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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE BELA VISTA DE GOIÁS, ESTADO DE GOIÁS.

Autos nº 201502925715

Processo nº 0292571-07.2015.8.09.0017

ADRIANO ELOI GUIMARÃES, já devidamente qualificado na ação penal


incurso neste juízo, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por
meio de seu Advogado nomeado que a esta subscreve, apresentar
CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO interposto pelo Ministério
Público.

Termos em que,

Com as inclusas contrarrazões,

Pede deferimento.

Local, data.

__________
ADVOGADO
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) DESEMBARGADOR(A)
PRESIDENTE(A) DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS.

Processo Originário nº 0292571-07.2015.8.09.0017

COLENDA CÂMARA CRIMINAL

NOBRES DESEMBARGADORES

ÌNCLITO PROCURADOR DE JUSTIÇA

ADRIANO ELOI GUIMARÃES, já devidamente qualificado na ação penal


incurso neste juízo, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por
meio de seu Advogado nomeado que a esta subscreve, apresentar
CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO interposto pelo Ministério
Público, nos exatos termos do artigo 600 do Código de Processo Penal, ante os
fatos e fundamentos a seguir expostos:

DOS FATOS

ADRIANO ELOI GUIMARÃES foi condenado pela Vara Criminal da


Comarca de Bela Vista de Goiás a pena de 3 (três) anos e 06 (seis) meses, além de
100 (cem) dias-multa, em regime aberto, pela suposta prática delitiva tipificada no
artigo 155, §4º, inciso I do Código Penal (furto qualificado).

Todavia, o Ministério Público, inconformado, interpôs recurso de Apelação


Criminal requerendo a alteração da reprimenda imposta, discordando, por
conseguinte, da dosimetria da pena imposta pelo juízo a quo na Respeitável
Sentença penal condenatória.

O Ministério Público em suas razões recursais, requereu a reforma da


Respeitável Sentença na parte que trata da dosimetria da pena referente ao crime
pelo qual o Apelado foi condenado que deixou de considerar circunstâncias
preponderantes, alegando, em síntese, que se deve haver uma valoração negativa
nas seguintes circunstâncias: culpabilidade, antecedentes, circunstâncias do crime e
nas consequências do crime, alterando a pena para 05 (cinco) anos de reclusão, em
regime fechado.

DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Data vênia, não assiste razão ao órgão ministerial em seu pleito de


alteração da reprimenda imposta. A pena imposta pelo magistrado, tal como foi
fixada não merece qualquer alteração, devendo a Respeitável Sentença ser mantida
in totum.

No tocante às circunstâncias do crime, estão previstas no artigo 59 do


Código Penal, vejamos:

Art. 59- O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta


social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
I - As penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - A quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - O regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - A substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie
de pena, se cabível.
Critérios especiais da pena de multa

Assim, sobre a circunstância da CULPABILIDADE, o Ministério Público


alegou que ela deveria ser valorada negativamente pelo fato de que a suposta
conduta do Apelado ter extrapolado os limites do tipo penal, por ter ocorrido uma
suposta premeditação do crime.

Ocorre que jamais Adriano Eloi Guimarães extrapolou os limites do tipo


penal, tampouco agiu de forma premeditada na consumação do ato delitivo, tendo
sua suposta conduta enquadrada limite da culpabilidade, conforme demonstrado em
seu depoimento de fls. 10-11, ele supostamente só informou ao James, por
frequentemente pescar perto do local, que a propriedade e sabia que ali havia
alguns bezerros e que essa propriedade não tinha vigilância. Ademais, na data do
fato, ele somente ajudou a fechar os gados no curral, enquanto James e Lucas
buscavam o caminhão para transportá-los.

Assim, verifica-se que o Apelado, em esporádica autoria delitiva, deverá


ser considerado um mero partícipe dela, haja vista que a idealização do crime, o seu
planejamento, o transporte e a venda dos gados foi exclusivamente de autoria e
responsabilidade de James e Lucas.

