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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CURSO DE DIREITO
CÂMPUS TOLEDO – PARANÁ

LARISSA KARLA MALLER

APELAÇÃO

TOLEDO
2023
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 41ª VARA CRIMINAL DA COMARCA
DA CAPITAL DO ESTADO X

Processo nº ...

RITA, já devidamente identificada nos autos e representada por seu advogado, devidamente
habilitado com a procuração anexa, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
inconformada com a decisão constante às fls., interpor RECURSO DE APELAÇÃO, com fulcro no
art. 593, I, do Código de Processo Penal. Requer, portanto, que o presente recurso seja
recebido e processado, juntamente com as razões que ora seguem, e que os autos sejam
oportunamente encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado X.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Local, data

Advogado/OAB nº

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO X

APELANTE: Rita

APELADO: Ministério Público

Processo nº ...

RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO X

COLENDA CÂMARA

I- DOS FATOS

No dia 10 de novembro de 2011, Rita foi detida em flagrante após furtar cinco tintas de cabelo
de uma grande rede de farmácia. Para consumar o furto, a apelante arrombou o armário onde
os itens estavam guardados. O valor total dos produtos subtraídos foi de R$ 49,95.

O Ministério Público apresentou denúncia, imputando à acusada a prática do crime de furto


qualificado pelo rompimento de obstáculo, tipificado no art. 155, §4º, I, do Código Penal.

A denúncia foi devidamente recebida, a acusada regularmente citada, e o processo seguiu seu
curso com a ré respondendo em liberdade.

Na audiência de instrução e julgamento, realizada em 18 de outubro de 2012, o Ministério


Público apresentou uma certidão cartorária que comprovava o trânsito em julgado da sentença
condenatória da apelante por crime de estelionato, ocorrido em 15 de maio de 2012.

Concluída a fase instrutória, o magistrado proferiu sentença em audiência. Na dosimetria da


pena, o magistrado elevou a pena-base, considerando a sentença condenatória do crime de
estelionato como maus antecedentes, e na segunda fase, reconheceu a agravante da
reincidência, levando em conta a data do trânsito em julgado definitivo da sentença de
estelionato. Ao final, fixou a pena definitiva em 4 (quatro) anos de reclusão em regime inicial
semiaberto, além de 80 (oitenta) dias-multa, não substituindo a pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos. Contudo, assegurou à ré o direito de recorrer em liberdade.

II- DO DIREITO

a) DO MÉRITO

Dignos julgadores, a conduta da apelante deve ser analisada à luz do princípio da


insignificância. É sabido que para a configuração de um crime, é necessário que ocorra a
tipicidade conglobante, que consiste na combinação da tipicidade formal com a tipicidade
material.

A tipicidade formal ocorre quando a conduta do agente se encaixa perfeitamente no tipo penal
descrito. No presente caso, a ação de subtrair coisa alheia para si se enquadra formalmente no
crime de furto.

Conforme jurisprudência consolidada pelo Supremo Tribunal Federal, a tipicidade material


exige a presença de certos elementos, como a inexpressividade da lesão ao bem jurídico, a
mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social e um grau muito reduzido
de reprovabilidade do comportamento.

Nesse sentido, se a tipicidade formal se combinar com a ausência de tipicidade material, a


conduta deixa de ser considerada criminosa, afastando a tipicidade penal.

É o caso dos autos. Conforme relatado, a apelante subtraiu bens de uma grande rede de
farmácia no valor total de R$ 49,95. Esse valor, levando em consideração o porte da empresa, é
insignificante e não causou lesão jurídica relevante, o que justificaria a aplicação da lei penal e
a consequente condenação. Além disso, a conduta da ré não envolveu violência, grave ameaça,
não apresentou periculosidade social e demonstrou mínimo grau de reprovabilidade. Portanto,
o fato em questão não constitui infração penal.

Em virtude do exposto, requer-se a aplicação do princípio da insignificância e a absolvição da


apelante, com base no art. 386, III, do Código de Processo Penal.

b) DA SUBSIDIARIEDADE

No improvável caso de os nobres julgadores não reconhecerem a incidência do princípio da


insignificância, faz-se necessária a reforma da sentença nos seguintes aspectos:

I) MAUS ANTECEDENTES

O magistrado utilizou os maus antecedentes para agravar a pena, mesmo já tendo utilizado a
reincidência para agravar a pena-base, o que configura bis in idem, de acordo com a Súmula
241 do Superior Tribunal de Justiça. Segundo essa súmula, a reincidência penal não pode ser
considerada tanto como circunstância agravante quanto como circunstância judicial.

