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Crime de ofensas corporais

Crime de sequestro

Crime de ofensas corporais graves

Concurso real de infracções

I - O crime de sequestro é um crime contra a liberdade e o de ofensas corporais é um crime que tem em
vista proteger a integridade física.

II - Há concurso real entre os dois ilícitos desde que se verifiquem outras circunstâncias qualificativas do
crime de sequestro para além das ofensas corporais.

III - Hoje o art.º158 do C P de 1995 não tem as agravantes correspondentes às alíneas f) e g) do então
art.º160, pelo que a agravação será feita apenas pela ofensa corporal. Assim sendo, perde autonomia o
crime de ofensas corporais, sob pena de violação do principio "non bis in idem".

31/01/1996

Processo nº 47609 - 3ª Secção

Relator: Castro Ribeiro

Crime de ofensas corporais

Dolo de perigo

I - Cometeu o crime p. e p. pelo artigo 144 nº 2 "ofensas corporais com dolo de perigo" do Código Penal
de 1982, o arguido que usou uma arma de arremesso e com ela desferiu vários golpes na cara do
ofendido, sendo a mesma considerada meio perigoso ou insidioso.

II - Hoje tal conduta deixou de ser punida como um crime de ofensas corporais com dolo de perigo, mas
antes, um crime de ofensas corporais simples, já que aquela deixou de estar prevista no Código Penal de
1995.
07/02/1996

Processo nº 48025 - 3ª Secção

Relator: Lopes Rocha

Ofensas corporais

Dolo de perigo

Crime de homicídio qualificado

Dolo eventual

Tentativa

I - No Código Penal de 1995 não existe correspondência ao nº 2 do art.º144 " crime de ofensas corporais
com dolo de perigo " do Código Penal de 1982, pelo que, o ilícito é agora o do art.º143º, do Código
Penal de 1995 "ofensas corporais simples".

II - A arma de fogo é uma agravante das previstas na alínea f) do nº2 do art.º132º do Código Penal. Tal
arma só funciona como tal agravante, se enquadrável no ilícito de perigo comum previsto à data dos
factos no artigo 260º do Código Penal de 1982 e hoje no artigo 275º do Código Penal de 1995.

III - Se a arma não for examinada não pode considerar-se como um ilícito de perigo comum, e como tal
não pode sem mais funcionar como agravante da alínea f) do nº2 do artigo 132 do Código Penal.

IV - A tentativa verifica-se mesmo que o dolo seja eventual.

07/02/1996

Processo nº 48688 - 3ª Secção

Relator: Manuel Saraiva

Ofensas corporais por negligência

Homicídio por negligência


Sendo o arguido um agente da PSP, disparando um tiro "sem querer", atingindo o ofendido, no
momento em que o empurrava quando este fazia "finca pé", negando-se a acompanha-lo à esquadra da
PSP, comete um crime de ofensas corporais negligente e não um crime de homicídio negligente.

09-05-1996

Processo nº 170/96 - 3ª Secção

Relator: Victor Ferreira

Qualificação

Furto qualificado

Tentativa

Ofensas corporais

Violência depois da apropriação

Concurso real de infracções

I - A declaração do desejo de procedimento criminal em inquérito, manifestada pelo ofendido de modo


expresso, narrando os factos imputados ao arguido, não pode deixar de valer como queixa.

II - O art.º 211 do CP de 95 deixou de punir a violência depois da apropriação quando destinada a eximir
o agente ou algum dos comparticipantes à acção da justiça.

III - Comete em concurso real um crime de furto qualificado na forma tentada e um crime de ofensas
corporais simples, o arguido que penetra no interior de um café e ao ser surpreendido, pela ofendida,
quando se preparava para fazer seus os objectos e valores ali existentes, dá um soco nesta.

23-05-1996

Processo nº 80/96 - 3ª Secção

Relator: Victor Rocha

Ofensas corporais graves


I - Todas as circunstâncias integrantes da descrição típica contidas no art.º143 do CP devem ser
abarcadas pelo dolo, incluindo o dolo eventual.

II - Sem que o agente represente o evento, ou pelo menos o preveja, não é possível responsabilizá-lo
subjectivamente.

30-05-1996

Processo nº 114/96 - 3ª Secção

Relator: Nunes da Cruz

Ofensas corporais

Agravantes

Agrava a conduta de arguido autor de crime de ofensas corporais, a circunstância de o ter cometido
para afastar do local onde vivem pessoas que podiam contribuir para dificultar a sua actividade de
tráfico de estupefacientes ou concorrer para a sua descoberta.

19-06-1996

Processo nº 48628 - 3ª Secção

Relator: Ribeiro Coelho

Ofensas corporais

Ofensas corporais graves

O crime do art.º143 do CP de 1982, ao nível dos elementos subjectivos do tipo legal, pressupõe um
duplo dolo: um dolo quanto á ofensa corporal, ou seja, um dolo de ofender corporalmente e um dolo
quanto ao resultado que advém da ofensa.
20/06/1996

Processo nº 45948 - 3ª Secção

Relator: Silva Paixão

Ofensas corporais

Ofensa corporal grave

I - Tendo resultado para o ofendido, em razão de mordida no nariz, provocada na sequência de


desentendimento com o arguido, a perda de cerca de 2/3 das partes moles da pirâmide nasal, de que
houve a necessidade de efectuar enxerto parcial, sendo certo que, actualmente, tal órgão, para além de
apresentar uma cicatriz com cerca de 8 cm, sofreu uma diminuição de volume, mais se ocasionando
para a vítima, um período de 90 dias de doença, com igual tempo de incapacidade para o trabalho, não
se pode concluir, que para o ofendido, resultou deformidade grave e permanente.

II - Para tal conclusão, necessário seria, ter-se dado como provado que a cicatriz e a diminuição do
volume do nariz são sensíveis à visão, e que prejudicam a estética da vítima, tendo carácter
permanente.

26/06/1996

Processo nº 501/96 - 3ª Secção

Relator: Andrade Saraiva

Legítima defesa

Ofensas corporais

I - Para existir legítima defesa é necessário que haja animus defendendi.

II - Não age com tal animus o arguido que, num primeiro momento, teme que a exibição de uma
granada desactivada por parte do ofendido, lhe possa causar estragos e lesões físicas , neutralizando-o
com um empurrão e apesar disso o continua a agredir a pontapé.

III - O arguido ao agir desta forma comete o crime de ofensas corporais simples.

25-09-1996
Processo nº 46889 -3ª Secção

Relator: Mariano Pereira

Ofensas corporais

Ofensas corporais privilegiadas

Provocação

Atenuação especial da pena

Detenção de arma proibida

I - Constitui provocação injusta o facto de um irmão do arguido - encontrando-se ambos inimizados -


haver chamado "filho da puta" a um filho deste.

II - As ofensas corporais produzidas por tiro de pistola disparado pelo arguido, logo em seguida a ter
tomado conhecimento daquela provocação, actuando sob o ímpeto de ira, integram o crime de ofensas
corporais privilegiadas, devendo a pena ser especialmente atenuada.

09-10-1996

Processo nº 46838 - 3ª Secção

Relator: Pires Salpico *

Ofensas corporais graves graves

Atenuação da pena.

