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UNIAMÉRICA CENTRO UNIVERSITÁRIO

PÓS-GRADUAÇÃO DESCOMPLICA

ADRIANA CRISTINA DE PAULA GONÇALVES

A PRISÃO PREVENTIVA NA ATUALIDADE E SUA NÃO


EXCEPCIONALIDADE

RIBEIRÃO PRETO
2022

ADRIANA CRISTINA DE PAULA GONÇALVES

A PRISÃO PREVENTIVA NA ATUALIDADE E SUA NÃO EXCEPCIONALIDADE


Trabalho apresentado no curso de pós-graduação em
Direito Penal E Psicologia Forense da Universidade
descomplica

RIBEIRÃO PRETO
2022
DESENVOLVIMENTO

1. A PRISÃO PREVENTIVA
A prisão preventiva está prevista no nosso Código de Processo Penal, no artigo 312,
e vem como excepcionalidade por ser uma privação da liberdade que ocorre antes
do trânsito em julgado da ação, ou seja, momento em que o acusado ainda deve ser
considerado inocente.
Nas palavras de MIRABETE (2005, p.415),

A expressão prisão preventiva tem uma acepção ampla para designar a


custódia verificada antes do trânsito em julgado da sentença .

Também nas lições de CAPEZ (2014, p.305)


a prisão preventiva tornou-se excepcional pois somente será determinada
quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (CPP,
art.282, §6º)

Ainda, nas lições de ROSA (2018, p.449)


Essa prisão cautelar, da qual a prisão em flagrante é uma das modalidades,
todavia exige fim processual (e não material, de cunho excepcional,
proporcional e provisório (CPP art.282). A prisão cautelar é confundida
como modalidade de “tutela de evidência” (Novo CPC), é incompatível com
o regime da presunção da inocência.

Assim entendemos que a prisão preventiva é uma modalidade de acautelamento


que deve ser visto com rigor pelos operadores do direito, visto a sua clara
excepcionalidade, pois tem características de penalizar o acusado antes mesmo do
devido processo legal, e pode, muitas vezes ser incompatível com a pena que
determina o tipo penal, o que deixa a prisão preventiva eivada de
desproporcionalidade, vejamos o que diz BADARÓ (2008, p.381)
Tendo por critério a situação fática ou os efeitos práticos da prisão
preventiva, poder-se-ia facilmente concluir tratar-se de uma hipótese de
antecipação de tutela. Os efeitos práticos da prisão preventiva são em tudo
semelhantes aos efeitos práticos da prisão para o cumprimento de pena
privativa de liberdade. Aliás, muitas vezes são até mais severos, como no
caso em que o preso cautelar se encontra numa cadeia pública ou num
centro de detenção provisória, em uma situação semelhante à de quem
esteja cumprindo pena em regime fechado, malgrado lhe venha a ser
imposta uma pena privativa de liberdade em regime semiaberto
Em atenção ao acima descrito, pensemos, como exemplo, que o acusado de um
crime cuja pena máxima lhe permita cumprir a prisão em regime semiaberto ou
aberto e ele venha a ter sua liberdade privada pela prisão preventiva por meses,
senão anos, há uma desproporcionalidade na aplicação da prisão preventiva, que
como cautelar deveria já vir com os requisitos que a pena mínima do caso exigiria.
Eis o motivo de que a prisão preventiva deve ser vista com excepcionalidade.

2. A PRISÃO PREVENTIVA NOS TRIBUNAIS NA ATUALIDADE


Os requisitos da prisão preventiva são bem descritos no artigo 312 do Código de
Processo Penal, ou seja, como diz BADARÓ (2008, p.27) para a decretação da
prisão preventiva devem estar presentes o pressuposto básico do fumus comissi
delicti e o fundamento do periculum libertatis, previstos no art. 312, caput, do CPP,
ainda continua a autora, BADARÓ (2008, p.28)
O fumus comissi delicti é o pressuposto que requer provas de existência do
crime e indício suficiente de autoria

E continua:
Já o periculum libertatis consiste no risco que a demora do provimento
jurisdicional possa prejudicar tanto na instrução criminal e na decisão final,
quanto ao risco que a liberdade do indivíduo possa causar na sociedade

O próprio Código em seu artigo 319 (BRASIL, 1941) amplamente modificado pela
Lei 12.403 de 2011, traz as medidas cautelares diversas da prisão, vejamos:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

I - Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas


pelo juiz, para informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

II - Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por


circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por


circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

IV - Proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja


conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011).
V - Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;(Incluído pela Lei
nº 12.403, de 2011).