Sobre a circunstância culpabilidade, o autor TELES. Ney Moura. (em


Direito penal: parte geral. 2ª edição, Volume I, São Paulo: Atlas, 2006, página 360-
362), dispõe:

Os comportamentos humanos são valoráveis e merecem graus diferentes


de censura, de reprovação. Assim, tem-se que cada delito praticado é, sem
dúvidas, graduável, mensurável. Por isso, ao comparar crimes entre si,
pode-se concluir que um foi praticado de maneira mais repugnante do que
outro, motivo pelo qual o autor do crime mais repugnante deverá obter uma
pena exasperada em relação ao agente do delito menos repugnante.

Significa dizer que a culpabilidade como medida da pena é o grau de


censura atribuível ao autor do crime.

Vale mencionar também o entendimento do autor BITENCOURT, Cezar


Roberto. (em Código Penal Comentado. 9ª edição, São Paulo: Saraiva, 2015, página
298): “Impõe-se que se examine aqui a maior ou menor censurabilidade do comportamento do
agente, a maior ou menor reprovabilidade do comportamento praticado”.

O autor DELMANTO, Celso et al. (em Código Penal Comentado. 8º


edição, São Paulo: Saraiva, 2010, página 273), também dispõem:

"[...] deve-se aferir o maior ou menor índice de reprovabilidade do agente


pelo fato criminoso praticado, não só em razão de suas condições pessoais,
como também em vista da situação de fato em que ocorreu a indigitada
prática delituosa, sempre levando em conta a conduta que era exigível do
agente, na situação em que o fato ocorreu."

Ademais, nas lições do autor CAPEZ, Fernando. (em Curso de Direito


Penal, parte geral, volume 1, parte geral. 15º edição, São Paulo: Editora Saraiva,
2011, página 365-366), o instituto da Participação pode ser entendido como:
[...] partícipe é quem concorre para que o autor ou coautor realizem a
conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo,
concorre de algum modo para a produção do resultado. Assim, no exemplo
citado acima, pode-se dizer que o agente que exerce vigilância sobre o local
para que seus comparsas pratiquem o delito de roubo é considerado
partícipe, pois, sem realizar a conduta principal (não subtraiu, nem
cometeu violência ou grave ameaça contra a vítima), colaborou para que os
autores lograssem a produção do resultado.

Seguindo essa linha de raciocínio, a jurisprudência afasta a coautoria,


substituindo pela modalidade de partícipe, quando o agente não praticou a conduta
principal, vejamos:

Recurso de apelação criminal. Furto qualificado. Rompimento de obstáculo


e concurso de pessoas. Recurso ministerial. Quanto apelado pleiteia a
condenação por furto qualificado coautor parcial. Provimento-provas de
participação no crime de furto. Condenação. Prestou auxilio. Figura do
participe teoria do domínio do fato.
Conforme depoimentos dos autos existem provas da participação do
Apelado, no entanto, não como coautor e sim como participe de acordo com
a Teoria do Domínio do Fato, em que não praticou o fato principal (o furto),
mas favoreceu a prática do delito prestando o auxílio (vigiar a rua).
Quanto ao apelado Ednaldo alegada valoração incorreta das circunstâncias
judiciais-consideração da confissão pena irrisória qualificadoras não
valoradas com profundidade-decisão fundamentada pena suficiente para
prevenção e reprovação do crime regime inicial adequado- possibilidade de
conversão em restritiva de direitos requisitos legais preenchidos recurso
nesta parte improvido.
Sendo a pena aplicada devidamente fundamentada, e suficiente para
prevenção e reprovação do crime se deve mantê-la incólume. O regime
inicial de cumprimento aberto deve ser estabelecido quando a quantidade
de pena aplicada for inferior a 04 (quatro) anos de reclusão, não reincidente,
e as circunstancia judiciais forem favoráveis o que é o caso dos autos.
Preenchidos os requisitos do artigo 44 do Código Penal a substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos é medida que de impe.
(TJ-MT, APL: 0086015-14.2008.8.11.0000, Relato: Desembargador Juvenal
Pereira da Silva, Data de Julgamento: 01/12/2009, 1ª Câmara Criminal,
Data de Publicação: 10/12/2008) (grifo nosso) Extraído do site JusBrasil,
endereço eletrônico
(https://tj-mt.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/327920573/apelacao-apl-
860151420088110000-86015-2008. Acesso em 06/11/2021, às 08:00 horas)

Isto posto, a participação pode ser entendida como a ajuda do agente,


que sem praticar o núcleo do verbo normativo, concorre para a prática do fim ilícito
almejado, evidencia-se, portanto, que o Apelado não extrapolou ao tipo penal,
considerando que atuou apenas como partícipe e não na modalidade coautora,
como informa o Ministério Público.

