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ATOS DE COMUNICAÇÃO PROCESSUAL

Da citação

Conceito: É o ato oficial pelo qual, ao início da ação, dá-


se ciência ao acusado de que, contra ele, se movimenta esta
ação, chamando-o a vir a juízo, para se ver processar e
fazer a sua defesa.

Compõe-se a citação de dois elementos básicos: a


cientificação do inteiro teor da acusação e o chamamento do
acusado para vir apresentar a sua defesa. Toda vez que uma
destas finalidades não for atingida, haverá vício no ato
citatório. Assim, a citação que apenas chamar o réu sem
inteirar-lhe previamente do conteúdo da denúncia ou queixa
será irremediavelmente nula, por ofensa ao princípio
constitucional da ampla defesa (CF, art. 5º, LV).

No Processo Penal, a citação é feita apenas uma vez, pois o


processo de execução configura simples prosseguimento da
relação processual já instaurada.

Atenção: somente o acusado, por ser o único sujeito passivo


da pretensão punitiva, pode ser citado.

Mesmo nos casos do insano mental, a citação não poderá ser


feita na pessoa do representante legal. Evidentemente, se
já houver sido instaurado o incidente de insanidade mental
(CPP, art. 149, § 1º, primeira parte) e a perturbação já
for conhecida do juízo, a citação deverá ser feita ao
curador nomeado. Por outro lado, ainda que desconhecido do
juízo, se o estado de perturbação for aparente e o oficial
de justiça constatá-lo, sem qualquer dúvida, esta condição
deverá ser certificada no verso do mandado, a fim de que o
juiz possa determinar a instauração do respectivo incidente
e nomear-lhe curador.

Finalmente, na hipótese de responsabilidade penal de


pessoas jurídicas (CF, arts. 225, § 3º, e 173, § 5º; Lei n.
9.605/98), não resta dúvida de que a citação será efetuada
na pessoa do representante legal.

Quem determina a citação: Somente cabe ao juiz determiná-la


e, normalmente, a oficial de justiça cumpri-la.

Tratando-se de infrações da alçada do Juizado Especial, a


citação pode ser feita de viva voz, na própria Secretaria,
por qualquer dos funcionários com atribuições para tanto,
nos termos do art. 66 da Lei n. 9.099/95.

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Falta de citação

A citação do acusado no processo penal é indispensável,


mesmo que tenha ele conhecimento do processo por outro
motivo (interpelação, defesa preliminar etc.) e sua falta é
causa de nulidade absoluta do processo (CPP, art. 564, III,
e), porque afronta os princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa.

O acusado ver-se-ia processado sem ao menos ter a


possibilidade de contrariar as imputações que lhe foram
lançadas.

Atenção: diz a lei (CPP, art. 570) que a falta ou nulidade


da citação “estará sanada, desde que o interessado
compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o
faz para o único fim de argui-la”.

Com base nisso, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que


fica afastada a falta ou defeito da citação, quando o réu
comparece em juízo e é interrogado (RT, 610/452).

Esta regra, no entanto, deve ser entendida em termos. Como


já foi dito, a citação tem dupla finalidade: cientificar o
acusado do inteiro teor da acusação e chamá-lo para vir a
juízo apresentar a sua defesa. O comparecimento de quem não
foi citado atende a esta última finalidade, mas não impede
a ausência de conhecimento prévio da imputação. Não se pode
conceber que o réu fique sabendo do conteúdo da denúncia ou
queixa no exato instante em que é interrogado pelo juiz.

Haveria clara violação do direito à ampla defesa e do


direito à informação. Assim, o comparecimento espontâneo do
acusado supre a falta da citação, na medida em que se lhe
garanta tudo o que a citação válida lhe traria, ou seja,
conhecimento antecipado da imputação, tempo mínimo de vinte
e quatro horas entre esta ciência e o interrogatório, e
possibilidade de entrevistar-se previamente com seu
advogado.

