Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“VICTÓRIO CARDASSI”
DIREITO
BEBEDOURO/SP
2021
GUSTAVO MESSIAS OLIVEIRA MACHADO
BEBEDOURO/SP
2021
2
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo analisar as mudanças decorrentes da Lei
número 13.964/2019 (Pacote Anticrime), quanto a prisão cautelar preventiva e os efeitos
decorrentes no processo penal. Abordando as medidas cautelares diversas da prisão como
alternativas a prisão preventiva, tratando também o contexto histórico quanto a reforma da
Lei 12. 403/11 no qual expandiu o rol de medidas alternativas à prisão preventiva. Devendo
sempre ser considerada as medidas diversas da prisão como primeira solução antes da
decretação da prisão preventiva, tornando a prisão preventiva excepcional. No entanto, quase
50% da população prisional corresponde a presos cautelares, parece claro que a medida não
vem sendo utilizada em caráter excepcional. Promove-se, portanto, um estudo teórico quanto
ao processo penal cautelar e suas finalidades, buscando analisar as normas que regulam as
medidas cautelares e a prisão preventiva. Primeiramente, será analisado o contexto histórico,
desde a reforma da Lei 12.403/11 até a reforma da Lei 13.964/2019. Logo após, os requisitos
e pressupostos que autorizam ou proíbem a prisão preventiva. Ao final, a necessidade de
fundamentação da decisão que decreta a prisão preventiva, bem como a fundamentação do
não cabimento da substituição por medidas diversas da prisão.
INTRODUÇÃO
Para Aury Lopes Junior (2021), a prisão preventiva pode ser decretada no curso da
investigação preliminar ou do processo, inclusive após a sentença condenatória recorrível.
Ademais, mesmo na fase recursal, se houver necessidade real, poderá ser decretada a prisão
preventiva (com fundamento na garantia da aplicação da lei penal).
Com a nova redação decorrente da Lei número 13.964/19 (Pacote anticrime), onde
alterou a regra do artigo 311 do código de processo penal. Não podendo ser mais decretada
de oficio pela autoridade judicial. Só podendo ser decretada a prisão preventiva pelo juiz ou
tribunal competente, quando houver requerimento/provocação do “Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial”.
Comparando o artigo 311 do Código De Processo Penal antes e depois das
mudanças da reforma do Pacote Anticrime: Art. 311. Em qualquer fase da investigação
policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no
curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente,
ou por representação da autoridade policial. (BRASIL, 2011) grifos nossos.
Redação dada depois da reforma da Lei 13.964/2019: “Art. 311. Em qualquer fase da
investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz a
requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
autoridade policial”. (BRASIL, 2019).
Verifica-se que na nova redação, o legislador retirou a decretação da medida
cautelar de oficio, sendo necessário provocação depois da reforma de 2019. Aury Lopes
Junior (2021) nos diz que a prisão preventiva somente pode ser decretada por juiz ou tribunal
competente, em decisão fundamentada, a partir de prévio pedido expresso (requerimento)
do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.
Com a reforma no artigo 311 do Código De Processo Penal e outros pontos
modificados pela Lei número 13.964/19 (Pacote anticrime), fica evidente uma preocupação
com o sistema acusatório:
Por tanto não é papel do juiz (ou pelo menos não deveria ser) participar da produção
de provas ou investigação, reservando-se apenas a analisar as provas trazidas ao juízo pela
autoridade competente. Nesse sentido não podendo mais determinar prisão preventiva ex
officio
A imparcialidade do juiz fica evidentemente comprometida quando estamos diante
de um juiz-instrutor (poderes investigatórios) ou, pior, quando ele assume uma postura
inquisitória decretando – de ofício – a prisão preventiva (JUNIOR 2021).
É evidente também que, ao não fazer uma reforma completa no âmbito penal, como
foi o caso da Lei número 13.964/19, o legislador se esqueça de outras normas relacionadas
aos artigos alterados. Por exemplo, ao alterar que não é mais autorizado a decretação de
prisão preventiva de officio, se esqueceu de também alterar o artigo 20 da Lei n. 11.340/2006
(Maria da Penha), onde ainda é previsto a decretação da prisão preventiva de oficio:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou
para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de
liberdade do imputado. (BRASIL, CPP, 2019)
Fernando Capez nos traz um conceito bem objetivo de Fumus Comissi Delicti: “O
juiz somente poderá decretar a prisão preventiva se estiver demonstrada a probabilidade de
que o réu tenha sido o autor de um fato típico e ilícito” (2021, p.130).
