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Copyright© 2019 by Osvaci Amaro Venâncio Júnior

Produção Editorial: Habitus Editora


Editor Responsável: Israel Vilela
Capa e Diagramação: Carla Botto de Barros
As ideias e opiniões expressas nos artigos são de exclusiva responsabilidade do Autor, não refletindo, necessariamente, a opinião desta Editora.

Conselho Editorial:
Alceu de Oliveira Pinto Junior / UNIVALI
Antonio Carlos Brasil Pinto / UFSC
Cláudio Macedo de Souza / UFSC
Dirajaia Esse Pruner / UNIVALI - AMATRA XII
Edmundo José de Bastos Júnior/ UFSC- ESMESC
Elias Rocha Gonçalves / IPEMED - SPCE Portugal - ADMEE Europa - CREFAL Caribe
Fernando Luz da Gama Lobo D'Eça / IES - FASC
Flaviano Vetter Tauscheck / CESUSC-ESA-OAB/SC
Francisco Bissoli Filho / UFSC
Jorge Luis Villada / UCASAL - (Argentina)
Juan Carlos Vezzulla / IMAP (Portugal)
Juliano Keller do Valle / UNIVALI
Lauro Ballock / UNISUL
Marcelo Bauer Pertille / UNIVALI
Marcelo Buzaglo Dantas / UNIVALI
Marcelo Gomes Silva / UFSC
Nazareno Marcineiro /Academia da PMSC

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


V448r
Venâncio Júnior, Osvaci Amaro
Redação jurídica sem mistério: guia prático para curiosos / Osvaci Amaro Venâncio Júnior
recurso digital
Formato: kindle
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5035-000-0
1. Redação Jurídica 2. Argumentação e Linguagem Jurídica - Brasil I. Título
CDU 340.11

É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às
características gráficas e/ou editoriais.
A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art.184 e §§, Lei n° 10.695, de
01/07/2003), sujeitando-se à busca e apreensão e indenizações diversas (Lei n° 9.610/98).
Todos os direitos desta edição reservados à Habitus Editora
www.habituseditora.com.br - habituseditora@gmail.com

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

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Osvaci Amaro Venâncio Júnior

REDAÇÃO JURÍDICA SEM


MISTÉRIO
GUIA PRÁTICO PARA CURIOSOS

Florianópolis
2019

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. “denunciar a lide” ou “denunciar à lide”?
2. Sujeitos diferentes que parecem iguais
3. De onde veio a palavra “acórdão”?
4. Assinalar prazo?
5. Use sempre com iniciais maiúsculas
6. Quer escrever bem? Você pode começar conhecendo bem o assunto sobre o qual vai
escrever
7. “veículo de placas MTY 3245” ou “veículo de placa MTY 3245”?
8. “Com relação ao pedido de indenização...” ou “Em relação ao pedido de
indenização...”?
9. O magistrado determinou a emenda à inicial
10. Palavras que sobram
11. Vai transcrever ementa? Muito cuidado
12. Na dúvida não coloque a vírgula
13. Quando usar a forma “e/ou”?
14. O mau emprego do gerúndio
15. Palavras que não constam do Volp
16. O emprego da vírgula
17. O emprego da crase
18. Flexão do infinitivo pessoal
19. Repetição das preposições
20. “se” índice de indeterminação do sujeito
21. Ambiguidade
22. O paralelismo
23. Escreva bem
24. No prazo de 30 (trinta) dias contado ou contados da citação?
25. “Coisinhas” que cansam o leitor da sua peça
26. independente ou independentemente?
27. “conhecer e dar provimento ao recurso” está correto?
28. “Arrematando a petição inicial, requereu o autor fosse a ré condenada a reparar os
danos materiais”. Há erro nessa construção?
29. E a colocação pronominal?
30. Estão corretas as formas “devido a”, “relativo a”, “concernente a”, “referente a”,
“pertinente a”?
31. Acentuação
32. não há que se falar, não há que falar, não há se falar, não há falar
33. Pronome possessivo: partes do corpo e substantivos abstratos
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34. Se o verbo, sozinho, resolve, use-o
35. “O Novo Código de Processo Civil” ou “O novo Código de Processo Civil”?
36. Se não há pausa, não há vírgula
37. Escreva “de modo que”, “de forma que”, “de maneira que”, e não “de modo a”, “de
forma a”, “de maneira a”
38. “condena-se os autores a pagar a multa prevista...” ou “condenam-se os autores a
pagar a multa prevista...”?
39. A expressão “ou não”
40. Agravo “da” ou “contra” a decisão?
41. Posso usar na minha peça o tempo presente para me referir a fatos passados?
42. “pois” e “porque”, quando usar?
43. O autor tem “que” ou “de” demonstrar o fato constitutivo do seu direito?
44. Colocando ordem no texto
45. “à” ou “na” época dos fatos?
46. Posso redigir o acórdão em primeira pessoa?
47. em que pese
48. Quando abrir novo parágrafo?
49. Intime-se-o
50. O início do prazo da prescrição se dá no momento que surge a pretensão
51. Ao escrever números, preciso colocá-los por extenso entre parênteses?
52. O ponto e vírgula
53. se não, vejamos
54. Pugna-se pela produção de todos os meios de prova em direito admitida
55. “isso porque”, “até porque”, “ocorre que”: de novo a danada da vírgula
56. Contratos “objeto” ou “objetos” da presente demanda?
57. O “se” desnecessário
58. Paráfrase ou plágio?
59. Conhecem-se dos embargos de declaração
60. O (difícil) emprego do artigo definido
61. “Inicialmente”, “Antes de mais nada”, “Em primeiro lugar”, “Por fim”,
“Finalmente”: há problema em utilizar essas expressões?
62. Abreviaturas
63. A Primeira e Segunda Turmas do STJ
64. “A reparação não deve constituir-se em enriquecimento indevido” ou “A reparação
não deve constituir enriquecimento indevido”?
65. Boa pergunta
66. Curiosidade sobre a crase
67. Padronização
68. “art. 14, I, do CP”: é assim mesmo que se escreve
69. Como escrever siglas
70. “para o fim de” não; “para” já é finalidade

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71. Um esclarecimento
72. E se a parte processual vier pluralizada?
73. “(a)” ou “a)”?
74. E o latim, hein?
75. A expressão “Pois bem”
76. Não sei. Veja como está na lei
77. Essas são as provas de que dispõe o advogado
78. Os verbos “assistir” e “socorrer”
79. “... sentença que julgou procedente o pedido” – Quem julga é a sentença ou o juiz?
80. “Analisando os autos, conclui-se...” ou “Analisando-se os autos, conclui-se...”?
81. O que usar após o ponto de interrogação? letra maiúscula ou minúscula?
82. [sic]
83. Ao Juízo da Vara Cível da Comarca de Lages
84. “Dessa forma”, “Nesse sentido”, “Dessarte”
85. Termos em que, Pede deferimento
86. Gosta do “cujo” mas não sabe usar?
87. Bacen Jud, BacenJud, Bacenjud, Bacen-Jud, Bacen-JUD, BACEN JUD... Afinal de
contas, como se escreve?
88. Mais sobre parte processual
89. §
90. Cuidado ao fazer citações
91. “Data vênia”, “Data maxima vênia”, “Datíssima vênia”
92. Não faça com que sua peça pareça mal redigida
93. Classes processuais
94. Vá que você tenha de fazer sustentação oral
95. Regência de “condenar” e “condenação”
96. Expressões a serem evitadas nas peças
97. “senão” ou “se não”?
98. O “sendo que”
99. Mais uma dica para deixar sua peça redondinha, redondinha
100. A palavra “sequer” não tem sentido negativo
101. O emprego de “o mesmo” (errou, danou-se)
102. Dúvidas sobre como escrever numerais por extenso?
103. A expressão “qual seja”
104. “Há quatro tipos de preclusão” ou “Há quatro tipos de preclusões”?
105. Lapso temporal
106. “Súmula n. 130” ou “Súmula 130”?
107. vez que, eis que, haja vista que
108. Sabendo usar as formas “compromitente”, “compromissário”, “cedente”,
“cessionário”,...

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109. Abrevie somente se for necessário
110. Regência do verbo “oficiar”
111. “Sua peça está mal-escrita? Isso é ótimo”
112. “pedido de liminar” ou “pedido liminar”?
113. supra, supracitado
114. Abalroar, abalroamento, colidir, colisão
115. Materialidade delitiva
116. A expressão “haja vista” é invariável
117. Dicas preciosas para melhorar a redação das suas peças
118. “este” ou “esse”?
119. meritoriamente, meritório
120. “Procederam-se as intimações” ou “Procederam-se às intimações”?
121. A expressão “enquanto que”
122. Cláusula “ad judicia”
123. Ponto antes ou depois das aspas?
124. Você faz parte dos 95% de operadores jurídicos que não sabem a distinção entre
“elidir” e “ilidir”?
125. “Os embargos de declaração não se prestam para o reexame do mérito” ou “Os
embargos de declaração não se prestam ao reexame do mérito”?
126. Especialmente para quem redige projetos de sentença (mas o advogado atento
também poderá tirar proveito)
127. Apenas por extenso, por extenso com a sigla, ou apenas a sigla?
128. O uso indevido da palavra “auxílio”
129. Convergir, converter, fazer a conversão
130. O “juridiquês”
131. Cuidado: as conjunções possuem sentido
132. Crase (caso difícil)
133. A expressão “junto a”
134. Imitir/imissão “na” ou “da” posse?
135. Técnica de argumentação para advogados
136. Como fazer supressões de palavras, frases e parágrafos em citações
137. Vírgula com elementos normativos
138. Quando usar o gerúndio não é apenas feio...
139. Funções da linguagem jurídica
140. Procuradoria-Geral de Justiça
141. Erro(s) gramatical(ais) em tese jurídica formada em ADI julgada pelo STF
142. Uma dica daquelas para escrever siglas corretamente
143. Mais um motivo para sempre revisarmos as peças
144. Ponto e vírgula em enumerações complexas
145. Cuidado com o emprego do “onde”
146. à fl.? à fls.? às fls.? nas fls.? E como fazer se for o verso da folha?
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147. Super dica para deixar suas peças mais agradáveis de serem lidas
148. Na frase “o autor faz jus ao benéfico”, “jus” deve vir em itálico?
149. às expensas, à expensas, a expensas, as expensas?
150. Como escrever datas: 13-11-2018, 13/11/2018 ou 13.11.2018?
151. Para mim, um dos melhores posts que fiz até hoje
152. O autor, assim como a ré, interpuseram recurso especial. O correto é “interpuseram”
ou “interpôs”?
153. Três verbos jurídicos cuja regência costumamos errar
154. Sobre citações de peças processuais
155. Sobre textos das Turmas Recursais
156. “em vez de” ou “ao invés de”?
157. Aprenda a argumentar: Semiótica Jurídica
158. O emprego da vírgula depois do travessão
159. Erro gramatical que mais encontro em peças jurídicas
160. O uso da expressão “e nem”
161. Cuidado com a hipercorreção
162. Falta de clareza: confusão do caso “em tese” com o caso concreto
163. Ao fornecer ao consumidor serviço mais oneroso que o contratado, o banco maculou
o negócio jurídico. O correto é “que” ou “do que”?
164. à medida que, na medida em que, à medida em que, na medida que
165. Outra técnica de argumentação
166. Vírgula com nome seguido de sigla
167. O verbo “reduzir”
168. O trecho citado inicia com maiúscula, e agora?
169. Para embargos, só devo usar o verbo “opor”?
170. Usando os conectivos “aliás”, “além disso”, “não bastasse isso” e equivalentes
171. Considera-se inepta a inicial, dentre outras hipóteses, quando lhe faltar pedido ou
causa de pedir. A forma correta é “dentre” ou “entre”?
172. “frente a” e “face a”: essas expressões estão erradas
173. “Sua desistência implicou a extinção do processo, sem resolução do mérito”: “a”
extinção ou “na” extinção?
174. Algumas dicas sobre redação da petição inicial
175. O que significa um dicionário trazer palavras que outro não traz? O que fazer
quando dicionários divergem sobre a grafia de palavras? Se uma palavra não consta nos
dicionários, ela não existe?
176. Os verbos “interpor” e “impetrar”
177. Se todo mundo escreve assim, eu também posso escrever? A questão da praxe na
redação jurídica
178. Cuidado com a palavra “perante”

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INTRODUÇÃO
Um texto bem escrito não cumpre apenas papel formal no âmbito
jurídico. Pelo contrário. Quando escreve uma peça jurídica, o
operador do direito almeja persuadir o leitor do que está
escrevendo é correto, de modo que não há dúvida de que a boa
escrita é elemento de persuasão/argumentação. Portanto, um texto
bem elaborado, para cuja compreensão o esforço do leitor é
mínimo, influencia na própria discussão do direito material e tende
a fazer com que o destinatário aceite com mais facilidade o que é
por meio dele transmitido.
Partindo desse entendimento, e a fim de suprir a lacuna existente
nas redes sociais sobre o tema, no dia 10 de abril de 2018 resolvi
abrir uma conta no Instagram para fazer diariamente postagens
sobre redação jurídica, sempre de forma descontraída e que respeita
a inteligência do leitor/seguidor. Este e-book é uma compilação das
principais postagens feitas até o momento em que foi editado.
Espero que gostem!
Forte abraço.
@prof.osvacijr

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1. “DENUNCIAR A LIDE” OU “DENUNCIAR À LIDE”?
Assim como se denuncia o fato à polícia, de igual modo se
denuncia a lide a alguém. A mesma regra se aplica a “denúncia
(denunciação) da lide”: como se faz denúncia de contrabando, faz-
se denúncia da lide.
“O réu denunciou a lide à companhia de seguros” (certo).
“O réu denunciou à lide a companhia de seguros” (errado).
“A denunciação da lide à empresa é obrigatória” (certo).
Era isso.

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2. SUJEITOS DIFERENTES QUE PARECEM IGUAIS
De vez em quando encontro construções como esta em textos
jurídicos:
“Ao final, o apelante requereu o provimento do recurso para
determinar o pagamento da indenização nos termos da inicial”.
Pessoal, muito cuidado! O apelante requereu, mas quem decide
não é ele, é o magistrado. Corrigir para:
“Ao final, o apelante requereu o provimento do recurso para que
seja determinado o pagamento da indenização nos termos da
inicial”.
Era isso.

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3. DE ONDE VEIO A PALAVRA “ACÓRDÃO”?
A palavra “acórdão” é substantivação de “acordam”, terceira
pessoa do plural do verbo “acordar” (concordar, entrar em acordo).
Em boa hora o novo CPC trouxe a definição correta de acórdão
ao dispor: “acórdão é o julgamento COLEGIADO proferido pelos
tribunais” (art. 204). O CPC revogado dispunha, equivocadamente,
que “recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido
pelos tribunais” (art. 163). Ora, decisões monocráticas são
proferidas pelos tribunais (por meio de relatores), mas não são
acórdãos. Daí o acerto do CPC vigente ao trazer a expressão
“colegiado”.
Era isso.

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4. ASSINALAR PRAZO?
Não raro vejo em peças jurídicas a expressão “assinalar prazo”:
cumprimento da obrigação no prazo “assinalado” pelo juiz; o
relator “assinalou” prazo para apresentação das contrarrazões; foi
“assinalado” prazo de 60 dias para a aplicação das medidas
protetivas.
Mas cuidado, pessoal. O correto é “assinar”, não “assinalar”
prazo. O Código de Processo Civil traz corretamente essa redação;
não se sabe por que cargas-d’água apenas o § 1º do art. 829
apresenta a forma “assinalar”.
De todo modo, escrevam sempre “assinar” prazo: cumprimento
da obrigação no prazo “assinado” pelo juiz; o relator “assinou”
prazo para apresentação das contrarrazões; foi “assinado” prazo de
60 dias para a aplicação das medidas protetivas.
Era isso.

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5. USE SEMPRE COM INICIAIS MAIÚSCULAS
Palavrinhas e expressões que devem aparecer com iniciais
maiúsculas, independentemente do contexto em que estão
inseridas:
Poder Executivo, Tribunal Pleno, Decreto-Lei n., Três Poderes,
Justiça Comum, Fazenda Pública, Municipalidade, Tribunal do Júri,
Lei Seca.
Os termos equivalentes também virão com inicial maiúscula.
Assim, como escrevemos Poder Executivo, escreveremos Poder
Legislativo; Lei Seca, Lei dos Juizados...
Era isso.

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6. QUER ESCREVER BEM? VOCÊ PODE COMEÇAR
CONHECENDO BEM O ASSUNTO SOBRE O QUAL VAI
ESCREVER
Quando estamos inseguros do tema sobre o qual temos que
escrever, é normal “empacar” no meio do caminho. Isso acontece
com todos nós!
Por isso, estude bem o assunto, tenha bem em mente a mensagem
que deseja transmitir. Esse já é um grande passo para uma boa
escrita.
E lembre-se: escrever bem significa escrever bons textos, não boas
frases.
Era isso.

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7. “VEÍCULO DE PLACAS MTY 3245” OU “VEÍCULO
DE PLACA MTY 3245”?
O correto é sempre “veículo de placa”; placa no singular.
“Automóvel de placa...”, “motocicleta de placa...”. A placa é uma
só, ainda que nos automóveis constem duas identificações.
Era isso.

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8. “COM RELAÇÃO AO PEDIDO DE INDENIZAÇÃO...”
OU “EM RELAÇÃO AO PEDIDO DE INDENIZAÇÃO...”?
As duas formas estão corretas e podem ser substituídas por:
quanto a, no que tange a, no que concerne a, no que se refere a,
relativamente a, no que toca a, no que diz respeito a, sobre o(a), no
tocante a,...
Era isso.

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9. O MAGISTRADO DETERMINOU A EMENDA À
INICIAL
Não, não, não. Mil vezes não! O correto é emenda DA inicial, e
não emenda À inicial! Tem o sentido de corrigir, completar,
expurgar irregularidades.
A forma “emenda À” tem o sentido de aumentar, ampliar,
acrescentar (“emenda a um projeto”, “emenda a uma lei”, “emenda
ao orçamento”, “emenda à Constituição”).
Atentem-se também para a diferença entre “emenda da inicial” e
“aditamento da inicial”. A emenda ocorre nas hipóteses do art. 321
do CPC; o aditamento está previsto no art. 329.
Era isso.

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10. PALAVRAS QUE SOBRAM
Há palavras e expressões que não contribuem para a mensagem
que se quer passar. Vejam (algumas frases foram extraídas do livro
“A Linguagem do Juiz”, de Geraldo Amaral Arruda):
“O laudo do exame grafotécnico realizado confirma que o cheque
que serviu de instrumento à fraude perpetrada for preenchido pelo
acusado”.
“A prova testemunhal colhida deixa claro...”.
“Declaro cessada a eficácia da liminar concedida para que se
efetive o protesto do título”.
“Além dos prejuízos que foram causados em seu veículo,
necessitou...”.
“Não provada sua culpa pelo acidente ocorrido,...”.
“As testemunhas ouvidas apresentaram...”.
“Como destacado na decisão impugnada, no caso em exame não
comprovou a devedora...”.
“O STJ assentou entendimento no sentido de que se aplica o CDC
aos contratos de plano de saúde”.
“Como houve a comprovação de que os réus causaram o
acidente,...”.
Repararam que se as palavras e expressões destacadas não
estivessem na frase nenhuma falta fariam? Pensem nisso. Quanto
mais “limpo” o texto, mais agradável fica a leitura.
Era isso.

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11. VAI TRANSCREVER EMENTA? MUITO CUIDADO
Pessoal, cuidado: ementas de acórdãos não são “precedentes”,
“jurisprudência” nem “julgados”. Por mais que reflitam uma
decisão colegiada, ementas são apenas um resumo, isto é, não
trazem a razão de decidir do julgamento, a qual aparece apenas na
fundamentação do acórdão, motivo pelo qual elas não podem ser
confundidas com aqueles termos.
Portanto, ao transcreverem ementas de acórdãos nas suas peças,
redijam o parágrafo introdutório assim, por exemplo:
“Nesse sentido, colhem-se julgados/precedentes do Superior
Tribunal de Justiça, representados pelas seguintes ementas:”
Reparem que se não fizerem construções como a que aparece na
parte final (“representados pelas seguintes ementas”), seu leitor
pensará que você não sabe a diferença entre ementa e
julgado/precedente, pois o texto ficaria assim: “Nesse sentido,
colhem-se julgados/precedentes do Superior Tribunal de Justiça:”, o
que, repito, não é correto, porque ementas são apenas resumos; não
se confundem com “julgados” nem com “precedentes”.
O parágrafo introdutório pode, claro, ser redigido de outras
maneiras:
“Conforme se infere da ementa do acórdão relativo à Apelação
Cível n. ...” (em vez de “Conforme se infere do seguinte
precedente”).
“Essa compreensão se coaduna com o entendimento inserto na
ementa do acórdão a seguir transcrita:”
Alguns aí podem estar achando que se preocupar com isso – em
não confundir precedente, julgado e jurisprudência com ementa – é
preciosismo. Nã-na-ni-na-não! Quando vocês dão valor a detalhes
como esse, suas peças aos poucos vão adquirindo credibilidade, e o
leitor pode, assim, acabar aderindo mais facilmente às teses que
defendem. Acreditem! Isso pode fazer toda a diferença no final (já
disse não sei quantas vezes isso aqui no Insta).
Era isso.

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12. NA DÚVIDA NÃO COLOQUE A VÍRGULA
Isso mesmo. A vírgula serve para mostrar ao leitor alguma
anormalidade algum corte na fluência textual. Se escrevo “a ré
interpôs apelação” estou na normalidade (sujeito e predicado) mas
se escrevo “a ré, inconformada, interpôs apelação” estou na
Anormalidade (sujeito predicativo predicado) que está marcada
pelo emprego das vírgulas.
Reparem que mesmo na Anormalidade a falta da vírgula poderá
no máximo dificultar um pouco o trabalho do leitor que talvez
tenha de voltar ao início da frase para compreender a mensagem
nada mais do que isso. O sentido contudo quase nunca ficará
prejudicado.
É interessante que com certas palavras e expressões sempre
sabemos virgular. Todos nós colocamos por exemplo corretamente
a vírgula depois de “aliás” “isto é” “ou seja” e “desse modo”
(quando esta expressão vem no início da frase). Empregamos
corretamente a vírgula também nas enumerações nos apostos
quando queremos dar uma explicação enfim em vários casos
sabemos intuitivamente usar a vírgula.
Quando todavia tiverem dúvidas sobre o uso da vírgula meu
conselho é para que vocês não a empreguem pois, é bem melhor,
não colocar a vírgula, quando ela for necessária do que, colocá-la
quando, não for necessária. Esse é o ponto.
Não colocando a vírgula onde era para ter o leitor poderá
desconfiar da competência linguística de vocês? Poderá mas o
sentido da mensagem que estão transmitindo será captado podem
ter certeza.
Decidi fazer este post para tentar diminuir o medo que vocês têm
de errar no emprego da vírgula. Que fique bem claro: a falta de
uma vírgula que era para existir pode até deixar o trecho da peça de
vocês menos agradável de ser lido porém em 99% dos casos não
prejudicará o sentido textual.
Não precisam então ter aquele medo todo de errar. Basta que na
dúvida vocês não coloquem a vírgula. Só não vão agora sair por aí
falando que o Prof. Osvaci Junior disse que não é necessário colocar
vírgulas nas peças. Em nenhum momento afirmei tal coisa, hein? Eu

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disse “NA DÚVIDA não coloquem a vírgula”.
Era isso.

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13. QUANDO USAR A FORMA “E/OU”?
Muita, mas muita gente tem dúvida sobre o uso das conjunções
acopladas “e/ou”.
Basicamente, você vai usar “e/ou” quando as alternativas
puderem ser utilizadas conjuntamente ou de forma independente.
Abaixo tem um exemplo:
“As petições e os recursos protocolizados nos Correios deverão
conter, para os feitos que tramitam em primeiro grau, a comarca
e/ou a vara para a qual foram dirigidos”.
Neste caso, as petições deverão conter a comarca ou a vara, ou a
comarca e a vara. Tanto faz. O “e/ou” está corretamente utilizado.
“Requereu a abstenção da inscrição e/ou da manutenção do seu
nome em cadastro de inadimplentes” (ERRADO)
Agora o “e” está sobrando, pois a “inscrição” e a “manutenção”
são atividades excludentes. O correto é: “...abstenção da inscrição
ou da manutenção...”
“Considera-se consumado o crime de furto no momento em que
o agente obtém a posse da res furtiva, ainda que não seja mansa e
pacífica e/ou haja perseguição policial” (ERRADO)
Dessa vez é o “ou” que está sobrando, pois, mesmo que
estejamos diante de duas alternativas, note que o “e” já traz
implícita essa ideia.
Mais exemplos:
“Converte-se em direito líquido e certo à nomeação a expectativa
de direito do candidato aprovado em concurso público que se
classifica fora das vagas ofertadas, se, no prazo de validade do
concurso, vagarem cargos dentro do quadro de servidores e/ou
forem contratados servidores temporários para o exercício das
funções do cargo vago” (ERRADO–o “e” está sobrando)
“É prescindível para a configuração da falta grave prevista no art.
50, VII, da Lei de Execução Penal a realização de perícia para
demonstrar o efetivo funcionamento do aparelho celular e/ou dos
seus componentes” (ERRADO–o “ou” está sobrando)
“A indenização por invalidez permanente é proporcional à
extensão do dano e calculada mediante o enquadramento da perda
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anatômica e/ou funcional do membro ou órgão lesado da vítima”
(CERTO)
Era isso.

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14. O MAU EMPREGO DO GERÚNDIO
O mau emprego do gerúndio nos textos jurídicos é
assustadoramente recorrente. Isso ocorre em razão da falta de
conhecimento, por parte do operador do direito, de outros recursos
linguísticos para desenvolver seu texto. O gerúndio, principalmente
nos textos jurídicos, é um verdadeiro “quebra-galho” gramatical.
Vejam, por exemplo, a seguinte frase:
“A prova acusatória, portanto, é completa, não tendo sido ilidida
pelo acusado, sendo certo que ficou patente que sua ação abarcou
ambos os elementos da denunciação caluniosa”.
Observem que os gerúndios, utilizados incorretamente, causam
ambiguidade, a ponto de provocarem irritação no leitor pela
incompreensão textual. Então cuidado!
Corrigida, a frase fica assim:
“A prova acusatória, portanto, é completa, e não foi ilidida pelo
acusado, de forma que ficou patente que sua ação abarcou ambos os
elementos da denunciação caluniosa”.
Era isso.

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15. PALAVRAS QUE NÃO CONSTAM DO VOLP
Primeiramente é importante dizer que, ao contrário do que
muitos pensam, o Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa) não tem caráter oficial. A Academia Brasileira de
Letras, responsável pela publicação do vocabulário, não é uma
instituição governamental, de modo que suas publicações não têm
força normativa.
O fato, portanto, de uma palavra não constar do Volp não quer
necessariamente dizer que ela não exista, como tenho ouvido de
alguns. O trabalho, digno de respeito, dos lexicólogos da ABL não
pode significar desprezo aos também ótimos trabalhos realizados
por lexicógrafos na elaboração de dicionários, os quais não raras
vezes divergem da Academia quanto à grafia e até quanto à
existência de certos vocábulos.
É inegável, contudo, a relevância do Volp para a padronização
ortográfica. Por isso achei interessante apresentar algumas palavras
que, embora sejam recorrentes nos textos jurídicos, não constam no
trabalho da ABL. São elas:

inocorrência–substituir por “não ocorrência”


inacolhimento–substituir por “não acolhimento”
aficcionado–substituir por “aficionado”
inexitoso–substituir por “sem êxito”
inobstante–substituir por “não obstante”, “nada obstante”,
“embora”
oportunizar–substituir por “permitir”, “possibilitar”,
“favorecer”
delibatório–substituir por “inicial”, “não definitivo”
apenamento/apenacão–substituir por “pena”, “penalidade”
correicional–substituir por “correcional”
improvimento–substituir por “não provimento”,
“desprovimento”
elocubração–substituir por “elucubração”
pré-fixar–substituir por “prefixar”
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pré-questionamento–substituir por “prequestionamento”
pertinir–substituir por “concernir”, “dizer respeito a”
chéquico–substituir por “de cheque”
inaplicar–substituir por “não aplicar”
inexigir–substituir por “não exigir”
consumerista/consumeirista–substituir por “do consumidor”
impago–substituir por “não pago”
alegativa–substituir por “alegação”
plausividade–substituir por “plausibilidade”
indeferitório–substituir por “não deferitório”, “que não
deferiu”
sobrestativo–substituir por “de sobrestamento”
Era isso.

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16. O EMPREGO DA VÍRGULA
Hoje quero passar para vocês duas ótimas regras sobre vírgula
para não errar mais. Vamos lá?
A primeira regra, apesar de simples assimilação, costumamos
errar bastante: NÃO HÁ VÍRGULA ENTRE SUJEITO E
PREDICADO, MESMO QUE O PERÍODO ESTEJA INVERTIDO.
Veja:
“O mesmo decreto que fixou sua remuneração, estabeleceu a
política de atualização desse valor” (Errado–“O mesmo decreto que
fixou sua remuneração” é sujeito do predicado “estabeleceu a
política de atualização desse valor”. Sem vírgula, portanto).
“O art. 151, I, da Carta Magna, adverte...” (Errado–sem vírgula
depois de “Magna”).
“Funcionou como representante do Ministério Público, o Exmo.
Sr. ...” (Errado–“o Exmo. Sr. ...” é sujeito do predicado “funcionou
como representante do Ministério Público”).
A segunda e valiosa regra sobre o uso da vírgula é: VIRGULE
PARA INTERROMPER A FLUÊNCIA (NORMALIDADE) DA
ORAÇÃO. Observe a seguinte frase:
“Alega que o prazo prescricional ainda não havia encerrado”.
Se formos interromper essa frase, que flui normalmente,
colocamos entre vírgulas a informação que a interrompe:
“Alega que, na data do ajuizamento da ação, o prazo
prescricional ainda não havia encerrado” (Certo).
Ainda sobre o caso acima, existe uma regra muito, mas muito
boa: OU SE COLOCAM AS DUAS VÍRGULAS, OU NÃO SE
COLOCA NENHUMA. Veja:
“Alega que, na data do ajuizamento da ação, o prazo
prescricional ainda não havia encerrado” (Certo–duas vírgulas).
“Alega que na data do ajuizamento da ação o prazo prescricional
ainda não havia encerrado” (Certo–nenhuma vírgula).
“Alega que na data do ajuizamento da ação, o prazo prescricional
ainda não havia encerrado” (Errado–apenas uma vírgula).
“Alega que, na data do ajuizamento da ação o prazo prescricional
ainda não havia encerrado” (Errado–apenas uma vírgula).
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Note que essa regra se aplica bem em estruturas com a conjunção
integrante “que” (alega que, constata-se que, afirma que, a leitura
da cláusula revela que).
Era isso.

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17. O EMPREGO DA CRASE
Hoje o assunto é a crase. Não é difícil, desde que compreendamos
o seu funcionamento e não fiquemos só na decoreba.
Observem:
na = em + a
da = de + a
à=a+a
Em todas essas contrações têm-se preposição + artigo definido
“a”. Como a preposição “a” e o artigo definido feminino “a”
possuem a mesma forma, isto é, são representados pelo mesmo
símbolo “a”, a contração é marcada pelo acento grave “à”,
conhecido como “crase”.
Quando o artigo ligado à preposição for masculino, a contração
se faz por “ao”. É por isso que não há crase antes de palavras
masculinas.
Disso deriva excelente regra sobre a crase, que EU SEMPRE, EU
DISSE SEMPRE, APLICO: Use a crase antes do nome feminino se
na substituição deste por um nome masculino aparecer a forma
“ao”. Veja:
“Ele se referiu à carta” (certo, pois dá para substituir por “ao
documento”).
Outro exemplo:
“O apelante viu várias vezes seu único imóvel ser levado a hasta
pública”.
NÃO VAI CRASE: substituindo “hasta pública” por “leilão”,
veremos facilmente a ocorrência apenas da preposição “a” (a leilão).
Por fim:
“Não se presta a prova exclusivamente testemunhal para anular
cessão de direitos hereditários realizada por pessoas que não seriam
suscetíveis de ser induzidas em erro ou coagidas a prática de ato
por chantagem emocional”.
E agora? Há crase antes de “prática”?
A resposta é NÃO.⠀Veja que se substituíssemos “prática” por
“cometimento”, não teríamos “ao cometimento”, apenas “a

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cometimento”, apenas a preposição “a”.
Existem outras regras sobre o uso da crase. Essa que passei
resolve, todavia, 95% dos casos!
Era isso.

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18. FLEXÃO DO INFINITIVO PESSOAL
Primeiramente é importante esclarecer que infinitivo IMpessoal é
a forma, digamos assim, normal do verbo: ajuizar, perder, falar,
pleitear, requerer. Nunca é flexionado.
O infinitivo é PESSOAL quando flexiona de acordo com a pessoa,
com o sujeito a que se refere: ajuizar eu, ajuizares tu, ajuizarmos
nós, ajuizarem eles.
1ª regra: Flexiona-se o infinitivo quando possui sujeito próprio,
diferente de outro sujeito no período. Assim:
“O apelante alega serem os réus os responsáveis pelo acidente”
(Certo–o “serem” está flexionado porque o seu sujeito é “réus”, no
plural, diferente do sujeito “apelante”).
2ª regra: Se os sujeitos forem idênticos, o infinitivo será
flexionado apenas se a flexão tornar mais CLARA a frase. Veja:
“As partes foram intimadas a se manifestar no prazo de 15
(quinze) dias, sob pena de extinção do feito” (Certo–não há
necessidade de flexão do infinitivo “manifestar” (manifestarem),
pois se trata de mesmos sujeitos (“partes”) e a flexão não tornaria a
frase mais clara).
Observe agora o seguinte período:
“Os desembargadores acordaram prover parcialmente o recurso
para, considerando as peculiaridades do caso, concederem ao
apelado a gratuidade da justiça” (Certo–apesar de sujeitos idênticos
(desembargadores), o verbo “conceder” está distante, de modo que
a flexão torna o período mais claro).
Atente-se que nas LOCUÇÕES VERBAIS (verbo auxiliar + verbo
principal) o verbo principal nunca virá flexionado:
“Os autores pretendem reformar a sentença” (Certo–e não
“reformarEM a sentença”).
Pelo mesmo motivo está incorreta a seguinte construção:
“Na hipótese de interposição de apelação adesiva, devem os
recorridos serem instados para contrarrazões” (o correto é “devem
os recorridos SER instados”).
Idêntico problema é encontrado nas locuções verbais em que o
verbo auxiliar é constituído de gerúndio mal-empregado:
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“A relação processual tem que ser integrada pela Caixa
Econômica Federal, devendo os autos serem remetidos à Justiça
Federal” (Errado–o correto é “devendo os autos SER remetidos à
Justiça Federal”).
Era isso.

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19. REPETIÇÃO DAS PREPOSIÇÕES
“Foi condenado ao pagamento das custas processuais e DOS
honorários advocatícios” ou “das custas processuais e honorários
advocatícios”?
1ª regra: Quando há mais de um nome mas um só regime, não se
repete a preposição:
“João ajuizou ação contra Pedro e Felipe” (ajuizou uma só ação;
um só regime; não se repete a preposição).
“João ajuizou ação contra Pedro e CONTRA Felipe” (ajuizou
duas ações; dois regimes; a preposição se repete).
“Condenou o réu a pagar ao autor e apelante a quantia de...”
(autor e apelante são a mesma pessoa; um só regime; não se repete
a preposição).
“Condenou o réu a pagar ao autor e AO apelante” (autor e
apelante são pessoas diferentes; dois regimes; a preposição se
repete).
“Colhe-se lição de Theotônio Negrão e Lúcia Jacinto” (uma só
obra).
“Colhe-se lição de Theotônio Negrão e DE Lúcia Jacinto” (duas
obras).
Seguem a mesma regra:
“Autor com parcos recursos e hipossuficiência técnica” (e não:
“com” hipossuficiência...).
“A decisão afrontou o princípio do contraditório e DA ampla
defesa”.
“As tutelas provisórias são classificadas em tutela de urgência e
tutela de evidência” (e não: “em” tutela de evidência).
2ª regra: Se os complementos são palavras que têm mais ou
menos o mesmo sentido, não se aconselha repetir a preposição:
“A existência de sistema de monitoramento ou vigilância não
impossibilita a consumação do crime de furto” (e não: “de”
vigilância).
“Em relação à natureza e importância da causa” (e não: “à”
importância).

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3ª regra: Quando a estrutura de dois regimes estiver pluralizada,
é facultativa a repetição da preposição “de”:
“A decisão afrontou oS princípioS do contraditório e DA ampla
defesa” ou “oS princípioS do contraditório e ampla defesa” (ambas
as formas estão corretas).
Essa regra responde à pergunta inicial. Tanto está correto
escrever “foi condenado ao pagamento das custas processuais e
DOS honorários advocatícios” quanto “das custas processuais e
honorários advocatícios”.
Era isso.

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20. “SE” ÍNDICE DE INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO
Quando o pronome “se” estiver ligado a um verbo transitivo
INdireto, que exige preposição, ele serve de índice de
indeterminação do sujeito, ou seja, ele indica que a frase tem sujeito,
mas não se sabe qual é. Veja:
“Eu preciso de intérpretes” (sujeito: eu).
“Precisa-se de intérpretes” (sujeito indeterminado; não se sabe
qual é).
Quando o “se” é índice de indeterminação do sujeito, o verbo fica
SEMPRE no singular:
“Tratam-se de apelações cíveis interpostas...” (Errado).
“Trata-se de apelações cíveis interpostas...” (Certo).
Se sabemos que o pronome “se” serve, quando ligado a um verbo
transitivo indireto, de índice de indeterminação do sujeito, por que
insistimos em escrever orações como as abaixo?
1–“Trata-se o presente caso de ação anulatória”.
2–“O caso trata-se de crime de homicídio”.
3–“Tratam-se os autos de agravo de instrumento da decisão...”.
Pois saiba que todas essas orações estão escritas de forma
INCORRETA!
Por quê?⠀Ora, se o “se” é índice de INDETERMINAÇÃO do
sujeito, as orações não podem trazer sujeitos expressos, que nos
exemplos são: 1–o presente caso; 2–o caso; 3–os autos (neste último
ainda há o agravante do “tratam”, no plural).
Corrigir para:
1–“Trata-se, no presente caso, de ação anulatória” ou “O presente
caso trata de ação anulatória”.
2–“O caso é de crime de homicídio” ou “Trata-se, no caso, de
crime de homicídio”.
3–“Os autos tratam de agravo de instrumento da decisão...” ou
“Trata-se, nos autos, de agravo de instrumento da decisão...” ou,
ainda, “Trata-se de agravo de instrumento da decisão...”.
Era isso.

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21. AMBIGUIDADE
Ambiguidade é a propriedade que certas construções linguísticas
têm de apresentarem sentidos diferentes, não almejados pelo autor
do texto.
Veja abaixo:
“Não se conhece de agravo de instrumento quando não instruído
com a petição inicial, se o exame do seu conteúdo for necessário à
compreensão da controvérsia”.
A construção é ambígua, porque não é possível saber,
imediatamente, se o “seu” remete ao conteúdo da petição ou do
agravo.
Frase sem ambiguidade:
“Não se conhece de agravo de instrumento quando não instruído
com a petição inicial, se o exame do conteúdo DESTA for necessário
à compreensão da controvérsia”.
Dependendo da posição que construções iniciadas por locuções
prepositivas (de acordo com, a fim de, em razão de) assumem na
frase, esta pode adquirir significado ambíguo:
“Constatando a perícia debilidade permanente da função
cognitiva do autor, que caracterizam danos corporais totais, de
acordo com a tabela da MP n. 451/2008, faz ele jus à indenização
máxima prevista”.
A posição da construção iniciada pela locução “de acordo com”
torna o período ambíguo, pois não se sabe se ela está relacionada à
oração anterior (“que caracterizam danos corporais totais”) ou à
posterior (“faz ele jus à indenização máxima prevista”).
Mais claro estaria o período se redigido da seguinte forma:
“Constatando a perícia debilidade permanente da função
cognitiva do autor, que caracterizam danos corporais totais, faz ele
jus, de acordo com a tabela da MP n. 451/2008, à indenização
máxima prevista”.
Era isso.