Importante observar que, com o advento das Leis n.


11.689/2008 e 11.719/2008, o interrogatório deixou de ser o
primeiro ato da instrução, passando a integrar a audiência
concentrada dos arts. 400, 531 e 411 do CPP. Desse modo, o
acusado não é citado para comparecer ao interrogatório, mas
para oferecer a defesa inicial, consoante a atual redação
dos arts. 396 e 406 do CPP.

Efeitos da citação válida: A citação válida não torna


prevento o juízo, o que ocorre somente na hipótese do art.
83 do Código de Processo Penal.

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Não interrompe a prescrição, uma vez que isto se dá com o
recebimento da denúncia ou queixa (CP, art. 117, I). Não
induz também litispendência, pois a lide reputa-se pendente
com a propositura da demanda.

Assim, o único efeito da citação será o de completar a


relação jurídica processual, triangularizando-a. Com a
citação válida instaura-se o processo e passam a vigorar em
sua integralidade os direitos, deveres e ônus processuais,
bem como todos os princípios derivados do due process of
law.

Consequências do não atendimento à citação:

Uma vez citado, fica o réu vinculado à instância, com todos


os ônus daí decorrentes. Em decorrência desta vinculação, o
acusado deverá comparecer quando citado, bem como toda vez
em que for intimado.

Sua inércia em atender ao chamado denomina-se contumácia,


que significa ausência injustificada. O efeito imediato da
contumácia é a revelia, ou seja, “o processo seguirá sem a
presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente
para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo
justificado, ou, no caso de mudança de residência, não
comunicar o novo endereço ao juízo” (CPP, art. 367).

Com a revelia, deixará de ser comunicado dos atos


processuais posteriores, porém, contra ele não recairá a
presunção de veracidade quanto aos fatos que lhe foram
imputados, ante o princípio da verdade real, que norteia o
processo penal.

Mesmo revel, o réu poderá, em qualquer fase do processo,


retomar o seu curso, restabelecendo-se o contraditório. O
fenômeno da revelia somente se verificará nas hipóteses de
contumácia de réu citado pessoalmente ou por edital,
quando,
neste último caso, tiver defensor constituído.

O prosseguimento do processo sem a presença do acusado se


verifica também quando o réu, notificado para qualquer ato
do processo, não acudir à notificação ou intimação nem der
qualquer justificativa.

Também seguirá o processo sem a sua presença se ele mudar


de residência sem fazer a devida comunicação ao juízo, ou
seja, sem indicar onde poderá ser encontrado. Estando o réu
sob fiança, esta será havida como quebrada, perdendo ele a
metade do valor, cabendo ao juiz decidir sobre a imposição

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de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a
decretação da prisão preventiva (CPP, arts. 328 e 343).

Classificação: A citação, no processo penal, pode ser:

1º) real, pessoal ou in faciem: é a feita efetivamente na


própria pessoa do acusado, gerando a certeza de sua
realização. Procede-se mediante mandado (CPP, art. 351),
carta precatória (CPP, art. 353) ou de ordem (determinada
por órgão de jurisdição superior), requisição (CPP, art.
358) e carta rogatória (CPP, arts. 368 e 369);

2º) ficta ou presumida: é a realizada por meio da


publicação ou afixação em local determinado, de editais
contendo a ordem de citação (CPP, arts. 361 e s.).

Não existia no processo penal a chamada “citação por hora


certa”, tão comum no âmbito do processo civil. No entanto,
passou a ser expressamente admitida, consoante o teor do
art. 362 do CPP: “Verificando que o réu se oculta para não
ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e
procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida
nos arts. 251 a 254, do CPC”.

Da citação por mandado: Mandado é a ordem escrita,


corporificada em um instrumento e emitida pela autoridade
competente para o cumprimento de determinado ato. Quando a
ordem for proveniente do juiz, denominar-se-á mandado
judicial, que, conforme sua finalidade, apresenta várias
designações: mandado de citação, mandado de busca e
apreensão etc.

