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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

2ª CÂMARA CRIMINAL

Autos nº. 0104766-83.2023.8.16.0000

Habeas Corpus Criminal n° 0104766-83.2023.8.16.0000 HC


1ª Vara Criminal de Toledo
Impetrante(s): SULIVAN RODRIGO PRAXEDES DOS SANTOS
Impetrado(s):
Relator: Desembargador José Maurício Pinto de Almeida

HABEAS CORPUS. CRIMES DE PORTE ILEGAL DE ARMA


DE FOGO (ART. 14 DA LEI N. 10.826/2003 – 1º FATO),
INGRESSAR ASTUCIOSAMENTE CONTRA A VONTADE
EXPRESSA NA RESIDÊNCIA DA VÍTIMA: INVASÃO DE
DOMICÍLIO (ART. 150, § 1º, DO CP - 2º FATO), VIAS DE
FATO COM A VÍTIMA (ART. 21 DA LCP – 3º FATO) E
AMEAÇA (ART. 147, CAPUT, DO CP – 4º FATO), NO
ÂMBITO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (LEI N. 11.340/2006).
PLEITO DE REVOGAÇÃO DO MONITORAMENTO
IMPOSTO CONJUNTAMENTE COM OUTRAS MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. ADUZIDA
EXISTÊNCIA DE FATOS NOVOS. NÃO ACOLHIMENTO.
ARGUIÇÃO DE QUE A VÍTIMA NARROU “ESTAR EM
PAZ” COM O PACIENTE QUE, POR SI SÓ, NÃO CONDUZ
A REVOGAÇÃO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO.
POSSIBILIDADE DE RECONCILIAÇÃO DO CASAL. NÃO
CONSTATAÇÃO. FATOS DENUNCIADOS DE GRAVIDADE
CONCRETA. OUTROSSIM, TRATA-SE DE AÇÃO PENAL
PÚBLICA INCONDICIONADA, EM QUE AS VONTADES E
DELIBERAÇÕES DAS PARTES ENVOLVIDAS NÃO
SUPLANTAM A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E A
PROTEÇÃO DA INTEGRIDADE FÍSICA E PSÍQUICA DA
MULHER.REVOGAÇÃO QUE NÃO SE ACOLHE. ORDEM
DENEGADA.
I.

Trata-se de habeas corpus,com pedido liminar, em que as impetrantes JÚLIA TORRES E


NATÁLIA BITENCOURT GASPARIN (advogadas)pretendem fazer cessar suposta
coação ilegal perpetrada contra o paciente SULIVAN RODRIGO PRAXEDES DOS
SANTOS, alegando violação de sua liberdade de ir e vir.

As impetrantes sustentam a ilegalidade da seguinte forma:

a)-as medidas protetivas que haviam sido determinadas em favor da vítima Claudiane
Sotoriva, ex-companheira do Paciente, foram revogadas pelo Ilustre Magistrado titular da
Vara Criminal (mov. 39 dos autos 0011110-47.2023.8.16.0170);

b)- apesar da demonstração da revogação das medidas protetivas, o Magistrado Substituto


preliminarmente determinou que o Paciente se pronunciasse sobre o desejo de permanecer
residindo em Toledo (local da processo-crime) ou se passaria a residir em Amambai-MS,
local em que estava sua filha; em resposta,o Paciente informou que iria fixar residência
em Amambai-MS, declinando o endereço em que residiria(mov. 25);

c)- diante das informações,o Ilustre Magistrado revogou a prisão preventiva, contudo
“reimplantou” as medidas protetivas que haviam sido revogadas pelo Juiz Titular e
dispensadas pela vítima;

d)-o Paciente, após deixar a prisão, foi levado ao médico, que determinou internação
imediata,diagnosticando necessidade de urgente intervenção cirúrgica para extração da
vesícula e encaminhamento para médico oncologista;tal situação, com os documentos
médicos, foi levada ao Magistrado, para justificar a permanência do paciente em Toledo;
e)- foi apresentado novo pedido, com novos documentos médicos,inclusive resultado de
tomografia e ultrassonografia, bem como marcação de consulta no CEONC - Centro de
Oncologia de Cascavel, requerendo o Paciente autorização para permanecer em Cascavel
até o dia do exame oncológico (mov. 109), pedido que foi deferido;