Portanto, com base na Súmula 241 do Superior Tribunal de Justiça, requer-se o afastamento do
agravamento da pena por maus antecedentes.

II) REINCIDÊNCIA

O art. 63 do Código Penal estabelece que a reincidência ocorre quando o agente comete novo
crime após o trânsito em julgado da sentença que o condenou por crime anterior, seja no país
ou no estrangeiro.

No entanto, no caso em questão, o crime praticado pela apelante em 10 de novembro de 2011


ocorreu antes do trânsito em julgado da sentença condenatória por estelionato, que ocorreu
em 15 de maio de 2012. Portanto, a sentença de estelionato não pode ser usada como
fundamento para reconhecer a reincidência, de acordo com o art. 63 do Código Penal.

Requer-se, portanto, o afastamento do agravamento da pena pela reincidência.

III) FURTO PRIVILEGIADO


A ré foi condenada por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, sendo que os bens
subtraídos foram de pequeno valor, totalizando R$ 49,95. Nesse contexto, caso não seja
reconhecida a incidência do princípio da insignificância, deve ser reconhecido o furto
privilegiado, nos termos do §2º do art. 155 do Código Penal, uma vez que a ré é primária e o
valor dos bens subtraídos é reduzido.

Mesmo que o crime em questão tenha sido qualificado pelo rompimento de obstáculo, essa
qualificadora é de natureza objetiva, e a Súmula 511 do Superior Tribunal de Justiça autoriza o
reconhecimento do furto privilegiado quando estão presentes a primariedade do agente, o
pequeno valor da coisa e a qualificadora objetiva.

Requer-se, portanto, o reconhecimento do furto privilegiado, nos termos do art. 155, §2º, do
Código Penal.

IV) SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS

O crime cometido pela apelante não envolveu violência ou grave ameaça, e a pena aplicada
deve ser a mínima legal. O art. 44, I, do Código Penal estabelece que as penas restritivas de
direitos substituem as penas privativas de liberdade quando aplicada pena privativa de
liberdade não superior a quatro anos e o crime não envolve violência ou grave ameaça à
pessoa.

Dessa forma, requer-se a substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de
direitos, nos termos do art. 44, I, do Código Penal.

V) REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA

Conforme exposto anteriormente, a pena aplicada à apelante deve ser a mínima legal, ou seja,
2 (dois) anos de reclusão, com base no art. 155, §4º, I, do Código Penal.

O art. 33, §2º, c, do Código Penal dispõe que o condenado não reincidente, cuja pena seja igual
ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá cumprir a pena em regime aberto desde o início. Para a
imposição de regime mais gravoso, é necessário motivar devidamente, conforme estabelecido
na Súmula 719 do Supremo Tribunal Federal.

Portanto, requer-se que o regime de cumprimento da pena seja o aberto, nos termos do art.
33, §2º, c, do Código Penal, em consonância com a Súmula 719 do Supremo Tribunal Federal.

VI) MULTA

O magistrado fixou a pena de multa em 80 dias-multa. No entanto, considerando tudo o que


foi exposto anteriormente, requer-se que os dias-multa sejam aplicados no mínimo legal, ou
seja, 10 dias-multa, nos termos do art. 49 do Código Penal.

III- DOS PEDIDOS


Diante do exposto, requer-se a REFORMA da sentença de primeiro grau, com o consequente
PROVIMENTO deste recurso, a fim de que:

a) seja a apelante ABSOLVIDA, uma vez que os fatos não configuram infração penal, com
base no art. 386, III, do Código de Processo Penal, em virtude da incidência do
Princípio da Insignificância.

Subsidiariamente, requer-se que:

a) a pena aplicada seja a mínima legal, com base na análise das circunstâncias do caso,
afastando-se o agravamento da pena pelos maus antecedentes e pela reincidência.
b) seja reconhecido o furto privilegiado, com base no §2º do art. 155 do Código Penal.
c) a pena privativa de liberdade seja substituída por penas restritivas de direitos, de
acordo com o art. 44, I, do Código Penal.
d) seja determinado o regime aberto para o cumprimento da pena, nos termos do art. 33,
§2º, c, do Código Penal, conforme a Súmula 719 do Supremo Tribunal Federal.
e) a multa seja fixada em seu valor mínimo, nos termos do art. 49 do Código Penal.

Nestes termos,

Pede deferimento,

Local, data

Advogado/ OAB nº

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