Pratica o crime de ofensas corporais graves o arguido que dispara vários tiros de arma de fogo, contra
um grupo de pessoas, que, pela 1 hora da madrugada conversavam em voz alta, perto da sua residência,
ocasionando no ofendido várias lesões designadamente, amaurose do olho esquerdo, com incapacidade
parcial permanente de 30%.

09-10-1996
Processo nº 47455 - 3ª Secção

Relator: Pires Salpico*

Ofensas corporais graves

I - Para se verificar o ilícito do art.º 143º, al. b) do CP de 82, é necessário a existência de dolo quer
quanto à ofensa quer quanto ao resultado.

II - Comete o ilícito do nº 2 do art.º 145º do mesmo diploma o arguido que desferiu um murro no olho
direito do ofendido, cegando-o, embora não tivesse sido sua intenção provocar-lhe tal resultado.

09-10-1996

Processo nº 294/96 - 3ª Secção

Relator: Mariano Pereira

Matéria de facto

Presunção de matar

Alteração não substancial dos factos

Homicídio

Ofensas corporais

I - As expressões "curta distância" e "escassos metros" não traduzem factos, mas sim valorações de
factos, juízos ou conclusões. Enquanto tal, não são admissíveis na decisão sobre a matéria fáctica, pelo
que têm de dar-se como não escritas.

II - Uma presunção médico-legal, independentemente do seu valor, não deixa de ser uma presunção que
pode ser ilidida mediante prova em contrário. Logo, pelo facto de médico-legalmente haver-se de
presumir que o autor das lesões agiu com intenção de matar, não fica vedado a que se dê como não
provado que à actuação daquele tenha presidido aquela intenção, ou que a morte do sujeito passivo
nem sequer tenha sido representada pelo arguido como possível resultado da sua conduta.
III - A intenção de matar contem, consumindo, a de ofender corporalmente, pelo que para o acusado ou
pronunciado por agir com aquela, a imputação da segunda não representa rigorosamente um facto
novo, nada obstando por isso à sua condenação pelo crime menos grave.

16-10-1996

Processo nº 46087 - 3ª Secção

Relator: Leonardo Dias

Ofensas corporais graves

Ofensas corporais privilegiadas

I - Para se verificar o crime de ofensas corporais privilegiadas p.p. art.º 147º do CP de 82, é necessário
que o agente se proponha ao cometimento de tal ilícito movido por compreensível emoção, por
compaixão ou outro motivo relevante social ou moral.

II - Não se verifica qualquer destas situações, quando o arguido que conduz um tractor atropela o
ofendido que estava sentado junto à paragem das camionetas de passageiros, não mostrando qualquer
gesto que pudesse causar receio ou medo no arguido, muito embora, uma hora antes tivesse dado com
um cajado no tractor conduzido pelo arguido, pelo que, com tal conduta cometeu o arguido um crime
de ofensas corporais graves.

30-10-1996

Processo nº 47159 - 3ª Secção

Relator: Flores Ribeiro

Ofensas corporais simples

Meio perigoso

I - É meio particularmente perigoso o que envolve a probabilidade de ofensa grave para a vida do
ofendido.
II - A perigosidade do meio afere-se, não só pelas suas características, mas também em função da forma
como é usado.

III - Assim, comete o crime de ofensas corporais simples, o arguido que agride o ofendido com uma
bengala (desconhecendo-se as suas características) na cabeça e num braço.

06-11-1996

Processo nº 46576 - 3ª Secção

Relator: Ribeiro Coelho

Ofensas corporais

Meio particularmente perigoso

Uma bota de couro com biqueira quadrada, que pela sua configuração e dureza foi utilizada pelo
arguido para desferir um violento pontapé na cabeça do ofendido, provocando-lhe a morte, constitui
nas circunstâncias descritas, um meio particularmente perigoso.

13-11-1996

Processo nº 326/96 - 3ª Secção

Relator: Ferreira da Rocha

Conflito de competência

Crime essencialmente militar

A jurisdição dos Tribunais Militares apenas abrange os crimes essencialmente militares, e os crimes
dolosos que a lei, por motivo relevante, àqueles equipare. Consistindo os factos numa agressão
consciente e voluntária a um agente da autoridade, por indivíduo envergando farda do Exercito e à data
cumprindo o serviço militar como soldado, e nada mais se indiciando de relevante, nomeadamente que
o soldado agressor estivesse no exercício de funções, tal conduta não integra ilícito que possa ser
considerado crime essencialmente militar, mas tão só, um crime de ofensas corporais simples p.p. no
art.º142 do CP de 1982 ou 143 do CP actual.

20-11-1996

Processo nº 45920 - 3ª Secção

Relator: Martins Ramires

Ofensas corporais

Ofensas corporais com dolo de perigo

Meio particularmente perigoso

Prisão ilegal

I - O elemento material do crime do crime do art.º144 do CP de 1982 não é a espécie e gravidade da


ofensa causada, mas sim o perigo de a conduta do agente produzir certo resultado considerado grave.

II - Configurando-se no nº 2, do art.º144, um crime de perigo abstracto, isso significa que quando


cometido por meio particularmente perigoso, esta perigosidade tem de ser aferida em abstracto: trata-
se de uma perigosidade ínsita no instrumento, própria da natureza deste.

III - O capacete de um motociclista, como instrumento duro e pesado, não é, segundo as regras da
experiência comum, um meio particularmente perigoso no sentido utilizado no art.º144, nº 2, do CP de
1982.

IV - Não é verdade que este preceito tenha a sua correspondência no art.º146 do CP de 1995, pois que
este último é um preceito novo e o primeiro desapareceu pura e simplesmente, não deixando sucessor;
para além disso, o art.º146 limita-se a introduzir uma circunstância qualificativa em crimes contra a
integridade física cometidos com dolo de dano, ao passo que o art.º144, nº 2, do CP de 1982, pune
crimes praticados com dolo de perigo abstracto.

V - Tanto o CP de 1982 como o revisto de 1995 definem negligência consciente e inconsciente, mas
omitem a definição de negligência grave e negligência grosseira.

VI - Constituindo aquelas duas espécies de negligência realidades distintas, segue-se que a ordem ou
execução ilegal da privação da liberdade devida a negligência grave, não é actualmente punida, visto
que o CP vigente exige como elemento subjectivo, a negligência grosseira do agente.
VII - A conduta do funcionário consistente na recusa de dar conhecimento a quem se encontre privado
de liberdade à sua ordem, dos motivos da detenção, depois de tal lhe ter sido requerido, prevista no
art.º417, nº 2, do CP de 1982, deixou de ser criminalmente punível.

20-11-1996

Processo nº 11/96 - 3ª Secção

Relator: Joaquim Dias

Ofensas corporais agravadas

Cometem o crime p.p. pelos artºs. 145, nº 2, 144, nº 1 e 143, todos do CP de 82, os arguidos que,
actuando conjunta e concertadamente, ofendem corporalmente o ofendida, causando-lhe lesões que
lhe determinaram directa e necessariamente 10 dias de doença com igual tempo de incapacidade para o
trabalho, sendo as mesmas ainda causa directa e necessária de problemas de visão sofrida pela ofendida
no olho esquerdo, tendo de ser submetida a intervenção cirúrgica ficando com uma IPT de 25%, tendo
os arguidos aceitado esse risco, apesar de não quererem a verificação desse resultado.

