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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ACRE

Câmara Criminal
Acórdão nº 27.495
Apelação Criminal nº 0004264-29.2018.8.01.0001
Órgão : Câmara Criminal
Relator : Des. Samoel Evangelista
Revisor : Des. Pedro Ranzi
Apelante : Douglas dos Santos Araújo
Apelado : Ministério Público do Estado do Acre
Defensor Público : Rodrigo Almeida Chaves
Promotor de Justiça : José Ruy da Silveira Lino Filho
Procuradora de Justiça : Patrícia de Amorim Rêgo

Apelação Criminal. Roubo com causa de aumento de pena.


Corrupção de menor. Ocorrência de concurso material.

- A conduta autônoma do réu em praticar os crimes de roubo


com causa de aumento de pena na companhia de pessoa
menor de dezoito anos, configura o concurso material de
crimes.

- Recurso de Apelação Criminal improvido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos


da Apelação Criminal nº 0004264-29.2018.8.01.0001, acordam,à
unanimidade, os Membros que compõem a Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Estado do Acre, em negar provimento ao Recurso, nos termos do
Voto do Relator, que faz parte deste Acórdão.
Rio Branco, 1° de novembro de 2018

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Câmara Criminal

Des. Samoel Evangelista


Presidente e Relator

Relatório - O Juiz de Direito da 4ª Vara


Criminal da Comarca de Rio Branco, condenou o apelante Douglas dos
Santos Araújo à pena de seis anos e quatro meses de reclusão, em regime
inicialmente semiaberto, além do pagamento de quarenta e três dias multa,
pela prática dos crimes previstos nos artigos 157, § 2º, inciso II, do Código
Penal e 244-B, da Lei nº 8.069/90, com a incidência da regra do concurso
material.
O Recurso tem como objetivo a reforma
da referida Sentença. Nele o apelante postula a incidência da regra do
concurso formal de crimes. Prequestiona dispositivos infraconstitucionais.
O Ministério Público do Estado do Acre
apresentou as suas contrarrazões subscritas pelo Promotora de Justiça José
Ruy da Silveira Lino Filho, nas quais rebate os argumentos do apelante e
postula a manutenção da Sentença.
A Procuradora de Justiça Patrícia de
Amorim Rêgo subscreveu Parecer opinando pelo improvimento do Recurso
de Apelação.
É o Relatório que submeti ao eminente
Revisor, com as minhas homenagens.

Voto - O Desembargador Samoel


Evangelista (Relator) - O apelante Douglas dos Santos Araújo foi
denunciado pela prática dos crimes previstos nos artigos 157, § 2º, inciso II, do

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Código Penal e 244-B, da Lei nº 8.069/90. Consta que no dia 26 de abril de
2018, nesta Cidade, em concurso com o adolescente Wesley Feitoza Silva,
mediante grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo, eles
subtraíram diversos bens móveis pertencentes a Thaylan Lopes da Silva. O
pedido contido na Denúncia foi julgado procedente.
Não há discussão sobre a autoria e a
materialidade dos crimes. O Recurso tem como objetivo a reforma da referida
Sentença. Nele o apelante postula que seja afastada a regra do concurso
material de crimes e que incida a regra do concurso formal, prevista no artigo
70, do Código Penal, quanto aos crimes de roubo com causa de aumento de
pena e corrupção de menor.
Na Sentença, o Juiz singular reconheceu
a existência de dois crimes - roubo com causa de aumento de pena e
corrupção de menor. Por essa razão, ele somou as penas aplicadas ao
apelante, que resultou na sua condenação definitiva em seis anos e quatro
meses de reclusão.
A jurisprudência perfilha o entendimento
no sentido de que os tipos penais em destaque são autônomos e distintos,
ainda que ocorram em um mesmo contexto fático, caso em que se configura o
concurso material de crimes.
O concurso material ou real de crimes
surge quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, devendo ser punido pela soma das respectivas penas. Adota-
se o sistema do cúmulo material, que é a soma das penas. O concurso
material pode ser homogêneo (prática de crimes idênticos) ou heterogêneo
(prática de infrações penais diversas).
Pois bem. Tenho que na hipótese dos
autos ocorreram duas ações. No primeiro momento houve a corrupção de
menor. Depois, o roubo com causa de aumento de pena. Frise-se que os

