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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 41ª VARA

CRIMINAL DA CIDADE DE PETROLINA


 
 
 
 
 
 
Ação Penal Pública
Proc. nº.  7890.88.1234.5.06.5678
Autor: Ministério Público Estadual
Ré: Rita das Quantas
 

                                    
                              RITA DAS QUANTAS, já devidamente qualificado nos autos
da presente ação penal, vem, com o devido respeito à presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seu patrono que ora assina, alicerçado no art.
593, inc. I, da Legislação Adjetiva Penal, interpor, tempestivamente (CPP, art.
593, caput), o presente 

RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL 

em razão da r. sentença que demora às fls. 78/87 do processo em espécie, a


qual condenou a Apelante à pena de quatro (4) anos de reclusão e 80 (oitenta)
dias-multa, como incurso no art. 155, caput c/c art. 14, inc. II, do Estatuto
Repressivo, onde, por tais motivos, apresenta as Razões do recurso ora
acostadas.

Dessa sorte, com a oitiva do Ministério Público Estadual, requer-se que


Vossa Excelência conheça e admita este recurso, com a consequente remessa
do mesmo ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado. 
 
Respeitosamente, pede deferimento.
 
Petrolina, 24 de outubro de 2012.

 
CÍCERO FERREIRA DE SOUZA
Advogado OAB/PE XX.XXX
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

 
Apelante: RITA DAS QUANTAS
Apelado: Ministério Público Estadual
 

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO 


COLENDA TURMA JULGADORA
PRECLAROS DESEMBARGADORES
 

1 – SÍNTESE DO PROCESSADO
 
Segundo o relato fático contido na peça acusatória, no dia 10 de
novembro do ano de 2011 (quinta-feira), a Apelante subtraiu para si cinco tintas
de cabelo de uma grande rede de farmácias.

A peça acusatória também destacou que a Recorrente arrebentou a


fechadura do armário onde estavam os referidos produtos, conforme imagens
gravadas pelas câmeras de segurança do estabelecimento.
                                     
Perfazendo o valor total dos itens furtados a quantia de R$ 49,95
(quarenta e nove reais e noventa e cinco centavos), consoante laudo que
dormita à fl. 17.

Assim procedendo, dizia a denúncia, a Apelante violou norma prevista


no Código Penal (CP, art. 155, § 4º, inciso I do CP), praticando o crime de
(furto qualificado pelo rompimento de obstáculo).

Recebida a peça acusatória por este D. juízo, foram ouvidas as


testemunhas de acusação, bem como da defesa, assim como procedido o
interrogatório da Apelante.

Alheio ao conjunto de provas favoráveis à Apelante, às teses defensivas


e preliminares arguidas, o magistrado condutor do processo acolheu o pedido
formulado pela acusação e, nesse azo, condenou a Apelante à pena de 4
(quatro) anos de PPL, impondo, mais, 80 (oitenta) dias-multa.

Certamente a decisão em liça merece reparos, maiormente quando,


nesta ocasião, o operoso magistrado não agiu com o costumeiro acerto.
 
2 – PRELIMINAR AO MÉRITO
 
Preliminarmente, declarar nula a sentença proferida pelo juízo a quo, tendo em
vista que não apreciou a tese defensiva de desclassificação de Furto
qualificado para fato delituoso atípico por não haver a tipicidade material

É inescusável que houve um error in judicando. O Juiz, condutor do feito.


