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Faculdade Evangélica Raízes Curso: Direito 2020/1

Anápolis, ____/____/____. Disciplina: Processo Civil I

Professor: João Victor Mota Marques

Acadêmico (a): Turma: 5º

Comunicação dos atos processuais

Esse estudo é divido em dois grupos:


• Citação e intimação
• Cartas

I. Citação
O art. 238 do CPC diz que citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o
executado ou o interessado para integrar a relação processual.
Quem não integrava a relação processual, passa a integrar com a citação.
A citação é pressuposto de validade do processo, conforme estabelece o art.
239. O processo não deixa de ser instrumento. Por conta disso, tal dispositivo afirma que
para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas
as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido.
E o § 1º dispõe que o comparecimento espontâneo do réu ou do executado
supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação
de contestação ou de embargos à execução.

a) Teoria da aparência
O art. 242 do CPC diz que a citação será feita pessoalmente ao réu, podendo
ser feita na pessoa do representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do
interessado.
A teoria da aparência ganha relevância nos casos de réu pessoa jurídica. O que
vem sendo admitido é a realização da citação na pessoa do funcionário que exteriorize esse
poder de gestão, esse poder de decisão no dia a dia das atividades empresariais.
A teoria da aparência traz a ideia de que, ainda que este funcionário, no estatuto,
não contenha poderes para receber uma citação, se ele age e se exterioriza como tal, então é
considerada válida a citação daquela pessoa jurídica.
No caso da citação via postal, o CPC admite expressamente que seja assinado
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pelo funcionário responsável pelo recebimento de correspondências. Se quem recebe a citação
é pessoa que aparentemente tem poder para receber a citação, em caso de pessoa jurídica,
ainda que formalmente não tenha esse poder, valerá a citação. Visa coibir a fraude.

b) Situações em que a citação não pode ser realizada


Em regra, a citação pode ser realizada em qualquer lugar em que se encontre o
réu, o executado ou o interessado.
O militar em serviço ativo será citado na unidade em que estiver servindo, se não
for conhecida sua residência ou nela não for encontrado.
São hipóteses em que não poderá ser realizada a citação, salvo para perecimento
do direito:
• a quem estiver participando de ato de culto religioso
• ao cônjuge, ou companheiro ou de qualquer parente do morto, consanguíneo ou
afim, em linha reta ou na linha colateral em 2º grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias
seguintes
• aos noivos, nos 3 primeiros dias seguintes ao casamento;
• os doentes, enquanto grave o seu estado.

c) Modalidades de citação
É preciso diferenciar dois grupos de citação:

• Citação pessoal
A diferença está no fato de que na citação pessoal o réu é efetivamente citado,
enquanto na citação ficta, presume-se que o réu tenha sido citado. Outra diferença reside na
ausência da manifestação do demandado após ele ter sido citado.
Se a citação é pessoal, é gerado o efeito da revelia, e aí está autorizado o
julgamento antecipado do mérito, conforme art. 355, II, CPC, caso em que o juiz julgará
antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando o réu for revel,
ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349.
Neste caso, por ter havido a citação pessoal do réu, sabe-se que ele teve o
conhecimento do feito. Se não apresentou a contestação há revelia, podendo julgar diretamente
o mérito, caso assim seja possível.

• Citação ficta
Quando há a citação ficta, há a presunção de que foi citado, havendo ausência de
atuação do réu, situação em que não vai motivar o julgamento antecipado do mérito, mas poderá
motivar a nomeação de um curador especial, o qual apresentará defesa, sem ônus da
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impugnação especificada. Neste caso, o curador especial poderá apresentar contestação por
negativa geral. Ou seja, não serão presumidamente verdadeiros os fatos alegados pelo autor.

i. Citação pela via postal


A citação pela via postal é uma citação pessoal e é a modalidade preferencial.
O art. 248 vai dizer que determinada a citação postal, cabe ao serventuário remetê-
la com cópia reprográfica da petição inicial e do despacho do juiz que autorizou esta citação.
Nesta remessa feita pelo serventuário, já vai comunicar o prazo de resposta, bem como o
endereço do juízo.
No caso do procedimento comum, na demanda já vai constar a data e o horário da
audiência de conciliação e mediação.
A Súmula 429 do STJ vai dizer que a citação postal, quando determinada por lei,
exige o aviso de recebimento.

