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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DO

CRATO-CE.
PROCESSO Nº.: XXXXXXXXX
Eulú cido, devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem perante Vossa Excelência,
por intermédio de seu advogado, com fulcro no art. 396 e 396-A, ambos do Có digo de
Processo Penal, apresentar
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
Pelos fatos e fundamentos a seguir narrados.

I – PRELIMINARES
Neste caso, por possuir o réu condiçõ es pessoais favorá veis, inclusive, primariedade e o
crime ter uma pena mínima cominada menor que um ano (Caput do art. 155 do CP, que
trata do Furto Simples, com pena mínima de reclusã o de 1 (um) ano, combinado com o
inciso II do art. 14 do CP, que refe-se à modalidade de tentativa, que diminui a pena de um a
dois terço), o Ministério Pú blico ao oferecer a denú ncia deveria ter proposto a Suspensã o
do Processo, prevalecendo assim, o direito subjetivo do réu em juízo de ser concedido a
Suspenção Condicional do Processo por dois a quatro anos, conforme o art.89 da lei nº.
9.099, de 26/09/1995. Deste modo , requer-se o acolhimento desta preliminar de nulidade,
haja vista que o réu preenche todos os requisitos previstos em lei, restando assim,
prejudicada a aná lise do mérito.

II – FATOS
Eulú cido, foi denunciado pelo Ministério Pú blico como incurso nas penas previstas no
artigo 155 do Có digo Penal. Segundo as alegaçõ es do Parquet, Eulú cido teria entrado em
um supermercado e de lá tentado subtrair duas garrafas plá sticas, contendo determinada
cachaça nacional no valor de R$ 5,00 cada garrafa.
Contudo, em fase inquisitorial, o acusado relatou que nã o lembra do ocorrido e que sua
ú ltima lembrança foi dos veteranos da faculdade forçando-o a ingerir diversas bebidas
alcoó licas, vez que era calouro. Ainda, concluiu dizendo que quando voltou a si, já estava na
Delegacia. Neste sentido, os policiais que efetuaram a prisã o confirmaram a completa
embriaguez de Eulú cido no momento do flagrante.
III – DO DIREITO
A respeitá vel denú ncia nã o merece prosperar, pois o réu foi forçado a ingerir diversos tipos
de bebidas alcoó licas, causa esta de excludente de culpabilidade, conforme prescreve os
artigos 397, II, do CPP e o art. 28, § 1º, do CP:
Art. 397. Apó s o cumprimento do disposto no art. 396-A, e pará grafos, deste Có digo, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
Art. 28, § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de
caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da açã o ou da omissã o, inteiramente incapaz de
entender o cará ter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
No caso em tela, o acusado foi vítima de um trote acadêmico e contra sua vontade, forçado
a ingerir diversos tipos de bebidas, nã o lembrando de mais nada do que aconteceu apó s
este fato, voltando a si somente quando já estava na delegacia. Neste sentido, fica evidente
a existência da excludente de ilicitude por embriaguez acidental, uma vez que, de forma
involuntá ria, por força maior e por intermédio de terceiros o agente ingeriu diversos tipos
bebidas alcoó licas.
Neste sentido, segue abaixo o entendimento do doutrinador Guilherme de Souza Nucci e do
Tibunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul:
“Embriaguez decorrente de força maior é a que se origina de eventos nã o controlá veis pelo
agente, tal como a pessoa que, submetida a um trote acadêmico violento, é amarrada e
obrigada a ingerir, à força, substâ ncia entorpecente. Ambas, no fundo, sã o hipó teses
fortuitas ou acidentais. Essa causa dá margem a uma excludente de culpabilidade se, por
conta dessa ingestã o forçada ou fortuita, o agente acaba praticando um injusto.”(NUCCI,
Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: 13ºed. Vol.1. – Rio de Janeiro: Editora Forense,
2017. Pá g. 621).
E M E N T A – APELAÇÃ O CRIMINAL ACUSATÓ RIA – DESACATO – REFORMA DA SENTENÇA
ABSOLUTÓ RIA – VIABILIDADE – RECURSO PROVIDO. 1.Apenas a embriaguez acidental
(involuntá ria) completa, decorrente de caso fortuito ou força maior, é capaz de excluir a
imputabilidade do agente e, consequentemente, a sua culpabilidade, nos termos do art.28, §
1º, do Có digo Penal. 2.O ô nus da prova quanto estado de embriaguez completa acidental,
pressuposto para isençã o de pena, nos termos do referido dispositivo legal, é de
incumbência defensiva, nos termos do art. 156 do Có digo de Processo Penal, já que se trata
de fato impeditivo da pretensã o acusató ria contida na denú ncia. 3.Havendo provas sobre a
materialidade e autoria dos fatos delituosos, deve ser mantida a condenaçã o, nos termos da
sentença.(TJ-MS - APL: 00042323820168120017 MS 0004232-38.2016.8.12.0017, Relator:
Des. Luiz Gonzaga Mendes Marques, Data de Julgamento: 28/08/2017, 2ª Câ mara Criminal)
Conclui-se ainda pelos autos, que o fato de Eulú cido ter tentado subtrair do supermercado
duas garrafas plá sticas contendo determinada cachaça nacional, com um valor total de R$
10,00, nã o trouxe dano ao patrimô nio da vítima. Enfatizo neste ponto, a desnecessidade do
acionamento do judiciá rio já que nã o houve lesã o ao bem jurídico tutelado, o que torna
claro a existência do princípio da insignificâ ncia, afastando e excluindo, deste modo, a
tipicidade material do fato. Portanto, torna-se possível de acordo com o art. 397, III, do CPP,
a absolviçã o sumá ria do réu:
Art. 397. Apó s o cumprimento do disposto no art. 396-A, e pará grafos, deste Có digo, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
III - que o fato narrado evidentemente nã o constitui crime;
Ora, é irrelevante a lesã o constatada ao patrimô nio do ofendido, já que estamos diante de
uma conduta incapaz de gerar lesã o ou ameaça ao bem jurídico tutelado, ou seja, ao
patrimô nio.
A jurisprudência e a Doutrina sã o firmes em assentar que a aplicaçã o do princípio da
significâ ncia reclama aferir-se: (a) mínima ofensividade da conduta sub examine; (b)
inexistência de periculosidade social no comportamento; (c) reduzido grau de censura do
proceder do agente e; (d) insignificâ ncia da lesã o jurídica produzida
Neste sentido, segue abaixo o entendimento do Supremo Tribunal de Justiça que
demonstra a utilizaçã o do Princípio da Insignificâ ncia:
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FURTO TENTADO. ESTABELECIMENTO
COMERCIAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂ NCIA. INCIDÊ NCIA. INEXPRESSIVA LESÃ O AO
BEM JURÍDICO TUTELADO. 1. Cabível a aplicaçã o do princípio da insignificâ ncia, tendo em
vista o baixo valor do bem - R$ 67,39 (sessenta e sete reais e trinta e nove centavos), menos
de 10% do salá rio mínimo vigente à época de R$ 724,00 (setecentos e vinte e quatro reais)
-, o que demonstra a inexpressividade da lesã o jurídica provocada. 2. Agravo regimental
improvido.(STJ - AgRg no HC: 424721 SP 2017/0294040-1, Relator: Ministro SEBASTIÃ O
REIS JÚ NIOR, Data de Julgamento: 28/03/2019, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicaçã o:
DJe 05/04/2019)
O princípio da insignificâ ncia surgiu na doutrina como manifestaçã o contrá ria ao uso
excessivo da sançã o, quando a conduta do agente nã o afeta de forma relevante o bem
tutelado, nã o se justificando a atuaçã o do Direito Penal nesses casos.
Neste contexto, vejamos agora as liçõ es doutriná rias de Cezar Roberto Bitencourt acerca
desse tema:
“A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos,
pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o
injusto típico. Segundo esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou de princípio de
bagatela, é imperativa uma efetivida proporcionalidade entre a gravidade da conduta que
se pretende punir e a drasticidade da intervençã o estatal. Amiú de, condutas que se
amoldam ao determinado tipo penal, sob o ponto de vista formal, nã o apresentam
nenhuma relevâ ncia material. Nessas circunstâ ncias, pode-se afastar liminarmente a
tipicidade penal porque em verdade o bem jurídico nã o chegou a ser lesado.”
(BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 16ª Ed. Sã o Paulo: Saraiva, 2011,
vol. 1, p. 51)
Excelência, o réu nã o pode ser culpado desta conduta supracitada, uma vez que, o acusado
foi vítima de uma embriaguez acidental proveniente de força maior, o que exclui a
culpabilidade do fato. E por fim, o fato narrado nã o constitui crime, pois de acordo com
Princípio da Insignificâ ncia, a tentativa de furto nã o chegou a lesar o patrimô nio do
Supermercado.