É caso de se reconhecer a desclassificação do delito de Furto qualificado para
fato delituoso atípico, como concorda a jurisprudência - Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro TJ-RJ - APELAÇÃO: APL XXXXX-43.2013.8.19.0038 RJ
XXXXX-43.2013.8.19.0038

                                         Nesse diapasão:

 STM - Apelação APL XXXXX20177000000 (STM)

EMENTA: APELAÇÃO. DEFESA. PRELIMINAR DE NULIDADE POR


CERCEAMENTO DE DEFESA. TENTATIVA DE FURTO DE COLETE SEM AS
PLACAS BALÍSTICAS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ATIPICIDADE DA
CONDUTA. 1. Se as diligências requeridas pela Defesa na fase do art. 427 do
CPPM têm por finalidade averiguar se o bem objeto do delito era inútil,
ultrapassado e/ou destinado ao descarte, e se, ao indeferi-las, o Magistrado
atestou a inutilidade do referido bem, tem-se que tal Decisão foi, na verdade,
favorável aos Acusados, não implicando cerceamento de defesa. 2. Uma vez
que os Acusados, a fim de obterem um souvenir, tentaram subtrair da OM um
colete desprovido das respectivas placas balísticas e, portanto, sem qualquer
utilidade prática ou valor econômico, resta configurada a presença dos
requisitos necessários à aplicação do Princípio da Insignificância, tornando
imperativo o reconhecimento da atipicidade do fato. Preliminar de nulidade
rejeitada. Decisão unânime. Recurso conhecido e provido. Decisão por maioria.

STJ - HABEAS CORPUS HC XXXXX RJ XXXX/XXXXX-2 (STJ)


HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES. RES FURTIVA: GÊNEROS
ALIMENTÍCIOS AVALIADOS EM R$ 58,00. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. PARECER DO MPF
PELA CONCESSÃO DA ORDEM. ORDEM CONCEDIDA PARA, APLICANDO
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, RESTABELECER A DECISÃO DE 1o.
GRAU REJEITOU A DENÚNCIA. 1. O princípio da insignificância, que está
diretamente ligado aos postulados da fragmentariedade e intervenção mínima
do Estado em matéria penal, tem sido acolhido pelo magistério doutrinário e
jurisprudencial tanto desta Corte, quanto do colendo Supremo Tribunal Federal,
como causa supra-legal de exclusão de tipicidade. Vale dizer, uma conduta que
se subsuma perfeitamente ao modelo abstrato previsto na legislação penal
pode vir a ser considerada atípica por força deste postulado. 2. Verificada a
excludente de aplicação da pena, por motivo de política criminal, é
imprescindível que a sua aplicação se dê deforma prudente e criteriosa, razão
pela qual é necessária a presença de certos elementos, tais como (a) a mínima
ofensividade da condutado agente; (b) a ausência total de periculosidade social
da ação;(c) o ínfimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a
inexpressividade da lesão jurídica ocasionada, consoante já assentado pelo
colendo Pretório Excelso ( HC XXXXX/SP , Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU
19.04.2004). 3. Tem-se que o valor do bem furtado pelo paciente, além de ser
ínfimo, não afetou de forma expressiva o patrimônio da vítima, razão pela qual
incide na espécie o princípio da insignificância, reconhecendo-se a inexistência
do crime de furto pela exclusão da tipicidade material. 4. Ordem concedida, em
conformidade com o parecer ministerial, para, aplicando o princípio da
insignificância, restabelecer a sentença de 1º grau que rejeitou a denúncia.

Dessarte, o ato processual em liça se encontra maculado pela pecha de


nulidade por cerceamento de defesa, por não apreciar as teses defensivas
devendo o mesmo ser renovado.
 

3 - NO MÉRITO

 
3.1. Crime de Bagatela. Fato atípico
CPP, art. 386, inc. III
 
De outro bordo, a tese de aplicação não fora acolhida pelo Magistrado,
sob o entendimento que o valor da coisa furtada era de pequeno valor, todavia
tendo a mais completa significância à luz do Direito Penal. Não era o caso, a
delimitação enfrentada na sentença guerreada, o caso de crime de bagatela.

Colhe-se dos autos que a res furtiva fora avaliada em R$ 49.95


(quarenta e nove reais e noventa e cinco centavos) (fl. 17). Ademais, o produto
do pretenso furto pertence a uma grande rede de farmácias nesta Capital,
possuindo inclusive várias filiais, fato este notório e inclusive delimitado pelas
testemunhas.