ii. Citação por oficial de justiça


A citação pode ser dar também por oficial de justiça nas hipóteses em que é
proibida a citação postal. Também poderá ser feita a citação por oficial de justiça quando a
citação postal tiver sido frustrada ou mesmo quando houver dúvida se foi o próprio demandado
quem assinou o AR, ou se foi outra pessoa.
Nesse caso, o cartório emitirá um mandado de citação e o oficial cumprirá este
mandado.
Ao chegar no local, o oficial promoverá a leitura do mandado de citação e entrega
ao demandado uma contrafé (cópia da petição inicial).
A citação por oficial de justiça pode ocorrer em dias úteis, entre 6 horas e 20 horas.
Só que a citação, por oficial, poderá ocorrer nos domingos, feriados, dias úteis, fora do horário
acima, independentemente de autorização judicial.

iii. Citação pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em


cartório
A citação poderá ser feita pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando
comparecer em cartório.
É uma modalidade de citação pessoal.

iv. Citação por meio eletrônico


Essa citação por meio eletrônico é considerada citação pessoal, visto que tomou
conhecimento da demanda contra o réu proposta.
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v. Citação por edital
A citação por edital é espécie de citação ficta, não sendo citação real ou pessoal.

A citação por edital poderá ser realizada nas hipóteses autorizadas por lei:
• Desconhecido ou incerto o demandado:
• Incerto, ignorado ou inacessível o lugar em que o demandado se encontra
• Previstos e autorizados em lei
No primeiro caso, o demandado é realmente desconhecido pelo demandante. Ex.:
ação de usucapião de bem móvel, mas não se sabe quem é o dono do bem.

No segundo caso, sabe-se quem é o demandado, mas não se sabe o lugar em que
ele está, ou tal lugar é inacessível. Ex.: réu não foi localizado após várias buscas, mas o único
caminho que resta é o da citação por edital.
Lembre-se que no Juizado Especial não cabe citação por edital.

Na terceira hipótese, por exemplo, pode se dar no caso da lei de execução fiscal,
em que prevê que o executado, quando residente no exterior, deve ser citado por edital. Esta
interpretação legal vem sendo mitigada, mas ao ponto de o STJ ter simulado pelo Enunciado
414, em que estabelece ser a citação por edital cabível, na execução fiscal, quando frustradas as
demais modalidades.
O STJ diz que é preciso homenagear a ampla defesa e o contraditório, de maneira
que se sabe onde está e quem é o executado, deve-se citá-lo de modo pessoal. Caso frustradas
estas tentativas, aí sim faz-se citação por edital.
A citação por edital se dará por meio da publicação do edital na rede mundial de
computadores, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma de editais do Conselho Nacional de
Justiça, que deve ser certificada nos autos.
Pode, ainda, ser determinada a publicação de editais em jornal local de ampla
circulação. O prazo dos editais vai variar entre 20 e 60 dias. Depois de escoado o prazo dos
editais é que irá contar o prazo para que o agora citado apresente a sua resposta.
Caso não apresente resposta neste prazo, a citação, que é considerada ficta, não
gerará o efeito da revelia, devendo o juiz nomear um curador para apresentar resposta sem o
ônus da impugnação especificada.

vi. Citação por hora certa


A citação também poderá ser por hora certa, sendo também espécie de citação
ficta.
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Caberá citação por hora certa quando o oficial tiver comparecido ao endereço
demandado por 2 oportunidades, não encontrando o demandado e tendo uma suspeita de que
ele está se ocultando para não ser citado. Neste caso, caberá ao oficial retornar no dia seguinte,
ou marcar uma data, a fim de voltar pela terceira vez, situação na qual irá intimar alguém da
família ou vizinho, deixando lá a contrafé.
No caso da citação por hora certa, há ainda a necessidade de o servidor do
judiciário expeça uma carta registrada, com destino ao citando, para informar tudo que
aconteceu.
O prazo para o sujeito apresentar a resposta será do primeiro dia útil seguinte à
juntada do mandado cumprido pelo oficial de justiça, e não da expedição da carta e nem pela
juntada do aviso de recebimento dessa carta registrada, noticiando ao demandado tudo que
aconteceu.
Sendo certo que o demandado foi citado por hora certa, situação em que não
apresentou resposta, neste caso, como se trata de citação ficta, o juiz irá nomear curador
especial para apresentar resposta sem o ônus da impugnação especificada.

d) Efeitos da citação
A citação pode apresentar efeitos processuais e também materiais.

