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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 17ª

VARA CRIMINAL DA CAPITAL

Processo nº: XXXXX-XX.XXXX.X.XX.XXXX

ÁLVARO, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, por meio de


seu Advogado que a esta subscreve, vem, respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 600 do Código de Processo Penal, ofertar
CONTRARRAZÕES ao recurso de apelação interposto pelo Ministério Público,
consubstanciado as razões anexas, requerendo o normal processamento da
presente e posterior remessa ao tribunal ad quem.

Nestes termos, espera deferimento.

Sapucaia do Sul para Capital em 13 de novembro de


2023.

Advogado
OAB/XX nº XXXXX
PROCEDIMENTO ORDINÁRIO Nº XXXXX-XX.XXXX.X.XX.XXXX
APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
APELADO: ÁLVARO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE XXXX

COLENDA CÂMARA CRIMINAL,

EMÉRITO RELATOR,

A respeitável decisão recorrida, localizada no evento XX, deve ser mantida


em sua íntegra, confirmando-a e negando-se provimento ao recurso interposto pelo
Ministério Público, eis que a decisão monocrática aplicou o Direito em consonância
as provas incertes no bojo do processo a quo, inexistindo, pois, necessidades
reparos à mesma.

I – DOS FATOS

Álvaro, brasileiro, solteiro, estudante, primário, 22 anos de idade, foi preso


em flagrante pelo delito de furto tentado, conforme descrito no Auto de Prisão em
Flagrante Delito (APFD) e demais elementos dos autos. O flagrante se deu no
momento em que ele tentou sair de um minimercado sem pagar uma caixa de
chocolates, uma lata de cerveja e um pacote de salgadinhos, avaliados em R$20,00
(vinte reais). Após a realização da audiência de custódia, foi concedida a liberdade
provisória a Álvaro.
Posteriormente, o Inquérito Policial foi relatado e encaminhado ao Ministério
Público, que denunciou Álvaro pela prática do crime de furto tentado (art. 155,
caput, c.c. art. 14, inciso II, ambos do Código Penal). No entanto, a denúncia foi
rejeitada pelo juiz da 17ª Vara Criminal da Capital, por falta de justa causa para a
ação penal, com fundamento no art. 395, III, do Código de Processo Penal,
aplicando o princípio da insignificância.

II – DO MÉRITO
II.1 - DA DECISÃO RECORRIDA
O juízo de primeiro grau rejeitou a denúncia com base no princípio da
insignificância, fundamentando sua decisão no artigo 395, III do CPP. A decisão e
fundamentação do magistrado encontra-se em comunhão com os dispositivos
constitucionais e federais. Dos dispositivos constitucionais ressalta-se o artigo 93,
IX, da Constituição Federal de 88, o qual preconiza que, todo acórdão ou decisão
devem ser fundamentados. Já dos dispositivos federais ressalta-se o artigo 381 do
Código de Processo Penal, o qual traz a inteligência de que a sentença deve
conter: os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias
para identificá-las; a exposição sucinta da acusação e da defesa; a indicação dos
motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; a indicação dos artigos de
lei aplicados;. o dispositivo; e a data e a assinatura do juiz. Logo, ao observar as
formalidades a serem seguidas, percebe-se que o juízo de 1º grau atendeu a todas
elas.
Posto isso, inexistem quaisquer questões formais a serem reformadas na
sentença que julgou improcedente a denúncia, estando esta em completa
comunhão com os dispositivos legais.

II.2 DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - ART 155, §4º DO CP.


Conforme já fundamentado na decisão que rejeitou a denúncia com base no
artigo 395,III do CPP. Observou o princípio da insignificância, o qual é baluarte do
direito penal e tem por escopo evitar a criminalização de condutas que, dada a sua
mínima ofensividade, não merecem a devida reprimenda do Estado.
Diante disso, o princípio em questão surge da concepção de que o direito
penal não deve se ocupar de comportamentos em que as consequências não
são suficientemente sérias a ponto de não demandar a punição do agente ou a
intervenção do sistema judiciário. Isso é evidente, por exemplo, em situações como
um leve beliscão, uma palmada ou o furto de bens de pequeno valor.
A aplicação do princípio é respaldada por critérios objetivos, que incluem:
- a mínima ofensividade da conduta do agente;
- a nenhuma periculosidade social da ação;
- o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e
- a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
No que tange a mínima ofensividade, em relação ao caso concreto,
observamos que o valor atribuído à res de delicti, no montante de R$20,00 (vinte
reais), enquadra-se como inexpressivo, no contexto da situação, vedado que se
trata de um estabelecimento de venda de artigos alimentares. Ademais, a mínima
ofensividade da conduta de Álvaro, que não apresenta antecedentes criminais,
aliada ao reduzido grau de reprovabilidade de sua ação, demonstra cabalmente a
aplicação do princípio da insignificância.
Ressalta-se que, uma vez que o Apelado não empregou o uso de violência e
é réu primário, contudo de acordo com a decisão recente do Egrégio Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, o réu está dentro do considerável e da aplicabilidade
do princípio: 1
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES PATRIMONIAL. FURTO.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE NO CASO
CONCRETO. SENTENÇA REFORMADA PARA ABSOLVER. Caso
dos autos em que subtraídos onze copos tulipa, avaliados em
R$ 4,00 (quatro reais) cada, três copos de cerveja avaliados em
R$ 9,00 (nove reais) cada, dez copos de pepsi avaliados em R$
20,00 (vinte reais) cada , uma garrafa de vinho marca Aliança,
avaliado em R$ 7,00 (sete reais), cujos bens foram avaliados no
montante de R$ 278,00 (duzentos e setenta e oito reais). Acresço,
ainda, que se tratam de utensílios domésticos e em pouca
quantidade, o que demonstra a mínima ofensividade da conduta
e ilesividade do bem jurídico tutelado, enquadrando-se a hipótese
ao conceito de mínima ofensividade do fato e inexpressividade da
lesão ao bem jurídico, pois as circunstâncias do fato denotam
ausente particularidade a denotar maior reprovabilidade da conduta.
Assim, essencial a aplicação do Princípio da Insignificância in casu,
uma vez que retirada a tipicidade material, o fato não constitui
infração penal. Absolvição do apelante pela atipicidade material da
conduta. APELO PROVIDO.(GRIFO MEU)

Considerando que o montante envolvido no caso em tela é


consideravelmente superior ao valor apropriado pelo Apelado, e levando em conta
que os bens subtraídos são categorizados como utensílios domésticos e itens

1
Apelação Criminal, Nº 50005550420168210068, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Paulo Augusto Oliveira Irion, Julgado em: 31-08-2022
alimentícios, fica evidenciada a mínima gravidade da ofensa, bem como a ausência
de lesão significativa ao bem jurídico tutelado.
Ainda, gize-se que, ao Apelante foi concedido liberdade provisória na
audiência de custódia, isto posto, verifica-se a inexistência periculosidade do
agente..

III – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer, respeitosamente à esta Colenda Câmara Criminal,


seja juntada a presente petição de contrarrazões de apelação, para que, seja
conhecido e ao final, improvido o apelo ministerial, mantendo inalterada a sentença
absolutória prolatada pelo juízo a quo, em favor do apelado ÁLVARO, sob pena de
violação ao artigo 395, inciso III, do CPP, bem como estar em completo desacordo
com os entendimentos recentes.

Nestes termos, espera deferimento.

Sapucaia do Sul para Capital em 13 de novembro de


2023.

Advogado
OAB/XX nº XXXXX

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