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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
2ª CÂMARA CRIMINAL
Habeas corpus nº 0091602-72.2020.8.19.0000
Impetrante: DR. YUKI HILTON DE NORONHA
Paciente: FABIANO HENRIQUE DOS SANTOS
Aut. Coatora: JUÍZO DE DIREITO DA 38ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA
CAPITAL/RJ
Relator: Des. ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO

EMENTA: HABEAS CORPUS – PACIENTE QUE TEVE PRISÃO


PREVENTIVA DECRETADA DIANTE DE GRAVÍSSIMAS IMPUTAÇÕES
QUE FORAM OBJETO DE INVESTIGAÇÃO DEFLAGRAÇÃO DE
OPERAÇÃO DENOMINADA “SHARK” PARA APURAR SUPOSTA
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA NO COMETIMENTO DE CRIMES DE
LAVAGEM DE VALORES PROVENIENTES DO TRÁFICO DE DROGAS,
CRIME ANTECEDENTE EM TESE PRATICADO PELAS FACÇÕES
CRIMINOSAS CONHECIDAS COMO COMANDO VERMELHO (CV) E
TERCEIRO COMANDO PURO (TCP) - PLEITO DE REVOGAÇÃO DA
PRISÃO CAUTELAR POR AUSÊNCIA DOS REQUISITOS
AUTORIZADORES PARA A MANUTENÇÃO DO CÁRCERE
IMPOSSIBILIDADE – MATERIALIDADE COMPROVADA – FORTES
INDÍCIOS DE AUTORIA – ELEMENTOS COLHIDOS DURANTE A
INVESTIGAÇÃO POLICIAL INDICAM A SUPOSTA ATUAÇÃO DO

HABEAS CORPUS Nº 0091602-72.2020.8.19.0000


Gabinete do Des. ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO

ANTONIO JOSE FERREIRA CARVALHO:7562 Assinado em 05/02/2021 21:56:33


Local: GAB. DES ANTONIO JOSE FERREIRA CARVALHO
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PACIENTE NO CONGLOMERADO CRIMINOSO - DECRETO


SATISFATORIAMENTE FUNDAMENTADO PARA A GARANTIA DA
ORDEM PÚBLICA, POR CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL E
PARA ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL – INVIABILIDADE, NO
CASO CONCRETO, DE APLICAÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR DIVERSA
DA CUSTÓDIA PREVENTIVA – PRIMARIEDADE, AUSÊNCIA DE MAUS
ANTECEDENTES, RESIDÊNCIA FIXA E TRABALHO LÍCITO QUE, DE PER
SI, NÃO POSSUEM O CONDÃO DE ASSEGURAR A LIBERDADE DA
PACIENTE – ENTENDIMENTO SEDIMENTADO NA JURISPRUDÊNCIA -
PROCESSO EM FASE EMBRIONÁRIA – CONCESSÃO DE LIBERDADE
QUE SE AFIGURA PREMATURA – QUESTÕES RELACIONADAS AO
MÉRITO QUE ENVOLVEM A ANÁLISE APROFUNDADA DO CONJUNTO
PROBATÓRIO, INADMISSÍVEL NA VIA ELEITA - CONSTRANGIMENTO
ILEGAL INEXISTENTE – ORDEM DENEGADA.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº


0091602-72.2020.8.19.0000 em que é Impetrante o Dr. YUKI HILTON DE
NORONHA, Paciente FABIANO HENRIQUE DOS SANTOS e Autoridade Coatora o
MM. Juiz de Direito da 38ª Vara Criminal da Comarca da Capital/RJ.

ACORDAM os Desembargadores que compõem a 2ª Câmara


Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade,
em DENEGAR A ORDEM, na forma do voto do Des. Relator.

Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2021.

Des. ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO


Relator

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RELATÓRIO

Habeas corpus impetrado em favor de FABIANO HENRIQUE DOS


SANTOS, sob a alegação de constrangimento ilegal em razão da decretação de
sua prisão preventiva.
Sustenta o Impetrante a ausência dos requisitos autorizadores para
a decretação da medida extrema.
Requer, portanto, liminarmente, a revogação da prisão preventiva
decretada, ressaltando ser o Paciente primário, sem maus antecedentes,
possuidor de residência fixa e trabalho lícito, além do que os crimes a ele
imputados não foram perpetrados com violência ou grave ameaça contra
pessoas, não oferecendo ele qualquer risco à garantia da ordem pública e
conveniência da instrução criminal.
Informações da Autoridade apontada como Coatora, às fls. 71/93.
Liminar indeferida à fl. 95.
Parecer da douta Procuradoria de Justiça às fls. 97/114, opinando
pela denegação da ordem.

É o relatório.