VI - Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza


econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados


com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser
inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de
reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o


comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento
ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).

IX - Monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI


deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares.
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Em que pese seu caráter extremamente excepcional, o que vemos nos tribunais na
atualidade é a aplicação da prisão preventiva por motivos genéricos e dispensando
assim a excepcionalidade de sua aplicação, o que causa grandes prejuízos ao
nosso poder judiciário, além de, sobrecarregar o sistema prisionais com acusados
presos que poderiam aguardar o julgamento com medidas diversas da privativa de
liberdade.
Se usa na atualidade como fundamentação da prisão preventiva a manutenção da
ordem pública, porém sem especificar a necessidade dessa manutenção, fazendo
com que o argumento se torne algo genérico e não admitido pelo artigo 312 do CPP
que trata da prisão preventiva, vamos ver alguns julgados nesse sentido, dos
tribunais pátrios:
EMENTA: HABEAS CORPUS - FURTO QUALIFICADO - ATIPICIDADE DA
CONDUTA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA - INOCORRÊNCIA -
CONDENAÇÕES ANTERIORES POR DELITOS CONTRA O PATRIMÔNIO
- PRISÃO PREVENTIVA - REVOGAÇÃO - INVIABILIDADE - PRESENÇA
DOS REQUISITOS DO ARTIGO 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
- PRISÃO FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA -
DESPROPORCIONALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA -
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE NESTA VIA - PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA - COMPATIBILIDADE COM A PRISÃO PREVENTIVA -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. EMENTA:
HABEAS CORPUS - FURTO QUALIFICADO - ATIPICIDADE DA
CONDUTA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA - INOCORRÊNCIA -
CONDENAÇÕES ANTERIORES POR DELITOS CONTRA O PATRIMÔNIO
- PRISÃO PREVENTIVA - REVOGAÇÃO - INVIABILIDADE - PRESENÇA
DOS REQUISITOS DO ARTIGO 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
- PRISÃO FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA -
DESPROPORCIONALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA -
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE NESTA VIA - PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA - COMPATIBILIDADE COM A PRISÃO PREVENTIVA -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. EMENTA:
HABEAS CORPUS - FURTO QUALIFICADO - ATIPICIDADE DA
CONDUTA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA - INOCORRÊNCIA -
CONDENAÇÕES ANTERIORES POR DELITOS CONTRA O PATRIMÔNIO
- PRISÃO PREVENTIVA - REVOGAÇÃO - INVIABILIDADE - PRESENÇA
DOS REQUISITOS DO ARTIGO 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
- PRISÃO FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA -
DESPROPORCIONALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA -
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE NESTA VIA - PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA - COMPATIBILIDADE COM A PRISÃO PREVENTIVA -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. EMENTA:
HABEAS CORPUS - FURTO QUALIFICADO - ATIPICIDADE DA
CONDUTA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA - INOCORRÊNCIA -
CONDENAÇÕES ANTERIORES POR DELITOS CONTRA O PATRIMÔNIO
-- PRISÃO PREVENTIVA - REVOGAÇÃO - INVIABILIDADE - PRESENÇA
DOS REQUISITOS DO ARTIGO 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
- PRISÃO FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA -
DESPROPORCIONALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA -
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE NESTA VIA - PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA - COMPATIBILIDADE COM A PRISÃO PREVENTIVA -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. Não há que se há
falar em aplicação do princípio da insignificância quando o agente tem
outras condenações definitivas por delitos contra o patrimônio. Não há
ilegalidade na decretação da prisão preventiva quando demonstrado, com
base em fatos concretos, que a segregação é necessária para acautelar a
ordem pública, principalmente diante do risco de reiteração delitiva. É
incabível a alegação de que a prisão provisória afronta o princípio da
proporcionalidade, pois caberá ao juiz, no momento oportuno, depois da
análise de todas as provas, julgar a causa e, em caso de condenação, dosar
a pena e avaliar o regime prisional adequado, o que demanda valoração
probatória e exame completo das circunstâncias judiciais previstas no artigo
59 do Código Penal. O princípio da presunção de inocência, por si só, não
obsta a manutenção da prisão preventiva.

