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Art. 381, §3º A produção antecipada da prova não previne a competência do juízo
para a ação que venha a ser proposta.
O art. 381, § 4o, estabelece a competência subsidiária da Justiça Estadual para
colheita antecipada de provas em processos dos quais participem a União, suas
entidades autárquicas ou empresa pública federal, se na localidade não houver vara
federal.
4) Procedimento- ver quadro
Fonte: Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral
do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum – vol. I
. 58. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 939
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Direito Civil VII
Direito Processual Civil – Proc.Comum
Profa. Esp. Andréa Siqueira &
Profa. Esp. Ana Paula M.F. Russo
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Essa pena consiste em admitir o juiz como verdadeiros os fatos contrários ao
interesse da parte faltosa e favoráveis ao adversário. Sua imposição, todavia,
dependerá de ter sido o depoente intimado com a advertência prevista no § 1º do
art. 385.
e) Forma de produção
- Será efetivado do mesmo modo que se inquirem as testemunhas. As partes serão
ouvidas uma de cada vez, primeiro o autor e depois o réu, sem que um presencie o
depoimento do outro.
- É vedada à parte a consulta de apontamentos ou a leitura de seu depoimento,
salvo de maneira breve para rememorar alguma situação pretérita.
- O CPC/2015 estabeleceu expressamente a possibilidade de depoimento por
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de som e imagem em
tempo real que pode acontecer até no decorrer da audiência de instrução e
julgamento (art. 385, § 3o).
-É vedado a quem ainda não depôs assistir ao interrogatório da outra parte.
f) Recusa
A parte poderá se recusar a responder (CPC/2015, art. 388)
Art. 388. A parte não é obrigada a depor sobre fatos:
I - criminosos ou torpes que lhe forem imputados;
II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo;
III - acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu
cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível;
IV - que coloquem em perigo a vida do depoente ou das pessoas referidas
no inciso III.
Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de estado e de
família
b) Classificação
-judicial (espontânea-art. 390- ou provocada -art. 390, § 2º).
-extrajudicial
-pode ser feito pessoalmente ou por procurador (neste caso são necessários poderes
especiais e somente será eficaz nos limites em que este possa vincular o
representado)
c) Efeitos
● fazer prova plena contra o confitente; (art. 391)
● Os fatos confessados não precisam ser provados (art. 374, III)
● A parte que confessou perde o direito de produzir provas sobre os fatos
confessados
● Não vincula o Juiz
d) Restrições à eficácia da confissão
● Não se admite confissão de fatos relativos a direitos indisponíveis (art. 392).
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● A confissão não supre a exigência da apresentação de instrumento público,
para comprovar a existência de negócio jurídico que o exige, como de sua
substância (CPC, art. 406).
● Quando houver litisconsórcio, a confissão de um não poderá prejudicar os
demais.
● Nas ações que versarem sobre bens imóveis, a confissão de um dos cônjuges
ou companheiros não valerá sem a do outro, salvo no regime da separação
absoluta de bens (art. 391, parágrafo único).
b) Exibição dirigida contra a parte contrária- A exibição será requerida pela parte
interessada — autor ou réu — em petição que individualizará, da maneira mais
completa possível, o documento, para que o adversário possa defender-se ou
entregá-lo, se entender que é o caso.
Procedimento:
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O terceiro pode:
⮚ apresentar o documento ou coisa, quando então se encerra o processo
incidental com a produção da prova desejada;
⮚ negar a posse do documento ou da coisa;
⮚ recusar a obrigação de exibir pelos motivos do art. 404, CPC/2015;
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⮚ ficar inerte
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FASE PROBATÓRIA/INSTRUTÓRIA
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divulgação dos atos judiciais, por isso, o art. 189 prevê hipóteses nas quais o
processo corre em segredo de justiça:
Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo
de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio,
separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e
adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à
intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo.
§ 1o O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo
de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus
procuradores.
4.2-Solenidade;
4.2- dispensabilidade/facultatividade
4.4- Unidade
5) Fases/atos da audiência
● Atos preparatórios-
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Fonte: Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil- Teoria Geral
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57.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p.865
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TEORIA GERAL DA PROVA
O Capítulo XII do Título I do Livro I da Parte Especial é dedicado integralmente às
provas ou ao “direito probatório”, estendendo-se dos arts. 369 ao 484.
O referido Capítulo vem dividido em onze seções. A primeira delas disciplina
as dis- posições gerais. A segunda trata da “produção antecipada da prova”,
que vem para subs- tituir, pertinentemente e com inegáveis vantagens, a
“cautelar de produção antecipada de provas” e a “justificação”, que no CPC de
1973 eram “procedimentos cautelares específi- cos”. A Seção III e as seguintes
voltam-se à disciplina de cada um dos meios de prova, isto é, das técnicas típicas
destinadas à formação do convencimento do magistrado.
A exposição seguinte observa, pelas razões que anunciei desde o Prólogo, a ordem
adotada pelo CPC de 2015, com a abertura, por vezes, de subitens que
justificam-se, ao meu ver, por causa de e para fins didáticos.
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cípios e as garantias que não necessitam de previsão para que possam ser
exercidos.
Mas o direito à prova se constitui na oportunidade franqueada pelo ordena-
mento para que as partes possam delas utilizar-se, de molde a exercer o seu
legí- timo direito de demonstrar a veracidade dos fatos alegados.
O direito fundamental a prova decorre do direito ao contraditório e a ampla defesa
prevista na constituição, que envolvem, sem dúvida, o direito inafastável a prova
necessária à solução justa do litígio.
Com efeito, não é, de fato, possível o exercício da ampla defesa sem o direito
fundamental à prova, já que dentro do processo justo, o ato de provar constitui
projeção prática do direito fundamental à ampla defesa e ao contraditório.
O direito fundamental à prova compõe-se das seguintes situações jurídicas:
a) o direito de requerer provas
b) direito de produzir provar
c) direito de participar da produção da prova- não se admite prova produzida
secretamente, também não se admite a utilização de prova contra quem não
participou da sua produção. Ex; partes tem que ter ciencia da data da perícia
d) direito de manifestar-se sobre a prova produzida- ex: alegações na audiência;
laudo do assistente técnico
e) direito ao exame, pelo órgão julgador, da prova produzida
-é importante que o juiz indique também por que as provas trazidas pela parte
derrotada não o convenceram. Não basta julgar procedente o pedido e realçar sua
motivação apenas naquelas provas que dão sustento à tese vencedora.
3) Princípios constitucionais fundamentadores do direito à prova
Postulados regentes
Neste tópico procuraremos identificar, ainda que brevemente, os princípios
relativos à prova, sejam de índole imediatamente constitucional ou
processual, que incidem diretamente sobre o procedimento probatório.
● Princípio da inafastabilidade da jurisdição ou do direito de ação
É aquele que permite o acesso à Justiça, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição:
"a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Por força deste princípio não é possível impedir ao jurisdicionado o ajuizamento de
ação.
Contudo, de nada adiantaria garantir o direito de ação aos jurisdicionados, sem
garantir também o direito de demonstrar a veracidade de suas afirmações.
Dessa forma, o direito à prova emerge do direito de apreciação judicial da prova
produzida, pois seria inócuo garantir as partes o direito de demonstrar a veracidade
de suas afirmações, se ao juiz fosse autorizado ignorar essa atividade. Deve haver
uma manifestação judicial expressa e fundamentada.
● Princípio do devido processo legal
Está previsto no art. 5º, LIV, da Constituição Federal, "ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal".