21-11-1996

Processo nº 613/96 - 3ª Secção

Relator: Bessa Pacheco

Meio perigoso

Ofensas corporais

Ofensas corporais com dolo de perigo

I - A utilização de um pau com 0,5 m para agredir os ofendidos na cabeça, corresponde ao recurso a um
meio particularmente perigoso, atenta a sua especial potencialidade para a produção de lesões
cranianas graves ou, mesmo, mortais, perigosidade essa que não desaparece mesmo que os ofendidos
pudessem ter as cabeças protegidas por capacetes.
II - Assim, comete o crime de ofensas corporais com dolo de perigo p.p. pelo art.º144, nº 2, do CP de 82,
o arguido que com um pau de 0,5 desfere na cabeça dos ofendidos uma pancada, embora estes
tivessem a cabeça protegida por capacetes, causando a um deles ferida contusa da região infra-orbitária
esquerda, determinante de 10 dias de doença e impossibilidade para o trabalho e ao outro escoriações
no couro cabeludo, determinantes de doença por tempo indeterminado mas não superior a 9 dias.

III - No actual Código Penal o crime de ofensas corporais com dolo de perigo do Código anterior deixou
de existir como tal, passando as ofensas corporais a ser contempladas pelo art.º143 (ofensas simples à
integridade física), sendo o crime agravado pelo perigo constante do art.º144, nº 2 do CP de 95, e só é
qualificado quando, em vez de um perigo abstracto, se verifica um perigo concreto para a vida do
ofendido.

IV - Assim, a conduta do arguido descrita em II) integra face ao CP de 95 um crime de ofensas corporais
p.p. pelo art.º143.

28-11-1996

Processo nº 48866 - 3ª Secção

Relator: Sá Nogueira

Violência após apropriação

Tendo as lesões corporais produzidas pelo arguido no ofendido surgido no decurso da luta entre ambos
travada depois da subtracção violenta, sem que por um lado se tenha demonstrado que tivessem
resultado de uma actuação do arguido para conservar ou não restituir as coisas subtraídas ou para se
eximir à acção da justiça, e sem por outro lado existir um nexo de necessariedade ou de adequação
entre a subtracção e a efectivação daquelas ofensas, não cometeu aquele um crime de roubo impróprio
ou violência depois da apropriação, mas um crime de roubo em concurso real com um crime de ofensas
corporais.

28-11-1996

Processo nº 48735 - 3ª secção

Relator: Sá Nogueira
Ofensas corporais

Amnistia

Maus tratos entre cônjuges

I - Quando o crime de ofensas corporais voluntárias concorrer com o crime de maus tratos a cônjuges,
fica consumido o crime cuja punição seja menos gravosa.

II - O ilícito p.p. pelo art.º 153, n.º 3 do CP, de 82 não está abrangido pela Lei 15/94, de 11-05.

III - Para a verificação do crime de maus tratos p. e p. pelo art.º 153 do CP, de 82, não basta uma acção
isolada, mas também, não se exige uma habitualidade.

IV - Assim, pratica tal ilícito o arguido que, durante os anos de 1993, 94 e 95, agrediu o seu cônjuge, com
palavras torpes e batendo-lhe com as mãos.

08-01-1997

Processo n.º 934/96 - 3ª Secção

Relator: Augusto Alves

Prova pericial

Ofensas corporais graves

I - Não há que fundamentar qualquer divergência entre o tribunal e a perícia médica, quando esta aceita
que o processo usado para a prática da lesão não fosse contundente e o tribunal entender que a lesão
em causa teria sido feita com o uso dos dentes que são corto-contundentes.

II- Juridicamente, integra-se no art.º 143, alínea a), do CP de 82, a lesão de perda de cerca de meio
centímetro de substância ao longo de 75% do bordo do pavilhão auricular esquerdo com consequência
permanente de desfiguração do pavilhão auricular referido devido a perda de quase todo o lobo
inferior.

29-01-1997

Processo n.º 48883 - 3ª Secção


Relator: Brito Câmara

Ofensas corporais com dolo de perigo

I - Meios particularmente perigosos para os efeitos da parte final do n.º 2 do art.º 144 do CP, são todos
aqueles, que em concreto, apresentam intensa probabilidade de lesarem os bens jurídicos, produzindo
um dano ou uma lesão à integridade física grave ou mesmo a morte.

II - A perigosidade dos meios não é só aquela que em abstracto se possa encontrar em determinados
"instrumentos", mas sobretudo aquela que resulta de uma relação de diversos factores, como a
quantidade, o meio, a idade ou o estado de saúde, conhecidos do arguido.

05-03-1997

Processo n.º 48717 - 3ª Secção

Relator: Virgílio Oliveira

Ofensa à integridade física qualificada

O arguido que de forma livre e voluntária avança com o seu veículo automóvel em direcção a um agente
da PSP, prevendo que lhe podia causar lesões, como causou, comete o crime de ofensa à integridade
física qualificada p. e p. pelo art.º 146, n.ºs 1 e 2, 143, n.º 1 e 132, n.º 2, al. h) do CP de 95.

16-04-1997

Processo n.º 1239/96 - 3ª Secção

Relator: Manuel Saraiva

Violação

Ofensas corporais

Concurso
I - A violência constitui um dos meios de execução do crime de violação e pode, só por si, constituir um
crime de ofensas corporais; estas são então ao mesmo tempo, elemento essencial do facto ilícito, no
crime de violação, e integram em si mesmas um crime contra a integridade física.

II - Quando tal acontece, se a valoração da ofensa corporal como meio utilizado de execução do crime
de violação esgotar a sua apreciação jurídica, haverá somente o crime de violação.

III - Afastada porém a possibilidade de serem imputados ao arguido os crimes violação (na forma
tentada), por não se ter provado a intenção de manter cópula com as ofendidas, as ofensas corporais
descritas na acusação como meio de cometer aquele crime recobram plena autonomia (que só tinha
sido retirada pela aplicação ao caso concreto da norma prevalente), sem que isso possa significar
qualquer surpresa para o arguido.

08-05-1997

Processo n.º 1423 - 3ª Secção

Relator: Nunes da Cruz

Ofensa à integridade física qualificada

Do cotejo do art.º 144, n.º 2 do CP de 82 e do art.º 146 do CP de 95 vê-se que no primeiro o legislador
agravou a pena do autor do crime de ofensas corporais em função do risco que normalmente traz o uso
de certos meios agressivos, presumindo juris et de jure o perigo de lesões graves, mesmo que estas no
caso concreto se não verifiquem, enquanto que no segundo preceito o tipo está referenciado à culpa do
agente do crime.

14-05-1997

Processo nº 59/97 - 3ª Secção

Relator: Mariano Pereira

Ofensas corporais

Ofensas corporais com dolo de perigo


Ofensas corporais graves

I - O crime e ofensas corporais graves do art.º 143 do CP de 82, não se verifica quando não se prove que
o arguido com a ofensa, tivesse mutilado o ofendido, lhe retirasse a capacidade para o trabalho, nem
que lhe provocasse doença particularmente dolosa.