(TJ-MG - HC: 10000212775928000 MG, Relator: Flávio Leite, Data de


Julgamento: 25/01/2022, Câmaras Criminais / 1ª CÂMARA CRIMINAL, Data
de Publicação: 27/01/2022)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIMES DE


RECEPTAÇÃO E DE FALSA IDENTIDADE. CONDENAÇÃO.
DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. NEGADO O DIREITO DE
RECORRER EM LIBERDADE. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. MAUS
ANTECEDENTES E REINCIDÊNCIA. CONDIÇÃO QUE AUTORIZA A
PRISÃO PREVENTIVA. ARTIGO 313, II, DO CPP. PACIENTE QUE
DURANTE A INSTRUÇÃO TEVE SUA PRISÃO PREVENTIVA RELAXADA
APENAS EM RAZÃO DO EXCESSO DE PRAZO. PEDIDO DE
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. MÃE DE MENORES DE 12
ANOS. TESE NÃO APRECIADA PELO TRIBUNAL A QUO. SUPRESSÃO
DE INSTÂNCIA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Agravo
regimental interposto contra decisão monocrática deste Relator, a qual não
conheceu da impetração, mantendo a prisão preventiva. 2. Diante da
utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, o Superior Tribunal de
Justiça passou a acompanhar a orientação do Supremo Tribunal Federal, no
sentido de ser inadmissível o emprego do writ como sucedâneo de recurso
ou revisão criminal, a fim de que não se desvirtue a finalidade dessa
garantia constitucional, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem,
de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. 3. Preliminarmente, verifica-se
que o Tribunal estadual não analisou o pedido de revogação da prisão
preventiva da paciente, em razão de ser mãe de menores de 12 anos, o que
impede o exame direto por esta Corte, por configurar indevida supressão de
instância. Como é cediço, "Matéria não enfrentada na Corte de origem não
pode ser analisada diretamente neste Tribunal Superior, sob pena de
supressão de instância." (HC n. 378.585/SP, Relator Ministro NEFI
CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em 6/4/2017, DJe 20/4/2017). 4. No
caso, a ré ficou presa durante parte da instrução criminal e teve a custódia
relaxada apenas em razão do excesso de prazo para o término da
instrução, situação já superada pela conclusão do julgamento. Todavia, o
motivo da prisão preventiva sempre existiu, consistente no risco de
reiteração delitiva. 5. A circunstância de ter a acusada respondido em
liberdade parte da ação penal não impede que, demonstrada a necessidade
da custódia com base em fundamentos concretos e contemporâneos, a
prisão seja decretada por ocasião da sentença condenatória. 6. Note-se que
a prisão preventiva foi decretada, em razão dos maus antecedentes e da
reincidência da paciente, condição que autoriza a prisão preventiva, nos
termos do art. 313, II, do CPP. 7. Agravo regimental conhecido e improvido.

(STJ - AgRg no HC: 705841 SP 2021/0361430-9, Relator: Ministro


REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 13/12/2021, T5
- QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 16/12/2021)

HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO QUALIFICADO CONSUMADO E LESÃO


CORPORAL – DUAS VÍTIMAS – PRISÃO PREVENTIVA - PRESENÇA
DOS REQUISITOS – NOTÓRIO ABALO À ORDEM PÚBLICA –
CONDIÇÕES SUBJETIVAS FAVORÁVEIS QUE NÃO ASSEGURAM POR
SI SÓS A REVOGAÇÃO DO DECRETO DE PRISÃO - INSUFICIÊNCIA DE
CAUTELARES ALTERNATIVAS – ORDEM DENEGADA. I - Para decretar a
prisão preventiva mister se faz a presença do fumus comissi delicti e
periculum libertatis. No caso vertente, a prisão preventiva se justifica para
assegurar a ordem pública, tendo em vista a gravidade concreta dos
episódios atribuídos ao paciente, dado o modus operandi por ele utilizado –
prática de ato brutal consistente em ter supostamente ceifado a vida do
ofendido mediante uma faca e por motivo banal (uma dívida atinente a conta
de energia elétrica) o que por si só já demonstra agressividade e
periculosidade suscetível de abalar a ordem pública, além de ter agredido a
outra vítima anteriormente. Presença dos pressupostos da prisão preventiva
e insuficiência de medidas cautelares alternativas. III – Ordem denegada.

