VASCONCELOS SOUTO MAIOR
viajou para o mesmo evento no dia 09/10/2002 – Apenso
22, fls. 75/79)
18 a 19/10/2002 – Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra e da Drª Maria Aline Bezerra Cavalcanti Madruga
73 18 a 19/10/02 Patos para acompanhar o Presidente do TJ/PB, que receberá
homenagem – Apenso 15, fls. 331/332; Apenso 16, fls.
100/101; Apenso 21, fls. 27/29 e 251/257.
74 20/11/02 Campina Grande 20/11/2002 – compromisso oficial – Apenso 16; fls.
104/105; Apenso 21, fls. 230/241.
75 21/10/02 Recife 21/10/2002 - Viagem da Drª Fabíola Andréa Correia
Guerra a serviço do TJ/PB – Apenso 21, fls. 27
21 a 23/11/2003 – 59ª Reunião do Colégio Permanente de
76 21 a 23/11/02 Aracaju Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil – Apenso 15,
fls. 337/338; Apenso 16, fls. 102/103.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
24/11/2002 – 59ª Reunião do Colégio Permanente de
77 24/11/02 Aracaju Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil – Apenso 15,
fls. 339/340; Apenso 16, fls. 106/107; Apenso 21, fls.
266/272.
05 a 07/12/2002 – Brasília: recebimento de Medalha do
78 05 a 07/12/02 Brasília e São Luís Mérito Judiciário; São Luís: palestra – Apenso 15, fls.
341/342; Apenso 16, fls. 108/109; Apenso 21, fls. 259/264.

Viagens não mencionadas na denúncia, porém constantes dos documentos que integram o Inquérito.

À época dos fatos narrados pelo MPF, a denunciada FABÍOLA ANDRÉA


CORREIA GUERRA ocupava o cargo de Coordenador da Infância e da Juventude
(Símbolo TJ-CPJ-515) do Quadro de Pessoal da Secretaria do Tribunal de Justiça da Paraíba
(fls. 1.752). Tal cargo foi criado através da Lei Estadual 6.084/95 que, em seu artigo 1º,
dispôs:

Art. 1º. Fica criado, no Quadro instituído pela lei nº 5.634 de 15 de agosto de
1992, o cargo em comissão de Coordenador da Infância e da Juventude, Símbolo
TJ-CPJ-5151, a quem incumbe coordenar, planejar, sistematizar e desenvolver políticas e
ações sociais, na área da infância e da juventude, com o vencimento básico de R$ 600,00
(seiscentos reais).

A partir dos documentos que integram o inquérito policial, pode-se concluir


que:
1) em algumas poucas oportunidades, a Drª Fabíola Andréa Correia Guerra,
realizou (em princípio) viagens para exercer atividades correlatas com o cargo que ocupava -
itens "1", "14", "17", "28", "38", "46", "57", "63" e "71" do quadro acima;
2) diversas vezes a denunciada viajou apenas para "acompanhar o
Presidente do Tribunal de Justiça", seu esposo, comparecendo a eventos que não guardam
qualquer relação com atividades inerentes ao cargo que ocupava, a saber: a) Encontros de
Presidentes de Tribunais de Justiça; b) Congressos de Magistrados; c) Conferências; d)
eventos nos quais o Presidente do TJ/PB iria proferir palestra; e) Congressos cujo tema
discutido não está afeto à infância e/ou juventude; e f) simplesmente para acompanhar o
Presidente do TJ/PB - itens "2", "5", "8", "16", "19", "21", "22", "29", "30", "36", "40", "51",
"52", "55", "62", "64", "66", "69", "72", "76" e "77" do quadro acima; importante destacar que
a motivação "acompanhar o Presidente" constou expressamente de diversos documentos que
requereram o pagamento das diárias e da requisição de passagens aéreas;
3) a denunciada realizou inúmeras viagens sem justificativa ou com
justificativa de cunho genérico ("a serviço", "a serviço do TJ/PB", "para tratar de interesses
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
do Tribunal", "solenidades oficiais", "compromisso oficial", "para participar de reuniões") -
itens "3", "4", "6", "7", "9", "11", "13", "23", "25", "26", "27", "31", "32", "44", "48", "60",
"74" e "75" do quadro acima;
4) diversas viagens se destinaram a atividades meramente festivas, como: a)
homenagens, entrega de prêmios, medalhas e comendas; b) "Semana do Advogado"; c) posse
de membro da Academia Brasileira de Letras; d) casamento de filho de Desembargador; e)
"Jogos Interativos" - itens "10", "15", "18", "35", "49", "53", "56", "67", "68", "70", "73" e
"78" do quadro acima;
5) outras viagens objetivaram a visita a Fóruns e Tribunais - itens "20" e
"45" do quadro acima;
6) algumas viagens foram realizadas "a serviço da Justiça Itinerante": - itens
"34", "39", "50" e "61" do quadro acima;
7) a denunciada também viajou para instalação de "Justiça Itinerante" e
inauguração do "Telejudiciário", de "Fórum" e de "Setor Odontológico de Fórum" - itens
"24", "33", "37", "41", "42", "54" e "58" do quadro acima;
8) viagens nas quais a denunciada participou na condição de Presidente da
AEMP - Associação das Esposas de Magistrados da Paraíba - itens "33" e "42" do quadro
acima;
9) viagens para posse de Desembargadores de Tribunal e de Ministros de
Tribunal Superior - itens "05", "43" e "47" do quadro acima;
10) viagens relacionadas ao projeto IPJ - Índice de Produtividade do Juiz -
itens "20" e "59" do quadro acima;
11) viagem objetivando a efetivação da EXPOART/2002 - item "65" do
quadro acima;
12) na viagem realizada a Manaus (item "2", do quadro acima), há indícios de
que a Drª Fabíola recebeu 04 (quatro) diárias no período de 05 a 09/04/2001, mas retornou
um dia antes - 08/04/2001 (Apenso 25, fls. 102);
13) os documentos que dizem respeito às viagens a Natal e a Brasília (itens
"42" e "43" do quadro acima) apresentam alguma divergência no que diz respeito às datas: há
indícios que pelo menos a Drª Fabíola Andréa Correia Guerra teria estado em Brasília apenas
nos dias 06 e 07/04/2002, quando a posse do Presidente e Vice-Presidente do Superior
Tribunal de Justiça ocorreu em 03/04/2002; e

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
14) há indícios também de que a Drª Fabíola recebeu diárias em duplicidade
(itens "56" e "57" do quadro acima), ou seja, teria viajado ao Rio de Janeiro no período de 20
a 22/05/2002 e, ao mesmo tempo, no dia 21/05/2002, teria estado na cidade de Alhandra - PB.
Certamente não atendem ao interesse público as viagens realizadas com o
único objetivo de acompanhar o Presidente do TJ/PB em eventos (inclusive festivos) que não
guardam qualquer relação com as atividades inerentes ao cargo que ocupava a denunciada (v.
tópicos "2", "4", "5", "6", "7" e "11" acima).
As hipóteses de viagens "sem justificativa" ou com "justificativa" que não
demonstre, inequivocamente, o interesse público configuram-se ilegais (tópico "3" acima), o
mesmo ocorrendo quando o Tribunal de Justiça custeou viagens à denunciante para participar
de eventos na qualidade de Presidente da Associação das Esposas de Magistrados da Paraíba
(tópico "8" acima).
O recebimento de diária em excesso sem a devida restituição pelo servidor
(tópico "12" acima) e de diárias em duplicidade (tópico "14" acima) configuram, em tese, o
ilícito penal a que se refere a denúncia.
Quanto às viagens relacionadas ao projeto IPJ (Índice de Produtividade dos
Juízes) (tópico "10" acima), é importante destacar que o Tribunal de Justiça da Paraíba criou,
através da Resolução 03/2001, "um mecanismo objetivo e impessoal estimulador do alto
rendimento judicante" na busca do aperfeiçoamento da atividade jurisdicional, nas palavras
do próprio Desembargador MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR (in IPJ - Índice de
Produtividade dos Juízes - Biênio 2001/2002).
A resolução fixou os critérios de avaliação dos magistrados no desempenho de
suas atividades, estabelecendo que os juízes mais eficientes deveriam ser premiados. Eis o
teor do art. 8º da referida norma:

Art. 8º - Os magistrados com os dez melhores Índices de Produtividade de


Juízes - IPJ -, apurados pela média anual acumulada, ao longo de cada exercício, serão
premiados na forma a ser definida pela presidência do Tribunal.

A Portaria 540/2001 daquela Corte, por sua vez, dispôs:

Art. 1º - Os 10 (dez) juízes de Direito com os melhores Índices de


Produtividade (IPJ) na classificação geral (Anexo I) receberão, em solenidade presidida pelo
Presidente do Tribunal de Justiça, placas comemorativas, e os 10 (dez) classificados, na forma
do art. 3º, farão jus a Certificados de honra ao mérito.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Observe-se que, em momento algum, as normas internas do TJ/PB previram,
como forma de premiação, viagens a passeio às expensas daquela Corte. E ainda que
houvesse previsão, tais normas seriam altamente questionáveis, posto que essas despesas, por
óbvio, não atendem ao interesse público. Afinal, os magistrados são suficientemente
remunerados para o desempenho das funções a que se propuseram, nelas incluída uma
prestação jurisdicional de qualidade.
Por isso, houve nítido desvio de finalidade quando o Presidente do Tribunal e
sua esposa acompanharam os magistrados que alcançaram maior produtividade a viagem a
Costão do Santinho - SC, com o propósito de premiá-los.
Ademais, a entrega dos Certificados do IPJ deveria ser feita pelo Presidente do
Tribunal, não havendo justificativa para que a Drª Fabíola o acompanhasse na viagem descrita
no item "20" do quadro acima.
Restam para análise as viagens nas quais a denunciada acompanhou o
Presidente a posse de Desembargadores de Tribunal e Ministros de Tribunal Superior.
Sobre essa questão, interessante destacar a posição adotada pelo
Ministro-Corregedor do Tribunal Superior do Trabalho, em correição dos atos da Presidente
do TRT da 11ª Região, objeto do Processo n. 014.871/2004-0 (acima mencionado):

"Entende o Corregedor-Geral que os convites recebidos para


solenidades de posse ou de inauguração de instalações, para sessões especiais de aposição
de medalhas e ocasiões assemelhadas devem ser considerados como meras comunicações
dos fatos, não ensejando o obrigatório comparecimento de juízes e seus assessores à custa
do Erário. A participação de juízes e seus assessores em tais eventos precisa ser
reavaliada, levando em consideração o alto preço das passagens aéreas e o valor das
diárias auferidas, em consideração ao princípio da moralidade. Eventos dessa natureza
devem ser encarados como restritos à Região Trabalhista promotora, reservando-se os
juízes a comparecer apenas aos grandes eventos nacionais, nos quais a relação
custo/benefício se mostra vantajosa para a instituição pública que representam. Nessas
ocasiões não se justifica que a autoridade se faça acompanhar por quaisquer outros
servidores, pois não há necessidade de assessoria para sua participação em solenidades de
posse de dirigentes de Tribunal ou de juízes, ou entrega de comendas".
(Relatório datado de 03/11/2004, encaminhado ao TCU para providências de alçada)

Partindo dessa idéia, podemos dizer que a denunciada FABÍOLA ANDRÉA


CORREIA GUERRA poderia comparecer aos eventos que documentalmente participou de
duas maneiras: como servidora, no exercício de função comissionada, ou como esposa do
Presidente do Tribunal de Justiça. Na primeira hipótese deveria comprovar a necessidade de
sua presença, como servidora, aos eventos. Entretanto, na hipótese, não comprovou a
denunciada a correlação do evento com o cargo, inclusive por absoluta desnecessidade de
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
assessoria em eventos meramente festivos.
Na condição de esposa do Presidente do Tribunal de Justiça estaria ela
autorizada a viajar, às custas do erário (passagens) e ainda recebendo diárias, para participar
de posses, comemorações e festas de outorga de títulos?
A título ilustrativo esclareça-se que no Superior Tribunal de Justiça, tem-se a
Resolução 01/2007, cujo art. 19, disciplinando a concessão de diárias e passagens a ministros
e servidores da Corte, prevê:

Art. 19. As passagens aéreas, nos deslocamentos a serviço, no território


nacional e ao exterior serão adquiridas observando-se as seguintes categorias:
I - Primeira classe - ministros e acompanhante dependente, quando
indispensável sua presença, nos afastamentos para representação do STJ no País e no
Exterior, que compreendam eventos de caráter cerimonial.