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VOTO

Colhe-se dos autos que o Paciente teve sua prisão preventiva


decretada em 17.12.2020 e demais denunciados, nos autos da ação penal nº
0021290-05.2019.8.19.0001, a partir de investigações que desencadearam a
“Operação Shark”, que apurou suposta organização criminosa no
cometimento de crimes de lavagem de valores provenientes do tráfico de
drogas, crime antecedente em tese praticado pelas facções criminosas
conhecidas como Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP).
O impetrante pretende liminarmente a concessão da ordem para
que seja concedida a liberdade provisória do Paciente e, no mérito, a
concessão da ordem.
Não há nenhuma ilegalidade na prisão e, assim, permanecem
íntegros os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal, pelo que
deve a segregação ser mantida para a mostra indispensável para garantia da
ordem pública e da instrução criminal.
Neste sentido a MM. Juíza, criteriosamente, proferiu extensa
decisão, fundamentando suficientemente a necessidade da decretação da
medida extrema, senão vejamos:

“… O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


ofereceu denúncia em face de JORGE LUCINDO SILVA (1), JOÃO
VICTOR (2), ALEXANDRA CUNHA (3), JEFFERSON BATISTA (4),
SILMARA SILVA (5), APARECIDO ALVES (6), KEVERSON CARLOS (7),

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PATRÍCIA REGINA (8), CLÉBER BERGAMASCO (9), WILLIAN


CARVALHO (10), FÁBIO TADEU (11), ROSINALDO ALVES (12),
NELSON APARECIDO (13), JOÃO PEDRO BRAGA (14), MARIA
HELENA PARPINELLI (15), KARINA TAGLIACOL (16), FABIANO
HENRIQUE (17), JONAS SINHORELLI (18), DIEGO GABRIEL (19),
CLEIDE DEISS (20), JOSÉ CARLOS DEISS (21) e NILSON OLDAIR
(22), MARCELO VIEIRA (23), RAFAEL MANDU (24), TATIANE BRÁS
(25), ATANAEL MACIEL (26), PABLO MELO (27), MATHEUS SILVA
(28) e LUIZ HENRIQUE (29), como incursos nas penas dos
seguintes artigos: Denunciados (1), (2), (3), (23), (24) e (25) - artigo
1º, §4º da Lei nº 9.613/98, na forma do disposto no artigo 69
do Código Penal; Denunciado (26) - artigo 1º, §4º da Lei nº
9.613/98 (2x), n/f do artigo 71 do Código Penal; Denunciado (27) -
artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98 (2x), n/f do artigo 69 do
Código Penal; Denunciado (28) - artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98
(2x), n/f artigo 71; artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98 (2x), n/f artigo
71 e artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98, - tudo n/f do artigo 69
do Código Penal; Denunciado (29) - artigo 1º, §4º da Lei nº
9.613/98 (3x), n/f artigo 71; artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98 (4x),
tudo n/f do artigo 69 do Código Penal; Denunciados (4) e (5) -
artigo 2º, §4º, IV da Lei nº 12.850/2013 e artigo 1º, §4º da Lei nº
9.613/98, n/f do artigo 29 do CP, c/c artigo 69 do CP; Denunciado (6)
artigo 2º, §4º, IV da Lei nº 12.850/2013 e artigo 1º, §4º da Lei nº

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9.613/98 (2x), n/f do artigo 29 do CP, todos c/c artigo 69 do


Código Penal; Denunciado (7) - artigo 2º, §§ 3º e 4º, IV da Lei nº
12.850/2013 e artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98, n/f do artigo 29 do
CP, todos c/c artigo 69 do Código Penal; Denunciado (8) - artigo
2º, §4º, IV da Lei nº 12.850/2013 e artigo 1º, §4º da Lei nº
9.613/98 (20x) - (Capítulo V, letras D {1x}, E {1x}, F {1x}, G {1x}, H {2x
n/f art. 71 CP}, I {2x n/f art. 69 CP}, J {2x n/f art. 71 CP + 2x n/f art.
71 CP + 1x, todos n/f art. 69 CP} e K {4x + 3x n/f art. 71 CP}), n/f do
artigo 29 do CP, todos c/c artigo 69 do Código Penal; Denunciado
(9) - artigo 2º, §4º, IV da Lei nº 12.850/2013 (Capítulo IV) e
artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98, 20x (Capítulo V, letras D {1x}, E
{1x}, F {1x}, G {1x}, H {2x n/f art. 71 CP}, I {2x n/f art. 69 CP}, J {2x n/f
art. 71 CP + 2x n/f art. 71 CP + 1x, todos n/f art. 69 CP} e K {4x + 3x
n/f art. 71 CP}), n/f do artigo 29 do CP, todos c/c artigo 69 do Código
Penal; Denunciado (10) artigo 2º, §4º, IV da Lei nº 12.850/2013
(Capítulo IV) e artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98 (20x) - (Capítulo V,
letras D {1x}, E {1x}, F {1x}, G {1x}, H {2x n/f art. 71 CP}, I {2x n/f art.
69 CP}, J {2x n/f art. 71 CP + 2x n/f art. 71 CP + 1x, todos n/f art. 69
CP} e K {4x + 3x n/f art. 71 CP}), n/f do artigo 29 do CP, todos c/c
artigo 69 do Código Penal; Denunciado (11) - artigo 2º, §§ 3º e
4º, IV da Lei nº 12.850/2013 (Capítulo IV) e artigo 1º, §4º da
Lei nº 9.613/98, 20x (Capítulo V, letras D {1x}, E {1x}, F {1x}, G {1x},
H {2x n/f art. 71 CP}, I {2x n/f art. 69 CP}, J {2x n/f art. 71 CP + 2x n/f