A coisa tem valor insignificante, não representando sequer 10% (vinte


por cento) do salário mínimo à época dos fatos. (10/11/2011).

De outra banda, demonstrou-se que a Apelante não é voltada à prática


de delitos. Inexiste, contra a mesma, condenações pretéritas, o que se
comprovou com as certidões antes acostadas. (fls. 27/33)

As circunstâncias descritas certamente remetem à aplicação do princípio


da insignificância.
É consabido que o princípio da insignificância tem franca aceitação e
reconhecimento na doutrina e pelos Tribunais. Funcionando como causa de
exclusão da tipicidade, representa instrumento legal decorrente da ênfase
apropriada dos princípios da lesividade, fragmentariedade e intervenção
mínima.

Oportuno destacar que ao Judiciário cabe somente ser acionado para


solucionar conflitos que afetem de forma substancial os bens jurídicos
protegidos pelas normas incriminadoras. A propósito vejamos as lições
doutrinárias de Cezar Roberto Bitencourt acerca desse tema, in verbis: 
 
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos
protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é
suficiente para configurar o injusto típico. Segundo esse princípio, que Klaus
Tiedemann chamou de princípio de bagatela, é imperativa uma efetiva
proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a
drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas que se amoldam ao
determinado tipo penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma
relevância material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a
tipicidade penal porque em verdade o bem jurídico não chegou a ser lesado.
[ ... ]
 
Consoante as linhas doutrinárias mencionadas, para que seja conferida
a atipicidade da conduta delituosa, faz-se mister, além da análise abstrata
dessa, o exame das circunstâncias que denotem a inexistência de lesão
relevante ao bem jurídico tutelado.

Doutrina e jurisprudência são firmes em assentar que a aplicação


do princípio da significância reclama aferir-se (a) mínima ofensividade da
conduta sub examine; (b) inexistência de periculosidade social no
comportamento; (c) reduzido grau de censura do proceder do agente e; (d)
insignificância da lesão jurídica produzida.

Nesse exato tocante vejamos o que professa o penalista Rogério Greco:


 
Ao contrário, entendendo o julgador que o bem subtraído não goza da
importância exigida pelo Direito Penal em virtude da sua insignificância, deverá
absolver o agente, fundamento na ausência de tipicidade material, que é o
critério por meio do qual o Direito Penal avalia a importância do bem no caso
concreto. [ ... ]
 
Com a mesma sorte de entendimento vejamos as considerações
de Guilherme de Souza Nucci:
 
O Direito Penal não se ocupa de insignificâncias (aquilo que a própria
sociedade concebe ser de menor importância), deixando de se considerar fato
típico a subtração de pequeninas coisas de valor nitidamente irrelevante. [ ... ]
 
À luz das considerações doutrinárias destacadas, a Apelante fazia jus à
absolvição.
A situação dos autos importa que seja acatada a tese da irrelevância
material da conduta em estudo, maiormente quando (a) a res furtiva é
financeiramente inexpressiva; (b) a Recorrente é ré primária, consoante já
demonstrado; (c) não há qualquer relato que a conduta da Apelante tenha
provocado consequências danosas à vítima; (d) inexistiu violência na conduta;
(e) o patrimônio da vítima (uma rede de farmácias) não foi e nem será afetada
com pretensa subtração dos insignificantes bens.
                                     
Comprovado que o comportamento da Apelante afasta o tipo penal
enfocado, aplicável o princípio da insignificância consoante melhor
jurisprudência, advinda do Superior Tribunal de Justiça:
 