Observe-se que o STJ limita-se a custear a passagem do acompanhante


dependente (na prática, normalmente a esposa) do Ministro, exclusivamente quando participa
de eventos de caráter cerimonial para representação da Corte no País ou no Exterior.
Embora o conceito de "evento de caráter cerimonial" não esteja positivado e
não haja nenhuma norma que regulamente a necessidade ou não da presença dos cônjuges das
autoridades em qualquer tipo de evento, é possível aferir que se trata de solenidades oficiais,
institucionais, que se orientam a partir de um ordenamento protocolar (Decreto 70.274/72),
como posses de autoridades, por exemplo.
Nessas ocasiões, em que a autoridade máxima do órgão o representa em
solenidades de natureza exclusivamente institucional, é razoável que se admita seja ela
acompanhada do respectivo cônjuge.
Entretanto, inexiste, no âmbito do Tribunal de Justiça da Paraíba, norma que
autorizasse o pagamento de diárias e/ou passagens às esposas (acompanhantes) dos
Desembargadores.
Se analisada a questão sob o ângulo da legislação do STJ, seriam legítimas, em
princípio, as viagens para as posses de ministros e desembargadores, com passagens pagas
pelo Tribunal. Por exemplo, a posse do Ministro Marco Aurélio na Presidência do Supremo
Tribunal Federal (item "5" do quadro acima) e a do Desembargador Natanael Caetano
Fernandes na Presidência do TJDFT (item "47" do quadro acima), bem assim a posse dos
Ministros Édson Carvalho Vidigal e Nilson Vital Naves.
Registre-se, entretanto, no último caso, o fato de haver registro quanto a
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
viagem da denunciada em data posterior à posse (item "43" do quadro acima).
Necessário destacar que o administrador somente está autorizado a proceder
nos limites da lei e, como não há norma autorizadora, no âmbito do Tribunalde Justiça da
Paraíba, ou mesmo por aplicação analógica de norma própria de um Tribunal como o STJ, de
âmbito nacional, autorizando o pagamento de diárias às esposas (acompanhantes) dos
Desembargadores, configurado, em tese, o ilícito penal.
Não tem razão a denunciada, portanto, em alegar falta de justa causa, pois a
"falta de justa causa para a ação penal só pode ser reconhecida quando, de pronto, sem a
necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, evidenciar-se a atipicidade
do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a acusação ou, ainda, a extinção da
punibilidade" (HC 37.202/RJ, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em
03/03/2005, DJ 28/03/2005 p. 298).
Para o STF, "a denúncia somente pode ser rejeitada quando a imputação se
referir a fato atípico certo e delimitado, apreciável desde logo, sem necessidade de produção
de qualquer meio de prova, eis que o juízo é de cognição imediata, incidente, acerca da
correspondência do fato à norma jurídica, partindo-se do pressuposto de sua veracidade, tal
como narrado na peça acusatória" (Inq. 1.926/DF, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, PLENO,
julgado em 09/10/2008, DJe-222 divulg 20-11-2008 public 21-11-2008).
Como a denunciada não conseguiu demonstrar, de plano, a ausência de desvio
de finalidade nas viagens realizadas e locupletamento indevido, existindo indícios suficientes
nesse sentido, não há como impedir a deflagração da ação penal.

HILTON SOUTO MAIOR NETO

ITEM PERÍODO LOCAL EVENTO

03 a 07/04/2001 – Participação na Feira Internacional da


79 03 a 07/04/01 São Paulo Indústria da Construção – FEICON/2001 – Apenso 16, fls.
154/155; Apenso 21, fls. 206/211; Apenso 25, fls. 37/46
06 a 11/05/2001 – Justificativa: conhecer programas nas
áreas de recursos humanos, informática, procedimentos
judiciais, juizados especiais e outras experiências
80 06 a 11/05/01 Belo Horizonte administrativas desenvolvidas no TJ/MG – Apenso 16, fls.
156/157; Apenso 25, fls. 130/136.
Passagem aérea: 06/05/2001 JPA/BHZ – 09/05/2001
BHZ/SAO – 11/05 SAO/JPA – Apenso 25, fls. 126/128

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 6 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
81 29 a 31/05/01 Recife 29 a 31/05/2001 – Tratar de assuntos de interesse do TJ/PB –
Apenso 16, fls. 158/159; Apenso 21, fls. 213/218
82 05 a 06/06/01 Natal 05 a 06/06/2001 - Tratar de assuntos de interesse do TJ/PB –
Apenso 16, fls. 160/161; Apenso 21, fls. 213/218.
02 a 06/04/2002 – Participação na Feira Internacional da
83 02 a 06/04/02 São Paulo Indústria da Construção – FEICON/2002 – Apenso 16, fls.
165/166.
84 30/05 a Espanha 30/05 a 10/06/2002 – Viagem tendo em vista a II
10/06/02 EXPOARTE – Apenso 16, fls. 167/168.
25 a 27/09/2002 – Viagem do Dr. Hilton Souto Maior Neto
85 25 a 27/09/02 Alagoas (Assessor da Presidência) – Homenagem prestada ao
Presidente do TJ/PB – Apenso 16, fls. 169/170; Apenso 22,
fls. 68/73.

O denunciado HILTON SOUTO MAIOR NETO, por sua vez, ocupava o


cargo de Assessor de Gabinete (Símbolo TJ-AG-602) do Quadro de Pessoal da Secretaria do
Tribunal de Justiça da Paraíba (fls. 1.880) à época dos fatos. O Regulamento Administrativo
daquela Corte, ao tratar dos cargos em comissão e das funções de confiança (Seção II),
estabelece no art. 4º:

4º - Os cargos em Comissão são organizados nos seguintes Grupos:


(...)
VI - Apoio de Gabinete, Símbolo TJ-AG-600, de livre provimento, ao qual
compete dirigir e providenciar o expediente, as audiências protocolares, a representação social,
os despachos e o protocolo nos Gabinetes dos Desembargadores, distribuído nos seguintes
cargos:

(...)

b) Assessor de Gabinete, Símbolo TJ-AG-602, em número de trinta (30),


correspondendo dois (02) a cada Gabinete de Desembargador, a quem compete executar os
serviços de protocolo, representação social e das audiências; datilografar os acórdãos e
votos do Desembargador; cooperar na revisão dos acórdãos e votos lavrados; além de
outras próprias determinadas pelo titular do Gabinete.

Da análise dos documentos que integram o inquérito policial, destaca-se que:


1) a viagem realizada para participação na Feira Internacional da Indústria da
Construção - FEICON 2001 foi assim justificada (Apenso 25, fls. 37 - Ofício 140, de
19/03/2001):

Sendo assim, objetivando a reciclagem de conhecimentos e aquisição das


mais atuais técnicas surgidas a nível internacional, as quais serão de grande importância no
desenvolvimento das atividades desta Coordenadoria de Engenharia, vimos, mui
respeitosamente, solicitar a Vossa Excelência, que autorize o fornecimento de Passagem e
Ajuda de Custos ao presente Coordenador e um Assessor, a fim de que supra citada viagem
possa ser realizada e este Tribunal de Justiça venha a ganhar com o conhecimento obtido.

2) documentos constantes do Apenso 21 (fls. 213/214) e 25 (fls. 41) afirmam


Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
que o denunciado era Assessor do Gabinete da Presidência, enquanto que o documento de fls.
206 do apenso 21 aponta o denunciado como Assessor do Coordenador de Engenharia, a
justificar sua viagem à FEICON;
3) na viagem realizada a Belo Horizonte, no período de 06 a 11/05/2001 em
que o denunciado recebeu diárias para "conhecer programas nas áreas de recursos humanos,
informática, procedimentos judiciais, juizados especiais e outras experiências administrativas
desenvolvidas no TJ/MG", o "serviço" somente durou 03 dias porque o denunciado em 09/05
viajou para São Paulo (sem justificativa) e lá ficou até 11/05/2001, quando retornou a João
Pessoa (Apenso 25, fls. 126/128);
4) o denunciado realizou duas viagens nas quais utilizou justificativa de
cunho genérico: "tratar de assuntos de interesse do TJ/PB;
5) a viagem à Espanha "tendo em vista a II EXPOARTE" não foi
suficientemente fundamentada, ou seja, não houve demonstração do interesse público que
justificasse a viagem do denunciado; e
6) o Dr. HILTON viajou às expensas do TJ/PB para participar de
homenagem prestada a seu pai, o Presidente daquela Corte.
No que diz respeito à participação à FEICON 2001 e 2002, há indícios de
desvio de finalidade porque:
a) segundo consta do Regulamento Administrativo, dentre as funções
inerentes ao cargo ocupado pelo denunciado ("executar os serviços de protocolo,
representação social e das audiências; datilografar os acórdãos e votos do Desembargador;
cooperar na revisão dos acórdãos e votos lavrados; além de outras próprias determinadas pelo
titular do Gabinete"), não se encontra a de "verificar, sob a ótica da regularidade formal, a
adoção de novas técnicas e procedimentos aplicados nas construções de Fóruns, Casas de
Juízes"; "opinar no âmbito do Direito", como afirma o denunciado em sua defesa preliminar;
b) há indícios de que a referência ao denunciado, como Assessor da
Coordenadoria de Engenharia, foi feita apenas para tentar justificar a sua participação no
evento;
c) ainda que assim não fosse, em nenhum momento restou demonstrado que
o Tribunal de Justiça da Paraíba estaria realizando qualquer tipo de contratação que
justificasse um parecer jurídico.
Em relação à viagem a Belo Horizonte, além de não haver correlação entre as

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
funções inerentes ao cargo que o denunciado ocupava e as atividades que ele teria ido
desenvolver junto ao TJ/MG, tudo leva a crer que o Dr. HILTON recebeu duas diárias a mais
do que o efetivamente utilizado para o fim pretendido, além de ter onerado o Tribunal com as
passagens aéreas em razão da "escala" em São Paulo.
Também em relação à viagem à Espanha não restou demonstrada a correlação
entre as funções do denunciado e a atividade que seria exercida por ele. O interesse público,
nesse caso, sequer foi demonstrado, até porque, se a EXPOART foi custeada exclusivamente
com recursos privados, como afirmam os denunciados, não se justificaria o pagamento de
passagens aéreas e diárias pelo TJ/PB para que o servidor tratasse, no exterior, de assuntos
relacionados à exposição, mesmo que para "prestar assessoramento no campo do Direito".
Repitam-se aqui os argumentos adotados nesse voto quanto à concessão de
diárias e passagens aéreas a FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA.
Havendo, pois, justa causa para o desencadeamento da ação penal, o
denunciado deve responder pelo delito tipificado no art. 312 do CP.

RAQUEL VASCONCELOS MAIOR NETO

ITEM PERÍODO LOCAL EVENTO

09 a 14/10/2002 – Viagem para assessorar o Presidente do TJ/PB


86 09 a 14/10/02 Belém no 58º Encontro do Colégio Permanente de Presidentes de
Tribunais de Justiça do Brasil – Apenso 22, fls. 75/79

A denunciada RAQUEL VASCONCELOS SOUTO MAIOR ocupava o


cargo de Assessor Técnico Judiciário (Símbolo TJ-APJ-406) do Quadro de Pessoal da
Secretaria do Tribunal de Justiça da Paraíba (fls. 2.364) - cargo privativo de Oficial Superior
da Polícia Militar do Estado da Paraíba, nos termos do art. 4º do já citado Regulamento:
(...)
IV - Assessoria do Poder Judiciário, Símbolo PJ-APJ-400, a quem compete
assessorar a Presidência na sua área específica; coordenar o desenvolvimento do expediente,
das audiências, da representação social e do protocolo no Gabinete respectivo; dirigir a
execução das atribuições de órgãos específicos do Tribunal de Justiça; prestar assessoria às
Câmaras; realizar serviços de consultoria administrativa, redigindo pareceres e congêneres;
desenvolver serviços de assessoria legislativa, redação de atos normativos e correlatos; além de
outros próprios, encomendados pela autoridade superior, respectivamente, compreendendo os
seguintes níveis e cargos:
(...)
b) No Nível II:
(...)

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
3. Assessor Militar, Símbolo TJ-APJ-406, privativo de Oficial Superior da
Polícia Militar do Estado da Paraíba, a quem incumbe prestar assessoramento militar à
Presidência; dirigir as atividades de transporte e segurança da Secretaria do Tribunal e da
Corregedoria, bem como outros correlatos determinados por este Regulamento e pela
autoridade competente.

Igualmente no caso da denunciada RAQUEL pode-se verificar, em princípio,


que houve desvio de finalidade na viagem por ela realizada, uma vez que as "funções"
inerentes ao cargo que ela ocupava são incompatíveis com o evento do qual participou.
Pelas razões já expendidas anteriormente, justifica-se a instauração da ação
penal também em relação à denunciada.