II - Comete o crime de ofensas corporais com dolo de perigo p. e p. pelo art.º 144, n.º 2 do CP de 82, o
arguido que munido de um pau de cerca de 80 cm de comprimento e cerca de 2 a 3 cm de diâmetro
agrediu o ofendido F... em várias partes do corpo e como consequência necessária dessa agressão
resultaram para o ofendido "ferida incisiva do couro cabeludo, com cerca de 5 cm de comprimento,
traumatismo do membro superior direito, equimoses no braço direito, mama direita, braço esquerdo e
mão esquerda, as quais lhe determinaram um período de 20 dias de doença dos quais 5 com
incapacidade para o trabalho, (hoje crime de ofensas corporais simples p. e p. pelo art.º 143 do CP
revisto).

04-06-1997

Processo nº 78/97 - 3ª Secção

Relator: Mariano Pereira

Ofensas corporais

I - As circunstâncias qualificativas do n.º 2 do art.º 132 do CP não são de aplicação automática, sendo
necessário um juízo de que as mesmas são susceptíveis de revelar especial censurabilidade ou
perversidade do agente.

II - Assim comete o crime de ofensas corporais simples p. e p. pelo art.º 143 do CP o arguido, agente da
PSP, na altura à civil, e convencido de que o ofendido juntamente com outros o iam agredir, dispara um
tiro de pistola de calibre 7,65 mm contra o arguido, com o propósito de o atingir, embora só para lhe
causar lesões/ferimentos, vindo, efectivamente, a atingi-lo no pavilhão auricular esquerdo, causando-
lhe um período de dez dias de doença, cinco dos quais com incapacidade para o trabalho.

11-06-1997

Processo nº 79/07 - 3ª Secção


Relator: Virgílio Oliveira

Condução perigosa de veículo rodoviário

Suspensão da execução da pena

O crime de condução perigosa de veículo rodoviário p. e p. 291, n.º 1 al. b) do CP de 95, é um crime
doloso de perigo concreto, bastando-se com esse perigo. Se da condução perigosa tivessem resultado
ofensas corporais para determinadas pessoas, essas ofensas integrariam um outro crime.

12-06-1997

Processo nº 217/97 - 3ª Secção

Relator: Nunes da Cruz

Ofensa à integridade física qualificada

Qualificação jurídica penal

Especial censurabilidade

O enquadramento jurídico-penal efectuado no acórdão recorrido, quanto ao crime de ofensa à


integridade física qualificada - art.º 143 e 146, do CP - não merece censura, já que a conduta do arguido,
disparando três tiros de revólver, a curta distância, contra o ofendido, atingindo-o na cabeça e na perna
esquerda, tal conduta revela "especial censurabilidade".

02-07-1997

Processo n.º 276/97 - 3ª Secção

Relator: Pires Salpico *

Homicídio
Ofensa à integridade física qualificada

Dolo eventual

A matéria de facto provada é insuficiente para a decisão de que "o arguido apenas quis ofender
corporalmente o ofendido", ao dar-se simplesmente como não provado "que fosse intenção daquele
tirar a vida deste", sem se indagar da eventual existência de dolo eventual, numa situação em que o
arguido utilizou uma arma de fogo (caçadeira de dois canos), visou o ofendido no braço, portanto, perto
do tórax - onde se alojam órgãos importantes e vitais - disparou dois tiros seguidos a uma distância de
20 metros, era portador de um cinturão onde dispunha de vários cartuchos e agia perturbado.

01-10-1997

Processo n.º 127/97 - 3ª Secção

Relator: Mariano Pereira

Ofensas corporais com dolo de perigo

Ofensa à integridade física qualificada

Danos não patrimoniais

Indemnização

I - A utilização de uma pedra é tida por meio particularmente perigoso ou insidioso, dado que,
objectivamente, é apto a provocar ferimentos ou lesões graves.

II - Comete o crime de ofensas corporais com dolo de perigo p. e p. pelo art.º 144 do CP de 82, hoje
crime de ofensa à integridade física qualificada p. e p. pelo art.º 146, com referência ao art.º 143 do CP
de 95, o arguido que, munido de uma pedra na mão, desfere uma pancada com a mesma, na face do
ofendido, e como consequência directa e necessária lhe causou ferida contusa de cerca de 2 cm e
equimose na face dorsal do nariz, bem como equimose na região frontal direita e esquerda, que lhe
causaram 110 dias de doença, todos com incapacidade para o trabalho.

09-10-1997

Processo n.º 1319/97 - 3ª Secção


Relator: Guimarães Dias

Indemnização ao lesado

Danos não patrimoniais

I - A indemnização a conceder por danos não patrimoniais destina-se a compensar os desgostos e


sofrimentos suportados pelo lesado.

II - Assim, é de fixar por danos não patrimoniais sofridos pelo ofendido, vítima de ofensas corporais, a
indemnização de 150.000$00, quando se prove que o mesmo sofreu dores ao longo de 34 dias de
doença, todos com incapacidade para o trabalho e que os arguidos auferiam, um 90.000$00 e outro
80.000$00 mensais.

16-10-1997

Processo n.º 1409/96 - 3ª Secção

Relator: Guimarães Dias

Ofensas corporais

Legítima defesa

Excesso de legítima defesa

I - Em legítima defesa não é incompatível que o arguido tenha agido, para além do propósito defensivo,
também com propósito de agredir, de ferir ou de matar, desde que aquele, o primeiro intuito, apareça
no espírito do agente como objectivo a conseguir por meio do ferimento ou da morte.

II - Não actua em legítima defesa o arguido que, em comunhão de esforços com outra pessoa, desfere
vários pontapés e murros na vítima, deixando-a prostrada no solo, numa altura em que já tinha cessado
a ofensa corporal da segunda ao primeiro (com o recurso a três tiros de pistola), quando àquela fôra
retirada a arma, por faltar o requisito de actualidade da agressão.

III - No quadro circunstancial descrito no ponto III, o arguido também não actua com excesso de legítima
defesa por não se verificar um dos pressupostos da legítima defesa (actualidade da agressão).
22-10-1997

Processo n.º1402/97 - 3ª Secção

Relator: Brito Câmara

Roubo

Ofensas corporais

Bem jurídico protegido

I - O crime de roubo apresenta uma natureza mista, tutelando bens patrimoniais e pessoais.

II - Em relação ao ofendido do crime de roubo, pode aceitar-se que a agressão posterior à apropriação
de uma carteira se integra naquele ilícito, mas já o mesmo se não pode afirmar quanto às agressões
sofridas pelas pessoas que vieram em socorro daquele ofendido, que consubstanciam a prática de
crimes de ofensas corporais.

III - Nos crimes que protegem bens de natureza pessoal, como é o caso dos crimes de ofensas corporais,
verificam-se tantos ilícitos quantos os titulares dos bens lesados.

22-10-1997

Processo n.º 48367 - 3ª Secção

Relator: Herculano Lima

Matéria de facto

Ofensa à integridade física grave

Meio particularmente perigoso

Veículo automóvel
I - Um veículo automóvel em marcha é sempre um perigo para a vida de um peão quando vai na
direcção deste, independentemente da sua velocidade.

II - Pratica dois crimes de ofensa à integridade física grave, na forma tentada, dos art.ºs 144, al. d), e 22,
do CP, o arguido que, conduzindo um veículo automóvel, se dirigiu a duas pessoas, quando estas se
encontravam na berma da estrada, com intenção de nelas embater, o que só não conseguiu por as
mesmas se terem desviado.