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art. 71 CP + 1x, todos n/f art. 69 CP} e K {4x + 3x n/f art. 71


CP}), n/f do artigo 29 do CP, todos c/c artigo 69 do Código
Penal; Denunciados (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19),
(20), (21) - artigo 2º, §4º, IV da Lei nº 12.850/2013; Denunciado
(22) - artigo 2º, §§ 3º e 4º, IV da Lei nº 12.850/2013. Inicialmente,
verifico que há prova de materialidade e indícios da autoria dos
crimes que foram imputados aos denunciados, que decorrem das
investigações, principalmente dos relatórios do COAF, da quebra de
sigilos bancários, fiscais, telefônicos e telemáticos, além de relatórios
policiais e demais elementos que constam do inquérito e dos
apensos sigilosos, os quais foram capazes de demonstrar a existência
de uma associação criminosa voltada para a prática do crime de
lavagem de capitais oriundos do tráfico ilícito de entorpecentes
praticado pelas facções criminosas com atuação no Rio de Janeiro,
quais sejam, Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro
(TCP), como se vê do Relatório Final do Inquérito, onde a ação de
cada um dos denunciados foi cuidadosamente analisada de acordo
com os elementos constantes dos autos. Outrossim, figuram-se
presentes dos requisitos do artigo 41 do CPP e ausentes quaisquer
das hipóteses previstas no art. 395 do CPP, além da exordial
acusatória atender ao disposto no art. 2º § 1º da Lei nº 9.613/98, na
medida em que veio devidamente instruída com suporte probatório
capaz de evidenciar a existência de indícios suficientes da prática do

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delito antecedente, qual seja, tráfico ilícito de drogas no município


do RJ, que é objeto de apuração em outra ação penal (art. 2º,II),
bem como a probabilidade de que os bens, direitos e valores
ocultados/dissimulados mencionados na denúncia e constantes das
declarações aos fisco, sejam provenientes, direta ou
indiretamente, do supra referido crime antecedente. Vê-se, portanto,
que a denúncia descreve de forma clara os crimes de lavagem
de dinheiro e organização criminosa que são imputados aos
denunciados e encontra-se lastreada em suporte probatório apto
a ensejar a viabilidade da ação penal e o exercício da ampla
defesa, evidenciando a presença da necessária justa causa. Com
efeito, consta dos autos, que a partir do depósito da quantia de R$
99.600,00, em notas malcheirosas e sujas, feito no dia
28/01/2019, na conta de uma empresa situada em Curitiba, foi
possível descortinar a atuação de uma organização criminosa
muito bem estruturada, usada para ocultar e dissimular a
origem espúria do dinheiro auferido no tráfico ilícito de drogas,
pelas facções rivais, Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando
Puro (TCP), com as quais mantinha certa conexão, embora se
mantive autônoma em relação às mesmas. Através das diligencias
investigatórias, apurou-se que desde o ano de 2014, a ORCRIM
atuava nos estados de SP, PR e MS, onde eram mantidos núcleos
de atuação local, com lideranças e aliciadores de empresas locais,

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cujas contas bancárias eram usadas para depósitos de dinheiro


em espécie, vindo diretamente do tráficos de drogas carioca, bem
como, serviam de ´contas de passagem´, no processo de
sucessivas transferências para o branqueamento desses valores
de origem ilícita, chegando-se, assim, as condutas de cada um
dos denunciados, conforme minuciosamente individualizado na
denúncia. Presente, pois, a justa causa para deflagração da
ação penal. Considerando que estão presentes os requisitos do art.
41 do CPP e ausentes as hipóteses do art. 395 do CPP, RECEBO A
DENÚNCIA oferecida pelo Ministério Público, nos termos do Art. 395,
a contrário sensu, do CPP. Autue-se. Atenda-se aos itens 2.1; 2.2; 2.3
e 2.5 da cota ministerial. Citem-se os acusados para, em 10
(dez) dias, oferecer defesa escrita (art. 396, CPP), por advogado
que venham a constituir, ficando cientes que o não oferecimento da
defesa no prazo, implicará na nomeação da Defensoria Pública para
o patrocínio de seus interesses processuais. - DO PEDIDO DE
DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA O Ministério Público, ao
oferecer denúncia, requereu a decretação da prisão preventiva dos
denunciados, ao argumento de que a custódia cautelar é necessária
para garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal
e aplicação da lei penal, pressupostos legais que afirma se
encontrarem presentes. Como é sabido, a lei permite a constrição da
liberdade individual do cidadão, de forma excepcional, quando seja

