Você está na página 1de 8

RAZÕES DE APELAÇÃO

APELANTE: $[PARTE_AUTOR_NOME_COMPLETO]
APELADO: $[PARTE_REU_RAZAO_SOCIAL]
PROCESSO DE ORIGEM Nº $[PROCESSO_NUMERO_CNJ]

EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA CÂMARA,
ÍNCLITOS JULGADORES.

I – DA TEMPESTIVIDADE

Nos termos do 600, do Código de Processo Penal, o prazo para


apresentação das razões de apelações é de 8 dias úteis, sendo excluído o dia do
começo e incluindo o dia do vencimento nos termos do art. 224 do Código de
Processo Civil.

Dessa forma, considerando que a publicação ocorreu na data de 22 de


março de 2021, tem-se por tempestivo o presente recurso, devendo ser acolhido.

II – BREVE SÍNTESE DO PROCESSO

Trata-se de ação de penal, movida pelo respeitável Ministério Público, ora


Apelado, em face de $[geral_informacao_generica], ora Apelante, em maio de
2018, onde o Apelante está sendo acusado como incurso no artigo 180, “caput, do
Código Penal, por conduzir um veículo que havia sido subtraído de forma ilegal
por outrem desconhecido.
Apesar da defesa apresentada a ação foi dada como procedente, sendo o
acusado condenado a 1 ano de reclusão e 10 dias multas, tendo sido seu regime
inicial fixado no aberto.

Em que pese o conhecimento jurídico da MM. Juíza prolatora da sentença,


vê-se que não decidiu com o costumeiro acerto, fazendo-se necessária a reforma
da r. decisão monocrática, conforme se passa a demonstrar.

III – DA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA

Analisando detidamente os autos, verifica-se que inexiste prova segura


para fundamentar uma eventual condenação.

Em juízo, o acusado afirmou estar conduzindo o veículo no momento em


foi abordado pelos policiais, esclareceu que realmente foi prestar um favor para
um conhecido, chamado $[geral_informacao_generica], conhecido da região
onde o acusado costumava morar, e que lhe foi oferecida a quantia de R$ 200,00
(duzentos reais) para conduzir o veículo até um determinado local, e que quando
chegasse até esse local deveria ligar para o Emerson, informando onde
exatamente estava o carro, e por questões de necessidade, decidiu aceitar a
proposta e prestar este favor. Confirmou que não tentou fugir, tampouco reagiu
a abordagem policial, tendo inclusive cooperado com os policiais, conforme
atestado pelo testemunho dos policiais, revelando o desejo de colaborar para
elucidação dos fatos.

Os policiais ouvidos apenas narraram a diligência que culminou na


verificação da origem ilícita do veículo conduzido por
$[geral_informacao_generica], sem trazer qualquer elemento que denotasse que
$[geral_informacao_generica]o, de fato, tivesse ciência sobre a ilicitude do bem.
Observa-se, ainda, que os policiais confirmaram o quanto dito pelo acusado, no
sentido de que ele não tentou resistir ou fugir quando houve a abordagem, tendo
dito aos policiais exatamente o que aconteceu para que ele estivesse conduzindo
o veículo.

Observa-se, portanto, que nenhuma prova foi produzida no sentido de


que o acusado, efetivamente, tivesse ciência da origem ilícita do veículo, tanto
que ele não tentou fugir com a aproximação policial, não ofereceu qualquer
resistência e cooperou com os policiais no momento da abordagem, ao contrário
do que consta em sentença onde afirmar restar evidente o dolo na conduta do
cidadão acusado.

Desta forma, não há como se afirmar, além da dúvida razoável, que o


acusado conhecia a origem ilícita do bem, devendo se fazer valer o princípio do
in dubio pro reo.

Observe-se que, no crime de receptação, inadmissível a tese do dolo


eventual, haja vista a patente incompatibilidade com a previsão do caput do
artigo 180 do Código Penal, não havendo que se falar, assim, em crime de
receptação.