Fumus Commissi Delicti é composto por duas partes: prova da existência do crime
e indícios suficientes de autoria. E, portanto, começaremos pelo indicio suficiente de autoria:
Nota-se que essa regra não se aplica somente ao possível autor do crime, mas
também aos participes. Conforme o artigo 29 do código penal:
Para Norberto Avena (2021) teria sido de melhor técnica a inserção, no texto legal,
do requisito indício suficiente de autoria ou de participação, pois é isto que, na prática,
efetivamente se requer para a decretação da custódia.
5 PERICULUM LIBERTATIS
Não bastam, para que seja decretada a preventiva com base neste motivo,
ilações abstratas sobre a possibilidade de que venha o agente a delinquir,
isto é, sem a indicação concreta e atual da existência do periculum in mora.
É preciso, pois, que sejam apresentados fundamentos que demonstrem a
efetiva necessidade da restrição cautelar para evitar a reiteração na prática
delitiva (AVENA, 2021, p. 1028).
O clamor público gerado pela sociedade, em relação ao agente infrator que tenha
praticado um crime de extrema gravidade, poderia ser um motivo determinador da prisão
cautelar sobre o fundamento de periculum libertatis?
Para Fernando Capez (2021, p.130), somente o clamor popular não seria o
suficiente para a sua autorização, se posicionando da seguinte maneira:
Foi incluído no art. 312 do Código de Processo Penal pela Lei 8.884/1994 (Lei
Antitruste), para o fim de tutelar a conduta do agente, que possa afetar a tranquilidade e
harmonia da ordem econômica.
Segundo Aury Lopes Junior (2021), seja pelo risco de reiteração de práticas que
gerem perdas financeiras vultosas, seja por colocar em perigo a credibilidade e o
funcionamento do sistema financeiro ou mesmo o mercado de ações e valores.
Trata-se de uma variável da garantia da ordem pública, apenas tendo algumas
especialidades no qual os diferenciam, sendo relacionada a uma determinada categoria de
crimes (AVENA, 2021).
Sendo autentica a garantia da ordem pública para os crimes que tenham por
objetivo limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre-
iniciativa, dominar mercado relevante de bens ou serviços, aumentar arbitrariamente os
lucros ou exercer de forma abusiva posição dominante, de acordo com o artigo 36, I a IV,
da Lei 12.529/2011(AVENA, 2021).
Em seus ensinamentos, Aury Lopes Junior questiona o fundamento da prisão
preventiva para a garantia da ordem econômica:
Apesar disso, deve-se ser utilizada como último instrumento cabível ao caso,
somente se não existir outras medidas cautelares disponíveis. Completando, Aury Lopes
Junior (2021, p. 277-278) diz o seguinte:
[...] em última análise, é a prisão para evitar que o imputado fuja, tornando
inócua a sentença penal por impossibilidade de aplicação da pena
cominada. O risco de fuga representa uma tutela tipicamente cautelar, pois
busca resguardar a eficácia da sentença (e, portanto, do próprio processo).
O risco de fuga não pode ser presumido; tem de estar fundado em
circunstâncias concretas. (2021, p.278).
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da
prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior
a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em
julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução
das medidas protetivas de urgência;
IV - (revogado).
6.1 Crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro
anos:
6.3 Dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos
suficientes para esclarecê-la.
Para que seja decretada a prisão preventiva do imputado por haver dúvida em
relação à identidade civil, é necessária uma interpretação sistemática, à luz do inciso I do art.
313 (topograficamente situado antes, como orientador dos demais), para que se exija um
crime doloso punido com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos. Impensável
decretar uma preventiva com base neste parágrafo único em caso de crime culposo, por
exemplo. Da mesma forma, como regra, incabível para crimes de menor gravidade, em que
sequer a preventiva seria possível (Lopes Junior, 2021).
Aury Lopes Junior (2021, p.280) nos apresenta uma situação que se enquadra no
inciso em destaque:
Excepcionalmente, atendendo a necessidade do caso, poderia ser decretada
essa prisão preventiva quando o agente fosse preso em flagrante por um
delito de estelionato (com uso de identidade falsa), falsidade documental
ou mesmo falsidade ideológica. São situações em que existe uma dúvida
fundada sobre a identidade civil, até mesmo pelas características do delito
perpetrado.
Primeira: segundo esta corrente, devido à menção do art. 313, § 1º, à soltura
imediata, esta, em regra, deverá ser realizada pela autoridade que mantém
o indivíduo sob custódia, podendo ser, por exemplo, o delegado de polícia
ou o diretor do estabelecimento penitenciário, salvo se referida autoridade
verificar que a manutenção da medida se justifica em outro fundamento,
caso em que deverá comunicar ao juiz para que este decida a respeito.