Assim, a culpabilidade do Apelado deverá ser neutra, bem como


corretamente valorada pelo juízo a quo, pelo fato de sua participação enquanto
partícipe ser de menor importância.
No que se refere aos ANTECEDENTES do Apelado, nota-se que o
Ministério Público alegou em suas razões recursais que deve ser negativa pelo
trânsito em julgado de duas sentenças penais condenatórias em desfavor do
Apelado no curso da ação penal em discussão.

Ocorre que em momento algum restou devidamente comprovado essa


antecedência criminal, pelo fato que jamais foi apresentado nos autos do processo
em epígrafe as certidões narrativa criminal dos supostos processos em que se teve
a sua condenação.

No que se refere a esta temática, o autor DELMANTO, Celso. (em Código


Penal Comentado. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 110), dispõe: “São os fatos
anteriores de sua vida, incluindo-se tanto os antecedentes bons como os maus. Serve este
componente especialmente para verificar se o delito foi um episódio esporádico na vida do sujeito ou
se ele, com frequência ou mesmo habitualmente, infringe a lei”.

Vale mencionar também o entendimento do autor BITTENCOURT,


Cézar. (em Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2004, 212), acerca da
temática:

A finalidade desse modulador, como os demais constantes do art. 59, é


simplesmente demonstrar a maior ou menor afinidade do réu com a prática
delituosa. Admitir certos atos ou fatos como antecedentes negativos não
significa uma “condenação” ou simplesmente uma violação do princípio
constitucional de “presunção de inocência”, como alguns doutrinadores e
parte da jurisprudência têm entendido. Não nos parece a melhor corrente,
embora respeitável, o entendimento de que “inquéritos instaurados e
processos criminais em andamento”, “absolvições por insuficiência de
provas”, “prescrições abstratas, retroativas e intercorrentes” não podem ser
consideradas como “maus antecedentes”, porque violaria a presunção de
inocência. Com efeito, ao serem admitidos como antecedentes negativos,
não encerram novo juízo de censura, isto é, não implicam condenação; caso
contrário, nos outros processos, nos quais tenha havido condenação, sua
admissão como “maus antecedentes” representaria uma nova condenação,
o que é inadmissível. A persistir esse entendimento mais liberal, restariam
como maus antecedentes somente as condenações criminais que não
constituam reincidência. E, se essa fosse a intenção do ordenamento
jurídico, em vez de referir-se “aos antecedentes”, ter-se-ia referido “às
condenações anteriores irrecorríveis.

O autor GRECO, Rogério. (Em Código Penal Comentado. Rio de Janeiro:


Impetus, 2008), também leciona sobre a matéria, vejamos:

Os antecedentes dizem respeito ao histórico criminal do agente que não se


preste para efeitos de reincidência. Entendemos que, em virtude do
princípio constitucional da presunção de inocência, somente as
condenações anteriores com trânsito em julgado, que não sirvam para forjar
a reincidência, é que poderão ser consideradas em prejuízo do sentenciado
(...).

Compartilha também desse entendimento o Tribunal de Justiça do


Paraná, vejamos:

Furto consumado. Pena base fixada corretamente. Maus antecedentes.


