Você está na página 1de 5

Teoria Geral das Provas

1. Introdução:
Prova é todo elemento ou instrumento previsto ou não em lei, capaz de demonstrar
veracidade de algum fato ou de alguma situação jurídica que interessa a solução do litígio.
Normalmente ocorre durante os atos de instrução.

2. Classificação das provas:


A classificação das provas encontra-se, em primeira análise, disposta no artigo 369
do CPC, abaixo em epígrafe:
“Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem
como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código,
para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e
influir eficazmente na convicção do juiz.”

A. Provas típicas ou Atípicas:

● Provas Típicas - expressamente previstas no CPC, exemplo:


depoimento pessoal, prova pericial…;
● Prova Atípicas: são provas não positivadas no CPC. Podem ser
empregadas por não serem ilícitas (princípio da atipicidade dos
meios de prova, previsto no artigo 369 do CPC), por exemplo:
exibição de um vídeo em audiência…

B. Provas ilícitas:
● São provas que foram produzidas em viloação ao ordenamento
jurídico, em desconformidade às normas constitucionais ou
infraconstitucionais;
● Serão desconsideradas provas ilícitas ou as adquiridas de maneira
ilícita - teoria dos frutos envenenados.

C .Prova Emprestada:
● é possível que prova produzida em um processo seja aproveitado em
outro, mas, para tanto, é necessário que tenha sido observado o
contraditória;
● “Art. 372. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro
processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o
contraditório.”;
● Tem caráter documental, e, segundo entendimento consolidado do STJ, as
partes do processo destino não necessitam ser as mesmas do processo de
origem;
D. Provas de Fora da Terra:
● Prova produzida por um juízo de outra base territorial distinta da base em
que tramita o processo, quando uma prova é produzida através de carta
precatória, é ouvida uma testemunha de outra comarca, por exemplo.

3. Dinâmica Probatória:
Em regra o ônus da prova é estático, é segundo o artigo 373, caput do CPC, vejamos:

“Art. 373. O ônus da prova incumbe:”

Isso porque compete ao demandante o ônus da prova quanto ao fato constitutivo de seu
direito e incumbe ao réu o ônus da prova quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor. Destacam-se os incisos do artigo supra:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

“II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo


do direito do autor.”

Contudo o CPC adota a possibilidade do ônus da prova ter caráter dinâmico quando prevê
que a prova deverá ser produzida pela parte que tem maiores condições de produzi-la, não obstando
ser parte requerente ou não da medida. Observa-se o §1° do Art. 373 do CPC, abaixo explicitado:

“§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa


relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do
fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à
parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.”

Portanto, a exceção é que o juiz poderá distribuir ônus da prova de maneira diversa,
normalmente até o saneamento do processo, inclusive, poderá inverter o ônus da prova “ex officio”.

Atente-se, ademais, que existem três espécies de inversão do ônus da prova: a) Convencional
- decorre do acordo de vontade entre as partes, podendo ocorrer antes ou durante o processo, b)
Legal - Prevista em lei; c) Judicial - o juiz inverter a prova no caso concreto.

4. Valoração probatória:
Existem três sistemas de valoração da prova, vejamos:
➢ Sistema Legal /da Prova tarifada - nesse sistema a prova possui valor
predeterminado, ou seja, o legislador define a carga probatória, apenas cabe ao juiz
a aplicação, pode ser observado no artigo 406 do CPC, por exemplo;
“Art. 406. Quando a lei exigir instrumento público como da substância do
ato, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a
falta.”
➢ Sistema da Íntima Convicção - juiz possui ampla liberdade, sendo desnecessário
motivar a sua decisão. É possível, nesse sistema, que o juiz se valha de situações
extra-autos para formar sua convicção. Não é permitido no ordenamento jurídico
brasileiro por violação do artigo 93, IX da CRFB;
➢ Persuasão Racional/Livre Convencimento Motivado - o sistema adotado no Brasil
é o da persuasão racional, onde o juiz apreciará a prova constante dos autos e
indicará as razões de seu convencimento, congruente ao artigo 371 do CPC, para
mais, há de se mencionar que as provas dos autos não são exclusivas, mas
pertencem ao processo em sua totalidade (princípio da comunhão das provas).
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente
do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento.”

5. Produção antecipada de provas:


A produção antecipada de provas é a prova produzida antes do momento em que ela
normalmente seria produzida. Materializa-se pela propositura de ação probatória autônoma.

“Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em


que:”

A competência para produção antecipada de provas é concorrente, sendo, geralmente, do


juízo do foro em que a prova deva ser produzida ou do juízo do foro do domicílio do réu, congruente
ao artigo 381, §2°, vejamos:

“§ 2º A produção antecipada da prova é da competência do juízo do foro


onde esta deva ser produzida ou do foro de domicílio do réu.”

O órgão jurisdicional onde esta produção antecipada tramitar não fica prevento para
eventual demanda posterior, segundo o artigo 381, §3° CPC:

“§ 3º A produção antecipada da prova não previne a competência do juízo


para a ação que venha a ser proposta.”