Destina-se à citação do réu em local certo e sabido, dentro


do território do juízo processante. Lugar certo diz
respeito ao país, estado e cidade; lugar sabido refere-se
ao bairro, rua e número. O mandado de citação é cumprido
pelo oficial de justiça.

Dia e hora da citação: A citação pode ser realizada a


qualquer tempo, dia e hora, inclusive domingos e feriados,
durante o dia ou à noite. Se o oficial de justiça não
encontrar o citando no endereço constante do mandado, mas
obtiver informações quanto ao seu paradeiro, deverá
procurá-lo nos limites territoriais da circunscrição do
juízo processante.

Observação: Não se deve proceder à citação dos doentes


enquanto grave o seu estado; dos noivos, nos três primeiros
dias de bodas; a quem estiver assistindo ao ato de culto
religioso; ao cônjuge ou a outro parente do morto,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral em segundo

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grau, no dia do falecimento e nos sete dias seguintes. No
conceito de cônjuge devem ser incluídos os companheiros
reunidos pelo laço da união estável, em face do art. 226, §
3º, da CF, que reconhece a união estável entre homem e
mulher como entidade familiar.

No que se refere à relação homoafetiva, o Plenário do STF


já decidiu que “não obsta que a união de pessoas do mesmo
sexo possa ser reconhecida como entidade familiar apta a
merecer proteção estatal” (cf. Informativo do STF, n. 625,
Brasília, 2 a 6 de maio de 2011).

Citação por carta precatória

Destina-se à citação do acusado que estiver no território


nacional, em lugar certo e sabido, porém fora da comarca do
juízo processante (CPP, art. 353).

Constitui na realidade um pedido formulado pelo juízo


processante ao juízo da localidade em que se encontra o
réu, no sentido de que este último proceda ao ato
citatório. Pressupõe que os juízos sejam da mesma instância
(grau de
jurisdição), pois se trata de mera solicitação, e não de
determinação.

Tal pedido é remetido por meio de uma carta, daí o nome de


“carta precatória” (de precatoriu, isto é, uma carta na
qual se pede algo): carta, porque tem forma de carta;
precatória, porque contém um pedido.

O juiz solicitante (onde corre o processo) denomina-se


deprecante, enquanto o solicitado, deprecado (onde está o
citando). O primeiro pede que o segundo mande citar o
acusado, não importando se o juízo deprecado encontra-se
sediado na mesma ou em outra unidade da Federação.

Citação do militar

Faz-se mediante a expedição de ofício pelo juízo


processante, denominado ofício requisitório, o qual será
remetido ao chefe do serviço onde se encontra o militar,
cabendo a este, e não ao oficial de justiça, a citação do
acusado (CPP, art. 358).

A requisição deverá obedecer aos mesmos requisitos


intrínsecos (CPP, art. 352) e extrínsecos do mandado (CPP,
art. 357), não se admitindo tenha o militar menos garantias
de defesa do que o civil. Se por acaso o militar residir ou
estiver prestando serviço em outra comarca, cumpre ao juiz

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processante expedir precatória, cabendo ao juiz deprecado a
expedição do ofício requisitório.

Citação do preso

Todos os réus, não importando a sua condição, deverão ser


pessoalmente citados por mandado. A redação do art. 360 do
CPP não deixa dúvidas quanto a isso: “Se o réu estiver
preso, será pessoalmente citado”.

Assim, o oficial de justiça deverá se dirigir ao


estabelecimento carcerário em que o réu se encontrar e
citá-lo pessoalmente, devendo atender às seguintes
exigências, sob pena de nulidade: (i) leitura do mandado ao
citando (preso ou não) pelo oficial; (ii) entrega da
contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação;
(iii) declaração do oficial, na certidão, da entrega da
contrafé e sua aceitação ou recusa (cf. CPP, art. 357).

Se o preso encontrar-se em outra comarca, far-se-á a


citação por meio de carta precatória.