Regime aberto. Aplicação da regra inserta no art. 33, § 2º, alínea “c” do
Código Penal. Condenação inferior a quatro anos e não reincidência.
Recurso parcialmente provido.
O crime de furto se aperfeiçoa quando ocorre a inversão da posse da
res pelo agente tendo ele a detenção tranquila da coisa, mesmo que
por breve espaço de tempo. Antecedentes são todos os fatos ou
episódios da vida anteacta do réu, próximos ou remotos, que possam
interessar de qualquer modo, à avaliação subjetiva do crime. Tanto os
maus e os péssimos, como os bons e os ótimos. Em primeiro lugar,
deve-se ter em conta os antecedentes policiais e judiciais, mas
levando-se em conta, também, o comportamento social do réu, sua
vida familiar, sua inclinação ao trabalho e sua conduta contemporânea
e subsequente à ação criminosa, para então qualifica-los de bons ou
maus. As circunstâncias judicias, nos moldes da regra do art. 33, § 3º,
do Código Penal , não demonstram tamanha periculosidade do réu que
justifique a pena cominada em quantidade inferior a quatro anos seja
cumprida em regime semi-aberto.
(TJ-PR, APL: ACR 306.791-6/PR, Relator: Marcus Vinicius de Lacerda
Costa, Data de Julgamento: 17/11/2005, 5ª Câmara Criminal, Data de
Publicação: 07/12/2005) (grifo nosso) Extraído do site JusBrasil, endereço
eletrônico (https://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6339489/apelacao-
crime-acr-3067916-pr-0306791-6/inteiro-teor-12460588. Acesso em
04/11/2021, às 17:00 horas).

Antecedentes criminais desabonadores necessidade de certidão acostada


aos autos apontando o trânsito em julgado antes da prolação da sentença.
Temerária verificação através de consulta processual ao sistema. Embargos
infringentes acolhidos. Ementa: embargos infringentes. Comprovação dos
antecedentes criminais desabonadores. Necessidade de certidão acostada
aos autos apontando o trânsito em julgado antes da prolação da sentença.
Temerária verificação através de consulta processual ao sistema. Embargos
infringentes acolhidos. Ementa: embargos infringentes. Comprovação dos
antecedentes criminais desabonadores. Necessidade de certidão acostada
aos autos apontando o trânsito em julgado antes da prolação da sentença.
Temerária verificação através de consulta processual ao sistema. Embargos
infringentes acolhidos. Ementa: embargos infringentes. Comprovação dos
antecedentes criminais desabonadores necessidade de certidão acostada
aos autos apontando o transito em julgado antes da prolação da sentença.
Temerária verificação através de consulta processual ao sistema. Embargos
infringentes acolhidos.
A comprovação do trânsito em julgado para as partes de condenações
por fato anterior, requisito essencial para a configuração desfavorável
dos antecedentes criminais, deve ser extraída de certidão acostada
aos autos antes da prolação da sentença e não mediante consulta
processual no sistema. V.V Se o apelante possui condenações, por
fatos posteriores, cuja carta de guia já foi expedida para a VEC, estas
devem ser tidas para macular seus antecedentes.
(TJ-MG, Emb. Infring. e de Nulidade: 1742092-46.2008.8.13.0056, Relator:
Rubens Gabriel Soares, Data de Julgamento: 25/02/2014, Câmaras
Criminais/6ª Câmara Criminal, Data de Publicação: 06/03/2014) (grifo
nosso) Extraído do site JusBrasil, endereço eletrônico (https://tj-
mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/937835294/emb-infring-e-de-nulidade-
10056081742092002-barbacena. Acesso em 04/11/2021, às 18:00 horas).

Penal. Habeas corpus. Concussão. Policiais. Dosimetria da reprimenda.


Necessidade de motivação das decisões. Ausência de consideração de
todas as circunstâncias judiciais. Reincidência não-comprovada por certidão
cartorária judicial ordem parcialmente conhecida e parcialmente concedida.
1. As decisões judiciais devem ser cuidadosamente fundamentadas,
principalmente na dosimetria da pena, em que se concede ao Juiz um
maior arbítrio, de modo que se permita às partes o exame do exercício
de tal poder. 2. Reincidência não-comprovada por certidão cartorária
judicial não pode ser considerada para fins de fixação da pena.
3. Ordem parcialmente conhecida e nesta extensão concedida para
anular parcialmente o acórdão e a decisão de primeiro grau, no que se
refere à dosimetria das penas, fixando-se novo regime de
cumprimento; e para excluir a agravante da reincidência aplicada a um
dos pacientes.
(STJ, HC: 0074732-87.20053.00.0000, Relator: Ministra Jane Silva, Data de
Julgamento: 22/04/2008, 6ª Turma, Data de Publicação: 12/05/2008) (grifo
nosso) Extraído do site Jusbrasil, endereço eletrônico
(https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/602591/habeas-corpus-hc-43930-
rj-2005-0074732-8. Acesso em 04/11/2021, às 18:00 horas)