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para resguardo das ordens pública e econômica, da conveniência da


instrução criminal e da possível aplicação da lei penal, desde que
existam indícios suficientes de autoria e prova da existência do
crime, os quais restaram acima demonstrados, acarretando,
inclusive, o recebimento da denúncia. A análise dos autos demonstra
haver sérios indícios de que os denunciados JEFFERSON BATISTA (4),
SILMARA SILVA (5), APARECIDO ALVES (6), KEVERSON CARLOS (7),
PATRÍCIA REGINA (8), CLÉBER BERGAMASCO (9), WILLIAN CARVALHO
(10), FÁBIO TADEU (11), ROSINALDO ALVES (12), NELSON
APARECIDO (13), JOÃO PEDRO BRAGA (14), MARIA HELENA
PARPINELLI (15), KARINA TAGLIACOL (16), FABIANO HENRIQUE (17),
JONAS SINHORELLI (18), DIEGO GABRIEL (19), CLEIDE DEISS (20),
JOSÉ CARLOS DEISS (21) e NILSON OLDAIR (22), integram
organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada
pela divisão de tarefas exercidas por cada um dos denunciados,
conforme expressamente mencionado quando do recebimento da
denúncia com o objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem econômica mediante a prática de crimes de lavagem de
valores provenientes do tráfico de drogas, crime antecedente
praticado pelas facções criminosas conhecidas como Comando
Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP), mantendo com
elas estreita conexão. Por outro lado, em relação aos denunciados
JORGE LUCINDO SILVA (1), JOÃO VICTOR (2), ALEXANDRA CUNHA

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(3), MARCELO VIEIRA (23), RAFAEL MANDU (24), TATIANE BRÁS


(25), ATANAEL MACIEL (26), PABLO MELO (27), MATHEUS SILVA (28)
e LUIZ HENRIQUE (29), há, também, fortes indícios da prática do
crime previsto no art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98, ou seja, lavagem de
dinheiro do tráfico ilícito de entorpecentes, qualificado por ser
cometido de forma reiterada e através da organização criminosa
mencionada no parágrafo anterior . Vejamos, pois, as condutas
atribuídas a cada um dos denunciados, segundo a exordial
acusatória e os elementos de prova carreados aos autos: (1) JORGE
LUCINDO (RJ), há indícios de ser ligado ao tráfico de drogas
controlado pela facção Comando Vermelho, tendo efetuado
depósitos de valores que seriam oriundos da mercancia ilícita, nas
contas das empresas HASS e A.ALVES nos dias 21 e 28 de janeiro de
2019 e, na conta da empresa, HEXXA, nos dias 04 e 14 de janeiro de
2019; (2) JOÃO VICTOR (RJ), seria ligado ao tráfico de drogas
controlado pela facção Comando Vermelho, tendo efetuado
depósitos de valores oriundos da mercancia ilícita, nas contas das
empresas HASS e A.ALVES nos dias 21 e 28 de janeiro de 2019;
(3) ALEXANDRA CUNHA (RJ), existem indícios de a referida
denunciada ser ligada ao tráfico de drogas controlado pela facção
Comando Vermelho, tendo efetuado depósitos de valores oriundos
da mercancia ilícita, na conta da empresa HEXXA, nos dias 04 e
14 de janeiro de 2019; (4) JEFFERSON BATISTA e (5) SILMARA

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SILVA, (núcleo de Curitiba), são casados e titulares das empresas


HASS e IBR, que são administradas pelo denunciado KEVERSON,
e que teriam sido abertas com a finalidade de receber depósitos
e efetuar movimentações posteriores e sucessivas em sua conta
corrente, para branquear o capital ilícito, sendo tal crime foi
cometido por intermédio dessa organização criminosa. (6)
APARECIDO ALVES, (núcleo de Curitiba) titular dessa empresa
A.ALVES, que é administrada pelo denunciado KEVERSON, aberta,
em tese, com a finalidade de receber depósitos e efetuar
movimentações posteriores e sucessivas em sua conta corrente,
para branquear o capital ilícito, sendo tal crime foi cometido
por intermédio dessa organização criminosa. (7) KEVERSON,
apontado como o líder do núcleo de Curitiba e aliciador de novos
integrantes da ORCRIM. Seria o real administrador das empresas
A.ALVES, HASS e IBR usadas para receber depósitos e efetuar
movimentações posteriores e sucessivas, para branquear o
capital ilícito, sendo tal crime foi cometido por intermédio dessa
organização criminosa. (8) PATRÍCIA REGINA, (núcleo de Curitiba)
titular dessa empresa HEXXA, que teria sido aberta com a finalidade
de receber depósitos e permitir movimentações posteriores e
sucessivas em sua conta corrente, para branquear o capital
ilícito, sendo tal crime foi cometido por intermédio dessa
organização criminosa. (9) CLÉBER BERGAMASCO, (núcleo de