- DEVOLUÇÃO DAS DIÁRIAS


Afirmam os denunciados que agiram com boa-fé, tanto que recolheram aos
cofres públicos o valor de diárias e horas-extras contestadas pela Auditoria.
Não têm razão os denunciados porque a eventual restituição dos valores
indevidamente percebidos não afasta a configuração do tipo penal indicado na denúncia. A
extinção da punibilidade em face da reparação do dano somente é autorizada pela lei na
hipótese de peculato culposo (art. 312, § 3º, do CP). Nesse sentido já decidiu a Suprema
Corte:

REVISÃO CRIMINAL. PECULATO-DESVIO. ESCRIVÃO DOS FEITOS


DA FAZENDA. CONDENAÇÃO A DOIS ANOS E SETE MESES DE RECLUSÃO. PERDA
DA FUNÇÃO PÚBLICA. REVISÃO CRIMINAL INDEFERIDA. CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL, ART-621, I. A alegação de o sujeito passivo não haver sofrido qualquer dano ou
prejuízo, nem o réu auferido qualquer vantagem, não pode merecer maior relevo, para afastar a
incidência da norma penal (Código Penal, art-312), pois o fato da restituição do numerário
desviado, tal como o reconheceu o acórdão, na linha da decisão revisanda, não é bastante
a descaracterizar o tipo criminal do peculato doloso. Inviabilidade de reexame de fatos e
provas, em recurso extraordinário, consoante a Súmula 279. Negativa de vigência do art-312,
do Código Penal, que não é de acolher-se. A exclusão da pena acessória de perda da função
pública, pleiteada na revisão, também, não pode prosperar. Código Penal, art-68, incisos I e II:
não ocorre negativa de sua vigência. Réu punido com pena superior a dois anos de reclusão.
Pena executada, há muitos anos. Inaplicabilidade à espécie da Lei n. 7209/1984, art-92, I.
Recurso Extraordinário não conhecido.
(RE 100.530/SC, Rel. Ministro NÉRI DA SILVEIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
17/09/1985, DJ 13/12/1985, P. 23209)

PECULATO. SE DOLOSO, NÃO EXTINGUE A PUNIBILIDADE A


RESTITUIÇÃO DA QUANTIA APROPRIADA ANTES DO OFERECIMENTO DA
DENUNCIA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.
(RE 86.422/GO, Rel. Ministro LEITÃO DE ABREU, SEGUNDA TURMA, julgado em
20/09/1977, DJ 25/11/1977)

FUNCIONÁRIA DA EMPRESA DE CORREIOS E TELEGRÁFOS.


Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
APROPRIAÇÃO REITERADA DE VALORES DE REGISTRADOS E VALES POSTAIS
CONFIADOS A SEU CARGO. I - Restituição das importâncias apropriadas antes de denúncia.
II. Sendo doloso o procedimento caracterizador do crime de peculato, não extingue a
punibilidade, o que somente sucede na modalidade culposa (C.P., art. 312, e 2. e 3.). III.
Recurso extraordinário provido.
(RE 80.598/SP, Rel. Ministro THOMPSON FLORES, SEGUNDA TURMA, julgado em
15/04/1975, DJ 02/06/1975)

- O DELITO DO ART. 312 DO CP


O tipo penal descrito no art. 312 do CP compreende as seguintes condutas:

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Assim, as condutas dos denunciados FABÍOLA ANDRÉA CORREIA


GUERRA, HILTON SOUTO MAIOR NETO e RAQUEL VASCONCELOS SOUTO
MAIOR, em tese, subsumem-se ao tipo penal na medida em que, valendo-se do cargo que
ocupavam, beneficiaram-se indevidamente com viagens realizadas com nítido desvio de
finalidade pelas razões já expostas.
Em razão da continuidade delitiva, tem aplicação o art. 71 do CP em relação à
FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA e HILTON SOUTO MAIOR NETO.

MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR

O art. 31 do RITJ/PB, acima transcrito, estabelece a competência do Presidente


do Tribunal para "requisitar passagens e transporte para si ou para outros membros e pessoal
do Judiciário quando em objeto de serviço".
Por isso, o Subsecretário Administrativo, Dr. JOSÉ CARVALHO COSTA
FILHO, normalmente encaminhava os processos para liberação de pagamento à COPLAN de
ordem, com amparo na Portaria 152/2001 - TJ/PB, através da qual o Presidente delegou a ele
competência para apreciar e decidir os requerimentos administrativos que diziam respeito a
DIÁRIAS e AJUDA DE CUSTO de servidores e magistrados. Em alguns documentos
constou expressamente o "AUTORIZO" do Presidente do Tribunal.
Justifica-se, pois, a responsabilização do denunciado, sendo importante
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
lembrar que ocorreu a extinção da punibilidade em relação ao denunciado JOSÉ
CARVALHO COSTA FILHO, em razão do seu falecimento, como relatado.
Além de ser o denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR
responsável pela concessão de grande volume de diárias e passagens à sua esposa e seus dois
filhos, consta do inquérito policial que o Tribunal de Justiça, em agosto/2002, efetuou o
pagamento de passagens aéreas, no valor de R$ 5.488,00 (cinco mil, quatrocentos e oitenta e
oito reais) para os acadêmicos ARNALDO NISKIER, RUTH NISKIER, MURILO MELO e
NORMA VIANA para participarem como convidados do TJ/PB da EXPOARTE/2002 –
apenso 13, fls. 172/173 e apenso 14, fls. 145/146, pessoas que, a princípio, não têm vínculo
com o Tribunal (não há prova nesse sentido).
Além disso, as normas que regulam a concessão de passagens e diárias no
âmbito do TJ/PB em nenhum momento autorizam o pagamento de passagens a pessoas sem
qualquer vínculo com o Tribunal, sequer na condição de colaborador (que também não seria o
caso), como ocorre com o STJ, segundo dispõe o art. 17 da Resolução 01/2007, verbis :

Art. 17. A pessoa física, sem vínculo funcional com o Superior Tribunal de
Justiça, que se deslocar para prestar serviços não remunerados a este Tribunal, fará jus a
diárias e passagens, na qualidade de colaborador eventual.
Parágrafo único. O valor da diária do colaborador eventual será estabelecido
pelo Diretor-Geral, segundo o nível de equivalência entre a atividade a ser cumprida e os
valores constantes da tabela anexa.

Tal fato constitui demonstração inconteste de que não havia qualquer critério
nos gastos realizados com viagens, muito menos observância do atendimento ao interesse
público.

- AUSÊNCIA DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA E PAGAMENTO


COM VERBAS ORÇAMENTÁRIAS DESTINADAS AO PAGAMENTO DE
PESSOAL

O MPF afirma que em 2001 não havia previsão orçamentária para o


pagamento das diárias à família do denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR e
mesmo assim foi feito o pagamento sem autorização legal, com verba destinada
especificamente para pagamento de pessoal. A alegação encontra respaldo na auditoria
realizada pelo TCE/PB, que constatou o fato destacado na denúncia (Apenso 2, fls. 19):

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça

Além do valor pago à título de diárias e horas extraordinárias, ressalta-se que


parte das diárias concedidas, especificamente R$ 125.230,00 (ver. fls. 543), bem como horas
extraordinárias, no montante de R$ 70.142,08 (fls. 542), não foram empenhadas em rubrica
orçamentária própria e específica, e sim concedidas no próprio contra-cheque dos
servidores em questão (ver fls. 1536/1539), procedimento reprovável pela boa
interpretação dos artigos 58 e 60 da Lei 4.320/64 e artigos 70 e 72 da Lei Estadual
3.654/71. Tal fato caracterizou, classicamente, complementação salarial para os
servidores acima descritos.

Sobre esse ponto, a Corte Estadual de Contas afirmou apenas (fls. 1.767):

O órgão de instrução ataca o fato de que tal despesa não foi empenhada na
rubrica própria, pois aquelas vantagens foram pagas junto à folha de pagamento. Se assim
foram pagas, evidentemente foram empenhadas ao se fazer o empenho da mencionada
FOPAG. Também nesse ponto é improcedente a denúncia.

Observe-se que o TCE apenas emitiu juízo de valor sobre o empenho,


enquanto que questiona o MPF quanto ao pagamento das diárias com verbas específicas do
pagamento de pessoal, por falta de previsão orçamentária e, portanto, sem autorização legal.
Por isso, reputou o denunciado como incurso nas penas do art. 10, nº 2, c/c art. 39-A,
parágrafo único, da Lei 1.079/50 (com a redação dada pela Lei 10.028/2000), verbis :

Art. 10. São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária:


(...)
2 - Exceder ou transportar, sem autorização legal, as verbas do orçamento;

Art. 39-A. Constituem, também, crimes de responsabilidade do Presidente


do Supremo Tribunal Federal ou de seu substituto quando no exercício da Presidência, as
condutas previstas no art. 10 desta Lei, quando por eles ordenadas ou praticadas. (Incluído pela
Lei nº 10.028, de 19.10.2000)
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos Presidentes, e
respectivos substitutos quando no exercício da Presidência, dos Tribunais Superiores, dos
Tribunais de Contas, dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais, dos Tribunais
de Justiça e de Alçada dos Estados e do Distrito Federal, e aos Juízes Diretores de Foro ou
função equivalente no primeiro grau de jurisdição. (Incluído pela Lei nº 10.028, de
19.10.2000)

O denunciado afirmou não ter havido transporte ou desvio de verba, uma vez
que as diárias e as passagens foram pagas nas rubricas corretas (3.3.90.14.00 - Diárias Civil e
3.3.90.33.00 - Passagens e Despesas com Locomoção). Entretanto não há prova da afirmação.
Com amparo na constatação da auditoria, configurado em tese o delito previsto
nos dispositivos acima transcritos.
Sustenta o denunciado, ainda, que a imputação de crime de responsabilidade
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
carece de condição de procedibilidade, pois a Lei 1.079/50, em seus arts. 15 e 42, vincula a
admissibilidade da acusação à permanência do acusado no cargo, quando do oferecimento da
denúncia; como o denunciado já não ocupava o cargo de direção de Presidente do Tribunal
quando do oferecimento da denúncia, patente a falta de interesse no que se refere ao crime ora
cogitado; a denúncia, portanto, não deve prosperar.
Embora a lei especial para os crimes de responsabilidade enfatize, em dois
dispositivos distintos (art. 15 e art. 42), a só pertinência da tipificação para as autoridades que
estão no cargo quando do oferecimento da denúncia, assinalo que tal fato, na hipótese dos
autos, é inteiramente irrelevante. O denunciado é detentor de cargo vitalício, embora tenha
exercido a função temporária de presidente do Tribunal por dois anos, função exercida por
ocasião em que se envolveu com o fato delituoso em apuração.
O STF, no julgamento do MS 21.689/DF, deu aos dispositivos interpretação
consentânea com a realidade atual, deixando claro que, em razão da sanção única imposta
pela lei especial – perda do cargo, com a possibilidade de aplicação da pena de inabilitação
para o exercício de função pública, como acessória –, aquele que não mais exerce o cargo não
poderia ser réu, sem sanção plausível, visto que sem exercer cargo não haveria pena principal
e sem ela também não haveria pena acessória. Ora, exercendo o denunciado cargo vitalício,
não há óbice em se aplicar a norma indicada na denúncia.
Transcrevo, destacando, no que interessa, a ementa do precedente, julgado em
16/12/1993:

EMENTA: - CONSTITUCIONAL. "IMPEACHMENT". CONTROLE


JUDICIAL. "IMPEACHMENT" DO PRESIDENTE DA REPUBLICA. PENA DE
INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE FUNÇÃO PÚBLICA. C.F., art. 52,
paragrafo único. Lei n. 27, de 07.01.1892; Lei n. 30, de 08.01.1892. Lei n. 1.079, de 1950.
I. - Controle judicial do "impeachment": possibilidade, desde que se alegue
lesão ou ameaça a direito. C.F., art. 5., XXXV. Precedentes do S.T.F.: MS n. 20.941-DF (RTJ
142/88); MS n. 21.564-DF e MS n. 21.623-DF.
II. - O "impeachment", no Brasil, a partir da Constituição de 1891, segundo o
modelo americano, mas com características que o distinguem deste: no Brasil, ao contrario do
que ocorre nos Estados Unidos, lei ordinária definirá os crimes de responsabilidade,
disciplinara a acusação e estabelecera o processo e o julgamento.
III. - Alteração do direito positivo brasileiro: a Lei n. 27, de 1892, art. 3.,
estabelecia: a) o processo de "impeachment" somente poderia ser intentado durante o período
presidencial; b) intentado, cessaria quando o Presidente, por qualquer motivo, deixasse
definitivamente o exercício do cargo. A Lei n. 1.079, de 1950, estabelece, apenas, no seu art.
15, que a denuncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer
motivo, deixado definitivamente o cargo.
IV. - No sistema do direito anterior a Lei 1.079, de 1950, isto e, no
sistema das Leis n.s 27 e 30, de 1892, era possível a aplicação tão-somente da pena de
perda do cargo, podendo esta ser agravada com a pena de inabilitação para exercer
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
qualquer outro cargo (Constituição Federal de 1891, art. 33, par. 3.; Lei n. 30, de 1892,
art. 2.), emprestanto-se a pena de inabilitação o caráter de pena acessória (Lei n. 27, de
1892, artigos 23 e 24). No sistema atual, da Lei 1.079, de 1950, não é possível a aplicação
da pena de perda do cargo, apenas, nem a pena de inabilitação assume caráter de
acessoriedade (C.F., 1934, art. 58, par. 7.; C.F., 1946, art. 62, par. 3. C.F., 1967, art. 44,
parag. único; EC n. 1/69, art. 42, parag.inico; C.F., 1988, art. 52, parag. único. Lei n.
1.079, de 1950, artigos 2., 31, 33 e 34).
V. - A existência, no "impeachment" brasileiro, segundo a Constituição e o
direito comum (C.F., 1988, art. 52, parag. único; Lei n. 1.079, de 1950, artigos 2., 33 e 34), de
duas penas: a) perda do cargo; b) inabilitação, por oito anos, para o exercício de função
pública.
VI. - A renúncia ao cargo, apresentada na sessão de julgamento, quando já
iniciado este, não paralisa o processo de "impeachment".
VII. - Os princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade
administrativa (C.F., art. 37).
VIII. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal relativamente aos
crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, na forma do Decreto-lei 201, de
27.02.1967. Apresentada a denúncia, estando o Prefeito no exercício do cargo,
prosseguirá a ação penal, mesmo após o término do mandato, ou deixando o Prefeito, por
qualquer motivo, o exercício do cargo.
IX. - Mandado de segurança indeferido.
(fls. 319/320)