Citação do funcionário público

Se o acusado for funcionário público da ativa será citado


por mandado. Mas exige a lei que o chefe da repartição onde
o citando exerce suas funções seja devidamente notificado
de que, em tal dia, hora e lugar, aquele funcionário deverá
comparecer para ser interrogado. Essa exigência é
necessária e se justifica a fim de que o chefe da
repartição disponha de tempo para substituir, naquele dia,
àquela hora, o funcionário cuja presença é reclamada pelo
juiz. Não há necessidade, portanto, dessa comunicação se o
funcionário estiver afastado do serviço (licença, férias
etc.).

Tratando-se de magistrado, a comunicação deve ser feita ao


presidente do tribunal, que deverá autorizar a licença para
que possa afastar-se dos serviços e de sua comarca. Quanto
ao membro do Ministério Público, a comunicação deve ser
feita ao procurador-geral.

Se o funcionário exercer suas funções fora da comarca do


juiz processante, expedir-se-á precatória, cabendo ao juiz
deprecado tomar as providências apontadas neste artigo.

Réu no estrangeiro

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O art. 368 uniformizou o tratamento para infrações
afiançáveis e inafiançáveis. Encontrando-se o acusado no
estrangeiro, em local certo e sabido, será sempre citado
por carta rogatória, mesmo que a infração seja afiançável.

Por outro lado, a fim de se evitar a prescrição, a Lei


determina a suspensão do prazo prescricional até o
cumprimento da carta rogatória.

A prescrição ficará suspensa até que a carta seja juntada


aos autos, devidamente cumprida.

Quando o acusado estiver em local incerto e não sabido,


aplica-se a regra geral e a citação será por edital com
prazo de quinze dias (CPP, art. 361).

Observação: No caso de citação em legações estrangeiras


(sede das embaixadas ou consulados), será expedida a carta
rogatória e remetida ao Ministério da Justiça, conforme os
arts. 783 e seguintes, para o seu cumprimento via
Ministério das Relações Exteriores (CPP, art. 369). Esta
regra somente se aplica aos funcionários da embaixada ou
consulado. No caso dos empregados particulares dos
representantes diplomáticos, a citação será por mandado ou
precatória, conforme o caso.

Finalmente, de acordo com o art. 222-A: “As cartas


rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a
sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os
custos de envio”.

Citação por carta de ordem

São as citações determinadas pelos tribunais nos processos


de sua competência originária, vale dizer, o tribunal
determina ao magistrado de primeira instância que cite o
acusado residente em sua comarca e que goze de prerrogativa
de foro.

São também as determinações de tribunais superiores para


tribunais de segundo grau.

Citação por edital

Consiste na citação por meio da publicação ou afixação na


entrada do fórum da ordem judicial de citação.

Hipóteses legais de citação por edital: 1º) Réu em local


incerto e não sabido: de acordo com o art. 363, § 1º, não
sendo encontrado o acusado, será procedida a citação por
edital. Neste caso, não se sabe o país, estado ou cidade

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(incerto), tampouco o endereço (não sabido) onde se
encontra o acusado. A prova de que o réu não foi encontrado
é a certidão lavrada pelo oficial de justiça encarregado da
execução do mandado de citação pessoal que o considera “em
lugar incerto e não sabido”.

É nula, pois, a citação quando não for exarada tal


certidão. Conforme dito acima, o citando deve ser procurado
em todos os endereços constantes dos autos, sob pena de
nulidade, mas o juízo não tem a obrigação de expedir
ofícios ao Tribunal Regional Eleitoral, ao Serviço de
Proteção ao Crédito ou à Polícia, para diligenciar acerca
do paradeiro do acusado. De acordo com a interpretação da
Súmula 351 do STF, é válida a citação por edital, se o
citando está preso em outra unidade da Federação, sendo
este fato desconhecido da autoridade processante.

O prazo do edital será de quinze dias (CPP, art. 361).