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Curitiba) é marido de PATRÍCIA, e a teria auxiliado na abertura e


administração da conta corrente da empresa HEXXA, sob o
comando de WILLIAN e FÁBIO, usada pela ORCRIM com a
finalidade de propiciar depósitos e movimentações posteriores e
sucessivas em sua conta corrente, para branquear o capital
ilícito, sendo tal crime foi cometido por intermédio da
organização criminosa. (10) WILLIAN CARVALHO, apontado como
aliciador do núcleo de Ribeirão Preto, onde exerceria a função de
abrir empresas para movimentação de valores, tendo uma conta
própria, além de movimentar contas em nome de Rosinaldo,
ABGT, G4, Jonas Sinhorelli e KTCS, além de exercer o controle e
comando na empresa HEXXA, juntamente com FÁBIO, que é
utilizada pela ORCRIM com a finalidade de propiciar depósitos e
movimentações posteriores e sucessivas, para branquear o
capital ilícito, sendo tal crime foi cometido por intermédio da
organização criminosa. (11) FÁBIO TADEU é apontado como
Líder do núcleo de Ribeirão Preto, onde também exerce o
controle e comando na empresa HEXXA, utilizada pela ORCRIM
com a finalidade de propiciar depósitos e movimentações
posteriores e sucessivas, para branquear o capital ilícito, sendo tal
crime foi cometido por intermédio da organização criminosa. (12)
ROSINALDO ALVES apontado como aliciador do núcleo de
Ribeirão Preto e contador das empresas integrantes da ORCRIM

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em Ribeirão Preto, dentre elas KTCS (de Karina e Fabiano),


Cazarotti (de Fábio e Willian), JS (de Jonas) e G4 (João Pedro e Maria
Helena). É também sócio da empresa ALVES & ALVES e da
sociedade ROSINALDO ALVES DA CUNHA que movimentou a
quantia de R$ 824.162,00. Apontado como o responsável pela
abertura e legalização e/ou escolha das empresas usadas no
esquema, usando seus conhecimentos como contador para tanto.
(13) NELSON GOMES, (núcleo de Ribeirão Preto) é titular da empresa
ABGT, havendo fortes indícios nos autos que a mesma é usada pela
ORCRIM com a finalidade de propiciar depósitos e
movimentações posteriores e sucessivas em sua conta corrente,
havendo, depósitos em dinheiro no valor de R$ 12.294.170,00 e
transferências para a conta de WILLIAN, alcançando o valor de R$
19.027.979,00, tudo para branquear o capital ilícito, sendo tal crime
foi cometido por intermédio da organização criminosa. (14)
JOÃO PEDRO e (15) MARIA HELENA, (núcleo de Ribeirão Preto)
são titulares da empresa G4, que seria usada pela ORCRIM com
a finalidade de propiciar movimentações sucessivas em sua
conta corrente, principalmente, através das contas de WILLIAN e
ROSINALDO, chegando a um valor de R$ 26.887.735,00, tudo para
branquear o capital ilícito, sendo tal crime foi cometido por
intermédio da organização criminosa. (16) KARINA TAGLIACOL e (17)
FABIANO HENRIQUE, (núcleo de Ribeirão Preto) são titulares da

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empresa KTCS, que movimentou a quantia de R$13.491.443,00, dos


quais R$ 337.900,00 foram transferidos para a conta de
titularidade de CLEIDE e também manteve transações com WILLIAN,
tendo recebido de depósito expressivo com cédulas malcheirosas e
malconservadas, de agência localizada próxima a comunidade do
Rio de Janeiro, tudo indicando que a empresa é usada pela ORCRIM
com a finalidade de propiciar depósitos e movimentações
posteriores e sucessivas em sua conta corrente, para branquear o
capital ilícito, sendo tal crime foi cometido por intermédio da
organização criminosa. (18) JONAS SINHORELLI, (núcleo de
Ribeirão Preto), titular das empresas JONAS TURISMO e JONAS
SINHORELI LOCAÇÕES, que seriam usadas pela ORCRIM com a
finalidade de propiciar depósitos e movimentações posteriores e
sucessivas em sua conta corrente, para branquear o capital
ilícito, sendo tal crime foi cometido por intermédio da
organização criminosa. (19) DIEGO GABRIEL, (núcleo de Ribeirão
Preto) titular da empresa Camargo & Camargo, que não possui
sinais de efetivo funcionamento, mas movimentou a quantia de
R$ 11.735.278,00, dos quais R$ 356.438,84 e R$ 531.020,79,
foram transferidos para CAZAROTTE Eireli (de FÁBIO) e CLEIDE, além
de outras movimentações com KEVERSON E WILLIAN. (20)
CLEIDE DEISS, (núcleo de Ponta Porã) titular da sociedade individual
CLEID DEISS, que movimentou a quantia de R$ 17.162.419,00, dos