O argumento já foi rechaçado por esta Corte quando do julgamento da APn


451/PB, em que também figurava como denunciado o Desembargador MARCOS
ANTÔNIO SOUTO MAIOR, à época Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, como
demonstra o trecho a seguir transcrito:

PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE


IMPUTADO A PRESIDENTE DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRECATÓRIOS. ARTIGO
100, § 6º, DA CF. TITULARIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA OFERECIMENTO
DA DENÚNCIA PERANTE O STJ. AUTO-SUFICIÊNCIA DA DESCRIÇÃO TÍPICA
CONSTITUCIONAL. DEFINIÇÃO PRECISA DO PRECEITO SECUNDÁRIO APLICÁVEL
COM A INDICAÇÃO RELATIVA À APLICAÇÃO DA LEI DOS CRIMES DE
RESPONSABILIDADE. TITULARIDADE DO CARGO. DENÚNCIA QUE ASSOCIA A
CONDUTA PRATICADA A UMA QUEBRA NA ORDEM DE PAGAMENTO DE
PRECATÓRIOS. SUBSUNÇÃO INEXISTENTE.
(...)
- O denunciado não deixou de ser membro do Tribunal de Justiça da Paraíba,
conquanto não seja mais seu Presidente, de forma que nenhum óbice, em tese, existe ao
recebimento da denúncia, sob tal prisma.
(...)
Denúncia rejeitada.
(APn 451/PB, Rel. Ministra ELIANA CALMON, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY
ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/05/2008, DJe 30/10/2008)

IV - PAGAMENTO DE DESPESAS COM ALIMENTAÇÃO:

Consta, ainda, da denúncia que o Dr. HILTON SOUTO MAIOR NETO teria
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
praticado a conduta delitiva do art. 312 do CP por ter recebido, indevidamente, ressarcimento
de despesas realizadas com alimentação, a saber:
a) em 01/03/2001 por ter o Dr. HILTON SOUTO MAIOR NETO prestado
serviço ao TJ/PB fora do horário de expediente – R$ 55,11 (cinqüenta e cinco reais e onze
centavos) – Apenso 22, fls. 97/104.
b) em 25/09/2002 - Ressarcimento de despesas relativas a almoço com o
Presidente de Justiça do Estado de Alagoas e Assessores – R$ 297,99 (duzentos e noventa e
sete reais e noventa e nove centavos) – Apenso 22, fls. 63/66.
O denunciado não nega os fatos, mas procura justificá-los argumentando:
1) o gasto de R$ 55,11 (cinqüenta e cinco reais e onze centavos) deveu-se
ao custeio de refeição a duas pessoas, ambas funcionárias, que tinham necessidade de
concluir trabalho com prazo certo, inviabilizando que tivessem o regulamentar descanso para
o almoço; como o Tribunal não dispunha de refeitório nem restaurante próprios, foi utilizada
uma das casas de pasto da cidade, com valor até abaixo dos praticados à época.
Observe-se que a justificativa constante do documento de fls. 103 do Apenso
22 diverge dessas afirmações.
2) despesa datada de 25/09/2002 - tratou-se de reunião de trabalho entre o
Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba e o Presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas;
perfeitamente possível e prático que a despesa de uma refeição de serviço com dois
Presidentes de Tribunais de Justiça Estaduais fosse paga por um dos Assessores do Tribunal
para depois lhe ser ressarcida a despesa, formalizada com a respectiva nota fiscal; o evento
reuniu várias pessoas, por isso, o valor foi perfeitamente compatível com sua realização.
Não obstante esses argumentos, o denunciado não demonstrou, de plano, que
tais despesas foram realizadas no interesse público e não identificou qual norma autorizaria o
Tribunal a ressarcir esse tipo de despesa, a fim de descaracterizar-se, de plano, a conduta
configurada como ilícito penal.
Ao contrário, há documento no inquérito demonstrando que a despesa ocorrida
em 01/03/2001 foi indevidamente ressarcida com recursos alocados para rubrica cujo
programa diz respeito a "Processamento de Causas" (Apenso 22, fls. 99), o que demostra,
em princípio, a ilicitude do procedimento. Vejamos:

Atendendo despacho de fl. anterior, informamos que o desembolso relativo a


presente solicitação, poderá, a critério da Direção Superior desta Corte de justiça, após os
procedimentos administrativos que se fizerem necessários, ocorrer por conta dos recursos
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 7 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
oriundos do Tesouro do Estado , de acordo com a Lei 6.955 de janeiro de 2001, na forma
estabelecida pelo Decreto nº 21.707, de 03 de fevereiro do corrente exercício, combinada coma
Portaria nº 23/2001, do mesmo ano, através da seguinte funcional programática: - Unidade
Orçamentária - 05.101; Função - 02 Subfunção 061; Programa 5130; Projeto/Atividade -
2006 - Processamento de Causas; Natureza da Despesa - 3132.00 - Outros Serviços e
Encargos; Fonte de Recurso - 00.

Configurado, portanto, em tese, o crime tipificado no art. 312 c/c 71 do CP,


uma vez que o denunciado HILTON SOUTO MAIOR NETO, valendo-se do seu cargo,
apropriou-se indevidamente de valores a título de ressarcimento de despesas.

II - EXPOARTs 2001 E 2002

Em relação a esses eventos, o MPF afirma que:


1) as exposições foram patrocinadas em recursos públicos sem previsão
orçamentária, tendo sido gasto valor superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais);
2) R$ 221.311,59 (duzentos e vinte e um mil, trezentos e onze reais e
cinqüenta e nove centavos) foram pagos sem empenhamento de despesa, mediante pagamento
direto ao fornecedor do produto e serviço através de cheques, muitos deles subscritos pelo
denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR; e
3) algumas despesas foram realizadas mediante emissão de Nota de
Empenho, mas todos os produtos e serviços foram contratados sem prévia licitação.
Destacou o MPF a aquisição dos seguintes produtos e serviços:
I EXPOART: fotografia; confecção de quadros de madeira e compensado;
locação de sistema de iluminação; transporte aéreo dos quadros expostos; aquisição de
bandeiras do Brasil e da França; conjunto musical para o coquetel de abertura; serviço de
sonorização; confecção de cartazes e folders; confecção da revista da EXPOART 2001;
aquisição de mastros para bandeiras e diárias, passagens (Apenso 15, fls. 79/82), restaurantes,
treinamento de monitores, dentre outros serviços; e
II EXPOART: despesas de transporte, seguro, embalagem, guarda e
conservação dos valiosos quadros; despesas de diárias pagas a servidores do Tribunal que
foram à Espanha (inclusive o filho do denunciado); pagamento de almoços, inclusive a
jornalistas "a fim de informar a programação da Expoarte/2002" (fls. 250); despesas de
hospedagem, de ornamentação do Tribunal para abertura da exposição; painéis; catálogos;
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
locação de equipamentos e serviços de iluminação e sonorização do Tribunal (fls. 295); buffet
para abertura da II EXPOARTE (fls. 300); pagamento de pessoal contratado especialmente
para "elaboração de catálogos, coordenação de monitores e organização de montagem da II
EXPOARTE" (fls. 305); pagamento a Flávio César Capitulino, que se intitulava Curador
Internacional da Exposição, por seus serviços nas duas EXPOARTE (excluídos os valores
pagos mediante Nota de Empenho), sem prévio empenhamento da despesa.
Corroboram a imputação contida na denúncia, além dos documentos
constantes do inquérito (apenso 15, fls. 03/82; apenso 16, fls. 350/360; apenso 23, fls.
120/146), as conclusões da auditoria realizada no âmbito do TCE/PB (apenso 2, fls. 21/23):

e) Gastos efetivados e destino da arrecadação das EXPOARTE 2001/2002.

Denúncia Procedente em parte: Com relação aos dispêndios realizados e


destino dado à arrecadação das EXPOARTE 2001/2002, destaca-se o que se segue:
Conforme levantamento efetuado junto à Coordenadoria Financeira do
Tribunal de Justiça, setor que absorve o fluxo financeiro da Justiça Comum (TJ) e Fundo
Especial do Poder Judiciário (FEPJ), considerando os processos encontrados com identificação
referente às referidas exposições, foram realizadas despesas orçamentárias nas EXPOARTE
2001/2002 no valor de R$ 186.420,71, conforme discriminado abaixo:

EXPOARTE 2001: R$ 66.008,05


EXPOARTE 2002: R$ 120.412,66
TOTAL: R$ 186.420,71

Os documentos comprobatórios dos referidos gastos orçamentários


encontram-se acostados às fls. 797/840 e 950/996 do presente processo, todos com devido
empenho legal e respectivas notas de pagamento.
No tocante aos dispêndios efetuados com os recursos diretamente
arrecadados da EXPOARTE nos exercícios financeiros de 2001 e 2002, esta auditoria, em
análise de extratos bancários apensos às fls. 777 a 793, conta nº 7.930-8, agência 1618-7 do
Banco do Brasil S/A, constatou os seguintes fatos:
• Pagamentos realizados sem o devido empenho no valor de R$ 221.311,67
(duzentos e vinte e um mil, trezentos e onze reais e sessenta e sete
centavos), conforme cheques acostados às fls. 841 a 877 do presente
processo, contrariando frontalmente o artigo 58 da Lei 4.320/64 e artigo 72
da Lei Estadual 3.654/71. Segue abaixo discriminação pormenorizada dos
referidos desembolsos:
(...)
• Pagamentos realizados em favor do Sr. Flávio César Capitulino, no valor de
R$ 180.111,67 (ver quadro acima), sem o devido processo de
empenhamento, além de R$ 53.757,50 formalizados legalmente pelo
Sistema Integrado de Administração Financeira - SIAF (ver fls. 875). O
referido beneficiado foi o responsável pelo seguro, embalagem e
desembaraço aduaneiro das peças da EXPOARTE.

• Os pagamentos realizados em favor da AEMP, Associação das Esposas dos


Magistrados da Paraíba, no valor total de R$ 19.000,00 no biênio
2001/2002 (fls. 841/844), evidenciados no quadro acima, além de serem
efetuados sem empenho prévio, estão em desacordo com os ditames da Lei

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
de Responsabilidade Fiscal, especificamente no artigo 26, onde prescreve
que a destinação de recursos públicos para o setor privado deverá ser
autorizada por lei específica, atender as condições da lei de diretrizes
orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em créditos adicionais. Tais
pagamentos estão registrados nos livros contábeis da AEMP sob a
denominação de "doação" (ver doc. fls. 1706).

Assim sendo, não houve irregularidades nos gastos devidamente empenhados


nas EXPOARTE 2001/2002, no entanto, a utilização dos recursos diretamente arrecadados
nestas duas exposições, oriundos basicamente de patrocínios de empresas privadas e públicas,
cuja expressão final materializou-se em forma de despesa pública, realizou-se sem o devido
empenho legal, perfazendo o total de R$ 221.311,67 (duzentos e vinte e um mil, trezentos e
onze reais e sessenta e sete centavos), além do descumprimento do artigo 26 da LRF, no que
tange aos pagamentos realizados em favor da AEMP, a título de doações.

Assim, ainda que os gastos efetuados com as duas EXPOARTs tenham se


originado de doações e, portanto, de recursos exclusivamente "particulares", como sustenta a
defesa, deveria ter havido previsão na lei orçamentária e o indispensável empenho.
Diante dos indícios de autoria e materialidade dos delitos tipificados nos arts.
312 (na modalidade desvio) e 359-D, ambos do Código Penal e art. 10, nº 2 c/c art 39-A,
parágrafo único, da Lei 1.079/50 (com redação dada pela Lei 10.028/2002), justifica-se a
instauração da ação penal.

III - TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS À AEMP:

A Auditoria do TCE/PB (Apenso 2 - fls. 23), afirmou que:

• Os pagamentos realizados em favor da AEMP, Associação das Esposas dos


Magistrados da Paraíba, no valor total de R$ 19.000,00 no biênio
2001/2002 (fls. 841/844), evidenciados no quadro acima, além de serem
efetuados sem empenho prévio, estão em desacordo com os ditames da Lei
de Responsabilidade Fiscal, especificamente no artigo 26, onde prescreve
que a destinação de recursos públicos para o setor privado deverá ser
autorizada por lei específica, atender as condições da lei de diretrizes
orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em créditos adicionais. Tais
pagamentos estão registrados nos livros contábeis da AEMP sob a
denominação de "doação" (ver doc. fls. 1706).

Diante dos indícios de que houve transferência ilícita de recursos públicos para
a AEMP, não tendo o denunciado demonstrado inequivocamente que os cheques ns. 85008 e
850086 não foram assinados por ele e que tais verbas são de natureza privada, justifica-se o
recebimento da denúncia também em relação a esse fato porque perpetrado, em tese, o delito
do art. 359-D do Código Penal.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça

IV - CAPITULAÇÃO PENAL, DOLO ESPECÍFICO E PREJUÍZO AO


ERÁRIO

O art. 312 do Código Penal prevê:

Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer
outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

O Prof. Damásio E. de Jesus, ao tratar dos elementos subjetivos do tipo, afirma


que a conduta, nesse caso, pode realizar-se de duas formas: apropriação e desvio. No desvio,
hipótese que interessa ao presente julgamento, o funcionário, embora sem o animus rem sibi
habendi , i.e., sem o ânimo de apossamento definitivo, emprega o objeto material em fim
diverso de sua destinação específica, em proveito próprio ou alheio.
Os elementos constantes dos autos conduzem ao entendimento de que ocorreu
o crime previsto no dispositivo, na medida em que o Presidente do Tribunal de Justiça da
Paraíba, Desembargador MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR, nessa condição, permitiu
que sua esposa, FABÍOLA ANDRÉA CORREIA GUERRA, e seus dois filhos, HILTON
SOUTO MAIOR NETO e RAQUEL VASCONCELOS SOUTO MAIOR, ocupantes de
cargos em comissão, viajassem às expensas daquela Corte, autorizando o pagamento de
diárias e passagens aéreas, com nítido desvio de finalidade, seja porque não evidenciado o
interesse público, seja porque a função exercida por eles não guardava qualquer relação com
os eventos dos quais participaram.
Diga-se o mesmo no que diz respeito ao ressarcimento de despesas com
alimentação ao denunciado HILTON SOUTO MAIOR NETO.
Nessas circunstâncias, não houve desvio em proveito da Administração
Pública, mas exclusivamente em proveito dos próprios denunciados, restando evidenciado o
prejuízo ao erário.
A existência ou não de dolo é questão que deverá ser examinada após a regular

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça
instrução, com observância da ampla defesa aos denunciados. Contudo, prima facie, é
possível vislumbrar que os denunciados não poderiam ter agido sem a clara compreensão do
ilícito de suas condutas, por se tratar de pessoas com vasto conhecimento na área do Direito,
mormente o denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR, por se tratar de
Desembargador, cuja competência é julgar e decidir o que é certo e o que é errado.
Por isso, não é razoável admitir que eles agiram sem a intenção de
locupletarem-se ilicitamente, o que afasta, a princípio, a alegação de inexistência de dolo
específico.
A Auditoria do TCE/PB afirmou que as diárias "não foram empenhadas em
rubrica orçamentária própria e específica, e sim concedidas no próprio contra-cheque dos
servidores em questão (ver fls. 1536/1539), procedimento reprovável pela boa interpretação
dos artigos 58 e 60 da Lei 4.320/64 e artigos 70 e 72 da Lei Estadual 3.654/71. Tal fato
caracterizou, classicamente, complementação salarial para os servidores acima descritos".
Se realmente o empenho não ocorreu em rubrica orçamentária própria e
específica, do que não discorda a defesa, caracterizado em tese o delito do art. 10, n. 2, c/c art.
39-A, parágrafo único, da Lei 1.079/50, cuja redação é a seguinte:

Art. 10. São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária:


(...)
2 - Exceder ou transportar, sem autorização legal, as verbas do orçamento;

Art. 39-A. Constituem, também, crimes de responsabilidade do Presidente


do Supremo Tribunal Federal ou de seu substituto quando no exercício da Presidência, as
condutas previstas no art. 10 desta Lei, quando por eles ordenadas ou praticadas. (Incluído pela
Lei nº 10.028, de 19.10.2000)

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos Presidentes, e


respectivos substitutos quando no exercício da Presidência, dos Tribunais Superiores, dos
Tribunais de Contas, dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais, dos Tribunais
de Justiça e de Alçada dos Estados e do Distrito Federal, e aos Juízes Diretores de Foro ou
função equivalente no primeiro grau de jurisdição. (Incluído pela Lei nº 10.028, de
19.10.2000)

O art. 359-D do Código de Penal, por sua vez, dispõe:

Ordenação de despesa não autorizada


359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Celso Delmanto, em seu Código Penal Comentado, ao comentar o art. 359-D


do referido diploma legal, ensina que:
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Tipo subjetivo: O dolo, consistente na vontade livre e consciente de ordenar
despesa não autorizada por lei. Para os tradicionais é o dolo genérico. Embora não se exija
especial fim de agir, é necessário que o agente tenha conhecimento de que a despesa não se
encontra autorizada em lei. Não há modalidade culposa.

Consumação: Com a efetiva ordem de despesa não autorizada por lei.


Trata-se de crime formal, não se exigindo resultado no sentido naturalístico, ou seja, que a
despesa tenha sido efetuada. É necessário, contudo, que a conduta tenha comprometido ou
ameaçado comprometer o equilíbrio das contas públicas e seu controle pelo Legislativo.
(Ed. Renovar, 6ª ed., Rio de Janeiro, 2002, p. 739)

Cuida-se, pois, de crime formal, que se consuma no momento em que a


despesa é autorizada, independentemente do resultado; a efetivação da despesa constitui mero
exaurimento do delito.
Segundo Mirabete, "o dolo é a vontade de ordenar a despesa, tendo
conhecimento de que ela não está autorizada por lei. Admite-se o dolo eventual, em que o
agente público atua quando há dúvida sobre a existência ou não de autorização legal" (in
Manual de Direito Penal - Parte Especial, 22ª ed., Atlas, São Paulo, 2007, p. 462).
Pelos elementos constantes dos autos, na realização das duas EXPOARTs
foram gastos recursos públicos sem previsão orçamentária e sem o devido empenho, o que
configura, em tese, os tipos dos arts. 359-D do CP e 10, n. 2, c/c 39-A, parágrafo único, do
CP. Além disso, não há provas de que os produtos e os serviços foram contratados mediante a
necessária licitação, o que caracteriza, em tese, o crime do art. 312 do CP, com desvio dos
recursos de que tinha disponibilidade o denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO
MAIOR, na condição de Presidente do TJ/PB, em proveito alheio.
Por fim, configura-se, em tese, o crime do art. 359-D do CP em relação aos
pagamentos (doações) realizados em favor da AEMP - Associação das Esposas dos
Magistrados da Paraíba, no valor R$ 19.000,00 (dezenove mil reais), pois ocorreram sem
prévio empenho e contrariaram o art. 26 da LRF, segundo o qual a destinação de recursos
públicos para o setor privado deverá ser autorizada por lei específica, atender às condições da
lei de diretrizes orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em créditos adicionais.

CONCLUSÃO

Com essas considerações, acolho a preliminar de inépcia da inicial com relação


ao denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR no que diz respeito à alegação de

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
pagamento de precatório sem observância da ordem de apresentação por ausência de
indicação da capitulação penal.
Rejeito as demais preliminares argüidas.
Recebo a denúncia em relação aos denunciados FABÍOLA ANDRÉA
CORREIA GUERRA e HILTON SOUTO MAIOR NETO, incursos nas sanções do art.
312 do Código Penal, em continuidade delitiva (art. 71 do CP).
Recebo a denúncia em relação à denunciada RAQUEL VASCONCELOS
SOUTO MAIOR, incursa nas sanções do art. 312 do Código Penal.
Recebo a denúncia em relação ao denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO
MAIOR, incursos nas sanções dos arts. 312 (na modalidade desvio) e 359-D do Código
Penal e art. 10, nº 2 c/c 39-A, parágrafo único, da Lei 1.079/50 (com redação dada pela Lei
10.028/2000), todos c/c o art. 71 do Código Penal em razão da continuidade delitiva.
Embora já afastado do cargo, em razão de estar o magistrado a responder outra
ação penal, com denúncia já recebida e instrução quase finda, entendo pertinente que esta
Corte renove a decisão de afastamento, diante da gravidade da acusação que paira sobre o
denunciado MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR, inclusive pelo tipo do crime,
inteiramente incompatível com as funções por ele exercidas e, finalmente, diante dos
precedente desta Corte – APn 242/AC e APn 266/RO –, voto pelo seu afastamento imediato
das funções de Desembargador do Tribunal de Justiça da Paraíba.
Condeno a Drª Rebeca Novaes Aguiar ao pagamento de multa por litigância de
má-fé nos termos do art. 14, II c/c art. 17, IV, e 18, caput , todos do CPC (aplicáveis à
hipótese por analogia), no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e determino a remessa à
OAB/DF, para as providências que entender cabíveis, de cópia do presente voto, bem assim
das fls. 2.582/2.598.
Julgo prejudicado o agravo regimental de fls. 2.597/2.598.
É o voto.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

PRIMEIRA PRELIMINAR

Voto-Preliminar
Vencido

O SENHOR MINISTRO PAULO GALLOTTI: Senhor Presidente, voto pelo


sobrestamento do julgamento do processo até a decisão final do mandado de
segurança impetrado no Supremo Tribunal Federal.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

PRIMEIRA PRELIMINAR SUSCITADA

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO FRANCISCO FALCÃO: Sr. Presidente, como


bem ressaltou a Sra. Ministra Relatora e Sra. Subprocuradora-Geral da República, Cláudia
Sampaio Marques, o Supremo Tribunal Federal, por despacho do Sr. Ministro Cezar Peluzo,
manteve a suspensão da aposentadoria do Sr. Desembargador Souto Maior, que se encontra
na ativa, razão pela qual entendo que a competência é desta Corte para julgar o processo.
Acompanho o voto da Sra. Ministra Relatora, rejeitando a preliminar de
incompetência do Superior Tribunal de Justiça, indeferindo o pedido de remessa dos autos ao
Juízo Criminal da Comarca de João Pessoa, como foi requerido pela defesa.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-PRELIMINAR

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ: Sr. Presidente, hoje, meditei


muito em relação a esta preliminar que seria argüida e sobre o que temos em relação a ela.
Temos uma aposentadoria que foi cassada pelo Conselho Nacional de Justiça
com a impetração de um mandado de segurança contra a decisão- como todos sabem - com
pedido de liminar indeferido e um pedido de reconsideração dessa liminar também indeferido.
O fato é que não há aposentadoria. Por hora, o denunciado não está aposentado.
Pedindo todas a vênias, acompanho o voto da Sra. Ministra Relatora.
Rejeito a preliminar de incompetência do Superior Tribunal de Justiça,
indeferindo o pedido de remessa dos autos ao Juízo Criminal da Comarca de João Pessoa,
como requerido pela defesa.

MINISTRA LAURITA VAZ

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 8 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

PRIMEIRA PRELIMINAR

VOTO-PRELIMINAR (VENCIDO)

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX: Sr. Presidente, ouvi atentamente os


debates e as preocupações. Entendo que não estamos diante de uma prejudicial; estamos
diante de duas prejudiciais.
A primeira delas, com a qual V. Exa. concordou, é a de que há uma
verossimilhança sobre a eventual inconstitucionalidade da resolução para aposentar
unilateralmente, sem a obediência do devido processo legal, um desembargador.
A segunda prejudicial refere-se a um julgamento que começou, não tem
definição, há dois votos isolados...
......................................................................................................................................................

Sim. Teoricamente, temos duas prejudiciais.

......................................................................................................................................................

Exato. De sorte que, verifico que há duas prejudiciais ainda não decididas
contra a revogação da Súmula nº 394 do Supremo Tribunal Federal, que é quase secular, a
qual dispõe que “cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência
especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados
após a cessação daquele exercício”.
Por outro lado, observo que a tese, que foi sustentada pelo Sr. Ministro Cézar
Peluzo, no mandado de segurança, com relação ao abuso do direito, também é uma tese cuja
verossimilhança é duvidosa à medida que, recentemente, a mesma tese foi suscitada e restou
vencida no Supremo Tribunal Federal, no julgamento do governador aqui mencionado.
De modo que, a preocupação assume relevo à medida que tais prejudiciais não
apresentam verossimilhança pelo, como se diz vulgarmente, “andar da carruagem”. Então,
seria uma mera plausibilidade contra uma jurisprudência solidificada e sedimentada no
Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal.
Portanto, pedindo todas as vênias, acompanho o voto do Sr. Ministro Paulo
Gallotti com as observações e preocupações do Sr. Ministro Nilson Naves.
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 0 de 118
Superior Tribunal de Justiça
Voto pelo sobrestamento do julgamento do processo até a decisão final do
mandado de segurança impetrado no Supremo Tribunal Federal.