2º) Réu que se encontra em local inacessível: por motivo de


guerra, epidemia, calamidade pública ou qualquer outro
derivado de caso fortuito ou força maior.

Prazo do edital: Temos um prazo previsto na hipótese de o


réu não ser encontrado, o prazo será de quinze dias (CPP,
art. 361).

De acordo com o disposto no art. 365, V, do Código de


Processo Penal, o prazo do edital deve ser contado do dia
da publicação na imprensa do mesmo, ou, quando não houver,
do dia da sua afixação na entrada da sede onde funcionar o
juízo. É perfeitamente possível o entendimento de que foi
criada uma regra especial, pela qual o primeiro dia do
prazo será o da publicação ou da afixação, excepcionando a
regra geral dos prazos processuais constante do art. 798, §
1º, do Código de Processo Penal. Isto porque a norma fala
em contagem do prazo a partir do dia da publicação, devendo
este ser incluído como o primeiro dia no cômputo do lapso
temporal editalício.

Segundo o Prof. Fernando Capez, a lei não criou regra


especial, mas apenas apontou o dia da publicação como o dia
do começo. Sendo assim, incide a regra geral do art. 798, §
1º, c/c a Súmula 310 do STF, considerando-se como primeiro
dia do prazo o primeiro dia útil seguinte à publicação ou à
afixação.

O prazo é de vital importância, pois se o interrogatório


for marcado para antes do seu transcurso, haverá nulidade
insanável do processo. Por exemplo: edital publicado em 9

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de março, com prazo de quinze dias; o interrogatório
somente
poderá ser marcado a partir de 24 do mesmo mês (exclui-se o
dia do começo, incluindo-se o do final). Se, por acaso, o
dia 9 cair em uma sexta-feira, o prazo terminará em 26 de
março (contagem começaria na segunda, dia 12).

“Não havendo imprensa oficial na Comarca, o prazo


estabelecido no edital de citação é contado a partir da
afixação do édito no local de costume (art. 365, V, CPP)”
(TJSP, RSTJ, 59/57-8).

Importante mencionar que não basta a publicação do edital e


o decurso do prazo nele constante para que se repute
completa a citação, exigindo-se o art. 363, § 4º, do CPP, o
comparecimento do acusado em juízo, pois “Comparecendo o
acusado citado por edital, em qualquer tempo, o processo
observará o disposto nos arts. 394 e seguintes deste
Código”.

Da mesma forma, a atual redação do art. 396, parágrafo


único, do CPP, ao tratar da defesa inicial no procedimento
ordinário e sumário, prevê que, “No caso de citação por
edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do
comparecimento pessoal do acusado ou do defensor
constituído”.

Com o advento da Lei n. 9.271/96, grandes inovações foram


introduzidas no âmbito da citação editalícia, alterando-se
todas as regras antes aplicadas.

Prescreve a atual redação do art. 366, caput, do CPP, que


todas as vezes em que o acusado vier a ser citado por
edital, seja lá qual for a circunstância ensejadora, uma
vez não comparecendo para responder aos termos da ação, ou
se ao menos não constituir advogado, o processo será
suspenso, bem como o curso do prazo prescricional.

Isso significa dizer que se o réu não for encontrado,


procedida a citação editalícia, não comparecendo em juízo
nem nomeando defensor, o juiz determinará a suspensão do
processo e do lapso temporal prescricional.

Institui-se dessa forma não só uma causa suspensiva do


processo, mas também uma nova causa suspensiva da
prescrição da pretensão punitiva. Trata-se na realidade de
uma norma híbrida, na medida em que contém disposições de
caráter processual e penal.

O fundamento de tal inovação reside no direito à


informação. Derivado dos princípios constitucionais da

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ampla defesa e do contraditório, tal direito encontra-se
previsto na Convenção Americana de Direitos Humanos (1969),
conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, a qual foi
assinada em 22 de novembro de 1969 e ratificada pelo Brasil
em 25 de setembro de 1992, passando a ter força de lei.