(TJ-MS - HC: 14121023020218120000 MS 1412102-30.2021.8.12.0000,


Relator: Des. José Ale Ahmad Netto, Data de Julgamento: 18/08/2021, 2ª
Câmara Criminal, Data de Publicação: 20/08/2021)

HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO QUALIFICADO CONSUMADO – DUAS


VÍTIMAS – PRISÃO PREVENTIVA - PRESENÇA DOS REQUISITOS –
ABALO À ORDEM PÚBLICA – GRAVIDADE CONCRETA E
POSSIBILIDADE DE REITERAÇÃO DELITIVA - CONDIÇÕES
SUBJETIVAS FAVORÁVEIS QUE NÃO ASSEGURAM POR SI SÓS A
REVOGAÇÃO DO DECRETO DE PRISÃO - INSUFICIÊNCIA DE
CAUTELARES ALTERNATIVAS – ORDEM DENEGADA. I - Para decretar a
prisão preventiva mister se faz a presença do fumus comissi delicti e
periculum libertatis. No caso vertente, a prisão preventiva se justifica para
assegurar a ordem pública, tendo em vista a gravidade concreta do delito,
aliada aos indícios concretos acerca da possibilidade de reiteração delitiva,
eis que o paciente é suspeito de ter cometido outro crime de homicídio. Em
segundo plano, ainda, a segregação encontra respaldo na necessidade para
resguardar a aplicação da lei penal, levando em consideração que o
paciente somente foi localizado – tendo o processo permanecido suspenso
– mais de 02 anos depois de exarada a ordem de prisão cautelar. Presença
dos pressupostos da prisão preventiva e insuficiência de medidas cautelares
alternativas. III – Ordem denegada.

(TJ-MS - HC: 14193253420218120000 MS 1419325-34.2021.8.12.0000,


Relator: Des. José Ale Ahmad Netto, Data de Julgamento: 10/12/2021, 2ª
Câmara Criminal, Data de Publicação: 15/12/2021)

Como se extrai das jurisprudências supra, a fundamentação para a prisão preventiva


vem sendo baseada apenas na manutenção da ordem pública de forma genérica,
sem especificar o que seria essa manutenção, o que é condenado pela doutrina
dominante, vejamos o que diz MIRABETE (2004, p.422)
Exige-se que a autoridade judiciária esclareça em seu despacho qual ou
quais os fundamentos existentes para a decretação da excepcional medida
que é a custódia preventiva. Sem exposição de fundamentos suficientes á
determinação, em que se mencionem os mínimos requisitos exigidos pela
lei, há constrangimento ilegal a liberdade de locomoção que enseja, por falta
de fundamentação ou sua deficiência, o deferimento do pedido de habeas
corpus. O despacho deve conter, aliás, uma exposição fundada em dados
concretos, não sendo bastante para legitimar a custódia a genérica
referência aos autos, vagas alusões ao acusado ou suposições negativas
quanto ao seu caráter pessoal, ou, ainda, se reduzir a mera transcrição dos
dizeres legais. É indispensável que se fundamente em fatos que lhe
proporcionem fomento, e não meras suposições

Em que pese todos os ensinamentos no sentido de que a prisão preventiva é


excepcional, e deve ser fundamentada em concretude e não em ilações,
infelizmente é o que mais vemos em nossos tribunais, decisões que se baseiam
genericamente na ordem pública e na suposta periculosidade abstrata do réu, porém
sem fundamentar nada de concreto.
Por sorte, em sentido contrário, ainda existem tribunais e juízes que entendem a
gravidade de uma custódia de privação de liberdade antes do trânsito em julgado de
um processo e buscam fundamentar a prisão preventiva ou nega-lá se for o caso,
vejamos alguns julgados nesse sentido:
EMENTA: "HABEAS CORPUS" - ROUBO MAJORADO - RECEPTAÇÃO -
PRISÃO PREVENTIVA - EXCEPCIONALIDADE NÃO DEMONSTRADA -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO - PECULIARIDADES DO
CASO CONCRETO - MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO -
POSSIBILIDADE. Constatada a ausência de fundamentação idônea apta a
demonstrar a necessidade e a adequação da prisão preventiva ante a sua
excepcionalidade, mas verificada a presença de risco diante das
peculiaridades do caso concreto, faz-se necessária a aplicação de medidas
cautelares diversas da prisão. V.V.: EMENTA: HABEAS CORPUS - ROUBO
MAJORADO E RECEPTAÇÃO - PRISÃO PREVENTIVA -
EXCEPCIONALIDADE NÃO DEMONSTRADA - CONSTRANGIMENTO
ILEGAL. A Prisão Preventiva deve se fundamentar na prova da
materialidade, indícios de autoria e de perigo gerado pelo estado de
liberdade dos Pacientes, considerando fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a segregação e desde que demonstrada, de maneira
individualizada, a insuficiência e inadequação das Medidas Cautelares
Diversas da Prisão. V.V.: ROUBO MAJORADO - RECECPTAÇÃO -
DECISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA - GRAVIDADE DA
CONDUTA - MODUS OPERANDI - GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA -
PRESENÇA DE REQUISITOS AUTORIZADORES DA SEGREGAÇÃO
PREVENTIVA - ORDEM DENEGADA.

