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ATOS DE COMUNICAÇÃO PROCESSUAL

1. Citação

A citação é o ato pelo qual o acusado toma conhecimento da acusação e


é chamado a comparecer ao processo e respondê-la.

A citação válida completa a formação processual (art. 363, CPP), ou


seja, a relação jurídico-processual (trinômio juiz e partes).

A ausência da citação gera nulidade absoluta do processo (art. 564,


inciso III, letra “e”, do CPP). A citação deficiente ou incompleta acarreta a
nulidade relativa.

A falta ou a nulidade da citação poderá ser sanada pelo comparecimento


do interessado, ainda que declare que o faz para o único fim de argui-la (art.
570, CPP).

2. Espécies

A citação classifica-se em real (pessoal) ou ficta (presumida). A


citação real se dá por meio de mandado, carta precatória, carta rogatória ou
carta de ordem, executada por oficial de justiça. A citação ficta ocorre por meio
de edital ou com hora certa.

3. Citação por mandado

A citação por mandado é a regra geral do Código de Processo Penal e


realizada por oficial de justiça.

Requisitos intrínsecos: o mandado deve conter o nome do juiz, do


querelante nas ações iniciadas por queixa-crime, nome do réu ou seus sinais
característicos, a residência do réu, a finalidade da citação, o juízo, lugar, dia e
hora em que o réu deve comparecer; a subscrição pelo escrivão e a rubrica do
juiz (art. 352, CPP).

Requisitos extrínsecos: deve ser cumprido pelo oficial de justiça, que


fará a leitura do mandado ao réu e entregará a contrafé (cópia da denúncia ou
queixa), mencionando o dia e hora da citação. O oficial de justiça elaborará
certidão das diligências para a citação, a entrega da contrafé e a aceitação ou
não do réu (art. 358, CPP).

A declaração do oficial de justiça se reveste de fé pública, portanto, a


certidão faz prova da citação, com ou sem a assinatura do réu no mandado.

A citação poderá ser realizada a qualquer dia e hora, inclusive à noite.

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A diligência deve ser realizar em prazo razoável antes da data da
audiência. Pode ocasionar a nulidade do processo e depende de demonstração
do prejuízo.

4. Citação por carta precatória

A citação do réu que reside em comarca diversa da jurisdição do juiz do


processo será realizada por carta precatória (art. 353, CPP).

A precatória conterá o juiz deprecado e o juiz deprecante; a sede da


jurisdição de um e de outro; o fim para que é feita, com todas as
especificações; o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá
comparecer (art. 354, CPP).

No juízo deprecado é exarado o “cumpra-se” e a citação se dará por


mandado ou com hora certa (art. 355, CPP).

No caso de urgência a precatória poderá ser expedida por via telegráfica


(art. 356, CPP) ou por meios eletrônicos (interpretação extensiva).

A carta precatória tem o caráter itinerante. Se o juízo deprecado


verificar que o réu está em território sujeito a jurisdição de outro juiz, remeterá a
carta precatória para o juiz competente para proceder a citação, comunicando
esse fato ao juízo deprecante, se ainda houver tempo hábil para fazer a citação
(art. 355, § 1º, CPP).

5. Citação do militar

A citação do militar será feita por intermédio do chefe do respectivo


serviço (art. 358, CPP), por meio de ofício requisitório expedido pelo juízo
processante. Quem efetiva a citação é o chefe de serviço.

6. Citação do funcionário público

O funcionário público deve ser citado pessoalmente por mandado e o


chefe de sua repartição será comunicado do dia designado para o
comparecimento daquele em juízo (art. 359, CPP). A finalidade é manter a
continuidade da prestação do serviço público.

7. Citação do réu preso

A citação do réu preso será realizada pessoalmente por mandado (art.


360, CPP). O diretor do estabelecimento penal deverá ser comunicado para
providenciar a apresentação do réu em juízo.

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8. Citação por carta rogatória

O réu que esteja em lugar sabido no estrangeiro ou em legação


estrangeira (embaixadas e consulados) será citado por carta rogatória (art.
368 e 369, CPP). Nesse caso, suspende-se a prescrição até o cumprimento
(art. 368, CPP).

9. Citação por carta de ordem

A citação será realizada por carta de ordem quando o ato for


determinado pelos tribunais nos processos de sua competência originária.

10. Citação com hora certa

Estabelece o art. 362 do CPP que, verificando que o réu se oculta para
não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação
com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 252 a 254 do Código de
Processo Civil.

