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AO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL E DE EXECUÇÕES PENAIS

DA CAOMARCA DE ARAGUARI – MG

Autos nº 0003291-60.2023.8.13.0035

WILLAMS DOS SANTOS CORREIA JUNIOR, já qualificado nos autos do


processo em epígrafe, por seus advogados que abaixo subscrevem, nos autos do
processo que lhe move o Ministério Público, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência apresentar

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

com supedâneo nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal quanto à
pretensão condenatória ostentada em seu desfavor, contra argumentando-a para, ao
final, requerer sua absolvição sumária, com fundamento nas razões de fato e de direito a
seguir delineadas.

I – DA BREVE EXPOSIÇÃO FÁTICA

1. Ab initio, trata-se de ação penal movida em desfavor do Sr. Willams


Junior por ter supostamente praticado a conduta descrita nos artigos 50 e 52 da Lei de
Contravenções Penais c/c Art. 288, caput do Código Penal.
2. Segundo narra a exordial acusatória, o Defendente Willams Junior e
Willams (seu genitor), juntamente com Gustavo de Melo e Camila Cristina, estariam
associando-se para praticar supostos delitos de exposição, divulgação e venda de rifas
no formato digital.
3. Em momento oportuno durante o oferecimento da denúncia, o parquet
representou por medidas assecuratórias/cautelares em desfavor do Defendente, sendo:
a. Quebra do sigilo bancário e fiscal;

b. Bloqueio e desativação de perfis das redes sociais com proibição de


criação de novas contas;

c. Bloqueio de contas bancárias.


4. Posteriormente, o Nobre Juízo da 2ª Vara Criminal e de Execuções
Penais da Comarca de Araguari recebeu a denúncia ministerial de forma parcial em
decisão devidamente fundamentada no Processo n.º 0003291-60.2023.8.13.0035,
rejeitando a denúncia em relação ao delito do Art. 288 do Código Penal,
prevalecendo a denúncia em relação aos artigos 50 e 52 da Lei de Contravenções
Penais, em desfavor do Defendente.
5. Ainda, em notório e brilhante entendimento jurídico, a Douta
Magistrada indeferiu os desmedidos pedidos cautelares manifestados pelo Ministério
Público.
6. Após devida citação processual deprecada para o Juízo de Direito da 6ª
Vara Criminal de Maceió-AL, restou oportuno momento para Resposta à Acusação,
ao qual em análise pormenorizada das imputações e eventuais supostas condutas,
constatará o Nobre Juízo que merece prosperar todas as alegações jurídicas que
ensejam na devida absolvição sumária do Defendente . É o que se passa a expor.

É a síntese dos fatos até o momento.

II.I – DA PRELIMINAR:

REJEIÇÃO RETROATIVA DA DENÚNCIA COM BASE NO ART. 395, INCISO


I DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – INÉPCIA ACUSATÓRIA

7. Ao analisarmos minuciosamente a exordial acusatória, verifica-se


manifesta inépcia tendo em vista que NÃO HÁ QUANTIFICAÇÃO DO SUPOSTO
PREJUÍZO que o Defendente teria causado ao erário.
8. É cediço que a denúncia ministerial, nos termos do art. 41 do Código de
Processo Penal deverá detalhar a exposição do fato criminoso. Entretanto, na denúncia
realizada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais carece de informações
essenciais para que se respeite o direito à ampla defesa e ao contraditório. Passamos
aos seguintes questionamentos:
1. Qual seria o valor de suposto prejuízo causado pelos
supostos delitos?
2. Quantos sorteios foram realizados pelo Sr. Willams?
3. Quando os sorteios ocorreram?
4. De quantos supostos sorteios o Sr. Willams participou?
9. Dessa forma, verifica-se que a inépcia acusatória viola frontalmente
informações essenciais para o deslinde do caso. Outra violação patente é sobre qual
seria o marco inicial para prescrição, já que não há data específica do fato.
10. Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça ao decidir
nos seguintes termos:

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL EM


HABEAS CORPUS. VIOLAÇÃO DE SIGILO
FUNCIONAL, NA FORMA QUALIFICADA.
TRANCAMENTO DO PROCESSO-CRIME.
CONTRADIÇÃO NA DENÚNCIA QUE IMPEDE O
DEVIDO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA.
INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA. RECURSO
PROVIDO.
1. "Ocorre a inépcia da denúncia quando sua
deficiência resultar em prejuízo ao exercício da
ampla defesa do acusado , ante a ausência de descrição
da conduta criminosa , da imputação de fatos
determinados, ou quando da exposição circunstancial
não resultar logicamente a conclusão" (STJ, APn
XXXXX/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
CORTE ESPECIAL, julgado em 16/02/2022, DJe
22/02/2022; sem grifos no original).
2. Espécie na qual o Ministério Público Estadual atribui
ao Réu, na denúncia, a suposta prática de apenas um ato,
que não ocorreu na oportunidade narrada na peça, e está
dissociado da imputação formulada pelo Parquet. A
documentação dos autos esclarece inequivocamente, sem
a necessidade de detida valoração das provas, que o fato
ocorrido em 08/05/2013, aproximadamente às 19h25min,
diz respeito tão somente ao horário de conversa
telefônica entre terceiros (ou seja, em que o Recorrente
não era nenhum dos interlocutores), na qual está ausente
a descrição mínima de conduta perpetrada pelo Agente
que corresponda ao crime previsto no art. 325, § 2.º, do
Código Penal.
3. "Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na
sua devida conformação, não se coadunam com os
postulados básicos do Estado de Direito" (STF, HC
159.697, Rel. Ministro GILMAR MENDES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 15/05/2020, DJe 09/11/2020).
4. Revela-se inepta a denúncia que "narra fatos cuja
constatação no tempo e no espaço demonstra, desde
logo, a incompatibilidade de sua ocorrência (ou de um
deles)" (in: PACELLI, Eugênio e FISCHER, Douglas.
Código de Processo Penal e sua jurisprudência; 11.ª ed.,
São Paulo: Atlas, 2019, p. 99).
5. Hipótese de manifesta deficiência da peça
acusatória, na qual a narrativa é incompleta e não há
devida subsunção dos fatos, o que impede a adequada
fruição das garantias constitucionais fundamentais do
contraditório e da ampla defesa . Inocorrência de mero
erro material, mas de vício que macula a exordial do
Ministério Público Estadual.
6. Recurso provido para trancar o Processo-crime n.
XXXXX-54.2013.8.12.0011 em razão da inépcia da
denúncia, sem prejuízo, todavia, do ocasional
oferecimento de nova peça acusatória que observe
integralmente os requisitos do art. 41 do Código de
Processo Penal.

11. Então, preliminarmente, se faz necessário a rejeição retroativa da


denúncia, com base no art. 395, inciso I do Código de Processo Penal , tendo em
vista a inépcia acusatória em razão da carência de informações, que ensejam em
violação frontal de direitos e garantias fundamentais esculpidas na Constituição
Federal.

II.II – DA PRELIMINAR:
REJEIÇÃO RETROATIVA DA DENÚNCIA COM BASE NO ART. 395, INCISO
II DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

12. Pois bem. Ao constatar a exordial acusatória, se faz necessário destacar


que o pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal é exigência
legal para o recebimento da denúncia, instauração e processamento da ação penal, nos
termos do artigo 395, do Código de Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória
de quatro condições essenciais:
1. Prática de fato aparentemente criminoso – Fumus Comissi
Delicti;
2. Punibilidade concreta;
3. Legitimidade de parte;
4. Justa causa.
13. Nessa vertente, para tratarmos do item (1), é cediço que a Doutrina
Brasileira compreende o delito através da teoria tripartida, que, de acordo com a teoria
adotada, o crime é composto por três elementos: fato típico, antijurídico e culpável.
Vejamos cada um deles:

Fato típico: É a conduta humana descrita na lei como


crime. O fato típico é composto por cinco elementos: ação
ou omissão voluntária, resultado, nexo causal, tipicidade
formal e tipicidade material. A ação ou omissão
voluntária refere-se à conduta do agente, que deve ser
realizada de forma consciente e voluntária. O resultado é
o efeito produzido pela conduta do agente. O nexo causal
estabelece a relação de causalidade entre a conduta e o
resultado. A tipicidade formal refere-se à adequação da
conduta descrita na lei penal. Já a tipicidade material diz
respeito à lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
protegido pela norma.

Antijuridicidade: É a contrariedade da conduta do agente


ao ordenamento jurídico. A antijuridicidade é aferida pela
análise da compatibilidade da conduta com o sistema de
normas vigentes. A presença do fato típico já estabelece a
antijuridicidade presumida, mas há situações em que a lei
permite a exclusão da antijuridicidade, como nas
hipóteses de legítima defesa e estado de necessidade.