O devido processo legal advém da Carta Magna de 1215 do Rei João Sem Terra,
sendo posteriormente utilizado como due process of law em lei inglesa no ano de
1354, no reinado de Eduardo III e, posteriormente em uma emenda à Constituição
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americana em 1789.[21]
Para o autor Rui Portanova, o princípio do devido processo legal é uma garantia do
cidadão. Uma garantia constitucionalmente prevista asseguratória do exercício do
direito de acesso ao Poder Judiciário como o desenvolvimento processual de acordo
com as normas previamente estabelecidas.[22]
● Princípio do contraditório e da ampla defesa
Direito à ciência dos atos e termos do processo, agregada de garantia de
oportunidade quantitativa e qualitativa de intervir e influenciar o julgador, a teor do
art. 5º, LV, da Constituição: "aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes."
É o direito de informação, necessária, bem como a participação no processo de
forma igualitária. Para ambas as partes irá se conceder em igualdade de
oportunidades o direito de pleitear a produção de provas.
Já a ampla defesa é o direito do indivíduo de trazer ao processo elementos de prova
licitamente obtidos para comprovar a veracidade dos fatos.
Os princípios do contraditório e da ampla defesa garantem a possibilidade de as
partes agirem de forma igualitária no processo, do início até o final, como forma de
concretização da democracia, objetivando a efetiva aplicação da justiça. [23]
Princípio da isonomia
Conforme previsão constitucional do art. 5º, caput, "Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade o direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade".
A Constituição Federal garante o princípio da igualdade, visando proporcionar a
todos os cidadãos o direito a um tratamento justo e igualitário.
Todavia, essa igualdade não pode ser meramente formal. Sempre existirá
desigualdade entre as partes, como diferenças sociais e econômicas. Se assim
não fosse, o tratamento igualitário acarretaria injustiças para os indivíduos.
5.1.2Princípio da proibição da prova obtida ilicitamente
Prevista no art. 5º, LVI, da CF/1988, tal princípio se aplica a qualquer tipo de
processo, seja ele judicial ou extrajudicial. Como não houve definição no texto
constitucional do conceito de prova ilícita, a doutrina tem se digladiado para firmar
o seu significado, com grande contribuição da jurisprudência.
Nesse ponto vale a observação de que a origem ilícita da prova contamina a sua
validade: “haverá situações em que a importância do bem jurídico envolvido no
processo a ser alcançado com a obtenção irregular da prova levará os tribunais a
aceitá-la”.28
Tal raciocínio deriva da aplicação do princípio da proporcionalidade, que, em razão
da colisão de direitos fundamentais, em alguns casos entende possível,
excepcionalmente, essa aplicação. É passível, com base nesse raciocínio, a
utilização da prova ilícita ante a ponderação da imprescindibilidade, da
proporcionalidade, e até para beneficiar o réu (como defendem alguns penalistas).
Observam-se, ainda, os casos de descoberta inevitável, nos quais se admite a prova
ilícita quando essa seria descoberta de qualquer forma.
5.1.3Princípio dispositivo
Segundo o art. 370 caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte,
determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito, bem como
indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente
protelatórias.
Ante a democratização do processo e o dever de todos os sujeitos do processo
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cooperarem entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva, faz todo sentido e é legítima a iniciativa probatória do juiz,
especialmente quando estiverem “presentes razões de ordem pública e igualitária,
como, por exemplo, quando esteja diante de causa que tenha por objeto direito
indisponível (ações de Estado), ou quando o julgador, em face das provas
produzidas, se encontre em estado de perplexidade ou, ainda, quando haja
significativa desproporção econômica ou sociocultural entre as partes”.29
Assim, continua o juiz não podendo conhecer de matéria a respeito da qual a lei
exige a iniciativa da parte. Ademais, o poder instrutório a que alude o art. 370 do
CPC deve ser exercido de forma a garantir a igualdade de tratamento das partes e o
respeito ao princípio do contraditório, como determina o artigo 7º do CPC. Assim,
valorando a instrumentalidade do processo, deve sempre o juiz buscar a verdade
dos fatos a ele trazidos, de modo que a utilização das regras de distribuição do ônus
da prova para os casos de non liquet deve ser uma última saída30 do juiz. Isso
significa que, uma vez trazidos os fatos para o processo, não há limites para a
atividade verificadora da verdade pelo juiz. O limite existe, é claro, para os fatos que
não foram trazidos ao processo.31
O JUIZ TEM PODER INSTRUTÓRIO, MAS ISSO NÃO QUER DIZER QUE AS
PARTES NÃO TEM A INCUMBÊNCIA
Já nas causas relativas à administração pública de interesses privados (jurisdição
voluntária), porque regida pelo princípio inquisitório, o juiz possui amplos e plenos
poderes de investigação, podendo determinar a realização de provas ainda que
contra a vontade dos interessados.
5.1.4Princípio da oralidade
Festejado pelo art. 361 do CPC, que preleciona que as provas devem ser
realizadas na audiência de instrução e julgamento para que seja dado um
alcance maior à oralidade original, de modo a permitir rapidez e aproximação
do juiz com a prova, o princípio em tela é formado por numerosos subprincípios
que lhe dão a tônica, tais como o da concentração, o da irrecorribilidade em
separado das interlocutórias, o do contato com a prova, o da identidade física do
juiz, etc.
O contato direto com a prova significa dizer que é o juiz, regra geral, pessoal, direta
e imediatamente, quem colhe a prova junto às partes e testemunhas e recebe os
esclarecimentos dos peritos e assistentes técnicos. Em outras palavras, significa
dizer que não há obstáculo entre o juiz e a prova, sendo ele quem toma contato
diretamente com ela. Há abrandamento desse princípio quando a prova tiver de ser
feita em território ou circunscrição judiciária diversa do foro da causa. É o que a
doutrina denomina prova de fora da terra ou, simplesmente, prova fora. Será feita
por precatória ou rogatória, conforme seja produzida no território nacional ou no
estrangeiro. Ocorre a prova fora quando, por razões de impossibilidade prática (v.g.,
saúde da testemunha, dificuldade de transporte, etc.) ou por economia, se justifique
a colheita da prova por outro juízo.32
-Princípio da identidade física do juiz
No que se refere à identidade física do juiz, significa que o juiz que concluiu a
audiência de instrução e julgamento deve ser aquele que proferirá a sentença
de mérito, permitindo que aquele que teve contato com a prova produzida em
audiência tenha melhores condições de formar o seu convencimento para
julgamento do conflito. A redução a termo do ocorrido em audiência não traz o
mesmo efeito do juiz que colhe a prova. Existem trejeitos, titubeios, rubores,
expressões que não são documentados, permitindo ao magistrado formar uma
conclusão, daí a importância desse princípio insculpido no artigo 366 do CPC.
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5.1.5Princípio da comunhão ou aquisição da prova
Também denominado princípio da comunhão da prova ou aquisição processual, é,
impropriamente, do ônus objetivo e significa que, uma vez produzida a prova, esta
fica incorporada e adquirida pelo seu destinatário: o processo. Com isso,
independentemente da parte que a requereu ou a produziu, a prova adquirida pelo
processo poderá servir de fundamento à convicção do magistrado para julgar a lide.
Em outras palavras, significa dizer que, por tal princípio, o juiz pode julgar em
desfavor daquele que requereu e produziu a prova, como deixa claro a redação do
artigo 371 ao dizer que o juiz apreciará a prova constante dos autos,
independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão
as razões da formação de seu convencimento.
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c) admitido no processo como incontroverso
Essa hipótese assemelha-se à anterior, porque pressupõe também a incontrovérsia,
que dispensa a instrução. Aqui há um consenso entre os litigantes a respeito de
determinado fato.
Os incisos cuidam de situações distintas com eficácia semelhante: confissão e
admissão
d) em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade
Há dois tipos de presunção que podem ser estabelecidas por lei: a absoluta (juris et
de jure) e a relativa (juris tantum). Se houver a primeira, nenhuma prova se
admitirá que seja contrária ao fato alegado; se for a segunda, aquele que alegou o
fato não precisará comprová-lo, mas o seu adversário po-derá fazer prova contrária.
A revelia é um exemplo em que há presunção relativa dos fatos alegados na
petição inicial.