Portanto, é impossível que o considere a antecedência desfavorável pelo


fato de não haver provas suficientes nos autos do processo em epigrafe da
existência destas sentenças penais condenatórias em desfavor do Apelado,
devendo esta continuar sendo considerada neutra, como corretamente entendeu o
juízo a quo.

No tocante ao quesito CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME, o Ministério


Público alegou em suas razões que estas possuem peso negativo pelo fato de que o
delito foi praticado com rompimento de obstáculo, vez que supostamente um
cadeado foi arrombado para a prática do furto dos gados.

Ocorre que, em momento algum foi trabalhado e comprovado dos autos


do processo em epígrafe o rompimento de obstáculo no 1ª grau de jurisdição, não
podendo de forma alguma em sede recursal haver o recebimento e análise de novas
provas que anteriormente não haviam sido discutidas, por impossibilitar o pleno
exercício do contraditório e da ampla defesa, não tendo, portanto, o seu devido
processo legal, sendo que a última oportunidade para esse feito seria em sede de
memoriais.

Sobre os princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla


defesa, o artigo 5º, incisos LIV e LV, da Constituição Federal dispõe:
Art. 5º- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes [...].

Nessa ótica, segundo o autor AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. (em


Processo penal: esquematizado, 6ª edição, Rio de Janeiro: Forense, São Paulo:
Método, 2014), este princípio assegura: “às partes […] serem cientificadas de todos os atos e
fatos havidos no curso do processo”, permitindo-lhes “manifestar-se e produzir as provas necessárias
antes de ser proferida a decisão jurisdicional”.

O autor NUCCI, Guilherme de Souza. (em Manual de processo penal e


execução penal, 13ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 2016), também dispõem
acerca da temática:

A toda alegação fática ou apresentação de prova, feita no processo por uma


das partes, tem o adversário o direito de se manifestar, havendo um perfeito
equilíbrio na relação estabelecida entre a pretensão punitiva do Estado e o
direito à liberdade e à manutenção do estado de inocência do acusado (art.
5º, LV, CF).

O autor PACELLI, Eugênio. (em Curso de processo penal. 21ª edição,


São Paulo: Atlas, 2017, página 37-38), lesiona:

[...]da perspectiva da teoria do processo, o contraditório não pode ir além


da garantia de participação” no processo penal para que, assim, haja a
garantia de que a parte, neste contexto a defesa, possa “impugnar […] toda
e qualquer alegação contrária a seu interesse”, sem “maiores indagações
acerca da concreta efetividade com que se exerce aludida impugnação.
[...]
Este princípio é um verdadeiro requisito de validade do processo, na medida
em que a sua não observância é passível até de nulidade absoluta, quando
em prejuízo do acusado.

Dessa forma, consagra-se a exigência de um processo formal e regular,


realizado nos termos de previsão legal, impedindo que a Administração Pública tome
qualquer medida contra alguém, atingindo os seus interesses, sem lhe proporcionar
o direito ao contraditório e a ampla defesa.

O contraditório se refere ao direito que o interessado possui de tomar


conhecimento das alegações da parte contrária e contra eles poder se contrapor,
podendo, assim, influenciar no convencimento do julgador. A ampla defesa, por
outro lado, confere ao cidadão o direito de alega, podendo se valer de todos os
meios e recursos juridicamente válidos, vedando, por conseguinte, o cerceamento
do direito de defesa.

Nesse interim, em análise do presente caso, verifica-se o surgimento de


uma nova tese sem sede recursal não arguida em 1ª instância, fere gravemente os
princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa garantidos
ao Apelado, ocorrendo a falta de oportunidade para que ele exerça plenamente seu
contraditório e sua defesa por ser um fato que não se estava esperando no
processo, haja vista que nada havia mencionado anteriormente em 1ª grau, que, por
si só, compromete o devido processo penal.