Culpabilidade: É a capacidade de imputação do crime ao


agente, ou seja, a sua responsabilidade pelo fato típico e
antijurídico. A culpabilidade pressupõe que o agente
tenha agido de forma dolosa ou culposa, possua
imputabilidade penal, tenha consciência da ilicitude de
sua conduta e não esteja amparado por qualquer causa de
exclusão da culpabilidade.

14. No presente caso, a necessidade patente da rejeição retroativa da


denúncia baseia-se na visível excludente de culpabilidade – erro de proibição –
presente no artigo 21 do Código Penal, que estabelece:

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro


sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena;
se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente
atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato,
quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir
essa consciência.

15. No sistema penal brasileiro, o erro de proibição pode ser considerado


uma causa de exclusão da culpabilidade, conforme previsto no artigo 21 do Código
Penal. Esse dispositivo estabelece que o agente que, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima,
não responde pelo crime.
16. De acordo com as imputações realizadas da denúncia ministerial, o
Sr.Willams Junior estaria realizando sorteios sem autorização do Ministério da
Economia. Contudo, ocorre que no atual cenário do nosso País, a realização de sorteios
sempre foi realizada por centenas de empresas e atualmente por milhares de
influencers digitais, sendo divulgado amplamente por canais de televisões e mídias
sociais de fácil acesso. No entanto, a necessidade de autorização do Ministério da
Economia para realização de sorteios nunca foi divulgada por canais de mídias,
televisões, jornais, rede sociais. Dessa forma, sendo totalmente desconhecido pelo Sr.
Willams Junior, a NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO para realização de
sorteios e promoções comerciais.
17. Nesse contexto, vale-se observar que o Defendente não possuiu o dolo de
agir em desconformidade com a legislação. Em sentido oposto, acreditava estar
agindo de forma lícita, ante uma sociedade que entende a prática da realização dos
sorteios como ato comum e praticado por grandes empresas e influencers digitais.
18. Em suma, o desconhecimento da necessidade de autorização se sustenta
no caso em tela, pois o agente (Sr. Willams Junior) desconhecia a exigência de
autorização do Ministério da Economia para a realização de rifas. Nesse caso, o
argumento se baseia na falta de conhecimento da legislação específica que regula a
prática das rifas e a exigência de autorização governamental. O erro de proibição ocorre
quando o agente, por falta de conhecimento, acredita erroneamente que a atividade é
permitida sem a necessidade de autorização, que é o que se verifica no presente
caso.
19. Considerando os elementos do erro de proibição, para que seja
reconhecido como causa de exclusão da culpabilidade, é necessário que estejam
presentes os seguintes elementos:
1. Erro plenamente justificado pelas circunstâncias, ou seja,
o agente deve ter uma justificativa razoável para acreditar
que sua conduta era lícita (PRÁTICA ADOTADA
PELA SOCIEDADE, GRANDES EMPRESAS E
CENTENAS DE INFLUENCERS DIGITAIS POR
TODO BRASIL);
2. Suposição de situação de fato que, se existisse, tornaria a
ação legítima, ou seja, o agente deve acreditar, de forma
equivocada, que sua conduta é permitida ou não viola a
lei.
20. Dessa forma, é manifesta o amparo do Defendente na causa excludente
de culpabilidade, nos termos do art. 21 do Código Penal em razão do evidente erro de
proibição, por acreditar que estava agindo em conformidade com nossa lei penal,
ensejando na devida rejeição retroativa da denúncia, nos termos do Art. 395, inciso II
do Código de Processo Penal, ante a ausência de condição para o exercício da ação
penal, qual seja, a prática de um fato aparentemente criminoso quando evidenciada a
transparente exclusão de culpabilidade.