Embora não se trate de maioria expressiva, a adoção deste entendimento é
a tendência na atualidade.
Segunda: em qualquer hipótese, a decisão sobre a liberação do agente cabe
ao juiz. Então, assim que identificado o preso, cabe a autoridade
(normalmente será a autoridade policial) que postulou a custódia
comunicar ao juiz está circunstância para que o Poder Judiciário proceda à
liberação, sem prejuízo da possibilidade de manter a segregação se outras
razões a autorizarem dentre as previstas no art. 312.
13
Avena nos traz dois fundamentos para sua orientação, a primeira seria de que a não
admissão da prisão preventiva em tais casos, poderia tornar inócua a aplicação das medidas
alternativas diversas da prisão, já que, ocorrendo a transgressão pelo agente, não ficaria ele
sujeito à prisão preventiva; segunda, porque o art. 282, § 4.º, estabelece uma regra geral para
o descumprimento das medidas cautelares diversas da prisão, sendo esta disciplina
localizada, topograficamente, em Capítulo anterior ao que regulamenta a prisão preventiva,
que é onde se encontra o art. 313, contemplando as infrações que permitem esta forma de
segregação. (2021)
Já no que tange à prisão preventiva subsequente ao flagrante, Norberto Avena
defende que é necessária a observância das hipóteses do art. 313, a fim de evitar conferir
tratamentos diferenciados a situações jurídicas assemelhadas. (2021)
Aury Lopes junior (2021, p.280) conceitua o parágrafo 2º do artigo 313 do código
de processo penal:
O legislador se preocupou em deixar expresso que a prisão preventiva não
pode ser usada como instrumento de antecipação de pena, devendo sempre
estar comprovado seu caráter e fundamento cautelar. Tampouco pode ser
uma decorrência automática, imediata, da investigação ou da apresentação
14
Procedendo com o estudo, veremos o que diz Norberto Avena sobre as hipóteses
de inadmissibilidade da decretação da medida cautelar
Refere-se o artigo, que existindo prova razoável que o agente tenha praticado o fato
ao abrigo de uma causa de exclusão da ilicitude, tais como estado de necessidade, legítima
defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito, não caberá a
prisão preventiva, por ausência de fumaça de ilicitude na conduta.
Não se exige uma prova plena da excludente, mas uma fumaça. Inclusive, diante
da gravidade de uma prisão preventiva, considerando que a dúvida deve beneficiar o réu
também neste momento, incidindo sem problemas o in dubio pro reo (LOPES JUNIOR,
2021).
Tendo relação com artigo 310, § 1º, do CPP, que, ao tratar da liberdade provisória
ao flagrado, estabelece que:
Não sendo, como já estudado anteriormente, admitida a prisão preventiva nos casos
de crimes culposo
Outra inovação inserida pela Lei número 13.964/2019 (pacote anticrime), foi a nova
redação do art. 315:
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva
será sempre motivada e fundamentada.
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra
cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos
ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo,
sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento (BRASIL,2021).
Estabelece o art. 316 do CPP que o juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de
motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem.
Este dispositivo contempla o princípio da provisionalidade, o qual, juntamente com
os princípios da excepcionalidade (art. 282, § 4º, parte final e § 6º) e da proporcionalidade
(arts. 282, I e II, e 310, II, parte final) devem ser observados em relação à segregação
provisória no curso da persecução penal. Hipótese bastante comum de incidência do art. 316
dá-se quando se fundamenta o decreto tão só na conveniência da instrução criminal. Vencida
esta etapa do processo, deve a prisão, obviamente, ser revogada, nada impedindo seja
decretada posteriormente no caso de outras razões autorizarem-na (AVENA,2021).
O dever de revisar a medida é imperioso e a sanção está expressamente prevista na
lei (a prisão preventiva passa a ser ilegal se não realizada), então é prazo com sanção e
obrigatória observância. O problema maior é quando o processo está em fase recursal, pois,
enquanto estiver em primeiro grau, compete ao juiz das garantias (até a fase do art. 399) ou
ao juiz da instrução (LOPES JUNIOR, 2021).
Vejamos o que diz o artigo:
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão
preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de
motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da
decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias,
mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão
ilegal (BRASIL, 2019).
10 CONCLUSÃO
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
AVENA, Norberto. Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530992767/. Acesso em: 10
maio 2021
BRASIL. Decreto Lei n. 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 10 de
maio 2021.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 32. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.