Juízo estadual tem competência para produção antecipada de prova requerida em face da
união, de entidade autárquica ou de empresa pública federal, se, na localidade, não houver vara
federal.

São hipóteses em que se admite produção antecipada de provas:

● Quando houver fundado receio de que essa prova venha se tornar impossível ou muito difícil
a verificação de certos fatos na pendÊncia da ação (testemunha idosa internada);
● Quando a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocompozição ou outro meio
adequado de solução de conflito;
● Quando o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação.

Por fim, faz-se mister expor o inteiro teor do artigo 382, CPC:

“Art. 382. Na petição, o requerente apresentará as razões que justificam a


necessidade de antecipação da prova e mencionará com precisão os fatos
sobre os quais a prova há de recair.

§ 1º O juiz determinará, de ofício ou a requerimento da parte, a citação de


interessados na produção da prova ou no fato a ser provado, salvo se
inexistente caráter contencioso.

§ 2º O juiz não se pronunciará sobre a ocorrência ou a inocorrência do fato,


nem sobre as respectivas consequências jurídicas.
§ 3º Os interessados poderão requerer a produção de qualquer prova no
mesmo procedimento, desde que relacionada ao mesmo fato, salvo se a
sua produção conjunta acarretar excessiva demora.

§ 4º Neste procedimento, não se admitirá defesa ou recurso, salvo contra


decisão que indeferir totalmente a produção da prova pleiteada pelo
requerente originário.

6. Das Provas em Espécie:

a. Ata Notarial:
Ata Notarial é uma ata ou certidão lavrada pelo tabelião. Pode estar representada por uma
imagem ou som que ateste a existência ou modo de existir de determinado fato, consonante ao artigo
384, CPC:

“Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser


atestados ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata
lavrada por tabelião.

Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em


arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial.”

Trata-se de prova pré-constituída, que pode ser comprovada através da forma documental,
todavia, como seu conteúdo é de prova oral, estamos diante a verdadeira prova documentada, e não
de prova documental.

b. Depoimento Pessoal:
O depoimento pessoal é realizado na A.I.J. Se houver urgência poderá ser prestado em sede
de produção antecipada de prova. Ademais, o depoimento pessoal é a colheita em juízo das
declarações de uma das partes principais do processo (demandante ou demandado).

A parte poderá ser recusar a depor em juízo. Neste caso, o juiz deverá interpretar a recusa
como confissão. O mesmo ocorrerá se a parte deixar de comparecer à A.I.J, ou se o depoente deixar
de apresentar respostas ou for evasivo, nestes casos o juiz entenderá que houve confissão, nos
moldes do artigo 386, CPC:

“Art. 386. Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao


que lhe for perguntado ou empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais
circunstâncias e os elementos de prova, declarará, na sentença, se houve
recusa de depor.”
Depoimento pessoal da parte que residir em outra comarca ou seção judiciária poderá ser
colhido por meio de videoconferência em tempo real.
O depoente não é obrigado a depor sobre:
● Fatos criminosos ou torpes que lhe sejam imputados;
● Fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo;
● Fatos acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu
companheiro ou parente em grau sucessível (até quarto grau);
● Fatos que coloquem em perigo a vida do depoente ou de seu cônjuge, de seu companheiro
ou parente de grau sucessível.

c. Confissão - Art. 389-395, CPC :


A confissão é admitir a ocorrÊncia de um fato contrário ao interesse próprio em favor à outra
parte. Ressalta-se que ela poderá ser judicial ou extrajudicial, também poderá ser oral ou escrita.
A confissão judicial deverá ser espontânea ou provocada:
● Espontânea - feita pela própria parte ou por representante com poder especial;
● Provocada - constará do termo de depoimento pessoal;
● Judicial - ocorrida nos próprios autos, faz prova contra o confitente, não prejudicando,
todavia, os litisconsortes;
● Extrajudicial - ocorre fora do processo. Quando feita oralmente, só terá eficácia nos casos
em que a lei não exija prova literal;
● Simples - é a confissão comum;
● Qualificada - é aquela onde o réu confessa o fato, mas apresenta defesa do mérito direta;
● Complexa - ré reconhece os fatos, mas argui um outro fato modificativo, extintivo ou
impeditivo do direito do autor, defesa de mérito indireta.

d. Exibição de documento ou coisa:


O juiz poderá ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder,
congruente ao artigo 396 do CPC.
Ademais, o pedido formulado deverá conter: a) Descrição da coisa ou documento; b)
Finalidade da Prova; c) Circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o
documento ou a coisa existem ainda que a referência seja a categoria de documentos ou de coisas,
e se acha em poder da parte contrária (nos moldes do artigo 397 do CPC).
Feito o requerimento, o juiz determinará que a parte contrária apresente a coisa ou
documento, bem como se manifeste no prazo de 5 (cinco) dias.
Casos em que o juiz não admitirá recusa:

“Art. 399. O juiz não admitirá a recusa se:

I - o requerido tiver obrigação legal de exibir;

II - o requerido tiver aludido ao documento ou à coisa, no processo, com o


intuito de constituir prova;

III - o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.”

e.

Você também pode gostar