Destarte, o oficial de justiça deve por duas vezes tentar encontrar o réu
no domicílio ou residência e, havendo suspeita de que o réu está se ocultando,
deverá intimar qualquer pessoa da família ou vizinho para transmitir-lhe o aviso
de que voltará em dia e hora marcada para proceder à citação (art. 252, CPC).
No dia e hora designados, o oficial de justiça citará pessoalmente o réu ou, não
o encontrando, certificará a ausência e dará por efetuada a citação, deixando a
contrafé com a pessoa da família ou vizinho do réu, declarando-lhe o nome
(art. 253, CPC). Não é necessário que seja a mesma pessoa que deixou o
aviso anteriormente. Por fim, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou
radiograma, dando-lhe de tudo ciência (art. 254, CPC).

11. Citação por edital

A citação será feita por edital quando o réu não for encontrado (art. 361
e art. 363, § 1º, CPP), certificando o oficial de justiça de que ele está em lugar
incerto e não sabido.

Nos termos do art. 361 do CPP, não sendo encontrado o réu, a citação
será realizada por edital, com prazo de 15 (quinze) dias (denominado de prazo
de dilação).

O edital de citação indicará o nome do juiz que o determinou; o nome do


réu ou seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão; a
finalidade da citação; o juízo e o dia, a hora e lugar em que o réu deve
comparecer; e o prazo (prazo de dilação) que será contado do dia da
publicação do edital na imprensa, se houver, ou da sua afixação.

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Súmula 366 do STF: “Não é nula a citação pode edital que indica o
dispositivo da lei penal, embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não
resuma os fatos em que se baseia”.

Não é admitida a citação por edital no Juizado Especial Criminal. Os


autos devem ser remetidos ao Juízo Comum (art. 66, parágrafo único, Lei
9.099/95).

12. Suspensão do processo

Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir


advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional (art.
366, CPP).

O período de suspensão não poderá ser superior ao prazo prescricional


pelo máximo da pena em abstrato. Estabelece a Súmula 415 do STJ: “O
período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena
cominada”.

Durante o período da suspensão, o juiz poderá determinar a produção


antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar a
prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312 do CPP (art. 366, CPP).

A prova antecipada será produzida na presença do Ministério Público,


querelante e defensor público ou dativo, evitando-se o perecimento da prova.

A prisão preventiva não é automática e dependerá da presença dos


requisitos do art. 312 do CPP.

Comparecendo o acusado ou constituindo defensor ter-se-á o réu citado


pessoalmente, prosseguindo-se o processo (art. 363, § 4º, CPP).

13. Intimação e notificação

A intimação é a ciência às partes da prática de um ato processual que já


se consumou.

A notificação é a ciência dada à parte para praticar um ato processual ou


adotar determinada conduta.

A falta de intimação ou notificação poderá ensejar a nulidade, desde que


demonstrado o prejuízo à parte.

Nas intimações e notificações aplicam-se, no que couber, as regras para


a citação (mandado, carta precatória, carta rogatória, carta de ordem e edital),
nos termos do art. 370, CPP.

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O defensor constituído, advogado do querelante e do assistente de
acusação serão intimados pela imprensa oficial (art. 370, § 1º, CPP). Onde
não houver órgão de publicação, a intimação será feita diretamente pelo
escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por
qualquer outro meio idôneo (art. 370, § 2º, CPP).

O Ministério Público, a Defensoria Pública e o defensor nomeado


serão intimados pessoalmente (art. 370, § 4º, CPP).

A intimação do réu preso deverá ser pessoal, cientificando-se o diretor


do estabelecimento penal para providenciar a presença do acusado no ato
processual. O acusado e testemunhas também são intimados, em regra, por
mandado (art. 370, CPP).

Intimação e notificação em audiência: quando adiada por qualquer


motivo a instrução criminal, o juiz marcará desde logo, na presença das partes
e testemunhas, dia e hora para seu prosseguimento, lavrando-se termos nos
autos, assim, as partes saem intimadas da audiência (art. 372, CPP).

Na intimação por carta precatória, o acusado e seu defensor não


precisam ser intimados. Basta a intimação da expedição da carta precatória
para a oitiva de testemunhas, não sendo exigida intimação da designação de
audiência perante o juízo (Súmula 155 do STF).

14. Revelia

Revelia é a inércia injustificada do acusado em atender ao chamado do


juízo, a contumácia.

Como efeito da revelia, o acusado não será mais intimado dos atos
processuais, salvo no caso da sentença. O réu poderá comparecer em
momento ulterior do processo, retomando o contraditório.

Será declarado revel o réu: a) quando citado ou intimado pessoalmente


não comparecer a qualquer ato do processo, sem motivo justificado, ou quando
mudar de residência e não comunicar o novo endereço ao juízo (art. 367,
CPP); b) no procedimento do júri, quando o acusado solto e intimado não
comparecer no julgamento (art. 457, CPP).

A revelia no processo penal não importa em confissão ficta e não obsta


que o réu participe dos demais atos processuais.

O réu citado por edital que não comparecer ao processo, nem constituir
defensor, não será declarado revel, devendo o processo ser suspenso nos
termos do art. 366 do CPP.

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