PRESIDENTE O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA


RELATORA A SRA. MINISTRA ELIANA CALMON
CORTE ESPECIAL - 18.2.2009
Nota Taquigráfica

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 1 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-PRELIMINAR

O EXMO. SR. MINISTRO NILSON NAVES: Inicialmente,


atenho-me à proposta do Ministro Gallotti; gostaria, no entanto, se vencida
tal proposta, de me colocar da seguinte maneira: o direito de se aposentar
é de ordem constitucional; portanto empecilho algum se lhe pode opor, de
sorte que, no caso, encontramo-nos diante de aposentadoria já ultimada;
além disso, carece o Conselho Nacional de Justiça de competência para
desconstituir ato de aposentadoria perfeito e acabado – o § 4º do art.
103-B não lhe atribui, nos incisos, competência de tal ordem. Só à norma
constitucional é lícito criar impedimento à aposentadoria; jamais a texto
infraconstitucional.
Vencida a proposta Gallotti, voto no sentido de nos declarar
incompetentes para processar e julgar a presente ação penal – somos
incompetentes, porque o denunciado Souto Maior se aposentou.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 2 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-PRELIMINAR

EXMO. SR. MINISTRO ARI PARGENDLER:

Sr. Presidente, o que importa, no caso, é o que dispõe o


Código de Processo Penal a respeito da prejudicialidade
jurídica heterogênea. O art. 92 trata do estado civil, que é
privativo do juízo cível. Nessa hipótese, "o curso da ação
penal ficará suspenso até que um juízo cível seja a
controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem
prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de
outras provas de natureza urgente ".

Já o art. 93, que trata do caso específico, segue uma


regra parecida.

"Se o reconhecimento da existência de infração penal


depender de decisão sobre questão diversa da prevista no
artigo anterior, da competência do juízo cível - que é do que
se trata no caso - e se nesse houver sido proposta ação para
resolvê-la, também, no caso, o juiz criminal poderá, desde que
essa seja uma questão de difícil solução e não verse sob
direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do
processo após a inquirição das testemunhas e realização das
outras provas de natureza urgente ".

Toda essa questão só é suscetível de ser ativada depois


do recebimento da denúncia. Por isso, não é uma questão que
devamos examinar agora. A prejudicialidade civil supõe o
início do processo. O que estamos decidindo é se vamos receber
a denúncia ou não. Enquanto não a recebermos, não podemos
suspender o processo.

Por essa fundamentação, rejeito a preliminar de


incompetência do Superior Tribunal de Justiça, indeferindo o
pedido de remessa dos autos ao Juízo Criminal da Comarca de
João Pessoa.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 3 de 118
Superior Tribunal de Justiça

AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-PRELIMINAR
Vencido

O. SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES:


Sr. Presidente, quando Coordenador da Justiça Federal, fui
designado pelo CNJ para presidir comissão composta por cinco Corregedores de
Justiça: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Ceará. Houve
muito debate sobre a inserção desse dispositivo.
Entendo que a questão não é a resolução que está em causa, mas a
competência: primeiro, do CNJ, para cassar uma aposentadoria dada pelo
Tribunal competente; segundo, do Superior Tribunal de Justiça.
Por tais motivos, acompanho o voto do Sr. Ministro Paulo Gallotti.
Voto pelo sobrestamento do julgamento do processo até a decisão
final do mandado de segurança impetrado no Supremo Tribunal Federal.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 4 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

PRIMEIRA PRELIMINAR

VOTO-PRELIMINAR

EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Sr.


Presidente, ouvi atentamente o debate, mas acompanho o voto da eminente Relatora,
porque, formalmente, não existe razão para se sustar o recebimento da denúncia.

Rejeito a preliminar de incompetência do STJ, indeferindo o pedido


de remessa dos autos ao Juízo Criminal da Comarca de João Pessoa, como requerido
pela defesa.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 5 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

PRIMEIRA PRELIMINAR

Voto-Preliminar

O SR. MINISTRO GILSON DIPP: Sr. Presidente, os acontecimentos e o


julgamento são feitos hoje, nesta sessão. O que fez o Tribunal de Justiça da
Paraíba? Concedeu administrativamente um ato de aposentadoria ao
magistrado. O que fez o Conselho Nacional de Justiça, que é o órgão nacional
do controle administrativo do Judiciário Brasileiro? Desconstituiu o ato
administrativo do Tribunal local. Se tem, ou não, a resolução atributos de
constitucionalidade, não cabe a nós, neste momento, decidirmos. Isso é matéria
de argüição de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal.
Há um ato administrativo que foi legitimamente desconstituído.
Pronto, não há aposentadoria. E a liminar, no mandado de segurança no
Supremo Tribunal Federal, refere, de forma muito clara, no início, que "não se
acham presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora" - diz o Relator. O
resto é digressão.
Então, nesse sentido, não há outra alternativa senão rejeitar a
preliminar. Desculpem-me os que pensam em contrário.
Rejeito a preliminar de incompetência do STJ, indeferindo o
pedido de remessa dos autos ao Juízo Criminal da Comarca de João Pessoa,
como requerido pela defesa.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 6 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-MÉRITO

O EXMO. SR. MINISTRO FRANCISCO FALCÃO: Sr. Presidente, como


relatou a eminente Ministra Eliana Calmon, os fatos narrados pelo Ministério Público são
graves e merecem uma apuração mais minuciosa, razão pela qual recebo a denúncia,
acompanhando o voto da Sra. Ministra Relatora.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 7 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-MÉRITO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ: Sr. Presidente, como já foi


dito, a Sra. Ministra Eliana Calmon examinou exaustivamente todas as imputações indicadas
pelo Ministério Público Federal na inicial acusatória.
As questões trazidas pelos nobres advogados são de mérito e demandam a
análise dos fatos, que deverão, então, ser examinados após a instrução criminal, sob o crivo
do contraditório, na qual os denunciados terão oportunidade de fazer as suas defesas, de
forma plena, como devem ser feitas em matéria criminal.
Com essas singelas considerações, também recebo a denúncia em todos os seus
termos, acompanhando o voto da eminente Ministra Relatora.

MINISTRA LAURITA VAZ

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 8 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

RATIFICAÇÃO DE VOTO-MÉRITO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ: Sr. Presidente, recebo a


denúncia nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora, porque S. Exa. examinou
exaustivamente todas as questões apresentadas.

MINISTRA LAURITA VAZ

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 9 9 de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX: Sr. Presidente, em um primeiro


momento, pela narrativa inicial da denúncia, imaginei que estaríamos diante de um delito
específico, que é o emprego irregular de verbas públicas. Mas o peculato traz o plus, que é a
apropriação em interesse próprio na figura do peculato desvio.
Verifiquei que a Sra. Ministra Eliana Calmon, nesse minuciosíssimo voto, em
que sobram diminutas arestas para qualquer comprovação em contrário, quer dizer, para
instrução superveniente, S. Exa. suscita que a parte alega, mas não prova e não demonstrou de
plano como deveria fazer para que houvesse uma rejeição da denúncia. Então, essas
passagens me fizeram concluir que, efetivamente, nesse momento embrionário da ação penal,
é imperioso que recebamos a denúncia nos termos em que a Sra. Ministra Relatora propôs.
Entretanto, uma intervenção antecipada do Sr. Ministro Ari Pargendler me
chamou a atenção para o fato de que Raquel Vasconcelos Maior Neto realizou apenas uma
viagem de assessoramento ao presidente, que tem o direito de eleger o assessor que deve
levar, e realizou apenas uma viagem de natureza institucional, porquanto essa viagem foi ao
58º Encontro do Colégio Permanente de Presidentes dos Tribunais de Justiça do Brasil.
Essa observação feita pelo Sr. Ministro Ari Pargendler me chamou a atenção
sob esse ângulo e, por essa razão, recebo em parte a denúncia nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora, excluindo a denunciada Raquel Vasconcelos Maior Neto.

PRESIDENTE O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA


RELATORA A SRA. MINISTRA ELIANA CALMON
CORTE ESPECIAL - 18.2.2009
Nota Taquigráfica

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 0de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-MÉRITO

O EXMO. SR. MINISTRO NILSON NAVES: Relativamente à


denunciada Raquel Vasconcelos, a denúncia, a exemplo de outros votos,
também a mim se me apresenta formalmente inepta. Mas vou além, Sr.
Presidente, vou porque, respeitosamente, estou rejeitando a denúncia,
toda a denúncia, por lhe faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Diz respeito o ponto principal destes autos a diárias –
irregularmente, segundo a denúncia, teriam sido elas concedidas a
Fabíola, Hilton e Raquel, daí se ter aqui invocado a figura do
peculato-desvio. Mas as pessoas lá indicadas, e aqui também
denunciadas, exerciam funções no Tribunal – foram nomeadas
regularmente, tanto o foram que a nomeação não se contestou e aqui não
se contesta. Recebiam, então, denúncias, quando devidas, previstas em
lei. Foi essa, lá na origem, a opinião do Ministério Público, e foi, esse, lá
na origem, o pronunciamento do Tribunal de Contas. Ora, se se trata de
nomeações e se se trata de regulares diárias concedidas a pessoas
regularmente nomeadas, dúvida tenho quanto à imputada ação de
peculato.
Há, no caso, comportamento reprovável? Talvez até haja:
nomeações de familiares e viagens não tão necessárias. Só que se
trataria de ato desviante de natureza não penal, isto é, tal comportamento
não seria, e não é, a meu ver, penalmente reprovável. Quem sabe não o
seria no campo administrativo.
Entre nós, caso há de alguma pertinência com este, refiro-me ao
precedente de 1993, da Bahia, já citado, e lá decidimos que o caso

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 1de 118
Superior Tribunal de Justiça
constituía excesso administrativo, mas não crime de peculato. Vejam que,
no caso, não se cuida de algo às escondidas – próprio da ação de
peculato –, porém de algo às claras – de frente, de viva voz (concessão
de diárias a pessoas regularmente nomeadas).
Sobre a ordenação de despesa não autorizada – Cód. Penal, art.
359-D –, a norma aí prevista é penal em branco, que, por isso, pressupõe
norma integradora, e essa não foi claramente indicada pela denúncia.
Com a vênia da eminente Relatora, bem como dos demais
ilustres votos, o meu voto rejeita a denúncia.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 2de 118
Superior Tribunal de Justiça
ERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2004/0061238-6 APn 477 / PB


MATÉRIA CRIMINAL

PAUTA: 17/12/2008 JULGADO: 18/02/2009


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relatora
Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU : MASM
ADVOGADOS : JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN E OUTRO(S)
LUÍS ALEXANDRE RASSI E OUTRO
RÉU : FACG
ADVOGADO : REBECA NOVAIS AGUIAR
RÉU : HSMN
ADVOGADOS : ALUÍSIO LUNDGREN CORRÊA RÉGIS
MARTINHO CUNHA MELO FILHO
RÉU : RVSM
ADVOGADOS : LUÍS ALEXANDRE RASSI
EDUARDO SÉRGIO CABRAL DE LIMA
ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Administração Pública ( art. 312 a 359 - H ) - Crime Praticado por
Funcionário Público contra a Administração em Geral - Prevaricação ( art. 319 )

SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentaram oralmente a Dra. Cláudia Sampaio Marques, Subprocuradora-Geral da República, o
Dr. José Eduardo Rangel de Alckmin, pelo réu Marcos Antônio Souto Maior, o Dr. Luís Alexandre
Rassi, pela ré Raquel Vasconcelos Souto Maior, o Dr. Aluísio Lundgren Corrêa Régis, pelo réu
Hilton Souto Maior Neto, e o Dr. Esdras dos Santos Carvalho, Defensor Público da União, pela ré
Fabíola Andréa Correa Guerra.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Corte Especial, por maioria, rejeitou a preliminar de incompetência do Superior
Tribunal de Justiça. Vencidos os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Nancy Andrighi, Luiz Fux, Nilson
Naves e Fernando Gonçalves; rejeitou, por unanimidade, as preliminares referentes ao cerceamento
de defesa, à violação do Princípio do Promotor Natural, à questão referente ao julgamento do
Tribunal de Contas da Paraíba e à decisão da Procuradoria-Geral de Justiça da Paraíba; julgou, por
unanimidade, prejudicada a preliminar referente à nomeação de defensor dativo; e rejeitou a

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 3de 118
Superior Tribunal de Justiça
preliminar referente à inépcia na inicial, acolhendo em parte apenas quanto ao pagamento de
precatórios.
No mérito, após o voto da Sra. Ministra Relatora recebendo a denúncia com relação a
Fabíola Andréa Corrêa Guerra, Hilton Souto Maior Neto e Raquel Vasconcelos Souto Maior, com
referência ao art. 312 do Código Penal, e recebendo a denúncia com relação a Marcos Antônio
Souto Maior por incurso nas previsões dos arts. 312 e 359-D do Código Penal e art. 10, n. 2
combinado com o art. 39-A, parágrafo único, da Lei nº 1.079/50, com redação dada pela Lei nº
10.028/00, no que foi acompanhada integralmente pelos votos dos Srs. Ministros Paulo Gallotti,
Francisco Falcão, Nancy Andrighi e Laurita Vaz e parcialmente pelo voto do Sr. Ministro Luiz Fux
rejeitando a denúncia apenas com relação a Raquel Vasconcelos Souto Maior, e o voto do Sr.
Ministro Nilson Naves rejeitando a denúncia por inépcia formal com relação a Raquel Vasconcelos
Souto Maior e por ausência de justa causa com relação a todos os réus, pediu vista o Sr. Ministro
Ari Pargendler.
Na preliminar de incompetência, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Laurita Vaz, Ari
Pargendler, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior e Gilson Dipp votaram com a Sra. Ministra
Relatora.
Nas preliminares de cerceamento de defesa, violação ao princípio do Promotor Natural, do
julgamento pelo Tribunal de Contas da Paraíba e da decisão da Procuradoria-Geral de Justiça da
Paraíba, nomeção de defensor dativo e inépcia da inicial, os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Francisco
Falcão, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Luiz Fux, Nilson Naves, Ari Pargendler, Fernando
Gonçalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior e Gilson Dipp votaram com a Sra. Ministra
Relatora.
No mérito, aguardam os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir
Passarinho Junior e Gilson Dipp.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido e João Otávio de
Noronha.