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22. O PARALELISMO
A fim de se tornarem mais claras para o leitor, ideias similares
devem ser representadas por estruturas sintáticas similares. É o que
se denomina de Paralelismo.
Repare no seguinte exemplo, em que NÃO há paralelismo:
“O fim da lei não deve ser a imobilização da vida, e sim o de
manter contato íntimo com ela”.
Veja que na primeira parte do período temos predicado
substantivado (“imobilização”), e na segunda o predicado aparece
na forma verbal (“manter”). O período fica mais claro, com
paralelismo, assim:
“O fim da lei não deve ser o de IMOBILIZAR a vida, e sim o de
MANTER contato íntimo com ela”.
Ou:
“O fim da lei não deve ser a IMOBILIZAÇÃO da vida, e sim a
MANUTENÇÃO do contato íntimo com ela”.
Outro exemplo de redação sem paralelismo:
“Impõe-se considerar que os demandantes possuem um filha de
8 anos de idade e a natureza previdenciária da causa”.
Redação com paralelismo:
“Impõe-se considerar QUE os demandantes possuem uma filha
de 8 anos de idade e QUE a causa tem natureza previdenciária”.
Ou:
“Impõe-se considerar A idade da filha dos demandantes (8 anos)
e A natureza previdenciária da causa”.
A ausência de paralelismo não torna, na maioria dos casos, a
construção incorreta gramaticalmente. Todavia certamente o
paralelismo confere estilo à frase, fazendo com que fique mais
aceitável e elegante para o leitor.
Era isso.

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23. ESCREVA BEM
Quando escreve um texto jurídico, o redator precisa persuadir o
leitor de que o que está escrevendo é correto. Quem se lança a
redigir petições, sentenças e arrazoados deve possuir domínio
sintático, justificar suas escolhas semânticas e ter controle
pragmático do contexto, no sentido de conhecer seu público e
convencer seu espírito. Isso vem desde os sofistas, passando por
Aristóteles, incrementado por Cícero, atualizado por Perelman e
ajustado por Alexy.
Não há dúvidas de que a boa escrita é elemento de
persuasão/argumentação. Um texto bem escrito não cumpre apenas
papel formal no âmbito jurídico. Pelo contrário. Um texto bem
elaborado, para cuja compreensão o esforço do leitor é mínimo,
influencia na discussão do próprio direito material, pois tende a
fazer com que o destinatário aceite com mais facilidade o que nele
está escrito. Portanto escreva bem.
Mas escrever bem não pode significar exagerado apreço ao
purismo das regrinhas gramaticais, muitas vezes esdrúxulas. De
nada adianta o operador do direito saber a diferença entre
complemento nominal e adjunto adnominal se não conhece como
julga o magistrado que analisará o seu caso, se não conhece a
jurisprudência dos tribunais superiores, se não sabe que escrever é
um processo eminentemente ideológico; é um jogo semiótico no
qual sairá vencedor quem conseguir compartilhar a sua verdade
com o leitor.
Por isso, antes de indagar se o correto é “ação contra” ou “ação
em face de”, o escritor deveria se preocupar em estudar estilística,
saber o efeito que o ritmo das frases exerce no leitor, começar a ler
os clássicos e entender por que são chamados de clássicos. O
escritor precisa compreender que uma crase incorreta nunca tirará o
brilho de um texto que na sua inteireza é coerente, convincente e
agrada o leitor.
Era isso.

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24. NO PRAZO DE 30 (TRINTA) DIAS CONTADO OU
CONTADOS DA CITAÇÃO?
O Código de Processo Civil traz as duas concordâncias. Veja:
“Art. 542. Na petição inicial, o autor requererá:
I–o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no
prazo de 5 (cinco) dias contadoS do deferimento, ressalvada a
hipótese do art. 539, § 3º”.
“Art. 752. Dentro do prazo de 15 (dias) contado da entrevista, o
interditando poderá impugnar o pedido”.
QUAL A FORMA CORRETA?
As duas concordâncias estão corretas: “contado” pode concordar
com “prazo”, no singular, ou com o número referente a ele, no
plural.
PREFIRA, contudo, a concordância no SINGULAR. Essa
conclusão é extraída de frases como as abaixo, nas quais fica
evidente que o emprego do singular é o mais adequado:
“As partes devem se manifestar no prazo de 10 (dez) dias, que
correrá em cartório” (e não: que correrão).
“...no prazo de 5 (cinco) dias, findo o qual o juiz...” (e não: findos
os quais).
Se em construções como essas você não quiser usar “contado”
nem “contadoS”, existem formas de substituição:
“...prazo de 5 (cinco) dias A CONTAR da última intimação”.
“...prazo de 5 (cinco) dias DA última intimação”.
Era isso.

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25. “COISINHAS” QUE CANSAM O LEITOR DA SUA
PEÇA

1 Parágrafos muito pequenos ou muito grandes


Não existe regra fixa, mas geralmente bons parágrafos
contêm de três a seis, sete linhas.
2 Muitos destaques
Não faça muitos negritos, sublinhados, itálicos. Isso enfeia
demais o texto. Apenas destaque o que for importante. E
lembre-se: se tudo é importante, nada há para ser destacado.
3 Recuos desproporcionais
O tamanho normal de recuo da margem esquerda para
citações é de 4 cm. Fazer recuo de 6, 7, 8 cm é abusar da
paciência do leitor (ainda mais se vier negritado, como é
normal acontecer).
4 Uso de iniciais maiúsculas sem necessidade
Isso é uma chateação. Retire todas as maiúsculas de “... o
Autor interpôs Apelação questionando o Laudo Pericial
elaborado...”.
5 Uso de exclamação
Polui o texto. Se quiser usar exclamação, use uma apenas.
Portanto, se for escrever “Isso é um absurdo!”, escreva assim
mesmo, e não “ISSO É UM ABSURDO!!!!!”. O mesmo
raciocínio se aplica ao ponto de interrogação.
6 Uso exagerado de travessões
O travessão – que muitos confundem com o traço – e com a
vírgula – deve ser usado com muita parcimônia. Meu conselho
é que – quase nunca – seja usado, pois confunde a leitura – e
também polui o texto.
7 Notas de rodapé
Não, né. Deixe as notas de rodapé, com referências
doutrinárias e jurisprudenciais, para os trabalhos científicos.
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Em peças jurídicas faça referências dentro do próprio texto,
entre parênteses.
Era isso.

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26. INDEPENDENTE OU INDEPENDENTEMENTE?
Hoje vou sanar essa dúvida que, tenho certeza, muitos de vocês
têm.
A resposta é: TANTO FAZ. Tanto está correto escrever
“independentemente” (advérbio) como “independente” (adjetivo
funcionando como advérbio). Veja:
“A legitimidade para a execução individual de sentença
proferida em ação civil pública, independente (ou
independentemente) de autorização específica do exequente,
advém...” (Correto).
“Estão vencidas todas as obrigações contratuais, independente
(ou independentemente) de notificação judicial” (Correto).
“A fixação de honorários é imperativa, independente (ou
independentemente) de pedido” (Correto).
Era isso.

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27. “CONHECER E DAR PROVIMENTO AO RECURSO”
ESTÁ CORRETO?
NÃO. Essa estrutura está incorreta!
“Conhecer” e “dar provimento” possuem regências diferentes:
Eu dou provimento AO
Mas eu conheço DO
Por isso não está correto “conhecer e dar provimento ao recurso”.
Corrija para:
“Conhecer do recurso e dar-lhe provimento”.
Atente-se também que o correto é “conhecer E dar provimento”,
e não “conhecer PARA dar provimento”.
Isso porque o conhecimento e o exame do mérito são etapas
distintas da apreciação de um recurso, e não se conhece PARA (com
a finalidade de) prover ou desprover o recurso.
Mas preste atenção: está correto escrever “Conheço do recurso e
dou-lhe provimento PARA condenar o réu a compensar o dano
moral sofrido pelo autor”, pois agora sim eu dou provimento com
uma finalidade. “Para”, portanto.
Ficou se indagando se está correto usar a primeira pessoa no
voto? Leia o n. 46.
Era isso.

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28. “ARREMATANDO A PETIÇÃO INICIAL,
REQUEREU O AUTOR FOSSE A RÉ CONDENADA A
REPARAR OS DANOS MATERIAIS”. HÁ ERRO NESSA
CONSTRUÇÃO?
Gramaticalmente, a estrutura está perfeita.
O problema aqui pode ser de ordem semântica, de sentido.
Acompanhem meu raciocínio:
Se a frase em questão estiver na CONTESTAÇÃO ou na
SENTENÇA, em vez do “fosse” (pretérito do subjuntivo) eu usaria
“seja” (presente), pois até então não foi apreciado o pedido da
condenação.
Se a frase estiver no ACÓRDÃO, usaria o “fosse”, pois nesse caso
o pedido de condenação já foi apreciado na sentença, e o que o
relator está fazendo é narrando o que ACONTECEU na instância
inferior (passado, portanto), ainda que o pedido esteja sendo objeto
de reapreciação pelo tribunal.
Acompanharam?
No início do post eu disse que gramaticalmente a estrutura está
perfeita. E está mesmo!⠀Destaco isso porque é dúvida recorrente
dos meus alunos a necessidade do “QUE”, conjunção integrante,
antes de “seja”, “fosse”.
NÃO, não há necessidade! A conjugação do verbo já demonstra
que ele está no subjuntivo, de forma que o “que” pode ser deixado
de lado.
Arrisco até mesmo a dizer que em textos jurídicos não soa bem
esse “que”. Vejam:
“Pugnou QUE seja o apelante condenado por litigância de má-
fé”.
“Pugnou seja o apelante condenado por litigância de má-fé”.
A segunda frase soa mais jurídico e está corretíssima!
Era isso.

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29. E A COLOCAÇÃO PRONOMINAL?
Não gosto deste tema. A maior parte das “regrinhas de atração”
do pronome que fomos obrigados a decorar é baseada na pronúncia
do português de Portugal. Como nós temos pronúncia diferente,
penso que algumas daquelas regrinhas não se aplicam para o
português do Brasil. Daí o meu desgosto.
A boa notícia é que nos textos jurídicos não costumamos cometer
“erro” gramatical de colocação pronominal, quer ver?
Certamente nenhum de nós escreve frases como estas nas peças:
“SE condenam os réus a indenizar o autor”.
“Conforme infere-SE dos autos, o acusado agiu em legítima
defesa”.
“O demandante alega que feriu-SE ao cair no buraco”.
“O caso em exame muito parece-SE com o do julgado transcrito”.
“Nenhum dos autores insurgiu-SE contra a decisão”.
Claro que não! Em vez disso escrevemos, NATURALMENTE:
“Condenam-SE os réus a indenizar o autor”.
“Conforme SE infere dos autos, o acusado agiu em legítima
defesa”.
“O demandante alega que SE feriu ao cair no buraco”.
“O caso em exame muito SE parece com o do julgado transcrito”.
“Nenhum dos autores SE insurgiu contra a decisão”.
Perceberam como colocamos os pronomes oblíquos de forma
correta sem precisarmos decorar nenhuma regra boba de atração?
Não é de todo rígida a regra que diz para não colocar o pronome
logo após a vírgula. Observem esta frase:
“A apelante alega que, assim como seu marido, se sentiu
humilhada quando...”.
O “SE sentiu” está correto, porque o “que” do “alega que” pede a
próclise, ainda que o sintagma “assim como seu marido” esteja
interrompendo o período.
Em locuções verbais com verbos pronominais (= que vêm
acompanhados de pronomes), vejo construções como:

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“Atendeu o policial, o qual SE estava recuperando do ferimento”
(o verbo pronominal é “recuperar-se”).
A construção acima, apesar de correta, SOA MUITO MAL!
Preferir:
“Atendeu o policial, o qual estava-SE recuperando”; ou
“... o qual estava SE recuperando” (sem hífen); ou
“... o qual estava recuperando-SE”.
Eu uso a segunda forma, pois acho que o hífen polui o texto, além
do que a terceira soa estranho para mim.
Era isso.

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30. ESTÃO CORRETAS AS FORMAS “DEVIDO A”,
“RELATIVO A”, “CONCERNENTE A”, “REFERENTE
A”, “PERTINENTE A”?
Vez ou outra me questionam sobre essas expressões; se são elas
vernáculas.
Sim, são todas expressões (que podem ser usadas como
sinônimas) permitidas pela língua portuguesa.
Estão corretas, portanto, todas as frases abaixo:
“Devido ao não pagamento da dívida, seu nome foi inscrito na
Serasa”.
“O pleito relativo à exclusão da capitalização dos juros não foi
analisado”.
“Ademais, requereu o autor a redução do montante concernente
à cláusula penal”.
“Insurgiu-se contra a pena referente ao crime de tráfico de
drogas”.
“Trata-se de lançamento por homologação pertinente a uma
confissão de dívida”.
Muita atenção para a expressão “no que pertine”, não admitida
em português. É que, ao contrário, por exemplo, de “concernir”
(“no que concerne” está correto), não existe o verbo “pertinir” na
nossa língua.
Era isso.

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31. ACENTUAÇÃO
Com acento:
eles têm, eles contêm, eles vêm (verbo “vir”)
eles convêm
pôr (verbo)
pôde (3ª pes. sing. do pret. perf. de “poder”)
Sem acento:
enjoo, voo
creem, deem, leem, veem (verbo “ver”)
ideia, assembleia, heroico, joia, eu apoio
polo ativo
Nunca é demais rever a questão da acentuação nessas palavras,
não é mesmo?
Lembre-se de que há acento em “pôr”, mas não o há nos seus
derivados: propor, interpor, opor...
Uma regra do novo (?) acordo ortográfico pouco conhecida é a de
que nas paroxítonas não se acentuam o “i” e o “u” tônicos
precedidos de ditongo: “feiUra”, “bocaiUva”, E NÃO “feiÚra”,
bocaiÚva”. Apesar de essas palavras serem pouco frequentes nos
textos jurídicos, fica a dica!!
Era isso.

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32. NÃO HÁ QUE SE FALAR, NÃO HÁ QUE FALAR,
NÃO HÁ SE FALAR, NÃO HÁ FALAR
Expressãozinha que suscita muitas dúvidas esta. Vamos lá.
Transcrevo abaixo o que diz o Dicionário de Regência Verbal, do
Celso Pedro Luft (os destaques são meus):
“NÃO haver + Infinitivo. NÃO SER POSSÍVEL; não existir meio
de ou modo como: Não havia dominá-los. [...]
Haver que + Infinitivo. SER PRECISO; dever: Há que ter
paciência. ‘Não há que fiar em lágrimas’ (Vieira). ‘Não há que fiar
em Deus no tempo de inverno’ (Prov.). Havia que recuperar o
tempo”.
Nos textos jurídicos usamos na maioria das vezes a expressão
com o sentido de “não ser possível”, de modo que o correto é dizer
“NÃO HÁ FALAR”:
“Se a autoridade policial constatou situação de narcotraficância,
NÃO HÁ FALAR em invalidade da apreensão por violação de
domicílio”.
“Assim, NÃO HÁ FALAR em cerceamento de defesa”.
“Consequentemente, NÃO HÁ FALAR em excesso de execução”.
Alerto que no Dicionário de Verbos e Regimes, Francisco
Fernandes admite, além da expressão acima (“não há falar”), a
forma “Não há QUE falar”, o que quer dizer que VOCÊ NUNCA
VAI ERRAR USANDO A EXPRESSÃO “NÃO HÁ FALAR”.
São INCORRETAS as formas “não há que SE falar” e “não há SE
falar”.
É claro que a expressão “não há” pode vir acompanhada de
outros verbos que não o “falar”. Veja:
“Sem provas, não há CONDENAR o acusado” (= não é possível
condenar).
“Ausente demonstração da relação comercial, não há
DENUNCIAR a lide à empresa Karol Gatfer Ltda.” (= não é possível
denunciar).
Era isso.

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33. PRONOME POSSESSIVO: PARTES DO CORPO E
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS
Costumamos usar os pronomes possessivos em demasia. Isso é
um fato. Seja porque nos falta conhecimento da nossa língua seja
porque queremos imprimir ritmo às nossas frases, o possessivo
serve comumente de indevida “bengala” linguística.
Não se recomenda o pronome possessivo antes de nomes de
partes do corpo, quando relacionadas à própria pessoa de que se
trata:
“O autor diz que, em razão da fratura no SEU pé direito,
requereu à seguradora o pagamento de indenização” (Errado. Sem
o “seu”).
“O apelante bateu com a SUA cabeça na mureta de concreto que
sustenta o alambrado” (Errado).
“O réu passou a conviver, desde o acidente, com inúmeras
cicatrizes em toda a SUA perna” (Errado).
Também não é recomendado o possessivo antes de substantivos
abstratos, se também estiverem relacionados com a própria pessoa
do discurso:
“Diz estar exercendo a SUA garantia constitucional ao direito de
petição” (Errado. Sem o “sua”. “Garantia” é substantivo abstrato).
“A formalidade do art. 431-A do CPC objetiva assegurar às partes
a SUA possibilidade de participação na produção da prova”
(Errado).
“Ainda que as vítimas tenham sentido redução na SUA
capacidade laboral ao longo desses anos,...” (Errado).
“Deve valer-se a acusada do SEU direito de não produzir prova
contra si mesma” (Errado).
Agora retorne ao primeiro parágrafo do post e veja como estão
sobrando os possessivos “nossa” (nossa língua) e “nossas” (nossas
frases).
Era isso.

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34. SE O VERBO, SOZINHO, RESOLVE, USE-O
Por ser forma mais concisa e objetiva, use apenas o verbo quando
ele, por si só, conseguir expressar a ideia que você quer transmitir.
Assim, é preferível “requerer”, “pagar”, “nomear” a
“efetuar/fazer/realizar requerimento”; “efetuar/fazer/realizar
pagamento”; “efetuar/fazer/realizar nomeação”.
Por isso, escreva:
“A parte tem direito à gratuidade da justiça quando não possui
condições de PAGAR as despesas processuais sem prejuízo próprio
e de sua família”.
E não:
“A parte tem direito à gratuidade da justiça quando não possui
condições de EFETUAR O PAGAMENTO das despesas processuais
sem prejuízo próprio e de sua família”.
Seguindo esse raciocínio, prefira as formas verbais às nominais
em construções como:
“Cabe ao juiz DETERMINAR as provas necessárias à instrução
do processo”.
E não:
“Cabe ao juiz a DETERMINAÇÃO das provas necessárias à
instrução do processo”.
Era isso.

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35. “O Novo Código de Processo Civil” ou “O novo Código
de Processo Civil”?
Para início de conversa, o CPC de 2015 já não é tão novo assim.
Então o meu conselho é que você NUNCA use o epíteto “novo”
para se referir a ele; em alguns casos, nem mesmo o ano “2015”
precisa ser usado. Veja:
“O art. 85 do Código de Processo Civil dispõe que...” (se o ano
não é mencionado, subentende-se que se trata do código de 2015).
Se, todavia, no texto você estiver comparando o CPC/2015 com o
CPC/1973, a indicação do ano se faz necessária. Observe:
“O Código de Processo Civil de 2015 traz, entretanto, disposição
diferente [à do CPC/1973]”.
Mas não: “O NOVO Código de Processo Civil traz...”.
Agora voltemos ao tema do post. Caso você, ainda assim, queira
escrever “‘novo’ Código de Processo Civil”, a inicial de “novo”
deve vir em MINÚSCULA.
Isso porque nenhum adjetivo em português vem com inicial
maiúscula. Nunca escrevemos, no meio das frases, “Bela casa”,
“Intempestivo recurso”, “acidente Violento”.
Portanto, escreva (se for escrever) “novo Código de Processo
Civil”; “novo” com inicial minúscula.
Era isso.

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36. SE NÃO HÁ PAUSA, NÃO HÁ VÍRGULA
Surpresos com essa afirmação? Mas é isso mesmo: quando não
existe pausa, não existe vírgula.
Vejam as seguintes construções, corretamente virguladas:
“Contudo, na impossibilidade de devolução do bem, deve o
banco depositar a quantia...” (há pausa e vírgula depois de
“contudo” e “bem”).
“Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o
devedor em mora desde que o praticou” (idem; há pausa e vírgula
depois de “ilícito”).
“Ademais, sem parcelamento regular não é possível abrir a
matrícula, e, sem a matrícula, a sentença que venha a deferir o
usucapião não pode ser registrada” (idem em todas as ocorrências
de vírgula).
ATENÇÃO: Dizer que “se não há pausa, não há vírgula” NÃO
SIGNIFICA que sempre que houver pausa haverá vírgula. São
coisas diferentes!!
Observem estas construções, também corretamente virguladas:
“O art. 173, § 2º, da Carta Magna adverte...” (não há vírgula
depois de “Magna”, apesar da pausa na leitura. A vírgula aí
separaria sujeito de predicado, o que não é permitido).
“Funcionou como representante do Ministério Público o Exmo.
Sr. ...” (novamente: apesar da pausa na leitura, não há vírgula
depois de “Público”, pois também separaria sujeito de predicado).
“Do Superior Tribunal de Justiça colhe-se:” (vejam que há pausa
depois de “Justiça”, mas a vírgula aí estaria errada, pois separaria o
verbo (colher) do seu complemento (Do Superior Tribunal de
Justiça), o que igualmente não é permitido).
Há até casos em que existe a pausa, a vírgula seria possível, mas
não é usada por ser desnecessária ou porque a clareza não a pede.
Analisemos a frase anteriormente transcrita:
“Ademais, sem parcelamento regular não é possível abrir a
matrícula, e, sem a matrícula, a sentença que venha a deferir o
usucapião não pode ser registrada”.
Notem que há pausa depois de “regular” e que a vírgula aí não
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estaria incorreta, mas optou-se pelo não emprego dela por ser
desnecessária e porque o texto ficaria “poluído” de vírgulas.
Era isso.

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37. ESCREVA “DE MODO QUE”, “DE FORMA QUE”,
“DE MANEIRA QUE”, E NÃO “DE MODO A”, “DE
FORMA A”, “DE MANEIRA A”
Como vejo as locuções conjuntivas serem mal tratadas em textos
jurídicos...
Nunca escreva “de modo a”, “de forma a”, “de maneira a”.
Estão, assim, INcorretas todas as seguintes construções:
“Os honorários advocatícios devem ser arbitrados com
razoabilidade e de acordo com a natureza da causa, DE MODO A
prestigiar o trabalho do causídico”.
“Os crimes sexuais são cometidos, de regra, na clandestinidade,
sem testemunhas, DE FORMA A assumir a palavra da vítima
especial relevância para a elucidação dos fatos”.
“O interesse recursal constitui pressuposto de admissibilidade de
todo recurso, DE MANEIRA A impor à parte a demonstração do
prejuízo obtido com a manutenção da decisão atacada”.
Corrigir para:
“Os honorários advocatícios devem ser arbitrados com
razoabilidade e de acordo com a natureza da causa, DE MODO
QUE se prestigie o trabalho do causídico”.
“Os crimes sexuais são cometidos, de regra, na clandestinidade,
sem testemunhas, DE FORMA QUE a palavra da vítima assume
especial relevância para a elucidação dos fatos”.
“O interesse recursal constitui pressuposto de admissibilidade de
todo recurso, DE MANEIRA QUE cabe à parte demonstrar o
prejuízo obtido com a manutenção da decisão atacada”.
Estão igualmente INcorretas as expressões pluralizadas “de
modoS a”, “de formaS a”, “de maneiraS a”.
Era isso.

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38. “CONDENA-SE OS AUTORES A PAGAR A MULTA
PREVISTA...” OU “CONDENAM-SE OS AUTORES A
PAGAR A MULTA PREVISTA...”?
Como “autores” é plural, o verbo deve ir para o plural também.
Calma que vou explicar.
O pronome “se” cumpre diversas funções na oração, e uma delas
é a de apassivar o sujeito.
O sujeito de uma oração é a pessoa ou coisa que pratica a ação
contida no verbo:
“Colho os seguintes julgados”. O sujeito (oculto) é “eu” (eu
colho).
A mesma frase, agora na passiva:
“Colhem-se os seguintes julgados (por mim)”.
Veja que apareceu um “SE” depois de “colhem”, e isso indica que
a voz está na PASSIVA, isto é, o sujeito não pratica, mas sofre a ação
do verbo. Esse “se” é denominado, portanto, de “partícula
apassivadora”. A frase acima também pode ser lida assim: “Os
seguintes julgados são colhidos por mim”.
Sabe-se que o pronome “se” é apassivador quando se junta a um
verbo TRANSITIVO DIRETO (verbo que não exige preposição).
Nesse caso, o verbo deve ir para o plural se o sujeito estiver no
plural, e ficar no singular se o sujeito também estiver no singular.
Assim:
“Acolhem-se os embargos de terceiro para julgar extinta a
execução” (sujeito “embargos de terceiro” no plural, verbo
“acolhem” no plural).
“Julgou-se o pedido improcedente” (sujeito “o pedido” no
singular, verbo “julgou” no singular).
“Intimem-se os réus para, querendo, apresentar impugnação”
(“réus” plural, “intimem” plural).
“Intime-se o réu para, querendo, apresentar impugnação” (“réu”
singular, “intime” singular também).
Então, respondendo à pergunta do post, o correto é:
“CondenaM-se os autores a pagar a multa prevista...”.

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Era isso.

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39. A EXPRESSÃO “OU NÃO”
Eu poderia colocar este tema na lista do “palavras que sobram”
(n. 10), mas a frequente ocorrência indevida do “ou não” nos textos
jurídicos me levou a dedicar um post só sobre ele.
Observem como a expressão “ou não” pode ser excluída das
construções abaixo sem causar prejuízo no entendimento:
“O que se debate nesta ação é a existência OU NÃO de dano
moral compensável”.
“Essa discussão sobre a incidência OU NÃO da causa de
diminuição da pena é irrelevante”.
“A referida demanda não ingressa na análise da validade OU
NÃO dos encargos contratados”.
“Resta examinar se a citação interrompeu OU NÃO a prescrição”.
“Pouco importa saber se o veículo estava OU NÃO em nome dos
réus”.
Obviamente que existem casos em que a expressão “ou não” é
corretamente empregada, a exemplo das frases abaixo:
“É cabível ‘habeas corpus’ para a análise da ilegalidade ou não de
ato constritivo da liberdade de locomoção”.
“São devidos honorários nas execuções, embargadas ou não”.
“No caso, é necessário perícia para que se atribua à ré a
responsabilidade ou não pelo infortúnio”.
Era isso.

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40. AGRAVO “DA” OU “CONTRA” A DECISÃO?
As duas preposições regem o nome “agravo”. Então está
CORRETO escrever tanto “agravo DA decisão” quanto “agravo
CONTRA a decisão”.
Até um tempo atrás eu dizia aos meus alunos que não
utilizassem a preposição “contra”, pois o Dicionário de Regência
Nominal traz apenas a regência com a preposição “de”.
Todavia, o CPC traz vááááárias ocorrências de “agravo
CONTRA”, motivo pelo qual penso serem aceitáveis as duas
regências. Não adianta remar contra a maré!!
Então podem escrever sem medo:
“Trata-se de agravo de instrumento DA decisão que indeferiu...”.
OU
“Trata-se de agravo de instrumento CONTRA a decisão que
indeferiu...”.
(como eu sei que vocês sempre gostam de saber a preferência do
professor, lá vai: prefiro com a preposição “de”)
Da mesma forma está correto escrever “recurso DA decisão ou
CONTRA a decisão”; “apelação DA sentença ou CONTRA a
sentença”.
A palavra “interposto” também rege as preposições “de” e
“contra” (“recurso extraordinário interposto DO ou CONTRA o
acórdão”)
Era isso.

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41. POSSO USAR NA MINHA PEÇA O TEMPO
PRESENTE PARA ME REFERIR A FATOS PASSADOS?
A fim de responder a esta pergunta, imaginemos que a seguinte
construção esteja no relatório do acórdão, na contestação ou na
apelação:
“João da Silva ajuizou ação de indenização contra Pedro da Costa
(autos n. 98.567.777).
Sustenta que no dia 23-7-2017 transitava pela avenida Getúlio
Vargas quando a motocicleta conduzida pelo réu colidiu com o seu
automóvel, causando os danos discriminados às fls. 10-11.
Assevera que buscou pessoalmente com o réu o ressarcimento
dos danos, contudo não teve êxito, de forma que outra saída não
teve a não ser o ajuizamento da presente demanda.
Requereu, ao final, a condenação do réu ao pagamento da
quantia de R$ 6.500,00 a título de indenização pelos danos materiais
sofridos.”
Vejam que no primeiro parágrafo há o verbo “ajuizar” no
passado; no segundo parágrafo o verbo “sustentar” no presente; no
terceiro, “asseverar” no presente; e, no último, o verbo “requerer”
no passado.
E agora? Essa “mistura” de tempos verbais é possível?
Sim, é possível e está corretíssima!! Apesar de se estar referindo a
fatos que já aconteceram, o tempo presente no segundo e terceiro
parágrafos denomina-se “presente histórico”, isto é, a FORMA é de
tempo presente mas o SENTIDO é de passado.
É claro que em vez de “sustenta” e “assevera” poder-se-ia
escrever “sustentou” e “asseverou”, o que não impede, todavia, a
forma no presente (presente histórico).
Interessante que a FORMA verbal no presente pode ser às vezes
usada até mesmo para indicar ação futura, como se observa na
seguinte passagem: “Portanto, remetam-se os autos à origem, onde
o réu, querendo, PODE (ou ‘poderá’) arguir a nulidade em tela”.
Era isso.

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42. “POIS” E “PORQUE”, QUANDO USAR?
Para início de conversa, é bom ter bem claras duas noções:
- “Pois” e “porque” podem ter o mesmo sentido; ambas podem
ser conjunções explicativas.
- A conjunção “porque”, além de explicativa, pode introduzir
oração que denota causa.
Então, só se pode falar em diferença entre “pois” e “porque” se se
partir do pressuposto de que o “porque” cumpre APENAS função
causal (o “pois” é sempre explicativo).
Diante desse pressuposto, usa-se “pois”, não “porque”, para
introduzir oração que denota o motivo óbvio, natural, notório,
lógico da oração que ela explica. Vamos logo para os exemplos:
“O recurso não pode ser conhecido, POIS ausentes os
pressupostos de admissibilidade” (vejam que o “pois” introduz um
motivo óbvio da oração anterior. A frase pode ser lida assim: É
CLARO que se não houver pressupostos de admissibilidade o
recurso não pode ser conhecido).
“O recurso não pode ser conhecido, PORQUE ausente o preparo”
(agora o motivo não é tão óbvio assim; isso porque, não obstante a
inexistência de preparo, o recurso poderia ser conhecido na
hipótese de gratuidade da justiça, por exemplo).
“Não acolho o pedido de indenização por danos materiais, POIS
feito apenas na réplica”.
“Não acolho o pedido de indenização por danos materiais,
PORQUE não provou o autor fato constitutivo do seu direito”.
“No caso não existiu dano moral, POIS o episódio causou ao
autor apenas mero aborrecimento”.
“No caso não existiu dano moral, PORQUE a inscrição do nome
do autor nos órgãos de proteção decorreu de exercício regular do
direito do réu”.
Ocorre que no direito é muito comum a construção silogística de
frases, e nesse sentido o “pois” é bastante usado como elemento
coesivo-argumentativo, sugerindo que a posição assumida é óbvia e
lógica, quando não pacífica.
Vejam o seguinte período, em que o “porque” deveria ser usado,
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mas o “pois” também está correto uma vez que quem escreve quer
passar a ideia de obviedade:
“Não é nulo o julgamento dos embargos de declaração por outro
magistrado que não aquele que proferiu a sentença, POIS o recurso
não está vinculado ao juiz, e sim ao órgão jurisdicional”.
Era isso.

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43. O AUTOR TEM “QUE” OU “DE” DEMONSTRAR O
FATO CONSTITUTIVO DO SEU DIREITO?
Notem que a frase expressa obrigatoriedade e poderia ser escrita
assim: “O autor DEVE demonstrar o fato constitutivo do seu
direito”.
Nesse sentido alguns gramáticos puristas lecionam que o correto
seria o uso do “de” (o autor tem DE demonstrar), não do “que”.
Eu até prefiro com o “de” mesmo, MAS SÃO ACEITAS AMBAS
AS FORMAS (ter de ou ter que) para indicar obrigatoriedade:
“O autor tem DE demonstrar o fato constitutivo do seu direito”
(Certo).
“O autor tem QUE demonstrar...” (Certo).
Uma dica que dou pra vocês é: quando já existir na frase outro
“de” ou “que”, usar a outra forma para evitar repetição. Assim:
“Os adquirentes dos imóveis depositaram em juízo a quantia que
tinham DE pagar à construtora” (como já há um “que” depois de
“quantia”, é preferível o “de” para evitar a repetição).
“De fato, os embargantes tinham QUE provar a existência de
omissão na sentença” (nesse caso, já há dois “de” na construção,
então o “que” é recomendado).
À exceção desses casos (para evitar repetição), pode-se usar,
indiferentemente, a expressão “ter que” ou “ter de”.
Era isso.

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44. COLOCANDO ORDEM NO TEXTO
Pessoal, alerto para o cuidado que devemos ter para não
subordinar ou coordenar orações indevidamente, que é o que
ocorre quando não prestamos atenção na escrita ou não
conhecemos bem esses processos sintáticos, desordenando o texto.
Vejam, por exemplo, a seguinte frase:
“Assim, provado que a alimentanda, embora conte 19 anos de
idade, ainda está cursando ensino superior, deve ser mantida a
obrigação alimentar”.
Observem que a oração “embora conte 19 anos de idade” não se
subordina ou se subordina mal à oração “ainda está cursando
ensino superior”. Isso porque 19 anos é a idade com que geralmente
se entra na faculdade, de modo que a oração introduzida pelo
“embora” está fora de ordem.
Corrigir para:
“Assim, provado que a alimentanda está cursando ensino
superior, deve ser mantida a obrigação alimentar, embora conte ela
19 anos de idade”.
“Sustentam que residem no imóvel objeto da ação de execução
ajuizada pelo embargado, motivo pelo qual é ele impenhorável, por
constituir bem de família”.
Confuso. O imóvel é impenhorável porque residem nele ou
porque constitui bem de família?
Corrigir para:
“Sustentam que residem no imóvel objeto da ação de execução
ajuizada pelo embargado, o qual, por constituir bem de família, é
impenhorável”.
“A ré age como instituição financeira, o que não lhe é permitido,
pois cobra encargos abusivos dos autores”.
Vejam que a oração introduzida por “pois” está deslocada.
Corrigir para:
“A ré age como instituição financeira, pois cobra encargos
abusivos dos autores, o que não lhe é permitido”.
Era isso.

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45. “À” OU “NA” ÉPOCA DOS FATOS?
As duas formas estão corretas. Na fala tendemos a usar a
preposição “em” (na); na escrita, a preposição “a” (à), por tornar a
frase mais elegante. Mas ambas podem ser usadas na escrita.
“No caso, não se aplica a atenuante prevista no art. 65, I, do CP,
pois à época dos fatos contava o acusado 22 anos de idade” (certo).
“No caso, não se aplica a atenuante prevista no art. 65, I, do CP,
pois na época dos fatos contava o acusado 22 anos de idade” (certo).
Também estão corretas as construções:
“Deveria o réu ter oposto, à (ou na) ocasião, embargos de
terceiro”.
“A formalização da alteração contratual após a retirada do sócio
faz presumir que, àquele (ou naquele) tempo, ainda eram exercidas
as atividades empresariais”.
Para terminar, apenas uma observação quanto à regência do
verbo “contar” que aparece em uma das frases acima. A regência
está correta: o certo é “contar 22 anos de idade”, e não “contar COM
22 anos de idade”.
Era isso.

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46. POSSO REDIGIR O ACÓRDÃO EM PRIMEIRA
PESSOA?
A resposta é sim: tal como a sentença, o acórdão pode ser
redigido tanto em primeira quanto em terceira pessoa.
Estou me referindo, claro, à FUNDAMENTAÇÃO do acórdão,
pois em regra o relatório e o dispositivo devem ser escritos apenas
em terceira pessoa.
A dúvida surge porque o acórdão é julgamento colegiado e,
assim, não poderia ser lavrado em primeira pessoa, pois reflete a
decisão não de um, mas de, no mínimo, três julgadores.
Aliado a isso, a fundamentação do acórdão constitui texto
dissertativo. Na fundamentação, os enunciados guardam entre si
relações de natureza lógica, ou seja, relações de implicação (causa e
efeito; um fato e sua condição; uma premissa e uma conclusão etc.).
Essas relações caracterizam o texto dissertativo, que, aprendemos
na escola, deve ser escrito em terceira pessoa.
Ocorre que, embora seja o acórdão uma decisão colegiada e se
constitua a sua fundamentação em texto dissertativo, ainda assim a
primeira pessoa é possível.
Isso porque a fundamentação é, em primeiro lugar, do relator,
para só posteriormente, se vencedora, ser a fundamentação da
maioria ou da unanimidade do colegiado.
Também poderia argumentar dizendo que a fundamentação é
um voto, que por natureza está ligado à pessoa que vota. Ninguém
vota em nome de outrem. Daí a correção de lavrar o acórdão
também em primeira pessoa.
Você não vai errar, portanto, se escrever na fundamentação do
acórdão:
“Na espécie, TENHO que razão não socorre o réu”.
“PENSO, todavia, que o acusado deve cumprir a pena em regime
fechado”.
“... fato que, a MEU ver, deve ser considerado para o deslinde do
feito”.
“DOU provimento ao recurso nessa parte”.
“SIGO o entendimento segundo o qual...”.
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Terminando, digo que você pode utilizar, na mesma
fundamentação, ora a terceira ora a primeira pessoa, sem
problemas!
Era isso.

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47. EM QUE PESE
A concordância/regência dessa locução conjuntiva, que equivale
aproximadamente a “embora”, é um dos assuntos mais
controversos entre os gramáticos.
Uns dizem que a expressão sempre concorda com o elemento
seguinte, outros defendem que a expressão não é regida pela
preposição “a”, outros dizem que é ela invariável
independentemente do elemento que a segue, e assim vai.
Eu sigo o entendimento de que a locução “em que pese a(o)” é
invariável. Assim:
“Em que pese a tais circunstâncias, não logrou êxito”. (Prefira)
“Em que peseM a tais circunstâncias, não logrou êxito”. (Evite)
“Em que pese A tal circunstância, não logrou êxito”. (Prefira)
“Em que pese tal circunstância, não logrou êxito”. (Evite)
“Em que pese À insistência de nossa parte, eles não
compareceram à reunião”. (Prefira)
“Em que pese A insistência de nossa parte, eles não
compareceram à reunião”. (Evite)
“Em que pese AO nosso apoio, não passaram no teste”. (Prefira)
“Em que pese o nosso apoio, não passaram no teste”. (Evite)
Mas quer saber? não use essa expressão, não! Fuja do imbróglio
gramatical que existe em torno dela substituindo-a por embora,
ainda que, nada obstante, mesmo que, apesar de..., a depender do
contexto.
Era isso.