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quais recebeu R$ 337.900,00 da KTCS (de KARINA e FABIANO), além


de manter movimentações financeiras com a empresa CAMARGO
e CAMARGO de DIEGO, sendo que não exerce sua atividade
comercial no endereço constante do Infoseg (onde funciona o
escritório de Felix Javier, empresário Paraguaio) e, segundo as
investigações, apurou-se que Facebook que CLEIDE se qualifica
como ´do lar´, sem rendimentos. (21) JOSÉ CARLOS, (núcleo de
Ponta Porã), irmão de CLEIDE, possui um padrão de vida simples,
incompatível com os valores transacionados pelo mesmo - R$
830.000,00, através da conta de CLEIDE, além do volume de R$
17.162.419,00, em movimentação atípica e suspeita, recebendo
valores de vários denunciados e/ou suas pessoas jurídicas, tais
como DIEGO, JONAS, KTCS e CAZAROTTE EMP. (22) NILSON
ESPINOSA, de nacionalidade paraguaia, apontado como o líder e
aliciador do núcleo de Ponta Porã, sendo casado com CLEIDE,
em nome de quem, faria as movimentações financeiras
suspeitas, sem comprovação de licitude. (23) MARCELO VIEIRA (RJ),
seria ligado ao tráfico de drogas controlado pela facção
criminosa Comando Vermelho, tendo ele efetuado depósito de
valor que seria oriundo da mercancia ilícita de entorpecentes, na
conta da empresa HEXXA, no dia 21 de novembro de 2018. (24)
RAFAEL MANDU (RJ), seria ligado ao tráfico de drogas controlada
pela facção criminosa Comando Vermelho, tendo efetuado

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depósito de valor que seria oriundo da mercancia ilícita de


entorpecentes, na conta da empresa HEXXA, no dia 21 de novembro
de 2018, por ordem de ´Nego Ney´, traficante das comunidades do
Jacaré e de Manguinhos; (25) TATIANE BRÁS (RJ), seria ligada ao
tráfico de drogas controlado pela facção criminosa Comando
Vermelho, tendo efetuado depósito de valor que seria oriundo
da mercancia ilícita de entorpecentes, na conta da empresa
HEXXA, no dia 14 de dezembro de 2018. (26) ATANAEL MACIEL
(RJ), seria ligado ao tráfico de drogas controlado pela facção
criminosa Comando Vermelho, tendo ele efetuado 02 depósitos
de valores que seriam oriundos da mercancia ilícita de
entorpecentes, na conta da empresa HEXXA, no dia 30 de outubro de
2018. (27) PABLO MELO (RJ), seria ligado ao tráfico de drogas
controlado pela facção criminosa TCP, tendo efetuado 02
depósitos de valores que seriam oriundos da mercancia ilícita,
na conta da empresa HEXXA, nos dias 01 e 31 de novembro de
2018. (28) MATHEUS SILVA (RJ), seria ligado ao tráfico de
drogas controlado pela facção criminosa TCP, tendo efetuado 04
depósitos de valores que seriam oriundos da mercancia ilícita,
na conta da empresa HEXXA, nos dias 12 e 13 de dezembro de
2018 e 26 de fevereiro de 2019. (29) LUIZ HENRIQUE, (RJ), seria
ligado ao tráfico de drogas do TCP, efetuou 05 depósitos de
valores que seriam oriundos da mercancia ilícita, na conta da

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empresa HEXXA, nos dias 21 de dezembro de 2018, 03 de janeiro


de 2019, 26 de fevereiro de 2019 e 19 de março de 2019. Registre-se
que LUIZ HENRIQUE foi preso em flagrante transportando 35KG de
pasta base de cocaína, tipo ´Caballo´ (R.O. 908-15127/2019);
Estabelecidas tais condutas, cumpre salientar que os crimes
imputados aos denunciados, seja o previsto no artigo 1º § 4º, IV a
Lei nº 9.613/98 (lavagem de dinheiro qualificada), seja o tipificado
no artigo 2º,§ 4º da Lei nº 12.850/13 (organização criminosa)
possuem pena máxima muito superior a 04 (quatro) anos de
reclusão, o que atende ao requisito objetivo previsto no art. 313, I,
do CPP. Por outro lado, é pacífico o entendimento no âmbito do Eg.
Supremo Tribunal Federal no sentido de que a prisão cautelar se
mostra como um importante instrumento para interromper ou
diminuir a atuação de integrantes de organizações criminosas,
circunstância essa que se enquadra no conceito de garantia da
ordem pública (...) No mesmo sentido tem sido o entendimento do
Eg. Superior Tribunal de Justiça, como se vê do recente julgado
abaixo colacionado: (...) Embora o crime de organização
criminosa não seja imputado a todos os denunciados na
presente ação penal - aos ´depositantes´ do dinheiro do tráfico
foi imputado o crime de lavagem de dinheiro, por meio de
ORCRIM -, não há dúvidas quanto à gravidade e importância de
suas participações, havendo fortes indícios de que integrem o