RECURSO ESPECIAL. FURTO. ITENS DE HIGIENE E VESTUÁRIO. VALOR
EQUIVALENTE A 8 % DO SALÁRIO-MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO FATO.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. RECURSO PROVIDO.
1. Sedimentou-se a orientação jurisprudencial no sentido de que a incidência
do princípio da insignificância pressupõe a concomitância de quatro vetores: a)
a mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social
da ação; c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) a
inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. Ainda que o acusado ostente o
registro de um inquérito policial instaurado em razão da prática dos delitos de
roubo e corrupção de menores, o furto de itens de higiene pessoal e vestuário
— 2 cremes dentais, da CIA Brasileira de Distribuição (Supermercado Extra), 1
par de sapatos femininos e 1 blusa de moletom, de HM Calçados e
Confecções, avaliados em R$ 75,00, que foram restituídos às vítimas —
autoriza, excepcionalmente, a incidência do princípio da insignificância. 3. O
montante equivalente a 8% do salário mínimo vigente à época dos fatos, em
crime perpetrado contra pessoa jurídica, não justifica tão gravosa resposta
penal do Estado. 4. Recurso Especial provido para absolver o acusado
Reginaldo Moraes de Oliveira das imputações da denúncia, pela incidência do
princípio da insignificância. [ ... ]
 
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. EXCEPCIONALIDADE DO CASO. ITENS
DE HIGIENE. 4,5% DO SALÁRIO-MÍNIMO. MANIFESTAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL FAVORÁVEL. AGRAVO IMPROVIDO.
1. "A Terceira Seção desta Corte, no julgamento do ERESP 221.999/RS (Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 10/12/2015), estabeleceu que a
reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância,
ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, a verificação de que a medida
é socialmente recomendável" (AGRG no HC 623.343/SC, Rel. Ministro Felix
Fischer, QUINTA TURMA, julgado em 18/05/2021, DJe 25/05/2021). 2. Não
obstante a reiteração delitiva do agente, acolhida manifestação favorável do
Ministério Público Federal para reconhecer a atipicidade da conduta,
consistente no furto de itens de higiene, totalizando 4,5% do valor do salário
mínimo, por entender "adequada e recomendável a aplicação do princípio da
insignificância, ante a inexpressiva ofensa ao bem jurídico protegido e a
desproporcionalidade da aplicação da Lei Penal". 3. "Os mecanismos de
controle social dos quais o Estado se utiliza para promover o bem estar social
possuem graus de severidade, constituindo o Direito Penal a última ratio, de
modo que a sua aplicação deve obedecer aos princípios da intervenção mínima
e da fragmentariedade [...]
 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL PENAL. APELO RARO. INADMISSÃO. FUNDAMENTOS.
SÚMULA N. 7 DO STJ. IMPUGNAÇÃO CONCRETA. AUSÊNCIA.
ILEGALIDADE FLAGRANTE CONSTATADA. CORREÇÃO POR ESTA
CORTE SUPERIOR EM ATUAÇÃO SPONTE PRÓPRIA (ART. 654, § 2º, DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL). FURTO SIMPLES TENTADO.
MULTIRREINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
APLICAÇÃO. POSSIBILIDADE. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL.
REDUZIDÍSSIMO GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO, DE OFÍCIO.
1. Ausente a impugnação concreta aos fundamentos da decisão que inadmitiu
o apelo nobre, correta a decisão que não conheceu do agravo em Recurso
Especial. 2. A multirreincidência específica, via de regra, afasta a aplicação do
princípio da insignificância no crime de furto. Entretanto, em casos
excepcionais, nas quais é reduzidíssimo o grau de reprovabilidade da conduta,
tem esta Corte Superior, mesmo existentes outras condenações, admitido a
incidência do referido princípio. 3. A tentativa de furto simples, em um
supermercado, de 1 (um) pacote de fraldas, avaliado em R$ 17,00 (dezessete
reais), valor equivalente a 2,35% (dois inteiros e trinta e cinco décimos) do
salário-mínimo vigente na época do fato, ocorrido em 30/12/2014, traz
excepcionalidade que autoriza o reconhecimento da atipicidade material da
conduta. 4. Agravo regimental desprovido. Habeas corpus concedido, de ofício,
a fim de absolver o Agravante, nos termos do art. 386, inciso III, do Código de
Processo Penal. [ ... ]
 
Em arremate, temos que a sentença merece reforma, quando no caso
específico a absolvição pela atipicidade de conduta é de rigor, maiormente
quando a res furtiva é ínfima e, mais, quando conjugada pela ausência de
periculosidade social da conduta e não reprovabilidade do comportamento. A
propósito, quanto a esse último aspecto, confere-se pelo termo de depoimento
de fls. 126/127 que a Apelante confessou que “... iria vender os produtos para
amigas, com o propósito de ajudar a comprar remédios para sua mãe, que se
encontra doente.”
                             