Presunção absoluta: não admitem prova em contrário. A conclusão extraída pela lei
é havida como verdade inquestionável. A presunção exaure toda a necessidade
probatória.
Exemplos:
a) causas de impedimento do juiz (ART. 144)
b) quando infrutíferas as tentativas de citação, presume-se que parte reside em
local incerto e não sabido
c) presunção absoluta de que um conjuge autorizou o outro a contrair dívidas para
a economia domestica- art. 1.643 cc
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa
exigir.
Presunção relativa (“iuris tantum”)- são aquelas que o fato é considerado ocorrida,
até que se prove o contrário.
Ex:
a) presunção de necessidade de quem declara que não pode arcar com as despesas
processuais (art. 99 do CPC)
b) presunção de veracidade dos fatos alegados pelo reu revel
c) presunção de simultaneidadade da morte quanto aos indivíduos falecidos numa
mesma ocaisão (art. 8 do cc)
d) presunção de que os bens moveis foram adquiridos na constancia do casamento
(1.674)
e) pagamento em quotas periodicas presumem estar solvidas as anteriores
f) filho havido na constancia do casamento
g) recusa ao exame de DNA gera presunção de paternidade
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-No item anterior, foi visto que não há necessidade de provar os fatos, ainda que
relevantes, a respeito dos quais milite presunção legal de existência ou veracidade.
As presunções podem ser divididas em duas categorias:
● as legais, que podem ser relativas ou absolutas, conforme admitam ou não
prova em contrário, como visto no item anterior;
● as que decorrem da observação do que normalmente acontece, chamadas
pre- sunções simples ou hominis, como a de culpa daquele que, dirigindo
um veícu- lo, colide contra a traseira do carro que segue à frente.
As presunções, que pertencem ao tema da dispensa de provas, não se confundem
com os indícios, que são começos de prova. São sinais indicativos da exis-tência ou
veracidade de um fato, mas que, por si sós, seriam insuficientes para prová-lo. No
entanto, somados a outras circunstâncias ou a outros indícios, podem fazê-lo.
6.2- PRESUNÇÃO X INDÍCIO
PRESUNÇÃO- São pressuposições da existência ou veracidade de um fato,
estabelecidas por lei, ou como decorrência da observação do que ocorre
normalmente. Havendo presunção, dispensa-se a produção da prova. As
decorrentes de lei podem ser relativas ou absolutas, conforme admitam ou não
prova em contrário.
Havendo presunção, o fato não precisa ser provado
INDÍCIOS- São sinais indicativos da existência ou veracidade de determinado fato
que, por si sós, não são suficientes para demonstrá-lo. No entanto, somados a
outras circunstâncias ou indícios, podem fazê-lo.
É UMA circunstancia conhecida e provada que ,tendo relação com o fato , autorize,
por indução. Concluir-se a existencia de outra circunstância
Sozinho, o indício não tem qualquer valor. No entanto, como causa ou efeito de
outro fato, pode chegar ao conhecimento de outro fato.
A partir do indício, se chega a presunção de determinado fato, por isso se fala em
PROVA INDICIÁRIA
Ex: marca de batom no calorinho, indica a traição;
marca do pneu no asfalto, comprova a freada brusca
cicatriz no rosto da modelo, pode indicar sofrimento moral
morte do filho, indica o sofrimento dopai
instalação de acampamento , indica esbulho.
-risada da testemunha,
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presunções legais. Mas podem, ainda, decorrer da observação do que comumente
acontece, como se dá com a presunção de culpa daquele que, em acidente de
trânsito, colide na traseira do veículo que segue à frente. É a denominada
presunção simples ou hominis.
As presunções não se confundem com os indícios, que são sinais indi- cativos da
existência ou veracidade de um fato, mas que, por si sós, seriam insuficientes para
prová-lo. A soma de vários indícios, ou a sua análise em conjunto com as demais
circunstâncias, pode levar à prova do fato.
7- Procedimento probatório/fases.
Sentido amplo: a instrução da causa compreende o preparo dos elementos
necessários para que se profira um a decisão. Abrange, por isso, a fase postulatória,
quando de expoe os pedidos e a defesa e o saneamento, em que fixam-se as
controversias e a fase probatória em si.
Em sentido restrito consideram-se a instrução da causa, tão somente, a FASE
PROBATÓRIA.
a) proposição: consiste no requerimento, formulado pela parte , de utilização de
um meio específico para demonstrar os fatos alegados
b) admissão: requeridas as provas, o Juiz irá resolver sobre a sua admissão. Ainda,
é possível que independente de requerimento das partes, o juiz possa detemrinar a
realização de uma prova que entenda necessária.
Uma vez proposta a prova, isso não significa que ela será produzida, sendo mister
que seja antes deferida, admitida pelo juiz, o que, no procedimento ordinário, ocorre
no despacho saneador, quando então o juiz fixará os pontos controvertidos sobre os
quais recairá a prova a ser produzida (art. 357, II, do CPC). Se requerida depois do
saneamento, em situações em que a lei o permite, o momento de admissão se dará
quando o juiz deliberar sobre o requerimento.
c) produção: juntada de documentos, realização de perícia, audiencia de instrução
e julgamento (juiz pode suspender e determinar realização de diligencias)
d) valoração das provas: será feita na decisão, quando o órgão julgador
demonstrará que papel teve a prova na formação de seu convencimento.
OUTRO POSICIONAMENTO
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O Princípio da cooperação tem por objeto um ambiente de diálogo equilibrado real,
e não em um ambiente de guerra ou de batalha, para que então se alcance um
processo “devido”.
Os Princípios do devido processo legal, da boa-fé processual e o do contraditório,
juntos, servem de base para o surgimento do princípio da cooperação.
O Princípio da cooperação está consagrado expressamente no artigo 6º do NCPC:
“Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em
tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.
Esse modelo caracteriza-se pelo redimensionamento do princípio do contraditório,
com a inclusão do órgão jurisdicional (JUIZ) no rol dos sujeitos do diálogo
processual e não mais como mero espectador do “duelo” das partes. O contraditório
é um instrumento indispensável ao aprimoramento da decisão judicial.
A condução do processo deixa de ser determinada pela vontade das partes
(dispositivo) e busca uma condução cooperativa do processo, sem destaques para
qualquer dos sujeitos processuais. O modelo cooperativo parece ser o mais
adequado para uma democracia.
Assim, o modelo de processo brasileiro será o Cooperativo, de forma expressa
com o NCPC, o qual é adequado à cláusula do devido processo legal e ao
regime democrático.
OUTRO POSICIONAMENTO
=não tem como enquadrar em um ou outro modelo-
Há momentos em que predomina um modelo dispositivo (como no ajuizamento),
outros predominao inquisitivo (atividade probatória)
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6o), em que juiz e partes atuam juntos, de forma comparticipativa, na construção
em
contraditório do resultado do processo, é preciso reconhecer que também o juiz tem
poderes de
iniciativa instrutória. Afinal, a ele – tanto quanto às partes – incumbe atuar na
direção da
construção de um resultado justo, constitucionalmente legítimo, para o processo.
Não seria
compatível com este modelo cooperativo de processo um juiz passivo, neutro, que se
limitasse a
valorar as provas que as partes produzem (como se dá, normalmente, em sistemas
processuais
que adotam um modelo adversarial, em que o juiz não tem qualquer poder de
iniciativa
instrutória, esta deixada exclusivamente na mão das partes).
MARCUS VINICIUS RIOS GONÇALVES
Ao fazê-lo, o juiz não perderá a imparcialidade. Antes, mostrar-se-á devotado ao seu
ofício, e
diligente na busca da verdade real. O princípio dispositivo é mitigado no que
concerne à produção de
provas: sendo possível, o juiz deve buscar a verdade real, determinando de ofício as
provas necessárias
à formação do seu convencimento.
Tem, portanto, o juiz ampla liberdade para determinar, de ofício, as provas que lhe
pareçam necessárias para apuração da verdade e para assegurar a igualdade real
de tratamento entre as partes.