No tocante às circunstâncias do crime, vale mencionar o conceito


apresentado pelo autor SCHMITT, Ricardo Augusto. (em Sentença penal
condenatória: teoria e prática. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2013, página 136),
vejamos:

Trata-se do modus operandi empregado na prática do delito. São elementos


que não compõem o crime, mas que influenciam em sua gravidade, tais
como o estado de ânimo do agente, o local da ação delituosa, o tempo de
sua duração, as condições e o modo de agir, o objeto utilizado, a atitude
assumida pelo autor no decorrer da realização do fato, o relacionamento
existente entre autor e vítima, dentre outros.
Não podemos nos esquecer, também aqui, de evitar o bis in idem pela
valoração das circunstâncias que integram o tipo ou qualificam o crime, ou,
ainda, que caracterizam agravantes ou causas de aumento de pena.

Assim, as circunstâncias do crime são os fatores de tempo, lugar, modo


de execução, excluindo-se aqueles previstos como circunstâncias legais.

Compartilha desse entendimento o Tribunal de Justiça do Estado de


Pernambuco:

Embargos de declaração. Apelação criminal. Crime de furto. Ambiguidade.


Contradição. Obscuridade. Omissão. Inocorrência. Inovação recursal. Tese
nova não alegada em sede de apelação-inadmissibilidade. Embargos de
declaração rejeitados. Decisão unânime.
I- 0 cabimento dos embargos de declaração em matéria criminal está
disciplinado no artigo 619 do Código de Processo Penal, sendo que a
inexistência dos vícios ali consagrados implica a rejeição da pretensão
aclaratória.
II - Matéria não suscitada anteriormente, por representar inovação
recursal e ofensa ao princípio do contraditório, não pode ser debatida
em sede de embargos declaratórios.
(TJ-PE, ED: 0001233-98.2013.8.17.0140, Relator: Antônio Carlos Alves da
Silva, Data de Julgamento: 07/08/2019, 2ª Câmara Criminal, Data de
Publicação: 19/08/2019) (grifo nosso) Extraído do site JusBrasil, endereço
eletrônico (https://tj-pe.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/746177725/embargos-
de-declaracao-criminal-ed-4341166-pe. Acesso em 05/11/2021, às 23:00
horas).

No tocante as CONSEQUÊNCIAS DO CRIME o Ministério Público


manifestou que deve ser valorada negativamente pelo fato de ocorrer a difusão na
população campesina de um sentimento de maior insegurança e também por
algumas cabeças de gado não terem sido recuperadas pela vítima.

Ocorre que o crime de furto apresenta consequências fixadas na


legislação em relação ao patrimônio da vítima, isto é, ao patrimônio privado. Nesse
sentido, o crime de furto é crime que protege o patrimônio privado, não sendo crime
contra a coletividade.

No que se refere ao crime de furto, o artigo 155, § 4º, inciso IV


do Código Penal, dispõe:

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
[...]
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é
cometido:
I - Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - Com emprego de chave falsa;
IV - Mediante concurso de duas ou mais pessoas [...]

O autor Fernando de Almeida Pedroso (Direito Penal. Parte


Especial. Doutrina e Jurisprudência. 2ª Edição. São Paulo: JHMizuno, 2017, página
474), leciona o seguinte entendimento:

Sujeito passivo é o titular do bem jurídico penalmente tutelado. Nesse


aspecto, tanto a pessoa natural como a pessoa jurídica, esta também
detentora de direitos, podem figurar na posição de vítimas (v. n. 1.9). É
irrelevante, no entanto, para o aperfeiçoamento jurídico do furto, a
identificação da vítima. Basta a comprovação de serem alheias em relação
ao agente as coisas de que ele se apoderou. Isso porque o legislador
protege o patrimônio das pessoas, em geral, não o de alguém, em
particular. Portanto, a questão de saber quem é o proprietário não é
fundamental.