III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

III.I - PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL – CONDUTA SOCIALMENTE


ACEITA – AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL

21. Meritoriamente, o princípio da adequação social é um dos princípios


norteadores do Direito Penal. Ele se baseia na ideia de que determinadas condutas,
embora formalmente típicas e antijurídicas, são socialmente toleradas e aceitas, não
devendo ser consideradas criminosas. O princípio da adequação social busca evitar
a criminalização de comportamentos que são considerados socialmente adequados e
não causam um dano significativo à sociedade.
22. Dessa forma, esse princípio está relacionado à noção de que o Direito
Penal deve se preocupar em punir condutas que realmente causem lesões ou
ameaças graves aos bens jurídicos protegidos . Assim, mesmo que uma conduta se
enquadre formalmente na descrição típica e seja contrária à lei, ela pode ser
considerada socialmente adequada e, portanto, não deve ser criminalizada. Como
exemplo clássico, temos a mãe que fura a orelha do bebê recém-nascido para colocar
brinco. Em tese, teríamos o crime de lesão corporal. No entanto, trata-se de conduta
socialmente aceita, deixando o direito Penal de se insurgir como solução.
23. No sistema jurídico brasileiro, o princípio da adequação social não está
expressamente previsto no Código Penal, mas é reconhecido pela doutrina e
jurisprudência como um dos princípios que permeiam o Direito Penal. Sua aplicação
contribui para a racionalização e humanização do sistema penal, evitando a
criminalização de comportamentos que não representam uma ameaça significativa
aos valores fundamentais da sociedade.
24. Para tanto, colaciona-se recente entendimento do TJRS, que aplicou o
princípio da adequação social:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA A


DIGNIDADE SEXUAL. DENÚNCIA CONTRA A RÉ
PELA PRÁTICA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE
MENORES, E MANUTENÇÃO DE CASA
DE PROSTITUIÇÃO. Em relação a condenação de
favorecimento da prostituição ou de outra forma de
exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável, nos termos do art. 218-B, §2º, inciso II, e
§3º, do CP, impõe-se a declaração de extinção da
punibilidade, face à prescrição da pretensão punitiva do
Estado pela pena em concreto, com fundamento no
artigo 107, inciso IV, 109, inciso IV e 115, todos do
Código Penal, restando prejudicada a análise do apelo
defensivo. Quanto a acusação de manutenção de casa
de prostituição, a sentença absolutória, nos termos do
art. 386, inc. III, do CP, vai mantida, pois aplicável ao
caso concreto, o Princípio da adequação social, tendo
em vista que tal conduta vem sendo tolerada pela
sociedade. Atipicidade material. Caso em que não há
evidências de que a vítima estivesse exercendo atividade
sexual no local, nem que as pessoas que lá estavam eram
obrigadas a prática de prostituição ou tinham seus
rendimentos retidos pelo proprietário ou gerente.
Proprietário ou gerente do local que sequer foi
comprovado de forma satisfatória nos autos. APELO DA
DEFESA PREJUDICADO, FACE AO
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO E APELO
MINISTERIAL DESPROVIDO. (Apelação Criminal, Nº
70082598574, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Glaucia Dipp Dreher, Julgado
em: 17-10-2019) 1

25. Nesse deslinde, trata-se assim, de causa supralegal de exclusão da


tipicidade material, visto que a conduta, apesar de formalmente típica, não é
abrangida pelo tipo penal por ser considerada socialmente adequada.
26. No mesmo contexto meritório, a conduta de realização de sorteios e
promoções comerciais é socialmente aceita e bastante praticada há vários anos na
sociedade. Outro contexto que faz jus a ponderação da adequação social, é o
emergente cenário digital de influencers que realizam sorteios e promoções comerciais
atualmente, através de redes sociais. Cita-se alguns perfis sociais aceitos pela
sociedade que realizam as devidas promoções comerciais:

Rede Social: Instagram.

Perfil:@carlinhosmaia -
https://www.instagram.com/carlinhos/

Perfil:@rafaelcunha -
https://www.instagram.com/rafaelcunha/?hl=pt-br

Perfil: @reycosta

1
https://canalcienciascriminais.com.br/entenda-o-que-e-o-principio-da-adequacao-social/
https://www.instagram.com/reycosta/?hl=pt-br

27. Não é outro o entendimento da 2ª Turma do Superior Tribunal de


Justiça, no HC 109.363/MG:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO DA


LEGALIDADE PENAL. TIPICIDADE PENAL.
JUSTIÇA MATERIAL. PONDERABILIDADE NO
JUÍZO DE ADEQUAÇÃO TÍPICA DE CONDUTAS
FORMALMENTE CRIMINOSAS, PORÉM
MATERIALMENTE INSIGNIFICANTES.
SIGNIFICÂNCIA PENAL. CONCEITO
CONSTITUCIONAL. DIRETRIZES DE
APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA PENAL. ORDEM CONCEDIDA.2

28. Nesse contexto, o que deve prosperar no presente caso é a devida


absolvição sumária do Defendente, nos termos do Art. 397, inciso III do Código de
Processo Penal, em razão da ausência da tipicidade material.