Referida Convenção, em seu art. 8º, b, assegura a todo


acusado o direito à comunicação prévia e pormenorizada da
acusação formulada. Assim, não mais se admite o
prosseguimento do feito, sem que o réu seja informado
efetivamente, sem sombra de dúvida, da sua existência.

Observação: Na hipótese de crime de lavagem ou ocultação de


bens, direitos e valores, previsto no art. 1º da Lei n.
9.613, de 3 de março de 1998 – Lei de Lavagem de Dinheiro
–, não se aplica o disposto no art. 366 do Código de
Processo Penal, não incidindo nenhuma das inovações
introduzidas pela Lei n. 9.271/96 (Lei n. 9.613/98, art.
2º, § 2º).

Sendo o réu citado por edital, o processo seguirá à sua


revelia, não havendo que se falar também em suspensão da
prescrição.

Período de suspensão da prescrição: para os crimes


cometidos após 17 de junho de 1996, há um novo problema.
Poderia a prescrição ficar suspensa indefinidamente por
trinta, quarenta, cinquenta anos, até que o acusado seja
localizado?

Não nos parece razoável este entendimento. As hipóteses de


imprescritibilidade encontram-se elencadas taxativamente no
Texto Constitucional no art. 5º, XLII (racismo) e XLIV
(ações de grupos armados civis ou militares contra a ordem
constitucional e o estado democrático), de modo que não se
admitem sejam ampliadas pela legislação
infraconstitucional.

É necessário buscar-se um período máximo, após o qual o


processo continuaria suspenso, mas a prescrição voltaria a
correr pelo tempo restante (estava apenas suspensa).

O teor da Súmula 415 do STJ: “O período de suspensão do


prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena
cominada”. Assim, p. ex., suspensa a ação penal por crime
de lesão corporal leve (CP, art. 129, caput), o impedimento
do curso prescricional tem o termo máximo de quatro anos
(CP, art. 109, V), i. e., o prazo prescricional da
pretensão punitiva só pode ficar suspenso por quatro anos.

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Nesse limite, recomeça a ser contado o lapso extintivo, que
é de quatro anos, considerada a pena máxima abstrata,
computando-se o tempo anterior à suspensão.

Cremos constituir um critério justo. Se, para permitir a


perda da punibilidade pela prescrição o legislador entendeu
adequados os prazos do art. 109, da mesma forma devem ser
apreciados como justos na disciplina da suspensão do prazo
extintivo da pretensão punitiva” (Boletim IBCCrim, n. 42,
p. 3).
Produção antecipada de provas: suspenso o processo, permite
o caput do art. 366 a produção antecipada de provas
consideradas urgentes, como perícias (antes que desapareçam
os vestígios) e depoimentos ad perpetuam rei memoriam.
Depoimentos urgentes são os das testemunhas velhas ou
enfermas, nos moldes traçados pelo art. 225 do Código de
Processo Penal.

Entretanto, o juiz poderá considerar qualquer prova


testemunhal como desta natureza, uma vez que o passar do
tempo tende a fragilizá-la, apagando o fato da memória da
testemunha. O deferimento da realização cautelar de prova
depende de análise do caso concreto diante de elementos que
indiquem sua necessidade e o risco de não ser possível
produzi-la no futuro (periculum in mora).

A produção da prova pode ser determinada de ofício ou a


requerimento do acusador, e somente pode ser produzida na
presença do Ministério Público e do defensor dativo nomeado
pelo juiz, ou do defensor público. Quanto ao conceito de
prova urgente, convém ressaltar a existência de duas
posições:

(1ª) a prova testemunhal é sempre urgente, dada a sua


natureza, pois o decurso do tempo pode redundar na perda da
memória da testemunha e, por conseguinte, na redução de seu
aspecto qualitativo

(2ª) a urgência não decorre da natureza, mas das


circunstâncias peculiares a serem analisadas caso a caso,
inexistindo direito público subjetivo da acusação à sua
produção

Para o Prof. Fernando Capez: correta a primeira posição. À


medida que o tempo passa, a importância da prova
testemunhal vai desaparecendo, devendo, portanto, ser
sempre produzida enquanto não se localiza o acusado.