29-10-1997

Processo n.º 629/97 - 3ª Secção

Relator: Flores Ribeiro

Ofensas corporais com dolo de perigo

Ofensa à integridade física simples

Ofensa à integridade física qualificada

Crime público

Crime semi-público

Procedimento criminal

Legitimidade do Ministério Público

Homicídio qualificado

Meio insidioso

Crime continuado

Co-autoria

I - O assistente carece de legitimidade, por falta de interesse em agir, para recorrer a pedir a
condenação dos arguidos pelos crimes de genocídio e de ofensas corporais graves, ilícitos diversos
daqueles que foram considerados na decisão recorrida.

II - Apesar de inserido no capítulo dedicado aos crimes contra a integridade física, o art.º 151, do CP,
protege não só a integridade física como também a vida da pessoa humana.
III- O crime de participação em rixa tem a natureza de crime de perigo.

IV - No crime de participação em rixa a morte e a ofensa corporal grave são meras condições objectivas
de punibilidade.

V - Assim, aquele crime consuma-se independentemente da ocorrência de algum dos referidos eventos,
mas, não se verificando algum deles, o crime não é punível.

VI - Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, rixa é "disputa acalorada, acompanhada de


ameaças e pancadas; desordem; briga; contenda ".

VII - Na definição legal, a rixa é constituída pelo mínimo de três pessoas formando duas facções que
reciprocamente se agridem fisicamente, não existindo ela quando só um grupo ataca e o outro se
defende.

VIII - Deste modo, não cometeram o crime de art.º 151, do CP, os arguidos que, agindo em comunhão
de esforços, em locais e momentos diferentes, ofenderam corporalmente vários indivíduos sem que
estes tivessem respondido às agressões.

IX - O termo "participação" do art.º 151, do CP, evidencia a acção individual de cada agente. Cada
participante é autor paralelo de um crime de participação em rixa, não é co-autor do mesmo crime
comum.

X - A expressão "quem intervier ou tomar parte em rixa" constante do art.º 151, do CP, significa que é
punido tanto aquele que voluntária e conscientemente deu início à briga, como aquele que interveio
nela depois de iniciada e ainda não terminada.

XI - O autor da morte ou das ofensas corporais graves não é punido como participante em rixa, dada a
regra da consumpção.

XII - O art.º 146, do CP de 1995, não sucedeu ao art.º 144, do CP de 1982, que se extinguiu com a
entrada em vigor da lei nova. O art.º 146, do CP de 1995, é novo e limita-se a introduzir uma
circunstância qualificativa - especial censurabilidade ou perversidade do agente - em crimes contra a
integridade física cometidos com dolo de dano; ao passo que o art.º 144, n.º 2, do CP de 1982, punia
crimes praticados com dolo de perigo abstracto.

XIII - Ao art.º 144, do CP de 1982, corresponde, no CP de 1995, o art.º 143.

XIV - Se o crime pelo qual o arguido vinha acusado - público no CP de 1982 - passou a semi-público no
novo CP, e não tendo o ofendido exercido directa ou indirectamente o seu direito de queixa, o MP
perdeu a sua legitimidade para acompanhar o procedimento criminal.

XV - Para os costumes e tradição do nosso povo e da nossa história, matar um homem só porque ele é
negro, é particularmente censurável e chocante.
XVI - Constitui meio insidioso de provocar a morte, revelando uma especial censurabilidade e
perversidade, o seguinte quadro de circunstâncias:

- se onze homens, cinco dos quais calçando botas com biqueira em aço, pontapeiam e dão murros a um
único homem;

- se, ainda por cima, um dos onze homens pega na base de cimento de um sinal de trânsito e dá com ela
duas vezes na cabeça da vítima;

- se, para além daquilo, três dos onze homens voltam depois atrás para darem ainda mais pontapés na
vítima já agonizante, tudo numa rua que parece deserta e cerca da 1H 30M.

XVII - A continuação criminosa não se verifica quando são violados bens jurídicos inerentes à pessoa,
salvo tratando-se da mesma vítima.

XVIII - São co-autores de cada uma das ofensas corporais ocorridas todos os arguidos que, em bando
predisposto a bater, passavam no local no momento em que cada uma das agressões foi efectuada por
um daqueles.

12-11-1997

Processo n.º 1203/97 - 3ª Secção

Relator: Joaquim Dias

Ofensas corporais a cônjuge

I - O art.º 152, do CP, no seu número 2, pune a actuação de quem infligir ao cônjuge maus tratos físicos
ou morais, e a sua redacção teve como propósito a eliminação de algumas dúvidas que
doutrinariamente tinham surgido na interpretação do art.º 153, do CP de 1982, e que conduziram a ter-
se discutido se, no crime de maus tratos a cônjuge, fazia ou não parte do tipo uma certa habitualidade
ou repetição de condutas ofensivas da integridade física ou moral do consorte ofendido, embora, a final,
se tivesse fixado a jurisprudência no sentido de que, mesmo com a redacção de 1982, a referida figura
criminal se poderia verificar com única agressão, desde que a sua gravidade intrínseca a pudesse fazer
qualificar como tal.

II - A actual redacção, por consequência, mais não significa, no caso concreto, do que a incriminação,
decorrente da lei penal, de condutas agressivas, mesmo que praticadas uma só vez, que se revistam de
gravidade suficiente para poderem ser enquadradas na figura dos maus tratos.
III- Não são, assim, todas as ofensas corporais entre cônjuges que cabem na previsão criminal do
referido art.º 152, mas aquelas que se revistam de uma certa gravidade, ou, dito de outra maneira, que,
fundamentalmente, traduzam crueldade ou insensibilidade, ou até vingança desnecessária, da parte do
agente.

IV - Comete o crime p. e p. pelo n.º 2, do art.º 152, do CP de 95, o arguido que, no interior da sua
residência, desfere bofetadas e pancadas com as mãos no corpo da, então, sua esposa, F..., e,
seguidamente, mediante o uso da força, obriga-a a sair da casa, em roupão, indiferente à chuva que caía
e ao frio que se fazia sentir, e a permanecer à porta da residência durante cerca de três horas. Depois
disso, agarrou-a pelos braços, obrigou-a a entrar num automóvel Fiat Panda e, contra a sua vontade,
transportou-a até à PSP de Z..., sem se importar com o facto de ter sozinho em casa um filho do casal, de
5 anos, e alegou tê-la encontrado com um amante, tendo a ofendida sofridos várias lesões, que lhe
provocaram dores e lhe causaram 7 dias de doença, sem impossibilidade de trabalho.

13-11-1997

Processo n.º 1225/97 - 3ª Secção

Relator: Sá Nogueira

Competência

Quando não se descortina nexo de causalidade entre um acto de serviço soldado da GNR que ele
devesse praticar e as ofensas corporais que cometeu, a competência para conhecimento desse
comportamento cabe ao Delegado do Procurador da República na respectiva comarca.

11-12-1997

Processo n.º 640/97 - 3ª Secção

Relator: Hugo Lopes

Acidente de viação

Negligência

Concurso de crimes
Homicídio involuntário

Ofensas corporais involuntárias

I - O concurso de crimes corresponde a uma pluralidade de crimes, não necessariamente a uma


pluralidade de factos. Um só facto pode bastar para desenhar a figura do concurso ideal, que o código
equipara ao concurso real, perfilhando o critério teleológico. Um só facto pode ofender vários interesses
jurídicos ou repetidamente o mesmo interesse jurídico. Se a tais ofensas corresponderem outros tantos
juízos de censura, verifica-se o concurso efectivo de crimes - real ou ideal.