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48. QUANDO ABRIR NOVO PARÁGRAFO?
Para início de conversa, o entendimento de que todo parágrafo
deve conter tópico frasal (ideia central a que se juntam outras,
secundárias) não necessariamente se aplica à redação de peças
jurídicas.
A intenção de quem redige uma petição inicial, uma contestação,
uma sentença ou um acórdão é sempre a de convencer o leitor. Para
ajudar nessa tarefa, a redação dessas peças deve ser clara, agradável
e esteticamente limpa.
Nesse aspecto, o mais eficaz em termos de organização textual é a
elaboração de “parágrafos fragmentados”, nos quais a ideia central
não é desenvolvida em um parágrafo, mas em vários
pseudoparágrafos (parágrafos apenas na forma), como ocorre na
seguinte passagem:
“A pretensão do autor não merece prosperar.
Isso porque, conforme demonstram as imagens das telas do
sistema anexadas aos autos, o fornecimento de energia elétrica foi
efetivamente contratado.
Saliente-se que, mesmo em se tratando de relação de consumo,
com a inversão do ônus da prova, é de incumbência da parte autora
comprovar suas alegações, o que não ocorreu in casu.
Ademais, se o demandante não reconhece a dívida é porque os
débitos são provenientes de atuação fraudulenta, de forma que
também pode incidir na hipótese a excludente de responsabilidade
por fato exclusivo de terceiro.
De qualquer sorte, demonstrada a contratação do fornecimento
de energia elétrica, a inscrição do nome do autor em órgão de
proteção ao crédito constituiu exercício regular do direito da ré.”
Notem que pelas regras de paragrafação de textos em geral, esses
cinco parágrafos deveriam ser reduzidos a apenas um: o primeiro
constituiria o tópico frasal, e os demais o desenvolvimento dele.
A passagem acima retrata, todavia, trecho de uma peça jurídica, o
que faz com que seja inteiramente possível e até mesmo
aconselhável a divisão paragrafal feita, porque torna mais clara e
argumentativa a mensagem.

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A noção de parágrafo é, antes de tudo, uma noção visual. A
forma do parágrafo, com recuo maior na primeira linha, por si só já
é carregada de significação. Indica que você quer, com aquele
pedacinho de texto, destacar informação importante. Então fazendo
vários parágrafos você passa para o leitor a ideia de que todo o seu
texto é relevante.
Tá tudo muito interessante mas eu ainda não respondi à
pergunta feita no post, não é?
Vou responder com estas três dicas:
1) Abra parágrafos com frequência, sim, mas não aleatoriamente
(não vá você, por exemplo, na passagem citada anteriormente,
juntar os dois últimos parágrafos e deixar separados os primeiros.
Ou separa ou junta! Vimos que melhor é separar).
2) A existência de mais de um período no parágrafo não é
condição para a abertura de outro (não sei quem inventou uma
sandice dessas).
3) Elementos de coesão como “portanto”, “em relação a”, “além
disso”, “outrossim”, “em linhas gerais”, “nesse sentido”, “por tais
razões”, “por outro lado”, “como visto” e seus sinônimos podem
sugerir abertura de parágrafo.
Considerando que há muitos casos (diria que são a maioria) em
que você já naturalmente abre parágrafos corretamente, espero de
coração que com esses post a questão da paragrafação passe a ser
uma pedra a menos na sua escrita.
Era isso.

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49. INTIME-SE-O
Para compreender bem o que vou explicar, é necessário você já
ter lido o meu post sobre a função do “se” como partícula
apassivadora (n. 38).
Então, caso não o tenha lido, vá até ele. Já leu? Então vamos lá!
Como o verbo “intimar” é transitivo direto, o “se” que o
acompanha é pronome apassivador. Indica que a palavra/expressão
que o segue é o sujeito da frase, de modo que o verbo concordará
com ele, com o sujeito.
Assim, estão corretos:
“Intimem-se os acusados” (“acusados” é o sujeito e está no
plural, por isso “intimem” no plural).
“Intime-se o acusado”.
“Arquivem-se os autos”.
“Arquive-se a documentação”.
“Citem-se as rés”.
“Cite-se a ré”.
A dúvida que surge é sobre a possibilidade, por exemplo, de
escrever “Intime-se-o” ou “Intimem-se-os”, com o “o(s)” servindo
de sujeito.
A resposta é negativa.
Os pronomes “se” e “o”/“a” NUNCA podem vir juntos na
mesma oração.
E em regra o pronome “o”/“a” não cumpre função de sujeito da
frase.
Portanto, está ERRADO escrever “Intime-se-o”, “Intimem-se-as”,
“Citem-se-os”, “Cite-se-o”.
Em vez disso, escreva “Intime-se o acusado”, “Intimem-se as
acusadas”, “Citem-se os acusados”, “Cite-se o acusado”.
Ou: “Intime-se ele”, “Intimem-se elas”, “Citem-se eles”, “Cite-se
ele”.
Ou, ainda, com a omissão do sujeito, estrutura MUITO COMUM
em textos jurídicos:

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“Intime-se.”
“Intimem-se.”
“Citem-se.”
“Cite-se.”
“Com o trânsito em julgado da sentença, arquivem-se [=
arquivem-se OS AUTOS].”
“Publique-se [a sentença].”
Era isso.

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50. O INÍCIO DO PRAZO DA PRESCRIÇÃO SE DÁ NO
MOMENTO QUE SURGE A PRETENSÃO
E a dúvida que sempre surge é: “momento que” ou “momento
EM que”?
O assunto de hoje é “omissão de preposições”.
Prestem atenção para o seguinte:
1. Pode ser omitida a preposição que introduz uma oração
subordinada adjetiva cujo substantivo antecedente é uma palavra
ou expressão que denota TEMPO.
As frases abaixo esclarecem:
“O início do prazo prescricional se dá no momento (em) que
surge a pretensão” (o uso da preposição é facultativo).
“Na época (em) que o contrato foi assinado, o autor não era
preposto da empresa”.
“O crime ocorreu no dia (em) que a testemunha não estava no
país”.
“A decisão fixou a taxa média de mercado prevista na data (em)
que a avença foi celebrada”.
2. Na maioria dos casos também pode ser omitida a preposição
(exigida pelo nome ou pelo verbo) que antecede as orações
subordinadas substantivas.
Novamente os exemplos esclarecem:
“Inexistem dúvidas (de) que o contrato foi descumprido”.
“As provas constantes dos autos levaram o juiz a se convencer
(de) que tais fatos efetivamente ocorreram”.
“Não é possível ter certeza (de) que o imóvel foi objeto de
usucapião”.
“A demandante interpôs apelação insistindo (em) que...” (nesse
caso é melhor sem a preposição).
Era isso.

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51. AO ESCREVER NÚMEROS, PRECISO COLOCÁ-LOS
POR EXTENSO ENTRE PARÊNTESES?
Olha, precisar, precisar, não precisa. Mas é bastante comum em
textos jurídicos escrevermos números em algarismo seguidos da
forma por extenso entre parênteses quando queremos deixar claro o
valor numérico em referência, evitando ambiguidade.
Isso se dá principalmente na escrita de valores monetários e tem
origem no cheque, que possui um campo para apor o valor em
algarismo e outro para escrever o número por extenso.
Exemplo:
“Foi condenado a pagar R$ 2.000,00 (dois mil reais) a título de
honorários advocatícios”.
Também podemos escrever o valor numérico por extenso entre
parênteses quando nos referimos a percentuais e a medidas do
sistema métrico:
“O segurado perdeu 20% (vinte por cento) da capacidade
laboral”.
“Alegou que possui um imóvel de 125 m2 (cento e vinte e cinco
metros quadrados)”.
Afora essas hipóteses (e outras para evitar ambiguidade), você
escreverá apenas o algarismo quando o número não for
pronunciado como uma única palavra, ou apenas por extenso
quando o for, SEM OS PARÊNTESES. Veja:
“No acidente, 298 (duzentos e noventa e oito) pessoas ficaram
feridas”. (EVITE–não há necessidade dos parênteses)
“No acidente, duzentos e noventa e oito pessoas ficaram feridas”.
(EVITE, pois “298” é pronunciado com mais de uma palavra)
“No acidente, 298 pessoas ficaram feridas”. (PREFIRA)
“Durante a confusão, 3 (três) acusados foram mortos”. (EVITE)
“Durante a confusão, 3 acusados foram mortos”. (EVITE, pois “3”
é pronunciado com uma palavra)
“Durante a confusão, três acusados foram mortos”. (PREFIRA)
“No transporte da mercadoria extraviaram-se vinte caixas de
maçã”. (CERTO)

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“No transporte da mercadoria extraviaram-se 25 caixas de maçã”.
(CERTO)
“No transporte da mercadoria extraviaram-se 25 (vinte e cinco)
caixas de maçã”. (EVITE)
“Ao todo foram 875 inscritos mas apenas trinta aprovados”.
(CERTO)
Era isso.

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52. O PONTO E VÍRGULA
1. Use o ponto e vírgula para separar orações de curta extensão já
divididas por vírgulas:
“De decisões interlocutórias cabe, em regra, agravo de
instrumento; de sentença, apelação”.
2. Empregue também o ponto e vírgula como recurso estilístico,
para indicar relação estreita entre duas afirmações que trazem
principalmente ideia de causa e consequência:
“Vale destacar que em ação possessória somente se examina o
fato da posse; não se investiga o domínio.”
3. O ponto e vírgula pode ser usado para separar enumerações
formadas por frases de LONGA extensão:
“O apelante sustenta a abusividade e ilegalidade na cobrança dos
juros nas parcelas vencidas no mês de abril e maio; a
descaracterização da mora e do esbulho, pois adimpliu a maior
parte do financiamento do veículo; a determinação da imediata
devolução do veículo com a transferência da propriedade
registrada no Detran; e a ocorrência de má-fé da apelada ao não
possibilitar o pagamento das parcelas vencidas.”
Veja que se as frases da enumeração forem de CURTA extensão,
basta a vírgula para separá-las:
“O apelante sustenta a abusividade e ilegalidade na cobrança dos
juros, a descaracterização da mora e do esbulho, a determinação da
imediata devolução do veículo e a ocorrência de má-fé da apelada.”
4. Utilize o ponto e vírgula, em vez da vírgula, antes das
conjunções adversativas (mas, porém, todavia etc.) e das
conclusivas (logo, por isso, portanto etc.) para REFORÇAR o valor
adversativo (ou conclusivo) dessas conjunções.
Compare estes períodos:
“Há prova nos autos da realização do tratamento dermatológico,
mas não da causa deste.”
“Há prova nos autos da realização do tratamento dermatológico;
mas não da causa deste.”
“A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública,
portanto não há falar em ilegalidade.”
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“A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública;
portanto(,) não há falar em ilegalidade.”
5. O ponto e vírgula também pode ser um poderoso recurso
estilístico/argumentativo no lugar dos dois-pontos:
“A concessão de liminar em habeas corpus é admitida como
medida excepcional; quando evidente a coação ilegal ou o abuso de
poder.”
Era isso.

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53. SE NÃO, VEJAMOS
Dúvidas existem sobre o uso dessa expressão, muito comum na
redação de textos jurídicos.
Uns não sabem se o “se não” escreve-se separado ou junto
(senão); outros, se a expressão é antecedida de vírgula, ponto, ou de
ponto e vírgula; outros, ainda, se a expressão é seguida de dois-
pontos ou somente de ponto. Também há aqueles que não sabem se
o “se não, vejamos” pode vir no início do parágrafo, ou se apenas
no final. Até a vírgula depois do “se não” é objeto de dúvidas.
A forma correta é “se não, vejamos”, com o “se” separado do
“não” seguido de vírgula. Devemos entender a expressão mais ou
menos como: “se não [acredita, leitor], vejamos”.
A expressão pode ser antecedida de vírgula, de ponto ou de
ponto e vírgula, depende do tom que se quer imprimir à frase.
Particularmente acho que o ponto e vírgula não vai bem aí. Prefiro
o ponto ou a vírgula.
Quanto à posição, o “se não, vejamos” pode vir no início ou no
fim do parágrafo. A expressão pode até, pasmem, vir sozinha no
parágrafo, o que vai depender, novamente, do ritmo imprimido à
frase. Acho até essa opção bastante interessante, porque atrai a
atenção do leitor.
Exemplos de como a expressão em tela pode ser usada
corretamente:
... de modo que a pretensão está prescrita, se não, vejamos.
Primeiramente, tem-se que a ação...
... de modo que a pretensão está prescrita. Se não, vejamos.
Primeiramente, ...
... de modo que a pretensão está prescrita.
Se não, vejamos. Primeiramente, ...
... de modo que a pretensão está prescrita.
Se não, vejamos.
Primeiramente, ...
Use dois-pontos depois de “se não, vejamos” apenas se for
introduzir uma citação. Observe:

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... tese essa defendida por Nelson Nery Junior. Se não, vejamos:
“[transcrição da doutrina]”
Também está correta a expressão “se não, VEJA-SE”.
Era isso.

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54. PUGNA-SE PELA PRODUÇÃO DE TODOS OS MEIOS
DE PROVA EM DIREITO ADMITIDA
Para além do fato de não ser, penso eu, tecnicamente correto
terminar uma petição com pedido genérico de produção de provas,
quem escreve “Pugna-se pela produção de todos os meios de prova
em direito admitida” comete erro de concordância!
Isso porque o “admitir” deve concordar com a palavra “meios”,
não com “prova”. Assim:
“Pugna-se pela produção de todos os MEIOS de prova em direito
admitidOS.” (correto)
Veja que o CPC traz adequadamente a concordância do “admitir”
em construção similar:
“Art. 357 [...]
II–delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade
probatória, especificando os meios de prova admitidos”.
Era isso.

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55. “ISSO PORQUE”, “ATÉ PORQUE”, “OCORRE QUE”:
DE NOVO A DANADA DA VÍRGULA
Novamente ela, a vírgula. Hoje abordarei um erro que tenho
certeza que muitos de vocês cometem.
Observem as seguintes construções:
“Razão não assiste à ré. Isso porque, o julgamento antecipado da
lide não cerceou seu direito de defesa”.
“Por isso não há reduzir os honorários advocatícios. Até porque,
o pleito foi feito em contrarrazões”.
“É certo que o expert concluiu pela existência de vício oculto no
aparelho adquirido pelo autor. Ocorre que, a convicção do juiz não
advém necessariamente das conclusões do laudo pericial”.
O emprego da vírgula está INcorreto em todas essas frases!
Ora, se você não escreve “Não fui à praia porque(,) o dia estava
nublado”, sob qual fundamento então colocar a vírgula depois do
“isso porque”, “até porque” e “ocorre que” nas construções acima?
Claro que se após essas expressões vier uma estrutura que
interrompa a fluência da frase, a vírgula é necessária, como
demonstrado abaixo:
“Razão não assiste à ré. Isso porque, CONFORME EXPOSTO, o
julgamento antecipado da lide não cerceou seu direito de defesa”.
(vírgulas bem empregadas)
Era isso.

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56. CONTRATOS “OBJETO” OU “OBJETOS” DA
PRESENTE DEMANDA?
A demanda tem UM objeto, que são os contratos. Escreva,
portanto:
“...contratos objeto da presente demanda”. (“objeto” no singular)
Curioso é que se colocarmos a palavra “foram” antes de “objeto”
o singular nos parecerá evidente. Veja:
“Os contratos foram objeto da presente demanda”. (frase correta;
jamais usaríamos “objetoS”)
Da mesma forma, escreva: “temas objeto do agravo de
instrumento”; “decisões objeto de recursos”; “apelações objeto de
análise”.
Era isso.

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57. O “SE” DESNECESSÁRIO
Pessoal, vejo vocês cometendo muito o erro de incluir, sem
necessidade, o “se” depois de verbos em construções como as
abaixo:
“É preciso analisar-SE as peculiaridades do caso concreto”
(Errado).
“É necessário atribuir-SE a culpa integral à ré” (Errado).
“Assim, resta definir-SE o montante da indenização” (Errado).
“A autora alega a nulidade da sentença por ausência de
oportunidade de produzir-SE provas” (Errado).
Percebam que em relação às três primeiras frases os infinitivos
são sujeitos.
Basta inverter a construção e constatar a absoluta ausência de
função do “se”:
“Analisar as peculiaridades do caso concreto é preciso”.
“Atribuir a culpa integral à ré é necessário”.
“Assim, definir o montante da indenização resta”.
No que se refere à quarta construção, o infinitivo “produzir” é
complemento de “oportunidade”. Vale dizer, o “se” a ele ligado
não é partícula apassivadora, assim como não o são os “se” das
outras frases.
Era isso.

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58. PARÁFRASE OU PLÁGIO?
Primeiramente, é interessante constatar que existe por parte de
alguns a mania, quase doentia, de nunca repetir palavras do texto
original ao se referir a peças jurídicas.
Ora, o que consta de uma petição inicial, de uma contestação ou
de uma sentença não é protegido por direitos autorais, de modo
que, nesses casos, não há falar em plágio.
Suponhamos que o seguinte texto conste de uma petição inicial:
“O requerido promoveu em desfavor do requerente protesto de
duas notas promissórias, baseado em dívida quitada, motivo pelo
qual deve ser condenado a compensar o dano moral sofrido”.
Se fizermos referência a esse texto em um projeto de sentença,
por exemplo, podemos, sem cometer plágio, fazer a seguinte
construção:
O autor sustenta que o réu promoveu em seu desfavor protesto
de duas notas promissórias, baseado em dívida quitada, motivo
pelo qual deve ser condenado a compensar o dano moral sofrido.
Viram só? não há problema algum em repetirmos no nosso texto
as mesmas palavras do texto a que fazemos referência. Não há nem
necessidade das aspas!!
Claro que quando transcrevemos, ipsis litteris, um texto mais
longo de uma peça jurídica, o uso das aspas é de bom tom. Não vá
você também fazer do seu texto pura cópia do texto alheio.
Podemos incorrer em plágio propriamente dito quando
transcrevemos lições doutrinárias. Estas, sim, protegidas por
direitos autorais. Nessas hipóteses, dou as seguintes dicas:
- Se for transcrever literalmente a doutrina no seu texto, comece e
termine com aspas, caso contrário haverá plágio. Simples.
- Não há plágio se a paráfrase for muito mais curta do que o texto
original.
- Se conseguimos parafrasear sem ter diante de nossos olhos o
texto original, não há plágio.
- Configura falsa paráfrase (plágio) a simples troca de palavras
do texto original por sinônimos.
- Para quem não está a fim de parafrasear mas quer fugir do
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plágio, uma opção é fazer paráfrase quase textual, isto é, intercalar
texto próprio com texto entre aspas. Assim:
Segundo o doutrinador, “.....”. Isto é, para haver cerceamento de
defesa, “.....”. Assim, “.....”.
Era isso.

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59. CONHECEM-SE DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO
Não, né, pessoal?! Quem acompanha meus posts não pode mais
cometer erros como esse.
O correto é “Conhece-se dos embargos de declaração”, e não
“Conhecem-se”.
O verbo “conhecer” aí é transitivo INdireto e como tal o “se” que
o acompanha é índice de indeterminação do sujeito; o verbo,
portanto, fica no singular (se não se sabe o sujeito, o verbo não tem
com o que concordar, pegaram?).
Já fiz uma postagem em que explico o assunto de forma mais
detalhada (n. 20).
Era isso.

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60. O (DIFÍCIL) EMPREGO DO ARTIGO DEFINIDO
Olá, pessoal! Trouxe hoje um dos assuntos mais difíceis e poucos
explorados pelas gramáticas normativas: o emprego do artigo
definido.
Observem a seguinte frase:
“A parte apelante sustenta O cerceamento de defesa em razão do
julgamento antecipado da lide”.
Quando usamos o artigo definido passamos meio que uma ideia
da existência incontroversa do substantivo a que ele se refere.
Vejam como a frase acima fica melhor sem o artigo:
“A parte apelante sustenta cerceamento de defesa em razão do
julgamento antecipado da lide” (a parte apelante sustenta; não quer
dizer que haja cerceamento. Melhor sem o artigo).
Seguem esse mesmo raciocínio:
“Em prequestionamento, a demandada pede que a Câmara se
manifeste a respeito dA violação aos arts. 757 e 760 do Código
Civil”.
Se escrevo assim, com o artigo definido, dou mais ou menos a
entender que houve violação, o que não é o caso.
Corrigir para:
“Em prequestionamento, a demandada pede que a Câmara se
manifeste a respeito de violação aos arts. 757 e 760 do Código Civil”
(“de”, sem o artigo).
“Afasta-se, portanto, a preliminar de nulidade da sentença pelO
vício de citra petita”.
Se escrevo “pelO vício”, corro o risco de passar ao leitor a ideia
de que o vício existiu mas o estou afastando na decisão.
Corrigir para:
“Afasta-se, portanto, a preliminar de nulidade da sentença por
vício de citra petita” (“por”, sem o artigo definido).
Ou, ainda:
“Afasta-se, portanto, a preliminar de nulidade da sentença pois
ausente o vício de citra petita”.
Ainda sobre essa frase, notem que o artigo “a” de “a preliminar”
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e o “dA” de “da sentença” estão bem colocados, pois de fato
definem, apontam para algo já conhecido do leitor, para algo que já
vem sendo tratado nos autos.
Era isso.

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61. “INICIALMENTE”, “ANTES DE MAIS NADA”, “EM
PRIMEIRO LUGAR”, “POR FIM”, “FINALMENTE”: HÁ
PROBLEMA EM UTILIZAR ESSAS EXPRESSÕES?
Vez ou outra me perguntam se é redundante iniciar o texto com
“Antes de mais nada”, “Inicialmente”, “Em primeiro lugar”, ou
terminá-lo com “Por fim”, “Finalmente”.
A dúvida é até compreensível, pois essas expressões indicam
“começo” ou “fim” de um pensamento, de modo que colocá-las no
início ou no fim do texto seria tautologia, repetição de ideias.
Mas podem parar com essa cisma, que nenhum respaldo lógico-
gramatical possui!
Em primeiro lugar, se não pudermos utilizar aquelas expressões
no início ou no final do texto, quando poderemos usá-las? Elas
existem justamente para serem empregadas no início ou no fim de
uma construção!
Em segundo lugar, se não pudéssemos usar “Em primeiro lugar”,
não poderíamos usar “Em segundo lugar” (o trocadilho
funcionou?).
Se considerarmos redundantes expressões como “Inicialmente” e
“Por fim”, também teremos que considerar redundantes expressões
como “ainda”, “também” e “em seguida” utilizadas igualmente
para enumerar ou indicar continuidade (e.g., “Sustentou, ainda,...”).
Não, né?
Finalmente, muitos têm verdadeira implicância com o “antes de
mais nada”.
Dizem que, além de redundante por vir no início da frase (ou do
texto), essa expressão indicaria um paradoxo na medida em que
nada pode ser dito antes do nada. Oi? É muita criatividade e
perseguição contra uma forma linguística inteiramente legítima na
nossa língua. Chego até mesmo a indicá-la aos meus alunos na
construção de textos jurídicos, porque carrega forte teor
argumentativo.
Vejam que Rui Barbosa (é, o próprio) escreveu a expressão na
obra Réplica, publicada em 1902:
“Ora, antes de mais nada, se essa dissonância fosse inevitável, eu

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não a teria notado”.
Era isso.

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62. ABREVIATURAS
Não há regra rígida sobre como abreviar. O próprio Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa admite mais de uma abreviatura
para um mesmo vocábulo, do que se pode concluir que o redator é
de certa forma livre para reduzir palavras.
Não obstante, serão aqui apresentados alguns pontos
relacionados às abreviaturas que já estão mais ou menos pacificados
e que devem, por isso, ser respeitados.
- Abrevie somente quando for estritamente necessário.
“A egrégia Corte decidiu...” (Prefira)
“A eg. Corte decidiu...” (Evite)
- Não eleve nenhuma letra na abreviatura. Escreva “Mina.” em
vez de “Minª”; “rela. Desa.” em vez de “Relª Desª”; “Dra.” em vez
de “Drª”.
- Se a palavra abreviada aparecer no final da frase, esta não
receberá outro ponto:
“Ingressou com ação contra Rex S.A.” (Certo)
“Ingressou com ação contra Rex S.A..” (Errado)
- A abreviatura de “Limitada” é “Ltda.” (com ponto após o “a”).
- A abreviatura tanto de “página” quanto de “páginas” é “p.”.
“... p. 10-62.”
- Há ponto entre a casa do milhar e a da centena.
“... p. 10.365.”
- A abreviatura de Meritíssimo é “MM.”, e a de Meritíssima é
“MMa.”
- A abreviatura de “relator o Desembargador” é “rel. Des.”.
- As abreviaturas do SISTEMA MÉTRICO são escritas em
minúsculas e não têm ponto nem forma plural; HÁ ESPAÇO entre
o número e a abreviatura.
- Estão incorretas as formas: “1km”, “1Km”, “1km.”; “10m”,
“10M”, “10m.”, 10ms”, “10ms.”, ”15cm”, “15cm.”.
- Estão corretas as formas: “1 km” (1 quilômetro), “10 m” (10
metros), “50 cm” (cinquenta centímetros), “1 km 40 m” (1

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quilômetro e quarenta metros).
- As abreviaturas das UNIDADES DE TEMPO são escritas em
minúsculas e não têm ponto nem forma plural; note que aqui NÃO
HÁ ESPAÇO entre o símbolo e a abreviatura, e que a abreviatura
de “minuto” é “min”, e não “m”, que é a abreviatura de “metro”.
“A sessão começa às 10h30min desta terça-feira.” (Certo)
“A sessão começa às 10h deste sábado.” (Certo)
“O julgamento durou 2h45min.” (Certo)
“A sessão começa às 10 horas e 30 minutos.” (Certo)
- A abreviatura de “segundo” é “s”, sem ponto. Assim:
“11h35min20s”.
Era isso.

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63. A PRIMEIRA E SEGUNDA TURMAS DO STJ
Vamos conversar hoje sobre a concordância do numeral ordinal
com o substantivo, dúvida de muita gente.
Todas as construções abaixo estão corretas no que tange à
concordância:
1. “A Primeira e Segunda Turmas do STJ têm o entendimento de
que...”.
2. “A Primeira e a Segunda Turma do STJ têm o entendimento de
que...”.
3. “A Primeira e Segunda Turma do STJ...”.
O substantivo (no caso “Turma”) poderá ir para o plural quando
só houver um artigo (“A” Primeira e Segunda), como em 1.
Se o artigo se repetir, o substantivo fica no singular), como em 2.
Embora esteja correta, não gosto da concordância de n. 3.
Outras construções corretamente redigidas (de acordo com 1 e 2):
“A comissão é composta de juízes do primeiro e segundo graus”
(só um artigo (dO); substantivo “grau” no plural).
“A comissão é composta de juízes do primeiro e do segundo
grau” (repetição de artigos; substantivo “grau” no singular).
“Há sessão na primeira e terceira quartaS-feiraS do mês”.
“Há sessão na primeira e nA terceira quarta-feira do mês”
(quarta-feira no singular).
“Em relação ao segundo e terceiro acusadoS,...”.
“Em relação ao segundo e aO terceiro acusado,...”.
“Com a criação da Terceira e Quarta CâmaraS de Direito
Comercial,...”.
“Com a criação da Terceira e dA Quarta Câmara de Direito
Comercial,...”.
Era isso.

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64. “A REPARAÇÃO NÃO DEVE CONSTITUIR-SE EM
ENRIQUECIMENTO INDEVIDO” OU “A REPARAÇÃO
NÃO DEVE CONSTITUIR ENRIQUECIMENTO
INDEVIDO”?
No sentido de “ser”, “consistir em”, “representar”, “tornar-se”,
vocês podem escrever tanto “constituir-se em” quanto “constituir”,
indiferentemente.
Todas as frases abaixo estão, portanto, corretas:
“O preparo constitui-se em requisito de admissibilidade do
recurso”.
“O preparo constitui requisito de admissibilidade do recurso”.
“O título executado constitui(-se em) obrigação líquida, certa e
exigível”.
“No caso, a compra e venda dos imóveis constituiu(-se em)
prática ilícita”.
“A reparação não deve constituir(-se em) enriquecimento
indevido”.
É importante saber usar o verbo “constituir(-se em)” de forma
correta para não escrevermos frases como:
“Constitui-se dever do poder público local realizar a avaliação de
desempenho” (Errado. Escreva “Constitui dever” ou “Constitui-se
em dever”).
“Constitui-se o interesse recursal pressuposto de admissibilidade
de todo recurso” (Errado).
Forma correta:
“Constitui-se o interesse recursal EM pressuposto de
admissibilidade de todo recurso”.
Ou:
“Constitui o interesse recursal pressuposto de admissibilidade de
todo recurso”.
“Dirigir sob a influência de álcool constitui-se infração de
trânsito” (Errado. O correto é “constitui” ou “constitui-se em”).
Era isso.

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65. BOA PERGUNTA
Perguntaram para mim pelo direct se a seguinte frase estaria
correta:
“Mantém-se a condenação das partes ao pagamento dos
honorários tal como FIXADA na sentença”.
O seguidor queria saber se o certo é “fixada” ou “fixado”.
Pergunta boa, né?
Como imaginei que esta poderia ser uma dúvida de muitos, falei
para o seguidor esperar que eu faria um post só sobre esse
questionamento dele.
E chegou a hora!
Bem, a frase original está correta, pois o “fixada” está
concordando com “condenação”; no feminino portanto.
Isso não impede, contudo, de a flexão, na construção
apresentada, aparecer no masculino. Vejam:
“Mantém-se a condenação das partes ao pagamento dos
honorários tal como fixadO na sentença”.
Pode ser no masculino porque agora está subentendido o verbo
“foi” antes do “fixado”. Interessante, não?
Mas não para por aí! A frase também poderia ser redigida assim:
“Mantém-se a condenação das partes ao pagamento dos
honorários tais como fixados na sentença”.
Nessa construção, totalmente legítima, o “fixado” concorda com
“honorários” (fixadoS). Observem que o “tal” também foi para o
plural pois tem de igualmente concordar com “honorários”.
Era isso.

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66. CURIOSIDADE SOBRE A CRASE
Hoje trouxe uma curiosidade sobre o uso do acento grave (mais
conhecido como crase) que acho que vocês vão gostar.
Observem a seguinte frase:
1. “Os acusados receberam os policiais a bala”.
Há crase em “a bala”, sim ou não? Pensem um pouquinho.
A resposta é NÃO, e eu sei que alguns de vocês responderam que
não porque, se substituirmos “bala” pela palavra “tiro”, por
exemplo, não obtemos “AO tiro”, de modo que o “a” em “a bala” é
somente preposição, não preposição mais artigo “a”, hipótese que
conduziria à crase.
Bem, esse raciocínio está mais ou menos certo, e é aqui que passo
a discorrer acerca de um dado curioso sobre o uso da crase.
Observem novamente a mesmíssima frase, só que com a locução
adverbial “a bala” deslocada:
2. “Os acusados receberam a bala os policiais”.
E agora? vai crase ou não?
A resposta é..... SIM! O correto é “Os acusados receberam à bala
os policiais”, com a crase.
Ué, mas se substituíssemos nessa frase “bala” por “tiro” também
não teríamos “a tiro”??
Sim, por isso falei que o raciocínio de vocês estava mais ou
menos certo. Aqui está o pulo do gato.
É que nas locuções adverbiais femininas no singular, como é o
caso de “a bala”, somente devemos colocar a crase se for para evitar
ambiguidade.
Vejam que na primeira frase não há dúvida de que os acusados
receberam os policiais a bala, a tiro, com uma rajada de tiros, rá-tá-
tá-tá!
Já na segunda o leitor não consegue saber, imediatamente, se os
acusados receberam a bala (como um presente, uma doação) ou se
eles atiraram nos policiais. Por isso a crase. Para evitar
ambiguidade. Pegaram?
A mesma regra se aplica para:

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“O autor comprou o carro a vista” (sem crase).
“O autor comprou à vista o carro” (com crase, para evitar
ambiguidade).
Legal, né?
Para terminar, notem que nas locuções adverbiais que começam
com “as” sempre haverá crase (“às vésperas”, “às vezes”, “às
escondidas”). Isso é fácil de entender, porque o “s” representa
plural, indicando a presença do artigo feminino, e não apenas da
preposição.
Era isso.

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67. PADRONIZAÇÃO
Oi, pessoal, hoje vou tratar sobre padronização de alguns
elementos das nossas peças.
Antes, dois esclarecimentos.
A questão da padronização não tem nada a ver com gramática.
Tem a ver com padronização mesmo. É que alguns confundem.
Outra coisa que gostaria de deixar bem clara é que a
padronização de elementos que trago não necessariamente exclui
outras formas de escrever esses mesmos elementos. É apenas a
padronização que, por achar mais coerente, eu uso. Então tem
muito de gosto pessoal.
Dito isso, mãos à obra!
Datas

Na data abreviada, dia, mês e ano são separados por hífen. O


ano deve ter quatro algarismos. Não se usa zero à esquerda dos
dias e dos meses:
“9-4-2000”.
O primeiro dia do mês é escrito com numeral ordinal:
“1º de abril”; “1º-4-2007”.
Se forem indicados apenas os meses e o ano, o primeiro se
escreve por extenso e o segundo com todos os algarismos:
“maio de 1937”.
A referência a períodos é feita com hífen:
“1995-1998”.
No fecho das peças, sempre haverá ponto final após a data:
“Florianópolis, 27 de março de 2008.”
O ano de publicação de atos normativos deve ser escrito com
quatro algarismos, após a barra:
“Lei do Inquilinato/1964”; “Lei de Licitações/1993”; “Lei n.
8.112/1990”.
Folhas

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Abrevie sempre (“fl. 10”, em vez de “folha 10”).
Não se usa zero à esquerda do número:
“fl. 09” (Errado)
“fl. 9” (Certo)
Há ponto entre a casa do milhar e a casa da centena:
“fl. 1.056”.
Redigir “fl. 56”, e não “fls. 56”, porque é uma folha só.
fl. 38v. (= verso da folha 38); fl. 38-v. (= folha 38 e seu verso).
Use apenas um ponto se a abreviatura coincidir com ponto
final:
“...conforme fl. 150-v..”(Errado)
“...conforme fl. 150-v.” (Certo)
Use o acento indicativo da crase (à fl. 45).
Use o hífen para indicar “a”, e “e” para individualizar as
páginas:
“fls. 78-150” (= fls. 78 a 150).
“fls. 78 e 90” (= fls. 78 e 90).
Tratando-se de autos digitais, use “p.” em vez de “fl.”,
independentemente de se estar referindo a uma ou mais
páginas:
“p. 10”; “p. 10-17”.
Era isso.

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68. “ART. 14, I, DO CP”: É ASSIM MESMO QUE SE
ESCREVE
Para manter o paralelismo nas construções com elementos
normativos, se se optar por abreviar, abrevia-se tudo. Porém, artigo
de lei deve vir sempre abreviado (“art.”). Assim:

“Dispõe o art. 14, I, do CP que...” (Certo).


“Dispõe o art. 14, inc. I, do CP que...” (Certo, pois está
correto também usar “inc.”).
“Dispõe o inciso I do art. 14 do Código Penal que...” (Certo,
pois está tudo por extenso).
“Dispõe o art. 14, inciso I, do CP que...” (Evite, pois só
“inciso” está por extenso).
“Dispõe o art. 14, I, do Código Penal que...” (Evite, pois só
“Código Penal” está por extenso).
Seguir essas regras em toda a peça é importante porque o
texto fica organizado. Além disso, um texto que traz em um
parágrafo, por exemplo, “Prescreve o art. 5º, inciso V, da CF”,
e, em outro, “De acordo com o art. 19, inc. I, do Código de
Processo Civil” (com o nome do código por extenso e o inciso
abreviado), passa ao leitor a impressão de um texto desleixado,
que foi mal feito.
Pode parecer que não, mas prestar atenção nesses detalhes
faz uma grande diferença no final.
Era isso.

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69. COMO ESCREVER SIGLAS
Oi, gente! O assunto é como escrever siglas.
Bom, sigla é a representação abreviada de um nome composto,
geralmente por meio de suas iniciais.

As siglas com até três letras são grafadas em maiúsculas:


SUS, PFL, DOU, PM, OAB, USP, PUC, MEC, CEP, MP, STF,
OAB, TJ, URH, ME, BO. Veja-se que não há ponto entre as
letras que formam a sigla.
As siglas com mais de três letras são grafadas apenas com a
inicial maiúscula, desde que possam ser pronunciadas como
uma palavra. Assim:
Serasa, Engepasa, Unibanco, Unisul, Embratur, Dort,
Unesco, Incra, Fiesp, Bradesco, Anatel, Bacen, Bovespa, Cofins,
Cosif, Dataprev, Dieese, Embratel, Infraero, Mercosul, Procon,
Sebrae, Senac, Senai, Unicamp, Unicef, Ufir, Unimed.
Se não puderem ser pronunciadas como uma palavra, as
siglas com mais de três letras serão grafadas em maiúsculas:
ABNT, BNDES, CNBB, IPTU, IPVA, DNER, INSS, ADCT,
ICMS, CNPJ, FGTS, ISBN, ISSN.
Para formar o plural de uma sigla, basta acrescentar um “s”
minúsculo a ela. Nunca use apóstrofo (’).
Certo: Ufirs, CEPs, URHs, PMs, Dorts.
Errado: Ufir’s, UFIR’S, CEP’s, CEP’S, URH’s, URH’S, PM’s,
Dort’s.
Nas siglas mistas, as minúsculas são usadas para diferenciar
uma sigla de outra:
CNPq – Conselho Nacional de Pesquisas
CNP – Cadastro Nacional de Produtos
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UFSCar – Universidade Federal de São Carlos
A sigla de Sociedade Anônima é “S.A.”, e não “S/A”. Só use
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“S/A” se assim estiver no estatuto da instituição.
A sigla de “Microempresa” é “ME”, sem ponto depois do
“E”.
Tratando-se de sigla referente a classes processuais, nunca a
utilize sozinha:
“O presente habeas corpus objetiva...” (Certo)
“O presente HC objetiva...” (Errado)
Era isso.

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70. “PARA O FIM DE” NÃO; “PARA” JÁ É FINALIDADE
Vejam a seguinte frase:
“O recurso deve ser provido para o fim de autorizar a prática da
capitalização dos juros na periodicidade anual.”
Pessoal, “para o fim de” é redundante. Corrijam para:
“O recurso deve ser provido para autorizar a prática da
capitalização dos juros na periodicidade anual.” (sem o “o fim”)
Outra expressãozinha utilizada no meio jurídico é o “para fins”.
Aqui o raciocínio é o mesmo. Está incorreto:
“Para fins de prequestionamento, pugna pela manifestação da
Câmara...”.
Em vez disso, escrevam: “Com o propósito de
prequestionamento,...”, “Com o objetivo de prequestionamento...”;
ou façam outra construção, assim: “Ao final, prequestionam os
dispositivos legais mencionados”.
Mas terrivelzinha mesmo é a expressão “para fins recursais”,
vazia de sentido:
“O pedido de efeito suspensivo foi deferido tão somente para fins
recursais.”
Corrijam para:
“O pedido de efeito suspensivo foi deferido tão somente para a
admissibilidade do recurso.”
Era isso.

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71. UM ESCLARECIMENTO
Recebi um direct no qual um seguidor me perguntou se dois ou
três erros gramaticais em uma peça jurídica podem prejudicar todo
o texto. Não sei bem o porquê, mas a resposta que dei a ele me leva
a fazer um esclarecimento a vocês.
É que quem me acompanha desde o início das minhas postagens
aqui no Instagram sabe que defendo a ideia de que uma peça bem
escrita é, por si só, elemento argumentativo. Vale dizer, uma peça
bem redigida exerce influência até mesmo no convencimento do
juiz, fazendo com que ele goste de ler o texto.
Também aqueles que me acompanham desde o início sabem que
eu sou mais ou menos flexível no que tange à obediência a regras
semânticas/gramaticais. Penso que o que vale mesmo é o se-
comunicar-bem.
Acho uma verdadeira tolice, por exemplo, a diferença que alguns
fazem entre o “por meio de” e o “através”. Mas vejam: o fato de eu
achar isso não quer nem de longe dizer que nos meus textos usarei
indistintamente uma forma ou outra. Não! Ao contrário. Sabedor
dessa diferença tola inventada pelos “estudiosos” da língua, não
uso o “através”, pois o que eu almejo, lembrem-se, é convencer o
meu leitor, e se tem uma coisa que o meu leitor sabe é que não
devemos usar essa forma com o sentido de “por meio de”.
O esclarecimento que queria dar é este então: por mais que eu
critique alguns aspectos trazidos pelas gramáticas, costumo seguir
cegamente todas as bizarrices pregadas, porque assim deve ser; eu
não escrevo para mim. Outra coisa: dois ou três erros gramaticais
em uma peça com 25 páginas podem não fazer muita diferença no
final. Mas uma peça sem nenhum erro faz toda.
Era isso.