Diante dessas considerações doutrinárias, a Apelante demonstrou por


farta documentação imersa nos autos, maiormente aquelas carreadas com a
peça exordial de defesa, a total incapacidade financeira da Apelante arcar com
aplicação da sanção da pena de multa. Veja, a propósito, que foram
acostados (1) declaração de rendimentos (ausência) da Receita Federal; (2)
pesquisa nos órgãos de restrições do comércio, onde constam anotações de
dívidas pendentes; (3) declarações cartorárias de inexistência de bens imóveis
em nome da Apelante.
4 – DOS PEDIDOS

Diante do exposta, espera-se que:

1. A sentença de condenação seja anulada

2. A pena de multa seja afastada

3. a suspensão da sua exigibilidade, nos moldes do que rege o art. 98,


§ 3°, do Código de Processo Civil.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Petrolina, 24 de outubro de 2012.

CICERO FERREIRA DE SOUZA


Advogado – OAB/PE XX.XXX
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR DA COLENDA CÂMARA
CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO X

Relator na Apelação Criminal

Processo nº: XXXXX-00.2010.8.01.0001

Classe: Ação Penal

Acusado: RITA DAS QUANTAS

RITA DAS QUANTAS, já qualificada nos autos da ação penal em epígrafe que lhe move
o Ministério Público do Estado X, por meio de seu Advogado que a esta subscreve,
vem, tempestivamente, à presença de Vossa Excelência, em atenção a interposição de
recurso de apelação constante nos autos às fls. 116/117, e com espeque no artigo 600,
§ 4º, do Código de Processo Penal (CPP), requerer a juntada das

RAZÕES DE APELAÇÃO,

Requestando-se pelo seu recebimento, autuação e devido processamento,


oportunizando à parte apelada o fornecimento das contrarrazões, para que, ao final,
esta Câmara Criminal, usando de seu poder jurisdicional, conheça e dê provimento ao
apelo, reformando a sentença proferida pelo juízo a quo de fls. 78/87, consoante as
razões fáticas e jurídicas esposadas a seguir.

Termos em que pede deferimento.

Petrolina, X, 24 de outubro de 2012.

CÍCERO FERREIRA DE SOUZA


Advogado OAB/PE nº xx.xxx
RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº: XXXXX-00.2010.8.01.0001

Classe: Ação Penal

Acusado: RITA DAS QUANTAS

Egrégio Tribunal de Justiça,

Colenda Câmara Criminal,

Douta Procuradoria de Justiça,

Senhores Desembargadores.

Em que pese o notório saber jurídico do Magistrado sentenciante, merece reforma a


sentença condenatória encartada nos autos digitais às fls. 78/87, conclusão a que
chegará esta colenda Câmara Criminal após análise das razões fáticas e jurídicas
enumeradas a seguir:

I – DOS FATOS

1. Segundo o relato fático contido na peça acusatória, no dia 10 de novembro do


ano de 2011 (quinta-feira), a Apelante subtraiu para si cinco tintas de cabelo de
uma grande rede de farmácias.