Ao afirmar que o crime de furto gerou insegurança na sociedade, o


Ministério Público apresenta um fundamento que gera decretação de prisão
preventiva e que não tem nenhuma relação com dosimetria da pena. Ademais,
apesar de algumas cabeças de gado terem sido perdidas, a sua grande maioria
foram devolvidas para vítima.
Assim, as consequências do crime devem ser mantidas como o juízo a
quo interpretou, qual seja, considerando-a neutra.

O Ministério Público adotou como parâmetro de fixação da pena base o


critério do 1/8 (um oitavo), fazendo a incidir sobre o intervalo de pena em abstrato do
preceito secundário do crime de furto qualificado (6 anos), resultará no acréscimo de
9 meses à pena, para cada circunstância desfavorável, requerendo, portanto, o
aumento da pena do Apelado para 5 (cinco) anos de reclusão.
Ocorre que, esse parâmetro de fixação da pena-base é uma construção
jurisprudencial que não tem aplicação na lei penal e a sua aplicação é divergente e
não uniforme, o que por si só, é uma afronta ao princípio da legalidade previsto pela
no artigo 5º, inciso II da Constituição Federal, vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
II - Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei [...].

O princípio da legalidade é uma das bases da nossa Constituição, pois


protege o cidadão de ações abusivas do Estado. Isso porque, o princípio garante o
respeito à lei; o cidadão é livre se agir conforme a legislação e o Estado pode
apenas adotar condutas previstas em lei.
Assim, o princípio da legalidade garante que somente as leis podem criar
obrigações às pessoas, ou seja, o Estado, só pode exigir que você faça ou deixe de
fazer algo se essa exigência estiver escrita em uma lei.
Deste modo, somente poder-se-á punir um indivíduo pela ofensa à lei
penal se ela for precedida por norma que a incrimine. Aduz GRECO, Rogério
(em Curso de Direito Penal: Parte Geral. 12.ed. Niterói: Impetus, 2010, v. 1, p. 90.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/29142/o-principio-da-legalidade-no-direito-
penal/2>. Acesso em: 05 nov. 2021):

É o princípio da legalidade, sem dúvida, o mais importante do Direito Penal.


Conforme se extrai do art. 1º do Código Penal, bem como do inciso XXXIX
do art. 5º da Constituição Federal, não se fala da existência de crime se não
houver uma lei definindo-o como tal.
Corrobora com Greco, Alexandre Rezende da Silva (SILVA, Alexandre
Rezende da. (em Princípio da legalidade . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 63,
mar. 2003. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/29142/o-principio-da-
legalidade-no-direito-penal/2>. Acesso em: 05 nov. 2021):

As garantias que este princípio propicia ao cidadão também são uma forma
de segurança. Com a atividade estatal limitada aos mandames legais e com
o aumento crescente, absurdo até, da interferência do Estado na sociedade
civil, a previsibilidade de suas atitudes são da maior importância. Se o
cidadão não tiver um mínimo desta previsibilidade relativamente ao Estado,
estará vivendo uma situação absurda, em que um gigante pode invadir seu
quintal a qualquer momento com a força de um elefante e a astúcia de uma
raposa, vale dizer, viverá uma situação de angústia