f)-novo pedido foi apresentado, solicitando autorização para o Paciente vir a Toledo para
assinar uma escritura pública de reconhecimento e dissolução da união estável que até
então mantinha com a vítima Claudiane Sotoriva, a qual foi intimada para se manifestar
sobre a concordância, ou não, com a presença do Paciente para assinar a escritura;ainda,
se o ato poderia ser prestado, pelo Paciente, por meio de procuração;

g)- mesmo antes de ser intimada, a vítima Claudiane, acompanhada da advogada atuante
na dissolução da união estável, espontaneamente, compareceu à Vara Criminal e, de
próprio punho, assentou “que não se opõe em se encontrar com o Senhor Sulivan, para
assinatura da escritura de reconhecimento e dissolução de união estável, pois que, segundo
consta em dita declaração de próprio punho ‘está tudo em paz entre nós’.” (mov. 130.2);

h)-o Ministério Público concordou com o pedido de revogação da monitoração eletrônica,


mas o Ilustre Juiz Substituto, de ofício, decidiu que as medidas protetivas devem ser
mantidas por mais um tempo e, como garantia de que ditas medidas protetivas serão
respeitadas, manteve, também por mais um tempo, a monitoração eletrônica, ensejando
enorme constrangimento ao Paciente, pois que a cada exame médico, e na internação
hospitalar para cirurgia, tem que explicar aquele aparato, sem contar a usual sinalização;

j)-o monitoramento eletrônico é instrumento ineficaz, vez que a própria vítima pode entrar
em contato e ir até o local em que o paciente se encontra;

k)- que o monitoramento eletrônico pune inclusive a própria vítima, na medida em que
interfere nas relações pessoais e sentimentos íntimos daquela e do Paciente, pois
interferem na possibilidade de conversas e encontros presenciais para o fim de
concretizar, se for o caso, uma reconciliação conjugal.
Assim, diante do alegado constrangimento ilegal, requereu a concessão da ordem, em
caráter liminar, com a revogação da medida cautelar de monitoramento eletrônico, e, ao
final, seja-lhe concedido o writ em definitivo.

O pleito liminar restou indeferido (mov. 12.1).

A douta PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA, em parecer (mov. 24.1) de lavra


da ilustre Promotora de Justiça Designada em 2º Grau, Dra. LUCIANA LINERO,
pronunciou-se pela não concessão do writ.

II.

BUSCA-SE A REVOGAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR DIVERSA DA PRISÃO DE


MONITORAMENTO ELETRÔNICO, aduzindo-se, para tanto, se tratar de medida inócua.

Assinala-se, em síntese, que a própria vítima expôs que não mais existe qualquer temor de
sua parte quanto aos fatos, sendo a referida medida desnecessária.

Pontua-se que a monitoração eletrônica enseja constrangimento ao Paciente diante de seu


quadro de saúde, pois, a cada exame médico e internação hospitalar para cirurgia, tem de
explicar o objeto, sem contar a usual sinalização.

Sem razão, contudo.

Foram decretadas medidas protetivas de urgência em desfavor do paciente nos autos do


processo n.º 0011110-47.2023.8.16.0170, em que se apura suposta prática dos crimes de
porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da lei n. 10.826/2003 – 1º fato), invasão de domicílio
(art. 150, § 1º, do CP - 2º fato), vias de fato com a vítima (art. 21 da LCP – 3º fato) e
ameaça (art. 147, caput, do CP – 4º fato), todos praticados no âmbito da violência
doméstica (Lei n. 11.340/2006).

[1]
Necessário se faz consignar a decisão ora impugnada :

“1.

Trata-se de pedido formulado pelo requerente por meio do qual pugnou pela revogação da
medida de monitoramento eletrônico, e da vedação de aproximação da vítima, dizendo, para
tanto, que (a) a vítima teria comparecido pessoalmente em Juízo solicitando a revogação das
medidas protetivas anteriormente concedidas, tendo ela demonstrado a ausência de temor em
relação ao acusado; (b) a manutenção da obrigação de não poder vir a Toledo e ser monitorado
eletronicamente não possuiria mais base e/ou necessidade; (c) a residência localizada na cidade
de Amambai-MS passaria a ser da propriedade da vítima com a assinatura da escritura pública,
não havendo mais vínculo dele com aquela localidade; (d) seu pai faleceu em 07.12.2022, certo
que ele residia em Toledo, na Rua Júlio de Castilho, n.º 3616 e sua irmã,atualmente residente
desse local, não quer deixá-la desabitada e pretende se mudar de lá; (e) possui váriasobrigações
em Toledo, tendo horário para consulta em Toledo.