Fabrício Lunardi
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Princípio inquisitivo
O princípio inquisitivo informa que o juiz pode de ofício determinar a produção de
provas no processo civil. De acordo com o art. 370, caput, do CPC, “caberá ao juiz,
de ofício ou a requeri-mento da parte, determinar as provas necessárias ao
julgamento do mérito” e, conforme o seu parágrafo único, “o juiz indeferirá, em
decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias”. O art.
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MARCELO ABELHA
Tradicionalmente, nos termos da concepção liberal de processo, o princípio
dispositivo determinava a vinculação do juiz não só às alegações das partes, mas
ainda às provas por elas apresentadas, encontrando expressão na máxima – que
remonta aos glosadores – judex debet judicare secundum allegata et probata
apartibus. A rigor, não poderia o juiz decidir senão com base nas alegações das
partes, tampouco assumir provas de ofício, sob pena de comprometer a sua
imparcialidade, requisito essencial para o correto exercício da função jurisdicional.
“No entanto, em sua versão moderna, nos termos da concepção social de processo,
o princípio dispositivo suporta uma remodelagem. Em particular, pode-se entrever o
abrandamento, ou até a abolição, do aforismo secundum probata partium judicare
debet. São, portanto, atribuídos poderes de iniciativa probatória do juiz.
Fredie didier
Em suma, o modelo adversarialassume a forma de competição ou disputa,
de-senvolvendo-se como um conflito entre dois adversários diante de um órgão
juris-dicional relativamente passivo, cuja principal função é a de decidir4. O modelo
in-quisitorial (não adversarial) organiza-se como uma pesquisa oficial, sendo o
órgão jurisdicional o grande protagonista do processo. No primeiro sistema, a maior
parte da atividade processual é desenvolvida pelas partes; no segundo, cabe ao
órgão judi-cial esse protagonismo5
A dicotomia princípio inquisitivo-princípio dispositivo está intimamente relacionada
à atribuição de poderes ao juiz: sempre que o legislador atribuir um poder ao
magistrado, independentemen-te da vontade das partes, vê-se manifestação de
“inquisitividade”; sempre que se deixe ao alvedrio dos litigantes a opção, aparece a
“dispositividade”
A “dispositividade” e a “inquisitividade” podem manifestar-se em relação a vá-rios
temas: a) instauração do processo; b) produção de provas; c) delimitação do objeto
litigioso (questão discutida no processo); d) análise de questões de fato e de direito;
e) recursos etc.Nada impede que o legislador, em relação a um tema, encampe o
“princípio dispositivo” e, em relação ao outro, o “princípio inquisitivo”. Por exemplo:
30
Direito Civil VII
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no direito processual civil brasileiro, a instauração do processo e a fixação do objeto
litigioso (o problema que deve ser resolvido pelo órgão jurisdicio-nal) são, em regra,
atribuições da parte (arts. 128, 263 e 460, CPC). Já em relação à investigação
probatória, o CPC admite que o juiz determine a produção de provas exofficio
Não é possível afirmar que o modelo processual brasileiro é totalmente dispositivo
ou inquisitivo. O mais recomendável é falar em predominância em relação a cada
um dos temas: em matéria de produção de provas, no efeito devolutivo dos
recursos, na delimitação do objeto litigioso etc
9- Aquisição da prova
9.1- Princípio da comunhão da prova- artigo 371
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do
sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu
convencimento.
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Direito Civil VII
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A prova adere ao processo, sendo irrelevante saber quem a trouxe. O que importa é
se ela existe nos autos e não a sua origem.
Quando trazida aos autos,a prova sai da esfera de disposição daquele que a
providenciou, tornando-se pública, comum e parte integrante do conjunto
probatório, para favorecer ou desfavorecer quem quer que seja.
Diante disso, o responsável pela produção da prova, não pode retirá-la do processo
ou impedir que o juiz a considere sob o argumento de que lhe é prejudicial ou por
ter arrependido de produzi-la. Não é o responsável pela produção da prova, o
DONO dela ( caso do menino que é dono da bola, perde o jogo e quer que anule os
gols).
9.2- Provas ilícitas
Prova ilícita é aquela que contraria qualquer norma no ordenamento jurídico
32
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Ex: documento encontrado após a invasão de domicilio, interceptação telefonica
autorizada pelo juiz com base em documento falso.
Assim, se a prova foi colhida com violação ao direito de intimidade, mas serve para
preservar, por exemplo, a vida ou a saúde da coletividade, seria autorizada.
Violação a intimidade (relacionamento da pessoa consigo mesma); vida privada
(relacionamento da pessoa com um número restrito de pessoas: família, amigos)
Embora não acolhido, entre nós, o princípio da proporcionalidade, tem-se admi-
tido a utilização da prova ilícita, quando obtida para legítima defesa, própria ou de
terceiro: a interceptação telefônica de uma ligação feita por sequestrador, por
exemplo.
- sigilo telefônico:
interceptação: conversa gravada por um terceiro, sem conhecimento dos
interlocutores. É ilícita, exceto se tiver autorização judicial
33
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escuta: quando a conversa entre duas pessoas é gravada por uma delas, sem
conhecimento da outra. Esta prova é tida como lícita.
Se um dos protagonistas grava uma conversa que tem com outro ao telefone, a
gravação pode ser por ele utilizada como prova, ainda que o outro não consinta.
Não há violação ao direito de intimidade porque foi feita por um dos participantes
em regra, só é permitida a interceptação telefonida no processo penal (art. 5º, XII
da CF)- só pode ser utilizada se for emprestada no processo penal.
(A E. 3a Turma do Superior Tribunal de Justiça admitiu, em caráter excepcional, a
utilização de interceptação telefônica em processo civil, envolvendo direito de
família, quando não havia alternativa, e em si- tuação em que havia grave risco a
um menor — ver, a respeito, o HC 203.405 do STJ.)
34
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mesmo a conflitar com o princípio básico do contraditório, que nenhum
direito processual moderno pode desprezar.
(c) o da persuasão racional ou livre convencimento motivado-O sistema de
persuasão racional é fruto da mais atualizada compreensão da atividade
jurisdicional. Mereceu consagração nos Códigos napoleônicos e prevalece entre nós,
como orientação doutrinária e legislativa.
Enquanto no livre convencimento o juiz pode julgar sem se atentar,
necessariamente, para a prova dos autos, recorrendo a métodos que escapam ao
controle das partes, no sistema da persuasão racional, o julgamento deve ser fruto
de uma operação lógica armada com base nos elementos de convicção existentes no
processo.
Sem a rigidez da prova legal, em que o valor de cada prova é previamente fixado na
lei, o juiz, atendo-se apenas às provas do processo, formará seu convencimento com
liberdade e segundo a consciência formada. Embora seja livre o exame das
provas, não há arbitrariedade, porque a conclusão deve ligar-se logicamente à
apreciação jurídica daquilo que restou demonstrado nos autos. Além disso, o
juiz não pode fugir dos meios científicos que regulam as provas e sua produção,
tampouco às regras da lógica e da experiência.
A convicção fica, pois, condicionada, segundo Amaral Santos:42
(a) aos fatos nos quais se funda a relação jurídica controvertida;
(b) às provas desses fatos, colhidas no processo;
(c) às regras legais e máximas de experiência;
(d) e o julgamento deverá sempre ser motivado.
Fredie didier critina o termo “livre” convencimento motivado, porque o juiz não
aprecia a prova livremente, há uma série de limitações, o juiz não pode valorar
o prova como bem entende.