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72. E SE A PARTE PROCESSUAL VIER PLURALIZADA?
Olá, meus fãs e seguidores! Seguinte, preparei hoje um post
daqueles, especialmente para vocês. Detalhe: quem não me segue
não vai encontrar esta explicação em lugar nenhum (kkkkkkk –
risada diabólica).
Vamos lá?
O correto é “ação ajuizada pelaS Lojas Americanas S.A.” ou “pela
Lojas Americanas S.A.”?
Não falei que o post era bom?
Gente, nesses casos, em que o nome da parte é pluralizado, a
concordância se faz sempre no singular. Assim:
“Ação ajuizada pela Lojas Americanas”.
“Inconformada, a Lojas Americanas S.A. interpôs apelação” (não
“as”, nem “InconformadaS”).
“Foi apresentada contestação pela Lojas Americanas S.A.” (não
“pelas”).
“O Supermercados Pereira apresentou réplica” (não “Os”).
Isso é assim porque, a entender que o correto é levar o artigo para
o plural, acompanhando a “forma” da parte processual, seríamos
obrigados a também pluralizar em outro lugar do texto uma
construção como “Ao final, requereram aS autoraS [Lojas
Americanas] a procedência do pedido”. Não, né? Ninguém em sã
consciência faz isso. É uma autora só (“requereu a autora”).
Era isso.

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73. “(a)” ou “a)”?
É raro, mas já aconteceu de me perguntarem se o correto é a
forma “a)” ou “(a)”, nas enumerações. Dito de outro modo, o
correto é:
“Sustenta o autor, em suma, que: a) ..........; b) ..........; c) ..........; d)
...........”
ou:
“Sustenta o autor, em suma, que: (a) ..........; (b) ..........; (c) ..........;
(d) ...........”?
Esse tipo de informação é dificílima de ser encontrada em algum
lugar. Procurei nos meus manuais de padronização e nada, procurei
no Google e nada. Fui encontrar alguma coisa só na gramática do
Napoleão Mendes de Almeida, a qual, aliás, ainda que quanto a ela
tenha lá as minhas reservas, fortemente recomendo a vocês.
Pois bem, nessa gramática do Napoleão é que fui aprender que o
nome dessas “curvinhas” – “)” “(“ – é semicírculo, e, pasmem, são
elas sinais de pontuação, assim como o são o ponto e a vírgula.
Denominamos de parênteses a união de dois semicírculos; um abre
e outro fecha os parênteses. Informação interessantezinha, vai!
O autor em questão diz textualmente na referida obra:
“Servem ainda os parênteses para incluir um número (24), uma
data (22 de agosto de 1939), uma letra (a), um asterisco (*)”.
E arremata com aquilo que nos interessa mais de perto:
“Se a letra inicia o período, para indicar os vários itens de um
texto, basta o segundo semicírculo: a) – b) – c) –”.
Pronto. Tá aí um argumento de autoridade que, portanto,
podemos seguir sem medo. Escrevam “a)”, “b)” em vez de “(a)”,
“(b)”.
Percebam que o autor não chega a condenar a forma “(a)”, mas
meu conselho é que vocês usem sempre “a)” mesmo, que polui
menos o texto.
Era isso.

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74. E O LATIM, HEIN?
Certa vez um aluno me perguntou se é correto o emprego de
expressões latinas em textos jurídicos.
Mostrando-me um pouco desapontado com a pergunta,
respondi:
“Está correto, sim. Para começar, expressões latinas são um ótimo
recurso para evitar repetição de expressões no texto. Em caso de
exaustão, por exemplo, no uso de ‘juízo de primeiro grau’, ‘juízo
sentenciante’, posso lançar mão de um ‘juízo a quo’. Para evitar a
repetição de ‘no caso presente’, ‘na espécie’, tenho o ‘in casu’. As
‘razões de decidir’ posso trocar por ‘ratio decidendi’. E assim por
diante. Sem falar que, a depender do ritmo da frase e do estilo
empregado, haverá casos em que será mil vezes melhor empregar
um ‘in verbis’ do que um ‘literalmente’, que soa sem graça.
Falando nisso, vocês hão de concordar comigo (dirigindo-me aos
restantes dos alunos) que um ‘apenas para argumentar’ e uma
‘intenção de matar’ não chegam nem perto da carga semântica das
expressões ‘ad argumentandum tantum’ e ‘animus necandi’, que
parecem que foram inventadas para morar no texto jurídico. E o
que dizer então das consagradas expressões ‘fumus boni juris’ e
‘periculum in mora’?”.
Sentindo que ainda não fora muito convincente e olhando agora
mais para o aluno que me fez a pergunta do que para a turma,
acrescentei:
“E as expressões ‘habeas corpus’ e ‘caput’? Se não aceitássemos o
latim, teríamos que encarar um ‘Que Tenhas Teu o Corpo n.
15.560/SP’ e um ‘art. 5º, cabeça, da Constituição Federal’, que tal?
Ou, ainda, decisão com efeito ‘que retroage’ e efeito ‘que não
retroage’. Péssimo”.
E finalmente terminei dizendo:
“Acho ‘interessante’ esse tipo de pergunta (utilizando de
eufemismo) porque, nesses 13 anos que venho revisando textos
jurídicos, não me lembro de ter me deparado com alguma peça
‘recheada’ de termos latinos. Quando eles aparecem, é em uma
página ou outra. Então, ainda que eu achasse incorreto o uso de
termos latinos, esse é um aspecto tão pequeno diante do problema
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em que uma boa produção textual já está envolvida, que
sinceramente não vejo razão para dar maior relevância a esse
assunto”.
Depois de eu responder, o aluno virou a página da apostila e
escreveu alguma coisa.
Era isso.

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75. A EXPRESSÃO “POIS BEM”
O assunto de hoje é o “Pois bem”.
Muitos têm dúvida sobre a posição da expressão no texto e sobre
a pontuação que a acompanha. Ela pode vir sozinha no parágrafo?
Há ponto ou vírgula depois dela?
A expressão “Pois bem” pode, sim, vir sozinha na frase,
formando, ela só, um parágrafo. Quanto à pontuação, pode ser
seguida tanto do ponto quanto da vírgula (nesta última hipótese
apenas, claro, se a expressão não vier sozinha).
Portanto, todas as formas a seguir estão corretas:
1. “A autora alega que a administradora do cartão possui
legitimidade passiva para responder à ação.
Pois bem. A fim de analisar a legitimidade da ré, faz-se
necessário...”.
2. “A autora alega que a administradora do cartão possui
legitimidade passiva para responder à ação.
Pois bem, a fim de analisar a legitimidade da ré, faz-se
necessário...”.
3. “A autora alega que a administradora do cartão possui
legitimidade passiva para responder à ação.
Pois bem.
A fim de analisar a legitimidade da ré, faz-se necessário...”.
E a pergunta que não quer calar é: mas, professor, que forma
você prefere?
Eu não gosto da forma “Pois bem” seguida da vírgula (forma 2).
É questão de gosto mesmo. Quanto às formas restantes, vai
depender da extensão do raciocínio feito até então. Explico.
No caso de construções como as dos exemplos apresentados, eu
prefiro a forma 1, pois eu simplesmente menciono, em duas linhas,
o que a autora alegou.
Todavia, em um caso em que o autor vem com várias teses
sustentando um direito, a ponto de eu ter de dispô-las em vários
parágrafos, uso a forma 3, como que para dar uma quebrada no
ritmo e preparar o leitor para minha fundamentação que vem na

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sequência. Entenderam?
Era isso.

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76. NÃO SEI. VEJA COMO ESTÁ NA LEI
Pessoal, é só comigo ou com vocês também acontece de ficarem
com dúvida sobre a redação de alguma expressão, perguntarem
para seu superior hierárquico e obterem como resposta: “Não sei.
Veja como está na lei”?
Há uma (falsa) ideia de que a lei é sempre redigida de forma
correta; de que “se lá está escrito assim” então é assim mesmo que
se deve escrever.
Neste post o que farei é apresentar alguns dispositivos de lei cuja
redação não está lá essas coisas não!
Então, quando alguém não aceitar sua sugestão de redação sob o
único argumento de que a lei não traz assim, rebata valendo-se de
alguns dos exemplos de má construção abaixo.
Por falta de espaço aqui no Insta, vou me limitar a indicar o
dispositivo legal e o tipo de erro na sua redação:

CC, art. 1.573, caput – erro de regência verbal (é “Pode” em


vez de “Podem”).
Decreto-Lei n. 73/1966, art. 33, inc. IV – está escrito “SUSEP”,
quando deveria estar “Susep”.
CC, art. 125 – erro de crase e de vírgula (não há vírgula
depois de “direito”). Sem contar que tem um “esta se não
verificar” que deixou o texto muito feio.
CPP, art 619 – começa mencionando “acórdãos” e termina
com “sentença”. Ficou ambíguo para mim.
CC, art. 1.238 – ponto e vírgula muitíssimo mal colocado.
CPC, art. 833, inc. X – salário-mínimo com hífen?
Nããããããooo! E o pior que no CPC todinho a palavra vem
assim.
CCo, art. 566 – começa com sujeito sem predicado. Errado e
medonho.
Lei n. 9.099/1995, art. 22, caput – erro no uso do artigo
definido (o correto seria “POR Juiz togado”, não “pelo”).
CPC, art. 125, § 2º – o correto é “AO seu antecessor”, não

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“contra”.
CP, art. 115 – reduzidos “À” metade, não “de” metade.
Eu poderia indicar vários outros casos de erros em textos
legais, mas o espaço não permite.
Vocês entenderam, né? Uma coisa é recorrer, por exemplo,
ao CPC para conferir se com “ação” deve-se usar os verbos
“ajuizar” ou “propor” (e olhe lá, pois eu ainda prefiro consultar
um dicionário jurídico), outra coisa é acreditar que os textos
normativos vêm sempre redigidos de forma correta e, por isso,
servem de parâmetro de correção gramatical.
Era isso.

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77. ESSAS SÃO AS PROVAS DE QUE DISPÕE O
ADVOGADO
Gente, hoje vou passar uma dica gramatical para vocês.
É o seguinte, quando vocês fizerem uma frase usando o pronome
relativo “que”, prestem bem atenção para o verbo ou nome que o
segue. Se esse verbo ou nome exigir a preposição, esta deve ir antes
do pronome.
Assim:
“Essas são as provas _ que dispõe o advogado”.
...dispõe o advogado DE provas.
Então: “Essas são as provas DE que dispõe o advogado”.
“O fato _ que fez alusão o Magistrado não foi considerado pelo
colegiado”.
...fez alusão Ao fato.
Então: “O fato A que fez alusão o Magistrado não foi considerado
pelo colegiado”.
“Aquele é o mandado de segurança _ que foi julgado ontem”.
...foi julgado O mandado de segurança.
Então: “Aquele é o mandado de segurança que foi julgado
ontem” (sem preposição antes do “que”).
“Este é o torneio _ que eles treinaram tanto”.
...treinaram tanto PARA o torneio.
Então: “Este é o torneio PARA O QUAL eles treinaram tanto”.
Em relação a este último caso, se a preposição exigida tiver mais
de uma sílaba (que é o caso de “para”), vocês devem usar o
pronome relativo “qual”, não “que”.
Era isso.

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78. OS VERBOS “ASSISTIR” E “SOCORRER”
Gente, muita atenção com a regência dos verbos “assistir” e
“socorrer”.
Quando o verbo “assistir” tem o sentido de “socorrer”, é
transitivo indireto:
“Razão não assiste AO acusado.” (Certo)
“Razão não LHE assiste.” (Certo)
“Razão não assiste O acusado.” (Errado)
“Razão não O assiste.” (Errado)
O interessante é que se vocês optarem pelo verbo “socorrer” em
vez do “assistir”, a transitividade é direta:
“Razão não socorre O acusado.” (Certo)
“Razão não O socorre.” (Certo)
“Razão não socorre AO acusado.” (Errado)
“Razão não LHE socorre.” (Errado)
Era isso.

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79. “... SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O
PEDIDO” – QUEM JULGA É A SENTENÇA OU O JUIZ?
Pessoal, vejam a seguinte construção:
“Carlos da Silva interpôs apelação da sentença que julgou
procedente o pedido de compensação por dano moral”.
Já ouvi uns tantos dizendo que há aí um erro, pois “sentença”
não julga ninguém; quem julga é o juiz.
Para esses, pelo mesmo motivo estaria incorreta a frase “Trata-se
de agravo de instrumento contra a DECISÃO que indeferiu o
pedido de gratuidade da justiça feito pelo autor”.
Não, gente, não há nada de errado nessas construções!
“Sentença” e “decisão” nesses contextos são uma figura de
linguagem denominada “metonímia”. Estão no lugar de “juiz”
(“juiz” que julgou, “juiz” que indeferiu).
Aliás, usamos de metonímia o tempo todo nas nossas peças e
nem nos damos conta. Observem, por exemplo, as frases:
“Colhe-se da JURISPRUDÊNCIA deste TRIBUNAL”.
Geralmente empregamos o termo “jurisprudência” como
metonímia, fazendo referência a duas ou três decisões, e não a um
conjunto de julgados no mesmo sentido; “tribunal” está sendo
também usado metonimicamente, referindo-se a apenas um dos
seus órgãos fracionários, não a todo o tribunal.
“Dessa decisão o JUÍZO A QUO não se retratou”.
Sabemos que “juízo a quo” não pode se retratar; a expressão está
também substituindo “juiz”.
“Para receber o benefício da gratuidade da justiça, o
POSTULANTE deve comprovar hipossuficiência”.
Todos os postulantes devem fazer isso, não apenas um;
“postulante” é, portanto, uma metonímia.
E reparem neste último exemplo: “Inconformado, o AUTOR
interpôs recurso especial”.
Muitas vezes usamos as palavras “autor”, “réu”, “apelante”,
“recorrido”, “agravado” etc. de forma metonímica, no lugar de
“procurador/advogado”, que é quem de fato, na maioria dos casos,

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faz alegações nos autos e interpõe recursos.
Era isso.

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80. “ANALISANDO OS AUTOS, CONCLUI-SE...” OU
“ANALISANDO-SE OS AUTOS, CONCLUI-SE...”?
Pessoal, vocês não podem errar nesse tipo de frase. É só prestar
bem atenção para o que vou explicar. Tentarei ser bem didático.
Observem a frase:
“Analisando os autos, o juiz concluiu que assiste razão às
demandantes”.
Respondam: quem “concluiu”, quem é o sujeito de “concluiu”?
É “o juiz”, né? Pois bem. Reparem no “Analisando”. Está sem o
“-se” (“Analisando-SE”) porque a oração posterior, como acabamos
de ver, possui sujeito expresso (“o juiz”). A frase está corretíssima.
Vejam esta outra frase:
“Analisando-se os autos, conclui-se que assiste razão às
demandantes”.
Agora a coisa mudou de figura, pois não sabemos quem
“concluiu”, já que o verbo está impessoalizado, sem sujeito, o que
podemos verificar pelo pronome “se” depois de “conclui”.
A regrinha nesse caso é bem fácil: se um verbo está
impessoalizado (“conclui-SE”), o outro verbo do período também
deve estar (“Analisando-SE”). A frase, portanto, novamente está
correta, e isso responde à pergunta do post.
Mas ainda não acabou! Observem a seguinte estrutura:
“O Juiz a quo arbitrou os honorários considerando a natureza e a
importância da causa”.
Uma vez que “arbitrou” tem sujeito expresso (“O Juiz a quo”), o
“considerando” não leva o “-se”. De novo a frase está bem redigida.
E a construção abaixo? está correta?
“Os honorários advocatícios foram arbitrados considerando a
natureza e a importância da causa”.
Não. A construção está errada. O “considerando” deveria vir
impessoalizado (“considerando-SE”), pois não sabemos quem
arbitrou os honorários. Claro que podemos inferir que foi o juiz
quem arbitrou, mas só isso não basta. Para que o verbo
“considerando” não recebesse o “-se”, “o juiz” deveria vir

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EXPRESSO na frase.
Era isso.

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81. O que usar após o ponto de interrogação? letra maiúscula
ou minúscula?
Hoje trouxe uma dica bem bacaninha sobre um assunto que
vocês quase não encontram por aí.
Desde que de forma moderada (que isso fique bem claro), vocês
podem, sim, fazer perguntas, sobretudo retóricas, nas suas peças e
para tanto terão, claro, de usar o ponto de interrogação. A pergunta
que surge é: devo usar letra inicial maiúscula ou minúscula após
ele?
Deem uma olhada novamente no título. Está escrito assim: “O
que usar após o ponto de interrogação? letra maiúscula ou
minúscula?”.
Percebam que depois da primeira interrogação usei, de forma
correta, inicial minúscula na palavra “letra”. Isso porque esse ponto
de interrogação exerce aí também papel de vírgula, tanto que
poderíamos escrever a frase assim:
“O que usar após o ponto de interrogação(,) letra maiúscula ou
minúscula?”.
Portanto, se a interrogação fizer também as vezes de vírgula, a
letra inicial que a segue será minúscula.
Observem esta frase:
“Mas o que fazer para termos leis mais severas? Não se sabe
ainda”.
Vejam que agora o ponto de interrogação está fazendo papel de
ponto, por isso a inicial maiúscula depois dele.
Mais exemplos:
“A doença causou incapacidade laborativa? perguntou o autor
nos quesitos.” (certo – interrogação que serve também de vírgula)
“Será que depois de todo o arrazoado ainda restam dúvidas?
Obviamente que não.” (certo – interrogação que serve também de
ponto)
Esse entendimento é aplicado igualmente ao ponto de
exclamação:
“Os réus nem sequer contestaram! ‘e’ ainda assim suas

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intempestivas alegações prevaleceram?”.
“Portanto, Excelências, não há manter a sentença condenatória!
‘I’sso é medida de Justiça!”.
Uma última coisinha: ponto de interrogação se escreve assim “?”,
e não assim “??”, muito menos assim “?????”.
Era isso.

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82. [SIC]
Um seguidor me perguntou qual a maneira correta de escrever
“sic”: se em itálico, entre parênteses ou colchetes.
Essa expressão é usada para dizer ao nosso leitor que os erros
gramaticais na citação que transcrevemos constam do original.
“Sic” é redução para “sic erat scriptum”, “assim estava escrito”, em
português.
Bom, respondi dizendo que a forma correta é “[sic]”, com o “sic”
em itálico.
Ocorre, pessoal, que com essa pergunta do seguidor me vi
obrigado a fazer um alerta a vocês.
Isso porque é extremamente deselegante e, diria até, audacioso
usar “sic”, não somente em peças jurídicas, mas em qualquer tipo
de texto.
Deselegante porque com o “sic” você está apontando erro de
outrem (acho que se é para apontar que se aponte coisa boa).
Audacioso porque, uma vez que você usa um “sic”, subentende-se
que sua peça está uma perfeição gramatical só, que parece até que
foi escrita pelo Rui Barbosa. E sabemos que isso nem sempre ocorre,
não é?
Meu conselho então é: NUNCA usem “sic” nos textos, seja em
itálico, entre colchetes ou parênteses.
Mas, Professor, se eu fizer uma citação com erro sem usar “sic”,
não corro o risco de o meu leitor achar que o erro foi meu, que
houve descuido na minha redação?
Não. Primeiramente, se no texto transcrito houver apenas um,
dois ou três erros, corrija-os! Se estiver escrito “suspenção”, corrija
para “suspensão”; “contrarazões”, para “contrarrazões”. Você não
estará cometendo nenhum atentado contra a ética e a moral fazendo
isso, e é muito melhor do que colocar um grosseiro “sic”, isso eu
garanto.
Suponhamos agora que o texto que vocês estão transcrevendo
está recheado de erros, de todo tipo. Bom, nesse caso vocês irão
transcrever exatamente como está no original, sem o “sic”. Não se
preocupem, o leitor não irá pensar que os erros são de vocês,

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justamente pela grande quantidade deles.
Era isso.

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83. AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE
LAGES
Faz uma semana disse no meu Stories que as formas de
tratamento “Digníssimo(a) (DD.)” e “Ilustríssimo(a) (Ilmo(a).)” não
existem mais. No mesmo post indiquei então como correto o uso de
“Senhor(a) Juiz(a)...”.
Alguns seguidores me questionaram se, por conta do art. 319, I,
do CPC (que prescreve que a petição indicará o “juízo”, e não o
“juiz”, a que é dirigida), a forma de endereçamento “Senhor(a)
Juiz(a)...” estaria mesmo correta.
Vou abrir aqui um parêntese. Gente, com todo o respeito, tenho
visto tanto absurdo na internet sobre o tema! Acabei de buscar no
Google pelas palavras “juízo de direito novo CPC” e encontrei
pérolas como a página que diz que com o CPC anterior o correto
era o uso de “Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito...”.
Ora, “Excelentíssimo Senhor” nunca foi a forma correta de
endereçamento! Era bastante usada e ainda o é até hoje? Sim, e não
vejo nada de mau nisso, por ser já prática consolidada. Mas daí a
dizer que era a forma correta e hoje não é mais...
“Excelentíssimo Senhor” é vocativo apenas para chefes de poder.
É usado para juízes em geral por associação ao pronome de
tratamento “Vossa Excelência”, mas em tese está errado.
Voltemos agora àquele questionamento dos seguidores.
Bom, para começar, mesmo que o novo CPC traga que a petição
deva ser direcionada ao juízo, não será o endereçamento ao “juiz”
que fará inepta a sua peça ou ruim o seu texto, concordam? Sobre a
expressão em si, se não acho errado o uso do “Excelentíssimo(a)
Senhor(a)”, muito menos ainda condeno o emprego do “Senhor(a)
Juiz(a)”, que é o vocativo correto para “juiz”.
Resumindo, e deixando bem claro para os meus seguidores: o
endereçamento abaixo está GRAMATICALMENTE correto, e não
vejo nenhum problema em redigir assim, mesmo com o atual CPC:
“Ao Senhor Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de Lages”
Todaaviiia, como sei que vocês sempre buscam fazer a coisa
certinha, indiquei no post a forma mais técnica de acordo com o

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mandamento novo, a qual transcrevo abaixo:
“Ao Juízo da Vara Cível da Comarca de Lages”
Se se tratar de incidente, não se esqueçam de indicar a vara para
a qual o processo principal foi distribuído.
Era isso.

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84. “DESSA FORMA”, “NESSE SENTIDO”, “DESSARTE”
Em todo curso que leciono me perguntam se o certo é “deSSa
forma” ou “deSTa forma”. Quando a pergunta não é sobre essa
expressão, é sobre o “Nesse (Neste) sentido” ou o “Dessarte
(Destarte)”.
Sem exagero, digo que vocês acertarão 99% das vezes se
escreverem sempre “DeSSa forma”, “NeSSe sentido” e “DeSSarte”,
pois esses tipos de expressões geralmente são usadas para fazer
referência a uma parte do texto que já passou, hipótese em que
devem ser escritas com dois ss. Vejam alguns exemplos:
“... a cassação da sentença é medida de rigor.
DeSSa forma, dá-se provimento ao recurso para...” (ou “DeSSe
modo”).
“... conforme entendimento jurisprudencial consolidado.
NeSSe sentido, colhem-se os seguintes julgados:”.
“... pois ausentes os requisitos do art. 300, caput, do CPC.
DeSSarte, não concedo efeito suspensivo à decisão agravada”.
Percebam que as expressões em tela sempre remetem a
informação passada. É como se dissessem ao leitor: “DIANTE DO
QUE FOI DITO, (dá-se provimento ao recurso) (colhem-se os
seguintes julgados) (não concedo efeito suspensivo)”.
Para terminar, notem que as palavras “deste(a)” e “neste(a)”, com
“st”, atravancam a leitura (comprovem pronunciando-as em voz
alta); o leitor mal começa a ler o parágrafo e já se cansa. Pensem
nisso como um macete para não errarem mais.
Era isso.

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85. TERMOS EM QUE, PEDE DEFERIMENTO
Seguidora me pergunta se é adequado usar esta estrutura, que
costuma aparecer no final das peças:
“Termos em que,
Pede deferimento.”
Para começar, gramaticalmente a estrutura está errada. Por um
acaso escrevemos “perto da rua em que, Ela reside”? Então, o
raciocínio é o mesmo.
Mas vejam que interessante: em correspondências oficiais
(ofícios, circulares, portarias) é correto começar o documento com
um vocativo seguido de vírgula e, no parágrafo seguinte, de
palavra com inicial maiúscula. Assim:
“Senhor Ministro,
Apresento para apreciação de Vossa Excelência projeto...”.
Eu acho, achismo mesmo, que o hábito de os advogados
terminarem as peças usando a estrutura objeto do post vem daí,
mas isso não está correto. No vocativo, a vírgula seguida de inicial
maiúscula é possível; na estrutura, já vimos acima que não.
Além de estar gramaticalmente incorreto, escrever “Termos em
que, Pede deferimento” também pode não ser lá a forma mais
técnica de finalizar uma peça. Na minha modesta opinião, a não ser
que se esteja tratando de processo de natureza cautelar, o correto é
usar a palavra “procedência” (para ações em geral) ou
“provimento” (para recursos), em vez de “deferimento”. Nesse
sentido, a estrutura ficaria correta assim:
“Termos em que pede procedência”.
“Termos em que pede provimento”.
Antes que vocês me perguntem, está correto tanto escrever
“pede” (“autor” como sujeito oculto, por exemplo) quanto “em que
se pede” (na passiva).
Era isso.

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86. GOSTA DO “CUJO” MAS NÃO SABE USAR?
Na verdade, não sei quanto a vocês, mas gosto muito de me
deparar com um “cujo” empregado adequadamente em uma peça,
sobretudo se esta, no todo, estiver bem escrita. Para mim, o uso
correto desse pronome relativo no texto passa a impressão de que o
redator domina a arte da escrita.
Ocorre que usar o “cujo” não é tarefa das mais fáceis, e o que
farei no post de hoje é tentar desmistificá-lo a fim de que vocês
passem a empregá-lo com mais frequência nos textos.
“Cujo” sempre indica posse. Na frase em que ele aparece haverá,
então, um possuído e um possuidor. Observem:
“A autora interpôs apelação cujas razões estavam dissociadas da
sentença” (a apelação possui razões; logo, “apelação” é o possuidor
e “razões” o possuído).
A expressão “apelação cujas razões” pode ser entendida como
“razões da apelação”.
Reparem que o “cujo” SEMPRE liga dois substantivos e concorda
com o posterior a ele.
Se o verbo que segue o “cujo” exigir preposição, esta virá antes
do pronome. Assim:
“O apelado apresentou contrarrazões cujos termos referiu-se o
relator”.
“contrarrazões cujos termos” = “termos das contrarrazões”
...referiu-se o relator AOS termos das contrarrazões.
“O apelado apresentou contrarrazões A cujos termos referiu-se o
relator”.
“Aquela é a doutrina cujas páginas encontrei a resposta para o
caso”.
“doutrina cujas páginas” = “páginas da doutrina”
...encontrei a resposta para o caso NAS páginas.
“Aquela é a doutrina EM cujas páginas encontrei a resposta para
o caso”.
Pessoal, visto que o uso do “cujo” é difícil, vamos combinar uma
coisa: na próxima vez que forem começar uma peça, escrevam

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“cujo” de forma destacada no canto da página, para lembrar que
nessa peça em particular vocês serão obrigados a usá-lo. Já fiz esse
exercício em sala de aula e constatei que com ele meus alunos
passaram a empregar o termo com mais frequência e naturalidade.
Era isso.

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87. Bacen Jud, BacenJud, Bacenjud, Bacen-Jud, Bacen-JUD,
BACEN JUD... Afinal de contas, como se escreve?
Se tem uma coisa sobre a qual não existe nenhum consenso é a
escrita da sigla objeto deste post.
O pior é que, como as pessoas não sabem a maneira correta,
acabam escrevendo, na mesma peça, a sigla de um, dois ou de três
jeitos diferentes, o que dá ao texto um tom de desleixo, de que está
mal redigido mesmo.
Penso que, gramaticalmente, existem duas formas corretas de
escrever a sigla sob enfoque: se entendermos que se trata de uma
sigla derivada de palavra composta, a maneira certa é “Bacen-JUD”
(com hífen), pois “Bacen” é uma sigla com mais de três letras e
conseguimos pronunciá-la como uma única palavra, e “JUD” é uma
sigla de três letras e por isso tem de vir grafada em maiúsculas. Se
entendermos que é derivada de uma palavra simples, o correto é
escrever “Bacenjud” (para mais informações, ver post que fiz sobre
como escrever siglas).
O problema é que a sigla em análise é “sui generis”; ela não se
comporta como uma sigla qualquer, que podemos escrever por
extenso. “Senac” é “Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial”, “BacenJud” é “BacenJud” e pronto. É isso que eu quero
dizer!
Sendo uma sigla “diferente”, entendo que não devemos nos
prender a regras gramaticais, mas consultar outras fontes. Mais
especificamente, devemos ver como a sigla vem escrita na página
do Banco Central e do CNJ na internet, que são os órgãos que
normatizam o sistema.
Na página do Banco Central, a sigla aparece escrita de duas
formas: “Bacen Jud” e “BacenJud”. Na página do CNJ, está escrita
de três maneiras: Bacen Jud, BacenJud e Bacenjud.
Vejam que apenas em uma dessas páginas consta a forma
“Bacenjud”, que apontei como gramaticalmente correta, e a forma
“BacenJud” APARECE NOS DOIS SITES.
Por isso, e levando em consideração que a sigla em comento é
“sui generis”, indico que vocês usem a forma “BacenJud”.
Para finalizar:
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- Se forem escrever a palavra “sistema”, escrevam-na com inicial
minúscula: “sistema BacenJud”.
- Lembrem-se de que vocês podem substituir a sigla pela
expressão “penhora on-line”.
- Por analogia, estão corretas as formas “InfoJud”, “RenaJud” e
“SideJud”.
Era isso.

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88. MAIS SOBRE PARTE PROCESSUAL
Seguinte, pessoal, muitas dúvidas há sobre o uso do artigo
definido antes do nome de partes processuais.
Trouxe uma regrinha bem simples mas muito eficiente. Duvido
que depois dela vocês irão errar. Lá vai:
Vocês apenas usarão o artigo definido antes do nome da parte
processual se ela for bem conhecida. Vejam:
Autoposto Goiás Ltda. ajuizou ação revisional contra “o” Banco
Bradesco S.A.
O Banco Bradesco é uma instituição conhecida de todos, por isso
o “o” antes dele na frase acima (e também neste parágrafo).
Outro exemplo, com inversão dessas partes:
O Banco Bradesco S.A. ajuizou ação de busca e apreensão contra
Autoposto Goiás Ltda.
Não há artigo definido antes de “Autoposto” por não ser esta
uma empresa conhecida. Reparem que, pelos motivos já expostos,
há artigo antes de “Banco Bradesco”.
Cláudio Silva interpôs agravo de instrumento da decisão
proferida nos autos da ação monitória proposta contra ele pelO
Banco do Brasil S.A.
O Banco do Brasil também é bastante conhecido, por isso deve vir
antecedido do “o”. Vejam que a mesma regra justifica o não uso do
artigo antes de “Cláudio Silva”.
Cláudio Silva interpôs agravo de instrumento da decisão
proferida nos autos da ação monitória proposta contra ele POR
Micasa Comercial de Veículos S.A.
“Micasa Comercial de Veículos S.A.” não é tão conhecida assim.
Daí o uso do “por” em vez do “pela”.
Fabricio Dutra ajuizou ação de compensação por dano moral
contra “a” Lojas Americanas S.A.
A “Lojas Americanas” é conhecida por todos, por isso o artigo
definido antes dela (para quem ficou com dúvida se o correto é “a”
ou “as” Lojas Americanas, já falei aqui no Insta sobre o assunto – n.
72).

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Era isso.

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89. §
Hoje trouxe uma curiosidade sobre o símbolo do parágrafo (“§”).
Vocês sabem a origem dele?
Bom, a indicação do parágrafo por meio de um ligeiro
afastamento, na primeira linha, da margem esquerda da folha é
relativamente recente; data do século XVI. Até então, quando se
queria nos textos indicar um pensamento novo, pospunha-se antes
dele o símbolo “§”, dois ss um em cima do outro, iniciais da
expressão latina “signum sectionis”, que significa sinal de
separação ou de seção.
Hoje em dia, nos textos em geral esse símbolo está em desuso.
Nos textos legais, todavia, a prática persiste por uma questão
apenas referencial (fica mais fácil fazer referência ao parágrafo do
texto legal se ele estiver numerado), pois em tese o símbolo seria
desnecessário, uma vez que mesmo nos textos normativos existe a
marca do parágrafo (“branco paragráfico”) antes do símbolo.
Sobre a curiosidade do símbolo do parágrafo esse era o recado.
- Se você escrever mais de um parágrafo, não importa quantos,
use “§§”. Exemplos: §§ 1º e 2º; §§ 1º, 2º e 3º.
- Escreva “parágrafo único” sempre por extenso. Por que não “§
único”? Por uma questão de lógica, de paralelismo. Assim como
não escrevemos “parágrafo 1º”, não devemos escrever “§ único”.
Aliás, isso é assim também por determinação legal (LC n. 95/1998,
art. 10, III).
Era isso.

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90. CUIDADO AO FAZER CITAÇÕES
Pessoal, quando citamos, o trecho citado deve concordar com o
nosso próprio texto, como se fosse de nossa autoria.
Para exemplificar, considerem a passagem abaixo, que extraí de
uma peça:
Na certidão de fl. 171, o oficial de justiça certificou que, “em
cumprimento ao mandado extraído dos autos, compareci no local
indicado e, após as formalidades legais, deixei de proceder à
penhora por ausência de bens”.
Vejam que o texto começa com discurso indireto (“certificou
que”), mas posteriormente se converte meio que em discurso
indireto livre (“compareci”, “deixei”). O que é isso? Fluxo de
consciência? Virgínia Woolf? Não pode.
Nesse tipo de construção, vocês têm de passar todo o texto para a
terceira pessoa, deixando para fora das aspas as adaptações feitas.
Assim:
Na certidão de fl. 171, o oficial de justiça certificou que, “em
cumprimento ao mandado extraído dos autos”, COMPARECEU
“no local indicado e, após as formalidades legais”, DEIXOU “de
proceder à penhora por ausência de bens”.
É trabalhoso? pode ser, mas fica bem melhor!
Outra construção que encontro muito em peças:
O Magistrado deferiu “o pedido de tutela de urgência para
determinar a abstenção de inscrição do nome do autor nos órgãos
de proteção ao crédito, sob pena de multa diária, que fixo em R$
500,00”.
Corrigir para:
O Magistrado deferiu “o pedido de tutela de urgência para
determinar a abstenção de inscrição do nome do autor nos órgãos
de proteção ao crédito, sob pena de multa diária”, que FIXOU em
R$ 500,00.
O que ocorre é que muitas vezes o redator se limita a fazer a
citação sem se preocupar muito em ler o texto que cita. Cuidado‼
Esses detalhes fazem diferença no final, acreditem!
Era isso.
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91. “DATA VÊNIA”, “DATA MAXIMA VÊNIA”,
“DATÍSSIMA VÊNIA”
Tanto a expressão “data venia” quanto as expressões “concessa
venia” e “permissa venia” são termos corretos em latim.
Querendo dar ênfase a elas, podemos usar as formas “data
maxima venia”, “concessa maxima venia” e “permissa maxima venia”.
As expressões “datissima venia” ou “datíssima vênia” são
INCORRETAS, pois em latim o superlativo não é usado dessa
maneira e não existe acentuação gráfica. (Por ser prática já
consolidada, particularmente não acho uma coisa horrível o
emprego do “datíssima vênia”. Não o uso nas minhas peças porque
sei que é errado.)
Lembro que em português temos as expressões “com a devida
vênia”, “com o devido respeito”, “peço vênia”, “dada a licença”,
“dada a devida licença”, que também podem ser usadas nesses
casos.
Mas o que eu realmente queria com este post é fazer um alerta a
vocês quanto ao uso dessas expressões, estejam elas em latim ou em
português:

Se estiverem redigindo um projeto de sentença, não usem


“data venia” (ou “devida vênia”) para discordarem da tese de
uma das partes; o juiz não precisa pedir licença a elas para
manifestar seu convencimento.
As expressões em tela são corretamente empregadas, por
exemplo, quando o magistrado discorda de um
posicionamento doutrinário ou jurisprudencial, quando autor
ou réu não se conformam com o entendimento do juiz, ou
quando, em voto vencido ou vencedor, o desembargador
apresenta posicionamento divergente ou fundamento diverso
para a solução do caso.
Era isso.

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92. NÃO FAÇA COM QUE SUA PEÇA PAREÇA MAL
REDIGIDA
Se tem uma coisa que eu não compreendo é isto: estudamos os
autos, começamos a redigir a peça, tomamos cuidado para não
cometer erros gramaticais (pelo menos não os mais graves), lemos a
peça novamente depois de finalizada, mas não nos preocupamos
com alguns detalhes que podem fazer com que todo o nosso
trabalho pareça malfeito!
Passei um bom tempo da minha carreira profissional revisando
acórdãos. Só de folheá-los já sabia, pela FORMA como estavam
redigidos, quais estavam bem escritos e quais não estavam.
Dificilmente errava. Era assim que o meu cérebro funcionava: “Opa,
este acórdão começa com um título todo em caixa-alta mas termina
com um título em que só a inicial vem em maiúscula; na primeira
página aparece um ‘Exmo. Sr.’ e na sequência um ‘Exmo. Senhor’;
no final da transcrição deste precedente consta ‘julgado em 18-08-
15’, mas desta outra consta ‘j. 17/9/2016’; conclusão: peça malfeita”.
Sem ler o acórdão eu deduzia que, como a sua forma era ruim, não
padronizada, o conteúdo também não estaria lá essas coisas. Hoje
passo o dia lendo razões de recursos, contrarrazões, petições
iniciais, contestações, e a impressão que tenho é a mesma da época
em que revisava acórdãos.
O que eu queria falar para vocês hoje era isto então, pessoal:
Deem atenção à forma como a sua peça está apresentada. Não estou
me referindo ao tipo de folha, ao tamanho e tipo da fonte, ou à logo
do escritório, isso já é outro assunto. Refiro-me a alguns detalhes
concernentes à redação mesmo. Por exemplo, se você começou
usando a forma “Exmo. Sr.”, continue assim até o final! Não faça
toda hora de um jeito diferente: ora desse jeito, com as duas
palavras abreviadas, ora com uma palavra abreviada e a outra não
(“Exmo. Senhor”), ora com as duas por extenso, e assim por diante.
Pode ter certeza de que seu leitor perceberá essa desorganização na
apresentação do texto e vai ler a sua peça com desconfiança.
A forma também é elemento argumentativo. Não basta escrever
bem (o que já é muito difícil), tem que parecer que a gente escreve
bem.

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Era isso.

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93. CLASSES PROCESSUAIS
Entende-se por “classe processual” o nome dado a ações e
recursos: “ação de compensação por dano moral”, “ação de busca e
apreensão”, “execução fiscal”, “apelação cível”, “embargos de
declaração”, “recurso especial” etc.
Em primeiro lugar, se você fizer referência à classe processual
desacompanhada do número, nunca, eu disse nunca, use-a com
iniciais maiúsculas! Isso é feio, prejudica a leitura, irrita o leitor,
enche o saco dele. Portanto, escreva:
“Trata-se de apelação cível interposta da sentença proferida...” (e
não: “Trata-se de Apelação Cível...”).
Se a classe processual estiver numerada, daí, sim, coloque as
iniciais maiúsculas. Assim:
“Trata-se da Apelação Cível n. 2017.243434-2...”.
Sempre coloque a abreviatura “n.” entre a classe processual e o
seu número. Quando forem citados dois ou mais processos da
mesma classe, não repita a abreviatura:
“Apelações Cíveis n. 2005.2003-8, n. 2005.658888-4 e n.
2006.365567-0.” (errado)
“Apelações Cíveis n. 2005.2003-8, 2005.658888-4 e 2006.365567-0.”
(certo)
As siglas e abreviaturas das classes processuais não têm forma
pluralizada:
“Extrai-se das ementas dos AI n. 2006.363359-7 e 2006.789638-9...”
(e não: “AIs”).
Por falar em agravo de instrumento, a forma correta no plural é
“agravos de instrumento”, não “agravos de instrumentoS”! Já vi
escrito assim.
Lembre-se de que “habeas corpus” é expressão latina. Escreva-a,
portanto, em itálico, mesmo se acompanhada do número.
Por ser esteticamente feio, não use a sigla da classe processual
sozinha, sem o número:
“Cuida-se de HC impetrado...” (errado).
Há quem goste de dar nomes diferentes para as classes

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processuais (ação injuntiva, ação executória, embargos declaratórios
(o correto é embargos de declaração), ação cominatória, embargos
monitórios, recurso extremo). O que eu acho disso? Nada de errado.
A língua é viva, evolui. Acho um barato.
Era isso.