Juntou documentos de seqs. 39.3-39.9.

Ouvido a respeito, o Ministério Público não se opôs à pretensão, batendo-se pela revogação da
monitoração.

Após a abertura de conclusão, foi juntado novo pedido (seq. 46) em que o requerente disse ter
sido consultado em Cascavel, em que foi marcada ressonância magnética para o dia
28.11.2023, havendo necessidade de sua vinda à Toledo tanto para assinatura da escritura
pública quanto para realização de consulta médica e eventual extração de vesícula, que estava
agendada para o dia 07.11.2023, mas que não se realizou. Contou que a permanência da
monitoração estaria "causando enorme trabalho para todos", "tolhendo a possibilidadede
tratamento médico".

Relatei. Decido.
É imperioso, primeiramente, destacar que a revogação ou revisão de qualquer decisão se
baseia, precipuamente, na alteração das premissas que a sustentam, e não, tão-somente, na
contrariedade ou na irresignação que a parte possui com o que deliberado.

Dito de outro modo: caso se verifique que os elementos que geraram a decisão se mantiveram
inalterados, de pouca (ou nenhuma) relevância o fato de que o cumprimento da ordem pode
estar dando "trabalho" ou gerando "dificuldades", já que é evidente que cabe à parte se
adequar ao comando judicial, e não o contrário. Aliás, acolher esse tipo de argumento como
possível para modificar a decisão significaria transformar o Poder Judiciário em "balcão de
negócios" em que se poderia suscitar questões pessoais de somenos importâncias para que a
deliberação fosse modificada.

Assim, uma coisa é haver um elemento de razoabilidade e gravidade na ordem dada (p.ex., uma
situação de saúde vinculada ao próprio uso da tornozeleira como vaso constrição, dores etc.);
outra, muito diversa, é a utilização da monitoração causar "trabalho".

Esse fundamento do pedido, com todo o respeito possível, é de diminuto peso para permitir a
revisão da decisão anterior.

E ela, como se verá, foi alicerçada em algumas premissas:(i) o requerente disse que passaria a
residir em Amambai-MS, local distante de Toledo; (ii) houve medidas protetivas que teriam
sido descumpridas pelo requerente, mas, igualmente, foi formulado pedido de sua revogação
por parte da vítima; e (iii) houve registros de que ele seria financeiramente responsável por
sua filha - que mora em Amambai-MS com seu neto.

A verificação do andamento processual, contudo, denota que ele nem sequer chegou a sair de
Cascavel,tendo lá permanecido desde sua soltura que, repito, havia condicionado sua liberdade
a manutenção de sua residência em Amambai-MS. Não ignoro, aliás, que isso se deu por
força dos exames médicos aos quais se submeteu; de todo o modo, todo o périplo por ele
lançado nos autos em suas variadas manifestações (todas elas, ressalto, albergadas pelo direito
constitucional da inafastabilidade do Poder Judiciário, e do exercício sagrado do direito de
defesa), indica, contudo, aparente resistência empírica no cumprimento dessa ordem, que
poderia levar ao indeferimento de seus pedidos.

Veja-se que, não ignoro(e jamais ignorei esses elementos - como aparentemente mencionado
de modo implícito no pedido de seq.39 -, até porque fiz referência expressa à isso na decisão
que deferiu o pedido aqui formulado) as manifestações volitivas da vítima acerca da revogação
das medidas protetivas e pedido aqui formulado do que por ela dito em Juízo; ocorre que a
aplicação das decisões e seu conteúdo - notadamente quando se trata de ações penais públicas
incondicionadas - não se submetem e não estão igualmente vinculadas ao que as partes
desejam com o processo.