II - Portanto, na definição de concurso efectivo de crimes, não basta o elemento da pluralidade de bens
jurídicos violados; exige-se a pluralidade de juízos de censura.

III- Ora, o número de juízos de censura é igual ao número de decisões de vontade do agente dos crimes.
Uma só resolução, um só acto de vontade, é insusceptível de provocar vários juízos de censura sem
desrespeito do princípio ne bis in idem.

IV- Por isso, no concurso ideal, sendo a acção exterior uma só, a manifestação da vontade do agente,
quer sob a forma de intenção quer de negligência, tem de ser plúrima: tantas manifestações de vontade,
tantos juízos de censura, tantos crimes.

V - Nos termos do art.º 15, do CP, o autor material de um crime culposo viola um dever de cuidado ou
diligência, objectiva e subjectivamente. A manifestação de vontade do agente do crime culposo
consiste, pois, na omissão voluntária de um dever; não tem por conteúdo o facto e as suas
consequências.

VI- Num acidente de viação culposo, a acção voluntária do agente traduz-se no exercício de condução
incorrecta, de consequências não previstas mas que se deviam prever. Sendo uma só a manifestação da
vontade e um só o facto ilícito, ainda que de evento plúrimo, o número de juízos de censura não pode
ultrapassar a unidade.

VII- A acção negligente do arguido, que com culpa grave deu causa ao acidente de que resultou a morte
de uma pessoa e ofensas corporais noutras quatro, dirigiu-se exclusivamente à forma de condução.
Sobre ele recai, portanto, um só juízo de censura como autor de um crime de homicídio por negligência
grosseira. As ofensas à integridade física, porque não fazem parte do tipo de crime, são consideradas
para efeitos do disposto na alínea a), do n.º 2, do art.º 71, do CP, aumentando o grau de ilicitude do
facto.

17-12-1997

Processo n.º 1195/97 - 3ª Secção


Relator: Joaquim Dias

Ofensa à integridade física grave

Dolo

Dolo genérico

I - O art.º 144, do CP, contempla um tipo de crime doloso, em que o dolo pode assumir qualquer das
formas contidas no art.º 14, do mesmo diploma, entre as quais a forma de dolo necessário.

II - No tipo de crime do art.º 144, do CP, exige-se, apenas, em confronto com o disposto nos art.ºs 13 e
14, do mesmo código, o chamado, por contraposição ao específico, dolo genérico.

III- Esse dolo genérico deve abranger a ofensa do corpo ou saúde de outra pessoa, bem como as
consequências contidas nas alíneas do art.º 144, do CP.

17-12-1997

Processo n.º 691/97 - 3ª Secção

Relator: Virgílio Oliveira

Ofensas corporais graves

Medida da pena

Mostra-se equilibrada a pena de três anos e seis meses de prisão imposta a um arguido que disparou um
tiro de caçadeira contra o ofendido, à curta distância de dois metros, atingindo-o na perna esquerda, e
produzindo-lhe lesões que ocasionaram, como consequência necessária, a amputação daquele membro
inferior, mediante intervenção cirúrgica, cometendo um crime de ofensas corporais graves do art.º 143,
al. a), do CP de 1982.

07-01-1998

Processo n.º 1248/97 - 3ª Secção


Relator: Pires Salpico

Ofensas corporais graves

Danos morais

Indemnização

I - Relativamente aos danos não patrimoniais não há propriamente indemnização, mas compensação da
lesão sofrida, a fixar equitativamente em função não só da gravidade dos danos, como do grau de culpa
do agente, situação económica deste e do lesado e demais circunstâncias do caso (art.º 496, n.º 3, 1ª
parte, em conjugação com o art.º 494, ambos do CC).

II - A perda da vista esquerda, com esmagamento do globo ocular respectivo e evisceração do mesmo,
com a subsequente implantação de uma prótese é, na verdade, ofensa muito grave à personalidade
física, portanto ofensiva em grau elevado dos direitos de personalidade que, por si mesma, deve ser
indemnizada (art.ºs 70 e 483, do CC).

III - Para o cômputo dessa indemnização não pode deixar de considerar-se a idade do ofendido à data
dos factos (30 anos), nem a circunstância de ele ser engenheiro técnico agrário, a par da gravidade da
lesão, da culpa do agressor e qualidade deste (agente da PSP), responsabilidade do Estado, situação
económica do agressor e do ofendido. Atendendo ao que se dispõe nos normativos legais citados, bem
como a todo o circunstancialismo pertinente, tem-se como equitativamente justa a indemnização de
cinco milhões de escudos.

18-02-1998

Processo n.º 1310/97 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Virgílio de Oliveira

Ofensas corporais graves

Dolo

Emoção violenta
I - Se o arguido não só teve o propósito de causar as lesões traumáticas vasculares encefálicas - lesões
de que adveio imediatamente um perigo actual, sério e efectivo de causarem a morte da vítima -, como
sabia que a sua conduta era apta a causar essas lesões, conclui-se que o dolo com que actuou abrange
não só a ofensa como também o resultado que dela adveio, ainda que tão só como dolo eventual, pois
que tendo-o previsto, actuou conformando-se com a sua realização.

II - Para que exista "emoção compreensível", esta, para lá de ser determinante da conduta homicida,
requer uma adequada relação de proporcionalidade entre o facto injusto da vítima e o facto ilícito do
agente.

27-05-1998

Processo n.º 310/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Augusto Alves

Ofensas corporais graves

Dolo directo

A expressão "o arguido agiu, deliberada, livre e conscientemente, querendo atingir o corpo da vítima
(que se identifica) como atingiu, querendo provocar-lhe consequências no corpo e na saúde e perigo
para a vida", é adequada a exprimir os elementos volitivo e intelectual caracterizadores do dolo directo.

02-07-1998

Processo n.º 278/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Costa Pereira

Ofensa à integridade física grave

Desfiguração grave e permanente

Perigo para a vida

Ofensa à integridade física qualificada

Meio insidioso
Arma branca

I - A ausência de motivo não pode ser havida, só por si, como correspondente ao conceito legal de
motivo fútil.

II - Tradicionalmente, o recurso a uma navalha, ou canivete, como arma branca que é, que fica quase
sempre escondida na mão, tem sido considerado como utilização cobarde e insidiosa de uma arma de
corte.

III - Tradicionalmente, também, tem sido considerado como indiciador da existência de perigo para a
vida, em consequência de uma agressão física, o facto de, após esta, se tornar necessário proceder a
uma operação cirúrgica de urgência, ainda que de natureza exploratória.

IV - E igualmente com carácter tradicional, tem sido entendido que o corte dos tecidos da cara de que
resulta como consequência permanente uma cicatriz de grandes dimensões que vai desde o mento, ou
queixo, até à região occipital, corresponde ao conceito de desfiguração grave e permanente previsto na
lei (art.º 144, al. a), do CP).

01-10-1998

Proc. n.º 673/98 - 3.ª Secção

Relator: Sá Nogueira

Ofensa à integridade física grave

Dolo

I - Para que se verifique o crime do art.º 144, do CP/95, é necessário que o dolo do agente abranja não
só a ofensa corporal, mas também as consequências contidas nas alíneas da referida norma.