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94. VÁ QUE VOCÊ TENHA DE FAZER SUSTENTAÇÃO
ORAL
Olá, pessoal! Hoje trago algumas pronúncias chatinhas que a
gente costuma errar:

inexorável (inflexível, implacável) – ine/z/orável


juízo a quo = /quô/
status quo = /quô/
excerto (trecho; fragamento de um texto) = e/cêr/to
subsídio, subsidiário, subsidiar = /ssi/
outrem = /ôu/trem
expertise (perícia; qualidade de especialista) = /écspertize/
foro = /fô/ro
edito (sentença, lei, norma, decisão)
édito (edital)
expert (perito) = /écspér/
experto (perito) = /ecspérto/
subsumir = sub/ssu/mir
subsistência, subsistir, subsistente = /ssi/
Era isso.

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95. REGÊNCIA DE “CONDENAR” E “CONDENAÇÃO”
Pessoal, vocês concordam que escrevemos quase que diariamente
as palavras “condenar” e “condenação” nas nossas peças, correto?
Acertar a regência dessas palavras é, portanto, nossa obrigação.
Vou ajudar vocês.
Bom, em regra, tanto o verbo “condenar” quanto o substantivo
“condenação” pedem a preposição “a”. Condenar alguém “a” algo;
condenação de alguém “a” algo:
“Condenou o réu AO pagamento das custas processuais.” (Certo)
“Condenou o réu NO pagamento das custas processuais.”
(Errado)
“Pugnou pela condenação do acusado EM dez anos de reclusão.”
(Errado)
“Pugnou pela condenação do acusado A dez anos de reclusão.”
(Certo)
Se o verbo “condenar” tiver como complemento tempo
especificado, não admitirá “a”, mas “em”:
“Foi condenada A cinco anos de prisão.” (Errado)
“Foi condenada EM cinco anos de prisão.” (Certo)
Ao contrário de “condenar”, “condenação” nunca admite “em”,
mesmo com tempo especificado.
Era isso.

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96. EXPRESSÕES A SEREM EVITADAS NAS PEÇAS
Olá, pessoal! Hoje trago expressões tidas como incorretas por
alguns estudiosos da linguagem jurídica. Por mais que eu não as
condene por serem formas consagradas pelo uso, não custa nada
evitá-las, não é mesmo?

em sede de
Substituir por “no âmbito de”, “na esfera de”, “no campo
de”, “em”.
“A culpa, em sede penal, precisa...” (evite)
“A culpa, em matéria penal, precisa...” (prefira)
“Não é cabível, em sede de embargos de declaração,...”
(evite)
“Não é cabível, em embargos de declaração,...” (prefira)
via de regra
Corrigir para “por via de regra”, “em regra”, “quase
sempre”.
“Esse direito, via de regra, diz respeito aos aposentados.”
(evite)
“Esse direito, por via de regra/em regra, diz respeito aos
aposentados.” (prefira)
“qualquer” em vez de “nenhum”
Evite o uso de “qualquer” em orações negativas no lugar de
“nenhum”.
“O réu compareceu ao interrogatório mas não disse qualquer
palavra.” (evite)
“O réu compareceu ao interrogatório mas não disse
nenhuma palavra.” (prefira)
quando de
Substitua por “à época de”, “no momento de”, “no tempo
de”, “por ocasião de”, ou ajuste a expressão à frase sem o uso

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do “de”.
“Quando da chegada do material, eles checam todos os
itens.” (evite)
“No momento da chegada do material, eles checam todos os
itens.” (prefira)
“Ele sabia que, quando da prática do delito de roubo, atuava
contra o direito.” (evite)
“Ele sabia que, quando praticava o delito de roubo, atuava
contra o direito.” (prefira)
resultar/restar
“Resultar”, “restar” e “quedar” não são verbos de ligação.
Por isso, em casos como os abaixo, substitua-os por “ser”,
“ficar”:
“A audiência de conciliação restou infrutífera.” (evite)
“A audiência de conciliação é/foi infrutífera.” (prefira)
“O agravo resta prejudicado.” (evite)
“O agravo está prejudicado.” (prefira)
Era isso.

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97. “SENÃO” OU “SE NÃO”?
Pessoal, quando decidi abrir uma conta no Insta sobre redação
jurídica, jurei para mim mesmo que nunca traria assuntos que vocês
podem, facilmente, encontrar em dicionários, gramáticas ou em
livros (livros?) do tipo “100 erros de português”, “Não erre mais”,
“Português sem mistério”, enfim, em manuaizinhos do gênero.
Meu propósito sempre foi trazer problemas de redação, relevantes,
cuja ocorrência é frequente em peças jurídicas.
Bom, não sei se digo, estou envergonhado, ah, que se dane, vou
dizer: até hoje tenho dificuldade no uso do “senão” e do “se não”.
Sempre olho no dicionário para saber qual forma usar.
Por isso, embora seja tema que vocês podem facilmente encontrar
em outro lugar (até naqueles manuaizinhos), decidi trazer hoje a
diferença entre o “senão” e o “se não” porque essa minha
dificuldade pode ser a de vocês também (na verdade, acho que
inconscientemente estou fazendo este post para ver se consigo
gravar a diferença de uma vez por todas).
O “senão” (o “se” junto do “não”) é utilizado quando for possível
sua substituição por “do contrário”, “de outra forma”, “aliás”, “a
não ser”, “com exceção de”, “exceto”, “salvo”. Exemplos:
“Há de conter contradição, obscuridade, omissão ou erro material
no acórdão, SENÃO os embargos declaratórios não podem ser
providos.” (= do contrário)
“Assim, alternativa não houve SENÃO ajuizar a presente ação.”
(= a não ser)
Já a forma “se não” (com o “se” separado do “não”) pode ser
substituída por “caso não”, “quando não”:
“SE NÃO tivesse reagido, certamente a acusada não teria
praticado homicídio.” (= caso não tivesse reagido).
“Há revelia SE NÃO houver contestação.” (= quando não houver)
Era isso.

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98. O “SENDO QUE”
Pessoal, evitem o “sendo que” nas peças de vocês. Evitem
mesmo. O uso do “sendo que” indica ao leitor que o escritor não
possui conhecimento suficiente da língua (por exemplo, não sabe
usar as conjunções) e que, assim, tem de se socorrer à expressão,
que passa então a servir de verdadeira bengala linguística. Isto é, na
pressa e pela falta de conhecimento de outros recursos, o redator sai
espalhando o “sendo que” pelo texto, o que faz com que a peça seja
desagradável de ser lida e pareça mal escrita. Cuidado!
Em 95% dos casos, o “sendo que” pode ser trocado por um
simples “e”. Vejam:
“O acórdão teve votação unânime, sendo que contra ele foi
interposto recurso especial.” (errado)
“O acórdão teve votação unânime, E contra ele foi interposto
recurso especial.” (certo)
“Enquanto a boa-fé do segurado se presume, a má-fé deve ser
cabalmente comprovada, sendo que tal ônus compete à
seguradora.” (errado)
“Enquanto a boa-fé do segurado se presume, a má-fé deve ser
cabalmente comprovada, E tal ônus compete à seguradora.” (certo)
Às vezes o “sendo que” pode, a depender do sentido, ser trocado
por “de modo que”, “de forma que”, introduzindo uma oração
consecutiva:
“Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença
cumulativa do fumus boni iuris e do periculum in mora, sendo que a
ausência de quaisquer dos requisitos obsta o deferimento.” (errado)
“Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença
cumulativa do fumus boni iuris e do periculum in mora, DE MODO
QUE a ausência de quaisquer dos requisitos obsta o deferimento.”
(certo)
Observem agora a seguinte frase:
“Enquadram-se os danos morais na categoria de
responsabilidade extracontratual por ato ilícito, sendo que os juros
de mora incidem da data do evento danoso”.
Lembram quando disse que o “sendo que” acaba servindo de
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bengala linguística? Pois é, a frase acima, mal redigida por conta
justamente dessa expressão, demonstra muito bem isso. O “sendo
que” é, sim, uma verdadeira carta na manga, mas em camiseta
regata. De novo: cuidado!
Era isso.

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99. MAIS UMA DICA PARA DEIXAR SUA PEÇA
REDONDINHA, REDONDINHA
Pessoal, quantas vezes vocês escreveram assim nas peças de
vocês:
“o agravante sustenta”
“montante discutido pela apelante”
“a requerente assevera”
“Inconformado, o autor interpôs apelação”
“o agravado apresentou contrarrazões”
... quando, na verdade, era para escrever assim:
“A agravante sustenta”
“montante discutido pelOS apelanteS”
“O requerente assevera”
“InconformadA, A autorA interpôs apelação”
“oS agravadoS apresentARAM contrarrazões”?
Pois é, erros como esses, facilmente percebidos pelo leitor,
ocorrem basicamente por dois motivos: pela prática do “copia e
cola” de uma peça para outra e pelo mau hábito de não lermos
nossas peças após finalizá-las.
No post de hoje vou dar uma ótima dica para sanar esse
probleminha.
Seguinte, para evitar erro em construções como as apontadas,
sempre usem a palavra “parte” seguida de sua posição no processo,
seja lá qual for seu gênero e número. Calma que já vão entender:
- Se autor e réu forem, ambos, do gênero FEMININO, vocês
escreverão “parte autora”, “parte ré”.
- Se autor e réu forem, ambos, do gênero MASCULINO, vocês
também escreverão “parte autora”, “parte ré”.
- Se houver, por exemplo, DOIS autores e DOIS réus, vocês
igualmente escreverão, independente do gênero, “parte autora”,
“parte ré”.
Viram? não muda nunca! Fazendo assim, vocês manterão um
padrão e não errarão mais a concordância quando se referirem a

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partes processuais. Naturalmente usarão a concordância verbal
sempre no singular, e a nominal no singular e no feminino, sem se
preocuparem com o gênero e o número das partes do caso concreto.
(Adoro esse macete.)
Portanto, tomando novamente as construções inicialmente dadas,
elas estarão SEMPRE corretas se forem escritas assim:
“a parte agravante sustenta”
“montante discutido pela parte apelante”
“a parte requerente assevera”
“Inconformada, a parte autora interpôs apelação”
“a parte agravada apresentou contrarrazões”
Vejam que essa dica também resolve a dúvida sobre o uso de
“autor” ou “autora” para banco/instituição financeira, por exemplo.
Escrevam “parte autora” que o problema estará resolvido.
Era isso.

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100. A PALAVRA “SEQUER” NÃO TEM SENTIDO
NEGATIVO
Seguidor me pergunta se a frase abaixo está correta:
“O apelante sequer impugnou a decisão”.
Na verdade, ele queria saber se o “sequer” sozinho está errado.
Bom, o “sequer” sozinho não está errado, mas atenção: a palavra,
sozinha, não tem sentido negativo.
A frase que o seguidor apresentou significa: O apelante ao menos
impugnou a decisão. Quer dizer, a decisão foi impugnada.
Se o que se pretendia era dizer que o apelante nem ao menos
impugnou a decisão, a forma correta é:
“O apelante NEM sequer impugnou a decisão”.
Pessoal, então tomem cuidado! Em nenhuma das frases abaixo o
“sequer” possui valor negativo:
“Os magistrados sequer foram avisados da mudança”.
“A adolescente cresceu privada da presença do pai e sequer pôde
conhecê-lo”.
“Sequer tiveram tempo para avaliar o caso”.
“O nome das supostas vítimas sequer foi informado”.
Para que adquira sentido negativo, o “sequer” deve vir
acompanhado de uma expressão negativa. Por exemplo:
“Os magistrados NEM sequer foram avisados da mudança”.
“A adolescente cresceu privada da presença do pai e NÃO pôde
sequer conhecê-lo”.
“NEM sequer tiveram tempo para avaliar o caso”.
“O nome das supostas vítimas NÃO foi sequer informado”.
Era isso.

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101. O EMPREGO DE “O MESMO” (ERROU, DANOU-
SE)
Aqueles que me acompanham há mais tempo aqui no Insta
sabem que sou do tipo flexível em relação a alguns tópicos
gramaticais, sabem que eu acho que a língua é viva e evolui
naturalmente, que o importante é a boa transmissão da mensagem,
blá-blá-blá.
Mas tenho meus limites. No caso da expressão que trouxe à
discussão hoje, meu limite é zero. Podemos errar a vírgula, a crase,
algumas concordâncias, podemos até inventar palavras; mas errar o
uso de “o mesmo”, expressão batida, calejada, cujo emprego quase
todo mundo já sabe, é inaceitável, é pedir para o leitor não levar sua
peça a sério. Se você tasca um “o mesmo” de forma incorreta na
prova prática do concurso da magistratura, esqueça, o corretor da
prova provavelmente nem lerá o resto.
O pior é que tem gente que ainda usa “o mesmo”/“a mesma” de
maneira inadequada. Pesquisei pela expressão em um site de
tribunal, e dentre os 15 primeiros julgados que a busca retornou 9
apresentaram o erro! Até por isso resolvi fazer o post.
Pessoal, não usem “o mesmo”, “a mesma” para substituir
substantivo ou pronome (“ele”, “ela”, “elas”, “dele”, “dela”, “para
ele”, “nele”, “este”):
“Após ter chamado a vítima, o acusado desferiu um soco na
mesma.” (errado)
“Após ter chamado a vítima, o acusado desferiu um soco nela.”
(certo)
“Contratou dois advogados, e os mesmos trabalharam com
diligência.” (errado)
“Contratou dois advogados, e eles/os quais trabalharam com
diligência.” (certo)
“Recebida a denúncia, o juiz acolheu a mesma.” (errado)
“Recebida a denúncia, o juiz a acolheu.” (certo)
No sentido de “idêntico”, “semelhante”, o emprego está correto:
“A apelante pleiteou a minoração dos honorários advocatícios. O
mesmo pleito fez o apelado.” (certo–idêntico pleito)
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Insisto: há erros e erros. Este do post de hoje não dá para cometer.
De jeito nenhum.
Era isso.

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102. DÚVIDAS SOBRE COMO ESCREVER NUMERAIS
POR EXTENSO?
Inicialmente, devo alertá-los de que há controvérsia entre
estudiosos sobre alguns pontos que abordarei neste post. O
entendimento a seguir é aquele que eu adoto.

Na escrita de numerais por extenso, não se coloca vírgula


entre o milhar e a centena. Assim:
1.312 – mil trezentos e doze (não: mil, trezentos e doze).
12.471 – doze mil quatrocentos e setenta e um (sem vírgula
depois de “doze mil”).
123.345 – cento e vinte e três mil trezentos e quarenta e cinco
(sem vírgula depois de “cento e vinte e três mil”).
3.982.283 – três milhões novecentos e oitenta e dois mil
duzentos e oitenta e três (sem nenhuma vírgula).
Se a última centena terminar em dois zeros, coloque um “e”
antes dela:
3.982.200 – três milhões novecentos e oitenta e dois mil E
duzentos.
Nunca use a expressão “hum mil”:
“... no valor de R$ 1.500 (hum mil e quinhentos reais).”
(errado)
“... no valor de R$ 1.500 (mil e quinhentos reais).” (certo)
Alguns têm dúvida sobre a escrita dos números decimais por
extenso. Mas é fácil, é só escrever como se fala:
2,5 – dois vírgula cinco.
E os números acompanhados de unidades de medida, como
os escrevo? Mesma regra da anterior, escreva como você fala:
12 m – doze metros;
150 m² – cento e cinquenta metros quadrados;
300,5 m³ – trezentos vírgula cinco metros cúbicos.

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Para aqueles que gostam do tema, já fiz um post sobre a
necessidade ou não de escrever, em peças jurídicas, numerais
por extenso entre parênteses (n. 51).
Era isso.

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103. A EXPRESSÃO “QUAL SEJA”
Hoje separei duas dicas joias para vocês sobre a expressão “qual
seja”, que vejo com certa frequência sendo usada de forma incorreta
nas peças.

Seguinte, a expressão “qual seja”, que significa “a saber,


“isto é”, “vale dizer”, é VARIÁVEL: vai para o plural se o
sintagma nominal a ela relacionado assim o exigir. Vejam:
“O recurso cabível no caso é aquele do art. 1.015 do CPC,
qual seja o agravo de instrumento.” (certo)
“Os dois tipos de tutela provisória, QUAL SEJA a tutela de
urgência e a tutela de evidência,...” (errado – são dois tipos de
tutela; plural, portanto)
“Os dois tipos de tutela provisória, QUAIS SEJAM a tutela
de urgência e a tutela de evidência,...” (certo)
Atenção: a vírgula depois do “qual(is) seja(m)” é facultativa:
“Para a caracterização da legítima defesa, devem estar
presentes, concomitantemente, os requisitos do art. 25 do
Código Penal, quais sejam injusta agressão, uso moderado dos
meios necessários e defesa de direito próprio ou de terceiro.”
(certo)
“Para a caracterização da legítima defesa, devem estar
presentes, concomitantemente, os requisitos do art. 25 do
Código Penal, quais sejam(,) injusta agressão,...” (certo)
Costumo não usar a vírgula, mas a depender da frase às
vezes me parece que ela cai bem, não sei explicar direito o
porquê. De todo modo, vocês sabem que a vírgula depois da
expressão é facultativa.
Era isso.

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104. “HÁ QUATRO TIPOS DE PRECLUSÃO” OU “HÁ
QUATRO TIPOS DE PRECLUSÕES”?
No post anterior, ao explicar o uso da expressão “qual seja”, dei
uma frase como exemplo que começava assim: “Os dois tipos de
tutela provisória,...”.
Recebi um direct no qual uma seguidora me pergunta se o
correto não seria “Os dois tipos de tutelaS provisóriaS”. Achei a
dúvida interessante e por isso decidi fazer este post sobre ela.
Em frases do tipo “três espécies de...”, “dois tipos de...”, vocês
colocarão a palavra/expressão seguinte no singular se ela não for de
certo modo palpável, concreta. A palavra “preclusão”, por exemplo,
não é uma coisa que conseguimos tocar ou ver, por isso devemos
escrever, respondendo à pergunta do post, “Há quatro tipos de
preclusão” (preclusão no singular), e não “Há quatro tipos de
preclusões (no plural). O mesmo raciocínio se aplica à tutela
provisória: o correto é “Os dois tipos de tutela provisória” (“tutela
provisória” no singular).
Já se a palavra/expressão que segue a estrutura “tipos de”,
“espécie de” for palpável, se puder ser tocada ou vista, irá para o
plural. Vejam:
“Existem dezenas de tipos de aparelhoS celularES”
“Há várias espécies de mercadoriaS sujeitas à incidência do IPI”
“Há vários tipos de julgadorES”
“Na residência do acusado foram encontrados cinco tipos de
armaS de fogo”.
Com essa última frase me lembrei de dizer uma coisa
importantíssima a vocês:
Não vão confundir as regras que acabei de passar com aquela
outra sobre plural de palavras compostas ligadas por “de”, em que
a palavra à direita da preposição NUNCA vai para o plural. Por
exemplo, o plural de “arma de fogo” é “armas de fogo”, não “armas
de fogoS”; “tutelas de evidência”, não “tutelas de evidênciaS”;
“embargos de declaração”, não “embargos de declaraçÕES”;
“agravos de instrumento”, não “agravos de instrumentoS”. Não
vão confundir, uma coisa não tem nada a ver com a outra! Neste

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caso estamos falando de palavras compostas ligadas pela
preposição “de”; lá, de construções com a estrutura “...tipos de...”,
“...espécies de...”.
Era isso.

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105. LAPSO TEMPORAL
Pessoal, muito cuidado com a expressão “lapso temporal”. A
palavra “lapso” significa “interregno”, “intervalo de tempo”,
“decurso de tempo”; portanto, “lapso TEMPORAL” é redundante.
“Sustentou que entre a data em que foi concedido o benefício e o
ajuizamento da demanda decorreu lapso temporal superior a um
ano.” (redundante)
“Sustentou que entre a data em que foi concedido o benefício e o
ajuizamento da demanda decorreu lapso superior a um ano.”
(certo)
Mas cuidado de novo: como “lapso” também pode significar
“erro”, “falta”, “falha”, “descuido”, substitua a palavra, se
necessário para evitar ambiguidade, por um sinônimo:
“Houve pequeno lapso entre a propositura da ação e o seu
julgamento.” (ambíguo)
“Houve pequeno espaço de tempo / interregno entre a
propositura da ação e o seu julgamento.” (certo)
Era isso.

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106. “SÚMULA N. 130” OU “SÚMULA 130”?
Primeiramente, não acho legal encontrar ora escrito em um
parágrafo “Súmula 130” ora, em outro, “Súmula n. 245” (com o “n.”
antes do número). Isso demonstra certo desleixo na redação e é o
tipo de coisa que o leitor nota rapidinho, rapidinho.
Então, caso vocês não sigam a orientação que darei a seguir, pelo
menos padronizem o modo de escrever: ou escrevam, EM TODA A
PEÇA, a palavra “Súmula” seguida de “n.” ou sem o “n.”,
combinado? Esses detalhezinhos fazem diferença.
O correto é escrever “Súmula 130”, sem o “n.” antes do número.
Uma primeira justificativa para tanto é que na própria lista de
súmulas na página do Superior Tribunal de Justiça e na do
Supremo Tribunal Federal a abreviatura do número (“n.”) não
aparece. Só essa justificativa para mim já bastaria. Mas existe outro
motivo para não colocar o “n.” antes do número.
A palavra “súmula”, tal como utilizada na linguagem jurídica,
deriva da palavra “resumo”; significa uma síntese, um apanhado da
jurisprudência de determinado tribunal. Para facilitar o
entendimento, vamos assumir aqui que súmula quer dizer mais ou
menos jurisprudência mesmo.
Partindo disso, vocês concordam comigo que a súmula, a
jurisprudência de um tribunal, não pode ter número, né? Não tem
sentido dizer “jurisprudência n. 130 do STJ”, concordam? O que
possui número é o “enunciado” da súmula, que é, digamos assim,
cada pedacinho da súmula, da jurisprudência do tribunal, tanto que
tecnicamente o correto é escrever “Enunciado n. 130 da súmula do
Superior Tribunal de Justiça”, daí, sim, com o “n.” antes do
número.
O fato é que esse modo de escrever, embora correto, não é
frequente entre nós. Em vez dele, empregamos a palavra “Súmula”
seguida do número (“Súmula 130”), forma que, por já ser
consagrada, está correta. A forma “Súmula n.”, todavia, dá a
entender que a súmula é que possui número, não o enunciado, por
isso é considerada errada. Lembrem: enunciado tem número,
súmula não.
Era isso.
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107. VEZ QUE, EIS QUE, HAJA VISTA QUE
Pessoal, as expressões “vez que”, “eis que” e “haja vista que” não
têm sentido de causa, isto é, não significam “porque”, “porquanto”,
“uma vez que”, “já que”. Gravem bem isso! Aliás, as formas “vez
que” e “haja vista que” nem sequer existem! Eliminem-nas,
portanto, da escrita de vocês.
Deem uma olhada nas frases abaixo:
“Não teve sua pena aumentada, VEZ QUE as circunstâncias
judiciais lhe eram favoráveis.”
“O juiz julgou procedente o pedido, EIS QUE ficou provada a
mora do devedor.”
“Não houve ilegalidade na rescisão do contrato, HAJA VISTA
QUE a autoridade pública seguiu o prazo estabelecido.”
Todas elas estão gramaticalmente INcorretas. Corrija-as
substituindo as palavras em destaque por “uma vez que”,
“porquanto”, “visto que” e outras conjunções equivalentes.
Atenção: eu disse inicialmente que a expressão “haja vista QUE”
não existe. Não vão confundir com o “haja vista” sem o “que”, que
é forma legítima, ainda que também bastante maltratada (outra
hora vou fazer um post só sobre ela).
A expressão “eis que” existe, mas tem sentido temporal, não
causal. Vejam:
“A audiência seguia tranquila, EIS QUE o advogado resolveu
tumultuá-la.” (certo – sentido de “quando”)
Uma palavrinha para terminar. Será a troca de “vez que” por
“uma vez que” que tornará sua peça bem escrita? Claro que não.
Mas já falei isto aqui algumas vezes: em um texto que no geral está
bem redigido, a não colocação de “uma” na expressão “uma vez
que” pode passar despercebida; mas em um texto que já não está lá
essas coisas, tal erro apenas servirá como confirmação, para o leitor,
de que ele está diante de um texto mal feito. Consertando um
errinho aqui, outro ali, a tendência é que as peças de vocês fiquem
cada vez melhores. E esse é o meu objetivo!
Era isso.

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108. SABENDO USAR AS FORMAS
“COMPROMITENTE”, “COMPROMISSÁRIO”,
“CEDENTE”, “CESSIONÁRIO”,...
Seguidora me pergunta se o Ministério Público figura como
“compromitente” ou como “compromissário” no compromisso de
ajustamento de conduta, também conhecido como termo de
ajustamento de conduta (TAC).
Pessoal, regra bem simples para não errar mais: vocês usarão a
terminação “ÁRIO(A)” para a parte PASSIVA do negócio. No TAC,
por exemplo, o Ministério Público toma, RECEBE do interessado o
compromisso, por isso é considerado “compromissário”. Aquele
que assume o compromisso de restaurar a legalidade do
comportamento é o “compromitente”.
E por aí vai: “consignante” é quem autoriza a consignação em
folha; “consignatário” é a pessoa de direito público ou privado em
favor de quem se faz a consignação. O sujeito ativo que estabelece o
fideicomisso é chamado de “fideicomitente”; “fideicomissário” é
aquele a quem o testador confia a herança. Quem cede algo é
“cedente”; quem o recebe é “cessionário”. Quem doa é “doador”,
quem recebe é “donatário”; quem dá poderes é “mandante”, que os
recebe é “mandatário”.
Estão percebendo? a terminação “ário(a)” tem a ver com
passividade, com quem RECEBE algo.
Saber isso, todavia, não vai adiantar se não dominarmos o
sentido de alguns termos jurídicos. É impressionante, nesse aspecto,
a quantidade de pessoas que confundem “locador” com “locatário”,
“depositante” com “depositário”, “mutuante” com “mutuário”,
“comodante” com “comodatário”.
Para sabermos empregar os termos “locador” e “locatário”,
devemos antes saber que quem “loca” é quem entrega a coisa (por
isso “locador”), não quem a recebe (locatário). Do mesmo modo,
devemos saber que “depositante” é quem deposita a coisa, não
quem a recebe em depósito, que é chamado de “depositário”.
Quando sabemos que mútuo e comodato são formas de
empréstimo e que “emprestar” tem sentido ativo, não passivo, não
erramos mais o uso de “mutuante” e “comodante”, que são quem
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entregam a coisa, e de “mutuário” e “comodatário”, que são quem
recebem a coisa, quem a tomam emprestado.
Era isso.

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109. ABREVIE SOMENTE SE FOR NECESSÁRIO
Já fiz post específico sobre como fazer abreviaturas (n. 62). O de
hoje é sobre a necessidade de empregá-las nas nossas peças.
Usem abreviaturas apenas quando for realmente necessário. Isso
porque elas poluem o texto e deixam, consequentemente, a leitura
desagradável.
“O d. representante do Ministério Público” (evite)
“O douto representante do Ministério Público” (prefira)
“Interpôs apelação da r. sentença” (evite)
“Interpôs apelação da respeitável sentença” (prefira)
“Colhe-se precedente desta eg. Câmara” (evite)
“Colhe-se precedente desta egrégia Câmara” (prefira)
“O v. acórdão” (evite)
“O venerando acórdão” (prefira)
Mas atenção: Não é aconselhável, mesmo que por extenso, o
emprego de “douto”, “respeitável”, “egrégia”, “venerando” e
outras palavras do tipo, pois as peças são textos técnicos e por isso
devem ser escritas de forma concisa. Portanto, em vez de escrever
“O douto representante do Ministério Público”, escreva,
simplesmente, “O representante do Ministério Público”.
Se, nos casos apresentados, vocês insistirem em escrever a
palavra e ainda por cima de forma abreviada, JAMAIS a usem com
a inicial maiúscula, porque isso deixa o texto ainda mais poluído,
sem contar que está errado: as palavras “douto”, “respeitável”,
“egrégia” e “venerando” são adjetivos e, como tais, não devem ser
escritas com inicial maiúscula.
Resumindo:
A eg. Primeira Turma (evite, é feio)
A Eg. Primeira Turma (evite, é feio e errado)
A Egrégia Primeira Turma (evite, é feio e errado)
A egrégia Primeira Turma (evite, é desnecessário)
Era isso.

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110. REGÊNCIA DO VERBO “OFICIAR”
“Professor, bom dia. Não sei se a dúvida é muito corrente, mas
qual a regência correta do verbo ‘oficiar’? Ele reclama preposição?
Eu sempre escrevo ‘oficiar a’ alguém ou alguma coisa (oficie-se AO
cartório, oficie-se À delegacia, etc.). E quando eu mudo a estrutura
para a forma passiva? (o Ministério Público requer sejam oficiados
AOS cartórios). Está correta essa construção? Desde já, muito
obrigado.”
O verbo “oficiar”, tal como apresentado pelo seguidor, significa
endereçar por meio de ofício, comunicar por meio de ofício. Nesse
sentido, segundo Celso Pedro Luft e Francisco Fernandes, é
transitivo INdireto e exige a preposição “a”:
“O desembargador oficiou À primeira instância”.
“O diretor oficiou Aos ex-sócios”.
“Oficie-se À delegacia”.
Estão erradas, portanto, as formas “oficiou A primeira instância”,
“oficiou OS ex-sócios”, “oficie-se A delegacia”.
Agora a parte mais importante: todos nós aprendemos que em
regra os verbos transitivos indiretos, que é o caso do verbo em
exame, não admitem a voz passiva. Partindo disso, está incorreta a
frase, apresentada pelo seguidor, “O Ministério Público requer
sejam oficiados aos cartórios”. Podemos corrigi-la para:
“O Ministério Público requer o envio de ofício aos cartórios”.
“O Ministério Público requer seja enviado ofício aos cartórios”
(“enviar” é transitivo DIRETO e indireto; pode ir para a passiva,
portanto).
“O Ministério Público requer sejam enviados ofícios aos
cartórios” (no caso de ser enviado mais de um ofício para cada
cartório).
Notem que quando escrevemos “oficie-se à delegacia”, a frase
NÃO está na passiva. O “se” aí não é partícula apassivadora, mas
índice de indeterminação do sujeito; “à delegacia” é objeto indireto,
não sujeito (não existe sujeito preposicionado).
Era isso.

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111. “SUA PEÇA ESTÁ MAL-ESCRITA? ISSO É ÓTIMO”
Quem pensa assim é o advogado da parte contrária! Aliás, acho
que não deve haver nada melhor para um advogado do que, citado
para contestar, se deparar com uma petição inicial pouco articulada,
em que pedido e causa de pedir são expostos de forma obscura ou
prolixa, em que o idioma vem escrito de maneira capenga, com
problemas de toda ordem, gramatical, de estilo e de clareza. Mesmo
que o advogado tenha bons argumentos, eles dificilmente
subsistirão se a peça estiver mal-escrita.
Se eu, como advogado, tenho em mãos uma petição inicial
capenga na linguagem e cujos argumentos devo contestar, uma das
minhas primeiras armas retóricas será desqualificar, de forma
educada, claro, a escrita do meu oponente, com frases do tipo: “Se é
esse mesmo o pedido do autor, pois, da forma obscura como foi
feito, é difícil compreendê-lo,...”, “Ora, esses são fundamentos que,
se bem os entendeu o réu, não podem ser levados em consideração
por Vossa Excelência”, “Em relação ao dano moral, não se
consegue, por mais esforço que se possa fazer, enxergá-lo dos
termos da petição inicial, em que o autor mistura fatos e não faz
adequada relação entre eles e o dano que diz ter sofrido”.
Imaginem o impacto que essas minhas frases, na contestação, terá
sobre o juiz, que a essa altura também já leu a petição inicial e tem
ciência de que está mal redigida! É quase causa ganha! E reparem
que nem estou rebatendo ainda o mérito em si da demanda; meu
ataque está sendo apenas no plano formal, no plano da escrita.
Falando em juiz, também acredito que, para ele, receber uma
petição inicial “problemática” é um tanto mais cômodo do que uma
petição bem redigida, que sempre exigirá dele argumentos sólidos,
seja para julgar procedente ou improcedente a pretensão deduzida.
Um petição malfeita, por outro lado, certamente não receberá a
mesma atenção, não terá o poder de modificar o entendimento,
mais ou menos já formado, do juiz a respeito da matéria trazida a
julgamento.
Era isso.

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112. “PEDIDO DE LIMINAR” OU “PEDIDO LIMINAR”?
Seguidora me pergunta se o correto é “pedido de liminar” ou
“pedido liminar”. Vocês só fazem perguntinha difícil também, né?
Rsrs
Mas vamos lá. Primeiramente, a palavra “liminar” deriva do
termo “limiar”, que significa “no início”. Tem relação com qualquer
providência, no início do processo, pedida pela parte a fim de evitar
danos irreparáveis ou tomada pelo juiz de ofício. Não se confunde
com as tutelas de urgência, mas pode ser o modo como estas são
analisadas.
Pesquisei nos dicionários Houaiss, Aurélio e Michaelis, e todos
eles trazem a palavra “liminar”, de sentido jurídico, como
ADJETIVO. Gramaticalmente, portanto, a construção “pedido de
liminar” está incorreta. Apenas para comparar, “sucessivo” é um
adjetivo. Por acaso está correto dizer “pedido DE sucessivo”? Não,
né? Vejam, a propósito, que estão corretas as expressões “pedido
DE antecipação da tutela” e “pedido DE efeito suspensivo” porque
“antecipação da tutela” e “efeito suspensivo” agem como
substantivos.
Assim como não é adequada a forma “pedido de liminar”, são
inadequadas as expressões “requereu liminar”, “requereu a
concessão de liminar”, “moveu uma liminar”, “entrou com uma
liminar”, “concedeu liminar”, “negou a liminar”. Isso porque,
repito, liminar é adjetivo, não substantivo. Em vez dessas
expressões, escreva, a depender do sentido da frase, “requereu
liminarmente”, “realizou pedido liminar”, “concedeu liminarmente
o pedido”, “negou o pedido liminar”.
A forma “pedido DE liminar” é incorreta, mas está correta, por
exemplo, a expressão “pedido DE reintegração de posse”
(“reintegração de posse” é substantivo). Assim, se se tratar de
pedido liminar, diz-se, corretamente, “pedido liminar de
reintegração de posse”. Não existe “de” antes de liminar, mas pode
haver depois, isso que eu quero dizer.
Apenas para registro, o Código de Processo Civil não traz
nenhuma ocorrência da palavra “liminar” como substantivo.
Era isso.

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113. SUPRA, SUPRACITADO
Pessoal, hoje estou passando para dar uma dica rápida, mas acho
que irão gostar. Antes, um alerta: como quase tudo relacionado ao
acordo ortográfico, há controvérsia sobre a grafia de algumas
palavras apresentadas neste post, controvérsia muitas vezes
derivada do equivocado entendimento de alguns de que se a
palavra não está no Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa) ela não existe. As grafias indicadas neste post são
aquelas que eu adoto.
Sigamos.
A palavra “supra”, advérbio usado para indicar ao leitor trecho
da mesma página, mais acima, ou de páginas anteriores, é escrita
em itálico, pois palavra latina. Vejam:
“Os depoimentos supra demonstram que o réu sabia da existência
da inscrição indevida” (certo, “supra” em itálico).
“Portanto, nos termos da fundamentação ‘supra’, dá-se
provimento ao recurso” (certo, “supra” em itálico).
Interessante que se o termo “supra” funcionar como prefixo,
formando uma palavra, esta NÃO vem em itálico:
“Esse entendimento coaduna-se com a lição doutrinária
supracitada”.
“Conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
representada pelos precedentes suprarreferidos,...”.
Peço a atenção de vocês para a grafia. Como acabamos de ver no
exemplo acima, se o prefixo “supra” vier seguido de palavra que
começa com “r” ou “s”, duplicam-se estas consoantes
(“suprarreferido”, “suprassumo”). Seguido de qualquer outra
consoante, à exceção do “h”, o prefixo acopla-se à palavra seguinte
(supramencionado, supracitado, suprafundamentado). Apenas em
duas hipóteses o “supra” será seguido por hífen: quando a palavra
seguinte começar por “a” (supra-alegado, supra-argumentado) ou
por “h” (supra-humano).
Era isso.

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114. ABALROAR, ABALROAMENTO, COLIDIR,
COLISÃO
Pessoal, muita atenção para a regência das palavras “abalroar”,
“colidir”, “colisão” e “abalroamento”, muito usadas principalmente
por aqueles que atuam na área cível.
O verbo “abalroar” pode ser transitivo direto ou indireto (com a
preposição “com”):
“O veículo do apelante abalroou O da apelada.” (certo)
“O veículo do apelante abalroou COM o da apelada.” (certo)
Já o verbo “colidir” só pede a preposição “com”, isto é, não
admite a transitividade direta:
“O caminhão colidiu COM o ônibus.” (certo)
“O caminhão colidiu o ônibus.” (errado)
“A motocicleta colidiu a traseira do automóvel.” (errado)
Os substantivos “colisão” e “abalroamento” requerem as formas
“de...com” OU “entre...e”, ambas estão corretas:
“Houve colisão DO veículo Gol COM o veículo Honda Fit.”
(certo)
“Houve colisão ENTRE o veículo Gol E o veículo Honda Fit.”
(certo)
“As testemunhas viram o abalroamento DA viatura COM a
motocicleta.” (certo)
“As testemunhas viram o abalroamento ENTRE a viatura E a
motocicleta.” (certo)
Era isso.

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115. MATERIALIDADE DELITIVA
Pessoal, devemos cuidar para não usar adjetivos de forma
incorreta nas nossas peças.
Como sabemos, o adjetivo liga-se ao substantivo, é uma
qualidade deste. Por exemplo, em “materialidade delitiva”,
“delitiva” é adjetivo de “materialidade”.
Ocorre que “delitiva” não pode ser qualidade de
“materialidade”: o fato, não a materialidade, é que é delituoso. Está
incorreta, portanto, a seguinte construção:
“Demonstradas a autoria e a materialidade delitiva, ...”.
Corrigir para:
“Demonstradas a autoria e a materialidade do fato delituoso, ...”
ou “materialidade do delito”.
Da mesma forma, “acidentária” não é qualidade de
“aposentadoria”. Por isso a frase abaixo está incorreta:
“Há prova da causa de aposentadoria acidentária por invalidez”.
Corrigir para:
“Há prova da causa de aposentadoria por invalidez acidentária”.
Seguem o mesmo raciocínio:
“Ficou reconhecida a figura tentada de homicídio” (corrigir para:
“... a figura de homicídio tentado” ou “... a tentativa de homicídio”).
“... na fase inquisitorial” (corrigir para: “... na fase de inquérito”).
“Ouviu as testemunhas acusatórias” (“Ouviu as testemunhas de
acusação”).
“A insuficiência probatória é incontestável” (“A insuficiência de
provas é incontestável”).
“Deve ser acolhida a manifestação ministerial” (“... manifestação
do Ministério Público”).
“... confissão policial feita pelo acusado” (“... confissão do
acusado na fase policial”).
“... apego normativo exagerado” (“... exagerado apego à norma”).
“Essa circunstância influi na dosimetria penal” (“... influi na
dosimetria da pena”).