Brasília, 18 de fevereiro de 2009

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 4de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-VISTA

EXMO. SR. MINISTRO ARI PARGENDLER:

1. O Ministério Público Federal denunciou Marcos Antônio


Souto Maior, Desembargador afastado do Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba, do qual foi Presidente, por ter pago
diárias e passagens indevidas (CP, art. 312, caput, segunda
parte; L 1.079/50, art. 10, 2), bem assim por haver promovido
exposições de quadros originários do Museu do Louvre,
realizando despesas públicas sem prévia autorização
orçamentária (CP, art. 312, caput, segunda parte, L 1.079/50,
art. 10, 2) e por ter transferido recursos públicos para
pessoa jurídica de direito privado (CP, art. 359- D);
finalmente, por haver determinado o pagamento de precatório
sem a observância da ordem cronológica (sem capitulação
legal), tópico já vencido pelo reconhecimento da inépcia da
denúncia no particular.

As diárias e passagens foram pagas aos filhos de Marcos


Antônio Souto Maior e a esposa deste, respectivamente, Hilton
Souto Maior Neto, ocupante de cargo comissionado no Tribunal
(Assessor de Gabinete), Raquel Vasconcelos Souto Maior,
ocupante de cargo comissionado no Tribunal (Assessor Técnico
Judiciário), e Fabíola Andréa Correia Guerra, ocupante de
cargo comissionado no Tribunal (Coordenador da Infância e da
Juventude) – e, em razão disso, estes também foram denunciados
como incursos nas penas do art. 312, caput, segunda parte).

A relatora, Ministra Eliana Calmon, recebeu a denúncia,


salvo quanto à quebra na ordem de pagamento dos precatórios, e
adiantou que votaria pela condenação da advogada Rebeca
Novaes Aguiar ao pagamento de multa por litigância de má-fé.

2. Pedi vista dos autos, em primeiro lugar, pelo que já


havia antecipado na sessão em que o julgamento iniciou, como
seja, a situação de Raquel Vasconcelos Souto Maior,
beneficiária de diárias e passagens relativas a uma só viagem,
para assessorar o Presidente daquele Tribunal por ocasião do
58º Encontro do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais
de Justiça do Brasil; em segundo lugar, para estudar a
viabilidade do recebimento da denúncia pelo crime de peculato
e pelo crime de responsabilidade; finalmente, para pesquisar
acerca da pena de litigância de má-fé, aplicada a advogada em
processo criminal.

3. A denúncia tem como foco principal o crime de


peculato.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 5de 118
Superior Tribunal de Justiça
“O elemento subjetivo, no tocante ao
peculato-apropriação” – ensina Nelson Hungria – “é o dolo
genérico: vontade livre e conscientemente dirigida à
apropriação do dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, de
que se tem a posse em razão do cargo. Basta a vontade referida
à apropriação, sendo que esta pressupõe, conceitualmente, o
animus rem sibi habendi (ou seja, a intenção definitiva de não
restituir a res) e a obtenção de proveito (próprio ou alheio).
Já no caso de peculato-desvio, é necessário, além do dolo
genérico (vontade consciente e livre de empregar a coisa em
fim diverso daquele a que era destinada), o dolo específico:
intenção de proveito próprio ou de outrem (embora excluído o
animus rem sibi habendi). Não há peculato-desvio se o agente
muda o destino da coisa em proveito da própria administração
(ex: a verba destinada à construção de uma escola rural é
empregada na construção de calçamento da rua em que mora o
agente). Em tal caso, o crime que poderá configurar-se é o de
'emprego irregular de verbas' (art. 315)” – in Comentários ao
Código Penal, Forense, Companhia Editora Forense, Rio, 1959,
2ª edição, p. 349).

Duas são as condutas descritas na denúncia como passíveis


de punição pelo crime de peculato, na modalidade desvio.

Uma acusação, alcançando todos os denunciados, é a de que


as diárias e passagens foram pagas sem que tivessem relação
com o serviço, em continuidade delitiva – e isso basta para os
efeitos do recebimento da denúncia; a respectiva procedência
dependerá do que for apurado na instrução, salvo quanto a
Raquel Vasconcelos Souto Maior, a cujo respeito, salvo melhor
juízo, a denúncia não se sustenta a primo oculi.

Com efeito, o cargo de Assessor Técnico Judiciário, por


ela ocupado à época, é privativo de Oficial Superior da
Polícia Militar do Estado da Paraíba, cuja condição a denúncia
não lhe negou. Se assim é, as diárias e passagens a ela pagas
em função da viagem realizada à cidade de Belém no período de
09 a 14 de outubro de 2002, para assessorar o Presidente do
Tribunal no 58º Encontro do Colégio Permanente de Presidentes
de Tribunais de Justiça do Brasil, estavam no contexto dos
serviços que prestava como Assessor Técnico Judiciário
perante o Tribunal de Justiça, assim descritos no voto da
relatora: ”... assessoramento militar à Presidência ... bem
como outros correlatos determinados por este Regulamento e
pela autoridade competente”.

A outra acusação de peculato, na modalidade desvio,


restrita a Marcos Antônio Souto Maior, é a de que este, na
condição de Presidente do Tribunal, promoveu duas exposições
de obras de arte estrangeiras, à custa do dinheiro público.

O peculato, na modalidade desvio, supõe que a subtração


Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 6de 118
Superior Tribunal de Justiça
da verba pública vise proveito próprio ou alheio, in verbis:

'Art. 312 –

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público,


embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai,
ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário”.

A denúncia, todavia, deixou de descrever o elemento


subjetivo do tipo penal, qual seja, o intuito que animou o
agente, sequer atribuindo-lhe o ânimo de proveito próprio ou
alheio, in verbis:

“2º Fato

24. Nos anos de 2001 e 2002, quando exerceu a Presidência


do Tribunal de Justiça da Paraíba, o denunciado Marcos Antônio
Souto Mario, dando vazão ao seu espírito megalômano, promoveu
duas EXPOART, exposições de quadros trazidos do Louvre,
França.

25. A realização dos dois eventos, patrocinados com


recursos públicos, não tinha previsão orçamentária. Foram
gastos nas duas exposições valor superior a R$ 500.000,00,
sendo que, desse montante, R$ 221.311,59 foram pagos sem
empenho da despesa (fl. 194 e segs. do Apenso 14 e Apenso 18),
mediante pagamento direto ao fornecedor do produto e serviço
através de cheques, muitos deles, subscritos pelo próprio
denunciado. Os recursos para pagamento desses valores saíram
da conta nº 7930-8, do Banco do Brasil.

26. Em agosto de 2001, foi realizada a primeira EXPOART,


com exposição de 20 (vinte) telas de artistas de renome
internacional. Nesse evento foram gastos, com prévia emissão
de Nota de Empenho, a quantia de R$ 86.770,67 (oitenta e seis
mil, setecentos e setenta reais e sessenta e sete centavos),
conforme relatório constante à fl. 3 do apenso 15, sendo que
todos os produtos e serviços foram contratados sem prévia
licitação.

27. Apenas para efeito ilustrativo, cabe referir ás


despesas de fotografia, R$ 900,00; confecção de quadros de
madeira e compensado, R$ 5.700,00; locação de sistemas de
iluminação, R$ 3.000,00; transporte aéreo dos quadros
expostos, R$ 5.605,92; aquisição de bandeiras do Brasil e da
França, R$ 1.771,20; conjunto musical para o coquetel de
abertura, R$ 900,00; serviço de sonorização, R$ 2.000,00;
confecção de cartazes e folders, R$ 5.801,00; confecção da
revista da Expoart 2001, R$ 7.852,32; aquisição de 33 mastros
para bandeiras, R$ 7.953,00 (apenso 16).
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 7de 118
Superior Tribunal de Justiça

28. Isto tudo sem contar o que foi gasto com diárias,
passagens, restaurantes, treinamento de monitores, dentre
outros diversos serviços (cf. os documentos constantes do
apenso 16).

29. De 9 a 30 de agosto de 2002, o denunciado realizou a


“II Expoarte”. Para viabilização do evento, o Tribunal de
Justiça, por ordem do denunciado, gastou R$ 108.459,76 (cento
e oito mil, quatrocentos e cinqüenta e nove reais e setenta e
seis centavos) com a emissão de Nota de Empenho, todos
relativos a serviços contratados sem prévia licitação (fl.
230/312 do Apenso 14).

30. Foram feitos pagamentos pelos mais variados produtos


e serviços, cabendo mencionar os seguintes, devidamente
documentados no apenso 14: despesas de transporte, seguro,
embalagem, guarda e conservação dos valiosos quadros;
passagens aéreas – R$ 36.489,23 (fl. 116); despesas de diárias
pagas a servidores do Tribunal, que foram à Espanha em razão
da II Expoarte – inclusive o filho do denunciado; pagamento de
almoços, inclusive a jornalistas “a fim de informar
programação da Expoarte/2002” (fl. 250), no valor de R$
950,00; despesas de hospedagem, de ornamentação do Tribunal
para a abertura da Expoarte, no valor de R$ 3.800,00; painéis,
R$ 2.200,00; catálogos, R$ 7.920,00 (fl. 287); locação de
equipamentos e serviços de iluminação e sonorização do
Tribunal, R$ 7.950,00 (fl. 295); buffet para a abertura da II
Expoarte, R$ 7.500,00 (fl. 300); pagamento de pessoal
contratado especialmente para “elaboração de catálogos,
coordenação de monitores e organização de montagem da II
EXPOARTE”, R$ 4.000,00 (fl. 305).

31. Somente a Flávio César Capitulino, que se intitulava


Curador Internacional da Exposição, foram pagos pelos seus
serviços nas duas Expoarte, sem o prévio empenhamento da
despesa, o valor aproximado de R$ 180.000,00 (cento e oitenta
mil reais), isto sem contar os valores pagos mediante Nota de
Empenho.

32. Ressalte-se que muitos dos cheques emitidos pelo


Tribunal de Justiça para pagamento dos serviços e produtos
adquiridos para as duas Expoarte foram assinados pelo
denunciado ou tiveram autorização expressa dele no
procedimento administrativo correspondente – naqueles casos em
que houve a instauração do procedimento.

33. Assim agindo, o denunciado Marcos Antônio Souto Maior


consumou os crimes tipificados nos artigos 312 (na modalidade
desvio) e 359-D, ambos do Código penal, além do crime descrito
no art. 10, nº 2, c/c o art. 39-A, da Lei nº 1.079/50, com a
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 8de 118
Superior Tribunal de Justiça
redação dada pela Lei nº 10.028, de 19.10.2000”.

4. Conexo a esse fato está a circunstância de que o


dispêndio da verba pública se processou, segundo a denúncia,
sem prévia autorização legal (CP, art. 359-D).

No estado dos autos, não há prova de que essa despesa


extraordinária tenha sido autorizada, nem de que tenha sido
suportada exclusivamente pelo patrocínio de pessoas jurídicas
de direito privado.

A esse propósito, leia-se o que está escrito na auditoria


do Tribunal de Contas:

“... a utilização dos recursos diretamente arrecadados


nestas duas exposições, oriundos basicamente de patrocínios de
empresas privadas e públicas ...” (fl. 17, Apenso 12).