A análise judicial (independente, até por força do que contido no Princípios de Bangalore),
embora não possa deixar de considerar os limites subjetivos e objetivos do que é posto à decidir,
respeitando-se, também, o princípio da inércia e a imparcialidade, que são apanágios do
Judiciário, se dá com base no convencimento(sendo criticável a sua verificação de modo ‘livre’)
racional e fincado em elementos probatórios e lógicos extraídos dos pedidos feitos, não estando,
assim, adstrito ao mero desiderato dos envolvidos (repito:notadamente em demandas desse jaez
em que há, para além da incondicionalidade da ação penal, elementos próprios de violências
estruturais e acachapantes cometidas contra mulheres).

E, justamente por isso, é que seria possível, quiçá, a manutenção das medidas impostas.

Contudo, não se pode deixar, igualmente, de levar em conta a manifestação volitiva de quem é
sujeito de proteção das medidas, que partem e repousam naquilo que essas pessoas pretendem
com o processo.

Assim, embora esses desejos não vinculem, eles não podem ser olvidados ou deixados de lado,
como se fossem desinfluentes na prolação da decisão, especialmente quando (e se) a decisão
gera efeitos e consequências para determinados indivíduos.

Conforme se verifica da seq. 31.1, as medidas cautelares diversas da prisão aqui lançadas se
deram, em grande parte, com base na necessidade de resguardo da própria vítima, mantendo-
se ali obrigações de impedimento de contato e aproximação com ela.

Embora a vítima tenha mencionado que não possuiria problemas em se encontrar com o
requerente para assinatura da escritura pública, nada há, nos autos, que indique seu desejo de
voltar a ter contato com ele, de modo que a inferência lançada na seq. 39 de que inexistiria
temor, receio, ou oposição, não parece ter arrimo nas manifestações da vítima, inclusive
quando se verifica nos autos da medida protetiva que há, nas conversas de seq. 35.1, aparente
preocupação dela em relação ao conhecimento de suas manifestações.

Contudo, se ela própria disse não mais pretender as medidas protetivas aplicadas, e se,
aparentemente, não se opôs à assinatura do termo, parece razoável (e proporcional, sob o
aspecto duplo dessa garantia) que se permita a modificação, mesmo que parcial, da decisão de
seq. 31.1.

Isso porque se há (a) contato entre as partes, mesmo que intermediado por suas Advogadas para
realização deassinatura de escritura pública; e (b) manifestação da vítima indicando que não
teria problemas em encontrá-lo para esse fim, parece seguro concluir que a presença do
requerente em Toledo não é mais elemento que poderia causar, na vítima, qualquer elemento
de perigo ou risco.

As demais medidas, porém, e até para que haja, igualmente, respeito à vítima e à
proporcionalidade em sua dupla acepção, devem ser mantidas por pelo menos mais 6 (seis)
meses, período suficiente para verificação da adstrição e comprometimento do acusado com o
respeito às deliberações judiciais aqui proferidas.

Assim, entendo possível revogar o item "d", de modo que não há mais óbice imposto para que o
requerente venha, permaneça e/ou resida em Toledo, bem como alterar o item "c" para que ele
fique autorizado a fixar sua residência em Toledo, cabendo ao requerente, em 5 (cinco) dias,
informar o Juízo o local em que passará a morar, ficando ciente de que somente poderá mudar
de residência mediante prévia autorização judicial.

Por fim, dada a necessidade de resguardo da já mencionada proporcionalidade, ficam


mantidas as obrigações de proibição de contato e de aproximação, mantendo ele distância
mínima de 200 (duzentos) metros da vítima, e, por pelo menos mais 4 (quatro) meses, a
monitoração eletrônica- visando, com isso, garantir o cumprimento das medidas e verificar a
adstrição do requerente às deliberações aqui emanadas.

3.

Ante o exposto, defiro, em partes, os pedidos de seq. 39 e 46, para (a) revogar o item "d" da
decisão de seq. 31.1 autorizando e permitindo ao requerente que possa vir e morar em Toledo;
(b) alterar os itens "a" e "c", da decisão de seq. 31.1, para que ele fique obrigado a comparecer
em Juízo sempre que for intimado, sem necessidade de sua vinda mensal ao Fórum, e para que
informe o Juízo o local em que passará a residir em Toledo, ou em outra localidade, juntando
aos comprovante de residência em até 10 (dez) dias; e(c) manter, por mais 4 (quatro) meses as
medidas de proibição de contato com a vítima, proibição de aproximação com a vítima,
mantendo distância mínima de 200 (duzentos) dela e monitoração eletrônica.