A peça acusatória também destacou que a recorrente arrebentou a fechadura


do armário onde estavam os referidos produtos, conforme imagens gravadas
pelas câmeras de segurança do estabelecimento.
Perfazendo o valor total dos itens furtados a quantia de R$ 49,95 (quarenta e
nove reais e noventa e cinco centavos), consoante laudo que dormita à fl. 17.
2. A defesa, entretanto, após minuciosa análise do contexto probatório, entende
que houve error in judicando por parte do juízo a quo, tendo em vista que a
essência do processo, na verdade, indica a necessidade de:

a) Preliminarmente, declarar nula a sentença proferida pelo juízo a quo, tendo em


vista que não apreciou a tese defensiva de desclassificação de Furto qualificado para
fato delituoso atípico por não haver a tipicidade material do delito motivado pela
insignificância e;

b) No mérito, é caso de se reconhecer a desclassificação do delito de Furto qualificado


para fato delituoso atípico, como concorda a jurisprudência - Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro TJ-RJ - APELAÇÃO: APL XXXXX-43.2013.8.19.0038 RJ XXXXX-
43.2013.8.19.0038

Senão vejamos.

II – PRELIMINARMENTE

1. Da nulidade da sentença por não enfrentamento das teses defensivas –


Violação aos artigos 8º, item 1, da C. A. D. H.; artigo 5º, incisos LIV e LV, e 93,
inciso IX, ambos da CF/88, e artigos 381 e 403, ambos do CPP.

2. Conforme se verifica dos autos, a apelante, por meio de sua defesa técnica, na
oportunidade das alegações finais, apresentou tese de desclassificação, visando
que o delito no qual se via processada, que era de Furto qualificado (Art. 155,
§4º, I CP), findasse retipificado para fato delituoso atípico, tendo inclusive
referido pedido sido relatoriado pelo juízo da instância singela quando da
prolação da sentença condenatória.

Em alegações finais, o Ministério Público requereu a condenação da acusada


nos termos da denúncia. Por sua vez, a defesa pugnou pela desclassificação
fato delituoso atípico. Folha 85 dos autos.

3. Da fundamentação da sentença, o juízo não fez absolutamente nenhuma


apreciação acerca do pleito defensivo. Dito de outro modo, sentenciou o
processo sem avaliar os argumentos da defesa.
Na sentença ora combatida, consta tão somente o seguinte, que segue
transcrito a seguir:

- MATERIALIDADE: A materialidade do delito está comprovada pelas peças do


Inquérito Policial (fl. 24/42), mais precisamente pelo Boletim de Ocorrência (fls. 31/32)
e pelas provas orais constantes dos autos.

- AUTORIA: Quanto à autoria, esta restou inconteste na pessoa da acusada RITA DAS
QUANTAS

Indagada em sede judicial, a testemunha NERO CÉSAR DE SOUZA FERNANDES, policial


militar, afirmou o seguinte:
Que lembra pouca coisa; que lembra que a acusada pegou as tintas para cabelo; que
ela foi encontrada nas dependências da rede de farmácias; que lembra que a acusada
era uma senhora de idade; que funcionários da rede de farmácias a acusavam.

4. Assim, como já informado, a sentença não avaliou a tese desclassificatória,


razão porque outra deve ser proferida em seu lugar, com a devida apreciação
da tese defensiva, sob pena de violação às garantias judiciais talhadas no artigo
8º, item 1, da Convenção Americana de Direitos Humanos, do direito do acesso
ao devido processo legal e ampla defesa, fincados no artigo 5º, incisos LIV e LV,
e 93, inciso IX, ambos da CF/88, e sob negativa de vigência aos artigos 381 e
403, ambos do CPP.

5. Sabido que os institutos ditos acima são informadores do processo penal


democrático e não podem ser inobservados dentro de marcha processual que,
diante da fragmentariedade que visa o direito penal, presta-se ao
esclarecimento de questões que influem diretamente no bem jurídico
considerado hiper importante dentro do rol de direitos e garantias
fundamentais, que é o direito à liberdade.

6. Nesse condão que a legislação citada prevê que o acusado tem o direito de
contradizer a acusação e inclusive, influir na decisão do juiz, por meio de sua
defesa pessoal e/ou técnica, o que se faz por meio da realização dos atos
defensivos no processo.