Basicamente, está dito, e não, exclusivamente, a


confirmar o que está afirmado pela própria defesa, in verbis:

“O evento teve uma pequena contrapartida estatal ...”


(fl. 1.907, 9º vol.).

Ainda em relação ao crime previsto no art. 359-D do


Código Penal, há nos autos cópias de dois cheques (19 de
setembro de 2001 e 23 de setembro de 2002, fl. 2.287/2.288,
vol. 10), transferindo recursos do Tribunal para a Associação
das Esposas dos Magistrados da Paraíba, pessoa jurídica de
direito privado.

Num caso e noutro, em concurso material.

5. Já o crime de responsabilidade previsto no art. 10, 2


da Lei nº 1.079, de 1950, está vinculado ao exercício do cargo
de Presidente do Tribunal, in verbis:

“Art. 39 –A – Constituem, também, crimes de


responsabilidade do Presidente do Supremo Tribunal Federal ou
de seu substituto quando no exercício da Presidência, as
condutas previstas no art. 10 desta Lei, quando por eles
ordenadas ou praticadas (Incluído pela Lei nº 10.028, de
19.10.2000).

Parágrafo único – O disposto neste artigo aplica-se aos


Presidentes, respectivos substitutos quando no exercício da
Presidência, dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de
Contas, dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho e
Eleitorais, dos Tribunais de Justiça e de Alçada dos Estados e
do Distrito Federal, e aos Juízes Diretores do Foro ou função
equivalente no primeiro grau de jurisdição (Incluído pela Lei
nº 10.028, de 19.10.2000) ."

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 0 9de 118
Superior Tribunal de Justiça
De fato, em tese Marcos Antônio Souto Maior poderia
responder por esse crime porque teve, como Presidente do
Tribunal, o poder de dispor sobre passagens e diárias, mas o
respectivo processo só poderia ser instaurado enquanto
ocupasse o aludido cargo, tal qual dispõe o art. 42 da Lei nº
1.079, de 1950, a saber:

“Art. 42 – A denúncia só poderá ser recebida se o


denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado
definitivamente o cargo”.

Tudo porque a norma aplicável a quem comete o crime de


responsabilidade é aquela prevista no art. 2º do mencionado
diploma legal, a cujo teor a pena é a perda do cargo, com
inabilitação para o exercício de qualquer função pública (até
cinco anos, segundo a Lei nº 1.079, de 1950, ou de oito anos,
se aplicado o art. 52, parágrafo único, da Constituição
Federal).

Perda do cargo é expressão que, nesse contexto, quer


dizer perda do cargo de Presidente do Tribunal, não do cargo
de magistrado. Essa conclusão decorre da mera leitura dos
arts. 39 e 39-A, parágrafo único, da Lei nº 1.079, de 1950. O
primeiro sujeita os Ministros do Supremo Tribunal Federal a
processo perante o Senado Federal por crimes de
responsabilidade. O segundo estende esse regime, salvo quanto
ao foro, aos Presidentes dos Tribunais Superiores, dos
Tribunais de Contas, dos Tribunais Regionais Federais, do
Trabalho e Eleitorais, dos Tribunais de Justiça e de Alçada
dos Estados e do Distrito Federal, e aos Juízes Diretores do
Foro ou função equivalente no primeiro grau de jurisdição a
processo, embora perante o foro competente.

6. A pena de litigância de má-fé está prevista no art. 16


e seguintes do Código de Processo Civil. A transposição da
norma para o processo penal, em caráter subsidiário, não
parece compatível com a ampla defesa autorizada pela
Constituição Federal, porque poderia inibir a atuação do
defensor, e há precedente do Superior Tribunal de Justiça a
esse respeito (HC 117.320, SC, relatora a Desembargadora
Convocada Jane Silva, DJ, 19.12.2008).

Como quer que seja, no processo civil a pena de


litigância de má-fé é aplicável à parte, e não ao advogado. O
Anteprojeto do Código de Processo Civil, segundo dá conta
Arruda Alvim, “era expresso em admitir que o juiz
responsabilizasse também o procurador, preceito este que não
subsistiu, na redação final da lei” (Código de Processo Civil
Comentado, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1975,
Vol. II, p. 147). Há projeto de lei na Câmara dos Deputados
sob nº 4.074/2008, que autoriza o juiz a punir o advogado com
a multa de 1% a 5% do valor da causa. Mas, por enquanto, é só
um projeto.
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 0de 118
Superior Tribunal de Justiça

Voto, por isso, no sentido de receber a denúncia contra:

I. Marcos Antônio Souto Maior, em parte,

a) pela prática do crime de peculato, na modalidade


desvio, tipificado no art. 312, caput, segunda parte, do
Código Penal c/c o art. 71 (passagens e diárias);

b) pela prática do crime de ordenação de despesa não


autorizada, previsto no art. 359-D do Código Penal, c/c o art.
69;

II. Hilton Souto Maior Neto e Fabíola Andréa Correia


Guerra, pelo crime do art. 312, caput, segunda parte, do
Código Penal, c/c o art. 71 (passagens e diárias).

Voto, ainda, no sentido de rejeitar a denúncia contra

I. Marcos Antônio Souto Maior quanto ao crime de


peculato, na modalidade desvio, no que diz respeito às duas
exposições de obras de arte estrangeiras e quanto ao crime de
responsabilidade.

II. Raquel Vasconcelos Souto Maior.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 1de 118
Superior Tribunal de Justiça

AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-MÉRITO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Sr. Presidente,

acompanho o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler no tocante à rejeição da


denúncia quanto a Marcos Antônio Souto Maior, pelo crime de peculato, na
modalidade de desvio, e pelo crime de responsabilidade e, também, em relação
a Raquel Vasconcelos Souto Maior.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 2de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX: Sr. Presidente, no dia do


julgamento, manifestei, aqui, uma pequena dúvida sobre se o tipo se enquadraria no uso
irregular de verba pública ou no delito de peculato. Depois, analisando os fatos, verifiquei que
o dolo é a vontade livre e consciente de praticar a atividade em si, não praticar o crime. Mas,
houve uma vontade livre e consciente de promover toda essa suposta orgia com o dinheiro
público.
Já naquela oportunidade, eu excluía da denúncia a denunciada Raquel
Vasconcelos Souto Maior, que engendrou uma viagem institucional a um encontro do colégio
de Presidentes. Entendi que não havia nenhum elemento típico. Agora, com esses
esclarecimentos prestados pelo Sr. Ministro Ari Pargendler, entendo absolutamente
irrespondível o fato de que, no momento do julgamento da ação penal, a parte não tem cargo
a perder porque não exerce mais esse cargo. Nós até já superamos a questão da aposentadoria.
Para todos os efeitos, ainda é Magistrado, mas não mais Presidente do Tribunal.
Com esses argumentos e com os fundamentos trazidos pelo Sr. Ministro Ari
Pargendler, pedindo vênia às opiniões divergentes, eu gostaria de retificar meu voto para
acrescentar minha integral adesão à proposta do Sr. Ministro Ari Pargendler.

PRESIDENTE O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA


RELATORA A SRA. MINISTRA ELIANA CALMON
CORTE ESPECIAL - 4.3.2009
Nota Taquigráfica

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 3de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-MÉRITO

EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Sr.


Presidente, também acompanho o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler, rogando
vênia à Sra. Ministra Relatora.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 4de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

VOTO-MÉRITO

O SR. MINISTRO GILSON DIPP: Sr. Presidente, acompanho o voto da Sra.


Ministra Relatora.

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 5de 118
Superior Tribunal de Justiça
AÇÃO PENAL Nº 477 - PB (2004/0061238-6)

AFASTAMENTO

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX: Sr. Presidente, é da jurisprudência


da Corte que, uma vez recebida a denúncia, impõe-se o afastamento.

PRESIDENTE O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA


RELATORA A SRA. MINISTRA ELIANA CALMON
CORTE ESPECIAL - 4.3.2009
Nota Taquigráfica

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 6de 118
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2004/0061238-6 APn 477 / PB


MATÉRIA CRIMINAL

PAUTA: 17/12/2008 JULGADO: 04/03/2009


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relatora
Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU : MASM
ADVOGADOS : JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN E OUTRO(S)
LUÍS ALEXANDRE RASSI E OUTRO
RÉU : FACG
ADVOGADO : REBECA NOVAIS AGUIAR
RÉU : HSMN
ADVOGADOS : ALUÍSIO LUNDGREN CORRÊA RÉGIS
MARTINHO CUNHA MELO FILHO
RÉU : RVSM
ADVOGADOS : LUÍS ALEXANDRE RASSI
EDUARDO SÉRGIO CABRAL DE LIMA
ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Administração Pública ( art. 312 a 359 - H ) - Crime Praticado por
Funcionário Público contra a Administração em Geral - Prevaricação ( art. 319 )

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler recebendo
em parte a denúncia com relação a Marcos Antônio Souto Maior pela prática do crime de peculato,
na modalidade desvio, combinado com o artigo 71 do Código Penal; pela prática do crime de
ordenação de despesa não autorizada, combinado com o artigo 69 do Código Penal; recebendo,
também, a denúncia contra Hilton Souto Maior Neto e Fabíola Andrea Correia Guerra, pelo crime
do art. 312, caput, segunda parte, do Código Penal, combinado com o art. 71; rejeitando-a
integralmente contra Raquel Vasconcelos Souto Maior; rejeitando-a, em parte, com relação a
Marcos Antônio Souto Maior, quanto ao crime de peculato na modalidade desvio no que diz
respeito às duas exposições de obras de arte estrangeiras e quanto ao crime de responsabilidade, no
que foi acompanhado pelos Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho
Junior e pelos Srs. Ministros Nancy Andrighi e Luiz Fux, que reformularam votos proferidos na
sessão anterior, e o voto do Sr. Ministro Gilson Dipp acompanhando integralmente a Sra. Ministra
Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 7de 118
Superior Tribunal de Justiça
Relatora, a Corte Especial, por maioria, rejeitou a preliminar de incompetência do Superior
Tribunal de Justiça. Vencidos os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Nancy Andrighi, Luiz Fux, Nilson
Naves e Fernando Gonçalves; rejeitou, por unanimidade, as preliminares referentes ao cerceamento
de defesa, à violação do Princípio do Promotor Natural, à questão referente ao julgamento do
Tribunal de Contas da Paraíba e à decisão da Procuradoria-Geral de Justiça da Paraíba; julgou, por
unanimidade, prejudicada a preliminar referente à nomeação de defensor dativo; rejeitou a
preliminar referente à inépcia na inicial, acolhendo em parte apenas quanto ao pagamento de
precatórios; rejeitou, por maioria, a denúncia contra Raquel Vasconcelos Souto Maior, recebendo-a
em parte contra Marcos Antônio Souto Maior: pela prática do crime de peculato na modalidade
desvio, tipificado no art. 312, caput, segunda parte, do Código Penal, combinado com o art. 71; pela
prática do crime de ordenação de despesas não autorizadas, previsto no art. 359-D, do Código
Penal, combinado com o art. 69; recebeu também em parte a denúncia quanto a Hilton Souto Maior
Neto e Fabíola Andréa Correia Guerra, pelo crime do art. 312, caput, segunda parte, do Código
Penal, combinado com o art. 71 e rejeitou, parcialmente, a denúncia contra Marcos Antônio Souto
Maior quanto ao crime de peculato na modalidade desvio, no que diz respeito às duas exposições de
obras de arte estrangeiras, e quanto ao crime de responsabilidade, nos termos do voto do Sr.
Ministro Ari Pargendler. E, por unanimidade, determinou o afastamento do Desembargador Marcos
Antônio Souto Maior de seu cargo, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
No mérito, os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior,
Nancy Andrighi e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Ari Pargendler. Vencidos parcialmente a
Sra. Ministra Relatora e os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Gilson
Dipp que recebiam a denúncia com relação a Fabíola Andréa Corrêia Guerra, Hilton Souto Maior
Neto e Raquel Vasconcelos Souto Maior, com referência ao art. 312 do Código Penal, e, também,
com relação a Marcos Antônio Souto Maior, por incurso nas previsões dos arts. 312, 359, d, do
Código Penal e art. 10, II, c/c o art. 39, a, parágrafo único, da Lei nº 1.079, de 1950, com redação
dada pela Lei nº 10.028, de 2000, e o Sr. Ministro Nilson Naves que rejeitou a denúncia por inépcia
formal com relação a Raquel Vasconcelos Souto Maior e por ausência de justa causa em relação a
todos os réus.
Quanto ao afastamento do cargo do réu Marcos Antônio Souto Maior, os Srs. Ministros
Paulo Gallotti, Francisco Falcão, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Luiz Fux, Nilson Naves, Ari
Pargendler, Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior e Gilson Dipp votaram com
a Sra. Ministra Relatora.
Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido e João Otávio de
Noronha.

Brasília, 04 de março de 2009

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

Documento: 849651 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/10/2009 Página 1 1 8de 118

Você também pode gostar