35
Direito Civil VII
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Com isso, estabeleceu-se o dever de apreciar não a prova que livremente
escolher, mas todo o conjunto probatório existente nos autos. Repeliu-se a
tendência esboçada em certa corrente jurisprudencial que reconhecia ao juiz o
dever de justificar a conclusão a que chegou, expondo apenas as razões capazes de
sustentá-la. Segundo tal entendimento, o juiz, no regime do CPC de 1973, não
estaria sujeito a responder a todos os argumentos da parte, nem a analisar
exaustivamente todas as provas, desde que sua fundamentação pudesse explicar as
razões do decisório.45
O novo Código, de tal sorte, esposou a teoria, até então minoritária nos
tribunais, mas não menos expressiva, de que “sentença e acórdão haverão de
examinar os vários fundamentos relevantes deduzidos na inicial e na
contestação [assim como todas as provas que lhes sejam pertinentes –
acrescentamos], justificando porque não são acolhidos”.46 É bom lembrar que a
corrente majoritária, que se satisfazia com a fundamentação parcial, nunca foi
aplaudida pela boa doutrina. Pelo contrário, Taruffo advertia que semelhante tese,
por trás de aparente razoabilidade, esconde grave equívoco procedimental.47
Enfim, a doutrina nunca reconheceu ao juiz o poder de agir livremente na
escolha e na avaliação da prova que servirá de fundamento de sua decisão. O
convencimento, in casu, só é livre “no sentido de que não acarreta
pré-valorações legais que vinculem o juiz; não é livre, por outro lado, das regras
da lógica e da racionalidade em geral. Afinal, de nada adiantaria produzir amplo e
rico material probatório, se o juiz pudesse simplesmente desconsiderá-lo na hora de
tomar a decisão”.48
Portanto, só é legítima a valorização da prova quando feita pelo juiz de forma
racional e analítica, “respeitando critérios de completude, coerência,
congruência e correção lógica”.49
Com efeito, o processo democrático não pode tolerar construções de resultados
processuais que sejam fruto do puro discricionarismo do juiz. A participação de
todos os sujeitos do processo na formação do provimento jurisdicional é uma
imposição da constitucionalização da tutela jurisdicional. A fundamentação da
sentença, portanto, não pode se confundir com a simples fundamentação escolhida
pelo juiz para justificar seu convencimento livre e individualmente formado diante
da lide. Todos os argumentos e todas as provas deduzidas no processo terão de ser
racional e objetivamente analisados, sem preconceitos subjetivos. O juiz interpreta
e aplica o direito e não seus sentimentos pessoais acerca de justiça. É por isso que
não se deve atrelar o julgamento ao livre convencimento do sentenciante. O exame
das provas, sem hierarquização de valor entre elas, terá de ser realizar, segundo
critérios objetivos que se voltem para a definição não da vontade do julgador, mas
do ordenamento jurídico, como um todo, concretizado e individualizado diante do
caso dos autos. O juiz apenas a descobre e declara na sentença, aplicando-a à
solução do conflito submetido à jurisdição.
36
Direito Civil VII
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De fato, na constitucionalização do processo democrático, no Estado
contemporâneo, não cabe mais pensar-se num comando processual apoiado no
“livre convencimento” e na “livre apreciação da prova” a cargo do juiz, pelo
risco que tais critérios trazem de gerar “decisões conforme a consciência do
julgador”, quando se sabe que toda evolução do Estado Constitucional
contemporâneo se deu no sentido de que, no processo, “as decisões judiciais não
devem ser tomadas a partir de critérios pessoais, isto é, a partir da consciência
psicologista (…) A justiça e o Judiciário não podem depender da opinião pessoal que
juízes e promotores tenham sobre as leis ou fenômenos sociais, até porque os
sentidos sobre as leis (e os fenômenos) são produto de uma intersubjetividade, e
não de um indivíduo isolado”.50
Não merece censura, portanto, o novo CPC, quando afastou, em matéria de
avaliação dos elementos probatórios do processo, a menção ao “livre
convencimento” do julgador. O juiz julgará sempre segundo a prova dos autos e
segundo o direito aplicável aos fatos apurados, mas não o fará
discricionariamente mediante escolha de uma inteligência que se apoie apenas
em sua consciência de justiça. É preciso ter sempre presente que o princípio da
legalidade é o primeiro entre os qualificadores do Estado de Direito (CF, art. 5º, II).
O juiz tem liberdade para valorar as provas e atribuir-lhes o valor que
mereçam na formação de sua convicção. Mas, ao proferir a decisão, deve
justificá-la, com base nas provas colhidas, esclarecendo de que maneira foram
valoradas e quais foram decisivas para o seu convencimento. Este deve ser
racional, isto é, fundado em razões pertinentes, associadas às provas
produzidas nos autos. Não se admite o convencimento emocional, pautado em
razões pessoais do juiz, nem o baseado em conhecimento pró- prio dos fatos. Q
5.1.6Princípio do livre convencimento motivado do juiz
Segundo os ditames do artigo 371, o Direito processual civil brasileiro adotou o
princípio do livre convencimento motivado do juiz, também denominado persuasão
racional, em detrimento dos sistemas da livre apreciação (ou da convicção íntima)33
e da prova legal.34
Pelo sistema adotado no Direito processual civil brasileiro, não há uma
pré-valoração da prova nem um peso de valor, de modo que o juiz está livre para
valorar a prova dentro do conjunto probatório na busca do seu convencimento
acerca da lide proposta. Todavia, do mesmo modo que a lei permite a liberdade na
valoração, restringe-a aos elementos constantes dos autos, ainda que não alegados
pelas partes. Trata-se da aplicação da máxima “o que não está nos autos não está
no mundo”, cristalizada no princípio da verdade formal. Isso significa dizer que a
valoração das provas pelo magistrado é livre dentro do continente processual.
Assim, deve decidir com base no que está presente nos autos.
Mais ainda, o livre convencimento motivado implica a necessidade de
fundamentação da decisão, como assevera o art. 93, IX, da CF/1988, tantas vezes
repetido nas normas fundamentais de forma expressa ou tácita. Justifica-se tal
exigência não só para que sejam demonstradas as razões do convencimento do
magistrado, mas também para permitir o exercício pleno do direito de recorrer da
decisão, em atendimento ao princípio da dialética recursal.
37
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Conquanto o CPC tenha adotado a regra do livre convencimento motivado, há
a previsão da prova legal em diversos dispositivos do Código. A prova legal se
impõe como limitação ao sistema do livre convencimento motivado porque,
nesses casos, o fato só pode ser provado pelo modo que a lei estabelecer.
Assim, só por meio de certidão de registro civil se prova o estado da pessoa,
não sendo lícito ao juiz, porque se trata de prova legal, considerar provado tal
fato por outro meio de prova, por mais especial que seja.
DO ONUS DA PROVA
1) Conceito- é o encargo que se atribui a um sujeito para demonstrar
determinadas alegações de fato.
O juiz tem de julgar. Se há provas, julgará com base naquelas que entender
melhores ao desate da causa (livre convencimento motivado). Se não há, deverá
examinar quem deveria produzi-las. Quem tem de produzir, e não o faz, perde.
38
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Assim, de acordo com o CPC, em regra quem alega, e geralmente quem o faz é o
demandante, tem de provar, de modo que se nada prova, terá a causa julgada im-
procedente. Já o réu, quando alega (defende-se trazendo um fato novo para neu-
tralizar os argumentos do autor), atrai o ônus de provar para si. Se não prova, o
feito será julgado procedente.
Não é um dever, por isso não se pode exigir o seu cumprimento. Normalmente, o
sujeito a quem se impõe o onus tem o interesse em observá-lo, para evitar que
fique em desvantagem.
As partes não são obrigadas a produzir provas a respeito do que alegarem. Elas
terão o ônus de fazê-lo. O ônus distingue-se da obrigação, porque esta é a ativi-
dade que uma pessoa faz em benefício da outra. O devedor, por exemplo, tem a
obrigação de pagar ao credo
2, e não da parte contrária. O litigante tem o ônus de contestar, o que lhe trará
o benefício de tornar controvertidos os fatos; sem isso, sofrerá a conse-
quência desfavorável decorrente da sua omissão.
