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Pois bem. O Policial Militar de Santa Catarina apó s completar os 30 (trinta) anos de
serviço militar, sendo destes, 25 (vinte e cinco) anos em atividade de carreira, adquire
o direito à aposentadoria ou, no caso dos militares, a transferência para a reserva
remunerada, conforme preconizava o Estatuto da PMSC, Lei nº 6.218/1983:
Art. 104 - A transferência para a reserva remunerada, a pedido, será concedida ao militar estadual que
contar, no mínimo:
I – 30 (trinta) anos de serviço, se homem, desde que 25 (vinte e cinco) anos sejam de efetivo serviço na
carreira policial militar;
Sendo assim, verifica-se que o Autor já contava com mais de 20 (vinte) anos de
exercício na carreira de policial militar e mais de 30 (trinta) anos de serviço pú blico, o
que lhe garantia o direito à aposentadoria voluntá ria muito antes da ida para a
reserva, bastando observar ainda o que consta na documentaçã o apresentada nos
autos digitais, inexistindo razã o pró xima ou remota para lhe afastar o direito ao abono
permanência desde que completou o tempo para sua percepçã o.
Excluir os servidores militares da disposiçã o constitucional seria o mesmo que
admitir que há servidores de primeira e segunda classe, e nesta residiriam os policiais
militares, encampando um inadmissível contrassenso da ordem constitucional,
bastando observar a igualdade reservada no § 4º, do art. 40, da Carta Magna, in verbis:
§ 4º É vedado a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares,
os casos de servidores: [...];
II - que exerçam atividades de risco;
Logo, na exata conjugaçã o do disposto no inciso I,do § 1º, da LCE n. 24/86, simétrico
com a Lei Complementar Federal n. 51/1985, e o referido § 1º e § 19, do art. 40, da CR,
tem-se que o Autor faz jus à percepçã o do abono de permanência.
Importa ressaltar que nã o obstante a ausência de previsã o expressa do direito de
Abono de Permanência com critérios diferenciados, inexiste ó bice à percepçã o desse
direito para os servidores aposentados com fundamento no § 4º do art. 40 da CF, e
que por isso merecem igual tratamento dispensado à aposentadoria voluntá ria
comum. Caso contrá rio, estar-se-ia violando o princípio da isonomia expresso no art.
5º do mesmo diploma.
Aliá s, o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a matéria, já se posicionou no sentido
de que os servidores que executem atividade de risco e que, portanto, fazem jus à
aposentadoria voluntá ria com tempo inferior à quele ditado pela alínea 'a', do § 1º, do
art. 40, CRFB/88, possuem direito a percepçã o do abono de permanência criado pela
EC n. 41/03, ao argumento de que, em essência, nã o existe distinçã o entre a
aposentadoria voluntá ria comum e à voluntá ria especial, sob pena de injustificado
discrímen, ex vi:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. INTEGRANTE
DE CARREIRA POLICIAL. APOSENTADORIA ESPECIAL. RECEPÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR Nº 51/85.
PRECEDENTES DO PLENÁRIO DESTA CORTE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Aos integrantes da
carreira policial é deferida a possibilidade de requerer aposentadoria especial, nos termos da Lei
Complementar nº 51/1985, dado que sua atividade se enquadra no critério de perigo ou risco. 2. A Lei
Complementar nº 51/1985, que disciplina a aposentadoria dos servidores integrantes da carreira militar, foi
recebida pela Constituição Federal de 1988, consoante decidiu o Plenário do Supremo Tribunal Federal no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.817 e do Recurso Extraordinário nº 567.110/AC,
relatados pela Ministra Cármen Lúcia, publicados em 24.11.2008 e 11 de abril de 2011, respectivamente. 3.
In casu, assim decidiu o Tribunal Regional Federal da 4ª Região: “EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
QUE EXECUTA ATIVIDADES DE RISCO. DIREITO À PERCEPÇÃO DO "ABONO PERMANÊNCIA" INSTITUÍDO PELA
EMENDA CONSTITUCIONAL 41/2003, INTRODUZINDO O § 19 DO ART. 40 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
LIMITE TERRITORIAL DA SENTENÇA. 1. Em prestigiamento a uma interpretação analógica extensiva, também
devem ser incluídos na possibilidade de percepção do abono de permanência instituído pela EC 41/2003 os
servidores que executam atividades de risco, eis que, na essência, não existente distinção entre
aposentadoria voluntária comum e a voluntária especial. Não é justo nem razoável haja um discrímen
quanto ao deferimento de um benefício também de índole previdenciária só porque há tratamento
diferenciado quanto aos critérios para a aposentação. Não pode o intérprete desigualar os que na essência
são iguais. Precedentes do STJ. 2. A limitação territorial da eficácia da sentença prolatada em ação coletiva,
prevista no art. 2º-A da Lei 9.494/97, deve ser interpretada em sintonia com os preceitos contidos no Código
de Defesa do Consumidor, entendendo-se que os "limites da competência territorial do órgão prolator" de
que fala o referido dispositivo, não são aqueles fixados na regra de organização judiciária, mas, sim, aqueles
previstos no art. 93 daquele diploma legislativo consumerista. In casu, o sindicato autor representa a
categoria em todo o Estado do Paraná, pelo que a sentença deve favorecer a todos os seus filiados.” (STF, RE
n. 609.043, rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. 28.5.13).
Por fim, extrai-se dos documentos acostos, que a renda líquida mensal do Autor é
inferior a 03 salá rios mínimos, demostrando assim, de forma inequívoca, sua
impossibilidade para arcar com o pagamento das custas e despesas judiciais sem
prejuízo do pró prio sustento e de sua família, requerendo, portanto, com fundamento
no art. 5º, inciso LXXIV da Constituiçã o Federal e no art. 98 e seguintes do Có digo de
Processo Civil, a concessã o dos benefícios da assistência judiciá ria gratuita.
4. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Ante o exposto, REQUER:
a) A citaçã o do Réu por carta, para responder a demanda, caso queira;
b) A procedência total da açã o para declarar/reconhecer o direito do Autor ao
recebimento do abono de permanência, com a consequente condenaçã o do Réu ao
pagamento das parcelas desde a data em que foram preenchidos os requisitos,
acrescidas de juros e correçã o monetá ria até o efetivo pagamento pelo Réu.
c) O julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 355, inciso I do NCPC,
porquanto a questã o de mérito versa exclusivamente sobre matéria de direito;
d) A dispensa da designaçã o de audiência de conciliaçã o, por ser medida inó cua e
contrá ria à celeridade processual do objeto desta demanda;
e) A concessã o do benefício da Justiça Gratuita ao Autor;
f) A condenaçã o do Requerido ao pagamento das custas judiciais e honorá rios
advocatícios, estes nos termos do art. 85, § 3º, do Có digo de Processo Civil.
g) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direitos admitidos;
h) Por fim, que as futuras intimaçõ es e notificaçõ es sejam todas feitas em nome do
advogado subscritor.
Dá -se a causa o valor de R$ 58.492,21.
Pede deferimento.
Florianó polis/SC, 11 de dezembro de 2019.
Advogado
OAB/SC