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“... julgou procedente o pedido executório” (“... pedido de
execução”).
“... com base nos depoimentos testemunhais” (“... com base nos
depoimentos das testemunhas”).
Ainda que as formas tidas como incorretas sejam já bastante
consagradas na linguagem jurídica, vocês hão de concordar comigo
que as apontadas como corretas são mais técnicas, soam melhor,
não é mesmo?
Era isso.

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116. A EXPRESSÃO “HAJA VISTA” É INVARIÁVEL
No post em que versei sobre as expressões “vez que”, “eis que” e
“haja vista que” (n. 107), eu disse que faria um apenas sobre o “haja
vista”. Chegou a hora!
A expressão “haja vista” – de difícil sinonímia, tem mais ou
menos o sentido de “veja”, “a prova disso” – é INVARIÁVEL. Isso
quer dizer que não existe “haja vistO”, “hajAM vistOS”, “hajAM
vistAS”, apenas “haja vistA”.
“Essa invalidez já foi judicialmente reconhecida, haja vista a
autora encontrar-se sob a curatela de sua tia.” (certo)
“O parecer foi favorável, haja visto o contentamento da autora.”
(errado)
“O parecer foi favorável, haja vista o contentamento da autora.”
(certo)
Outra coisa (já falei naquele post anterior, mas não custa repetir):
Não existe “haja vista QUE”. Substituam essa expressão por “uma
vez que”, “porquanto”, “porque”, “pois”... tudo menos “haja vista
QUE”!
Era isso.

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117. DICAS PRECIOSAS PARA MELHORAR A
REDAÇÃO DAS SUAS PEÇAS
Hoje vou dar algumas dicas para melhorar a redação das peças
de vocês. Sigam-nas que o resultado será muito bom, eu garanto!
1. Após terminarem de redigir a peça, leiam-na em voz alta na
tela do seu computador. Fazendo isso, problemas de repetição de
palavras no mesmo parágrafo, erros de grafia e de formatação serão
imediatamente eliminados.
2. Após terminarem de redigir a peça, leiam-na impressa, no
papel. Além dos problemas anteriores, serão eliminados erros de
concordância verbal, nominal, de vírgula e crase.
3. Após terminarem de redigir a peça, imprimam-na, deixem-na
de lado por um dia e retornem a ela no dia posterior. Além de
resolverem todos os problemas anteriores, vocês constatarão que
aquele parágrafo que parecia perfeito merece uns retoques,
eliminarão umas três páginas da peça, ajeitarão um gerúndio aqui,
retirarão um adjetivo desnecessário ali, e até erro de argumentação
encontrarão.
A depender do ritmo e das condições de trabalho, vocês elegerão
a primeira, a segunda ou a terceira dica. Percebam que a terceira
dica engloba a segunda e esta a primeira. A terceira dica, portanto,
sem dúvidas é a melhor.
Outra dica que ajuda a reduzir em muito os erros gramaticais e,
principalmente, jurídicos da sua peça, tornando-a próxima do ideal,
é entregá-la para que outra pessoa a leia. Se for uma petição inicial,
entregue-a a outro advogado do escritório; se se tratar de um
projeto de sentença ou de acórdão, entregue-o a outro assessor do
gabinete. Pessoal, façam isso! Eu sei que muitos, por vaidade
exacerbada ou insegurança no domínio da questão jurídica tratada,
tremem só de pensar em entregar sua peça para outra pessoa ler,
Deus me livre! Mas não fiquem com receio disso, não! ninguém
sabe muito mais do que ninguém. Pratiquem, no ambiente de
trabalho, humildade intelectual. Não se façam de pensadores
solitários! E lembrem: como advogados, vocês buscam, acima de
tudo, resultados positivos para os seus clientes e, portanto, devem
valer-se de todos os meios para apresentar ao juiz uma peça

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convincente e bem-redigida. Como assessores, têm o dever de
auxiliar para o êxito de uma prestação jurisdicional de qualidade.
Era isso.

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118. “ESTE” OU “ESSE”?
Este é o tipo de assunto chatinho e sobre o qual quase todo
mundo tem dúvida. O uso do “este” ou do “esse” é o tema de hoje.
Já podem ir salvando o post porque lhes será bastante útil, penso
eu.
Vocês devem usar o “este(a)” para demonstrar alguma coisa que
está pertinho, próxima de vocês:

Este mês (mês atual); esta semana (a semana em que se está);


esta tarde; esta administração (a atual administração).
Também deverão usar o “este(a)” para identificar, dentro do
texto, o elemento mais próximo:
“Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Des. Francisco
Gomes, Carlos Henrique Dutra e Jaime Fritz. Este (Des. Jaime
Fritz) ficou vencido.”
“Condenou-a ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios, estes (os honorários) fixados em R$
1.000,00.”
Vocês usarão “esse(a)” quando fizerem, também dentro do
texto, referência a algo, a alguma palavra ou expressão que já
passou:
“Várias pessoas testemunharam o crime. ‘Essas’ pessoas
depuseram na delegacia.”
“O prazo prescricional tem início a partir da ciência da
recusa do pagamento da indenização. Inexistindo prova
quanto a ‘esse’ marco, o curso da prescrição não se inicia.”
“Anos depois do julgamento, percebeu a importância ‘desse’
fato na sua vida” (reparem que a regra também é usada para
“Deste(a)”, “Desse(a)”).
A mesma regra aplica-se para “isto” e “isso”:
“Só te desejo isto (o que vou dizer agora): que sejas feliz”.
“De tudo ‘isso’ que foi dito...”

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“As consequências foram graves. ‘Isso’ porque a vítima...”
Era isso.

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119. MERITORIAMENTE, MERITÓRIO
Pessoal, “meritoriamente” e “meritório” são palavras que NÃO
podem ser empregadas com sentido jurídico, para significar as
principais questões de fato ou de direito de uma lide, a lide
propriamente dita, o seu mérito. A palavra “meritoriamente” é
sinônimo de “merecidamente”, “reconhecidamente”; já a palavra
“meritório” quer dizer “digno de apreço, elogio ou recompensa”.
Estão incorretas, portanto, todas as formas abaixo:

Sentença que adentra meritoriamente no pedido


Recursos meritoriamente prejudicados
Indenização julgada meritoriamente
A recorrente se insurgiu meritoriamente contra a
improcedência da ação
Os embargos foram sentenciados meritoriamente
Quanto ao aspecto meritório da lide
Houve julgamento meritório do feito
Sentença meritória
Os pedidos demandam exame meritório
Preliminar que se confunde com o teor meritório da lide
É inviável a análise do pleito sob pena de antecipação
prematura de um juízo meritório.
Para corrigir, é facinho, facinho; basta usar a palavra
“mérito” mesmo: “julgamento de mérito”, “exame do mérito”,
“quanto ao mérito”, “adentrar no mérito do pedido”, “recursos
prejudicados no mérito” etc.
Alguns aí podem estar se perguntando: Ué, professor, mas
não é você mesmo que se diz flexível no que diz respeito a
neologismos, à “invenção” de palavras? Sim, pessoal, é
verdade. Ocorre que essas duas palavras, “meritoriamente” e
“meritório”, por não serem técnicas, soam pobres, passam, pelo
menos para mim, uma impressão negativa do texto. Nesses
casos não sou flexível, não!
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Era isso.

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120. “PROCEDERAM-SE AS INTIMAÇÕES” OU
“PROCEDERAM-SE ÀS INTIMAÇÕES”?
Nenhuma das duas formas está correta.
Primeiro é importante dizer que quando o pronome “se” estiver
ligado a um verbo transitivo INdireto, que é aquele que exige
preposição, ele serve de índice de indeterminação do sujeito, ou
seja, indica que a frase tem sujeito, mas não se sabe qual é.
Por exemplo: o verbo “precisar” é transitivo indireto, pois pede a
preposição “de”.
“Eu preciso DE intérpretes” (sujeito: eu).
Acompanhado do “se”, o sujeito fica indeterminado:
“Precisa-SE de intérpretes” (sujeito indeterminado; não se sabe
qual é).
Observem que quando o “se” é índice de indeterminação do
sujeito, o verbo fica SEMPRE no singular (“precisa”, não
“precisam”).
Voltando agora às frases do post. O verbo “proceder” está ligado
ao pronome “se” e também é transitivo INdireto (pois pede a
preposição “a”).
Como visto, nesses casos o verbo deve ficar no SINGULAR. O
correto, portanto, é escrever:
“Procedeu-se às intimações” (verbo “proceder” no singular, não
no plural (“procederam”)).
Reparem que, em uma estrutura similar, o verbo irá para o plural
se for transitivo DIRETO:
“Intimem-se os réus para se manifestarem sobre a declaração de
fls. 12-15” (o verbo “intimar” está no plural porque transitivo
DIRETO e “réus” está no plural).
Era isso.

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121. A EXPRESSÃO “ENQUANTO QUE”
A conjunção “enquanto” pode ter sentido proporcional, com o
significado de “ao passo que”, “à medida que”, ou temporal, com o
sentido de “quando”, “no tempo em que”, “sempre que”. Pode ter
ainda sentido adversativo, hipótese em que pode ser substituída
por “mas”, “porém”, “todavia”.
“Enquanto o réu preso é beneficiado com o relaxamento da
prisão, o réu solto continua sob os efeitos da demora processual”
(proporcional).
“A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não
revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito” (temporal).
“O apelo do exequente foi interposto a tempo, enquanto o do
executado é intempestivo” (adversativo)
Mas atenção, pessoal: a expressão “enquanto que” não existe!
Escrevemos “ao passo QUE”, mas não devemos escrever
“enquanto QUE”.
Estão INCORRETAS, assim, todas as frases abaixo:
“À correção monetária aplica-se o IPCA-E, enquanto que os juros
de mora incidem segundo os índices de remuneração básica da
caderneta de poupança” (escreva apenas “enquanto os juros...”).
“A requerida informa que a entrega da obra ocorreu em 15-5-
2011, enquanto que o requerente alega que ocorreu em 16-8-2011”.
“O agravo interno foi interposto em 12-11-2017, enquanto que os
embargos de declaração foram opostos em 10-11-2017”.
“Em relação a Fernando, há provas da materialidade do crime de
tráfico, enquanto que em relação a Bruno há provas suficientes dos
crimes de tráfico e de ameaça”.
Era isso.

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122. CLÁUSULA “AD JUDICIA”
Pessoal, não é muito comum, mas de vez em quando vejo
procurações em que a cláusula geral, por meio da qual, a não ser
que expressamente disposto, o advogado não pode transigir,
receber, dar quitação e outros poderes especiais, vem erroneamente
denominada de cláusula “ad juditia”.
A expressão “ad judicia” deriva da forma “judicium-ii”, que tem,
entre outros sentidos, o de ação judicial, processo, litígio, pleito,
demanda.
Daí decorre que a cláusula em questão deve ser escrita com “c”,
“ad judicia”, e não “ad juditia”, com “t”. Muito cuidado! Começar já
errando na procuração não é legal. Então deem uma conferida lá
nos modelinhos de vocês, não custa nada.
Era isso.

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123. PONTO ANTES OU DEPOIS DAS ASPAS?
Pessoal, o tema é controverso, mas sugiro que vocês, ao fazerem
transcrições, coloquem o ponto SEMPRE DEPOIS DAS ASPAS.
Assim:
Segundo Luiz Guilherme Marinoni, “o pedido consiste naquilo
que, em virtude da causa de pedir, postula-se ao órgão julgador”.
Vocês devem colocar o ponto sempre somente depois das aspas
mesmo que o texto original transcrito termine com ponto.
Consideremos, por exemplo, a seguinte lição doutrinária de José
dos Santos Carvalho Filho:
Fato jurídico significa o fato capaz de produzir efeitos na ordem
jurídica, de modo que dele se originem e se extingam direitos.
Na nossa peça, devemos transcrever esse trecho assim:
Para José dos Santos Carvalho Filho, fato jurídico é “o fato capaz
de produzir efeitos na ordem jurídica, de modo que dele se
originem e se extingam direitos”.
Jamais assim:
1 “[...] se extingam direitos.”
Ou assim:
2“[...] se extingam direitos.”.
Qual a explicação para isso? Ora, a explicação é que o ponto é do
texto de vocês, não do texto citado. Vocês que escolhem até onde
querem citar e, desse modo, podem muito bem optar por excluir o
ponto do texto original.
Não haveria, em tese, nenhum problema em citarem como em 1 e
2. Todavia, se fizerem conforme 1, o ponto do texto de vocês
desaparece (só permanece o do texto original) e, conforme 2, o texto
fica esteticamente feio.
Partindo dessas premissas, ao fazerem entre parênteses referência
da obra citada, coloquem o ponto também APENAS no final, após
os parênteses, não antes, nem antes E depois. Vejam:
Formas erradas:
Para José dos Santos Carvalho Filho, fato jurídico é “o fato capaz
[...] se extingam direitos”. (Manual de direito administrativo. 25. ed.

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São Paulo: Atlas, 2012. p. 95)
Para José dos Santos Carvalho Filho, fato jurídico é “o fato capaz
[...] se extingam direitos.” (Manual de direito administrativo. 25. ed.
São Paulo: Atlas, 2012. p. 95).
Forma correta:
Para José dos Santos Carvalho Filho, fato jurídico é “o fato capaz
[...] se extingam direitos” (Manual de direito administrativo. 25. ed.
São Paulo: Atlas, 2012. p. 95).
Era isso.

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124. VOCÊ FAZ PARTE DOS 95% DE OPERADORES
JURÍDICOS QUE NÃO SABEM A DISTINÇÃO ENTRE
“ELIDIR” E “ILIDIR”?
Dois verbos, muito comuns na redação jurídica, que sempre são
usados como se sinônimos fossem. Eles podem mesmo significar a
mesma ideia, mas não é sempre.
A palavra “elidir”, com “e”, tem sentido de “eliminar”, “excluir”,
“suprimir”, “suspender”. Decorem que “elidir” começa com “e”,
assim como “eliminar” e “excluir”. Foi isso que eu fiz para não errar
mais.
Já “ilidir”, com “i”, significa “refutar”, “contestar”, “confrontar”,
“anular”. Quando nos referimos a argumentos em geral, por
exemplo, dizemos “ilidir”.
“Iniciado o cumprimento de sentença, a realização do depósito, a
depender de sua finalidade, pode ou não Elidir a multa de 10%
prevista no art. 475-J do CPC/1973” (certo; sentido de “excluir”).
“Os depoimentos das testemunhas foram insuficientes para Ilidir
os fundamentos da decisão condenatória” (certo; sentido de
“refutar”).
Abaixo apresento frases em que pode ser empregado tanto o
vocábulo “elidir” quanto “ilidir”:
“Ao contribuinte cabe o ônus de elidir/ilidir a presunção de que
foi devidamente notificado”.
“A alegação de que o outro veículo estava irregularmente
estacionado no acostamento não tem o condão de elidir/ilidir a
responsabilidade do agente”.
“Mero equívoco material no preenchimento da promissória não é
bastante para elidir/ilidir a obrigação”.
Era isso.

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125. “OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO SE
PRESTAM PARA O REEXAME DO MÉRITO” OU “OS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO SE PRESTAM AO
REEXAME DO MÉRITO”?
Muitos de vocês pensam (eu sei disso pelas perguntas que os
alunos me fazem) que “à” pode ser sempre substituído por “para
a”, e vice-versa.
Em razão dessa equivocada noção é que se veem por aí estruturas
como as abaixo, TODAS INCORRETAS:
“Não existe óbice PARA a apreciação aprofundada da matéria”.
“Não há prova hábil A corroborar referida alegação”.
“Os embargos de declaração não se prestam PARA o reexame do
mérito”.
“Estão presentes os requisitos À concessão da tutela de
urgência”.
“As partes foram intimadas PARA se manifestarem”.
“Estes argumentos são suficientes Ao deslinde da controvérsia”.
Atenção: para usar a preposição “para” ou a preposição “a” (ou
qualquer outra preposição), VOCÊS DEVEM SABER A REGÊNCIA
DO RESPECTIVO VERBO OU NOME. Aqui está o ponto!
O verbo “prestar-se” rege a preposição “a”, não “para”; “hábil”
rege a preposição “para”; “óbice”, a preposição “a”; “requisitos”,
“para”; “intimado”, “a”; e “suficiente” rege a preposição “para”.
Portanto, corretas, as frases acima devem ser redigidas da
seguinte forma:
“Não existe óbice À apreciação aprofundada da matéria”.
“Não há prova hábil PARA corroborar referida alegação”.
“Os embargos de declaração não se prestam Ao reexame do
mérito”.
“Estão presentes os requisitos PARA a concessão da tutela de
urgência”.
“As partes foram intimadas A se manifestarem”.
“Estes argumentos são suficientes PARA o deslinde da

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controvérsia”.
Professor, mas como saber se determinado verbo ou nome rege a
preposição “a” ou a preposição “para”?
Para saber isso vocês devem consultar dicionários de regência
verbal e de regência nominal. Infelizmente não existe outra forma.
Ou vocês acham que eu sei de cor que a palavra “óbice” rege a
preposição “a” e não a preposição “para”? Claro que não. Sempre
que preciso saber a regência de um verbo ou de um nome, recorro
àqueles dicionários.
Era isso.

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126. ESPECIALMENTE PARA QUEM REDIGE
PROJETOS DE SENTENÇA (MAS O ADVOGADO
ATENTO TAMBÉM PODERÁ TIRAR PROVEITO)
Aqueles que redigem projetos de sentença devem tomar o
cuidado para não utilizar expressões e termos que não se coadunam
com a linguagem que deve ser usada nesse tipo de peça.
As decisões do juiz sempre retratam seu convencimento. Mesmo
a sentença que não resolve o mérito da lide ou a decisão que declina
da competência do juízo refletem a convicção do magistrado.
Partindo dessa premissa, expressões como “a meu ver”, “tenho
para mim”, “no meu ponto de vista”, “data venia”, “parece-me”
devem ser evitadas, pois exprimem insegurança, certo grau de
incerteza, de modo que evidentemente não servem para expressar o
convencimento do juiz.
Por falar em “evidentemente”, se expressões como as expostas
acima não se prestam a demonstrar a convicção do juiz, o emprego
de termos que denotam certeza e irrefutabilidade, como “não há
dúvidas de que”, “está absolutamente claro que”, “é inegável que”
e “evidentemente”, também deve ser evitado nas sentenças, pois
estas podem ser objeto de reanálise e até mesmo de reforma pela
instância superior.
Não é prudente, portanto, que o magistrado afirme na sentença
que “evidentemente há dano moral a ser compensado”, uma vez
que essa pode não ser a conclusão a que chegue o tribunal.
Em vez de “evidentemente há dano moral”, vocês podem dizer,
por exemplo, “pelas provas constantes dos autos, tem-se como
existente o dano moral a ser compensado”, frase que denota
convicção do juiz sem, todavia, passar a ideia de que é a última
palavra sobre o assunto.
Era isso.

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127. APENAS POR EXTENSO, POR EXTENSO COM A
SIGLA, OU APENAS A SIGLA?
Já discorri aqui no Insta sobre como escrever siglas (n. 69). Hoje
vou sanar a dúvida sobre se o correto é, em peças jurídicas, escrever
apenas a sigla, a sigla com o nome por extenso ou apenas o nome
por extenso.
Para início de conversa, petição inicial, contestação ou sentença
não são textos científicos. Então aquela regra que aprendemos na
universidade de que a primeira vez em que a sigla aparece no texto
deve vir acompanhada da sua forma por extenso e as ocorrências
seguintes apenas a sigla não necessariamente precisa ser seguida
por nós.
Vejam, nesse sentido, que é absolutamente desnecessário escrever
nas peças “Código de Processo Civil – CPC”, ainda que seja a
primeira vez em que fazemos referência ao Código no texto.
Percebam que fica até estranho, feio mesmo. Basta escrever a sigla
(CPC), isso porque todo mundo do meio jurídico sabe o que ela
significa.
Professor, então, em se tratando de nomes conhecidos, devo
sempre usar somente a sigla? Em regra, sim, mas vai depender de
como o seu texto está sendo desenvolvido.
Exemplificando, em um parágrafo com uma ou duas linhas,
escrever “Código de Processo Civil”, por extenso, em vez de “CPC”
pode ser de bom tom, pois deixa o parágrafo mais longo e dá ritmo
ao texto. Por outro lado, se vocês sentirem (é “sentir” mesmo, pois
não existe regra fixa) que não há essa necessidade de prolongar o
texto com o nome por extenso, usem somente a sigla mesmo, é
melhor.
Mas cuidado, pessoal! Não vão, sob o argumento de que a USP é
uma instituição conhecida, escrever na peça de vocês
“Inconformada, a USP interpôs apelação”. Quando fizerem
referência ao nome das partes, como é o caso, recomendo que vocês
o escrevam por extenso. Indicar o nome da parte por meio da sua
sigla equivale, para mim, a escrever o nome do magistrado por
meio de suas iniciais. Não acho legal.
Se a sigla não for tão conhecida assim, vale aquela regra
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acadêmica de que a primeira ocorrência no texto deve ser indicada
pela sigla seguida do nome por extenso (ou vice-versa), e as
ocorrências seguintes somente pela sigla. Mas tudo vai depender
também do desenvolvimento textual; não existe nada rígido.
Era isso.

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128. O USO INDEVIDO DA PALAVRA “AUXÍLIO”
A palavra “auxílio” tem sentido de “assistência”, “ajuda”,
“cooperação”. Por possuir um desses significados, nas frases abaixo
a palavra está bem-empregada:
“Com o AUXÍLIO do gerente, o empregado desviava recursos
financeiros da empresa executada” (certo).
“Compete ao juiz promover, a qualquer tempo, a
autocomposição, preferencialmente com o AUXÍLIO de
conciliadores e mediadores judiciais” (certo).
“O automóvel furtado foi adquirido com o AUXÍLIO da mãe da
vítima” (certo).
Ocorre que a palavra “auxílio” vem sendo mal utilizada pelos
operadores jurídicos, principalmente por aqueles que atuam na área
penal, que indevidamente a usam com o sentido de “emprego”,
como demonstram as construções abaixo:
“O representado, de forma livre e consciente, com AUXÍLIO de
arma de fogo...”.
“Os danos verificados são características de arrombamento, que
se dá de fora para dentro, com AUXÍLIO de ferramenta rígida
aplicada como alavanca”.
“Deve-se controlar a produção com o AUXÍLIO de técnicas,
métodos e substâncias”.
“O réu retirou o vidro da janela com AUXÍLIO de chave de
fenda”.
Reparem que em todas essas construções a palavra “auxílio” não
está sendo usada no seu sentido próprio, de “ajuda” ou
“cooperação”, mas erroneamente com o sentido de “emprego”,
“utilização”; daí ser devida sua substituição por uma dessas
palavras.
Assim:
“O representado, de forma livre e consciente, com EMPREGO de
arma de fogo...” (certo).
“Os danos verificados são características de arrombamento, que
se dá de fora para dentro, com EMPREGO de ferramenta rígida
aplicada como alavanca” (certo).
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“Deve-se controlar a produção com o EMPREGO/a
UTILIZAÇÃO de técnicas, métodos e substâncias” (certo).
“O réu retirou o vidro da janela com EMPREGO de chave de
fenda” (certo).
Era isso.

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129. CONVERGIR, CONVERTER, FAZER A
CONVERSÃO
Pessoal, não raro encontro nas peças frases como “o veículo
‘convergiu’ à direita”. Cuidado, está errado!
Isso porque “conversão” nada tem a ver com “convergir”. O
substantivo “conversão” (do qual deriva o verbo “converter”)
significa “mudança de direção”, “alteração de rumo”. Já o verbo
“convergir” tem o sentido de “dirigir-se a um mesmo ponto”.
Podemos dizer que as linhas convergiram para o centro, mas não
que o veículo convergiu à direita.
Então, se vocês quiserem dizer que o veículo converteu à
esquerda, escrevam assim mesmo, “o veículo converteu à
esquerda”, ou “o veículo virou à esquerda”, “o veículo fez a
conversão à esquerda”, “o veículo dobrou à esquerda” ou, ainda, “o
veículo entrou à esquerda”.
Vejam que, de forma correta, o Código de Trânsito Brasileiro em
nenhum momento traz a palavra “convergir” ou suas conjugações.
Em vez disso usa as palavras “conversão” e “entrar” à esquerda/à
direita, conforme se observa dos preceptivos legais abaixo:
“Art. 35. [...]
Parágrafo único. Entende-se por deslocamento lateral a
transposição de faixas, movimentos de CONVERSÃO à direita, à
esquerda e retornos”.
“Art. 37. Nas vias providas de acostamento, a CONVERSÃO à
esquerda e a operação de retorno deverão ser feitas nos locais
apropriados [...]”.
“Art. 38. Antes de ENTRAR à direita ou à esquerda, em outra via
ou em lotes lindeiros, o condutor deverá: [...]”.
“Art. 199. Ultrapassar pela direita, salvo quando o veículo da
frente estiver colocado na faixa apropriada e der sinal de que vai
ENTRAR à esquerda: [...]”.
“Art. 204. Deixar de parar o veículo no acostamento à direita,
para aguardar a oportunidade de cruzar a pista ou ENTRAR à
esquerda [...]”.
“Art. 207. Executar operação de CONVERSÃO à direita ou à

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esquerda em locais proibidos pela sinalização: [...]”.
Era isso.

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130. O “JURIDIQUÊS”
O Direito, como toda ciência, vale-se de termos técnicos para a
apuração da linguagem, isto é, para tornar a comunicação mais
precisa, livre das ambiguidades próprias da linguagem natural.
A utilização de termos técnicos é inerente ao trabalho do
operador do direito. Eles são necessários. Quando digo que a
petição inicial foi indeferida, todos vocês de pronto entendem o que
eu quero dizer. Isso porque “petição inicial” é um termo técnico,
que, como qualquer outro, facilita e simplifica a comunicação
jurídica. Imaginem como seria se não existisse esse termo? Diríamos
algo do tipo “o juiz indeferiu ‘a peça por meio da qual o autor se
dirigiu ao órgão jurisdicional’”, terrível, né?
Muito diferente da linguagem técnica é o chamado “juridiquês”,
termo pejorativo que serve para denotar o uso frequente, em peças
jurídicas, de palavras e expressões antiquadas, datadas do século
XVIII para baixo, e de frases confusas e muitas vezes fora de
contexto. Creio que o juridiquês tenha um pouco origem na busca
por sinônimos para termos técnicos existentes com a pretensão de
apurá-los e de tornar o texto jurídico, digamos assim, “mais jurídico
ainda”, o que não raro dá azo a expressões de caráter pessoal,
compreendidas somente por poucos.
Para ficarmos apenas na expressão “petição inicial”, há juridiquês
quando se usam, em vez dela, expressões como “peça-ovo”,
“exordial”, “petitório”, “proemial”, “peça vestibular” e assim por
diante. Se o termo técnico é “petição inicial”, não há criar outras
palavras para expressá-lo! É só “petição inicial” e ponto final!
Acho que o juridiquês é algo que devemos extirpar das nossas
peças, pois elas devem ser sempre escritas de forma clara, com
palavras e expressões que propiciem a boa compreensão da
mensagem. Lembrando que juridiquês nada tem a ver com o uso de
termos técnicos. Estes são úteis e necessários para a correta
comunicação jurídica. O juridiquês, ao contrário, serve apenas para
obscurecer o texto; serve, na verdade, como um subterfúgio do
redator para esconder sua incompetência linguística. Pronto, falei.
Escreve difícil por não saber escrever bem.
Era isso.

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131. CUIDADO: AS CONJUNÇÕES POSSUEM SENTIDO
Hoje vou falar um pouquinho sobre este importantíssimo tema,
relacionado que está com a coesão textual: o emprego das
conjunções.
Pessoal, AS CONJUNÇÕES POSSUEM SENTIDO! Não são
palavras que vocês podem sair assim jogando no texto a bel-prazer.
“Porquanto”, “todavia”, “conforme”, “pois”, “posto que” são
expressões que possuem sentido! Nada pior do que encontrar uma
petição inicial que traz a conjunção “posto que” com sentido causal.
Ora, “posto que” equivale a “embora”; tem sentido concessivo, não
causal. Erros como esse demonstram falta de conhecimento
linguístico do redator.
Vejam: se transcrevo precedentes na minha peça e,
imediatamente após, reinicio o texto com um “Portanto”, um
“Assim” ou um “Logo”, devo necessariamente fazer uma conclusão
sobre a aplicação, ao caso concreto, dos precedentes transcritos,
pois “portanto”, “assim” e “logo” têm SENTIDO de conclusão.
O que eu não posso nesse caso (e isso tenho visto inúmeras vezes
em peças) é usar a conjunção “portanto” desvinculada de uma
conclusão em relação aos precedentes reproduzidos, assim:
“Portanto, o autor teve seu veículo atingido pelo caminhão de
propriedade do réu, de modo que seu pedido é de ser julgado
procedente”. Não! Repito: “portanto” tem sentido de conclusão e
apenas com esse sentido deve ser usado no texto! A estrutura em
questão estaria correta se estivesse escrita assim, por exemplo:
“Portanto, conforme apontado por esses precedentes, se o acidente
acontece na via rotatória...”. Agora, sim, o “portanto” está
introduzindo uma ideia de conclusão do que foi dito anteriormente.
A dica que dou hoje é esta então: antes de usarem uma
conjunção, confiram se ela possui mesmo o sentido que vocês
querem imprimir ao texto (causa, consequência, contrariedade,
conclusão, adição etc.). Fazendo isso, vocês guiarão corretamente
seus leitores, prendendo sua atenção no texto e os fazendo gostar
dele.
Era isso.

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132. CRASE (CASO DIFÍCIL)
⠀Hoje vou dar uma dica importante sobre o uso da crase.
Bem, sabemos que os verbos transitivos indiretos são aqueles que
exigem preposição entre eles e o complemento verbal.
Nas frases abaixo, por exemplo, os verbos “atender”, “proceder”
e “obedecer” são transitivos indiretos. A preposição exigida por eles
está marcada pelo uso da crase (artigo “a” + PREPOSIÇÃO “a” =
“à”):
“O agravante sustenta que não há tempo hábil para atender à
determinação judicial” (crase correta).
“Nesse sentido, não seria lógico proceder à devolução de valores
decorrentes de pagamento devido” (crase correta).
“A cobrança das contribuições extraordinárias deve obedecer à
norma vigente no momento da contratação” (crase correta).
Ocorre, pessoal – e é neste ponto que eu quero chamar bastante a
atenção de vocês –, que esses verbos, embora transitivos indiretos,
admitem a voz passiva e, QUANDO USADOS NESSA VOZ, não
exigem a preposição.
Está errada, portanto, a crase na frase abaixo:
“Na fixação dos danos morais, deve o julgador estabelecer o
valor compensatório com prudência, de maneira que sejam
atendidas às peculiaridades do caso” (ERRADO, sem a crase).
Não há a crase acima porque o verbo “atender” está na voz
passiva. Sob esse fundamento, também nas frases abaixo o emprego
da crase está errado:
“Um carro parou, dele desceu um policial armado determinando
que os suspeitos encostassem, e foi procedida à revista pessoal”
(ERRADO, sem a crase, pois o verbo “proceder” está na voz
passiva).
“Obedecidas às formalidades do PAD, o Conselho Disciplinar
entendeu estarem preenchidos os requisitos legais para
caracterização da falta grave” (ERRADO, sem a crase, pois o verbo
“obedecer” está na voz passiva).
Era isso.

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133. A EXPRESSÃO “JUNTO A”
Pessoal, “junto a” significa “perto de”, “próximo de”, “ao lado
de”. A expressão está, portanto, usada corretamente na frase
abaixo:
“Os acusados estavam junto à loja de conveniência no horário do
crime” (correto; os acusados estavam “próximos da” loja de
conveniência).
Ocorre, todavia, que é muito comum encontrar a expressão usada
de forma incorreta nas peças, a exemplo das frases abaixo:
“A ação foi proposta junto à 1ª Vara Cível”.
“O autor tomou empréstimo junto ao banco”.
“Foi dada anistia para os devedores de tributos junto à Fazenda
Federal”.
“Houve várias reclamações junto à empresa ré”.
“Foi acostado relatório de auditoria médica junto às razões do
recurso”.
“Seu nome foi inscrito junto aos órgãos de proteção ao crédito”.
Em todas essas frases, a expressão “junto a”, por não possuir
sentido de “perto de”, “próximo de”, “ao lado de”, está empregada
incorretamente. Corrijam-nas para:
“A ação foi proposta na 1ª Vara Cível”.
“O autor tomou empréstimo do/com o banco”.
“Foi dada anistia para os devedores de tributos para com a
Fazenda Federal”.
“Houve várias reclamações à empresa ré”.
“Foi acostado relatório de auditoria médica nas razões do
recurso”.
“Seu nome foi inscrito nos órgãos de proteção ao crédito”.
Era isso.

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134. IMITIR/IMISSÃO “NA” OU “DA” POSSE?
Afinal de contas, o correto é “imitir NA posse” ou “imitir DA
posse”? “imissão NA posse” ou “imissão DA posse”?
O Código de Processo Civil traz sempre a forma “imissão NA
posse”; o Código Civil, por sua vez, traz “imissão De posse” (art.
501, parágrafo único) e “imitir NA posse” (art. 30, caput). O CPC
não traz a palavra “imitir”.
Pessoal, escrevam sempre “imitir NA posse”. Para o substantivo
“imissão”, tanto está correto escrever “imissão NA posse” quanto
“imissão DA posse”. O CPC e o CC não erram, portanto.
1. “A autora se imitiu NA posse do imóvel em data anterior à
considerada na sentença” (correto)
2. “O juiz o emitiu NA posse do terreno do embargante” (correto)
3. “Deve ser indeferida a tutela de urgência que visava à imissão
NA/DA posse do bem” (correto).
Particularmente acho que é melhor “imissão NA” do que
“imissão DA”, ainda que ambas as formas estejam corretas. Isso
porque penso estar sempre subentendida a ideia “de imissão de
alguém EM alguma coisa”. Eu leio a frase 3, por exemplo, como “...
visava à imissão [de alguém] NA posse do bem”. Soa mal, para
mim, “imissão de alguém DA posse do bem”.
Outra coisa. Reparem que o verbo “imitir” pode ser pronominal,
como em 1 (“imitir-SE”), ou bitransitivo (que significa ser transitivo
direto e indireto), como em 2.
Era isso.

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135. TÉCNICA DE ARGUMENTAÇÃO PARA
ADVOGADOS
Pessoal, hoje vou passar uma técnica de argumentação muito
eficaz, a ser utilizada principalmente por advogados. Trata-se da
técnica da nominalização.
“Nominalização” é o nome dado ao processo de formação de
substantivos abstratos a partir de adjetivos e verbos. Exemplos de
nominalização a partir de adjetivos: literal-literalidade, gratuito-
gratuidade, formal-formalidade, rico-riqueza. Exemplos de
nominalização a partir de verbos: doar-doação, cercear-
cerceamento, planejar-planejamento, deferir-deferimento.
Autores que versam sobre argumentação recomendam o não uso
de nominalizações em alguns casos sob o fundamento de que
dificultam a leitura.
Ocorre que a técnica da nominalização, especialmente da
nominalização a partir de verbos, pode ser bastante útil para
obscurecer a participação do agente na ação verbal.
Observem a seguinte frase:
“O representante do Ministério público sustenta que o acusado
furtou um aparelho celular de um transeunte e, após, adentrou no
estabelecimento da vítima e roubou uma garrafa de uísque”.
Essa maneira de escrever com o uso de verbos (“furtou”,
“adentrou”, “roubou”), que cabe muito bem no relatório de uma
sentença, pode não ser lá muito apropriada em uma peça defensiva,
na qual, como advogados, vocês devem obscurecer a participação
do seu cliente.
Vejam que, se o objetivo é a defesa do réu, a frase fica bem
melhor assim (usando a técnica da nominalização):
“O representante do Ministério público sustenta que houve um
furto de aparelho celular de um transeunte e, após, no
estabelecimento da vítima, um roubo de uma garrafa de uísque”.
Observem que, estando a frase escrita dessa maneira (com
nominalização: “furto”, “roubo”), o foco recai mais no fato em si do
que no agente, que fica, assim, obscurecido, dando-se melhor
margem, por exemplo, à tese de negativa de autoria do crime.

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Legal, né? Mas atenção: essa técnica deve ser usada com
moderação, pois nominalizações em excesso realmente dificultam a
leitura.
Era isso.

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136. COMO FAZER SUPRESSÕES DE PALAVRAS,
FRASES E PARÁGRAFOS EM CITAÇÕES
- O símbolo de supressão é “[...]”, e não “(...)”.
- Na supressão de parágrafo inteiro, não coloquem ponto após
“[...]”, a não ser que se trate do último parágrafo.
- Se suprimirem trecho final de um parágrafo mais o próximo
parágrafo inteiro, usem apenas “[...].” no lugar da primeira
supressão. Notem o ponto após o colchete.
Creio que os exemplos sejam autoexplicativos:
1. (texto original):
O ordenamento jurídico deve dar ao cidadão a possibilidade de
conhecer antecipadamente a lei e, assim, prever as consequências
sancionatórias. E isso é particularmente importante em matéria
penal, tendo em vista a especial relevância social dos preceitos e a
gravidade das sanções.
Dessa forma, para que exista liberdade verdadeiramente, não
apenas é preciso consciência de si, mas também conhecimento da
regra, lei ou princípio que há de reger a vontade.
No Estado Democrático de Direito, portanto, somente quando o
indivíduo tem a possibilidade de se orientar pela norma e assim
não faz é que é possível reprová-lo, pois apenas nesta hipótese ele
era livre para decidir e optou por se comportar de forma oposta ao
que diz a norma.
2. (citação do texto original com supressão do segundo parágrafo
e da palavra “portanto” no terceiro parágrafo):
O ordenamento jurídico deve dar ao cidadão a possibilidade de
conhecer antecipadamente a lei e, assim, prever as consequências
sancionatórias. E isso é particularmente importante em matéria
penal, tendo em vista a especial relevância social dos preceitos e a
gravidade das sanções.
[...]
No Estado Democrático de Direito, [...] somente quando o
indivíduo tem a possibilidade de se orientar pela norma e assim
não faz é que é possível reprová-lo, pois apenas nesta hipótese ele
era livre para decidir e optou por se comportar de forma oposta ao
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que diz a norma.
3. (citação do texto original com supressão do segundo parágrafo
e de trecho do primeiro parágrafo):
O ordenamento jurídico deve dar ao cidadão a possibilidade de
conhecer antecipadamente a lei e, assim, prever as consequências
sancionatórias [...].
No Estado Democrático de Direito, portanto, somente quando o
indivíduo tem a possibilidade de se orientar pela norma e assim
não faz é que é possível reprová-lo, pois apenas nesta hipótese ele
era livre para decidir e optou por se comportar de forma oposta ao
que diz a norma.
Era isso.