Há casos em que, esgotadas as provas possíveis, os fatos não ficaram suficiente-
mente esclarecidos. A situação não é incomum: há fatos controvertidos, a respeito
dos quais cada litigante tem uma versão e dos quais não há provas, pois ninguém
os presenciou ou documentou. Porém, o juiz precisa decidir.
A lei processual formula uma série de regras aplicáveis somente na hipótese de, no
momento do julgamento, os fatos não terem ficado suficientemente esclarecidos.
São as regras do ônus da prova, cuja função é indicar qual dos litigantes
sofrerá as consequências negativas advindas da falta de comprovação.
Se o juiz, concluída a instrução, formou o seu convencimento sobre os fatos, não
terá necessidade de socorrer-se delas. Bastará extrair as consequências jurídicas
per- tinentes ao caso. Não aclarados os fatos, o juiz, para poder sentenciar,
verificará a quem cabia o ônus de prová-los: será esse o litigante que sofrerá as
consequências negativas da falta ou insuficiência de provas.
A aplicação das regras do ônus da prova deve ficar reservada à hipótese de
terem sido esgotadas as possibilidades de aclaramento dos fatos. Se ainda hou-
ver prova que o auxilie, deverá o juiz mandar produzi-la, de ofício, na forma do
art. 370 do CPC. As regras do ônus da prova vêm formuladas no art. 373 do
CPC.
Cada parte, portanto, tem o ônus de provar os pressupostos fáticos do direito que
pretenda seja aplicado pelo juiz na solução do litígio.
Quando o réu contesta apenas negando o fato em que se baseia a pretensão do
autor, todo o ônus probatório recai sobre este. Mesmo sem nenhuma iniciativa de
prova, o réu ganhará a causa, se o autor não demonstrar a veracidade do fato
constitutivo do seu pretenso direito. Actore non probante absolvitur reus.107
Quando, todavia, o réu se defende por meio de defesa indireta, invocando fato capaz
de alterar ou eliminar as consequências jurídicas daquele outro fato invocado pelo
autor, a regra inverte-se. É que, ao se basear em fato modificativo, extintivo ou
impeditivo do direito do autor, o réu implicitamente admite como verídico o fato
básico da petição inicial, ou seja, aquele que causou o aparecimento do direito que,
posteriormente, veio a sofrer as consequências do evento a que alude a contestação.
O fato constitutivo do direito do autor, em tal circunstância, torna-se incontroverso,
dispensando, por isso mesmo, a respectiva prova (art. 374, III).108 A controvérsia
deslocou-se para o fato trazido pela resposta do réu. A este, pois, tocará o ônus de
prová-lo. Assim, se o réu na ação de despejo por falta de pagamento nega a
42
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existência da relação ex locato, o ônus da prova será do autor. Mas, se a defesa
basear-se no prévio pagamento dos aluguéis reclamados ou na inexigibilidade deles,
o onus probandi será todo do réu.
Caso o réu alegue por meio de defesa de mérito indireta um fato novo, impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor, terá o ônus de comprová-lo. Por fato
impeditivo entende-se aquele de conteúdo negativo,demonstrativo da ausência de
algum dos requisitos genéricos de validade do ato jurídico como, por exemplo, a
alegação de que o contratante era absolutamente incapaz quando celebrou o
contrato.
Fato modificativo é aquele que altera apenas parcialmente o fato constitutivo,
podendo ser tal alteração subjetiva, ou seja, referente aos sujeitos da relação
jurídica (como ocorre, por exemplo, na cessão de crédito) ou objetiva, ou seja,
referente ao conteúdo da relação jurídica (como ocorre, por exemplo, na
compensação parcial).
Fato extintivo é o que faz cessar a relação jurídica original, como a compensação
numa ação de cobrança. A simples negação do fato alegado pelo autor não
acarreta ao réu o ônus da prova.
____________________________
Quando o réu contesta apenas negando o fato em que se baseia a pretensão do
autor, todo o ônus probatório recai sobre este. Mesmo sem nenhuma iniciativa de
prova, o réu ganhará a causa, se o autor não demonstrar a veracidade do fato
constitutivo do seu pretenso direito. Actore non probante absolvitur reus.107
Quando, todavia, o réu se defende por meio de defesa indireta, invocando fato capaz
de alterar ou eliminar as consequências jurídicas daquele outro fato invocado pelo
autor, a regra inverte-se. É que, ao se basear em fato modificativo, extintivo ou
impeditivo do direito do autor, o réu implicitamente admite como verídico o fato
básico da petição inicial, ou seja, aquele que causou o aparecimento do direito que,
posteriormente, veio a sofrer as consequências do evento a que alude a contestação.
O fato constitutivo do direito do autor, em tal circunstância, torna-se incontroverso,
dispensando, por isso mesmo, a respectiva prova (art. 374, III).108 A controvérsia
deslocou-se para o fato trazido pela resposta do réu. A este, pois, tocará o ônus de
prová-lo. Assim, se o réu na ação de despejo por falta de pagamento nega a
existência da relação ex locato, o ônus da prova será do autor. Mas, se a defesa
basear-se no prévio pagamento dos aluguéis reclamados ou na inexigibilidade deles,
o onus probandi será todo do réu.
Cumpre, porém, distinguir entre negação do fato e fato negativo. A simples negação
do fato constitutivo, naturalmente, não reclama prova de quem a faz. O fato
negativo, porém, aquele que funciona como fato constitutivo de um direito, tem sua
prova muitas vezes exigida pela própria lei. É o que ocorre, por exemplo, com a
prova do não uso, por 10 anos, para extinguir-se a servidão (CC, art. 1.389, III), ou
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da omissão culposa, em matéria de responsabilidade civil (CC, arts. 186 e 927). Em
casos como esses, a parte que alega o fato negativo terá o ônus de prová-lo.
3.2- DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA- INVERSÃO DO ÔNUS
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva
dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá
o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o
faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à
parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.
§ 2o A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar
situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja
impossível ou excessivamente difícil.
Art. 378. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o
descobrimento da verdade.
rt. 379. Preservado o direito de não produzir prova contra si própria, incumbe à
parte:
I - comparecer em juízo, respondendo ao que lhe for interrogado;
II - colaborar com o juízo na realização de inspeção judicial que for considerada
necessária;
III - praticar o ato que lhe for determinado.
Poderão as partes invocar o art. 379 para questionar a distribuição dinâmica
(inversão) do ônus da prova previsto no art. 373 § 1º?
44
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comportamento processual, quando ele se mostrar ofensivo ao princípio da
boa-fé.122
Como se viu, o sistema de partilha do ônus da prova previsto no art. 373 do NCPC é
estático e rígido. Na experiência da vida, entretanto, constata-se que as causas
disputadas em juízo nem sempre permitem uma satisfatória separação de fatos
constitutivos e fatos extintivos de direito em compartimentos estanques. Não
poucas vezes o acesso à verdade real por parte do juiz fica comprometido ou
prejudicado se se mantiver o esquema de apreciação do litígio rigorosamente
imposto no momento de concluir a instrução processual, e de enfrentar o
julgamento do mérito segundo a fria aplicação das presunções que haveriam de
defluir da literalidade do art. 370.