06-01-1999

Proc. n.º 736/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Virgílio Oliveira

Erro notório na apreciação da prova


Ofensas corporais

I - O erro notório na apreciação da prova consiste em se ter dado como provado algo que notoriamente
está errado, que não pode ter acontecido, sendo o erro detectável por qualquer pessoa minimamente
atenta, resultando tão evidente que não pode passar despercebido ao comum dos observadores.

II - Tal vício não se verifica, quando num acórdão se dá como provado que o arguido "ao desferir o golpe
com a navalha colocou em perigo a vida do ofendido e que sabia dessa virtualidade", quando no auto de
exame, para onde se remete a descrição das lesões, se refere "que a ferida na região lombar não tocou
o osso e na cavidade peritonal", do mesmo modo que não existe oposição, ao dar-se ao mesmo tempo
como provado, que "as lesões acarretaram apenas 19 dias de doença" e "que a lesão era apta a causar a
morte".

III - O disposto no art.º 143, do CP, prevê uma ofensa à integridade física ou psíquica do ofendido,
podendo pois existir ofensa corporal sem lesão externa.

21-02-1999

Proc. n.º 744/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Mota e Costa

Violação

Ofensa à integridade física grave

Concurso real

Comete, em concurso real, os crimes de violação na forma tentada e ofensa à integridade física grave, o
arguido que, pretendendo ter relações sexuais contra a vontade da ofendida, empurra esta para o
interior da sua residência, fazendo-a cair, fecha a porta à chave, começa a bater-lhe por todo o corpo a
soco e pontapé e procurou arrastá-la para o quarto, apalpou-a, tentou despi-la e apertou-lhe o pescoço
para a asfixiar e quebrar a resistência física, só não conseguindo concretizar os seus propósitos por
circunstâncias estranhas à sua vontade.

11-02-1999

Proc. n.º 1379/98 - 3.ª Secção


Relator: Cons. José Girão

Ofensa à integridade física simples

Para a verificação do crime de ofensa à integridade física não é necessário que o ofendido tenha sofrido
quaisquer danos físicos ou dores.

04-03-1999

Proc. n.º 1473/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Abranches Martins

Ofensa à integridade física grave

Veículo automóvel

Instrumento do crime

Suspensão da execução da pena

Condição

I - Mostra-se inteiramente justificada a imposição da obrigação de o arguido - condenado por crime de


ofensa à integridade física grave na forma tentada e que utilizou o veículo automóvel que conduzia
como instrumento daquele crime, sem que tenha confessado ou se mostre arrependido - efectuar à
Prevenção Rodoviária Portuguesa uma prestação no montante de 500.000$00, como condição da
suspensão da execução da pena de um ano de prisão que lhe foi imposta.

II - O pagamento daquela prestação funciona não só como reforço do conteúdo reeducativo e


pedagógico da pena de substituição em causa - na medida em que representa um esforço ou implica até
sacrifício da parte do arguido no sentido de contribuir para minorar a perigosidade da condução
automóvel, em que se enquadrou a sua conduta criminosa - como se apresenta também como meio
idóneo de dar satisfação suficiente às finalidades da punição, respondendo nomeadamente à
necessidade de tutela dos bens jurídicos e estabilização contrafactica das expectativas comunitárias.
24-03-1999

Proc. n.º 1422/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Martins Ramires

Ofensas corporais com dolo de perigo

Preterintencionalidade

Homicídio privilegiado

Compreensível emoção violenta

I - O perigo para a vida exigido pelo art.º 144, al. d), do CP, é um perigo concreto e não meramente
abstracto.

II - É revelador desse tipo de perigo, a utilização no meio de uma refrega física, de um instrumento
cortante de dois gumes, com 8 cm de comprimento e 1,3 cm de largura, com o qual se atinge a vítima no
peito, no lado inferior esquerdo.

III - O crime preterintencional resulta de um misto de dolo e de culpa, em que a culpa produz um
resultado mais grave, daí a agravação.

IV - Embora o Código Penal não defina o que seja crime passional, pode dizer-se que constitui o
contrário do crime em que a conduta do agente é caracterizada por uma actuação com frieza de ânimo,
ou de uma outra forma, é aquele que é cometido por compreensível emoção violenta provocada por
problemas amorosos.

V - Tendo o arguido agido fortemente influenciado pela dor e pelo despeito que lhe causou o
conhecimento, nesse próprio dia, de que a sua mulher, de quem tinha uma filha, estava a viver com
outro homem, com reputação de mulherengo e tendo esse estado de exaltação sido agravado pela
circunstância de aquele, pouco antes dos factos de que viria a resultar a sua morte, recusado deixar sair
a mulher do arguido de casa, estão reunidos todos requisitos exigidos pelo art.º 133, do CP, para que se
possa ter por verificada uma situação de compreensível emoção violenta.

22-04-1999

Proc. n.º 237/99 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Costa Pereira


Resistência e coacção sobre funcionário

Bem jurídico protegido

Unidade de infracções

Ofensa à integridade física qualificada

Concurso real de infracções

Atenuação especial da pena

Jovem delinquente

Tentativa

I - Da própria inserção sistemática do art.º 347 do CP, conjugada com o seu teor, resulta que o bem
jurídico que a lei especialmente quis proteger com a incriminação que contém é o interesse do Estado
em fazer respeitar a sua autoridade, manifestada na liberdade funcional de actuação do seu funcionário
ou membro das Forças Armadas, militarizadas ou de segurança, e não a integridade física do
funcionário, como bem pessoal deste.

II - Eliminado o art.º 385, do CP/82, a protecção do bem jurídico da integridade física do "funcionário"
agente da autoridade pública passou a ser prosseguida nos termos dos art.ºs 143 e segs. do CP/95, com
a possível qualificação resultante do disposto no art.º 146, n.º 2, referido ao art.º 132, n.º 2, al. j), do
mesmo Código, quando a circunstância de a ofensa ser praticada contra quem tem aquela qualidade
revelar a especial censurabilidade ou perversidade e não for infringida a proibição da dupla valoração de
circunstâncias.

III - Em harmonia com o critério teleológico para distinção entre unidade e pluralidade de infracções
(art.º 30, n.º 1, do CP) a incriminação das ofensas à integridade física do funcionário, que não possa
considerar-se consumida, em termos de concurso aparente, pela incriminação constante do art.º 347 do
referido diploma, concorre com esta, em termos de concurso efectivo, de acordo com as regras gerais.

IV - Comete um só crime de resistência e coacção sobre funcionário, p.p. pelo citado art.º 347, do CP, o
arguido que, numa tentativa de fuga, actua de modo acordado e conjunto com certa pessoa que dirige o
veículo que conduzia na direcção de dois elementos da GNR, sem os atingir, e imediatamente a seguir,
na mesma tentativa de fuga, agora ele próprio, em actuação singular, desfere um tiro com um arma de
fogo para o lado direito do veículo, onde se encontravam mais dois soldados da GNR, sem nestes
acertar, porquanto a descrita actuação de resistência, que se apresenta unitária, corresponde a uma
única resolução criminosa, ainda que cindida em duas acções naturalisticamente diferentes.
V - Perante os factos mencionados no número antecedente, em concurso efectivo com o crime do art.º
347, do CP, pratica ainda o arguido 4 crimes de ofensa à integridade física qualificada, na forma tentada,
cada um deles p.p. pelas disposições conjugadas dos art.ºs 143, 146, n.ºs 1 e 2, 132, n.º 2, al. j), 22, n.ºs
1 e 2, al. b), 23, n.ºs 1 e 2 e 73, n.º 1, al. a), daquele Código.