Igualmente é compartilhado o mesmo entendimento pelo Superior


Tribunal de Justiça:
Processo penal. Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário.
Orientação do stf: não conhecimento. Patente ilegalidade. Concessão de
ofício. Violação ao princípio da legalidade penal. Aplicação imediata de
norma processual penal material.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do habeas corpus,
abem de se prestigiar a lógica do sistema recursal. As hipóteses de
cabimento do writ são restritas, não se admitindo que o remédio
constitucional seja utilizado em substituição a recursos ordinários
(apelação, agravo em execução, recurso especial), tampouco como
sucedâneo de revisão criminal. O Supremo Tribunal Federal sufragou
entendimento de que: “A teor do disposto no artigo 102, inciso
II ,alínea a , da Constituição Federal , contra decisão, proferida em
processo revelador de habeas corpus, a implicar a não concessão da
ordem, cabível é o recurso ordinário” (HC 109956, Relator (a): Min.
MARÇO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 07/08/2012,
PROCESSOELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC 11-09-
2012). Assim, somente em casos de patente ilegalidade, é possível a
apreciação, de ofício, do writ substitutivo.
2. In casu, o constrangimento é flagrante, tendo em vista que, diante de
norma processual penal material, a disciplinar aspecto sensivelmente
ligado ao jus puniendi – natureza da ação penal- pretendeu-se aplicar o
primado tempus regit actum, art. 2.º do Código de Processo Penal, a
quebrantar a garantia inserta no Código Penal, de que a lex gravior
somente incide para fatos posteriores à sua edição. Como,
indevidamente, o Parquet ofereceu denúncia, em caso em que cabível
queixa, e, transposto o prazo decadencial de seis meses para o
ajuizamento desta, tem-se como fulminada a persecução penal.
3. Ordem não conhecida, expedido habeas corpus de ofício para trancar a
Ação Penal n.º 2009.001.245923-5, em trâmite perante a 28.ª ara Criminal
da Comarca da Capital/RJ.
(STJ-RJ, HC: 182714-2010/0153352-7, Relator: Ministra Maria Thereza de
Assis Moura, Data de Julgamento: 09/11/2012, 6º Turma Criminal, Data de
Publicação: 29/11/2012) (grifo nosso) Extraído do site JusBrasil, endereço
eletrônico (https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22819277/habeas-
corpus-hc-182714-rj-2010-0153352-7-stj/inteiro-teor-22819278. Acesso em
06/11/2021, às 08:55 horas).

Destarte, é necessário atentar para o cumprimento do princípio da


legalidade, buscando um mais rígido controle sobre a constitucionalização do
Processo Penal e sem dúvida refletir se tem contribuído para desenvolver os fins
sociais e democráticos do Estado.
Quanto aos critérios de partida para a fixação da pena-base, segundo o
raciocínio lógico do artigo 68 do Código Penal, a pena-base será fixada atendendo-
se ao critério do artigo 59, também do Código Penal.
Assim, o juízo a quo fixou corretamente a pena-base do Apelado,
devendo esta ser mantida em 3 (três) anos e 06 (seis) meses de reclusão, além de
100 (cem) dias-multa, em regime aberto.

Por fim, restando devidamente demonstrado que a culpabilidade, os


antecedentes, as circunstâncias do crime e as consequências do crime foram
analisadas corretamente pelo juízo a quo, que as definiu como neutras e a sua pena
foi inferior a 4 (quatro) anos, verifica-se que o regime de pena do Apelado deve ser
mantido a sua fixação no aberto.

Esse também é o entendimento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal,


vejamos:

Penal e processo penal. Apelação criminal. Tribunal do júri. Homicídio


duplamente qualificado. Erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena.
Regime aberto para o início de cumprimento de pena. Possibilidade.
1. Fixa-se o regime inicial aberto para o cumprimento da pena se a
reprimenda aplicada é de 4 anos de reclusão, o réu é primário, bem
como a pena-base foi fixada no mínimo legal, à luz da alínea c do § 2º
do art. 33 do Código Penal.
2.Recurso conhecido e parcialmente provido.
(TJ-DF – APR: 20110510069504, Relator: JOÃO BATISTA TEIXEIRA, Data
de Julgamento: 14/05/2015. 3ª Turma Criminal, Data de Publicação:
Publicada no DJE: 18/05/2015 – Pág. 121. Extraído do site https://tj-
df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/189287892/apelacao-criminal-apr-
20110510069504. Acesso em 06/11/2021, às 08:56 horas).

Assim, o apelo ministerial que manifesta pela alteração do regime inicial


de cumprimento para o fechado não deve ser prosperado.

DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer que o Recurso de Apelação interposto seja


conhecido e desprovido, mantendo in totum a sentença ora vergastada, a qual
condenou o Apelado a pena de 3 (três) anos e 06 (seis) meses, além de 100 (cem)
dias-multa, em regime inicial aberto.
Termos em que,
Com as inclusas contrarrazões,
Pede deferimento.

Local, data.

ACADÊMICOS:

Agnaldo Junio Rodrigues Quadros

Maria Creuza de Brito e Matos

Raquel Inácia Oliveira

Thaynara Fernanda Souto Lourenço

Wanessa Stéffany Pereira Soares

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