A revisão da doutrina estática do ônus da prova passou a ser reclamada por forte
corrente, liderada por Jorge W. Peyrano, sob o argumento de que a tradicional
partilha das cargas probatórias, em sua rigidez, se mostrava indiferente à
possibilidade de causar injustiças em sua aplicação.118
Daí ter-se, modernamente, formado um entendimento, com trânsito doutrinário e
jurisprudencial, mesmo antes do novo Código, segundo o qual, nas ações de
responsabilidade civil, sobretudo em situações de prestação de serviços técnicos
como o dos médicos, dentistas e outros de grande complexidade, é de admitir-se
um abrandamento no rigor da distribuição do ônus da prova traçado pelo art. 373
do NCPC.119
Fala-se em distribuição dinâmica do ônus probatório, por meio da qual, no caso
concreto, conforme a evolução do processo, seria atribuído pelo juiz o encargo de
prova à parte que detivesse conhecimentos técnicos ou informações específicas
sobre os fatos discutidos na causa, ou, simplesmente, tivesse maior facilidade na
sua demonstração. Com isso, a parte encarregada de esclarecer os fatos
controvertidos poderia não ser aquela que, de regra, teria de fazê-lo.120
O Novo Código de Processo Civil adota essa forma dinâmica de distribuição do ônus
da prova. Conforme já mencionado, apesar de o art. 373 em seus dois incisos
repetir as regras contidas no art. 333 do CPC/1973, em seu § 1.º permite que o
juiz, nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa,
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo
ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, atribua, em
decisão fundamentada e com respeito ao princípio do contraditório, o ônus da
prova de forma diversa.
Consagra-se legislativamente a ideia de que deve ter o ônus da prova a parte
que apresentar maior facilidade em produzir a prova e se livrar do encargo. Como
essa maior facilidade dependerá do caso concreto, cabe ao juiz fazer a análise e
determinar qual o ônus de cada parte no processo
45
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Como se pode notar, o sistema brasileiro passou a ser misto, sendo possível
aplicar ao caso concreto o sistema flexível da distribuição dinâmica do ônus
da prova como o sistema rígido da distribuição legal. Tudo dependerá da
iniciativa do juiz, que não estará obrigado a fazer distribuição do ônus probatório de
forma diferente daquela prevista na lei.
III – Requisitos:
A correta aplicação da teoria exige a observância dos seguintes requisitos:
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(a) A parte que suporta o redirecionamento não fica encarregada de provar o fato
constitutivo do direito do adversário; sua missão é a de esclarecer o fato
controvertido apontado pelo juiz, o qual já deve achar-se parcial ou indiciariamente
demonstrado nos autos, de modo que a diligência ordenada tanto pode confirmar a
tese de um como de outro dos litigantes; mas, se o novo encarregado do ônus da
prova não desempenhar a contento a tarefa esclarecedora, sairá vitorioso aquele
que foi aliviado, pelo juiz, da prova completa do fato controvertido;
(b) A prova redirecionada deve ser possível. Se nenhum dos contendores tem
condição de provar o fato, não se admite que o juiz possa aplicar a teoria da
dinamização do onus probandi; para aplicá-la de forma justa e adequada, o novo
encarregado terá de ter condições efetivas de esclarecer o ponto controvertido da
apuração da verdade real (art. 373, § 2º);126 se tal não ocorrer, o ônus da prova
continuará regido pela regra legal estática, isto é, pelo art. 373, caput;
(c) A redistribuição não pode representar surpresa para a parte, de modo que a
deliberação deverá ser tomada pelo juiz, com intimação do novo encarregado do
ônus da prova esclarecedora, a tempo de proporcionar-lhe oportunidade de se
desincumbir a contento do encargo. Não se tolera que o juiz, de surpresa, decida
aplicar a dinamização no momento de sentenciar; o processo justo é aquele que se
desenvolve às claras, segundo os ditames do contraditório e ampla defesa, em
constante cooperação entre as partes e o juiz e, também, entre o juiz e as partes,
numa completa reciprocidade entre todos os sujeitos do processo;127
(d) O NCPC deixa bem claro que “a aplicação da técnica da distribuição dinâmica
do ônus da prova não deve ser aplicada, tão somente, na sentença. Cabe ao
magistrado, quando da fixação dos pontos controvertidos e da especificação
das provas, na audiência preliminar ou na decisão saneadora, deixar claro que
a causa não será julgada pela técnica da distribuição estática do ônus da prova
(art. 333 do CPC/73) [NCPC, art. 373], esclarecendo o que deve ser provado pela
parte onerada pela distribuição dinâmica do ônus probatório. Caso contrário, se
utilizada a técnica de distribuição dinâmica como regra de julgamento, ficará
comprometida a garantia constitucional do contraditório, retirando da parte o
direito à prova contrária. Justamente para evitar a utilização da técnica de
distribuição dinâmica como mecanismo de prejulgamento da causa e a fim de evitar
decisões surpresas, contrárias à ideia do Estado Democrático de Direito e às
garantias fundamentais previstas na Constituição Federal, é que deve ser
oportunizada à parte onerada o direito à prova”;128
(e) O NCPC não deixa lugar à dúvida: “o juiz deverá dar à parte a oportunidade de
se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído” (art. 373, § 1º, in fine).
Um exemplo extraído da jurisprudência demonstra bem como se pode, de maneira
justa, aplicar a dinamização da prova: apreciando uma causa entre o adquirente de
cartela de “telebingo” e a empresa promotora do sorteio pela televisão, reconheceu o
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acórdão do STJ que ao consumidor bastaria comprovar que se achava habilitado ao
concurso, mediante exibição da cartela e do registro dos números sorteados. Tudo o
mais seria por conta “de quem promove o evento”, pois, “apenas a organizadora do
certame televisionado poderia fornecer os elementos esclarecedores do ato que
promoveu”.129
O sistema da distribuição dinâmica do ônus da prova, enfim, compatibiliza-se com
o direito positivo brasileiro, no qual se reconhece que, em princípio, todos os meios
legais bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados no CPC, são
hábeis “para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e
influir eficazmente na convicção do juiz” (art. 369);130 e também se atribui à
presunção a força do meio de prova (CC, art. 212, IV). Além disso, figura entre os
deveres da parte o de, durante a instrução da causa, “praticar o ato que lhe for
determinado” pelo juiz (NCPC, art. 379, III).131 Assim, se se ordena a uma parte
produzir prova ou esclarecimento a seu alcance, e se esta, sem justificar a recusa,
omite-se no cumprimento da ordem judicial, autorizado estará o uso de seu
comportamento como indício, que juntamente com outros elementos de prova ou
outros indícios já presentes nos autos, funcionará como elemento útil ao
julgamento da causa.132 É, pois, no terreno das provas indiciárias ou
circunstanciais que a utilização do dinamismo do ônus da prova será melhor
empregada. Entretanto, uma total inversão do ônus da prova, com quebra completa
do sistema do direito positivo, não deve, a nosso ver, ser feita sob o rótulo de
distribuição dinâmica do ônus da prova.133
Na lição de Eduardo Cambi,137 que trilha o mesmo caminho exegético, a
distribuição dinâmica do ônus da prova pode ser justificada pelos seus objetivos
de:
(a) evitar os riscos de injustiça que às vezes decorrem da aplicação fria do sistema
da partilha estática do ônus da prova;
(b) atribuir a carga à parte que melhores condições tem para clarear a situação
fática controvertida, com o que se inibe julgamento em situação de incerteza,
baseado apenas na regra formal ordinária;
(c) impedir que a parte possuidora de informações privilegiadas as maneje
arbitrariamente, com o que se pode garantir o contraditório segundo o princípio da
paridade de armas e da boa-fé processual;
(d) garantir a maior cooperação entre os sujeitos do processo, para evitar decisões
surpresa, potencializar a busca da verdade real e proporcionar o alcance do
processo justo e estruturado de modo a enaltecer o valor solidariedade, consagrado
na Constituição Federal.
CDC-Para as demandas intentadas no âmbito das relações de consumo, existe
regra especial que autoriza, em certos casos, a inversão do ônus da prova,
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transferindo-o do autor (consumidor) para o réu (fornecedor) (art. 6º, VIII, do CDC).
Não se pode, todavia, entender que o consumidor tenha sido totalmente liberado do
encargo de provar o fato constitutivo do seu direito, nem que a inversão especial do
CDC ocorra sempre, e de maneira automática, nas ações de consumo.151 Em
primeiro lugar, a lei tutelar do consumidor condiciona a inversão a determinados
requisitos (verossimilhança das alegações ou hipossuficiência do consumidor), que
haverão de ser aferidos pelo juiz para a concessão do excepcional benefício legal.