Decretação da prisão preventiva: dispõe expressamente na


lei atual que, apesar de suspenso o processo, pode o juiz
decretar a prisão preventiva nos termos do art. 312.

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Não se trata de medida obrigatória, mas que somente deverá
ser imposta quando presente um dos motivos que autorizam a
sua decretação, como, por exemplo, evidências de que o réu
se ocultou para não ser citado, que desapareceu logo em
seguida à prática do crime ou que não possui residência
fixa ou emprego.

Intimação: É a ciência dada à parte, no processo, da


prática de um ato, despacho ou sentença. Portanto, refere-
se a intimação a um ato já passado, já praticado.

Distinção entre intimação e notificação: A notificação é a


comunicação à parte, ou outra pessoa, do dia, lugar e hora
de um ato processual a que deva comparecer ou praticar.

Diferencia-se, por conseguinte, da intimação, porquanto


refere-se a um ato futuro, enquanto esta alude a ato já
praticado, ato passado.

Atenção: embora a doutrina as distinga, por inúmeras vezes


o CPP as confunde, referindo-se a uma quando deveria aludir
à outra (ex.: o art. 367, in fine, refere-se a “intimação”,
quando deveria denominar o referido ato “notificação”).

Regra geral: Aplicam-se às intimações e notificações as


regras previstas para as citações, em razão do que dispõe o
art. 370. De ver, todavia, que no campo das intimações
judiciais exige-se a dupla intimação do réu e de seu
defensor (dativo ou constituído), notando-se que através de
lei promulgada ainda recentemente permite-se a intimação
dos advogados através da imprensa oficial.

Inadmissível é a realização dos atos da instrução sem que,


antecipadamente, tenha havido a “notificação” (ou
intimação) do defensor e a intimação pessoal do réu, além
da intimação pessoal do membro do Ministério Público (se
for o caso, também do assistente ou do querelante),
dispensando-se somente a intimação do acusado revel.

Situação-problema: O uso crescente das redes sociais é uma


realidade que não se pode negar. Daí surge o questionamento
sobre possibilidade de utilização de aplicativos de troca
de mensagens para cumprimento de atos de comunicação
processual. Sobre estes fatos, o Conjur publicou o texto
STJ estabelece critérios para validade de citação por
aplicativo em ações penais, e traz, dentre outras, as
ponderações abaixo:

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“Como ocorre no processo civil, é possível admitir, na
esfera penal, a utilização de aplicativo de mensagens como
o WhatsApp para o ato de citação, desde que sejam adotados
todos os cuidados para comprovar a identidade do
destinatário. Essa autenticação deve ocorrer por três meios
principais: o número do telefone, a confirmação escrita e a
foto do citando”. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021mar15/stjestabelececriterios-
citacaoaplicativoacoespenais, Acesso em: 22 de maio 2022. 

Pergunta-se: Considerando a importância da forma


processual, decorrente do princípio do devido processo
legal, seria lícito ao julgador admitir a realização de
citação por meio de aplicativo de mensagem?

Estudo de caso: Em hipótese um oficial de justiça anexa


certidão aos autos do processo, informando que realizou o
ato de citação através de aplicativo de troca de mensagens.
Você foi procurado pelo réu, que nega ter sido citado.
Neste caso, o que poderia argumentar em seu favor?
Justifique.

Bibliografia

Capez, Fernando. Curso de processo penal. 30ª Edição, São


Paulo: Saraiva Educação, 2023.

Cebrian
Gonçalves, Victor Eduardo Rios. Reis, Alexandre
Araújo. Direito Processual Penal esquematizado. 6ª Edição,
São Paulo: Saraiva jur, 2017.

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