Considerando o deferimento parcial dos pedidos e o fato de que à vinda do não haverá mais
obstáculo à vinda do requerente `a cidade de Toledo, fica prejudicada a análise do pedido de
seq. 46.1, já que ele poderá,querendo, residir aqui, em Cascavel ou em qualquer outra
localidade, podendo, igualmente, comparecer para quaisquer consultas, exames ou
procedimentos médicos a serem realizados nessa cidade.
Decorrido o prazo de 4 meses fixado, sem notícia de descumprimento e sem pedido expresso da
vítima para manutenção das medidas cautelares diversas da prisão, sem necessidade de
ulterior conclusão, fica desde já determinada a revogação da monitoração eletrônica, com a
expedição do respectivo contramandado para retirada do aparelho instalado.

Comunique-se à central de monitoramento acerca da decisão ora proferida.

Com a juntada do endereço em que o requerente passará a residir, independentemente de nova


conclusão,comunique-se a central para as anotações necessárias, e promovam-se as retificações
no PROJUDI (nesse incidente e no processo principal)”.

De se pôr a realce que a decisão que decretou a prisão preventiva foi motivada no risco à
ordem pública e à vítima, bem assim na possibilidade de aquele reincidir na conduta.

Registre-se que o paciente, além deste procedimento em trâmite, também está sendo
processado pela prática do crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14. Da Lei nº 10.826
/2003) – processo crime n. 0007797-88.2017.8.16.0170; foi condenado no processo crime
n. 0012132-87.2016.8.16.0170,pela prática do crime de embriaguez ao volante (art. 306
do CTB).

Frise-se que, a despeito de existir no processo-crime n. 0007797-88.2017.8.16.0170


manifestação Ministerial de 1º grau de reconhecimento da prescrição da pretensão
punitiva estatal pela pena em perspectiva, isso não afasta o fato de estar envolvido
novamente com porte de arma de fogo sem autorização legal, situação que apresenta
relevo.

Há, ainda, informação extraída do procedimento cautelar de medidas protetivas de


urgência, mais precisamente do diálogo travado entre integrantes da Patrulha Maria da
Penha[2] e a vítima, dos quais se extrai que, não obstante aquela narrar a desnecessidade
de manutenção das medidas protetivas, pontua que ainda não superou a violência
sofrida, bem como demonstra certa preocupação com o fato de que o ora paciente
tem acesso a todos os seus passos no processo. Questiona, ainda, acesso a advogado e
assistência social.
No âmbito da violência doméstica contra a mulher, tais informações acima pontuadas se
apresentam relevantes, isso é, o que a experiência nos traz e indica.

Tem-se a esclarecer que a decisão de determinação de manutenção do monitoramento


eletrônico não exsurge como uma punição, mas, sim, revela uma cautela e até mesmo uma
contribuição para com o paciente, que poderá trazer para seus atos maior ponderação, o
que traduz uma melhora nas tratativas futuras com a vítima.

A despeito dos fundamentos trazidos em razões de impetração, não se verifica qualquer


indício de reconciliação do casal e, ainda que houvesse, a jurisprudência é remansosa no
sentido de que retorno ao convívio posteriormente aos fatos se mostra irrelevante, pois
trata-se de ação penal pública incondicionada, sendo certo que as vontades e deliberações
das partes envolvidas não suplantam a garantida da ordem pública e a proteção da
integridade física e psíquica da mulher.

Pelo exposto, em que pesem os argumentos expendidos pelas impetrantes, é de se


denegar a ordem ao paciente SULIVAN RODRIGO PRAXEDES DOS SANTOS.

[1] Mov. 47.1 – n. 0011387-63.2023.8.16.0170.

[2] Mov. 35.1 – Relatório Patrulha Maria da Penha.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 2ª Câmara


Criminal do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
DENEGADO O HABEAS CORPUS o recurso de SULIVAN RODRIGO PRAXEDES DOS
SANTOS.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador José Maurício


Pinto de Almeida (relator), com voto, e dele participaram Desembargador Mário Helton Jorge
e Desembargador Luís Carlos Xavier.
01 de fevereiro de 2024

Desembargador José Maurício Pinto de Almeida

Relator

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