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Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP), facções


criminosas que dominam o tráfico de drogas no Estado do Rio de
Janeiro, e têm se dedicado, além do tráfico ilícito de
entorpecentes, à outros crimes graves, como roubos de pessoas
e cargas, porte/posse ilegal de arma de grosso calibre e
homicídios, o que demonstra a periculosidade dos mesmos e a
necessidade de decretação da prisão preventiva para a garantia da
ordem pública. No caso sob exame, restou demonstrada a existência
de fortes indícios de funcionamento de uma organização
criminosa com atuação em diversos pontos do território nacional
(RJ, SP, PR e MS), com o objetivo de praticar a lavagem de
dinheiro de facções criminosas ligadas ao tráfico de droga no
município do Rio de Janeiro, cabendo destacar que os RIFs
elaborados pelo COAF, que constam dos anexos sigilosos aos
autos e foram objeto de análise pelo Laboratório especializado da
Polícia Civil deste Estado, verificou a movimentação da quantia
de R$ 222.830.000,00 (duzentos e vinte e dois milhões, oitocentos
e trinta mil reais) - RIF 42.423 -, especialmente através das empresas
IBR, HAAS, A. ALVES e HEXXA - criadas, titularizadas e
administradas por alguns dos denunciados, com a finalidade de
receber enormes montantes de dinheiro oriundos diretamente do
tráfico de drogas do RJ, além da participação de outras pessoas
jurídicas, dentre as quais, - 4G, ABGT, KTCS, JS Comércio,

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Cazarotte Empreendimentos - vinculadas a outros denunciados,


cujas contas bancárias que serviam de ´conta de passagem´, no
processo de sucessivas movimentações financeiras para a
lavagem do dinheiro do tráfico. Sendo assim, a prisão cautelar
dos denunciados se mostra necessária para interromper ou
diminuir a atuação de integrantes de organização criminosa,
situação que se enquadra, segundo a jurisprudência dos Tribunais
Superiores, no conceito de garantia da ordem pública. Tem-se,
portanto, que tais elementos são suficientes para demonstrar a
existência do necessário periculum libertatis, evidenciando que a
prisão cautelar de todos os denunciados se mostra
imprescindível à garantia da ordem pública, de forma a fazer
cessar ou, ao menos, reduzir, as atividades da organização
criminosa em questão, que é alimentada por recursos ilícitos
depositados com a finalidade de seu branqueamento, o que,
ressalte-se, terá efeito enfraquecedor sobre os engenhosos
mecanismos utilizados pelas facções criminosas antes
mencionadas, através dos quais buscam ´legalizar´ os recursos
ilícitos obtidos com tráfico de drogas. Por outro lado, a prisão
cautelar dos denunciados também se afigura necessária para a
garantia da ordem econômica, na medida em que a
movimentação financeira de mais de 200 milhões de reais, de
origem, possivelmente ilícita, inseridos no sistema econômico formal

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através desse processo de ´branqueamento´, afeta, sem dúvida, a


toda a ordem social e econômica do país, prejudicando a livre
iniciativa e a competitividade, além de, secundariamente, ofender
a própria administração da justiça. Colha-se sobre o tema: (...) De
outro giro, verifica-se que os fatos imputados aos denunciados
são contemporâneos, na medida em que vem ocorrendo desde
o ano de 2014 até a presente data, havendo nos autos a
demonstração de prática de atos dessa natureza até março de 2019
- data da última quebra de sigilo bancário e fiscal-, os quais foram
trazidos à tona pela análise do RIF pelo LAB-LD da PECERJ, relatório
esse datado de 16.07.2019, cabendo destacar que o crime de
organização criminosa é de natureza permanente e, assim, se protrai
no tempo, enquanto os crimes de lavagem de dinheiro vem sendo
sucessiva e continuamente praticados, estando intimamente
ligados ao funcionamento da referida organização criminosa, que
tem por escopo efetuar o ´branqueamento´ do dinheiro oriundo
do tráfico de drogas desse município. Colha-se o entendimento do
Eg. STJ sobre o tema: (...) Ademais, vale aduzir, que em relação aos
denunciados NILSON, CLEIDE (companheira deste) e JOSÉ CARLOS
(cunhado daquele), verifica-se que NILSON é cidadão de
nacionalidade paraguaia, reside em Ponta Porã/MS, município
situado na fronteira com o Paraguai, possuindo rápido e livre
acesso ao referido país vizinho, onde o casal, inclusive, possui

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propriedades imóveis lá estabelecidas, como apontado pelo