(TJ-MG - HC: 10000211422241000 MG, Relator: Octavio Augusto De Nigris


Boccalini, Data de Julgamento: 17/08/2021, Câmaras Criminais / 3ª
CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 19/08/2021)

HABEAS CORPUS – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – AMEAÇA E DANO –


PRISÃO PREVENTIVA – DESCONSTITUIÇÃO DA CUSTÓDIA –
PERTINÊNCIA – EXCEPCIONALIDADE DA PRISÃO – VÍTIMA QUE
REQUEREU A REVOGAÇÃO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE
URGÊNCIA – ESVAZIAMENTO DOS FUNDAMENTOS DA PRISÃO
PREVENTIVA – SUFICIÊNCIA DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS
– APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE –
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO – ORDEM CONCEDIDA
– LIMINAR RATIFICADA. A decretação da prisão cautelar somente é
possível se as medidas cautelares alternativas, adotadas de forma isolada
ou cumulativa, mostrarem-se inadequadas ou insuficientes para assegurar o
fim almejado e a eficácia do processo penal (CPP, art. 282, § 6º), dada a
excepcionalidade do édito prisional. Se a própria vítima se manifesta pela
desnecessidade das medidas protetivas de urgência porque o agressor não
oferece risco à sua integridade física e psicológica, e é possível prever que,
em caso de condenação, ele não será submetido ao regime prisional mais
gravoso – já que o preceito secundário dos delitos prevê pena de detenção,
mostra-se recomendável a revogação da custódia preventiva.

(TJ-MT 10116836820228110000 MT, Relator: PEDRO SAKAMOTO, Data


de Julgamento: 06/07/2022, Segunda Câmara Criminal, Data de Publicação:
08/07/2022)

Esses são somente alguns exemplos recentes da excepcionalidade da prisão


preventiva, que aplicada de modo cautelar não deve ser mais grave do que a pena
que pode ser a vir aplicada ao réu.

III. CONCLUSÃO

Dessa forma se conclui-se que em que pese legalmente a prisão preventiva dever
ser tratada como, ultima razão para que se prive alguém de sua liberdade, nos
tribunais atualmente há uma banalização desse conceito, decretando-se prisões
fundamentadas em motivos genéricos e muitas vezes aplicada da mesma forma a
todos, sem levar em conta que no caso concreto a pena aplicada ao réu pode
inclusive ser uma diferente da privação de liberdade, ou um regime menos gravoso
do que o regime prisional fechado, o que acaba por deixar pessoas
desnecessariamente presas em penitenciárias lotadas de presos que sequer ainda
tem uma pena à cumprir.
A excepcionalidade da prisão preventiva deve ser uma luta adotada pelos
operadores do direito, buscando sempre a prevalência do princípio da inocência, que
é de suma importância e consta da nossa Constituição.
REFERÊNCIAS

BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. A Prisão Preventiva E O Princípio Da


Proporcionalidade: Proposta De Mudanças Legislativas. Revista da Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo. 2008. São Paulo.

BARROSO, Darlan. JUNIOR, Marco Antônio Araújo. Mini Vade Mecum Penal.12ª
edição.2022. Editora Saraiva. São Paulo

BRASIL, 2011. Lei 11.403 de 4 de maio de 2011.

BRASIL, 1941. Lei 3.689 de 3 de abril de 1941

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 21ª edição. 2014. Editora Saraiva.
São Paulo.

ROSA, Alexandre Morais. Guia do Processo Penal conforme a teoria dos Jogos,
6ª edição. 2018.Editora Emais. São Paulo.

ROSÁRIO, Ana Paula Miranda Do. A Excepcionalidade Da Prisão Preventiva


Frente Às Medidas Cautelares Diversas Da Prisão. 2014, Disponível em:
https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/handle/123456789/2759, acessado em
06/09/2022.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 17ª edição.2004. Editora Atlas. São
Paulo.

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