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Conforme julgados em anexo, a venda de cigarros oriundos do Paraguai

configura o crime do art. 334§1º, “c” do CP, de competência da Justiça Federal:

APELAÇÃO. ARTIGO 334 DO CÓDIGO PENAL. CONTRABANDO.


CIGARROS ORIUNDOS DO PARAGUAI. ART. 50, § 3º, ALÍNEA "A",
DO DECRETO-LEI Nº 3.688/41. JOGOS DE AZAR. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA FEDERAL. Tratando-se de crimes conexos de
competência federal e estadual, compete à Justiça Federal o
julgamento do feito. Inteligência da súmula nº 122 do STJ.
Competência declinada, à unanimidade. (Apelação Crime Nº
70044526697, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Gaspar Marques Batista, Julgado em 06/10/2011)

PENAL. DESCAMINHO. TIPICIDADE. ART. 334, §1°, 'B', DO CP.


CONDUTA EQUIPARADA. PERÍCIA. ORIGEM ESTRANGEIRA DAS
MERCADORIAS. DESNECESSIDADE. AUTORIA. DEPOIMENTO DE
CORRÉU. APOIO EM OUTROS ELEMENTOS PROBATÓRIOS.
SANÇÃO PECUNIÁRIA SUBSTITUTIVA. RAZOABILIDADE. 1. A
ausência da hora da citação na contrafé apresentada pelo oficial
de justiça constitui mera irregularidade, que não tem o condão de
anular o ato processual, se não há prova de efetivo prejuízo. 2.
"Assegurado ao paciente o direito à entrevista prévia e reservada
com seu advogado (CPP, art. 185, § 2º) e não tendo havido
qualquer manifestação de inconformismo visando à redesignação
do ato pela defesa, consumou-se preclusão sobre o tema (CPP,
art. 571, inciso II)" (STF, HC 101455, Rel. Dias Toffoli, 1ª T.,
31/08/2010). 3. A falta de perícia não impede o reconhecimento
da origem estrangeira dos bens apreendidos quando outros
elementos de prova permitem ao Juiz formar convicção quanto à
sua procedência. Precedentes. 4. A figura típica descrita no art.
334, § 1º, alínea b, do CP, por se tratar de norma penal em
branco, é complementada pelo art. 3º do Decreto-Lei nº 399/68,
que equipara a contrabando ou descaminho o transporte de
cigarros de origem estrangeira, sem documentação comprobatória
de sua regular importação. 5. Ainda que relativo o valor probante
do depoimento prestado pelo corréu em seu interrogatório, poderá
ser aceito como suporte da acusação se estiver em harmonia com
os demais elementos de convicção coligidos aos autos. 6. Além de
se mostrar razoável o arbitramento da reprimenda pecuniária
substitutiva, eventual dificuldade em cumprir-se a imposição
condenatória poderá ser analisada pelo Juízo de Execução, pois,
conforme o regramento disposto na Lei nº 7.210/84, a ele
compete analisar se o pagamento de sanção de natureza
econômica deverá operar-se integralmente ou, ante as alegações e
documentos apresentados na ocasião oportuna, parceladamente, a
fim de preservar o sustento dos condenados e de seus
dependentes. (TRF4, ACR 0006797-04.2005.404.7102, Oitava
Turma, Relator Paulo Afonso Brum Vaz, D.E. 22/11/2011)