Portanto Excelência, diante de todo o exposto, requer seja o acusado


absolvido com base no art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, por não
constituir o fato infração penal.

IV – DA DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA A MODALIDADE


CULPOSA – ARTIGO 180, § 3º, DO CÓDIGO PENAL
A respeitável decisão condenou o cidadão acusado pelo “caput” do artigo
180, afirmando não haver dúvidas quanto a materialidade do crime e de que
$[geral_informacao_generica] sabia da origem ilícita do veículo.

Entretanto, a sentença formulada pela respeitável Juíza, com a máxima


vênia, não merece prosperar, porquanto se origina em interpretação equivocada
dos fatos e das provas colhidas no feito.

Quando questionado, em juízo, da origem do veículo,


$[geral_informacao_generica]foi categórico ao afirmar que desconhecia da sua
proveniência ilícita. Afirmou estar prestando um favor para um conhecido da
região onde costumava morar, que lhe ofereceu a quantia de R$ 200,00 (duzentos
reais) para conduzir o veículo até próximo ao local dos fatos, e que por
necessidade aceitou fazer este fazer ao tal “$[geral_informacao_generica]”.

Pelo exposto, a discussão quanto ao dolo do acusado no momento da


prática da conduta merece espaço neste momento processual.

Da leitura da primeira parte do caput do artigo 180, pratica o crime de


receptação aquele que adquire, recebe, transporta, conduz ou oculta, em proveito
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime.

Verifica-se, portanto, que para ser caracterizado o crime de receptação o


agente deve praticar o ato tendo plena e clara consciência de que o bem possui
origem ilícita.

Percebe-se, Excelência, que em nenhum momento da instrução processual


ficou evidentemente claro que Flávio possuía conhecimento inequívoco de que o
bem que conduzia tinha origem ilícita.
Apesar a situação demonstrar que o acusado deveria suspeitar da origem
ilícita do veículo, a mera suspeita não configura justo motivo para a prolação do
decreto condenatório nos termos do art. 180, caput, do Código Penal.

Sendo este o caso dos autos, é plenamente admissível a desclassificação do


delito para sua modalidade culposa, nos termos do art. 180, § 3º, do Código Penal.

“§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o
valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio
criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas”.

No caso em questão, a Acusação não cumpriu a contento o seu ônus de


provar que $[geral_informacao_generica] agiu com a intenção específica de
adquirir coisa que sabia ter origem ilícita, apenas demonstrou que o Réu deixou
de agir com cautela e dever ao aceitar prestar o favor ao
$[geral_informacao_generica].

A esse respeito já se manifestou o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

“DECISÃO: ACORDAM os Magistrados integrantes da Quinta Câmara Criminal


do Tribunal de Justiça, por unanimidade de votos, em conhecer e dar parcial
provimento ao recurso de apelação, nos termos do voto do Relator, devendo ser
comunicado o juízo de origem quanto a alteração da pena para 05 anos de reclusão e
01 mês de detenção e 500 dias-multa, bem como ser expedido o competente mandado
de prisão para a imediata implantação da apelada no regime semiaberto. EMENTA:
APELAÇÃO CRIMINAL - ART. 33, CAPUT, DA LEI 11.343/2006 E ART. 180,
CAPUT, DO CÓDIGO PENAL - SENTENÇA CONDENATÓRIA - RECURSO
SUSTENTANDO A ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS -
INOCORRÊNCIA - CONJUNTO PROBATÓRIO APTO A ENSEJAR O
DECRETO CONDENATÓRIO - AUTORIA E MATERIALIDADE DELITIVA
DE AMBOS OS CRIMES COMPROVADAS - PROVA TESTEMUNHAL DOS
AGENTES - PALAVRA QUE POSSUI ELEVADO VALOR PROBATÓRIO -
DEPOIMENTOS DOS DEMAIS ENVOLVIDOS QUE TAMBÉM APONTAM
PARA A AUTORIA - DESCLASSIFICAÇÃO PARA RECEPTAÇÃO CULPOSA
- POSSIBILIDADE - ÔNUS DA ACUSAÇÃO A DEMONSTRAÇÃO DO
CONHECIMENTO DA ORIGEM ILÍCITA DO BEM - REVISÃO DA
DOSIMETRIA - BIS IN IDEM - OCORRÊNCIA - PEDIDO RECURSAL PARA
REDUÇÃO DA PENA QUANTO AO ART. 33, § 4º, DA LEI DE DROGAS -
IMPOSSIBILIDADE - PROVAS DEMONSTRAM A HABITUALIDADE
DELITIVA E A PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA -
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 5ª
C.Criminal - AC - 1586474-9 - Piraquara - Rel.: Luiz Osorio Moraes Panza -
Unânime - - J. 15.12.2016)
(TJ-PR - APL: 15864749 PR 1586474-9 (Acórdão), Relator: Luiz Osorio Moraes
Panza, Data de Julgamento: 15/12/2016, 5ª Câmara Criminal, Data de Publicação:
DJ: 1956 25/01/2017)”