III.II- PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA (DECRETO-LEI N.º 204/67)


– AUSÊNCIA DE LESIVIDADE EM RELAÇÃO AO BEM JURÍDICO
TUTELADO

29. O princípio da intervenção mínima é um dos pilares fundamentais do


Direito Penal. Ele estabelece que o Direito Penal deve ser aplicado apenas em última
instância, ou seja, somente quando os outros ramos do ordenamento jurídico não
forem capazes de solucionar o conflito de maneira adequada. A intervenção penal
deve ser restrita aos casos de maior gravidade, nos quais a lesão ou ameaça aos bens
jurídicos seja significativa.
30. No presente caso, o Direito Penal deve ser a última esfera, devendo o
Estado respeitar a esfera íntima do cidadão. Ainda, verifica-se que a União, através
2
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=2218104
da Receita Federal, disponibiliza que a sociedade, mediante constituição de empresa
jurídica com cadastro de CNPJ, explore a atividade de sorteios e jogos de azar, através
do CNAE 9200-33, 4conforme verifica-se:

31. Em outras palavras, não é todo bem jurídico protegido que merece a
proteção do Direito Penal. Há outros ramos do direito para isso. Portanto, existem
situações como essa do caso em tela que, em que pese ofensivas a determinados bens,
mas inofensivas em matéria penal.
32. O próprio legislador firmou o entendimento de que o Direito Penal deve
ser a exceção nos casos de exploração de loteria, através do Decreto-Lei N.º 204/64
que estabelece:

“CONSIDERANDO que a exploração de loteria


constitui uma exceção às normas de direito penal , só
sendo admitida com o sentido de redistribuir os seus
lucros com finalidade social em termos nacionais;” 6

33. Em que pese a Lei das Contravenções Penais elencar em seu artigo 50 o
jogo de azar como aquele “em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou
principalmente da sorte”, há jogos legalizados e regulamentados pelo Estado que
também possuem esta característica, como as loterias da Caixa Econômica
3
https://concla.ibge.gov.br/busca-online-cnae.html?classe=92003&tipo=cnae&versao=9&view=classe
4
https://www.contabilizei.com.br/contabilidade-online/o-que-e-cnae/#:~:text=Contabilizei%20te
%20ajuda-,O%20que%20%C3%A9%20CNAE%3F,econ%C3%B4micas%20exercidas%20por%20uma
%20empresa.
5
https://concla.ibge.gov.br/busca-online-cnae.html?classe=92003&tipo=cnae&versao=9&view=classe
6
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1965-1988/Del0204.htm
Federal. Interessante observar as justificativas para a autorização da veiculação de
determinados jogos que envolvem apostas, enquanto outros são criminalizados.
34. Logo, tratando-se de matéria não penal, não há o que se aplicar na
ultima ratio¸sendo suficiente outros ramos do Direito aplicáveis ao caso concreto.
Nesse contexto, resta afastada a tipicidade material, em razão da não ofensividade,
não lesividade a qualquer bem jurídico relevante, podendo ser sanado o desfecho
meritório por esferas administrativas como a criação de Pessoa Jurídica devidamente
inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, com o enquadramento no regime
tributário do Simples Nacional, conforme possibilita a União.
35. Por fim, é mais um dos contextos jurídicos que merecem a devida
atenção do Douto Magistrado, para ensejar na absolvição sumária em razão da
atipicidade material, nos termos do art. 397, inciso III do Código de Processo Penal.

III.III- VEDAÇÃO AO PRINCÍPIO NON BIS IN IDEM – ANALOGIA IN


MALAM PARTEM

36. Dessarte, ainda se constata na presente denúncia ministerial, imputações


supostamente delituosas de uma única conduta fática. Segundo o Representante do
Ministério Público, o Sr. Willams Junior estaria praticando:

Art. 50 - da Lei de Contravenções Penais: Estabelecer ou


explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao
público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele;

Art. 52 da Lei de Contravenções Penais: Introduzir, no


país, para o fim de comércio, bilhete de loteria, rifa ou
tômbola estrangeiras:

37. Contudo, na narrativa fática da denúncia, constata-se (fls.11):


38. A narrativa ministerial aponta que supostamente, Willams Junior estaria
expondo à venda, rifas no formato digital , mediante uso de rede social “instagram”.
No entanto, ao detalharmos o tipo previsto no Art. 50 da LCP, verifica-se que o Artigo
é claro e não permite interpretação extensiva sob pena de violação à analogia in
malam partem, vejamos:

“Estabelecer, ou explorar jogo de azar em lugar público


ou acessível ao público, mediante o pagamento de
entrada ou sem ele”
§4º - Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar
acessível ao público:
a) a casa particular em que se realizam jogos de azar,
quando deles habitualmente participam pessoas que
não sejam da família de quem a ocupa;
b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos
hóspedes e moradores se proporciona jogo de azar;
c) a sede ou dependência de sociedade ou associação,
em que se realiza jogo de azar;
d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de
azar, ainda que se dissimule esse destino.
39. Desse modo, é plenamente visível que o tipo penal se refere regular
exclusivamente atividades exploradas em estabelecimentos físicos, não havendo
regulamentação para meios digitais, não sendo permitido analogia extensiva.
40. Nesse sentido, ao compulsarmos a descrição da suposta conduta do
Defendente, é nítido que para UM mesmo fato, está sendo imputado DOIS tipos
incriminadores, ensejando em violação ao princípio bis in idem.

IV – DOS REQUERIMENTOS
Diante todo o acima exposto, requer:

a) Em respeito ao artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal, bem como ao art.


395, inciso I do Código de Processo Penal, seja REJEITADA
RETROATIVAMENTE A DENÚNCIA, em razão da inépcia apontada no
parágrafo de n.º 8;

b) Seja REJEITADA RETROATIVAMENTE A DENÚNCIA, em razão da


ausência de condição para o exercício da ação penal, nos termos do Art. 395,
inciso II do Código de Processo Penal em razão da excludente de
culpabilidade prevista no Art. 21 do Código de Processo Penal, restando
desconstituído o fato típico;

c) Em respeito ao princípio da correlação, que seja REJEITADA


RETROATIVAMENTE A DENÚNCIA em relação ao tipo penal imputado no
art. 50 da Lei de Contravenções Penais, em razão da vedação da analogia in
malam partem, (conforme o parágrafo de n.º 31 em diante), bem como a
violação ao princípio bis in idem, esculpidos na Constituição Federal de 1988;

d) Em respeito ao princípio da eventualidade e da correlação, que seja


ABSOLVIDO SUMARIAMENTE, nos termos do Art. 397, inciso III do
Código de Processo Penal, em respeito ao princípio da adequação social e da
intervenção mínima do Estado, restando excluída a tipicidade material do
fato típico incriminador;

e) Em respeito ao Processo Penal Constitucional, que qualquer decisão deste juízo


observe o que estabelece o Art. 93, inciso IX da Constituição Federal c/c Art.
315, §2º do Código de Processo Penal;
f) A devida habilitação dos advogados estabelecidos na procuração em anexo, para
que sejam todos intimados de todos os atos processuais, nos termos do Art. 272
do Código de Processo Cível, sob pena de nulidade;

g) Por fim, na remota hipótese de ser necessária a fase de instrução processual,


requer a produção de todos os meios de provas em direito admitidos, bem como
a intimação das testemunhas qualificadas no anexo rol, em caráter de
imprescindibilidade.

Termos em que,

pede deferimento.

Maceió – AL, 03 de agosto de 2023.

DOUGLAS BASTOS THYAGO SAMPAIO


OAB/AL 8.012 OAB/AL 7.488
RODRIGO MONTEIRO
OAB/AL 9.580

ROL DE TESTEMUNHAS:

a) IURY CARDOSO VARGES, solteiro, nascido em 31/12/1994, inscrito no CPF


sob o n.º 162.583.357-13 e RG sob o n.º 4.340.205 ES, residente e domiciliado
na Rua Gruta Poço Azul, n.º 473, Bloco 106, Residencial Vale Verde 1,
Telefone: 27 99517-1998;

b) ATHILLA JONAS DOS SANTOS OLIVEIRA, casado, contador, nascido em


20/11/1995, inscrito no CPF sob o n.º 103.095.064-41 e RG sob o n.º 34895698
SSP AL, residente e domiciliado na Rua Marquês do Herval, n.º 23, Apt. 907,
Edf. Mirante Clube Estratégia, Farol, Telefone: 82 99638-2275.

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