Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BRASILEIRO
INTRODUÇÃO
Segundo Fakiani (2021), o instituto referente aos bens de família é assim instituído
objetivando dar proteção e asilo ao núcleo familiar em face de impenhora e execução forçada
de débitos estranhos ao bem em si – como, por exemplo, a dívida contraída pelo uso sem
parcimônia do cartão de crédito do titular do imóvel da família. Conforme salienta a autora:
“O instituidor é o próprio Estado, que impõe o bem de família, por norma de ordem pública,
em defesa da célula familiar.” (2021, p. 1). Esse instituto é considerado como um direito
fundamental ligado à noção de mínimo existencial, ou seja, o conjunto de bens e serviços
imprescindíveis a uma vida minimamente digna, ao princípio da dignidade da pessoa humana
e ao direito à habitação, além do fato de que a Constituinte concebe o núcleo familiar como a
base da sociedade e como tal deve ser protegida. (HAAS, 2021).
Vê-se que os bens familiares existem no ordenamento jurídico com o intuito central
de dar proteção social e econômica ao núcleo familiar o qual não necessariamente engloba o
casal e sua prole. Nesse sentido, como veremos no tópico posterior, a interpretação do que
vem a ser família é extensiva e vai além do entendimento tradicional dado à célula familiar
como sendo aquela que se limita ao universo do casal heteronormativo, isto é, os cônjuges e
seus filhos.
Conceitua-se bem de família como sendo o imóvel, urbano ou rural, utilizado como
domicílio pela família e/ou do qual a família extraí sua subsistência, sobretudo no caso da
propriedade rural familiar, de modo a garantir o mínimo vital à entidade familiar e protegê-lo
de ser alienado ou impenhorado. De acordo Brigato e Ceccato (2016, p. 32) “[…] o bem de
família constitui-se em uma porção de bens que a lei resguarda com as características de ser
inalienável e impenhorável, em benefício da constituição e permanência de uma moradia para
a família.”
Conforme preceitua Fakiani (2021), o instituto que busca dar amparo legal aos bens
de família é algo recente no direito nacional. O diploma civilista de 1916 (Lei nº 3071 de
1916), promulgado no período da Primeira República, previa a existência desses bens,
conceituando-os em capítulo próprio (capítulo V do Título Único do Livro II) e os eximindo
de execuções no seu artigo 70, in verbis: “É permitido aos chefes de família destinar um
prédio para domicilio desta, com a cláusula de ficar isento de execução por dividas, salvo as
que provierem de impostos relativos ao mesmo prédio.” (BRASIL, 1916). Interessante
ponderar que a isenção de que tratava tal dispositivo legal não abarcava as dívidas anteriores
à aquisição do bem, mas apenas as posteriores, se a aquisição do bem de família
impossibilitar o pagamento dessas dívidas pretéritas por parte do devedor, em conformidade
com o que estabelecia o parágrafo único do art. 71 desse antigo arcabouço legal. (BRASIL,
1916).
Outrossim, do ponto de vista histórico, o aludido instituto tem suas no direito
consuetudinário norte-americano, especialmente o texano. Em 1839, no estado americano do
Texas, à época designado “República do Texas”, antes de ser incorporado aos Estados Unidos
em 1845, estatuiu-se a chamada “Homestead Exemption Act” (ato/lei da isenção de bem de
família, em tradução literal), cujo ponto nevrálgico era proteger a pequena propriedade rural
familiar da possibilidade de ser penhorada em uma eventual execução por dívidas. Alega
Pires Neto ([s.d.], p. 1) que esse ato legal texano “assegurava à família garantia de
impenhorabilidade da pequena propriedade, pondo-a ao abrigo por débitos posteriores a sua
instituição, salvo os relativos a impostos do próprio prédio.”
Em breve síntese, Fakiani (2021) sintetiza o tratamento legal posterior ao Código
Civil de 1916 dado ao bem de família, colocando que dispositivos legais e infralegais, como
o Decreto-Lei nº 3200 de 1941, buscou impor um teto aos valores dos bens a serem
considerados de família. Entretanto, tal limitação de valores foi revogada pela “[…] Lei n.
6.742/ 1979, que possibilitou a isenção de penhora de imóveis de qualquer valor. Além disso,
referido decreto disciplinou os procedimentos necessários para a instituição voluntária e
extinção do bem de família.” (2021, p. 1).
Atualmente a Lei nº 10406 de 2002, o Código Civil, e a Lei nº 8009 de 1990 são as
principais normas infraconstitucionais que tratam sobre o instituto referido e de suas espécies,
além da própria Constituição Federal de 1988 consolidar o bem de família como direito
fundamental, ligado ao direito à habitação e ao princípio da dignidade da pessoa humana.
(HAAS, 2021).
CONCLUSÃO
Ao longo desta ponderação, viu-se que o instituto de bem de família possui diversos
pormenores disciplinados em lei, além de ser considerado um direito fundamental que
encontra guarida especialmente no artigo 5º, inciso XXVI, da Constituição Federal de 1988.
Explicitou-se que sua existência é recente e remonta ao direito consuetudinário norte-
americano e texano do século XIX, onde se objetivava proteger a pequena propriedade rural
da execução de certos tipos de débitos, passando por sua incorporação pelo Código Civil de
1916 até a sua atual configuração dada pela Lei nº 8009 de 1990 (bem de família
legal/involuntário) e pelos artigos 1711 a 1722 do Código Civil vigente atualmente
(convencional/voluntário).
Esse instituto é preponderante para salvaguardar o mínimo existencial do devedor e de
sua família, de forma que a sua insolvência não acarrete prejuízo à sua dignidade e da sua
família, sobretudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: DF,
2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.
Acesso em: 11 de mar de 2023;
_______. Lei nº 3071, de 1º de janeiro de 1926. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil.
Rio de Janeiro: RJ, 1916. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm. Acesso em: 11 de mar de 2023;
FAKIANI, Tania Haluli. Bem de família e suas exceções. In: Jus, 21 de jun de 2021.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/91413/bem-de-familia-e-suas-excecoes. Acesso em:
11 de mar de 2023
HAAS, Luiza Klein. O que é bem de família?. In: JusBrasil, 2021. Disponível em:
https://luizakhaas.jusbrasil.com.br/artigos/1195245739/o-que-e-o-bem-de-familia-artigo-
completo. Acesso em: 11 de mar de 2021;
PIRES NETO, Ari Álvares. Inovações do bem de família no novo Código Civil Brasileiro.
[s.d.]. Disponpivel em: https://www.irib.org.br/obras/inovacoes-do-bem-de-familia-no-novo-
codigo-civil-brasileiro Acesso em: 11 de mar de 2023