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137. VÍRGULA COM ELEMENTOS NORMATIVOS
Se virgular é difícil, o que dizer de usar a vírgula com elementos
normativos? Esse é, disparado, o assunto sobre o qual os alunos
mais têm dúvidas. “Professor, o correto é ‘inc. I, § 1º, do art. 489 do
CPC’, ‘art. 489, § 1º, inc. I do CPC’ ou ‘inc. I do § 1º do art. 489 do
CPC’?” – Perguntas como essa me fazem sempre.
Bom, no emprego da vírgula com elementos normativos,
atenham-se às seguintes regras:

Ordem crescente (alínea => inciso => parágrafo => artigo =>
lei) – nessa ordem NÃO há vírgula, e os elementos são ligados
pela preposição “de”: “alínea ‘b’ DO inciso II DO § 4º DO art.
12 da Constituição Federal”.
Ordem decrescente (lei => artigo => parágrafo => inciso =>
alínea) – nesse caso HÁ vírgula: “Constituição Federal, art. 12,
§ 4º, II, ‘b’”.
Ordem híbrida (artigo => inciso => lei) – TAMBÉM OCORRE
a vírgula: “art. 5º, II, da Constituição Federal”.
Nesse sentido, as frases abaixo estão ERRADAS no que tange
ao emprego da vírgula:
A norma inserta no art. 206, § 1º do Código Civil aplica-se às
contratações de seguro de vida em grupo.
A norma inserta no § 1º, do art. 206, do Código Civil aplica-
se às contratações de seguro de vida em grupo.
Corrigir para:
A norma inserta no art. 206, § 1º, do Código Civil aplica-se às
contratações de seguro de vida em grupo. (correto, ordem
híbrida)
A norma inserta no § 1º do art. 206 do Código Civil aplica-se
às contratações de seguro de vida em grupo. (correto, ordem
crescente)
Pessoal, as regras básicas são essas, mas há muito ainda para
discorrer sobre o uso da vírgula com elementos normativos.

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Voltarei ao assunto em posts futuros, ok?
Era isso.

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138. QUANDO USAR O GERÚNDIO NÃO É APENAS
FEIO...
... é errado também. Vejam:
Alega que não tinha condições de saber que os objetos que
manuseava eram de origem ilícita, não podeNDO ser condenado
por receptação culposa. (ERRADO)
Alega que não tinha condições de saber que os objetos que
manuseava eram de origem ilícita, de modo que não pode ser
condenado por receptação culposa. (CERTO)
Disse que atualmente se encontra incapacitada para o exercício
de atividade remunerada, deveNDO as empresas seguradoras
efetuar o pagamento dos valores previstos nas apólices. (ERRADO)
Disse que atualmente se encontra incapacitada para o exercício
de atividade remunerada, pelo que devem as empresas seguradoras
efetuar o pagamento dos valores previstos nas apólices. (CERTO)
As requeridas sempre se beneficiaram com o pagamento mensal
do prêmio, seNDO o mesmo descontado mensalmente do seu
salário. (ERRADO)
As requeridas sempre se beneficiaram com o pagamento mensal
do prêmio, o qual era descontado mensalmente do seu salário.
(CERTO)
Sustentou que não conseguiu mais realizar suas atividades
laborais, viveNDO hoje tão somente dos valores pagos pelo órgão
previdenciário. (ERRADO)
Sustentou que não conseguiu mais realizar suas atividades
laborais e que vive hoje tão somente dos valores pagos pelo órgão
previdenciário. (CERTO)
Os argumentos presentes no pedido já foram analisados em grau
de recurso, não conteNDO nenhuma prova ou elemento novo que
autorize o reexame do julgamento. (ERRADO)
Os argumentos presentes no pedido já foram analisados em grau
de recurso, e não há nenhuma prova ou elemento novo que
autorize o reexame do julgamento. (CERTO)
É cediço que com uma fração (1/6) não se está tratando de forma
diferenciada o sentenciado por delito comum e o condenado por
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crime hediondo, conduziNDO a flagrante disparidade na
individualização da pena. (ERRADO)
É cediço que com uma fração (1/6) não se está tratando de forma
diferenciada o sentenciado por delito comum e o condenado por
crime hediondo, o que conduziria a flagrante disparidade na
individualização da pena. (CERTO)
Era isso.

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139. FUNÇÕES DA LINGUAGEM JURÍDICA
Com qual objetivo nos comunicamos? Ao responder a essa
pergunta, estamos falando sobre as FUNÇÕES DA LINGUAGEM.
São seis as funções da linguagem: referencial ou denotativa;
expressiva ou emotiva; apelativa ou conativa; poética; fática; e
metalinguística.
Hoje discorrerei sobre essas funções no âmbito das peças
jurídicas. Isso é bastante importante, pois quando sabemos, por
exemplo, qual função da linguagem predomina nos nossos textos,
aprendemos a dar mais relevância a ela.

A função referencial ou denotativa da linguagem preocupa-


se com a transmissão objetiva da informação. Ao citarmos
doutrinas nas nossas peças, estamos usando a função
referencial da linguagem.
A função expressiva ou emotiva reflete o estado de ânimo do
emissor. Todas as vezes em que usamos a primeira pessoa,
empregamos essa função.
A função apelativa ou conativa da linguagem busca
convencer o leitor. Fazemos o tempo todo isso nas nossas
peças, ou pelo menos deveríamos fazer: convencer o leitor.
A função poética prioriza a forma como a mensagem é
transmitida. Se nossas peças seguem uma forma mais ou
menos padronizada, aí está essa função.
A função fática estabelece, prolonga ou interrompe a
comunicação. Está presente, por exemplo, no texto de uma
sentença ou de um acórdão, em que há abertura (relatório),
manutenção (fundamentação/voto) e fechamento (dispositivo)
do canal de comunicação. Essa função também está presente no
texto de uma petição inicial ou de uma contestação.
Finalmente, a função metalinguística da linguagem
possibilita ao emissor explicar um código usando o próprio
código. Quando temos, por exemplo, de explicar algum termo
nas peças, utilizamos essa função.
Certamente a função apelativa ou conativa da linguagem é a

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mais presente nas nossas peças. Isso porque sempre que
redigimos um acórdão, uma sentença ou uma petição inicial,
devemos convencer nosso leitor de que aquilo que escrevemos
está correto. Quando fundamentamos, estamos argumentando,
e isso quer dizer que estamos querendo convencer.
Era isso.

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140. PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA
Quando se trata do emprego do hífen, as palavras compostas
com o termo “geral” devem ser objeto de atenção. Não raro, quando
me é apresentado algum texto para revisar, há erro no uso desse
sinal gráfico.
E a regra é bastante simples, pessoal: com “geral” sempre haverá
hífen:

corregedoria-geral da justiça, corregedor-geral da justiça,


procuradoria-geral de justiça, procurador-geral de justiça,
secretaria-geral, secretário-geral, diretoria-geral, diretor-geral,
diretor-geral administrativo, assembleia-geral, comandante-
geral, cônsul-geral, curadoria-geral,direção-geral, delegacia-
geral, delegado-geral, gerência-geral, gerente-geral, inspeção-
geral, inspetor-geral, comissário-geral, ouvidoria-geral,
ouvidor-geral, relatoria-geral, subcomandante-geral,
supervisor-geral, vice-inspetor geral, procurador-geral da
república, subprocurador-geral da república.
Viram? se a expressão for composta da palavra “geral”,
sempre haverá hífen. Fiz questão de trazer uma longa lista para
vocês observarem bem isso.
Outra coisa que eu lembrei agora: escrevam “corregedoria-
geral dA justiça”, mas “procuradoria-geral dE justiça”.
Era isso.

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141. ERRO(S) GRAMATICAL(AIS) EM TESE JURÍDICA
FORMADA EM ADI JULGADA PELO STF
Navegando pela página do STF, deparei-me com a seguinte tese
jurídica, formada conjuntamente em três ações diretas de
inconstitucionalidade (ADIs n. 4.798, 4.764 e 4.797):
“É vedado às unidades federativas INSTITUÍREM normas que
condicionem a instauração de ação penal contra o Governador, por
crime comum, à prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ) dispor, fundamentalmente, sobre
a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do
cargo”.
Leram bem? Mas leram com atenção? Eu vi vários errinhos aí,
hein? Aquele “o” antes de “Governador” não deve existir;
“Governador” não deve vir com inicial maiúscula; não colocaria
aquela crase, pois “prévia autorização” está sendo usada em
sentido geral; o gerúndio está mal-empregado; e “STJ” entre
parênteses é desnecessário.
Mas não foram esses erros que me chamaram a atenção. O que
mais me surpreendeu foi aquele “instituírem”, flexionado. Não, né,
pessoal. Quando temos “sujeito oracional”, como é o caso, o verbo
que compõe o sujeito não pode ser flexionado, isto é, tem de ficar na
terceira pessoa. Calma que já vou explicar.
Na tese jurídica formada pelo STF, o que é vedado às unidades
federativas? A resposta é “instituir normas que condicionem a
instauração...”, certo? Tudo isso é o sujeito, que é chamado de
“oracional” porque possui verbo (instituir), o qual, portanto, não
pode ser flexionado (“instituir”, não “instituírem”). Se invertermos
a ordem, observamos isso com mais clareza: “Instituir normas que
condicionem a instauração... é vedado às unidades federativas”.
Pegaram?
A mesma regra deve ser aplicada na frase abaixo:
“Nesse contexto, competia aos réus PROVAR que a manobra que
efetuaram respeitou o tráfego regular dos veículos que seguiam
pela direita”. (não “provarem”)
Agora, cá entre nós: errar é humano; mas erro gramatical na
ementa de acórdão proferido em ação direta de
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inconstitucionalidade julgada pela Suprema Corte, na qual se
assenta uma tese jurídica, é feio, falem a verdade. Não sei. Tem
coisa que pra mim não dá.
Era isso.

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142. UMA DICA DAQUELAS PARA ESCREVER SIGLAS
CORRETAMENTE
Pessoal, em muitos casos, ao escreverem siglas por extenso,
recomendo que vocês usem iniciais minúsculas O texto fica mais
agradável de ser lido, e não existe nenhum empecilho para tanto.
Usem iniciais minúsculas mesmo que o nome por extenso venha
seguido da sigla com iniciais maiúsculas entre parênteses. Assim:
“A ré disse que a ausência de pagamento do imposto predial e
territorial urbano (IPTU) ensejou a propositura de execução fiscal”.
(E não “Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)”).
“O boletim de ocorrência (BO) demonstra tão somente que o
agravado prestou declarações na delegacia” (E não “Boletim de
Ocorrência (BO)”).
“Aduz que no momento da aposentadoria realizou saque dos
valores depositados em sua conta do fundo de garantia do tempo
de serviço (FGTS)”.
“A vítima havia perdido seus documentos pessoais, dentre os
quais seu cadastro de pessoa física (CPF)”.
“O nome da autora foi inscrito no serviço de proteção ao crédito
(SPC) por uma dívida que já estava paga”.
Iniciais maiúsculas em siglas por extenso somente deverão ser
usadas quando nos referimos a nomes de instituições e sistemas
governamentais, de empresas, de códigos de lei, enfim, a nomes
inequivocamente próprios:
“Foi proposta ação contra o Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS)”. (E não “instituto nacional do seguro social (INSS)”).
“O Sistema Único de Saúde (SUS) delegou aos Estados a
administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados
à saúde”.
“O cheque foi devolvido pelo motivo 11 (insuficiência de
fundos), conforme classificação do Banco Central (Bacen)”.
O recado de hoje é este então: não é o fato de a sigla ser composta
de letras maiúsculas que obrigatoriamente o nome por extenso terá
as iniciais maiúsculas. Em outras palavras, não é porque “IPTU” é
escrito em maiúsculas que “Imposto Predial e Territorial Urbano”

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deve ser escrito assim. Se fosse para seguir esse raciocínio, também
teríamos de escrever “Banco central” (com “c” minúsculo), pois a
sigla é “Bacen”. A regra para escrever a sigla não se confunde com a
escrita do nome por extenso.
Era isso.

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143. MAIS UM MOTIVO PARA SEMPRE REVISARMOS
AS PEÇAS
Pessoal, vez ou outra encontro nas peças redações do tipo:
“Desse modo, vem o autor requerer os seguintes pedidos:”
Ora, “requerer” e “pedir” são sinônimos. A frase é, portanto,
redundante. Corrigida, fica assim:
“Desse modo, vem o autor realizar/fazer os seguintes pedidos:”
Outros exemplos de frases redundantes:
“A ré interpôs apelação recorrendo da decisão que indeferiu o
benefício da gratuidade da justiça”.
“No despacho de fl. 34, o Juiz despachou intimando as autoras a
complementarem o valor da causa”.
“Assim, interpretando-se o teor do art. 5º, caput, da Constituição
Federal, tem-se a interpretação segundo a qual o princípio da
isonomia...”.
“A constatação dos vícios redibitórios é antecedente lógico
daquelas lesões materiais acima apontadas”.
“As parcelas devidas desde 18-4-2007 até o final do contrato,
atualizadas até outubro/2012, totalizam o montante de R$
97.565,40”.
Perceberam a redundância nessas frases? Isso ocorre porque o
redator retém a informação recentemente usada, o que o leva a usá-
la novamente na sequência textual.
Corretas, as frases são assim escritas, comparem:
“A ré interpôs apelação da decisão que indeferiu o benefício da
gratuidade da justiça”.
“No despacho de fl. 34, o Juiz intimou as autoras a
complementarem o valor da causa”.
“Assim, interpretando-se o teor do art. 5º, caput, da Constituição
Federal, tem-se que o princípio da isonomia...”.
“A constatação dos vícios redibitórios é antecedente lógico das
lesões materiais acima apontadas”. (não “daquelas lesões”)
“As parcelas devidas desde 18-4-2007 até o final do contrato,
atualizadas até outubro/2012, totalizam R$ 97.565,40”. (não
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“totalizam o montante de”)
Está aí, portanto, mais um bom motivo para revisarmos nossas
peças assim que terminamos de redigi-las.
Era isso.

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144. PONTO E VÍRGULA EM ENUMERAÇÕES
COMPLEXAS
Pessoal, em enumerações complexas (enumerações longas, que
geralmente envolvem nomes), não podemos simplesmente separar
os itens com o emprego de vírgulas. Nesses casos é prudente
lançarmos mão de pontos e vírgulas, que deixarão a construção
muito mais clara.
Reparem, por exemplo, como a seguinte estrutura, somente
virgulada, fica quase que impossível de ser entendida (os nomes
são fictícios):
“Os herdeiros Richard Cleiton Duque e Claudino Duque, filhos
da autora da herança, Zenaide Cleusa Duque, Carlos Duque Costa e
Fabíola Duque Jackson, filhos de Valdemar Duque, pré-morto, e
Ronaldo Duque e Silvana Duque cederam seus direitos hereditários
a José Clemêncio Duque, o atual inventariante, posteriormente,
sugeriu a apresentação de novo plano de partilha o herdeiro
Luciano Duque.”
Por outro lado, vejam como, com o emprego de pontos e vírgulas
separando as enumerações, o leitor consegue entender
imediatamente a mensagem sem precisar se esforçar para decifrá-la:
“Os herdeiros Richard Cleiton Duque e Claudino Duque, filhos
da autora da herança, Zenaide Cleusa Duque; Carlos Duque Costa e
Fabíola Duque Jackson, filhos de Valdemar Duque, pré-morto; e
Ronaldo Duque e Silvana Duque cederam seus direitos hereditários
a José Clemêncio Duque, o atual inventariante; posteriormente,
sugeriu a apresentação de novo plano de partilha o herdeiro
Luciano Duque.”
Viram só? Tratando-se de enumerações complexas, o uso de
pontos e vírgulas, por tornarem a construção mais clara,
corretamente dividida, é muito melhor do que apenas o emprego
de vírgulas.
Era isso.

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145. CUIDADO COM O EMPREGO DO “ONDE”
É impressionante a quantidade de gente que tem dificuldade no
uso do advérbio “onde”. Hoje vou dar uma regrinha joia para
vocês.
Pessoal, o “onde” é usado apenas com lugares em que objetos ou
pessoas possam estar fisicamente. Gravem bem isso! Fora desse
sentido, não usem a palavra. Vejam:
“O relatório, ONDE está exposta toda a argumentação, não foi
aprovado” (Errado).
“As partes firmaram contrato de compra e venda, ONDE os
requerentes venderam ao réu o imóvel descrito às fls. 15-16”
(Errado).
“Trata-se de ação de prestação de contas, ONDE o autor pretende
seja a ré compelida a prestar-lhe contas referentes à conta corrente
n. 07015-25, agência 0482” (Errado).
Olhem só: “relatório”, “contrato de compra e venda” e “ação de
prestação de contas” são lugares em que um objeto ou uma pessoa
podem estar fisicamente? Não, né? Por isso o “onde” nessas frases
está errado. Corrigidas, ficam assim:
“O relatório, EM QUE/NO QUAL está exposta toda a
argumentação, ...”.
“As partes firmaram contrato de compra e venda, POR MEIO DO
QUAL os requerentes venderam ...”.
“Trata-se de ação de prestação de contas, NA QUAL o autor
pretende ...”.
Já em todas as frases abaixo, o “onde” está corretamente usado:
“A Comarca de Iracema, ONDE se intentou a ação, é de última
entrância” (Certo; uma pessoa pode estar dentro de uma comarca).
“A testemunha declarou que não sabia ONDE o réu estava”
(Certo; o réu só poderia estar em algum lugar).
“O suspeito foi responsável pela venda das drogas na cidade de
Caibi, ONDE a vítima residia” (Certo).
“A acusada não quis dizer ONDE a arma foi encontrada” (Certo).
Para terminar, lembram quando falei aqui no Insta sobre o uso do

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“sendo”? quando falei que ele é empregado incorretamente como
uma bengala linguística por quem não sabe usar elementos de
coesão? Pois é, com o “onde” ocorre coisa parecida. Vejam a frase:
“Cuida-se de delito de tráfico de drogas, onde o réu foi
apreendido com vinte papelotes de maconha embalados para
comercialização”.
Oi? O que esse “onde” está fazendo ali? A frase ficou tão capenga
que não consigo sequer corrigi-la. Cuidado com esse tipo de
construção!
Era isso.

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146. À FL.? À FLS.? ÀS FLS.? NAS FLS.? E COMO
FAZER SE FOR O VERSO DA FOLHA?
Seguidora me pergunta se o correto é “à fl. 35” ou “à fls. 35”.
Pergunta ainda se em vez de “à” pode usar “na”.
Adorei as perguntas, porque tenho certeza que muitos de vocês
também têm essas mesmas dúvidas.
Alguns pontos sobre o tema são controversos. A orientação que
passarei é apenas aquela que eu sigo. Eu e muita gente.
Se a informação consta de uma folha só, usem “à fl.”. Exemplo:
“À fl. 10 o réu juntou o contrato de locação”.
Se a informação consta de mais de uma folha, usem “às fls.”.
Exemplo: “Os depoimentos às fls. 10-12 demonstram que assiste
razão à apelante”.
Nos exemplos acima vocês podem, sim, substituir “À” e “às” por,
respectivamente, “Na” e “nas”. No meio jurídico as primeiras
formas são mais usadas, porém gramaticalmente tanto está correto
dizer “à fl.”, “às fls.” quanto “na fl.”, “nas fls.”.
Para finalizar:

Nunca escrevam “à fls.” Primeiro porque o “à” aí deveria vir


pluralizado (“às”), pois “fls.” está no plural; segundo porque
não vai crase antes de termos no plural (no caso “fls.”) se o “a”
estiver no singular.
Se citarem apenas o verso da fl. 35, escrevam “à fl. 35v.”. Se
citarem o anverso E o verso, escrevam “à fl. 35-v.”.
Estão corretas, com relação à crase, as formas “da fl. 45 à fl.
76” e “de fls. 45 a 76”.
Se pretendem dizer “fls. 78 a 150” entre parênteses, escrevam
“(fls. 78-150)”. Se querem dizer “fls. 78 e 150”, escrevam assim
mesmo, “(fls. 78 e 150)”.
Era isso.

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147. SUPER DICA PARA DEIXAR SUAS PEÇAS MAIS
AGRADÁVEIS DE SEREM LIDAS
Hoje vou dar uma dica daquelas para deixar as peças de vocês
mais agradáveis de serem lidas. Acho que vão gostar.
Em regra, as conjunções são bastante flexíveis; podem ser
deslocadas pelo texto com certa facilidade. As conjunções não
precisam ficar grudadas no início do período. “Não precisam”, não:
muitas vezes NÃO DEVEM ficar grudadas.
Vejam, por exemplo, a seguinte construção:
“É sabido que o habeas corpus também se presta para livrar
aquele que se encontra em cárcere privado. PORÉM, é igualmente
sabido que esse instrumento não admite dilação probatória. DESSE
MODO, incumbe ao impetrante o ônus de demonstrar previamente
os fatos constitutivos do direito invocado em favor do paciente.
TODAVIA, no presente caso o impetrante não apresentou prova da
alegada coação. ASSIM, impõe-se a denegação da ordem.”
Reparem que as conjunções estão todas no início do período,
dando assim ao leitor a impressão de que ele está sendo guiado
pelo texto como um robô, de modo meio forçado. Fala sério,
pessoal, ninguém gosta de ler um texto assim!
Observem agora como a simples posposição das conjunções
deixa a leitura muito mais agradável:
“É sabido que o habeas corpus também se presta para livrar
aquele que se encontra em cárcere privado. É igualmente sabido,
PORÉM, que esse instrumento não admite dilação probatória.
Incumbe ao impetrante, DESSE MODO, o ônus de demonstrar
previamente os fatos constitutivos do direito invocado em favor do
paciente. No presente caso, TODAVIA, o impetrante não
apresentou prova da alegada coação. Impõe-se, ASSIM, a
denegação da ordem.”
Melhorou? Muito, né? “Brincando” com as conjunções,
deslocando-as no texto, guiamos o leitor de maneira prazerosa, sem
que ele o perceba, facilitando até mesmo sua aderência às teses que
estamos apresentando.
Era isso.

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148. NA FRASE “O AUTOR FAZ JUS AO BENÉFICO”,
“JUS” DEVE VIR EM ITÁLICO?
Essa foi exatamente a pergunta que um seguidor me fez.
Inicialmente achei o questionamento sem pé nem cabeça, pois
nunca tinha visto ninguém escrever “jus”, com o sentido da frase
do post, em itálico. Mas não é que procurando na internet vi que há
outras pessoas com a mesma dúvida?
Pessoal, a palavra “jus” tem origem latina, mas já está
aportuguesada. Então, em frases como a apresentada, sempre a
escrevam SEM o itálico.
Essa dúvida de alguns sobre se esse “jus” se escreve em itálico
deve ter origem em brocardos jurídicos latinos em que o termo
aparece (“jus puniendi”, “jus possessionis”, “dormientibus non sucurrit
jus”, “jus reformandi”); brocardos que, claro, devem ser mesmo
escritos em itálico. Porém a palavra “jus”, sozinha e com o sentido
de “prerrogativa legal”, “direito”, tal como na frase do post, não
deve receber o grifo.
Para terminar, e mudando um pouquinho só de assunto, o termo
latim “jus” e seus derivados podem ser escritos assim, com “j”, ou
com “i” (ius), tanto faz. Se fosse para dizer qual é a forma correta,
correta mesmo, eu diria que é a com “i”, pois com “j” trata-se de
anglicismo (invenção inglesa). Ambas as formas, todavia, já são
aceitas. Escrevam, portanto, “jus” ou “ius”, “juris” ou “iuris”,
“judicate” ou “iudicate”. Vocês escolhem. Nesses casos, todavia,
sempre em itálico, pois são termos latinos.
Uma curiosidade: vocês sabiam que a palavra “itálico” vem de
“Itália”, região berço do latim? Por isso que palavras em latim (e em
outras línguas estrangeiras) vêm com esse destaque. Interessante,
vai.
Era isso.

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149. ÀS EXPENSAS, À EXPENSAS, A EXPENSAS, AS
EXPENSAS?
Aprendemos corretamente desde cedo que não há crase antes de
locuções no plural se o “a” não estiver no plural. Partindo disso, a
expressão “à expensas” está errada. Se o “a” estiver pluralizado,
ocorre a crase: “às expensas”.
Pronto. Em suma, essas são as regras. Vejam as seguintes frases:
“A eventual necessidade de liquidação se dará ÀS EXPENSAS da
concessionária de energia elétrica”. (certo)
“O adimplemento da obrigação da cambial estava condicionado à
realização, À EXPENSAS do demandado, de obras de infraestrutura
no terreno”. (errado)
“Não há afastar a possibilidade de que a recorrente sobrevivia ÀS
EXPENSAS do provento auferido por seu ex-companheiro”. (certo)
“A decisão determinou, de ofício, a realização de perícia judicial
A EXPENSAS da empresa de telefonia”. (certo)
“A liquidação deve ser feita À EXPENSAS da apelante”. (errado)
Resumindo:
“O autor vivia às expensas do pai”. (certo)
“O autor vivia à expensas do pai”. (errado)
“O autor vivia a expensas do pai”. (certo)
“O autor vivia as expensas do pai”. (errado)
As formas “às suas expensas”, “a suas expensas”, “às expensas
próprias”, “a expensas próprias” estão corretas:
“A demandante realizou o exame ÀS SUAS EXPENSAS” (ou: “às
expensas próprias”; “a suas expensas”).
“Os pais provaram que não tinham condições de colocar seu filho
na creche A EXPENSAS PRÓPRIAS” (ou: “às suas expensas”; “às
expensas próprias”).
“O autor poderá contratar, A SUAS EXPENSAS, profissional
habilitado para tanto” (ou: “às expensas próprias”; “às suas
expensas”).
Era isso.

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150. COMO ESCREVER DATAS: 13-11-2018, 13/11/2018
OU 13.11.2018?
Pessoal, para começar, todas as formas acima estão corretas. Mas,
atenção: seja lá qual for a sua opção (hífen, barra ou ponto),
MANTENHAM-NA ATÉ O FINAL DA PEÇA. O texto fica feio
quando vocês escrevem ora de um jeito ora de outro, fica meio
desleixado; o leitor percebe isso e pode passar a desconfiar do
próprio conteúdo da peça. Cuidado!
EU gosto de usar o hífen. Parece que o texto fica mais limpo, mais
agradável. Em razão disso, daqui em diante neste post, nos
exemplos que darei, somente usarei esse sinal para separar os
elementos que compõem a data.
Vamos para outras dicas então.

Na escrita de datas, não se usa zero à esquerda dos dias e


dos meses:
“3-8-2010”. (certo)
“03-08-2010”. (errado)
Grafem a indicação do ano sem o ponto entre a casa do
milhar e a da centena:
“1999”. (certo)
“1.999”. (errado)
Na data abreviada, dia, mês e ano são escritos com numeral
cardinal, e o ano deve ser sempre escrito com quatro
algarismos:
“21-4-2000”. (certo)
“21-4-00”. (errado)
O primeiro dia do mês, todavia, é escrito com numeral
ordinal:
“1º de abril”; “1º-4-2007”. (certo)
“01 de abril”; “1-4-2007”. (errado)
Se forem indicados apenas os meses e o ano, o primeiro se
escreve por extenso e o segundo com todos os algarismos:
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“maio de 1937”.
A referência a períodos é feita com hífen (não com barra ou
ponto):
“1995-1998”. (certo)
“1995/1998”. (errado)
No fecho dos documentos, sempre haverá ponto final após a
data:
“Florianópolis, 14 de março de 2018.” (certo)
“Florianópolis, 14 de março de 2018” (errado)
O ano de publicação de atos normativos deve ser escrito com
quatro algarismos, após a barra:
“CPC/1973”; “CPC/2015”; “Lei de Licitações/1993”; “Lei n.
8.112/1990”. Até hoje vejo gente escrevendo “CC/16”. O que
significa esse “16”? “1916” ou “2016”?
Era isso.

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151. PARA MIM, UM DOS MELHORES POSTS QUE FIZ
ATÉ HOJE
Pessoal, é o seguinte. Gostaria da atenção de vocês. Se estiverem
de pé, sentem-se para ler o post com calma. Se estiverem na
correria, parem de ler aqui e voltem mais tarde.
Bom, leiam a seguinte frase até conseguirem entendê-la. Só
depois de entenderem, continuem a leitura:
“Resolvida a questão suscitada pelo apelante nas suas razões,
mas mesmo assim ele interpôs recurso para o STJ”.
Tenho certeza que vocês leram pelo menos duas vezes a frase
para extrair o sentido dela. Acertei? Gente, acreditem em mim:
fazemos, sem perceber, esse tipo de frase DIARIAMENTE. Diria até
que esse tipo de frase é uma marca do texto jurídico, uma praxe.
Mas não é por ser uma praxe que podemos continuar adotando-a,
pois, como vocês mesmos acabaram de ver, esse modo de escrever
deixa o texto obscuro; o leitor tem de lê-lo duas ou três vezes.
A falta de clareza na frase apresentada ocorre porque a primeira
oração parece ser reduzida de particípio (“Resolvida...”), de modo
que nosso cérebro espera ler na sequência uma oração principal, o
que não ocorre. Em vez disso, deparamo-nos com uma adversativa
(“mas mesmo assim...”).
Mas o interessante vem agora. Reparem como a adição de uma
simples palavra na frase em questão basta para ela ficar claríssima:
“Foi resolvida a questão suscitada pelo apelante nas suas razões,
mas mesmo assim ele interpôs recurso para o STJ”.
Viram? Bastou colocar um “Foi” no início da frase que ela ficou
clara, como num passe de mágica.
Mais casos:
“Logo, aplicável essa diretriz ao caso posto a embate, uma vez
que o acidente ocorreu nesse período”.
“Flagrante a existência de uma relação de consumo entre
seguradora e segurado, na qual a primeira figura como
fornecedora”.
Percebam como ficam bem melhor assim:
“Logo, É aplicável essa diretriz ao caso posto a embate, uma vez
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que o acidente ocorreu nesse período”.
“‘É’ flagrante a existência de uma relação de consumo entre
seguradora e segurado, na qual a primeira figura como
fornecedora”.
Legal, né?
Era isso.

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152. O AUTOR, ASSIM COMO A RÉ, INTERPUSERAM
RECURSO ESPECIAL. O CORRETO É
“INTERPUSERAM” OU “INTERPÔS”?
Gente, com as expressões “bem como” e “assim como” vocês
podem usar tanto o verbo no singular quanto no plural, vai
depender do destaque que queiram dar. Sigam meu raciocínio.
Quando se quer destacar o primeiro elemento, vocês usarão o
verbo no singular (ocasião em que haverá vírgulas). Vejam:
“O réu, bem como a testemunha, CHEGOU cedo à audiência”
(certo; quero dar destaque ao fato de que o réu chegou cedo).
Já quando se quer dar destaque a ambos os elementos, o verbo irá
para o plural (sem vírgulas):
“O réu bem como a testemunha CHEGARAM cedo à audiência”
(certo; quero destacar que tanto o réu quanto a testemunha
chegaram cedo).
Tranquilo?
Claro que se, na primeira frase, fosse “os réus” em vez de “o
réu”, e ainda querendo dar destaque ao primeiro elemento, o verbo
ficaria no plural. Assim:
“Os réus, bem como a testemunha, CHEGARAM cedo à
audiência”.
Portanto, respondendo à pergunta do post, o correto é: “O autor,
assim como a ré, interpôs recurso especial”.
Era isso.

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153. TRÊS VERBOS JURÍDICOS CUJA REGÊNCIA
COSTUMAMOS ERRAR
Pessoal, muita atenção para a regência dos verbos “pleitear”,
“postular” e “pugnar”, que usamos bastante mas cuja regência
costumamos errar, e muito. Querem ver?
Analisem as frases abaixo:
“Os autores pleitearam O despejo do seu vizinho.”
“Os réus postularam PELA condenação do autor por litigância de
má-fé.”
“Postula A indenização pelos danos materiais sofridos.”
“Os moradores pugnaram OS seus direitos.”
“O agravante pleiteou PELO recebimento do recurso com efeito
suspensivo.”
“A parte que pugna PELA gratuidade da justiça deve comprovar
a hipossuficiência.”
Conseguem dizer quais frases estão certas quanto à regência e
quais estão erradas? Pois é.
O verbo “pugnar” tanto pode ser transitivo direto quanto
transitivo indireto, ou seja, pode ser seguido pela preposição ou
não. Os verbos “pleitear” e “postular”, por sua vez, são apenas
transitivos diretos; não são seguidos pela preposição.
Partindo disso, as frases acima devem ser escritas assim:
“Os autores pleitearam O despejo do seu vizinho.” (já estava
correta)
“Os réus postularam A condenação do autor por litigância de
má-fé.”
“Postula A indenização pelos danos materiais sofridos.” (já
estava correta)
“Os moradores pugnaram OS/PELOS seus direitos.” (já estava
correta)
“O agravante pleiteou O recebimento do recurso com efeito
suspensivo.”
“A parte que pugna A/PELA gratuidade da justiça deve
comprovar a hipossuficiência.” (já estava correta)
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Era isso.

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154. SOBRE CITAÇÕES DE PEÇAS PROCESSUAIS
Seguidora me pergunta se, ao citar trechos de peças processuais,
ela deve colocar entre parênteses a numeração das folhas referente a
toda a peça ou somente da folha do trecho citado. Achei a pergunta
interessante.
Bom, se é citado apenas um trecho da peça, a referência feita será
apenas a do trecho citado. Se além de citar um trecho o autor do
texto o complementa, com suas próprias palavras, com informação
retirada da peça, a referência será de todas as folhas. E se,
finalmente, o autor não cita nada entre aspas, apenas faz paráfrase,
a referência também será de todas as folhas da peça.
Vejamos com exemplos.
Texto 1
Na decisão interlocutória, o juiz deferiu o pedido “a fim de
suspender qualquer ato expropriatório em relação ao imóvel dado
em garantia na Cédula de Crédito Bancário n. 137/03282/2611” (fl.
102).
Texto 2
Na decisão interlocutória, o juiz deferiu o pedido “a fim de
suspender qualquer ato expropriatório em relação ao imóvel dado
em garantia na Cédula de Crédito Bancário n. 137/03282/2611”, em
razão do deferimento da recuperação judicial da empresa agravada
(fls. 96-102).
Texto 3
Na decisão interlocutória, o juiz deferiu o pedido para suspender
qualquer ato expropriatório em relação ao imóvel dado em garantia
na cédula de crédito bancário, em razão do deferimento da
recuperação judicial da empresa agravada (fls. 96-102).
Em 1 apenas o trecho da folha 102 da decisão interlocutória está
sendo citado, de modo que a referência deve ser feita conforme
apresentado – “(fl. 102)”.
Já em 2, apesar de o autor do texto ter também citado entre aspas
o trecho da fl. 102, completou a informação com suas próprias
palavras, por isso a referência é de todas as folhas da decisão
interlocutória – “(fls. 96-102)”.

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Em 3 há uma paráfrase. Ainda que o autor do texto esteja
fazendo referência à parte dispositiva da decisão, a referência deve
ser feita também com a inclusão de todas as folhas – “(fls. 96-102)”.
É evidente que, se toda a peça for transcrita, a referência ao final
deve ser igualmente de todas as folhas.
Era isso.

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155. SOBRE TEXTOS DAS TURMAS RECURSAIS
Fui convidado a dar um curso para assessores das Turmas
Recursais do Estado de Santa Catarina. A fim de me preparar, fiz
“uma geral” nos sites dos Juizados de todo o Brasil para ver como
as decisões de segundo grau vêm sendo confeccionadas. Não vi
muita coisa boa não.
Seguidores que trabalham em Turmas Recursais, atenção: Não é
porque o sistema dos Juizados é regido, dentre outros, pelos
princípios da informalidade, da celeridade e da simplicidade que
vocês, ao fundamentarem as decisões, possam abrir mão da
gramática. Uma coisa é não fundamentar as decisões de forma
erudita, com emprego de brocardos jurídicos e linguagem
rebuscada (o que não é recomendado nem mesmo para decisões da
“Justiça Comum”), outra coisa totalmente diferente é, com base nos
mencionados princípios, redigir peças recheadas de erros de crase,
de grafia, de regência verbal e nominal e de emprego da vírgula.
É claro que deslizes gramaticais são encontrados em qualquer
decisão judicial, independentemente do procedimento adotado
(comum ou sumaríssimo). Mas tenho para mim que os assessores
que trabalham nos Juizados – sem querer generalizar, é claro, pois
na minha pesquisa encontrei também muitas decisões bem-escritas
– acabam, valendo-se principalmente da prerrogativa da
simplicidade que é conferida por lei ao rito sumaríssimo, não dando
aquela importância toda à gramática e passam, muitas vezes, a
escrever de forma acessível mas errada. Confunde-se simplicidade
com simploriedade.
Consegui perceber, da leitura que fiz de vários acórdãos, que
muitos dos erros encontrados são resultado da pressa mesmo na
hora de escrever. Deu para perceber também que muitas decisões,
além de serem escritas de maneira afoita, não passam por nenhum
tipo de revisão. Prova disso foi um acórdão em que a crase, em vez
de ser sinalizada com “à”, apareceu repetidas vezes como “á”, com
acento agudo!
Então, pessoal, uma dica que posso dar a vocês é sempre
revisarem seus projetos de decisões. Arrisco a dizer que o simples
fato de lerem as decisões após a sua feitura diminui em 50% a
quantidade de erros.
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156. “EM VEZ DE” OU “AO INVÉS DE”?
Pessoal, depois deste post duvido muito que alguém aí vai mais
errar no uso das expressões “em vez de” e “ao invés de”.
Para começar, esta super dica: SE USAREM SEMPRE O “EM VEZ
DE”, VOCÊS NUNCA ERRARÃO.
Poderia parar por aqui, mas vamos para a diferença entre as
expressões.

“Ao invés de” significa uma situação contrária, uma


oposição:
“AO INVÉS DE confessar que praticou o crime, o réu negou
até o fim” (certo).
Já “em vez de” significa “em lugar de”, “em substituição a”:
“Ele interpôs apelação EM VEZ DE agravo de instrumento”
(certo).
Analisem agora as seguintes frases:
1 “Se o intuito do agente é, EM VEZ DE alargar a primeira
prática infracional, reiterar as ações, não há liame subjetivo
entre elas, mas forma habitual de delinquir.”
2 “O acusado pleiteou a aplicação da pena de multa AO
INVÉS DA restritiva de direitos.”
3 “A simples ausência de referência ao art. 40 da LEF no
despacho que determina a suspensão do processo, AO INVÉS
DO arquivamento, configura, quando muito, erro formal.”
4 “O veículo dirigido pelo autor dobrou à direita AO INVÉS
DA esquerda.”
Bom, a primeira frase está correta, pois o “em vez de” está
empregado no sentido de “no lugar de”. A segunda está
errada, porque pena de multa não é o contrário de pena
restritiva de direitos. Da mesma forma não está correta a
terceira, pois suspensão não é o oposto de arquivamento.
Finalmente, em relação à última frase, está correta: direita é o

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oposto de esquerda.
Mas lembrem: se usarem sempre o “em vez de”, vocês nunca
errarão.
Era isso.

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157. APRENDA A ARGUMENTAR: SEMIÓTICA
JURÍDICA
Uma dica para aqueles que buscam aprimorar suas peças,
principalmente na parte argumentativa, é estudar um pouco
Semiótica.
O assunto é complexo, mas neste post vou tentar transformar o
difícil em fácil. Leiam até o final porque é interessante.
Para dizer de forma muito, mas muito resumida mesmo, a
Semiótica divide a linguagem em três níveis: sintático, semântico e
pragmático.
Por nível SINTÁTICO entende-se a adequada ordem das
palavras no texto. Por exemplo, pela sintaxe da nossa língua está
correto escrever: “O réu apresentou contestação” (artigo –
substantivo – verbo – substantivo). Já a estrutura “Réu contestação
apresentou o” não está sintaticamente correta.
Não basta, todavia, que a estrutura esteja sintaticamente correta;
ela deve ter sentido. E aqui entra o nível SEMÂNTICO da
linguagem. Exemplificando, a frase “O juiz jogou um unicórnio no
réu”, apesar de ser perfeita no nível sintático, não tem sentido. Diz-
se, dessa frase, que está prejudicada no nível semântico.
Agora o nível, diria assim, mais importante: o PRAGMÁTICO. É
aqui que entra a argumentação propriamente dita das nossas peças.
Pelo nível pragmático buscamos convencer o leitor; buscamos sua
adesão às nossas teses. Vejam que legal:
A frase “A ré comprovou a relação jurídica entre as partes, mas
não existe contrato firmado entre elas” está perfeita tanto no nível
sintático quanto no semântico, concordam? Mas concordam
também que ela está meio sem graça, não convidativa? Pois é.
Reparem agora como poderia ficar essa frase com aplicação do
nível pragmático:
“No caso dos autos, embora não exista contrato firmado entre as
partes, a ré comprovou a relação jurídica entre elas”.
Percebam que comecei com “No caso dos autos” para chamar a
atenção do leitor, trazendo-o de volta para o texto, e usei uma
oração concessiva (“embora não...”) para incutir no espírito do
leitor (juiz) que a ré, no caso minha cliente, apesar de tudo ainda
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assim tem razão. Isso é técnica argumentativa, que, como tal, se
situa no nível pragmático da linguagem.
Quando a Semiótica é aplicada à linguagem jurídica, como é o
caso aqui, recebe o nome de Semiótica Jurídica.
Era isso.