• Efeito processual: induz litispendência, visto que se compara a relação jurídico-


processual com outra, visto que quem não integrava a relação jurídica anterior, passa a integrar,
sendo possível verificar se há litispendência ou não.
• Efeito material: torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor. Lembre-se
que essa constituição em mora é feita pela citação.

e) Consequências da falta de citação ou nulidade da citação

A falta de citação é o caso em que o sujeito não foi citado. Nulidade da citação é o
caso em que o sujeito foi citado, mas não foi válida.
Aquele processo em que a citação for inexistente ou nula está maculado.
Ainda que tenha sido proferida a sentença, ou que a sentença tenha transitado em
julgado ou ainda que tenha sido formado a coisa julgada material soberana (ou coisa
soberanamente julgada ou coisa julgada soberana), em todos esses casos, caso tenha havido a
nulidade ou inexistência de citação, será questionável a validade do processo, visto que há
mácula insanável. Neste caso, será dito que a eventual ausência de citação autoriza uma
querela nulitatis insanabilis, em que há uma insanável nulidade que acomete o feito.
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Quanto ao meio processual para que este vício da falta de citação ou que a
nulidade de citação venha a ser reconhecido, esta falta ou nulidade poderá ser arguida na fase
de conhecimento, contestação, impugnação ao cumprimento de sentença, embargos à
execução, inclusive de ofício.

II. Intimação
O art. 269 do CPC diz que intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos
atos e dos termos do processo.
A intimação pode ser dirigida tanto à parte como a um terceiro (perito, testemunha,
etc.).
Para alguns, a intimação é a ciência de um ato que já ocorreu e notificação é a
ciência de um ato que irá ocorrer. Mas a legislação não traz esta diferenciação.
A regra é que a intimação se dê pela publicação no diário oficial, caso não se dê
por meio eletrônico. O meio eletrônico é o preferencial.
Pode ser realizada intimação de formas diferentes, inclusive pelo próprio
magistrado, caso se dê na presença das partes e dos respectivos advogados, considerando que
foram intimados desde já.
Em relação a intimação, há dois pontos de inovação do CPC.
O art. 272, §1º, traz a hipótese em que os advogados requerem a intimação apenas
em nome da sociedade a que pertençam, desde que devidamente registrada na Ordem dos
Advogados do Brasil.
Outra inovação é a necessidade de que as intimações tenham os nomes completos
das partes e dos advogados, vedado conter qualquer abreviaturas, inclusive com o respectivo
número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, ou, se assim requerido, da sociedade
de advogados, sob pena de nulidade (art. 280).
Por vezes, a legislação irá autorizar que a intimação se realize com o
encaminhamento dos próprios autos, como ocorre com o MP, AGU, DP, etc. Nestes casos, há
intimação pessoal.

III. Cartas

a) Carta precatória
A carta precatória se faz presente quando um juízo requer a outro juízo de igual
hierarquia que seja cumprida uma decisão.
Isso ocorre pelo fato de que o primeiro juízo (deprecante) não tem competência
territorial para atuar naquela localidade (deprecado).
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Esta carta precatória se dará por meio físico ou por meio eletrônico.
Deverá a carta precatória conter as peças processuais necessárias para aquela
diligência e cumprimento da carta precatória.
Ao chegar a carta precatória no juízo deprecado, as questões decididas pelo juízo
deprecado serão bem limitadas, visto que a competência é do juízo deprecante.
Todavia, apesar de bastante limitado, o juízo deprecado poderá decidir certas
questões relativas ao cumprimento da carta precatória.
Se a prova produzida na carta precatória for imprescindível à resolução do mérito, o
juízo deprecante não poderá julgar, devendo determinar o sobrestamento do processo até o
cumprimento da carta precatória. Este sobrestamento poderá se dar pelo prazo de até 1 ano, a
fim de que seja cumprida a carta precatória no juízo deprecado.

b) Carta de ordem
A carta de ordem decorre da hierarquia entre o órgão que determina a prática do
ato e aquele que vai cumpri-la. O juízo deprecado não poderá recusar cumprimento à carta. Isso
porque a carta é de ordem. Ex.: juiz determina ao órgão de primeira instância que cumpra a
medida.
c) Carta arbitral
A carta arbitral é a carta do árbitro.
O objetivo é dar cumprimento à decisão proferida pelo árbitro, pois os árbitros não
têm poder de efetivação de suas decisões, podendo o próprio árbitro buscar o poder judiciário
para adoção dos meios executivos, com o objetivo de satisfazer aquela obrigação.

d) Carta rogatória
A carta rogatória necessita passar por um filtro feito pelo Superior Tribunal de
Justiça, situação na qual concede o exequatur. Nesta situação, será necessário um juízo de
delibação.
Neste caso, um juiz federal dará cumprimento a esta carta rogatória na primeira
instância. Após, encaminhará ao STJ, o qual emitirá o envio à autoridade central (Ministério da
Justiça).

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