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momentos consumativos são diversos.
Assim, mediante mais de uma ação foram
praticados crimes de natureza diversa, violando dois bens jurídicos distintos, a
saber, a preservação da incolumidade moral do adolescente e o patrimônio da
vítima.
Isto é. Não precisaria ter ocorrido o crime
de roubo com causa de aumento de pena para que o de corrupção de menor
se consumasse, tendo em vista que este último é de natureza formal, sendo
irrelevantes as consequências externas e futuras do evento. Assim, basta para
a sua configuração, indicativos do envolvimento do adolescente na companhia
do agente imputável, na prática de crimes.
A Terceira Seção do Superior Tribunal de
Justiça, no Recurso Especial Representativo da Controvérsia nº 1.127.954,
firmou compreensão no sentido de que para a configuração do crime previsto
no artigo 244-B, da Lei nº 8.069/90, não é necessária a prova da efetiva e
posterior corrupção do menor, bastando a comprovação da participação do
inimputável em prática delituosa, na companhia de maior de dezoito anos.
"Para a configuração do crime de corrupção de menores, atual
artigo 244-B, do Estatuto da Criança e do Adolescente, não se
faz necessária a prova da efetiva corrupção do menor, uma
vez que se trata de delito formal, cujo bem jurídico tutelado
pela norma visa, sobretudo,a impedir que o maior imputável
induza ou facilite a inserção ou a manutenção do menor na
esfera criminal.
- Recurso Especial provido para firmar o entendimento no
sentido de que, para a configuração do crime de corrupção de
menores (art. 244-B do ECA), não se faz necessária a prova
da efetiva corrupção do menor, uma vez que se trata de delito
formal; e, com fundamento no artigo 61 do CPP, declarar

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extinta a punibilidade dos recorridos Célio Adriano de Oliveira
e Anderson Luiz de Oliveira Rocha, tão somente no que
concerne à pena aplicada ao crime de corrupção de menores"
(STJ, Terceira Seção, Recurso Especial nº 1.127.954, Relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze).
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios assim decidiu:
“Penal e Processual Penal. Roubo circunstanciado e corrupção
de menor. Pretensão à absolvição por insuficiência de provas.
Confissão inquisitorial renegada em juízo. Reconhecimento do
réu pela vítima. Valor probante. Prova satisfatória da autoria e
materialidade. Concurso material entre roubo e corrupção de
menor.
[...]
O concurso de crimes entre roubo e a corrupção do menor que
dele participa, configura o concurso material e subsequente
soma das penas para os dois crimes imputados ao réu. O
simples fato de induzir o adolescente e levá-lo a participar da
ação criminosa por si só esgota a tipicidade do art. 1º da Lei
2.252/54. Daí em diante, levá-lo ao local do crime para juntos
praticarem a conduta incriminadora configura outra conduta
autônoma e independente em relação à primeira, acarretando
a incidência da regra do art. 69 do Código Penal. Mesmo que a
conduta de corromper ocorra no mesmo instante daquela de
subtrair, haveria concurso formal impróprio, haja vista a
presença de desígnios autônomos: um voltado para o ataque
ao patrimônio, e outro que atenta contra o desenvolvimento
salutar do caráter e da personalidade do adolescente, bem
jurídico tutelado pelo crime de corrupção de menor. A

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caracterização do concurso formal impróprio implicaria o
cúmulo material das penas, consoante o art. 70 do Código
Penal, parte final”. (TJDF, Primeira Turma Criminal, Apelação
Criminal nº 20080910000544, Relator Desembargador George
Lopes Leite).
Assim, a Sentença foi suficientemente
fundamentada com os elementos existentes nos autos, a qual deve ser
mantida por essa Câmara Criminal.
Com esses fundamentos nego
provimento ao Recurso.

Decisão

Certifico que a Câmara Criminal proferiu a


seguinte Decisão:
“Recurso improvido. Unânime”.
Da votação participaram os
Desembargadores Samoel Evangelista - Presidente e Relator -, Pedro Ranzi
e Elcio Mendes. Procuradora de Justiça Giselle Muabrac Detoni.

Bel. Eduardo de Araújo Marques


Secretário

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