PENAL. DESCAMINHO. ART. 334, §1º, "B", DO CP. AUTORIA E


MATERIALIDADE COMPROVADAS. ERRO DE PROIBIÇÃO. NÃO
CONFIGURAÇÃO. PENA. DOSIMETRIA. 1. Está configurado o crime
de descaminho, na forma prevista no artigo 334, § 1º, "b", do CP,
quando o acusado transporta em território nacional mercadoria
estrangeira - cigarros -, sem documentação comprobatória de sua
regular importação. 2. Nos delitos de contrabando e descaminho,
em regra, a materialidade e a autoria são comprovadas através
dos documentos elaborados por ocasião da apreensão das
mercadorias. 3. A potencial consciência da ilicitude do fato é
elemento da culpabilidade, que não necessita ser efetiva, bastando
que, com algum esforço ou cuidado, o agente possa posicionar-se
sobre a ilicitude do fato. 4. A prestação pecuniária alternativa à
sanção reclusiva deve ser fixada de acordo com as condições
socioeconômicas do réu, sob pena de inviabilizar a medida. 5.
Apelação parcialmente provida. (TRF4, ACR 5000806-
47.2010.404.7114, Oitava Turma, Relator p/ Acórdão Paulo Afonso
Brum Vaz, D.E. 13/10/2011)

"PENAL. ART. 334 DO CP. IMPORTAÇÃO ILEGAL DE CIGARROS.


CONTRABANDO E DESCAMINHO. DELITOS SIMILARES. PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. CRITÉRIOS. VALOR LIMITE. REITERAÇÃO
DA CONDUTA. DANO À SAÚDE PÚBLICA. 1. A jurisprudência desta
Corte tem dado tratamento uniforme ao julgamento dos casos de
importação de cigarros estrangeiros sem o pagamento dos tributos
devidos (descaminho) e reintrodução no país daqueles de
fabricação nacional destinados à exportação (contrabando) uma
vez que se trata de infrações similares, traduzindo idêntico
potencial lesivo ao mercado, à saúde pública, bem como à União.
2. Não há qualquer evidência indicando que os cigarros originários
do Paraguai ou de outros países trazem mais danos à saúde do
que os produzidos pela indústria nacional, de modo a tornar-se
irrelevante a distinção entre as duas espécies delitivas. 3 e 4.
Omissis." (4ª Seção, HC 2004.04.01.034885-7, Relator para o
acórdão Des. Federal Élcio Pinheiro de Castro, D.E. 18-5-2005)

No entanto, conforme posicionamento majoritário da jurisprudência, quando


o tributo suprimido não for superior a R$10.000,00, incide o princípio da insignificância, não
sendo aplicável à conduta o crime de contrabando ou descaminho. Nesse sentido:

PENAL. DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA -


DELIMITAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIA SUBJETIVA - ABSTRAÇÃO. 1. É
inadmissível que uma conduta seja considerada irrelevante no
âmbito administrativo e não o seja na esfera penal, uma vez que o
Direito Penal "só deve atuar quando extremamente necessário
para a tutela do bem jurídico protegido quando falharem os outros
meios de proteção e não forem suficientes as tutelas estabelecidas
nos demais ramos do Direito" (STF, HC 92438, 19/08/2008). 2.
Uniformizando-se o trato da relevância na ótica do interesse
público, enfocado tanto pelo prisma do Direito Administrativo
como pelo prisma do Direito Penal, o parâmetro estabelecido para
operar o princípio da insignificância em delitos de descaminho
reside na cifra de R$ 10.000,00 (dez mil reais) - valor dado pela
Lei n° 11.033/2004 ao artigo 20 da Lei n° 10.522/2002. 3. A
incidência do princípio da bagatela é aferida apenas em função de
aspectos objetivos, relativos à infração cometida, e não em função
de circunstâncias subjetivas, as quais não obstam a sua
aplicação." (EIACR 2006.70.07.000110-1, 4ª Seção, Rel. Des.
Federal Amaury Chaves de Athayde, D.E. 27-10-2008)

Em relação ao delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/1990, o Tribunal de


Justiça do Rio Grande do Sul firmou entendimento no sentido de que os crimes previstos na
lei supra exigem para sua configuração a realização de perícia técnica. Nesse sentido,
quando ausente o laudo pericial, os acusados de praticarem o referido delito têm sido
absolvidos.1

O Superior Tribunal de Justiça, a seu turno, entendia que o crime em análise


é de perigo abstrato e presumido, ou seja, não exigia lesão ou dano, contentando-se com a
mera potencialidade lesiva. Assim, não haveria necessidade de se comprovar se o produto é
ou não impróprio para consumo via exame pericial. 2 No entanto, recentemente, modificou
o posicionamento passando a reconhecer a perícia para a comprovação da impropriedade
da mercadoria, conforme julgados abaixo:

“PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO


ESPECIAL. CRIME CONTRA RELAÇÕES DE CONSUMO. ART. 7o, XI
DA LEI 8.137/90. NECESSIDADE DE PERÍCIA PARA
COMPROVAÇÃO DA IMPROPRIEDADE DA MERCADORIA PARA O
CONSUMO. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Esta Corte modificou seu
entendimento e alinhou-se à tese de que, para a demonstração da
impropriedade de mercadoria para consumo, é imprescindível
perícia que ateste essa condição. 2. Agravo Regimental
desprovido. (AgRg no REsp 1098681/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 24/08/2010,
DJe 06/09/2010)”

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


ESPECIAL. CONTRARIEDADE AO ART. 7º, IX, DA LEI 8.137/90.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO OCORRÊNCIA.
MERCADORIA IMPRÓPRIA PARA CONSUMO. PERÍCIA.
NECESSIDADE. ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Esta Corte
Superior de Justiça assentou o entendimento no sentido de que,
para tipificar o delito insculpido no artigo 7º, inciso IX, da Lei
8.137/90, é imprescindível a demonstração da impropriedade da
mercadoria para consumo, por meio de perícia que ateste essa

1
Apelação Crime Nº 70023145402, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José
Eugênio Tedesco, Julgado em 03/04/2008
2
HC 34422/BA, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 22.05.2007, DJ 10.12.2007 p. 442
condição. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg
no REsp 1101147/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 18/10/2011, DJe 17/11/2011)

A matéria chegou ao STF, tendo a Primeira Turma decidido que, para


comprovar a existência de crimes contra as relações de consumo, seria necessária a
realização de perícia. Por unanimidade, os ministros concordaram que o ato de colocar à
venda mercadoria imprópria para o consumo é crime formal, mas para que o delito se
caracterize é preciso a demonstração de que o produto está realmente impróprio para
consumo

EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE


CONSUMO. FABRICAÇÃO E DEPÓSITO DE PRODUTO EM
CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS PARA O CONSUMO. INCISO IX DO ART.
7º DA LEI 8.137/90, COMBINADO COM O INCISO II DO § 6º DO
ART. 18 DA LEI Nº 8.078/90. CONFIGURAÇÃO DO DELITO. CRIME
FORMAL. PRESCINDIBILIDADE DA COMPROVAÇÃO DA EFETIVA
NOCIVIDADE DO PRODUTO. REAJUSTAMENTO DE VOTO.
NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DA
IMPROPRIEDADE DO PRODUTO PARA USO. INDEPENDÊNCIA DAS
INSTÂNCIAS PENAL E ADMINISTRATIVA. ÔNUS DA PROVA DO
TITULAR DA AÇÃO PENAL. ORDEM CONCEDIDA. 1. Agentes que
fabricam e mantém em depósito, para venda, produtos em
desconformidade com as normas regulamentares de fabricação e
distribuição. Imputação do crime do inciso IX do art. 7º da Lei nº
8.137/90. Norma penal em branco, a ter seu conteúdo preenchido
pela norma do inciso II do § 6º do art. 18 da Lei nº 8.078/90. 2.
São impróprios para consumo os produtos fabricados em
desacordo com as normas regulamentares de fabricação,
distribuição ou apresentação. A criminalização da conduta,
todavia, está a exigir do titular da ação penal a
comprovação da impropriedade do produto para uso. Pelo
que imprescindível, no caso, a realização de exame pericial
para aferir a nocividade dos produtos apreendidos. 3.
Ordem concedida
(HC 90779, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma,
julgado em 17/06/2008, DJe-202 DIVULG 23-10-2008 PUBLIC 24-
10-2008 EMENT VOL-02338-02 PP-00244)

Portanto, conforme entendimento atualmente pacificado no jurisprudência, é


necessária a realização de perícia para comprovação da impropriedade da mercadoria ao
consumo.

Permanecemos à disposição.

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