Em segundo lugar, não se pode cogitar de verossimilhança de um fato ou da
hipossuficiência da parte para prová-lo sem que haja um suporte probatório
mínimo sobre o qual o juiz possa deliberar para definir o cabimento, ou não, da
inversão do ônus da prova.
Apesar de o art. 373, § 1.º, do Novo CPC prever a possibilidade de o juiz atribuir o
ônus da prova “de modo diverso”, naturalmente a regra trata da inversão do ônus
da prova, até porque, sendo este distribuído entre autor e réu, o modo diverso só
pode significar a inversão da regra legal. Tanto assim que o dispositivo
expressamente se refere aos casos previstos em lei como umas das hipóteses da
fixação “de modo diverso”, e esses casos são justamente os de inversão do ônus da
prova.
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requisitos legais no caso concreto. Os exemplos dessa espécie de inversão do
ônus probatório são encontrados no Código de Defesado Consumidor:
● (a) é ônus do fornecedor provar que não colocou o produto no mercado, que
ele não é defeituoso ou que houve culpa exclusiva doconsumidor ou de
terceiros pelos danos gerados (art. 12, § 3.º, do CDC);
● (b) é ônus do fornecedor provar que o serviço não é defeituoso ou que há
culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro nos danosgerados (art. 14, §
3.º, do CDC);
● (c) é ônus do fornecedor provar a veracidade e correção da informação ou
comunicação publicitária que patrocina (art. 38 do CDC).
Na realidade, nesses casos, nem é precisamente correto falar-se em inversão
porque o que se tem é uma regra legal específica em sentido contrário à regra
legal genérica de distribuição do ônus da prova. Tanto assim que o juiz não
inverterá o ônus da prova no caso concreto, limitando-se a aplicar a regra
específica se no momento do julgamento lhe faltar prova para a formação de
seu convencimento.
Pode ocorrer em duas hipóteses: a) quando houver lei que a autorize. Não se
confunde com a inversão legal, pois não decorre direta e automaticamente da lei.
Ela apenas atribui ao juiz o poder de determiná-
la, nos casos concretos, desde que verificadas determinadas circunstâncias.
Distingue-se da presunção legal, em que a lei preestabelece os requisitos, não
dando ao juiz nenhuma margem de ava- liação; na judicial, a lei condiciona a
inversão a que, a critério do juiz, estejam presentes determinadas circunstâncias; b)
em razão das peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à
excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput do art. 373 ou à
maior facilidade de obtenção de prova, caso em que o juiz redistribuirá o ônus por
decisão fundamentada. Nessa segunda hipótese, o legislador acolheu a regra da
dinâmica do ônus da prova, que poderá ser alterado se, com a aplicação da regra
geral, o juiz verificar que a prova ficou excessivamente difícil para quem
normalmente teria o ônus, ou excessivamente fácil para a parte contrária. Trata-se
da aplicação da regra de que o ônus deve ser atribuído a quem manifestamente
tenha mais facilidade de obter ou produzir a prova. Se pela regra geral do caput o
juiz verificar que o ônus será atribuído a quem terá mui- ta dificuldade de dele se
desincumbir, ou perceber que a parte contrária terá maior facilidade de obtenção da
prova, ele redistribuirá dinamicamente o ônus. Ao fazê- -lo, porém, ele deverá
fundamentar a sua decisão para que haja o controle dos fundamentos em que ela
se embasou. O juiz, então, deverá indicar o motivo por que a prova seria impossível
ou excessivamente difícil para a parte que, em princípio, tinha o ônus, ou mais fácil
para quem não o tinha, de forma a propiciar a alteração. Não haverá
discricionariedade do juiz, que deverá observar estritamente os requisi- tos do art.
373 e seus parágrafos.
O exemplo mais importante de inversão judicial autorizada por lei é o do art. 6o,
VIII, do Código do Consumidor, que assegura, entre os direitos básicos do consumi-
dor: “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
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prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a ale-
gação ou quando for hipossuficiente, segundo as regras ordinárias da experiência”.
São duas as hipóteses que autorizam a inversão. Basta que uma delas esteja pre-
sente para que o juiz a autorize:
* Quando for verossímil a alegação: o Código do Consumidor busca a facili-
tação da defesa dos direitos do consumidor. Para tanto, estabelece que o juiz pode
considerar provado um fato não em um juízo de certeza, mas de verossimi- lhança
ou de probabilidade. Cumprirá ao juiz, no caso concreto, examinar se isso é
suficiente para formar-lhe o convencimento, dispensando, então, a prova do fato
plausível.
* Quando o consumidor for hipossuficiente: há dois tipos de hipossuficiência e
ambas podem levar à inversão. A econômica, quando o consumidor tiver difi-
culdade de comprovar o alegado por força de dificuldades materiais, que o im-
pedem, por exemplo, de se defender adequadamente ou de conseguir as provas
necessárias; e a técnica, quando a comprovação de fatos relacionados à coisa
fornecida ou ao serviço prestado demande conhecimento técnico de que o con-
sumidor não dispõe, mas que pode ser facilmente obtido pelo fornecedor, que
conhece os aspectos técnicos do produto ou serviço que colocou no mercado.
______________________________________
Ocorre quando a lei permite que o juiz, ao proferir o julgamento, altere as regras
legais de distribuição do ônus da prova. É o que se dá no Código de Defesa do
Consumidor, cujo art. 6o, VIII, permite inverter o ônus da prova em favor do
consumidor sempre que, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for
ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.
Basta que um dos dois requisitos esteja presente. No caso de verossi- milhança,
não é propriamente uma inversão.
Na lição de Kazuo Watanabe: “na primeira situação, na verdade, não há uma
verdadeira inversão do ônus da prova. O que ocorre, como bem observa Leo
Rosemberg, é que o magis- trado, com a ajuda das máximas de experiência e das
regras da vida, conside- ra produzida a prova que incumbe a uma das partes.
Examinando as condições de fato com base em máximas de experiência, o
magistrado parte do curso normal dos acontecimentos e, porque o fato é
ordinariamente a consequên- cia ou o pressuposto de outro fato, em caso de
existência deste, admite aquele também como existente, a menos que a outra parte
demonstre o contrário. Assim, não se trata de uma autêntica hipótese de inversão
do ônus da prova”5.
Haverá a inversão judicial, propriamente, quando o juiz considerar o consumidor
hipossuficiente. A hipossuficiência a que alude a lei não é apenas a econômica, mas
em especial a de informações (técnica). O juiz procederá à inversão sempre que
verificar que a produção da prova seria difícil ao con- sumidor, porque depende de
conhecimentos técnicos ou de informações que, normalmente, estão em poder do
fornecedor. É ele que conhece o produtoou o serviço que foi posto no mercado, e
seria difícil ao consumidor fazer prova, por exemplo, da causa ou origem de um
defeito. Em casos assim, o juiz inverterá o ônus.
O CPC traz outra possibilidade de inversão do ônus da prova, autori- zando o juiz a
promovê-la “nos casos previstos em lei ou diante de peculiari- dades da causa
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relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo
nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo di- verso, desde que
o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído”. Trata-se,
portanto, do poder atribuído ao juiz de modificar a distribuição do ônus em razão
da excessiva dificuldade da parte que, normalmente, teria de produzir a prova, ou
da maior facilidade que o adversário teria de fazer a prova do fato contrário. O
dispositivo adota hipótese de distribuição dinâmi- ca do ônus da prova, em que se
dá ao juiz a possibilidade de, verificadas de- terminadas circunstâncias do caso
concreto, modificar o ônus da prova, ori- ginalmente estabelecido pela lei, em busca
da igualdade real entre as partes. Mas o § 2o do art. 373 adverte que a inversão não
deverá ocorrer se gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte
seja impossível ou excessivamente difícil.
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