Bem como na receptação culposa, quanto no caso em questão, ambas


registram a ausência de cuidado no tocante à origem da coisa, que possivelmente
tenha origem criminosa, mas a pessoa preferiu ignorar.

Isto posto, é devida a reforma da sentença para a desclassificação do crime,


para que seja imputado ao cidadão o delito tipificado no art. 180, § 3º, do Código
Penal.

V – DA POSSIBILIDADE DE PERDÃO JUDICIAL – ART. 180, § 5º, DO


CÓDIGO PENAL

Conforme disposto no art. 180, § 5º, do Código Penal, sendo o réu


primário, pode o juiz, levando em consideração as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena, pedido esse formulado em alegações finais e indeferido na
respeitável sentença.

Observa-se, que o acusado, $[geral_informacao_generica], apesar de


possuir um processo na 32º Vara Criminal da Comarca
de$[geral_informacao_generica], era, no momento dos fatos, e continua sendo
primário, tendo em visto que este não possui nenhuma condenação.

Acerca das circunstâncias, por sua vez, verifica-se que o acusado estava
prestando um favor para um conhecido de seu antigo bairro, que lhe ofereceu
uma quantia de R$ 200,00 para conduzir o veículo, e este por necessidades
aceitou prestar o favor, inclusive convidou sua prima para acompanhá-lo. Não
pode o acusado sofrer uma consequência severa por tentar colocar comida dentro
de casa.

Isto posto, é devida a reforma da sentença para a concessão do perdão


judicial, extinguindo a punibilidade, ao caso em tela, nos termos do art. 180, § 5º,
do Código Penal.

VI – TESES SUBSIDIÁRIAS

A) Da substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de


direitos – art. 44, I, do Código Penal

Dos fatos narrados, verifica-se que o Acusado faz jus ao benefício da


substituição da pena restritiva de liberdade pela pena restritiva de direito,
conforme autoriza o art. 44, I, do Código Penal.

A pena-base foi fixada no mínimo legal, ausentes a violência e a grave


ameaça, uma vez que estes não fazem parte da praticada do crime de receptação,
e ao tempo dos fatos o cidadão acusado era e continua sendo réu primário.

Diante desta situação, é devida a reforma da sentença para a substituição


da pena de reclusão pela restritiva de direitos, nos termos do art. 44, I, do Código
Penal.
VII – DOS PEDIDOS

Sendo assim, considerando as razões acima deduzidas, requer a Defesa


CONHECIMENTO e PROVIMENTO da apelação para ABSOLVER o acusado,
com fulcro no artigo 386, VII, do Código Penal, ou, caso assim não entendam
Vossas Excelências, seja então deferida a desclassificação para a modalidade
culposa nos termos do artigo 180, § 3º do Código Penal, o perdão judicial nos
termos do artigo 180, § 5º do Código Penal, e consequentemente a substituição
da pena de reclusão a pena restritiva de direitos.

Nestes termos,
Pede deferimento.

$[advogado_cidade] $[geral_data_extenso].

$[advogado_assinatura]

Você também pode gostar