IV- DO PEDIDO
Por fim, mediante aos fatos aqui expostos, requer-se:
a) O acolhimento desta preliminar de nulidade pela ausência de sursis (art. 564, IV, CPP),
haja vista que o réu preenche todos os requisitos previstos em lei, restando assim,
prejudicada a aná lise do mérito;
b) A absolviçã o sumá ria pela excludente de culpabilidade (art. 397,II, CPP), pela
embriaguez acidental previstas no artigo 28, § 1º do Có digo Penal Brasileiro;
c) A absolviçã o sumá ria pela atipicidade (art. 397, III, CPP), já que a conduta do réu nã o
lesou o patrimô nio do ofendido (princípio da insignificâ ncia).
d) Caso Vossa Excelência, entenda que nã o é caso de absolviçã o sumá ria, requer-se a
instruçã o da causa para que ao final o réu seja absolvido.
Por fim, requere-se a ampla produçã o probató ria admitida em direito, em especial a oitiva
de testemunhas, conforme o rol abaixo:
Nestes termos,
pede e espera deferimento.
Local e Data
Assinatura do advogado (a)/OAB nº xxx

ROL DE TESTEMUNHAS:
1 – XXXXXXXXXXXXXXXX, calouro;
2 – XXXXXXXXXXXXXXXX, calouro;
3 – XXXXXXXXXXXXXXXX, calouro;
4 – XXXXXXXXXXXXXXXX;
5 – XXXXXXXXXXXXXXXX;
6 – XXXXXXXXXXXXXXXX.

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