7. Ora, se o juiz olvida apreciação às teses defensivas, nega também o poder de


efetiva influência do réu no processo direcionado a quem irá lhe julgar e, por
corolário, viola o devido processo legal, a ampla defesa e ignora a relação
originária do processo penal: acusação, defesa e juiz, todos com a faculdade de
influenciar na decisão do processo.

8. Se a defesa não obtém a chance de influenciar o julgador, fica evidente que não
se está mais diante de um processo trilateral (acusação + defesa + juiz), mas
sim de uma relação jurídica bilateral (acusação + juiz), o que por óbvio, merece
correções por parte desta Câmara Criminal diante das ordenanças modernas de
visão do processo penal.

9. Pode-se afirmar também, diante do caso concreto, que estamos diante de


clássico caso de cerceamento de defesa, o que é terminantemente proibido
pelo nosso ordenamento jurídico.

10. Assim, não há como fugir da presente nulidade, até porque os tribunais vêm
massivamente, abroquelando o entendimento ora fincado pela defesa,
consoante se exemplifica com os julgados abaixo:

“Se o Magistrado, ao sentenciar, desconsidera qualquer fundamento utilizado por uma


das partes, ignorando tese sustentada por um dos litigantes, está descumprindo a
exigência legal e constitucional da fundamentação do julgado, previstas nos artigos
381 do CPP, e 93, IX, da CF, tornando a sentença nula, pois carece de seu requisito
estrutural” (TJSP – 2a C. – AP – j. 14.12.98 – Rel. Canguçu de Almeida – RT 761/604).

“É nula a sentença que se omite na apreciação das teses defensivas. O argumento da


rejeição implícita da preliminar não pode ser levado em conta, uma vez que a sentença
deve apreciar todas as questões suscitadas pelas partes, sob pena de denegação da
prestação jurisdicional”. (STF- Rel. Ministro Célio Borja, DJU 3.3.89, in RJUTACRIM, p.
242).

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE TRÁFICO DE DROGAS E DE ASSOCIAÇÃO PARA O


TRÁFICO. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. AUSÊNCIA DE APRECIAÇÃO DE TESES
DEFENSIVAS. QUESTÕES PRELIMINARES NÃO EXAMINADAS. OMISSÃO RELEVANTE.
IMPUGNAÇÃO À VALIDADE DA PROVA COLETADA. PREJUÍZO EVIDENTE. NULIDADE
SUSCITADA DE OFÍCIO. Configura nulidade de ordem absoluta, a falta de manifestação
do julgador acerca de tese erigida pela Defesa, em sede de alegações finais, que diz
respeito à validade da prova coletada nos autos e à própria regularidade da inicial
acusatória. Constatado que a prova impugnada foi utilizada para fundamentar a
condenação dos denunciados, nada se falando a respeito de sua licitude, evidente é o
prejuízo causado aos interessados, pelo cerceamento de defesa. Precedentes deste eg.
Tribunal. (TJMG; APCR XXXXX-1/001; Relª Desª Beatriz Pinheiro Caires; Julg.
19/03/2015; DJEMG 30/03/2015)
11. A doutrina, também acompanhando a tese ora firmada, vem enriquecer o tema
em debate, verbis:

“A motivação deve-se referir a todas as questões que foram colocadas pelas partes,
assim como também às questões que, ainda em ausência de comportamento
especifico das partes, constituam em concreto objeto da indagação”. (José Carlos G. X.
Aquino e José Renato Nalini, Manual de Processo Penal, Ed. Saraiva, pg. 246).

“É eivada de nulidade a sentença que não responde às alegações da defesa, seja de


mérito, seja de preliminares arguida oportunamente”. (Júlio Fabbrini Mirabete, Código
de Processo Penal Interpretado, pg. 437).

12. Por tudo o exposto, há que se reconhecer a nulidade da sentença quando se


constata a omissão na análise da tese defensiva desclassificatória, sendo que
tal omissão importa em cerceamento do direito de defesa e ofensa ao princípio
do devido processo legal e a obrigatoriedade da fundamentação de todas as
decisões, devendo esta Colenda Câmara Criminal assim proceder,
determinando seja proferida outra sentença com a devida análise da tese
defensiva.