28-04-1999

Proc. nº 1246/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Armando Leandro

Furto de uso de veículo

Ofensa à integridade física

Alteração dos factos

Alteração da qualificação jurídica

II - Vindo imputado ao arguido um crime de roubo e considerando o tribunal de julgamento existir, em


vez daquele, um crime de furto de uso de veículo e um crime de ofensas corporais, por não se ter
provado a intenção de apropriação do veículo mas apenas a intenção de o usar, estar-se-á perante uma
diversa qualificação dos factos, da qual o arguido acaba por ser beneficiado, já que essa qualificação
resultou de um minus dos factos provados em relação aos factos da acusação.

29-04-1999

Proc. n.º 164/99 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Mota e Costa

Ofensa à integridade física

Motivo fútil

Meio insidioso
I - O único facto provado de que os dois arguidos, irmãos entre si, andavam de relações cortadas por
causa de propriedades (estremas de propriedades) não configura - na ausência de prova de factos
reveladores das motivações próximas da actuação de um deles, que, com um machado, desferiu um
golpe no outro, atingindo-o na cabeça, com a parte cortante do mesmo, com o que lhe causou lesões
que determinaram 10 dias de doença - a circunstância qualificativa "motivo fútil" (art.ºs 146 e 132, al. c),
do CP).

II - Meio insidioso é aquele que torna especialmente difícil a defesa da vítima, por traiçoeiro, desleal,
enganador, dissimulado, subreptício, em si mesmo ou na forma da sua concreta utilização.

III - Um machado, composto de cabo de madeira, com 74 cm de comprimento, tendo a lâmina, de ferro,
10 cm de comprimento, não é em si mesmo um meio insidioso, no sentido de traiçoeiro ou desleal,
sendo normalmente bem visível e de previsível efeito agressivo grave.

29-09-1999

Proc. n.º 184/98 - 3.ª Secção

Armando Leandro (relator)

Virgílio Oliveira

Mariano Pereira

Leonardo Dias

Recurso penal

Renúncia

Âmbito do recurso

Supremo Tribunal de Justiça

Poderes de cognição

Tendo havido, por parte do arguido, condenado pela prática de um crime de ofensas corporais com dolo
de perigo, e de um crime de ofensas corporais negligentes, uma renúncia ao recurso quanto àquele
crime (art.º 403, n.º 2, alínea b), do CPP), em consequência da limitação do recurso ao outro crime e à
questão da suspensão da execução da pena, isso impede que o STJ, mesmo com os poderes oficiosos de
conhecimento, possa, por qualquer forma, alterar o enquadramento jurídico-penal do crime não objecto
de recurso, por exceder os seus poderes cognitivos, limitados pela lei ao objecto do mesmo recurso, e
sem apoio legal para, em tais circunstâncias, se poder socorrer do preceituado no n.º 3 daquele art.º
403.

21-10-1999

Proc. n.º 287/98 - 5.ª Secção

Sá Nogueira (relator)

Costa Pereira

Sousa Guedes

Abranches Martins

Ofensas corporais simples

Ofensas corporais agravadas

Dolo

Arma caçadeira

Meio insidioso

Meio particularmente perigoso

I - As ofensas corporais que apenas determinam, directa e necessariamente, 150 dias de doença com
incapacidade para o trabalho e muitas dores durante o tratamento das lesões e naquele período, sem
quaisquer sequelas posteriores, cabem na previsão do art.º 142 do CP de 1982 e não na do art.º 143 do
mesmo Código.

II - Mesmo no aspecto subjectivo, do referido art.º 143 ressalta que o dolo deve abarcar (mesmo na
forma de dolo eventual) todas as circunstâncias integrantes da descrição típica contida nas suas diversas
alíneas; isto é, deixou de se fazer uma imputação objectiva do resultado (como no CP de 1886), antes se
exigindo que o agente o queira ou, pelo menos, o represente, conformando-se com a sua possível
verificação.

III - O arguido, ao disparar uma caçadeira, alta noite, contra uma pessoa que assoma a uma janela, a
cerca de 10 metros de distância, utiliza, para ferir, um meio particularmente perigoso e insidioso.

28-10-1999
Proc. n.º 843/99 - 5.ª Secção

Sousa Guedes (relator)

Abranches Martins

Hugo Lopes

José Girão

Insuficiência da matéria de facto provada

Crime complexo

Roubo

Alteração substancial dos factos

Alteração não substancial dos factos

II - A expressão "crime diverso", contida na al. f) do art. 1.º do CPP, não corresponde à de "diferente tipo
legal de crime", no sentido substantivo, mas antes de "crime" para efeitos processuais, no sentido de
"facto diverso" dos que integram os limites pré-existentes do objecto do processo, ultrapassando estes.

III - Na hipótese de crime complexo, como o de roubo, fica claramente compreendido entre os limites da
actividade cognitiva do tribunal o conhecimento dos delitos que aquela figura sintetiza.

IV - Assim, se o arguido está acusado de um crime de roubo, constituído por elementos que,
isoladamente, integrariam crimes de furto e de ofensa à integridade física simples, e se é considerada
não provada a subtracção de coisas móveis, mas são provados factos que podem integrar o referido
ilícito de ofensas à integridade física simples, não se verifica alteração substancial dos factos, nos termos
e para os efeitos dos arts. 359.º e 1.º, do CPP, sendo apenas necessário o cumprimento prévio do art.
358, n.º 1, daquele diploma.

03-11-1999

Proc. n.º 1001/98 - 3.ª Secção

Armando Leandro (relator)

Leonardo Dias

Virgílio Oliveira
Mariano Pereira

Ofensa à integridade física

Legítima defesa

I - São requisitos da legítima defesa:

a) Uma agressão actual ou iminente;

b) Que a agressão seja ilícita, não motivada por provocação do defendente;

c) A existência do animus defendendi;

d) Impossibilidade de recurso à força pública; e

e) A necessidade racional do meio empregado.

II - Estando provado que:

- No seguimento de uma discussão, o arguido insultou a assistente, chamando-lhe "puta do caralho";

- No decurso da mesma discussão, o arguido pegou numa caçadeira e dirigiu-se, com ela, a uma varanda
da sua casa;

- Entretanto, a assistente pegou numa pistola de alarme;

- Quando a assistente chegou ao patamar da sua porta, o arguido arremessou-lhe um bocado de telha e,
de seguida, sem que a primeira alguma vez tivesse direccionado a arma que detinha ao corpo do
segundo, este apontou a caçadeira que empunhava para a mão onde aquela transportava a pistola e
efectuou um disparo nessa direcção que atingiu a ofendida em diversas partes do corpo, provocando-
lhe variadas lesões;

destes factos resulta com evidência que o arguido não agiu em legítima defesa, por não se verificarem
os requisitos acima indicados.

12-01-2000

Proc. n.º 361/99 - 3.ª Secção

Pires Salpico (relator)

Virgílio Oliveira
Armando Leandro

Leonardo Dias

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