Parquet, motivo pelo qual o acautelamento provisório em
relação a tais denunciados se mostra imprescindível à aplicação
da lei penal, de forma a evitar eventual tentativa de evasão
para o referido país vizinho. Colha-se sobre o tema: (...) Por
fim, tem-se que diante da gravidade concreta dos delitos
praticados e considerando que somente o encarceramento
provisório se mostra suficiente para reprimir o funcionamento
da organização criminosa em questão e a atividade de seus
integrantes (crimes tipificados na Lei 12.850/2013), bem como sua
alimentação através dos recursos ilícitos depositados em seu
favor (crimes tipificados na Lei 9.613/98), não se mostra cabível a
substituição da prisão preventiva por outras medidas cautelares
previstas no art. 319 do CPP, cabendo destacar que alguns dos
denunciados já se encontram presos (LUIZ HENRIQUE e KLEBER) por
determinação de outros Juízos. Vale aduzir, que eventuais
condições pessoais favoráveis de alguns dos denunciados -
primariedade, residência fixa, comprovante de atividade
laborativa lícita -, por si só, não possuem o condão de impedir
a decretação da prisão preventiva, conforme jurisprudência já
consolidada pelas Cortes Superiores: (...) Pelo exposto, DECRETO A
PRISÃO PREVENTIVA de JORGE LUCINDO SILVA, vulgo 'TUBARÃO´
(1), JOÃO VICTOR NASCIMENTO DOS SANTOS (2), ALEXANDRA

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CUNHA DOS SANTOS (3), JEFFERSON BATISTA SILVA DE LIMA (4),


SILMARA SILVA BARBOSA (5), APARECIDO ALVES DE OLIVEIRA (6),
KEVERSON CARLOS SANTOS (7), PATRÍCIA REGINA GRECHI (8),
CLEBER BERGAMASCO LUCIANO (9), WILLIAN CARVALHO
CALDANA (10), FABIO TADEU CAZAROTTE (11), ROSINALDO ALVES
DA CUNHA (12), NELSON APARECIDO GOMES (13), JOÃO PEDRO
BRAGA (14), MARIA HELENA PARPINELLI (15), KARINA TAGLIACOL
CASTELLANO DOS SANTOS (16), FABIANO HENRIQUE DOS
SANTOS (17), JONAS SINHORELLI (18), DIEGO GABRIEL CAMARGO
(19), CLEIDE DEISS (20), JOSÉ CARLOS DEISS (21), NILSON
OLDAIR ARCARI ESPINOLA (22), MARCELO VIEIRA DE ARAGÃO
(23), RAFAEL MANDU DE SOBRAL(24), TATIANE BRÁS DA SILVA
FRANÇA (25), ATANAEL MACIEL SILVA (26), PABLO MELO
MEIRELLES (27), MATHEUS SILVA DOS SANTOS (28) e LUIZ
HENRIQUE KALI DE SOUZA (29), todos devidamente qualificados
nos autos, com fundamento nos artigos 312 e 313, I, ambos do
Código de Processo Penal, eis que comprovada a necessidade da
extremada medida.”

No caso concreto, nenhuma irregularidade há que ser sanada nas


decisões que decretou e manteve a custódia, eis que estão evidenciados de
forma clara, os pressupostos elencados no artigo 312 do Código de Processo
Penal.

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Os elementos até então produzidos demonstram a existência de


indícios de autoria e prova da materialidade, apontando o Paciente como
integrante da organização criminosa que se apura.
Além do mais, a custódia cautelar, no caso concreto, objetiva,
igualmente, impedir que o Paciente perturbe ou impeça a produção de
provas, para que o princípio da verdade real não seja conspurcado através de
eventuais interferências externas.
Verifica-se que a decisão hostilizada encontra-se fundamentada,
indicando a necessidade da segregação, não se configurando, pois, qualquer
constrangimento ilegal. Os argumentos despendidos pela Autoridade dita
coatora são fortes o suficiente para manter a Paciente no cárcere.
Com efeito, o fato de a Constituição da República consagrar o
princípio da presunção da inocência não significa que restou expurgado do
ordenamento jurídico a prisão processual, ainda mais quando, como no caso
concreto, presentes o fumus commissi delicti (provas da existência do crime e
indícios de autoria) e o periculum libertatis (perigo da liberdade), uma vez que
a Paciente está supostamente inserida em estrutura criminosa de grande
monta.
Ressalte-se que a Lei 12.403/2011 somente possibilitou a aplicação
de medidas cautelares previstas ex vi artigos. 317, 318 e 319, todos do Código
de Processo Penal, com a observância dos pressupostos para a prisão cautelar
que, no caso dos autos, estão plenamente evidenciados. Portanto, não há que
se cogitar, aqui, a aplicação das medidas cautelares ali elencadas.

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As circunstâncias de primariedade, ausência de maus antecedentes,


residência fixa e trabalho lícito, por si só, não inviabilizam o decreto de prisão
preventiva, sendo tal posicionamento sedimentado na jurisprudência deste
Egrégio Tribunal.
As questões relacionadas ao mérito envolvem a análise
aprofundada do conjunto probatório, inadmissível na estreita via do habeas
corpus, sendo certo que serão examinadas no curso da ação penal.
Assim, não se pode considerar o pleito de liberdade, quando os
motivos que ensejaram a prisão cautelar permanecem íntegros.
Inexiste, portanto, qualquer constrangimento ilegal a ser amparado
pela via do mandamus.

VOTO, pois, no sentido de DENEGAR A ORDEM.

Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2021.

DES. ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO


Relator

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