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158. O EMPREGO DA VÍRGULA DEPOIS DO
TRAVESSÃO
Seguidora me confessou que tem muita dúvida sobre virgular
depois do travessão. Disse a ela que não se preocupasse porque não
está sozinha no mundo e que faria um post sobre o tema.
Pessoal, a regra é relativamente simples: em frases que contêm
travessões vocês apenas colocarão a vírgula depois do último se,
sem os travessões e a informação entre eles, a vírgula também seria
empregada. Calma que já vão entender.
Analisem a seguinte frase:
“Embora seu recurso não tenha sido conhecido – por ausência de
preparo – contra o respectivo acórdão ajuizou ação rescisória”.
Vai alguma vírgula depois do último travessão? Para sabermos a
resposta, temos de mentalmente retirar os travessões e toda a
informação que está entre eles. Fazendo isso, a frase ficaria deste
jeito:
“Embora seu recurso não tenha sido conhecido contra o
respectivo acórdão ajuizou ação rescisória”.
E agora, vai vírgula? Vai, né, depois de “conhecido”. Assim:
“Embora seu recurso não tenha sido conhecido, contra o
respectivo acórdão ajuizou ação rescisória”.
Bom, o raciocínio que deve ser feito é: se há vírgula ali sem os
travessões, com eles também haverá. A frase ficaria assim, portanto:
“Embora seu recurso não tenha sido conhecido – por ausência de
preparo –, contra o respectivo acórdão ajuizou ação rescisória”.
Deu para entender?
Era isso.

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159. ERRO GRAMATICAL QUE MAIS ENCONTRO EM
PEÇAS JURÍDICAS
Faltou dizer que este é o erro gramatical que mais encontro em
peças jurídicas DEPOIS DO EMPREGO DA VÍRGULA. Esta, a
vírgula, sem dúvidas é campeã em matéria de maus-tratos.
O post de hoje, portanto, na verdade é sobre o segundo erro que
mais encontro. O erro em questão é o uso do sujeito preposicionado
em oração infinitiva. Observem a frase abaixo:
“A probabilidade do réu ser absolvido é mínima.”
Viram o erro? É, é difícil mesmo de ver. Eu sei que para a maioria
de vocês a frase está correta. Mas não está, não.
Pessoal, como vocês escrevem “o juiz proferiu a sentença”?
Assim mesmo, né? “O juiz proferiu a sentença”. Por um acaso
haveria alguma possibilidade de vocês escreverem assim: “Do juiz
proferiu a sentença”? Claro que não! O sujeito da frase (no caso, “o
juiz”) nunca pode ser formado por preposição (no caso, “do”).
Voltemos àquela frase:
“A probabilidade do réu ser absolvido é mínima.”
Penso que agora alguns de vocês já estão conseguindo ver o erro.
Conseguiram? Bom, corrigida, a frase fica assim:
“A probabilidade DE O réu ser absolvido é mínima.”
Isso porque “o réu” aí é sujeito de uma oração infinitiva (quem é
absolvido? O réu). Dá-se o nome de infinitiva a essa oração porque
o respectivo verbo está no infinitivo (“ser”). Como “o réu” é sujeito,
não pode vir, conforme vimos, preposicionado. Daí a forma correta
ser “de o”, em vez de “do”.
Escrevam, portanto:
“A maneira de o magistrado julgar influencia no comportamento
social.” (em vez de “do magistrado julgar”)
“O fato de os acusados sofrerem represália não justifica a redução
da pena.” (em vez de “dos acusados sofrerem”)
“Apesar de o Ministro ter ficado vencido, não declarou voto.”
(em vez de “do Ministro ter ficado”)
Era isso.

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160. O USO DA EXPRESSÃO “E NEM”
Pessoal, “nem” já significa “e não”. A expressão “e nem” está,
portanto, incorreta. Observem:
“O procedimento de expropriação judicial não ofendeu a ampla
defesa e o contraditório e nem impediu o devedor de combater em
juízo supostas ilegalidades do procedimento” (errado; basta “nem”,
sem o “e”).
“Não ficou demonstrado o desrespeito ao princípio da entidade
contábil e nem o mau uso do patrimônio da pessoa jurídica”
(errado; basta “nem”, sem o “e”).
“O relatório não mencionou a questão nem mencionará” (certo).
“Nota-se que a parte demandante não cumpriu a diligência nem
interpôs agravo de instrumento no momento oportuno” (certo).
Antes que vocês me perguntem, a vírgula antes do “nem” é
facultativa. Eu só a colocaria se quisesse dar ênfase à frase. Na frase
acima, por exemplo, eu apenas empregaria a vírgula se almejasse
destacar a oração “nem interpôs agravo de instrumento no
momento oportuno”.
Atenção: está correto o emprego do “e nem” quando a expressão
não exerce função coordenativa aditiva. Vejam:
“O advogado não participou da audiência e nem por isso o
acusado foi condenado” (correto).
Pode-se dizer que o “nem” aí é advérbio e equivale a “sequer”.
Notem que, ao contrário das frases anteriores, na frase acima o “e
nem” não está ligado ao sujeito da oração anterior (O advogado), o
que é um indício de que a expressão está empregada de forma
correta.
Era isso.

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161. CUIDADO COM A HIPERCORREÇÃO
Vai aproveitar bem melhor a dica de hoje quem leu o meu post
sobre “erro gramatical que mais encontro em peças jurídicas” (n.
159). Caso você não o tenha lido, pare aqui e vá até lá.
Já leu? Bom, como você deve lembrar, naquele post eu disse que
a frase “A probabilidade do réu ser absolvido é mínima” está
incorreta, porque “o réu” é sujeito, e não pode haver sujeito
preposicionado. O correto é, então, “A probabilidade DE O réu ser
absolvido é mínima”.
Pois bem. Reparem na seguinte construção:
“Isso porque é dever de a instituição financeira certificar a
margem consignável no momento da contratação do empréstimo”.
E agora? O “de a” antes de “instituição financeira” está correto?
Não, não está. Ocorre aí o fenômeno da hipercorreção, que se dá
quando, na ânsia de escrever correto, o escritor escreve errado. Na
frase em questão, “instituição financeira” não é sujeito, e sim
complemento nominal. O sujeito, no caso, é oracional (certificar a
margem consignável...é).
Corrigido, o período fica assim:
“Isso porque é dever DA instituição financeira certificar a
margem consignável no momento da contratação do empréstimo”.
Se invertermos a frase, veremos claramente que a forma correta
só pode ser “da” mesmo, e não “de a”:
“Isso porque certificar a margem consignável no momento da
contratação do empréstimo é dever DA instituição financeira”.
Muito cuidado então para não incidirem em hipercorreção, hein?
Outro exemplo comum de hipercorreção é a flexão do verbo
“haver” quando ele é impessoal. Com medo de errar a
concordância verbal, o escritor inexperiente escreve “haviaM
muitas pessoas” (pois o plural geralmente é a forma correta) e
acaba, aí, sim, escrevendo errado de vez.
Era isso.

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162. FALTA DE CLAREZA: CONFUSÃO DO CASO “EM
TESE” COM O CASO CONCRETO
Pessoal, hoje vou dar uma dica, dica não sei se é bem a palavra,
mas vou mostrar um tipo de construção frasal que não raro
encontro até mesmo em boas peças, de escritores experientes. Trata-
se da falta de clareza que ocorre na frase quando misturamos o caso
“em tese” (caso genérico, não factual) com o caso concreto dos
autos.
Vejam o seguinte período:
“Inicialmente, salienta-se que as condições para o procedimento
da revisão da pensão alimentícia estão previstas no art. 1.699 do
Código Civil, e cabe ao agravante a demonstração da alteração do
binômio necessidade/capacidade que justifique a redução”.
Reparem que o autor do texto começou discorrendo sobre o caso
em tese, versando genericamente sobre o art. 1.699, para em
seguida misturá-lo com informação acerca do caso concreto, o que
se constata pelo emprego da palavra “agravante”.
O período ficaria mais claro se fosse escrito assim:
“Inicialmente, saliento que as condições para o procedimento da
revisão da pensão alimentícia estão previstas no art. 1.699 do
Código Civil, e cabe ao AUTOR a demonstração da alteração do
binômio necessidade/capacidade que justifique a redução.
No caso, o autor, ora agravante,...”
Notem como a construção ficou bem melhor. Substituí a palavra
“agravante” por “autor”, que é mais genérica, para mostrar que
estou discorrendo sobre o caso em tese, e inseri um parágrafo em
que começo a expor as circunstâncias do caso concreto. E é assim
que deve ser.
Outra frase:
“Da leitura dos dispositivos legais verifica-se que para a oposição
dos embargos de terceiro não é exigida a propriedade do bem; basta
a posse da ora embargante”.
Novamente o caso em tese está misturado com o caso concreto.
Corrigida, a construção fica assim:
“Da leitura dos dispositivos legais verifica-se que para a oposição
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dos embargos de terceiro não é exigida a propriedade do bem;
BASTA A SUA POSSE.
Colhe-se dos autos que a embargante...”
Era isso.

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163. AO FORNECER AO CONSUMIDOR SERVIÇO MAIS
ONEROSO QUE O CONTRATADO, O BANCO
MACULOU O NEGÓCIO JURÍDICO. O CORRETO É
“QUE” OU “DO QUE”?
Pessoal, em construções que denotam comparação, tanto faz
escrever “do que” ou somente “que”. A frase do post, portanto, está
correta e poderia também ser escrita assim:
“Ao fornecer ao consumidor serviço diverso e mais oneroso DO
que o contratado, o banco maculou o negócio jurídico”.
Outros exemplos:
“É possível adotar regime inicial mais severo que o fixado
quando presentes circunstâncias que demonstrem maior
periculosidade da conduta” (correto).
“É possível adotar regime inicial mais severo DO que o fixado
quando presentes circunstâncias que demonstrem maior
periculosidade da conduta” (correto).
“A norma especial incrementa a proteção do interesse público,
criando uma tutela mais enérgica que a defendida no âmbito
comum” (correto).
“A norma especial incrementa a proteção do interesse público,
criando uma tutela mais enérgica DO que a defendida no âmbito
comum” (correto).
“Ainda que certos marcos divisórios do imóvel tenham sido
suprimidos e que na matrícula do bem conste metragem maior que
aquela identificada pelo expert, a prova pericial está bem
fundamentada” (correto).
“Ainda que certos marcos divisórios do imóvel tenham sido
suprimidos e que na matrícula do bem conste metragem maior DO
que aquela identificada pelo expert, a prova pericial está bem
fundamentada” (correto).
Era isso.

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164. À MEDIDA QUE, NA MEDIDA EM QUE, À MEDIDA
EM QUE, NA MEDIDA QUE
As formas corretas são “na medida em que” e “à medida que”.
Elas possuem, contudo, sentidos diferentes.
A expressão “na medida em que” tem sentido causal; significa
“uma vez que”, “visto que”, “porquanto”, “já que”.
A expressão “à medida que” tem sentido de proporção (“à
proporção que”).
“O pedido de declaração de inexigibilidade da multa está
precluso, na medida em que a sentença que confirmou os efeitos da
tutela já foi alcançada pela coisa julgada” (correto).
“À medida que o tempo passa, a prescrição da pretensão se
concretiza” (correto)
“Sustenta a recorrente sua ilegitimidade passiva, na medida em
que as ações de telefonia não foram por ela emitidas” (correto).
“Os acusados deixavam para trás o produto do furto à medida
que corriam” (correto).
“O prequestionamento é desnecessário, na medida em que o
acórdão embargado analisou todas as questões suscitadas pelas
partes” (correto).
As formas “na medida que” e “à medida em que” não existem.
Era isso.

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165. OUTRA TÉCNICA DE ARGUMENTAÇÃO
Para muitos gramáticos, construções como “É necessário dizer
que no momento da impetração do remédio constitucional o
paciente estava em liberdade” são prolixas, pois se “se está
dizendo” é porque “é necessário”, de modo que a expressão “É
necessário dizer” estaria sobrando, iria contra a economia da
linguagem.
Ocorre, todavia, que na construção de textos jurídicos (que não é,
com toda a certeza, o tipo de texto que interessa em primeiro lugar
aos gramáticos) é recomendado, sim, lançarmos mão de expressões
como essa, pois conduzem o leitor a aderir à mensagem que
pretendemos passar.
Vejam a seguinte frase:
“A apelante foi condenada anteriormente a compensar o apelado
por inscrição indevida em cadastro de inadimplentes por dívida
referente ao mesmo contrato”.
Está gramaticalmente correta? Sim, está; porém isso não basta. Se
o que eu busco, como advogado da apelante, é a exclusão ou a
redução do valor da condenação, devo redigir a frase mais ou
menos assim:
“NO CASO CONCRETO, HÁ DE SER DESTACADO O FATO
DE QUE A APELANTE JÁ FOI condenada anteriormente a
compensar o apelado por inscrição indevida em cadastro de
inadimplentes por dívida referente ao mesmo contrato”.
Observem como a frase ficou com mais carga argumentativa,
passando muito mais a ideia de que, como o apelado já recebeu
compensação pelo mesmo fato, o valor arbitrado na sentença
deverá ser agora excluído ou reduzido.
Vejam, portanto, que o emprego de marcadores linguísticos como
“É sabido que...”, “Embora seja desnecessário,...”, “Há de ser
observado, ainda,...”, “Cumpre lembrar...”, dentre tantos outros,
dão um tom persuasivo à frase, favorecendo a defesa do seu cliente.
Então, entre redigir um texto que à primeira vista pareça prolixo
e redigir um texto sem graça, seco, escolham a primeira opção. Vou
falar pela milésima vez: vocês devem escrever visando ao sucesso
da causa que defendem. Se para isso tiverem de empregar
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expressões que, ainda que vazias semanticamente, reforçam a
mensagem, não pensem duas vezes: empreguem-nas. Retórica não
se aprende em gramáticas.
Era isso.

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166. VÍRGULA COM NOME SEGUIDO DE SIGLA
Pessoal, todos nós sabemos que não pode haver vírgula entre
sujeito e predicado, certo? Por exemplo, na frase “A Universidade
de São Paulo interpôs apelação”, não há vírgula antes de
“interpôs”. Vocês não podem escrever “A Universidade de São
Paulo, interpôs apelação”. Até aqui tudo bem?
Ora, se o sujeito for um nome seguido de sua sigla, a regra não
muda. A proibição da vírgula separando sujeito de predicado
continua. Então, está errado escrever:
“Inconformada, a Universidade de São Paulo – USP, interpôs
apelação”.
O sujeito nessa frase vai até “USP”, e, portanto, não pode existir a
vírgula depois da sigla.
Claro, se após a sigla vier um aposto, a vírgula existirá:
“Inconformada, a Universidade de São Paulo – USP, ré na ação
de reintegração de posse, interpôs apelação” (correto).
Finalmente, em construções como a apresentada a seguir, em que
o nome seguido da sigla não é sujeito, a vírgula é obrigatória:
“Nos termos da contestação apresentada pela Universidade de
São Paulo – USP, os autores são partes ilegítimas...” (correto).
Reparem que aqui o sujeito não é “Universidade de São Paulo –
USP”, mas “os autores”; por isso a vírgula.
Era isso.

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167. O VERBO “REDUZIR”
De 2006 a 2011 trabalhei na seção de revisão do TJSC.
Efetuávamos a revisão gramatical de projetos de acórdãos antes de
irem à publicação.
Lembro uma ocasião em que um assessor de gabinete nos ligou
agradecendo muito a revisão que eu tinha feito em um dos projetos.
Tratava-se de uma apelação criminal em que a Câmara tinha dado
provimento ao recurso do acusado para reduzir a pena imposta em
primeiro grau. Ao final do voto veio escrito: “Dá-se provimento ao
recurso para reduzir ‘em’ 5 (cinco) anos a pena aplicada ao
apelante”.
O motivo do agradecimento do assessor de gabinete foi o fato de
eu ter percebido, pela leitura de todo o acórdão, que, na verdade, a
Câmara decidira reduzir a pena “a” 5 anos de prisão, e não “em” 5
anos. Supondo-se que a pena aplicada na sentença fora de 6 anos, a
maneira como o final do voto foi originariamente redigido levava a
crer que a pena agora seria fixada em 1 ano, quando o que se queria
dizer era 5 anos. Claro que certamente o MP iria opor embargos de
declaração contra o acórdão e o erro material seria corrigido, mas
de todo modo fiquei feliz por ter ajudado.
Fiz essa introdução apenas para mostrar o quanto o verbo
“reduzir” é chatinho quanto à regência. Na verdade, vocês nem
costumam errar a regência desse verbo em frases como a do caso
citado. Vocês costumam errar quando o “reduzir” aparece em
construções como:
“Almeja o apelante reduzir o valor dos honorários advocatícios
devidos ao patrono da apelada para R$ 800,00”.
“A quantia, arbitrada em primeiro grau em R$ 10.000, deve ser
reduzida para R$ 2.000,00”.
“O recurso deve ser provido a fim de reduzir o quantum da
condenação para o valor de R$ 1.500,00”.
Todas essas frases estão incorretas quanto à regência do verbo
“reduzir”, que exige a preposição “a”, não a preposição “para”.
Corrigidas, ficam assim:
“Almeja o apelante reduzir o valor dos honorários advocatícios
devidos ao patrono da apelada A R$ 800,00”.
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“A quantia, arbitrada em primeiro grau em R$ 10.000, deve ser
reduzida A R$ 2.000,00”.
“O recurso deve ser provido a fim de reduzir o quantum da
condenação Ao valor de R$ 1.500,00”.
Era isso.

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168. O TRECHO CITADO INICIA COM MAIÚSCULA, E
AGORA?
Vamos conversar mais um pouquinho sobre citações em peças
jurídicas.
Observem a seguinte construção frasal:
De acordo com entendimento doutrinário consolidado, “A
falsidade de um determinado documento pode ser arguida a
qualquer tempo e grau de jurisdição” (Paula Sarna Braga, Curso de
Direito Processual Civil...), e cabe à parte contra quem ele foi
produzido impugná-lo.
Percebam que o autor desse texto cita uma lição doutrinária e
começa a citação com inicial maiúscula (A falsidade...). Aqui reside
a principal dica do post de hoje: NUNCA FAÇAM ISSO! Por uma
razão bastante singela: em regra, não se usa letra maiúscula no meio
da frase ou depois da vírgula.
Mas, professor, no texto apresentado o “A” de “A falsidade” está
em maiúscula porque assim deve ter vindo no texto original citado!
Mesmo assim está errado? Sim, está. Não importa que o texto
original comece com inicial maiúscula. Se vocês o estão
transcrevendo para a peça, é como se o texto todo, incluindo
portanto a citação, fosse de vocês. Se o texto citado do exemplo
acima viesse fora das aspas, vocês colocariam aquele “A” em
maiúscula? Aí está o ponto. Corrigida, a estrutura fica assim:
De acordo com entendimento doutrinário consolidado, “a
falsidade de um determinado...
Notem, todavia, que, se a frase viesse em uma estrutura com
dois-pontos, a inicial maiúscula seria recomendada:
De acordo com entendimento doutrinário consolidado: “A
falsidade de um determinado...
Atenção: o contrário do que foi dito inicialmente também pode
ocorrer, isto é, o texto original vir com inicial minúscula mas ser
citado no texto da peça em inicial maiúscula. Isso acontece sempre
que a citação for antecedida de dois-pontos. Por exemplo:
Razão não assiste ao autor. Isso porque, segundo Arnoldo Wald:
“O usucapião ordinário é aquele que preenche os requisitos de

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boa-fé e justo título...”.
Ainda que o “O” de “O usacapião” tenha vindo em minúscula no
texto original, a estrutura acima está corretíssima, pois a citação está
antecedida de dois-pontos.
Era isso.

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169. PARA EMBARGOS, SÓ DEVO USAR O VERBO
“OPOR”?
Há uma crença entre os operadores jurídicos, oriunda não sei de
onde, que quando se trata de embargos o verbo respectivo deve ser
sempre “opor”. Em razão dessa equivocada compreensão, tenho
encontrado textos como:
“O prazo para OPOR embargos à execução contra a fazenda
pública é de trinta dias úteis. No caso concreto, o embargante os
OPÔS quando decorridos 42 dias úteis. Assim, OPOSTOS de forma
intempestiva, não devem ser admitidos”.
Notem que o autor desse texto, crente que só pode escrever
assim, acabou usando o “opor” três vezes, o que deixou o texto
cansativo.
Gente, é falso o entendimento de que para embargos só se deve
usar o verbo opor.
De início, como o verbo opor tem sentido de “obstar”,
“contrapor”, enfim, sentido de defesa, para mim só deveria ser
usado para classes processuais dessa natureza, cujo exemplar típico
são os embargos à execução. Pela leitura do CPC, todavia, vemos
que o Código permite o verbo “opor” para todo tipo de embargos
(à exceção dos embargos de divergência, que vem com o verbo
“interpor”).
Ocorre que o CPC também traz outras formas (verbais ou
nominais) junto aos embargos. Por exemplo, na hipótese de
“embargos à execução”, traz as formas “apresentar” e “oferecer”
(art. 239, § 1º; art. 914, § 2º); no caso de “embargos à ação
monitória”, “apresentar” (art. 701, § 2º); no de “embargos à
penhora”, “oferecer” (art. 857, caput).
Interessante é o caso dos “embargos de terceiro”, que, como são
autuados em apartado, requerem o verbo “ajuizar”, mas o Código
permite também as formas “opor” (art. 675, caput) e “oferecer” (art.
676, parágrafo único).
E o que dizer dos embargos de declaração? Bom, o CPC parece
permitir os verbos “opor” (art. 1.023, caput) e “interpor” (art. 1.003,
§ 5º). Eu prefiro “opor”, por ser já forma consagrada.
Vejam que não estou dizendo que usar “opor” para embargos
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está errado. Muito pelo contrário. Ainda que com isso eu não
concorde inteiramente, o emprego do “opor” SEMPRE está correto.
O que quero dizer é que vocês podem, para evitar a repetição desse
verbo, tranquilamente usar outros, como “ajuizar” (para embargos
de terceiro), “oferecer” e “apresentar”.
Era isso.

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170. USANDO OS CONECTIVOS “ALIÁS”, “ALÉM
DISSO”, “NÃO BASTASSE ISSO” E EQUIVALENTES
Pessoal, existe uma técnica de argumentação que eu gosto de
utilizar nas minhas peças e de perceber naquelas que chegam até a
mim. Trata-se da técnica que denomino de “deixar para último o
que é mais importante”, para a qual conectores como “aliás”, “além
disso”, “não bastasse isso” e “por sinal” são de enorme valia. Vou
mostrar como ela funciona na prática.
Vamos supor que vocês tenham de interpor agravo de
instrumento contra decisão que deferiu, em autos de recuperação
judicial, pedido da empresa recuperanda de prorrogação do prazo
de suspensão de todas as ações e execuções contra ela.
Pois bem. A fim de sustentarem o cabimento do recurso, vocês
podem começar dizendo que, apesar de nem a Lei de Recuperação
Judicial nem o CPC trazerem previsão de agravo de instrumento
contra tal conteúdo decisório, o caso de vocês não pode esperar até
o julgamento de possível apelação (e expliquem por que não pode
esperar).
No parágrafo seguinte, vocês podem argumentar que
recentemente o STJ decidiu pela interpretação extensiva do art.
1.015 do CPC para nele incluir hipóteses em que a questão discutida
na decisão agravada tenha de ser resolvida antes da prolação da
sentença.
E é agora que entra a técnica do “deixar para último o que é mais
importante”. Iniciando o próximo parágrafo com um “Não bastasse
isso”, vocês introduzirão aquele que na verdade é o argumento
principal: que, em também recente decisão (REsp n. 1.722.866), o
STJ assentou que, em demandas que versam sobre recuperação
judicial, é aplicado de forma analógica o parágrafo único do art.
1.015 do CPC para permitir a interposição de agravo de
instrumento também para esses casos.
Pronto. Quando vocês fazem isso, isto é, quando trazem o
argumento mais forte de todos no final, precedido de conectores
como “Não bastasse isso”, o leitor meio que se vê obrigado a acatar
a tese que estão sustentando. É como se esse argumento derradeiro
fechasse um círculo no raciocínio dele, em um caminho sem volta.

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Era isso.

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171. CONSIDERA-SE INEPTA A INICIAL, DENTRE
OUTRAS HIPÓTESES, QUANDO LHE FALTAR PEDIDO
OU CAUSA DE PEDIR. A FORMA CORRETA É
“DENTRE” OU “ENTRE”?
Pessoal, raramente o “dentre” será empregado nas nossas peças.
A preposição “dentre” é uma junção da preposição “de” com a
preposição “entre”. Assim, somente será usada quando o verbo
exigir tanto a preposição “de” quanto a preposição “entre”.
Exemplos desses tipos de verbo são “extrair”, “tirar”, “sair”,
“surgir” e “retirar”.
“Extrai-se DENTRE as providências determinadas aquela que
consta à fl. 21” (certo – extrai-se alguma coisa “DE algo”, e este algo
está “entre”).
Para os demais casos, que são a imensa maioria, vocês usarão
sempre “entre”:
“Com a entrada em vigor do CPC, realizaram-se algumas
alterações no procedimento especial de prestação de contas. ENTRE
elas a de maior importância foi a modificação da natureza do
provimento jurisdicional prolatado no final da primeira fase”
(certo).
“Uma vez que a Oi S.A. é sucessora da Telesc S.A., deve arcar
com os ônus assumidos por esta, ENTRE eles a emissão de ações
em decorrência da desestatização da Telebrás” (certo).
“ENTRE outras medidas, o magistrado indeferiu a tutela
antecipada” (certo).
“O Código de Processo Civil de 2015 concebeu, ENTRE as suas
normas fundamentais, o princípio da não surpresa, decorrente dos
princípios do contraditório e da ampla defesa” (certo).
“Considera-se inepta a inicial, ENTRE outras hipóteses, quando
lhe faltar pedido ou causa de pedir” (certo).
Lembrem: o “dentre” é de uso muito restrito em peças jurídicas;
só poderá ser empregado se ligado a verbos como aqueles
anteriormente mencionados. Já o “entre”, como acabamos de ver, é
de uso muito mais corrente nos nossos textos. Arrisco que devemos
usá-lo em 99,9% dos casos.

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Era isso.

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172. “FRENTE A” E “FACE A”: ESSAS EXPRESSÕES
ESTÃO ERRADAS

Duas expressõezinhas que aparecem muito em peças


jurídicas e que estão, contudo, ERRADAS. Vejam:
“Invocou o princípio da igualdade frente à decisão proferida
em caso análogo” (errado).
“Pugnou pela revogação da prisão preventiva face à
inexpressiva quantidade de droga” (errado).
“Alegou cerceamento de defesa frente ao indeferimento de
produção de prova” (errado).
“Face ao exposto, julgo improcedente o pedido” (errado).
Para corrigi-las, é bem fácil: basta substituí-las por “em face
de”, “diante de”, “em frente de”, “ante o”:
“Invocou o princípio da igualdade DIANTE DA decisão
proferida em caso análogo” (certo).
“Pugnou pela revogação da prisão preventiva EM FACE DA
inexpressiva quantidade de droga” (certo).
“Alegou cerceamento de defesa DIANTE DO indeferimento
de produção de prova” (certo).
“ANTE O exposto, julgo improcedente o pedido” (certo).
Em relação à última frase, muito cuidado! O correto é “ante
O”, não “ante AO”; e “ante A”, não “ante À”. Construções
como “Ante à concessão da gratuidade da justiça, não foi
efetuado o preparo” estão, portanto, erradas.
ATENÇÃO: A expressão “em frente à” na frase “Em frente à
escola aconteceu um crime” está correta. Não vão confundir.
Nessa frase o sentido é diferente, e o problema é o “frente a”
sozinho, sem o “em”!
Era isso.

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173. “SUA DESISTÊNCIA IMPLICOU A EXTINÇÃO DO
PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO”: “A”
EXTINÇÃO OU “NA” EXTINÇÃO?
Ambas as formas estão corretas. O verbo “implicar” tanto pode
ser transitivo direto quanto transitivo indireto. Alguns estudiosos
dizem que há mudança de sentido quando se usa uma ou outra
transitividade, mas acho a mudança muito tênue para perder tempo
com ela.
“Sua desistência implicou A extinção do processo, sem resolução
do mérito” (certo).
“Sua desistência implicou NA extinção do processo, sem
resolução do mérito” (certo).
“O acolhimento parcial do apelo apenas para minorar o valor
arbitrado a título de lucros cessantes não implica sucumbência
recíproca” (certo).
“O acolhimento parcial do apelo apenas para minorar o valor
arbitrado a título de lucros cessantes não implica EM sucumbência
recíproca” (certo).
“O reconhecimento da revelia não implica A procedência do
pedido” (certo).
“O reconhecimento da revelia não implica NA procedência do
pedido” (certo).
“Na vigência do CPC/1973, a falta de comprovação do preparo
no ato da interposição do recurso implicava deserção” (certo).
“Na vigência do CPC/1973, a falta de comprovação do preparo
no ato da interposição do recurso implicava EM deserção” (certo).
Eu prefiro a regência transitiva indireta (com “em”), não sei por
quê. Parece que soa melhor na frase. Mas os dois jeitos estão
corretos.
Era isso.

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174. ALGUMAS DICAS SOBRE REDAÇÃO DA PETIÇÃO
INICIAL
Não há dúvida de que a petição inicial é a peça mais importante
de que o advogado dispõe para falar nos autos (o advogado do
autor, claro; se for o do réu, é a contestação), pois ela delimita o
âmbito de atuação do juiz.
A forma “Dos fatos”, “Do direito” e “Dos pedidos” é consagrada,
e não vejo problema nenhum nela. Ao contrário, essa forma deixa o
texto organizado e conduz o raciocínio do juiz. Tomem cuidado
para narrarem os fatos de maneira correta, pois muitas vezes de um
mesmo fato decorrem consequências diferentes.
A petição inicial deve ser escrita de forma clara e objetiva. A
causa que defendem não é complexa? Então nada de redigirem
petições longas, de 15, 20 páginas. Se o que seu cliente quer é ser
compensado por dano moral em razão de inscrição do seu nome no
SPC, três páginas bastam; mais do que isso é prolixidade, e o juiz,
principal leitor das suas peças, odeia.
Sabem de algum fato que vai contra o seu cliente? Revelem logo
na petição inicial. Quando o juiz fica sabendo de algo que vai contra
o seu cliente apenas na contestação, fica com a impressão de que
vocês estão faltando com a verdade e passa a dar menos peso para
os seus argumentos. Óbvio que só revelarão o que puder ser
revelado.
Apenas aceitem a causa se a conhecerem bem. Muitos dos erros
gramaticais encontrados nas peças têm a ver com o não domínio do
caso pelo advogado. Parece não fazer sentido isso que eu acabei de
dizer, mas é verdade. A insegurança reflete na escrita. Outra hora
falo mais sobre isso.
Vai transcrever lição doutrinária? Lembre-se de que o juiz sabe
de cor os pressupostos da responsabilidade civil. Não precisa você
citar duas ou três páginas do livro do Yussef Said Cahali sobre o
tema.
Vai transcrever jurisprudência? Só sobre isso daria um post
inteiro. Mas por ora vou dar uma dica que considero útil: tente usar
mais precedentes do tribunal a que o juiz da causa esteja vinculado
do que de outros. Quando vocês, que ajuízam a demanda em
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Salvador, começam a transcrever muitos precedentes do Rio
Grande do Sul, o juiz pode inconscientemente passar a desconfiar
que o entendimento que trazem não é aquele do TJBA.
Era isso.

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175. O QUE SIGNIFICA UM DICIONÁRIO TRAZER
PALAVRAS QUE OUTRO NÃO TRAZ? O QUE FAZER
QUANDO DICIONÁRIOS DIVERGEM SOBRE A
GRAFIA DE PALAVRAS? SE UMA PALAVRA NÃO
CONSTA NOS DICIONÁRIOS, ELA NÃO EXISTE?
Certa vez um aluno me perguntou se o fato de a palavra
“inocorrência” não constar nos dicionários quer dizer que ela não
existe. Em tom de brincadeira, mas falando sério, respondi: “Existir,
ela existe, senão não a terias pronunciado”.
Bom, há vários dicionários no mercado; cada um elaborado por
uma equipe de lexicógrafos (nome dado àqueles que redigem
dicionários). Então o fato de uma palavra constar somente em
alguns dicionários não significa nada. Quer dizer, significa apenas
que, no dicionário no qual a palavra não aparece, a respectiva
equipe de lexicógrafos não a incluiu, ou por achar não passível de
inclusão ou por esquecimento mesmo.
Pode ocorrer também de um mesmo vocábulo aparecer escrito de
maneiras diferentes em diferentes dicionários. Isso é muito comum
quando se trata de palavras compostas que trazem hífen. A palavra
“arco-da-velha”, por exemplo, aparece grafada sem os hífens no
Aulete Digital, mas em outros dicionários é grafada com eles. O que
fazer nesses casos? Há dois caminhos: ou adotem um dicionário e
usem apenas as grafias que ele traz, excluindo outras, ou escolham
a grafia trazida por qualquer dicionário.
Voltando agora à palavra do início do post. Vejam: o vocábulo
“inocorrência” realmente não aparece em nenhum dicionário. E
agora? Ele existe? Posso mesmo assim usá-lo nas minhas peças?
Bom, que ele existe não há dúvidas. Ocorre que não está
dicionarizado. Pessoal, nesses casos, em que não há registro de
determinada palavra nos dicionários, eu não a uso, não. Vocês
sabem que não sou contra neologismos e penso que os dicionários
nascem das palavras, não o contrário. Para evitar, todavia, qualquer
reprovação do meu texto pelos leitores mais atentos, prefiro não
arriscar e fazer conforme manda o figurino.
Uma última e importante observação: Não é porque uma palavra
não aparece nos dicionários COMUNS que ela necessariamente não
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poderá ser usada, pois, além destes, existem os dicionários técnicos
ou especializados, tão ou mais importantes quanto aqueles. A
palavra “prequestionamento”, por exemplo, não consta em nenhum
dicionário comum, mas consta em dicionários JURÍDICOS e,
portanto, seu uso é legítimo.
Era isso.

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176. OS VERBOS “INTERPOR” E “IMPETRAR”
Dando aqui uma folheada no grandioso Dicionário de Regência
Verbal, de Celso Pedro Luft (o qual desde já recomendo que vocês
comprem), fiquei surpreso ao constatar a regência dos verbos
“interpor” e “impetrar”. Sim, porque para mim o certo sempre foi
“a parte interpôs recurso NO Tribunal Superior do Trabalho”. Mas
não. Tanto o verbo “interpor” quanto o verbo “impetrar” são
bitransitivos (transitivos direto e indireto) e pedem a preposição
“a”, não a preposição “em”. Por isso, frases como as abaixo estão
ERRADAS quanto à regência:
“Inconformada, a ré interpôs apelação no Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro”.
“O paciente interpôs recurso no Supremo Tribunal Federal”.
“O acusado impetrou mandado de segurança no Superior
Tribunal de Justiça”.
Corrigidas, ficam assim:
“Inconformada, a ré interpôs apelação AO Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro” (certo).
“O paciente interpôs recurso AO Supremo Tribunal Federal”
(certo).
“O acusado impetrou mandado de segurança AO Superior
Tribunal de Justiça” (certo).
É, eu também acho estranho. Mas o certo é certo, né, pessoal.
Era isso.

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177. SE TODO MUNDO ESCREVE ASSIM, EU TAMBÉM
POSSO ESCREVER? A QUESTÃO DA PRAXE NA
REDAÇÃO JURÍDICA
Seguidor me perguntou se está correta a estrutura “João da Silva,
...através de seu advogado,... vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, propor...”, que vem no início de quase toda
petição inicial. Para ele, a palavra “através” estaria sendo usada
incorretamente, aquele “respeitosamente” seria desnecessário e a
oração “vem à presença de Vossa Excelência” não seria adequada.
Respondi dizendo que concordava com ele: que colocaria um
“por meio de” em vez do “através”, que para mim o
“respeitosamente” está de fato sobrando e que, apesar de correta, é
desnecessária aquela oração. Na sequência da resposta, contudo,
disse a ele que esse tipo de questionamento não teria lá tanta
relevância, pois essa forma de redigir a definição e a qualificação
das partes na petição inicial já é praxe jurídica, que, como tal, é
válida, ainda que não esteja tão bem-escrita assim.
Falando nisso, lembro-me de uma ocasião em que, dando aula
sobre redação de ementas de acórdãos, disse aos alunos que não há
norma sobre a elaboração do cabeçalho (aquela parte superior da
ementa) e que, como a imensa maioria dos tribunais o trazem em
caixa-alta, a forma correta seria essa. Depois de ter falado isso, um
aluno me indagou se “só porque a maioria dos tribunais faz assim,
deveríamos também fazer”, ao que respondi, para a surpresa de
alguns dos presentes, com um sonoro “SIM, EVIDENTE”. E pela
mesmíssima razão: se é prática consolidada, deve ser respeitada.
Não adianta remar contra a maré!
A mensagem que eu queria trazer hoje era esta então: não leva a
nada, não traz nenhum resultado prático para a causa que estamos
defendendo preocuparmo-nos com questões relacionadas à forma
da peça, QUANDO TAIS QUESTÕES CONSTITUÍREM PRAXE DA
REDAÇÃO JURÍDICA, a exemplo da estrutura apresentada pelo
seguidor. Nesses casos, portanto, se todo mundo escreve de uma
maneira, não vejo motivo razoável para que vocês também não
possam fazê-lo.
Era isso.

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178. CUIDADO COM A PALAVRA “PERANTE”
Gente, muito, mas muito cuidado mesmo com a preposição
“perante”. Como a vejo usada de forma errada em peças jurídicas!
Bom, para começar, “perante” significa “diante de”, “na presença
de”, “em frente de”. Então, a frase “ingressou com ação declaratória
perante o Juízo da 1ª Vara Cível” está errada, pois ninguém
ingressa com ação “na presença do” juízo, mas “no” juízo. Portanto,
corrigida, a frase fica assim:
“Ingressou com ação declaratória NO Juízo da 1ª Vara Cível”.
Nesse sentido, também estão incorretas as frases:
“A operadora do plano de saúde está em atividade regular
perante a Agência Nacional de Saúde” (o certo é “na Agência”).
“O juiz que se deu por impedido também atua perante o juizado
especial cível” (o certo é “no juizado”).
Agora muita atenção: como eu disse no início, a palavra
“perante” é preposição, e as preposições não podem vir, em regra,
seguidas de outra preposição. Assim, quem escreve “perante AO
juiz, disse que não ouviu nenhum tiro” escreve errado, pois o “a”
de “ao” é preposição. Para acertar na gramática, deve-se escrever
assim:
“Perante O juiz, disse que não ouviu nenhum tiro” (certo).
Por fim, vejam a seguinte estrutura:
“Joaquim de Sousa, já devidamente qualificado nos autos do
processo em epígrafe, vem, perante a Vossa Excelência, esclarecer e
requerer o seguinte:”
Novamente, prestem atenção! Antes de pronomes de tratamento
não pode haver artigo definido (aliás, essa é a razão para o não uso
da crase antes deles). Então, aquele “a” antes de “Vossa Excelência”
só pode ser preposição. Ocorre que, como acabamos de ver, a
palavra “perante”, preposição, não pode ser seguida de outra
preposição. Escrita corretamente, a frase fica assim:
“Joaquim de Sousa [...] vem, perante Vossa Excelência, esclarecer
e requerer o seguinte:”
Era isso.

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