III – DO MÉRITO

Da desclassificação do delito de Furto qualificado para delito atípico

13. Após minuciosa e perfeccionista análise do cotejo probatório, a defesa conclui


que não é caso de condenação da apelante pelo delito de Furto qualificado
(Art. 155, §4º, I CP), mas sim não ser condenada pois o delito é atípico, o que
ficará claro ante a exposição argumentativa a seguir.

14. Ao fincar sentença condenatória não foi observado pelo douto juízo o Princípio
da Insignificância que fixa em 10% do salário mínimo vigente, e que o objeto do
delito não alcança esse montante, restando em R$ 49,95 (quarenta e nove reais
e noventa e cinco centavos) o que exclui a tipicidade material.
15. A primariedade da apelante não foi considerada como atenuante penal,
quando para maior parte da doutrina brasileira (MIRABETE, JESUS, NUCCI, et
al.), é, inclusive, a mais importante dentre as atenuantes e as agravantes,
devendo ser considerada superior quando contrastada com outras.

16. A apelante teve pena aumentada sob o argumento de MAUS ANTECEDENTES,


motivada pelo trânsito em julgado de sentença condenatória em outro
processo em 15/05/2012, o que não poderia ser usado como maus
antecedentes, uma vez que tal condenação transitou em julgado depois do
delito em julgamento.

17. O mesmo trânsito em julgado de sentença condenatória com data de


15/05/2012, ensejou a incidência de agravante da reincidência, mas como é
bem conhecido desse Egrégio Tribunal, tal condenação em data posterior ao
cometimento do delito não caracteriza reincidência.

18. Diante do exposto a apelante requer que seja observado que:

a. A sentença deve ser suspensa, por si tratar de delito atípico pelo


princípio da insignificância.
b. O juízo a quo não levou em contas a primariedade da ré.
c. Foi aplicada incidência de maus antecedentes sem fundamentação legal
para tanto.
d. Foi aplicada incidência de reincidência sendo a apelante ré primária.
e. Sentenciou-se a apelante em 4 (quatro anos) de Pena Privativa de
liberdade, incidindo majorantes em error in judicando e não se
observou as atenuantes.
f. Foi determinado regime inicial semiaberto em sentença de 4 (quatro)
anos de PPL, quando deveria ser regime inicial aberto.
Art. 33. §2º alínea c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual
ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em
regime aberto.
g. Não se ofereceu SURSIS PENAL, ainda que a apelante é anciã de 60 anos
de idade.
Art. 77. § 2º CP - A execução da pena privativa de liberdade, não
superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos,
desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou
razões de saúde justifiquem a suspensão.

19. Assim, tendo em vista as argumentações expendidas acima, a desclassificação é


medida que se impõe, por ser medida de justiça e direito, sob pena de
violação/negativa de vigência ao artigo 1º, do CP, que segue devidamente
prequestionado para fins de acesso às vias recursais.

IV – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer, respeitosamente à esta Colenda Câmara Criminal, seja


recebida, e apreciada as razões ora expostas, para que, seja conhecido e ao final,
provido o presente apelo, reformando a sentença prolatada pelo juízo a quo, em favor
do apelante RITA DAS QUANTAS, para que:

a) Preliminarmente, seja declarada a nulidade da sentença proferida pelo juiz a quo,


tendo em vista que não avaliou a tese defensiva de desclassificação do delito.

b) No mérito, seja desclassificado o delito de Furto qualificado para fato delituoso


atípico.

Confiantes no bom senso de julgamento ínsito aos vossos múnus, espera-se com o
presente apelo, que se faça o mais justo ao caso concreto, ou seja, JUSTIÇA!

Termos em que pede deferimento.

Petrolina - X, 24 de outubro de 2012.

CICERO FERREIRA DE SOUZA


Advogado OAB/PE nº XX.XXX

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